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Metodologias de Investigação em Psicologia I

Capítulo 10

A precisão do desenho ou do plano de trabalho é de uma importância primordial


em investigação. Consiste num conjunto de diretrizes correspondentes ao tipo de estudo
escolhido, segundo se trata de descrever, de explicar ou de predizer fenómenos. Assim,
o desenho descritivo, correlacional e experimental exigem estratégias diferentes para
levar o estudo a bom termo e chegar a resultados credíveis.

10.1 O que é o desenho de investigação?

O desenho define-se como o conjunto das decisões a tomar para pôr de pé uma
estrutura, que permita explorar empiricamente as questões de investigação ou verificar
as hipóteses. O desenho de investigação guia o investigador na planificação e na
realização do seu estudo de maneira que os objetivos sejam atingidos.

O desenho especifica os mecanismos de controlo que servirão para minimizar as


fontes potenciais de enviesamento que colocam o risco de afetar a validade dos
resultados do estudo.

O desenho de investigação é um plano que permite responder às questões ou


verificar hipóteses e que define mecanismos de controlo, tendo por objeto minimizar os
riscos de erro.

Plano lógico (criado pelo investigador) com vista a obter respostas válidas às
questões/hipóteses de investigação.

Adequado ao nível de conhecimentos objetivos.

Especifica mecanismos de controlo.

As relações entre o desenho/plano e o objetivo do estudo

O objetivo do estudo depende do estado dos conhecimentos relativos ao tema


que nos propomos tratar. Ele determina a forma do desenho de investigação, o qual
corresponde a uma das três funções da investigação, que são a descrição, a explicação e
a predição/controlo. Distinguem-se, assim, o desenho descritivo, o desenho
correlacional e o desenho experimental.

O desenho descritivo é apropriado quando o objetivo perseguido é descrever um


fenómeno ainda mal conhecido. O desenho descritivo será de natureza quantitativa se
trata de identificar as características das pessoas (nível de instrução, autonomia, auto-
estima, presrverança, otimismo, etc.)

O desenho correlacional comporta o exame de relações entre variáveis. O


objetivo é explorar relações.

O desenho experimental é utilizado quando se estabeleceu uma relação de


causalidade entre uma variável dependente e uma ou mais variáveis dependentes.
Empregamo-lo quando as relações com outras variáveis foram verificadas e os
resultados são conhecidos.

10.2 Os elementos constitutivos

Devem ser tomados em conta vários elementos no estabelecimento de um


desenho ou de uma estrutura que permita responder às questões de investigação ou
verificar hipóteses respeitantes ao problema de investigação. O investigador deve
decidir que desenho adotará para o seu estudo e em que elementos ele concentrará a sua
atenção.

Principais elementos a considerar num desenho de investigação:

- comparações;

- presença ou ausência de uma intervenção;

- meio de estudo;

- definição da população alvo e da amostra;

- controlo das variáveis estranhas;

- comunicação com os participantes;


- instrumentos de medida;

- métodos e tempos para a recolha e para a análise de dados.

As comparações

O desenho indica o tipo de comparações que serão feitas entre os grupos,


conforme o caso. A comparação serve para pôr em evidência as semelhanças e as
diferenças entre determinadas populações. Se bem que estas se encontrem, sobretudo,
nos estudos experimentais, as comparações podem também estar presentes nos estudos
descritivos e explicativos.

Presença ou ausência de intervenção

Quando um estudo comporta um tratamento ou uma intervenção, isto significa


que ele terá, além das comparações entre grupos que recebem a intervenção (variável
independente) e os que não a recebem, um controlo da variável independente, o qual
tem como objetivo minimizar as variações na aplicação desta. Na investigação
experimental, contrariamente à investigação descritiva e à correlacional, o investigador
tem um papel ativo, porque decide a forma como se fará a intervenção. Descreve, assim,
em que consiste a intervenção, determina os procedimentos a seguir para os
participantes que beneficiam da intervenção e para os que não beneficiam desta, assim
como as condições em que a intervenção terá lugar. As intervenções estão
habitualmente relacionadas com programas de índole educativa, psicossocial, familiar,
de suporte, de terapia, etc.

O meio de estudo

O investigador precisa o meio em que será conduzido o estudo e justifica a sua


escolha.

Um meio, que não dá lugar a um controlo rigoroso como o laboratório, toma


frequentemente o nome de meio natural. A maioria dos estudos, tanto descritivos, como
explicativos ou experimentais, são conduzidos em meio natural, porque, na maior parte
dos casos, eles têm lugar no domicílio dos sujeitos, no meio de trabalho ou nos
estabelecimentos de ensino ou de saúde.
O controlo das variáveis estranhas

Uma preocupação primordial, em qualquer investigação, é a influência de


variáveis estranhas sobre os resultados do estudo. A sua presença pode ter uma
incidência na precisão dos fenómenos observados nos estudos não experimentais, e põe
o risco de falsear a relação de causalidade entre a variável independente e a variável
dependente numa investigação experimental. O controlo é, portanto, um aspeto
importante nos estudos quantitativos, pelo que o investigador deve precisar os meios ou
as estratégias que entende utilizar para controlar as variáveis estranhas. Entre as
estratégias possíveis, destaca-se a randomização, que permite a distribuição igual das
variáveis estranhas entre grupos de participantes, e a homogeneidade, que reduz a
variabilidade entre os participantes, pelo facto de que estes foram objeto de uma
seleção.

A comunicação com os participantes

Os sujeitos ou participantes são as pessoas que fazem parte do estudo. Ao


elaborar o desenho de investigação, o investigador considera a informação que ele
comunicará aos participantes. Deve determinar como serão os dados recolhidos junto
dos participantes e zelar para que sejam fornecidas a todas as pessoas as mesmas
instruções sobre a forma de preencher os questionários. Como a qualidade da
comunicação com os participantes pode ter influência sobre os resultados do estudo, é
importante fazer esforços neste âmbito. O pessoal encarregado da colheita da
informação deve ter recebido uma formação apropriada. Por fim, é preciso empenhar-se
no respeito da proteção dos direitos da pessoa.

Os instrumentos de medida

Na fase metodológica, são descritas com detalhe as medidas e as observações


utilizadas para colher os dados. Como os conceitos, sobre os quais assenta a
investigação, não podem ser medidos diretamente, devemos exprimi-los sob uma forma
operacional para os tornar aptos a medir as variáveis ou a descrever os comportamentos.
Dado que os instrumentos servem para colher os dados, que permitirão responder às
questões de investigação ou verificar hipóteses, é importante assegurar-se da fidelidade
e da validade dos instrumentos de medida. Os instrumentos de medida devem poder dar
conta, corretamente, das relações entre variáveis ou das diferenças entre grupos.
Métodos e tempos para a recolha e para a análise de dados

Ao elaborar o seu desenho, o investigador deve decidir o número de vezes que


os dados serão recolhidos junto dos participantes. Na maioria dos casos, os dados são
colhidos num só momento, no tempo. Nos estudos experimentais, em particular, é
muitas vezes necessário colher os dados em diferentes momentos, antes e após a
intervenção, para verificar, por exemplo, se surgiram mudanças ou para determinar o
grau de constância de um fenómeno.

O método de análise deve harmonizar-se com os objetivos e o desenho de


investigação. Deve fazer-se corresponder as análises estatísticas com os postulados
relativos aos modos de distribuição da população e com o tipo de escala selecionada.

10.3 As formas de desenhos de investigação

Os problemas de investigação revestem diversas formas, correspondendo a


diferentes níveis de investigação e requerem diferentes métodos. Assim, o desenho de
investigação tem por objetivo fornecer uma estrutura operacional que permita obter
respostas às questões de investigação ou verificar as hipóteses que foram formuladas. A
questão de investigação, que tem em conta o estado dos conhecimentos sobre o tema de
estudo, determina o método a seguir no estudo do fenómeno. Se existem poucos ou
nenhuns conhecimentos sobre o fenómeno considerado, o investigador orientará o seu
estudo mais para a descrição de um conceito ou de um fator do que para o
estabelecimento de relações entre fatores.

É possível distinguir três grandes classes de desenhos de investigação


quantitativa, ou seja o desenho descritivo, o desenho explicativo e o desenho preditivo-
causal, comportando cada um deles diversos tipos de desenhos.

O desenho descritivo

Os estudos descritivos visam compreender fenómenos vividos por pessoas,


categorizar uma população ou conceptualizar uma situação.
O desenho explicativo

O estudo descritivo-correlacional tem por objetivo explorar relações entre um


conjunto de conceitos a fim de determinar os que estão associados. Este tipo de desenho
é utilizado quando os conceitos ou as variáveis já foram descritos, e que se trata, na
etapa seguinte, de os colocar em relação com outros conceitos ou com outras variáveis.

O desenho preditivo-causal

O desenho preditivo-causal corresponde ao nível mais elevado do conhecimento.


Pode ser explicativo e preditivo; carateriza-se, essencialmente, pelo estabelecimento de
relações de causa e efeito entre variáveis. Este desenho utiliza-se quando se está a
verificar o efeito de uma variável independente, constituída por uma intervenção ou um
tratamento, sobre uma variável dependente. O estudo é experimental, porque um dos
dois grupos de participantes é objeto de uma intervenção ou de um tratamento. Os
estudos experimentais e quase-experimentais estão associados a diversas formas de
desenhos.

A escolha do desenho depende do objetivo perseguido, segundo se trata de


descrever, explicar ou predizer relações entre variáveis. Como a formulação do
problema de investigação se apoia no estado dos conhecimentos, estes fornecem
indicações sobre o desenho a utilizar.

10.4 Os principais conceitos ligados ao desenho

Os principais conceitos que têm relação com o desenho são a manipulação, a


causalidade, o enviesamento, o controlo e a validade.

A manipulação

Na investigação experimental, uma variável independente é manipulada, isto


quer dizer que é aplicada a um grupo (grupo experimental), mas não ao outro grupo
(grupo de controlo). A manipulação consiste em controlar a aplicação da variável
independente de maneira a poder verificar o seu efeito sobre a variável dependente. A
manipulação é utilizada na investigação experimental e quase-experimental.
A causalidade

A noção de causalidade está no centro da investigação experimental, porque


intervém na relação entre as variáveis independentes e as variáveis dependentes. A
variável independente X é a causa presumida e a variável dependente Y, o efeito
presumido. Em virtude do princípio da causalidade, todo o acontecimento tem uma
causa e toda a causa produz um efeito.

O enviesamento

O enviesamento pode ser definido como a deformação sistemática das


conclusões que se retiram de um estudo. O enviesamento resulta de qualquer influência,
condição ou conjunto de condições que têm uma incidência sobre o processo de
generalização. Os elementos que podem ser fonte de enviesamento no decurso de um
estudo são numerosos (o investigador, o ambiente, os participantes, os instrumentos de
medida, o processo de colheita e análise dos dados).

Para se assegurar da validade dos resultados de um estudo, o investigador deve


identificar e eliminar, tanto quanto possível, aas fontes potenciais de enviesamento ou
controlar os seus efeitos sobre os resultados.

O controlo

A escolha de um desenho de investigação implica decisões relativas ao controlo


das variáveis estranhas que podem provir tanto do ambiente (fatores extrínsecos) como
dos participantes (fatores intrínsecos). As variáveis estranhas são variáveis que não
foram escolhidas e que colocam o risco de influenciar a medida das variáveis do estudo.

Por controlo, entende-se qualquer procedimento utilizado para suprimir ou


reduzir o efeito das variáveis estranhas, as quais prejudicam a validade dos resultados da
investigação. O controlo é necessário a todos os níveis da investigação, mas é
particularmente importante na investigação experimental devido ao facto das
comparações, que devem permitir validar hipóteses de causalidade.

O controlo dos fatores extrínsecos

Os fatores extrínsecos são elementos do ambiente que são estranhos ao objeto da


investigação. A investigação insere-se sempre num ambiente determinado.
Deve-se controlar vários fatores extrínsecos presentes na situação de
investigação, a fim de assegurar o mais possível a uniformidade na aplicação da variável
intervenção junto dos participantes, a constância na comunicação com os participantes,
a forma de colher os dados e a conveniência do tempo de experimentação.

O controlo dos fatores intrínsecos

Entre as variáveis estranhas relacionadas com as características dos participantes


(idade, nível de instrução, género, rendimento, raça, estado de saúde, grau de gravidade
da doença e as atitudes). As principais estratégias que servem para controlar as variáveis
estranhas são a randomização, a homogeneidade, o emparelhamento, os blocos
emparelhados, os procedimentos estatísticos.

- A randomização

Na investigação experimental, a randomização permite assegurar que as


características dos participantes são dispersas através da amostra. A randomização,
chamada também repartição aleatória, consiste em atribuir, por meio de uma técnica
aleatória, a cada participante uma probabilidade igual de ser atribuído ao grupo
experimental ou ao grupo de controlo. Teoricamente, a randomização deve permitir
obter grupos comparáveis entre si, do ponto de vista das características dos participantes
e assim controlar a influência possível das fontes de variação.

- A homogeneidade

A homogeneidade é a qualidade de uma amostra, cujas características


susceptíveis de influenciar a variável dependente são uniformes. Tem por efeito reduzir
a variabilidade entre os participantes. A homogeneidade pode aumentar a validade
interna de um estudo.

- O emparelhamento

O emparelhamento constitui uma outra forma de controlar as variáveis estranhas


de maneira a tornar comparáveis o grupo experimental e o grupo testemunho, entre si.

A idade, a experiência, o género e as categorias socioeconómicas são muitas


vezes as variáveis utilizadas para o emparelhamento.
- Os blocos emparelhados

Em lugar de estabelecer uma correspondência sujeito a sujeito, como no


emparelhamento, constituem-se grupos de sujeitos que são de seguida emparelhados.

- Os procedimentos estatísticos

Quando não é possível, no início do estudo, controlar as variáveis estranhas pode


recorrer-se a procedimentos estatísticos. Isto consiste em eliminar de forma estatística o
efeito da variável estranha sobre a variável dependente, com a ajuda da análise da
covariância.

A validade do desenho experimental

A validade é um elemento de controlo que se aplica particularmente aos estudos


experimentais. A maioria destes são concebidos de maneira a que se possam estabelecer
relações de causalidade entre variáveis.

- a validade interna

A validade interna é a característica de um estudo em que parece, fora de


qualquer dúvida, que a variável independente é a única causa da mudança surgida na
variável dependente.

Fatores de invalidade interna

- os fatores históricos

- o efeito da maturação

- a habituação ao teste

- regressão estatística

- a seleção dos sujeitos

- a mortalidade experimental

- as flutuações do instrumento de medida


- a validade externa

A validade externa é a característica do estudo que permite generalizar os


resultados do estudo a outras pessoas.

Fatores de invalidade externa

- o efeito de reatividade (efeito de Hawthorne)

- a interação entre os fatores históricos e a intervenção

- os enviesamentos do investigador

- os efeitos simultâneos de vários tratamentos

- As relações entre validade interna e a validade externa

A validade interna e a validade externa são exigências que importa que o


investigador satisfaça para assegurar a qualidade do seu estudo. Acontece
frequentemente que, tentando maximizar a validade interna, isso vai afetar a validade
externa. Parece, portanto, que aumentando a validade interna provoca uma diminuição
da validade externa.

- A validade dos conceitos

A validade dos conceitos refere-se à concordância entre o modelo teórico e as


medidas utilizadas para representar os conceitos teóricos.

- A validade estatística

A validade estatística reporta-se à questão de saber se as relações de causa e


efeito entre a variável independente e a variável dependente são reais ou acidentais. O
número de participantes é suficiente para que se possa afirmar que os resultados obtidos
não são devidos unicamente ao acaso. Uma técnica estatística inapropriada pode afetar
este género de validade.
Capítulo 11

O desenho descritivo visa fornecer uma descrição e uma classificação detalhada


de um fenómeno determinado. O investigador estuda uma situação, tal como ela se
apresenta no meio natural, com vista a destacar as características de uma população, de
compreender fenómenos ainda mal elucidados ou conceitos que foram pouco estudados.
A descrição dos fenómenos precede a exploração de relações entre os conceitos.

Os desenhos correlacionais têm por objetivo examinar relações entre variáveis e,


eventualmente, precisar a força e a direção destas. Os estudos correlacionais
pressupõem, portanto, que o fenómeno foi já observado e descrito.

11.1 Os desenhos descritivos

O desenho descritivo serve para identificar as características de um fenómeno de


maneira a obter uma visão geral de uma situação ou de uma população. Quando um
tema foi pouco estudado, é necessário descrever as suas características antes de
examinar relações de associação ou de causalidade entre variáveis. Como se situam num
primeiro nível de investigação, os estudos descritivos são geralmente baseados em
questões de investigação ou objetivos e não em hipóteses. Geralmente, o estudo
descritivo consiste, quer em descrever um conceito relativo a uma população, como no
estudo descritivo simples, quer seja em estudar um caso ou em identificar as
características de uma população no seu conjunto, como no inquérito.

O controlo é pouco sistemático nestes estudos; pode consistir em assegurar a


correspondência entre as definições conceptuais e as definições operacionais das
variáveis ou comportar uma amostra de tamanho apropriado e métodos de colheita de
dados fiéis e válidos. Os métodos de colheita dos dados são variados e podem ser tanto
estruturados, como semi-estruturaodos. O tratamento dos dados varia segundo o tipo de
estudo, a técnica de amostragem utilizada e o grau de complexidade dos métodos de
colheita dos dados. Se os dados forem quantitativos, utilizam-se técnicas estatísticas
descritivas tais como as medidas de tendência central e de dispersão.
A obtenção da informação necessária para responder à questão de investigação
assenta na escolha do desenho apropriado e do percurso ordenado das etapas que este
comporta.

O estudo descritivo simples

O estudo descritivo simples implica a descrição completa de um conceito


relativamente a uma população, de maneira a estabelecer as características da totalidade
ou de uma parte desta mesma população.

O estudo comporta o reconhecimento do fenómeno a estudar, a determinação do


ou dos conceitos que se reportam a este fenómeno e a elaboração de definições
conceptuais e operacionais das variáveis, que não só imprimem uma perspetiva ao
estudo, como também permitem ligar os conceitos e as descrições que lhe são dadas. A
descrição das variáveis conduz, eventualmente, a uma análise de âmbito teórico dos
resultados e à formação de hipóteses.

O estudo descritivo-comparativo

Um estudo descritivo pode também servir para analisar um ou vários conceitos


em duas populações diferente. O estudo descritivo comparativo dá conta das diferenças
observadas em meio natural nos conceitos relativos a dois ou vários grupos intactos de
participantes. Procura-se, assim, estabelecer diferenças entre os grupos em relação,
particularmente, a dados sociodemográficos e às características tais como a idade, o
género, as atitudes.

O inquérito/sondagem

O inquérito define-se como todo o processo que visa colher dados em amostras
representativas de uma população definida com o objetivo de determinar a distribuição e
a prevalência de certos problemas psicossociais, assim como as relações que os
membros da população mantêm com estes. Os estudos realizados pelos organismos
governamentais que têm por objeto conhecer, entre outros, os hábitos de vida dos
indivíduos, as suas crenças, as suas necessidades, os seus comportamentos numa dada
situação constituem inquéritos junto de populações. O inquérito é comparativo se a
mesma informação é colhida junto de uma amostra representativa de dois ou mais
grupos de participantes. Os principais objetivos do inquérito são recolher a informação
factual sobre um fenómeno existente, descrever problemas, apreciar práticas correntes e
fazer comparações e avaliações.

11.2 Os desenhos correlacionais

Implicam relações entre variáveis e uma explicação destas relações. Estas podem
ser examinadas sob diferentes pontos de vista, tendo em consideração o objetivo
perseguido. Existem três formas principais de desenhos correlacionais: o desenho
descritivo (exploração das relações), desenho preditivo (explicação das relações) e
desenho confirmativo (verificação dos modelos teóricos). A cada nível de exame
corresponde um tipo determinado de estudo. O primeiro nível de exame das relações
reporta-se ao estudo descritivo-correlacional, que tem por objetivo explorar relações
entre variáveis; no segundo nível de exame efetua-se o estudo correlacional-preditivo,
que visa determinar a natureza das relações (força e relação) entre as variáveis e o
terceiro nível visa verificar o modelo teórico, isto é, determinar a concordância deste
modelo com os dados empíricos.

O desenho descritivo-correlacional

No estudo descritivo-correlacional, exploram-se relações entre variáveis com


vista a descrevê-las. No estudo descritivo-correlacional, o investigador está muitas
vezes em presença de várias variáveis de que ignora quais podem estar associadas entre
si. O estabelecimento de relações entre as variáveis permite circunscrever o fenómeno
estudado.

Nesta etapa do exame das relações entre variáveis, são as questões de


investigação que guiam o estudo e não as hipóteses. Do mesmo modo, não há razão para
variáveis dependentes e independentes, neste tipo de estudo. Elabora-se um quadro
conceptual ou teórico apropriado para ordenar as variáveis e as suas relações mútuas. Os
dados são colhidos junto de participantes com a ajuda de escalas e questionários. A
amostra deve ser bastante alargada e tanto quanto possível representativa da população
alvo. Análises de correlação permitem colocar as variáveis em relação umas com as
outras.

O desenho correlacional-preditivo

No estudo correlacional-preditivo, verificam-se relações previstas entre as


variáveis.

O desenho correlacional-preditivo permite selecionar as variáveis que farão parte


do estudo e analisar as relações que existem entre elas.

O estudo correlacional-preditivo precisa a grandeza desta relação com a ajuda de


análises estatísticas de correlação.

Este limita-se a dois aspetos específicos de um fenómeno, para predizer que a


aparição de um provoca o aparecimento do outro.

O desenho correlacional-preditivo apoia-se em proposições teóricas constituídas


em hipóteses, com vista à predição da ação das variáveis. A amostra é geralmente de
grande tamanho, considerando a amplitude da variação esperada entre as variáveis. Os
métodos de colheita dos dados mais correntes são a escala de medida e o questionário.
Apela-se a análises estatísticas multivariadas, comportando diversas análises ou
diversos testes estatísticos de correlação. As correlações são associações lineares entre
fatores ou variáveis. As correlações são positivas se as variáveis vão na mesma direção,
e negativas se as variáveis vão em direções opostas.

O desenho correlacional-confirmativo

No estudo-correlacional confirmativo, verifica-se a validade de um modelo


causal hipotético aplicado à análise das relações de causalidade entre três ou mais
variáveis, tendo sido objeto de estudos. Os estudos correlacionais-confirmativos
examinam a rede de relações formada por variáveis que são sugeridas por uma teoria ou
um modelo. O objetivo destes estudos é determinar quais são, entre os conceitos
considerados, os que mais influenciam o fenómeno em estudo.

As variáveis de um modelo teórico são classificadas segundo três categorias:


exógenas, endógenas e residuais. As variáveis exógenas estão representadas no modelo
teórico, mas a causa é atribuível a fatores exteriores ao modelo. As variáveis endógenas
são aquelas, cuja modificação é explicada no modelo teórico. As variáveis exógenas
modificam o valor das variáveis endógenas. Por fim, as variáveis residuais são o
resultado de variáveis não medidas e não incluídas no modelo. Na análise dos dados, o
investigador tenta determinar se os dados estão de acordo com o modelo proposto.
Pode-se, então, apelar tanto a análises próprias para determinar as relações entre as
variáveis e para estabelecer ligações de causalidade, tais como a análise de regressões
múltiplas e a análise de percurso, como a, técnicas mais avançadas, como a análise de
equações estruturais. Estas análises permitem determinar se os dados empíricos
confirmam o modelo teórico. O facto de os dados estarem de acordo com o modelo não
prova a validade deste, constitui somente um elemento de confirmação.

Valor e interpretação da correlação

As correlações fornecem a medida da força e da direção da relação entre as


variáveis. O valor da relação entre variáveis pode ser estimado de forma matemática e
expresso sob a forma de um coeficiente de correlação simbolizado r escalona-se de -
1,00 para uma correlação negativa perfeita a +1,00 para uma correlação positiva
perfeita. O sinal positivo ou negativo de uma correlação indica a direção da relação. Se
o valor de uma variável muda, crescendo ou decrescendo, o valor da outra variável
muda na mesma direção ou em direção oposta. Assim, uma correlação é dita positiva
quando uma mudança numa variável provoca uma mudança na mesma direção na outra
variável.

11.3 A ordem hierárquica dos estudos descritivos e correlacionais

O nível de investigação depende dos conhecimentos de que se dispõe sobre um


dado tema. Assim, distingue-se o nível descritivo, explicativo e preditivo/controle, os
quais correspondem aos estudos descritivos, correlacionais e experimentais. Antes de
verificar relações entre variáveis é preciso primeiro assegurar-se da sua existência.

11.4 Os estudos segundo o tempo

Certos estudos são utilizados no domínio das ciências da saúde, particularmente


em epidemiologia, com o objetivo de examinar não somente as relações entre
fenómenos, mas também as mudanças que se produzem ao longo do tempo. Estes
estudos são estudos correlacionais, porque visam verificar relações entre fatores,
diferenças entre grupos, e estabelecem comparações ou predições em função dos
objetivos perseguidos. Diferem dos outros tipos de estudos correlacionais dado que
procuram diferenças entre grupos baseando-se em variáveis pré-existentes e aparentam-
se aos estudos experimentais. A expressão «segundo o tempo» refere-se à relação
temporal entre o momento da colheita dos dados e o aparecimento do fenómeno em
estudo. Os estudos segundo o tempo foram elaborados pela epidemiologia, uma
disciplina que estuda os fatores que condicionam a aparecimento de doenças, e em
particular as que intervêm na sua distribuição, na sua frequência e na sua evolução, e
que se ocupa de procurar os meios de as combater. Os estudos epidemiológicos servem
para determinar os fatores de risco e tendem a estabelecer uma ligação de causa e efeito
entre um dado acontecimento e a manifestação de um estudo patológico ou de uma
doença. Segundo a direção tomada pelas observações e o momento da colheita dos
dados, podem ser postas em desenvolvimento três estratégias, para examinar condições
ocorridas no tempo: o estudo de cohorte, o estudo transversal, o estudo longitudinal e o
estudo casos-testemunho.

O estudo de cohorte

O estudo de cohorte, chamado também estudo de incidência, consiste em


observar, num período mais ou menos longo, fenómenos que afetam um grupo de
pessoas que apresentam um certo número de traços comuns. Neste género de estudo,
define-se previamente um fator e a manifestação do fenómeno esperado.

O estudo de cohorte é um estudo de observação em que um grupo de indivíduos


expostos a fatores de risco de um dado fenómeno é seguido durante um período
determinado e comparado a um grupo não exposto aos mesmos fatores.

O estudo de cohorte pode ser retrospetivo ou prospetivo. O estudo de cohorte


prospetivo e o estudo de cohorte retrospetivo diferem entre si pela presença ou não do
acontecimento no início do estudo. No estudo retrospetivo, o fator e o acontecimento,
isto é, causa e efeito, são já observáveis no momento em que o estudo começa. No
estudo prospetivo a causa pode ser produzida ou não, mas o acontecimento (efeito) não
foi ainda observado.

O estudo transversal

O estudo transversal tem por objetivo medir a frequência de um acontecimento


ou de uma doença e dos seus fatores de risco numa dada população.

O estudo transversal serve para medir a frequência de aparição de um


acontecimento ou de um problema numa população num dado momento.

Examinar simultaneamente um ou vários cohortes da população ou um ou vários


grupos de indivíduos, num determinado tempo, em relação com um fenómeno presente
no momento do inquérito/ da investigação. Os processos considerados podem estar
relacionados com a idade, com o crescimento, com as reações a acontecimentos, com o
desenvolvimento pessoal, com o estado de saúde, etc.

O estudo transversal é económico, simples de organizar e fornece dados


imediatos e utilizáveis, mas é de alcance mais limitado que o estudo longitudinal.

O estudo longitudinal

O estudo longitudinal recolhe dados de forma periódica junto dos mesmos


grupos.

O estudo longitudinal assenta sobre dados recolhidos em diversas ocasiões junto


dos mesmos sujeitos e num período de tempo determinado.

Examinar um cohort em relação ao fenómeno presente ao longo do tempo.

Os estudos de cohort e os estudos casos-testemunho são estudos longitudinais.

O estudo longitudinal começa no presente e termina no futuro. Assim, o


investigador pode avaliar as mudanças que surgem no tempo e estabelecer relações e
diferenças entre as variáveis.

O estudo longitudinal é mais dispendioso que o estudo transversal tanto em


dinheiro como em tempo.
O estudo casos-testemunho

O estudo casos-testemunho tenta ligar um fenómeno presente no momento do


inquérito a um fenómeno anterior. Os factos são recolhidos a posteriori. O estudo
casos-testemunho é sempre retrospetivo. Trata-se de selecionar um grupo de sujeitos já
atingidos pela doença considerada (casos) e um grupo de sujeitos (testemunhas).
Procuram-se informações sobre a exposição ao fator de risco no passado em cada um
dos indivíduos. O inquérito é retrospetivo, porque o fator de risco estudado é já
observado no momento do início do estudo.

O estudo casos-testemunho é menos oneroso que o estudo de cohorte prospetivo,


mas comporta riscos de erro ligados sobretudo à escolha da população.

O estudo de cohorte e o estudo de casos-testemunho comportam ambos a


observação dos fatores de risco. Nos estudos de cohorte, os indivíduos não apresentam o
fator de risco (doença) no início da observação. No estudo casos-testemunho, todos os
indivíduos foram já atingidos pela doença considerada, e tenta-se determinar a possível
causa, retomando no tempo.

11.5 Outros tipos de estudo

Os estudos referidos anteriormente exigem uma colheita de dados no terreno.


Outros tipos de estudo comportam modos diferentes de colheita, de análise e de
interpretação dos dados.

O estudo meta-análise

O estudo meta-análise é um método de investigação que consiste em combinar


os resultados de estudos já publicados sobre o tema e em fazer a síntese dos mesmos
para chegar a uma conclusão única.

A meta-análise apela a métodos objetivos, permitindo integrar uma grande


quantidade de resultados.
A meta-análise permite conciliar os resultados diferentes dos estudos, que
respondem a uma mesma questão. Apoia-se numa metodologia rigorosa que assegura o
valor da síntese e a sua reprodutibilidade.

O estudo metodológico

A qualidade da investigação depende não só do tipo de desenho ou do processo


adotado para controlar as variáveis estranhas, mas também da fidelidade e da validade
dos instrumentos de medida. A fidelidade e a validade são qualidades essenciais de
qualquer instrumento de medida. O estudo metodológico visa estabelecer e verificar a
fidelidade e a validade dos novos instrumentos de medida, permitindo, assim, aos
investigadores utilizá-los com toda a confiança. As noções de fidelidade e de validade
aplicam-se igualmente às escalas traduzidas numa outra língua ou utilizadas em
populações diferentes daquelas para as quais o instrumento foi concebido.

O estudo metodológico define-se como uma estratégia em várias etapas, tratando


da elaboração ou validação de um instrumento de medida recém-criado ou traduzido de
uma outra língua. Quando um investigador constrói um instrumento de medida ou
valida um instrumento (escala) traduzido, deve assegurar-se que a escala é: aplicável a
vários grupos de sujeitos na população em geral; apropriado às dimensões do
conhecimento a medir; fácil de utilizar; suficientemente sensível para revelar mudanças
no tempo.

11.6 O exame crítico dos estudos não experimentais

No exame crítico, deve-se determinar qual é o nível dos conhecimentos sobre o


tema do estudo e a que tipo de desenho corresponde. Trata-se de se questionar se o mais
conveniente é um estudo descritivo, um descritivo-correlacional, um estudo
correlacional ou ainda um estudo de caráter epidemiológico.
Capítulo 12

Os desenhos experimentais distinguem-se dos desenhos não experimentais


devido a que o investigador toma neles uma parte ativa, introduzindo uma intervenção
ou um tratamento, avaliando, junto dos grupos, o efeito desta intervenção sobre outras
variáveis. De todos os métodos quantitativos de investigação, o estudo experimental é o
que mais convém para verificar relações de causa e efeito entre variáveis. A variável
que é manipulada, isto é, a que é introduzida e controlada pelo investigador, é chamada
variável independente. A variável medida, sobre a qual se exercem os efeitos da
variável independente ou da intervenção, denomina-se variável dependente ou variável
critério

12.1 A estrutura dos desenhos experimentais

Quando um investigador utiliza um desenho experimental, isso significa que os


conhecimentos que existem sobre um tema em particular são suficientemente avançados
para justificar uma investigação deste tipo. Na planificação da sua experimentação, o
investigador atualiza o problema de investigação e liga-o a um quadro teórico que
permita explicar as mudanças susceptíveis de se produzirem nas variáveis dependentes
(Y) após a introdução de uma variável independente (X). São formuladas hipóteses para
determinar se existe uma relação causal entre X e Y.

A experimentação

Para que haja experimentação, é preciso que na situação de investigação, exista


pelo menos uma variável independente e pelo menos uma variável dependente que sofra
o efeito desta. A variável independente é a intervenção ou o tratamento.

Na experimentação, é introduzida uma variável independente numa situação de


investigação que é manipulada pelo investigador.
As formas de desenhos experimentais

Duas formas de desenhos experimentais: os desenhos experimentais verdadeiros


e os desenhos quase-experimentais. Os desenhos experimentais são qualificados de
«verdadeiros» se satisfizerem as três condições requeridas para realizar uma verdadeira
experimentação. Os estudos são ditos quase-experimentais quando eles não respondem
a todas as condições.

12.2 Os desenhos experimentais verdadeiros

Os desenhos experimentais verdadeiros são concebidos de maneira a assegurar o


maior controlo possível na pesquisa das causas. Implantando meios de controlo, o
investigador tenta eliminar os fatores além da variável independente. Uma verdadeira
experimentação deve comportar os três elementos seguintes:

- a manipulação (introdução de uma intervenção ou de um tratamento);

- o controlo (utilização de pelo menos um grupo de controlo);

- a randomização (repartição aleatória dos sujeitos nos grupos experimental e de


controlo).

A manipulação

A manipulação implica a introdução, numa situação de investigação, de uma


intervenção ou tratamento, num grupo de participantes. O investigador submete um
grupo de participantes a uma intervenção de maneira a manipular a variável
independente que foi definida.

O controlo

O controlo é um elemento essencial do desenho experimental. Ele visa eliminar


ou reduzir ao máximo os enviesamentos que colocam o risco de afetar a validade de um
estudo.
A randomização

A randomização ou repartição aleatória significa que cada participante tem uma


possibilidade ou uma sorte igual de ser colocado no grupo experimental ou no grupo de
controlo.

O desenho antes-após com grupo de controlo (pré-teste/pós-teste)

O desenho somente após, com grupo de controlo (pós-teste somente)

O desenho com quatro grupos de Solomon

O desenho fatorial

O desenho equilibrado

O ensaio clínico randomizado

12.3 Os desenhos quase-experimentais

Os desenhos com grupos testemunhos não equivalentes

Os desenhos de séries temporais

12.4 A validade experimental

Os obstáculos à validade experimental

12.5 O exame crítico dos estudos experimentais e quase-experimentais

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