João Carlos Santin Matheus Kruger Santin Gabriel Filipe Theis

OAB/SC 9377/B OAB/SC 45.249 OAB/SC 43.154

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12 ª

REGIÃO,
FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA.

ANDREI FELIPE MAMEDE, brasileiro, solteiro, professor, RG

5.231.410 -SSP-SC, inscrito no CPF sob o nº 056.782.149-85, residente e domiciliada na Rua
Victor Konder, n. 99, apto 303, Bairro Victor Konder, CEP 89012-170, no município em
Blumenau SC – SC. E-mail: andreimamede@hotmail.com, por seus procuradores infra-
assinados, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência aqui representado por Advogados
legalmente constituídos (procuração anexa), , frequenta a presença deste respeitável juízo para
requerer MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de liminar, contra ato de

JUIZ DO TRABALHO DA 3ª VARA DE BLUMENAU /SC, e o faz

com fundamento nos arts. 5º, incisos XVII, XVIII, XXXVI, LXIX; art. 37, inciso VI; art. 62,
“caput”, inciso I, alínea “a”, todos da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB);
nas disposições da Lei n° 12.016/2009, bem como nas razões de fato e de direito que expõe
nesta petição inicial.

I – PRELIMINAR DE JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer a impetrante os benefícios da Justiça Gratuita, por não poder arcar com
as custas e despesas do presente processo sem prejuízo do seu sustento próprio, com
supedâneo no art. 98 do Código de Processo Civil, conforme declaração de hipossuficiência
em anexo.

II – O ATO IMPETRADO

Cuida-se de decisão que indeferiu pedido em decisão interlocutória em ação que busca
assegurar o acordo judicial sobre verbas alimentares homologado pelo Juízo Do Trabalho Da
3ª Vara de Blumenau /SC na ação ATOrd 0000195-04.2023.5.12.0039.

III – ANTECEDENTES FÁTICOS

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Rua Coronel Lucidoro, 439 – Campos Novos/SC – CEP 89.620-000 - Fone (49) 3541-0375
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O Impetrante ingressou com Reclamatória Trabalhista contra MARQUES & MATOS

ENSINO DE IDIOMAS LTDA ME e MARQUES DE BORBA E MATOS IDIOMAS
LTDA, como acima mencionado, a fim de pleitear anulação de contrato de prestação de
serviços como pessoa jurídica (Microempreendedor Individual – MEI), reconhecimento de
vínculo empregatício e pagamento das respectivas verbas rescisórias, cumulados com
cobrança de multas e pedido de indenização por danos morais.

Por iniciativa das Reclamadas, as partes chegaram a um acordo, estabelecendo os pagamentos

nos seguintes termos:
Os pagamentos acontecerão da seguinte forma: serão 10 parcelas mensais e
sucessivas, no valor de R$ 2.600,00 cada, com primeiro vencimento em 01/06/2023
e as demais sempre até dia 01 de cada mês subsequente, com última marcela
vencendo até 01/03/2024. As 4 primeiras parcelas serão pagas em 2
depósitos/transferências bancárias, pois delas se extrairá os honorários dos patronos
do autor, sendo R$ 1.500,00 na conta da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,
AGÊNCIA 0851, CONTA CORRENTE 5000-3, OPERAÇÃO 01 (CONTA
CORRENTE), CPF 367.314.120-15, TITULAR: JOÃO CARLOS SANTIN, e o
valor restante, R$ 1.100,00 na conta de titularidade do reclamante ANDREI FELIPE
MAMEDE – PIX / e-mailandreimamede@hotmail.com (Nubank).

No entanto, o pagamento da segunda parcela para o Impetrante/Reclamante não foi realizado

como definido no acordo. A Reclamada na referida ação trabalhista depositou o valor em
outra conta, de outro banco (Viacredi), mas de titularidade do Impetrante/Reclamante, como
pode se observar na tela abaixo:

Acontece que o Impetrante, como boa parte da população brasileira, não goza de uma boa
situação financeira. A conta em que a Reclamada realizou o aludido depósito por engano tinha
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algumas restrições, em razão de dívidas contraídas com a respectiva cooperativa. Assim, o

Impetrante não pôde desfrutar do valor da segunda parcela, que foi consumida para alívio da
dívida.

Em vista do exposto, o Impetrante ingressou com ação para forçar a Reclamada na ação
trabalhista a refazer o pagamento. Eis o teor dos pedidos formulados:
a) Que a reclamada seja intimada para o pagamento da segunda parcela do acordo,
sob pena de execução de todo o acordo trabalhista;
b) Caso não seja o entendimento de V. Exa., que o banco VIACREDI seja oficiado
para que libere o valor bloqueado em sua conta bancária, sob pena de multa diária
pelo seu descumprimento - Rua Doutor Amadeu da Luz, 50, Centro dde Blumenau-
SC.

Porém, assim decidiu o impetrado:

Dê-se ciência à parte reclamada dos dados bancários que deverão ser observados
para pagamento das parcelas do acordo (ID ef49ade), com a advertência de que,
acaso faça novo depósito de modo diverso, incorrerá em multa no valor de R$
2.600,00 em favor da parte adversa (para cada descumprimento). Partes cientes a
partir da publicação da presente decisão. BLUMENAU/SC, 25 de agosto de 2023.
OSMAR THEISEN Juiz(a) do Trabalho Substituto(a).

A decisão não tem relação com os pedidos formulados e ignora os termos do acordo, além de
estipular clausula penal diversa da que consta no referido acordo.

IV – DO DIREITO LÍQUIDO A SER ASSEGURADO

Dispõe o art. 1º da Lei n. 12.016/2009:

Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.

Pois bem, a ordem classificatória e a preterição do Impetrante afiguram-se incontroversas nos

autos e, assim, não deixam margem para discussão. O ponto central está no direito de o
empregado receber suas verbas de caráter alimentar.

Veja-se este excerto da sentença homologatória do referido acordo:

Fixo cláusula penal [de] 30% ao mês incidente sobre o valor remanescente em caso
de inadimplemento ou mora, sem prejuízo da antecipação automática das parcelas
vincendas.

É de conhecimento da reclamada as informações bancárias do patrono do

reclamante e também da parte reclamante, sendo que em caso de divergência
dos dados bancários fornecidos pela parte autora, não incidirá cláusula penal. A
comunicação do inadimplemento ou mora deverá ser feita em até um mês após o

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vencimento da última parcela do acordo, sob pena de presunção relativa quanto ao

seu cumprimento.

Em primeiro lugar, chama-se atenção para o fato de que o conhecimento dos dados bancários
do Impetrante por parte da Reclamada está formalmente registrado no corpo da sentença que
homologou o acordo.

Em segundo lugar, cumpre assinalar, que, no mesmo parágrafo, diz-se que a divergência dos
dados bancários fornecidos pela parte autora (o Impretrante) afastaria a incidência da cláusula
penal contra as Reclamadas. Mutatis mutandi, se não houve divergência nos dados bancários,
então deve-se aplicar a cláusula penal.

O teor da cláusula penal, por sua vez, é incidência de 30% ao mês sobre o valor remanescente
em caso de inadimplemento ou mora, sem prejuízo da antecipação automática das parcelas
vincendas, nos termos da sentença homologatória.

Inovou o Impetrado ao estipular multa para futuro inadimplemento do já inadimplido, para o

qual já havia cláusula penal estipulada.

A respeito do pagamento de acordo em conta diversa da estipulada, assim se pronunciou

nosso tribunal:
ACORDO HOMOLOGADO. PAGAMENTO EM CONTA DIVERSA DA
INDICADA NO AJUSTE. CLÁUSULA PENAL. INCIDÊNCIA. Para haver
cumprimento do acordo é necessária a satisfação integral de todos os seus
termos, inclusive com relação ao marco de vencimento e à observância da conta
bancária indicada para depósito. Isso porque, conforme o princípio do pacta sunt
servanda, norte da exegese da fonte negocial, os acordos são realizados para serem
cumpridos, mas nos estritos termos em que formulados. Sendo assim, o depósito do
valor referente aos honorários advocatícios em conta diversa da indicada no ajuste, o
que resultou na indisponibilidade do crédito por 30 dias, torna a parte em mora e
atrai a incidência da cláusula penal acordada. (TRT-12. 5ª Câmara Proc. 0001654-
09.2016.5.12.0032. Rel.: Ligia Maria Teixeira Gouvêa. Data de Assinatura:
29/09/2021.

Outros tribunais também guardam entendimento idêntico:

EMENTA ACORDO. PAGAMENTO EFETUADO DE FORMA DIVERSA DO

PACTUADO. CLÁUSULA PENAL. Não tendo a executada adimplido parcela do
acordo nos termos como pactuado, ou seja, mediante depósito na conta bancária do
escritório dos patronos da exequente, deve incidir a cláusula penal pactuada sobre
a parcela paga de forma incorreta.
(TRT-4ª. Seção Especializada em Execução. 0020784-88.2017.5.04.0511 AP.
Julgado em: em 14/07/2022. Relatora: Desembargadora Lucia Ehrenbrink).

O fato de a conta pertencer ao Impetrante não pode ser aventado para eximir o novo
pagamento. Em primeiro lugar, porque a relação entre ele o banco não diz respeito a mais
ninguém. Pagar ou não a instituição bancária é decisão que só a ele compete. Em segundo
lugar, créditos de natureza trabalhista têm caráter alimentar e preferencial, nos termos do § 1º-
A do art. 100 da Constituição Federal de 1988 c/c art. 186 do Código Tributário Nacional,

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pois se trata do patrimônio social mínimo dos trabalhadores, responsáveis diretos por sua
subsistência e pela satisfação das suas necessidades básicas vitais, conforme art. 6º c/c art. 7º
da CF/1988. Por essa razão, são créditos impenhoráveis, nos termos da jurisprudência
colacionada a seguir:
IMPENHORABILIDADE. SALÁRIOS E VENCIMENTOS. NATUREZA
ALIMENTAR. VERBA TRABALHISTA. São absolutamente impenhoráveis os
salários, remunerações e honorários destinados ao sustento do devedor e sua família,
exceto quando a penhora recair sobre os valores superiores a 50 salários-mínimos
mensais ou se destinar ao pagamento de prestação alimentícia (art. 833, em seu
inciso IV e § 2º, do Novo Código de Processo Civil ? NCPC, aplicável
subsidiariamente ao processo trabalhista por força do art. 769 da CLT). (TRT-3 -
AP: 00009137820125030025 MG 0000913-78.2012.5.03.0025, Relator: Paulo
Roberto de Castro, Data de Julgamento: 17/06/2021, Setima Turma, Data de
Publicação: 18/06/2021.)

RESCISÃO DE CONTRATO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

PENHORA. VERBA RESCISÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. Insurgência contra
decisão que determinou o desbloqueio de valores que haviam sido penhorados de
conta bancária de titularidade do executado, por se tratar de verba rescisória de
contrato trabalhista. Decisão mantida. Verbas rescisórias referentes a contrato
trabalhista são impenhoráveis (art. 833, IV, CPC, interpretado extensivamente).
Precedente. Recurso desprovido. (TJ-SP - AI: 20778284320208260000 SP
2077828-43.2020.8.26.0000, Relator: Carlos Alberto de Salles, Data de
Julgamento: 11/05/2020, 3ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
11/05/2020)

IMPENHORABILIDADE. ART. 833, IV, DO CPC. FLEXIBILIZAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. Os bens elencados no art. 833, IV, do CPC são
impenhoráveis, sendo possível a flexibilização dessa diretriz - nas execuções desta
Especializada - apenas quando superiores a 50 (cinquenta) salários mínimos,
independentemente do caráter alimentar das verbas trabalhistas. A "prestação
alimentícia" contemplada no § 2ºdo artigo supracitado diz respeito, apenas, às
obrigações previstas nos arts. 1.694 e seguintes do Código Civil (subtítulo III, "Dos
alimentos"); é, assim, espécie de crédito alimentício, e não gênero que também
inclua as verbas trabalhistas. Aplicação da OJ nº 153 da SDI-2 do TST. (TRT-12 -
AP: 01032003719925120004, Relator: HELIO HENRIQUE GARCIA
ROMERO, 1ª Câmara, Data de Publicação: 23/02/2022)

Ante o exposto, nota-se clara e injusta violação a direito líquido e certo do Impetrante,
conforme exposto e comprovado em toda a inicial, fato esse que deve ser afastado pelo MM.
Juiz.

V – DO PEDIDO LIMINAR

Conforme o art. 7º, III da Lei 12.016/09, ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se
suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida caso seja finalmente deferida.

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Diante do exposto, vê-se que o fundamento da presente impetração é relevante e que encontra
amparo no texto constitucional. Ainda, existem julgados neste sentido, sinal de bom direito.

De igual modo, há risco na demora da prestação jurisdicional. Observa-se que do ato

impugnado pode resultar a ineficácia da medida, caso seja concedida a segurança somente ao
final, pois se não for deferida medida liminar, o Impetrante terá que aguardar para receber
1/10 do valor acordo, que, a despeito de se tratar de quantia módica, faz-lhe falta. Não é
demais esclarecer também que o valor total do acordo é inferior ao do pedido da Reclamatória
Trabalhista. A concessão que podia para fazer para chegar a bom termo com a parte
reclamada, o Impretante já fez. E mais prejuízo do que suportou em seu contrato de trabalho
não pode assumir.

Há que se mencionar que o acordo em questão cessa em X meses, uma vez que X parcelas já
foram pagas ao Impetrante. Diante disso, hipoteticamente, na ausência de medida liminar, na
melhor das hipóteses, o Impetrante tem em torno de 6 (seis) meses para tentar reaver a parcela
perdida.

Se pensarmos positivamente, respeitando o devido processo legal, o contraditório e a ampla

defesa, incluindo a morosidade da prestação jurisdicional decorrente da quantidade gigantesca
de demandas que chegam ao Poder Judiciário, o presente mandamus deverá ser apreciado
definitivamente em 180 (cento e oitenta) dias.

Assim, presentes os requisitos, pede a Vossa Excelência que, LIMNARMENTE, assegure a

impetrante o direito de receber a parcela devida, em razão de descumprimento de acordo por
parte das reclamadas, o que não foi deferido pelo juízo de primeira instancia.

VI – DOS PEDIDOS

Isso posto, requer-se de Vossa Excelência:

a) Que seja concedida medida liminar, INAUDITA ALTERA PARTS, para imediata
suspensão do ato ora impugnado, que não garantiu o recebimento das verbas do acordo
trabalhista do Impetrante, a fim de que a empresa proceda a novo pagamento na conta
que consta no acordo judicial;
a.1) Caso esse não seja o entendimento do juízo, que a Viacredi seja notificada para liberar
o valor do empregado e depositar em juízo, por tratar-se de verbas de caráter alimentar
que são impenhoráveis.

b) Que seja notificada a autoridade coatora – JUIZ DO TRABALHO DA 3ª VARA DE

BLUMENAU /SC – do conteúdo da presente peça inicial, a fim de que, no prazo de
10 (dez) dias, preste informações;

c) A juntada de todos os documentos comprobatórios do direito líquido e certo do

Impetrante;

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d) Ao final, seja CONCEDIDA A SEGURANÇA PRETENDIDA, declarando-se

definitivamente a ilegalidade do ato do JUIZ DO TRABALHO DA 3ª VARA DE
BLUMENAU /SC;

e) Por fim, que sejam concedidos ao Impetrante os benefícios da Justiça Gratuita, por ser
pobre na acepção legal do termo, não podendo arcar com as despesas processuais sem
prejuízo de seu próprio sustento e de sua família.

Dá-se a causa o valor de R$2.600,00 (dos mil e seiscentos reais).

Termos em que se pede deferimento.

João Carlos Santin Matheus Krüger Santin Gabriel Filipe Theis

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