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ANEXO I

Texto de Apoio ao Curso MTF PRO da EXS – Exercise School.

Nuno F. Pinho - Todos os Direitos Reservados

PROCESSO OPERACIONAL DE AFERIÇÃO E


OPTIMIZAÇÃO DA QUALIDADE CONTRÁTIL

(PAOQC)
2
MTF - PRO

ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO

 Introdução e Contextualização
 Sustentabilidade:
1. Controlo Motor
2. Cenário Mecânico e Consequências na Resposta Motora
3. Incremento Progressivo da Tolerância Tecidular
4. Potenciação Pós-Ativação e Fadiga1
I. Duração efeito de Potenciação e Intervalo de Repouso
II. Mecanismos Fisiológicos
III. Potenciação e Fadiga.
IV. Aplicabilidade no Contexto de Treino2
5. Processo Mental Alternativo

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Extraído do artigo de opinião de Pedro Asseiceira “Potenciação e Fadiga”
2 Processo mental elaborado por Nuno Pinho

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Introdução e Contextualização

O presente documento tem como propósito construir um racional mental que


permita sustentar uma visão alternativa no processo de aferição da qualidade contrátil
na consecução de uma tarefa motora. Como consequência de tal objetivo, surgiu a
necessidade de contemplar um processo metodológico que dote o profissional de um
modo de melhorar a disponibilidade do sistema neuro-músculo-esquelético em produzir
tensão muscular. Para este propósito recorremos a investigação científica nas áreas do
controlo motor, mecânica do exercício e fisiologia humana, mais concretamente no que
remonta às propriedades e adaptações dos tecidos biológicos. A opção por esta
integração resulta do facto de condicionarem a resposta motora, e como tal, aquilo que
está a ser alvo de observação e tomada de decisão por parte do treinador. Assim, em
última instância, o presente documento visa contribuir para a melhoria do processo
decisional do profissional, tornando-o mais objetivo e rigoroso e afastando-o da
arbitrariedade.
Procuraremos, de forma sistemática e objetiva, atender a quatro objetivos:

1. Construir uma operacionalização assente na premissa de que toda e qualquer


tarefa carece de aprendizagem e por consequência de prática para a sua melhoria
(Ver Estrutura e Função SNC – MTF PRO);
2. Construir uma operacionalização que procure melhorar as condições de base para
que exista uma efetiva progressão em termos de intensidade (Ver Espectro de
Progressão – MTF Engage, Performance, PRO)
3. Construir uma operacionalização que assuma que as diferentes estruturas do
corpo carecem de uma progressividade no sentido de melhorarem as suas
características funcionais (Ver Propriedades Mecânicas Tecidos Biológicos – MTF
PRO)
4. Construir uma operacionalização que contemple o entendimento do mecanismo
fisiológico de Potenciação Pós-Ativação enquanto elemento condicionante da
melhoria da disponibilidade de tensão muscular.

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Começaremos a sustentar o processo de operação recorrendo à articulação de


conhecimento na área do controlo motor. A escolha para este início não é arbitrária, pelo
contrário, entendemos que não pode existir exercício sem aprendizagem e sem domínio
consciente dessa aprendizagem. Portanto, todo e qualquer processo que ambicione
contribuir para a compreensão do exercício físico deve recorrer indubitavelmente a esta
área do conhecimento, sobre a qual, nas próximas páginas debruçaremos a nossa
atenção.

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Sustentabilidade

1. Controlo Motor

Ao longo do módulo formativo PRO, mais concretamente, nos temas de “Estrutura


e Função do SNC”, procuramos evidenciar os níveis de organização subjacentes à
criação e controlo do movimento humano.
Assim sendo, podemos afirmar que o processo de treino não deve ser à partida
estereotipado ou alvo de enviesamento, pelo contrário, sendo altamente dependente da
natureza não determinista do controlo motor, criado e consumado pela interação do
sistema neuromusculosquelético com a física externa e interna, estará sempre refém do
momento presente daqueles sistemas em particular.
Latash et al, (2011) referem que, os movimentos dos sistemas biológicos são
dotados de uma intenção e de um propósito. Referem também que, o corpo sendo um
sistema extremamente complexo o seu estudo carece de variáveis difíceis de mensurar
ou até de identificar. É aceite que a dificuldade em entender a criação movimento deriva
do facto de que a preparação, timing e controlo deste estão intimamente ligados (Martin
et al 2011). Por seu turno, para cada tarefa em particular, existirá a necessidade do SNC
se ajustar a uma nova realidade biomecânica e neurológica, nomeadamente em novos
parâmetros de movimento e criação de ações corretivas.

“The integrative nature of movement generation is reflected in the tight coupling of the
associated neuronal processes, which are distributed across many neuronal structures.
The timing of motor acts is, for instance, affected by feedback loops through the motor
cortex and the cerebellum, as well by spinal pattern generators and feedback loops
back to the motor cortex”
(Martin et al, 2009)

Outro aspeto que gostaríamos de ressalvar é o facto de que a manutenção da


integridade articular depende em grande medida de um funcionamento o mais ótimo
possível do sistema neuromuscular. Sabemos que, a lesão de um músculo, tendão,

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ligamento ou estrutura articular podem provocar compensações que poderão afetar


outras estruturas adjacentes (Martin et al, 2009).
Murphy et al, (2018), usaram modelação computacional para procurarem um
melhor entendimento sobre a organização e funcionamento do sistema neuromuscular.
Os autores evidenciam um conjunto de aspetos que consideramos de extrema relevância
para sustentar elementos que consideramos estruturantes, numa prática profissional que
não tem outra opção que não seja a de considerar a individualidade de resposta como
um facto.
Assim, pensamos ser relevante expor alguns pontos:

 Existe uma grande variação interindividual no que respeita ao sistema


musculosquelético, ou seja, as inserções musculares não são iguais entre
sujeitos, portanto, a resposta muscular não deve ser normalizada.
 Alterações funcionais em uma zona do corpo podem originar alterações em outras
zonas. A título de exemplos referem que, o fortalecimento de musculatura da anca
pode induzir melhorias na função do joelho. Alterações funcionais no tornozelo
podem ter repercussões na anca.
 Músculos com maior representatividade cortical tendem a ser mais relevantes no
contexto de movimentos mais complexos.
 Músculos que são adjacentes no controlo de uma articulação tendem a ser
controlados por uma mesma rede neuronal motora.

Pelo exposto, e indo de encontro ao objetivo deste documento, procuraremos


sustentar um processo operacional que permita ao profissional construir os alicerces
para que progressão de um cliente em direção aos objetivos definidos respeite os
mecanismos subjacentes à aprendizagem motora e fisiologia neuromuscular.
Num estudo de Taheri et el (2016), procurou-se perceber o efeito da variabilidade
de prática na performance de uma tarefa motora entre indivíduos proficientes e menos
proficientes. Os autores concluíram que a variabilidade de prática nos indivíduos
proficientes não afetava a performance, enquanto que nos indivíduos menos proficientes
tinha um efeito negativo imediato. Segundo o estudo, e em linha com a investigação por

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nós analisada a aprendizagem motora é específica dos parâmetros da mesma, portanto,


quanto menor o nível de aprendizagem de uma dada tarefa menor terá que ser a
interferência e integração de outros elementos. À medida que o nível de aprendizagem
for aumentando, e a proficiência for otimizada mais elementos de variação e interferência
podem ser colocados na equação da progressão.
Outra investigação, realizada por Neville et al (2017), teve como objetivo verificar
como a variação do nível de interferência afetava a execução de uma tarefa motora. Os
autores referem que, grande parte da aprendizagem ocorre pela criação de redes
neuronais que se armazenam na memória de longo prazo. Portanto, sugerem que a
aprendizagem deve acontecer de forma progressiva e com o mínimo de interferência
possível.

“Based on our results, the acquisition of two finger sequences seem to be optimized, at
least early in practice, by practicing the two tasks in low contextual interference
schedule or in isolation from one another.”
(Neville et al, 2017)

Pelo exposto, podemos estabelecer pontes para o processo de treino particular,


em especial, para fases iniciais da progressão de um indivíduo. Não raras vezes, é
ensinado ao profissional que este deve avaliar a integridade neuromuscular do praticante
utilizando um sem número de metodologias. Não querendo, nem sendo o objetivo do
presente trabalho avaliar métodos de treino, pensamos, com sustentabilidade científica
que recorrentemente a especificidade da avaliação está comprometida. Avaliar um
individuo recorrendo a testes que por si só são uma tarefa motora complexa é no mínimo,
um ponto de partida muito à frente no contínuo de progressão. Se a isso aliarmos um
completo desfasamento entre o que está a ser avaliado e os objetivos do processo de
treino, incorremos num problema metodológico de incoerência avaliativa. A título de
exemplos, suponhamos que se pretende avaliar um conjunto de parâmetros através de
uma tarefa motora como o agachamento e a partir dai inferir diversas variáveis como, a
integridade da anca, joelho, coluna. Ou então, que se pretende avaliar uma articulação

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em particular e extrapolar para a realização de um agachamento sem existir qualquer


prática dessa habilidade. Ambas as situações são, em nossa ótica incoerentes e
desfasadas dos processos neurológicos subjacentes à aprendizagem e controlo motor.

 O agachamento é uma tarefa complexa, portanto, é por si só, uma tarefa a


aprender e a consolidar via prática, portanto, não permite avaliar outros
parâmetros que não os relativos à própria tarefa.
 A avaliação de uma articulação como a anca (a titulo de exemplo \ método
avaliativo não especificado) para a consecução do agachamento é também um
processo pouco específico, na medida em que, o cenário mecânico de um
agachamento não é o mesmo de uma avaliação isolada da articulação da anca
recorrendo uma qualquer técnica.
 Como tal, ambas as situações, quando usadas de forma única como processo
avaliativo não são suficientes no garante da especificidade, na medida em que,
não contemplam todas as variáveis necessárias à sua objetivação. É, pois,
necessário, mais articulação de conhecimento, e maior especificidade quando se
pretende qualidade na observação de uma orquestração motora de um cenário
particular.

Assim sendo, e a título de sistematização, o processo de aprendizagem motora é


influenciado por variáveis de interferência que podem alterar os parâmetros de
planeamento e produção de uma tarefa motora. Portanto, um processo de aferição de
qualidade tem que contemplar mais do que a simples inferência a partir de uma análise
global, mas também, necessita de maior especificidade do que avaliar um contexto
particular mecânico e dai inferir para o global. Nesse sentido, será relevante atentar
sobre o quanto uma alteração no cenário mecânico de uma dada tarefa pode contribuir
para a alteração na programação e operacionalização motora.

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2. Cenário Mecânico e Consequências na Resposta Motora.

O consumar de um gesto motor é, de forma resumida a criação de movimento


articular, via tensão muscular interna. Portanto, existe a criação de torque interno via
tensão muscular como resposta aos torques externos impostos pelo peso dos segmentos
ou no caso do exercício, por uma máquina, haltere, mão do treinador, ou outro
instrumento. Assim sendo, o SNC tem que orquestrar toda a resposta motora face aos
desafios impostos pela física que interage com o corpo. Nesse sentido, como referem
Martin et al, (2009) citando diversas investigações, o corpo tem que lidar com fenómenos
físicos como a inércia, forças internas, mas também, com forças externas. A este nível,
sabe-se que a partir do momento que existe uma nova imposição externa, como seja,
uma carga externa, todo o planeamento do movimento tem que ser reajustado. Portanto,
e traduzido para o treino, um cenário mecânico como seja a execução de uma Chest
Press, altera-se sempre que se altera uma variável de progressão como seja Amplitude
Articular, Foco, Velocidade, Intenção. Considerando também a fadiga e eventuais
imposições estruturais “invisíveis”, teremos uma constante necessidade do SNC em se
ajustar a novas realidades motoras na concretização da tarefa. A tudo isto, teremos que
considerar também a variação do perfil de resistência do desafio que está a ser imposto
ao corpo, assim como, as variações de capacidade funcional interna na resposta a esses
desafios externos, tal como, braços de momento musculares, relação força-comprimento
de um músculo.
Como tal, e considerando o já exposto acerca da influência dos processos de
controlo motor, criar um processo operacional que tenha como propósito investigar a
qualidade motora que se observa externamente implica considerar as intrincadas
relações entre a orquestração motora em resposta ao cenário mecânico que a desafia.
Portanto, a voltando a um exemplo que traduza o exposto, pode existir o objetivo
de melhorar a capacidade de realizar um agachamento. Assim, um individuo precisará
de aprender a realizar essa tarefa motora, com o mínimo de interferência a essa mesma
aprendizagem. Por seu turno, diversas articulações terão que contribuir para o controlo
dessa tarefa via tensão muscular. Portanto, fará sentido, estimular os diversos tecidos
musculares que controlam essas articulações para que estes melhorem a sua

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capacidade funcional. No entanto, e aquilo que pretendemos expor é que não é só um


cenário ou outro que serão a ultima panaceia avaliativa. Terá que ser cada contexto de
estimulação um próprio momento de avaliação, tentando respeitar alguns elementos que
se traduzirão, numa maior possibilidade de observar aspetos importantes no contexto
específico em que estão a acontecer. Desenvolveremos este tema no final do
documento, no entanto, e no seguimento do exposto, todo este racional visa respeitar
uma outra dimensão da aferição de qualidade, que é a melhoria progressiva da tolerância
dos diversos tecidos do corpo, cuja não consideração, terá influência direta numa
orquestração motora compensatória (Martin et al. 2009; Hyldahl et al. 2014). Portanto,
seguiremos com algumas considerações acerca do incremento progressivo da tolerância
tecidular, na medida em que, é um elemento condicionador no processo de aferição da
qualidade contrátil. Num corpo, cuja tolerância é baixa, começar com estímulos acima
da tolerância de base dos tecidos será, no mínimo, uma falsa partida.

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3. Incremento Progressivo da Tolerância Tecidular.

No contexto do exercício físico, não nos parece um exagero afirmar que é


relativamente normal qualquer individuo aceitar o desconforto muscular como tendo feito
parte da sua experiência. Nas ciências do exercício, os sintomas de desconforto e perda
de força que sucedem o exercício físico são atribuídos, em grande parte, à perda de
integridade da estrutura do tecido muscular e que de forma generalizada se doominam
“exercise induced muscle damage” (EIMD) (Hyldahl et al. 2014).
Segundo os autores, a investigação científica tem sido concordante em assumir
que as ações excêntricas musculares, portanto, quando o músculo aumenta o seu
comprimento sarcomérico contra resistência (actinas afastam) são as maiores
potenciadoras de dano estrutural, sobretudo em indivíduos menos treinados (Newton et
al. 2008; Chapman et al. 2005). Por outro lado, Nosaka et al. (2002), estudaram os efeitos
do “treino excêntrico” e do “treino concêntrico” na produção de força máxima isométrica
em indivíduos não treinados. Verificaram que, no caso do treino excêntrico a força
máxima isométrica nos pós treino decaia em 40% face a 18% do treino concêntrico. Após
quatro dias de recuperação os indivíduos do estudo recuperaram a força máxima
isométrica em 103% no caso do treino concêntrico e 72% no caso do treino excêntrico.
Outro campo de investigação no âmbito do dano muscular, prende-se com os
efeitos do treino com maior e menor velocidade. Chapman et al. (2005), estudaram os
efeitos da velocidade num treino excêntrico em indivíduos não treinados. Concluíram
que, velocidades altas (210º s-1) induziram alterações significativas em todos os
marcadores estudados, indicando elevado dano muscular, quando comparado com
velocidade mais baixas (30º s-1).
Como visto, tanto a componente excêntrica, como a velocidade podem afetar o
grau de dano muscular induzido em indivíduos treinados. Será relevante indagar sobre
os efeitos da fadiga no potencial dano causado em indivíduos não treinados como forma
de clarificar e acrescentar uma outra variável à nossa análise.
Uma investigação centrada neste tema (Mair et al. 1996), usando um modelo
animal, verificaram que, músculos fatigados apresentavam menor capacidade de
absorver energia em comparação com o músculo de controlo (69.7% e 92%). Os autores

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referem um aspeto relevante e que ser prende com o facto de que o dano muscular
ocorrer, independentemente da fadiga, em maiores comprimentos sarcoméricos. No
entanto, os músculos fatigados apresentam um dano precoce, por terem menor
capacidade de absorver energia (ver fig1).

“A non fatigued muscle might therefore be capable of absorbing a required amount of


energy while avoiding the change in muscle length necessary to produce an injury.
When faced with the requirement of absorbing this same amount of energy, a fatigued
muscle would require a greater change in length, whereby injury could result.”
(Mair et al, 1996)

Segundo a mesma investigação, os autores sugerem que tanto o


condicionamento muscular, como a acomodação à fadiga sejam fatores a ter em conta
quando esta se instala.

“Our data suggest that proper conditioning to avoid fatigue and exercise modification
when fatigue occurs will help prevent these muscle strains”
(Mair et al, 1996)

Não gostaríamos de deixar de analisar uma outra variável com impacto na


tolerância dos tecidos e que se prende com os intervalos de recuperação. Uma
investigação de Cutlip et. al (2005), estudou in vivo os efeitos dos intervalos de
recuperação na performance muscular dinâmica e estática. Para isso recorreram a
modelos animais usando estimulação elétrica, tanto em tarefas dinâmicas como
isométricas. Ambos contextos de estimulação com 7 séries de 10 contrações com 2.8
segundos de duração e três intervalos de recuperação distintos entre séries (10
segundos, 1 minuto e 5 minutos). A respeito da metodologia os autores referem que “a
grande vantagem do estudo in vivo, reside no facto de que, o estudo da função muscular
e dos mecanismos de lesão serem mais fidedignos, face ao facto das estruturas ósseas,

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musculares e tendinosas estarem integras” (P.6). As conclusões do trabalho foram as


seguintes:

 O défice de força isométrica foi maior após o trabalho dinâmico até 48h após
estimulação.
 O défice de força foi maior em comprimentos musculares menores;
 À medida que intervalos de recuperação são menores (10 segundos), os
mecanismos de lesão são maiores, no entanto, tal acontece também quando os
intervalos aumentam (5 Minutos), ou seja, no primeiro caso por acumulação de
produtos metabólicos e fadiga poderá existir dano, no segundo caso, por efeitos
de potenciação que aumenta capacidade de produção de força após recuperação
prolongada.

“Shorter rest times between contractions can have a deleterious effect due to higher
levels of cytosolic calcium and the inability of the muscle to buffer those levels.”

“These findings indicate that muscle damage can be exacerbated by both short rest
times between repetitions and repetitive high forces as a result of longer rest times.”
(Cutilp et al. 2005)

A partir do exposto, podemos refletir que o grau de intensidade é um fator


determinante nos processos de lesão. Numa lógica de esforço progressivo, quanto maior
for a intensidade, introduzida pela manipulação de varáveis de progressão,
potencialmente maiores serão os danos causados às diferentes estruturas orgânicas.
Exploramos quatro fatores cujo impacto na integridade dos tecidos biológicos é
determinante. Outros interagem nesse propósito e que passaremos a resumir (Quadro
1.), baseado na revisão de Hyldahl et al. (2014):

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Quadro 1. Lengthening our Perspective: Morphological, Cellular and Molecular Responses to


Eccentric Exercise (2014)
Robert D. Hyldahl, Ph.D. and Monica J. Hubal, Ph.D.

Menor Dano Tecidular Maior Dano Tecidular


Contração Concêntrica e Isométrica Contração Excêntrica
Cargas Leves Cargas Altas
Menor Velocidade Execução Maior Velocidade Execução
Baixo Volume Alto Volume
Trabalho fora da falha muscular Trabalho perto da falha muscular
Períodos Recuperação Maiores Períodos Recuperação Menores

Chegados a este ponto, gostaríamos de ressalvar que não é nossa intenção tomar
partido sobre nenhuma metodologia em particular, antes pelo contrário. Pretendemos
sustentar uma tomada de posição para um momento particular do processo de
progressão no treino – o início de um qualquer cenário de estimulação. Nesse sentido,
recorrendo a um processo mental sistematizado e alicerçado na investigação científica,
pensamos que num processo de estimulação, será relevante atentar aos mecanismos
de adaptação estrutural progressiva que as unidades biológicas manifestam. O treino
com resistências assume especial relevância no fomento das adaptações tecidulares
(Ver MTF PRO I), via estimulação e potenciação de mecanismos intrínsecos às
estruturas biológicas. Tudo isto acontecerá a um nível estrutural, molecular e metabólico,
no entanto, sempre condicionado à individualidade (Wackerhage 2014).
Partindo destas premissas, na fase seguinte do presente trabalho, propomo-nos
a apresentar um modelo alternativo de observação da exteriorização motora e que
contemple os aspetos que regulam o controlo motor, a física da estimulação e de forma
consequente o respeito pela tolerância dos tecidos biológicos.
Com isto, pretendemos fornecer ao treinador maior objetividade e especificidade
nas decisões aquando da criação de um contexto particular de estimulação.

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4. Potenciação Pós-Ativação e Fadiga

A resposta do músculo-esquelético a um estímulo é condicionada pela sua história


contráctil [1,2]. Ao efeito agudo provocado pela história contrátil, também designada de
atividade de condicionamento, que poderá ser uma contração submáxima ou máxima,
dá-se o nome de potenciação pós-ativação (PPA).
Durante o efeito da PPA, verifica-se assim, uma elevação na capacidade de
contração muscular e força tetânica de baixa frequência, que é o resultado do
equilíbrio entre os fatores que elevam a produção de força e os que a diminuem
(fadiga) [2,6].Na investigação sobre PPA, os estímulos que desencadeiam este efeito
podem ser contrações em série (que provocam uma PPT), ou através de uma contração
voluntária máxima (CMV) [2,7].

I. Mecanismos Fisiológicos

Embora haja um consenso generalizado na literatura científica sobre o fenómeno


da PPA, residem ainda algumas questões sobre os seus mecanismos fisiológicos [8]. No
entanto, parece haver algum consenso quanto aos três mecanismos musculares e
neurais complexos apresentados abaixo que têm sido apontados como principais causas
para a ocorrência da PPA [1,2,8-14].

Fosforilação das cadeias leves reguladoras da miosina (CLRM)

Durante uma contração muscular dá-se uma libertação do ião cálcio (CA2+) do
retículo sarcoplasmático para o sarcoplasma e a sua consequente ligação à proteína
reguladora do cálcio calmodulina [11,15]. Esta ligação provoca a ativação da enzima cadeia
leve de miosina quinase (CLMQ), cuja ação irá permitir catalisar a fosforilação da CLRM
aumentando a sensibilidade da interação actina-miosina ao CA2+ [1,8,11,15,16].
Esta teoria apresenta como explicação para o fenómeno da fosforilação, uma
alteração da estrutura da cabeça de miosina na região S1 aumentando o ângulo de
inclinação com a região S2 [1,17]. Esta modificação, leva a um aumento da taxa a que as
pontes cruzadas estabelecidas pela miosina passam de um estado de repouso para um
estado de produção de força [1,8,11,15].

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Em estudos realizados em animais foi possível estabelecer uma correlação positiva


entre a fosforilação das CLRM e o efeito da potenciação [15,18,19]. No entanto, é importante
referir que o seu estudo em seres humanos é escasso [11].

Potenciação do Reflexo de Hoffmann (H-Reflex)


O H-Reflex é o nome dado ao reflexo neural descrito pelo cientista Paul Hoffman
[20]. Trata-se de uma medida eletromiográfica do nível de excitação de um determinado
músculo [11].
Este reflexo ocorre devido à excitação dos motoneurónios alfa desencadeada pelas
aferências Ia contidas nos fusos neuromusculares dos músculos homónimos devido à
estimulação submáxima do nervo correspondente [11,21].
A investigação supõe que a PPA intensifique a eficiência sináptica nos botões
terminais dos neurónios aferentes Ia levando a recrutamento de motoneurónios de ordem
superior [1,8,11]. No entanto, verifica-se que o recrutamento de unidades motoras pelas
aferências Ia ocorre de forma ordenada das mais pequenas, para as maiores, de acordo
com o princípio do tamanho [11,22].

Alterações ao ângulo de penação


A relação angular medida em graus entre as fibras musculares e o seu tendão é
definida como ângulo de penação [23,24]. Este ângulo afeta a transmissão de força das
fibras musculares para os tendões e ossos [23-25]. Apenas uma percentagem desta força
é transmitida aos tendões, sendo esta calculada recorrendo ao coseno [24,26]. Assim,
músculos com ângulos de penação mais reduzidos apresentam uma maior vantagem
mecânica pois uma maior percentagem da força por estes produzida é transmitida ao
tendão [24,25]. Nos últimos anos, uma terceira teoria tem ganho força na literatura científica
[27]. Esta refere que os efeitos das contrações que geram um efeito de PPA provocam um
decréscimo no ângulo de penação [27,28]. Desta forma, ainda que a alteração do ângulo
seja mínima, será possível ao músculo transmitir mais força ao tendão [27,28]. No entanto,
esta hipótese ainda carece de mais estudos para adquirir robustez [11].

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Fig 7. Ângulo de penação. (A) Definição esquemática: AP = COS-1 (linha de ação x orientação do fascículo). (B) Medição de uma
imagem ultrassonográfica. (Retirado de Lee, D. et al., 2013)

II. Duração do efeito de potenciação e intervalo de repouso

A elevação da contratilidade é maior logo após a aplicação do estímulo


potenciador, mas o mesmo se verifica quanto à fadiga. [12,29,30].
Num estudo realizado por Gullich e Schmidtbleicher, verificou-se um decréscimo
na performance do supino plano com barra e agachamento com salto logo após a
aplicação de um estímulo potenciador [31]. No entanto, após um período de descanso
entre os 4.5 e 12.5 minutos foi registado um aumento significativo da performance [31].
No entanto, Gilbert e colegas verificaram aumentos na performance com
intervalos de repouso até aos 15 minutos [32].
Os autores atribuem o decréscimo da performance à fadiga [3,5,11,14,29,31-33].
Numa revisão de 2005, realizada por Hodgson e colegas, estes referem que
fadiga e potenciação podem coexistir [1]. Acrescentam ainda que alguns indivíduos
respondem melhor do que outros a estímulos de condicionamento de cargas mais
elevadas (> 80% RM) e que existe provavelmente um período em que os músculos estão

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recuperados mas ainda estão sob um efeito potenciado. No entanto, estes não
apresentam valores relativos à duração desse período [1].
Em concordância com o anteriormente referido, Tillin e Bishop também não
apresentam qualquer intervalo de valores relativos aos efeitos do estado da potenciação
no seu estudo de revisão [11]. No entanto, referem que embora um estímulo provindo
de contrações isométricas possa gerar mais fadiga central, esta apresenta maior
probabilidade de ativar os mecanismos periféricos da PPA [11]. Não obstante,
estímulos de condicionamento dinâmicos parecem induzir maior fadiga periférica,
mas são mais prováveis de ativar os mecanismos centrais da PPA [11].
Apesar de não haver consenso na maioria dos estudos de revisão quanto ao
tempo de pausa para que haja um equilíbrio entre potenciação e fadiga, DeRenne sugere
um período de repouso entre os 8 e os 12 minutos [1,2,5,8,9,11,34]. Já Kilduff [14] e colegas
acrescentam, ainda, que o efeito de potenciação cessa após períodos de pausa
superiores a 12 minutos.
Parece assim, haver algum consenso em ampla investigação que o tempo
de repouso ótimo para que se consiga beneficiar dos efeitos da PPA centra-se
entre os 3 e os 12 minutos [12,31,35-39]. Contudo, se a quisermos evitar, teremos de
esperar precisamente esse mesmo tempo.
Pode-se concluir que o período de repouso é essencial para que os efeitos da
PPA se manifestem e não sejam mascarados pela fadiga.

III. Potenciação e Fadiga

A fadiga neuromuscular é o aspeto mais notório da história contráctil e pode ser


definido como uma redução na produção de força subsequente a um período de repetida
ativação muscular [29].
Embora a PPA atinja o seu máximo efeito logo após um estímulo de
condicionamento, a fadiga também se manifesta cedo [11]. Assim, logo após o cessar de
um estímulo de condicionamento, a fadiga instala-se e manifesta-se com mais
intensidade na fase inicial do período de repouso sendo possível que ocorra uma
diminuição ou manutenção da performance caso se volte a repetir o estímulo do(s)

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músculo(s) envolvidos [11].


No que respeita ao balanço entre fadiga e potenciação, a investigação verificou
que a fadiga subsiste a uma taxa maior que a PPA [11].

Fig 8. Modelo da relação hipotética entre PPA e fadiga depois da aplicação de um estímulo de pré-condicionamento. Janela 1:
quando o volume do estímulo é baixo, a PPA é mais dominante que a fadiga, podendo-se aproveitar este período de forma imediata
para beneficiar dos efeitos da potenciação. Janela 2: assim que o volume do estímulo aumenta, a fadiga torna-se mais dominante
afetando de forma imediata e performance. Quando o estímulo cessa, a fadiga dissipa a um taxa maior que a PPA e o efeito
potenciado volta a ser predominante. (Retirado de Tillin e Bishop, 2009).

No entanto, é sugerido que indivíduos com maior força muscular, maior


percentagem de fibras do tipo II (embora a fadiga também seja maior nestes indivíduos),
um nível alto de treino são os que poderão beneficiar mais dos efeitos da PPA [11].
Tubman e colegas [40] apresentam os seguintes mecanismos como explicação para
a ocorrência de uma reduzida fosforilação durante uma potenciação num músculo
fatigado:
1. Decréscimo na disponibilidade do Ca2+ intracelular livre para se ligar à
calmodulina, levando a que a CLMQ não seja devidamente ativada;
2. Deficiente ligação do complexo Ca2+- calmodulina ao CLMQ;
3. Baixa atividade da CLMQ;
4. Aumento do nível da atividade do ião fosfato.
Rassier e MacIntosh [29] acrescenta ainda outros fatores responsáveis pela fadiga:
decréscimo na sensibilidade do Ca2+ que se pode dever a uma redução na afinidade

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entre este e a proteína troponina; uma redução de força em cada ponte cruzada durante
uma contração; redução do pH; aumento da concentração mioplasmática de fosfato
inorgânico.
A fadiga pode ser subdividida em duas categorias: fadiga de baixa frequência e
fadiga de alta frequência. Esta última expressa-se quando um estímulo antecedente
provoca um decréscimo na força máxima sem que se verifique depressão da força
provocada por frequências submáximas [29]. Em contraste, a fadiga de baixa frequência
é provocada por estímulos submáximos não se verificando alteração na força máxima
[29].

O mecanismo provável em casos onde se verifica fadiga de alta frequência é uma


depressão da condução dos potenciais de ação ao longo do sarcolema e para dentro
dos túbulos T [41-43]. A investigação recomenda alguma prudência na análise da fadiga
de alta frequência de modo a se perceber se esta advém de fadiga generalizada ou de
uma potenciação subsequente a um estímulo [29].
Rassier e MacIntosh [29] referem que fadiga generalizada poderá provocar uma
depressão na força em todas as frequências de estimulação enquanto que a potenciação
subsequente a um estímulo poderá incrementar a força apenas a frequências baixas. O
balanço da coexistência das duas seria um decréscimo ou nenhuma alteração da força
ativa a baixas frequências e depressão da força a altas frequências.
Em suma, parece assim, haver dois processos opostos a decorrer ao mesmo
tempo dentro das células musculares durante estímulos repetitivos: um que
melhora a performance muscular e outro que a deteriora [29]. Este fenómeno
denomina-se de coexistência entre fadiga e potenciação e parece ser uma resposta
específica a um determinado estímulo, não havendo ainda total clarificação sobre os
seus mecanismos [29]. Pode-se ainda concluir que baixas concentrações de Ca2+ podem
causar fadiga e aumentam a fosforilação das CLRM, sendo esta uma possível explicação
pela qual estes dois processos opostos podem coexistir [29]. Neste sentido, é importante
reter que uma grande parte dos investigadores que realizaram estudos cujo propósito se
centrava em medições da força do músculo-esquelético, não consideraram a
possibilidade da coexistência entre potenciação e fadiga podendo verificar-se problemas

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de interpretação e enviesamento dos resultados, especialmente em estudos realizados


com unidades de medição de força em que resultados são recolhidos durante e
imediatamente depois da cessação do estímulo [29].

IV. Aplicabilidade no Contexto de Treino

Face ao exposto importa salientar que no contexto de treino, o treinador pode,


através da aplicação de forças externas, seja qual for o contexto e objetivo, desencadear
processos de PPA e Fadiga. É aceite que entre os 3 e os 12 minutos processos de PAP
são desencadeados após estímulo de condicionamento cuja intensidade poderá
despoletar também, mecanismos de fadiga e consequente redução de performance. Por
seu turno, tanto aplicação de estímulos de condicionamento dinâmicos como estáticos
parecem poder induzir estados de PPA nos tecidos solicitados. Na falta de maior
clarificação quanto ao grau de fadiga ou de PPA julgamos que, o treinador deverá
progredir em função do estado no continuo de progressão por parte do individuo.
Sabendo que, em indivíduos treinados os efeitos de PPA são mais acentuados,
parece-nos lógico assumir quem em indivíduos menos treinados será importante que os
estímulos de condicionamento não possam induzir um grau de fadiga elevado. Assim, a
correta dose do estímulo de condicionamento dever progredir de menos intensidade e
volume para maior intensidade e volume.
Outro ponto de especial relevância será o de se assumir que toda e qualquer
intervenção que imponha, via forças externas, respostas internas, pode criar os dois
lados da mesma moeda, sendo por isso, de extrema relevância existir um total
afastamento de decisões e conclusões paradigmáticas no que toca aos efeitos de um
dado contexto de intervenção.
Um correto doseamento da intensidade e volume dos estímulos de
condicionamento aliados a uma instrução atenta e altamente direcionada ao contexto
específico onde se pretende estimular os tecidos, poderá ser uma ferramenta que
coloque o sistema NMA em condições de progressivamente ir melhorando a sua
tolerância e controlo às imposições externas construídas em contexto de treino.

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5. Processo Mental Alternativo

Os elementos constantes neste documento visam sustentar um processo de


operação que permita ao profissional construir contextos de estimulação passiveis de
melhorarem as condições de base dos tecidos musculares e por arrasto de todos os
outros que lhe servem de suporte.
Uma vertente que julgamos ser de extrema relevância é o da íntima relação entre a
aprendizagem e performance do contexto criado para a estimulação. Quanto mais se
aproximarem os dois melhor poderá ser a observação e avaliação por parte do treinador,
pois garante que aquele sistema NMA aprendeu a gerir o contexto onde vai ser
estimulado. Só a partir dai é que será possível criar um campo de análise mais objetivo
e específico. No entanto, mesmo para a dose mínima num dado contexto será importante
que o treinador seja capaz de perceber qual o espectro de desafio daquele cenário em
particular – O corpo tem que começar a ser desafiado dentro de uma janela de
oportunidade segura e que não despolete mecanismos de proteção. Por outro
lado, dentro dessa janela, existem processos que podem induzir melhorias ou
deterioração de performance se não se atentar aos detalhes da aplicação de forças
externas. Será sobre esta interrelação e interdependência que procuraremos criar um
racional de operação com o objetivo de tornar as decisões do treinador altamente
específicas e passiveis de catalisar um ambiente propício à melhoria efetiva da
aprendizagem, tolerância e controlo de um corpo em particular em função dos
desafios que lhe são impostos via forças externas.

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OBJECTIVO ESTIMULAÇÃO Que tecidos estimular?

CONTEXTO ESTIMULAÇÃO Perfil de Resistência


Ajustado?
A Aferição e Otimização deverão
acontecer com o menor grau de
interferência possível.

 ↑ Suporte
 ↑ Estabilidade Externa PERMITE OBSERVAR COM MAIOR OBJECTIVIDADE

 ↓ Integração

AFERIR CONTROLO DESDE  Controla Posições


MOMENTO INICIAL  No decorrer movimento não
existem alterações

A - PROCESSO INSTRUÇÃO-APRENDIZAGEM pronunciadas


 Mantêm fluidez
Procurar-se-á que o executante aprenda o
 Repetições Iguais
“caminho” do movimento. Para isso, com um
 Produção Força Controlada
desafio muito baixo percorrer a execução.

 Posicionar Corpo
 Carga:
 Avaliar Amplitude Ativa Específica.
o Zero ou Mínimo
o Consegue?
o Pode ser Peso
o Dor?
Segmento
o Difícil?
 Velocidade Execução: Baixa
 Movimento Assistido pelo Treinador
 Movimento Resistido

B - PROCESSO DE POTENCIAÇÃO PPA

Procurar-se-á desencadear efeitos de PPA como forma de AFERIR E MELHORAR a produção de tensão
específica do contexto.

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Não Treinados em FASE INICIAL

ISOMÉTRICOS BAIXA
INTENSIDADE
AGONISTA

•Intensidade: 1Rep
•Volume: 4 a 6 Séries
•Duração: 6 Segundos
•Intenção: Força
Constante

ADMA Específica

AFERIR CONTROLO DESDE


MOMENTO INICIAL

Não Treinados em FASE AVANÇADA

ISOMÉTRICOS BAIXA ISOMÉTRICOS BAIXA


TREINO DINÂMICO
INTENSIDADE AGONISTA INTENSIDADE AGONISTA
• Intensidade: 1Rep • Intensidade: 1 a 5 • Intensidade: 1Rep
• Volume: 2 a 3 Séries Rep • Volume: 2 a 3 Séries
• Duração: 6 • Volume: 2 a 3 Series • Duração: 6
Segundos • Duração: 6 Segundos
• Intenção: Força Segundos • Intenção: Força
Constante • Intenção: Força Constante
Constante

ADMA Específica

AFERIR CONTROLO DESDE


MOMENTO INICIAL

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Treinados

ISOMÉTRICOS ALTA
TREINO DINÂMICO INTENSIDADE TREINO DINÂMICO
AGONISTA
• Intensidade: 1 a • Intensidade: • Intensidade: 1 a
8 Rep 1Rep 8 Rep
• Volume: 2 a 3 • Volume: 4 a 6 • Volume: 2 a 3
Series Séries Series
• Duração: 8 • Duração: 6 • Duração: 6
Segundos Segundos Segundos
• Intenção: Força • Intenção: Força • Intenção: Força
Constante Gradativa Constante

ADMA Específica

AFERIR CONTROLO DESDE


MOMENTO INICIAL

CONTEXTO ESTIMULAÇÃO A CONTEXTO ESTIMULAÇÃO AA


A Aferição e Otimização deverão TREINO As tarefas mais integradas
acontecer com o menor grau de CONCORRENTE deverão acontecer quando
interferência possível. Aferição e Optimização das
PARTES estão consumadas
 ↑ Suporte
 ↑ Estabilidade Externa  ↓ Suporte
 ↓ Integração  ↓ Estabilidade Externa
 ↑ Integração

“Leg Extension” “Squat”

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As guias propostas não encerram obrigatoriedade, ou seja, dependerão em


grande parte do juízo do treinador em função do corpo em particular. Gostaríamos de
ressalvar que numa mesma sessão de treino, poderão existir estruturas com maior
tolerância e controlo que poderão progredir no espectro metodológico.
Será extremamente relevante que o treinador esteja em constante reflexão sobre
o que está a observar. As manifestações de controlo dependerão em grande medida de
todas as variáveis que compõem um dado contexto de estimulação. Assim sendo,
recomenda-se que os contextos criados sejam o menos integrado possível, no
sentido de garantir maior precisão à estimulação.
Nesse sentido, o treinador deve ter sempre presente:

 A dor pode desencadear mecanismos de proteção, pelo que, é aconselhável não


estimular tecidos aquando da sua ocorrência.
 A fadiga altera dramaticamente a capacidade de produzir tensão e de manifestar
o controlo.
 Em fases iniciais da progressão, evitar que a fadiga se instale garante uma
observação mais objetiva do controlo contrátil.
 Se o objetivo é progredir para uma tarefa mais integrada, será de extrema
importância o treino concorrente entre as “peças” necessárias para o consumar
dessa tarefa e o treino específico da habilidade com a menor interferência
possível.
 Na aplicação de isométricos de baixa intensidade, o treinador deve percecionar o
grau de controlo na produção de força pelo executante.
o Quanto mais perto dos limites da ADMA específica, tanto maior a
necessidade de atentar a este aspeto.

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Como nota final, gostaríamos de ressalvar que todo o processo operacional de


aferição e otimização da qualidade contrátil pretende ser um instrumento objetivo para
que a construção e monitorização de contextos de estimulação seja, em si mesma, um
momento de avaliação e otimização do SNMA. As tarefas mais integradas, que requerem
uma grande dose de prática podem e devem ser melhoradas com a garantia de que a
integridade do corpo é preservada.
O fim último de qualquer processo de treino deveria ser o de preservar e melhorar
a integridade do corpo dentro das oportunidades e particularidades de cada individuo.

“Penso que tem de haver no fundo de tudo, não uma equação, mas uma ideia
extremamente simples. E para mim essa ideia, quando por fim a descobrirmos,
será tão convincente, tão inevitável, que diremos uns aos outros:
“Que maravilha! Como poderia ter sido de outra maneira?”
(John Archibald Wheeler cit. in Wheatley, 1992:18)

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Referências:

Motor Control Theories and Their Applications (2011)


Mark L. Latash, Mindy F. Levin, John P. Scholz, and Gregor Schöner;

Redundancy, Self-Motion, and Motor Control (2009)


V. Martin, J. P. Scholz, G. Schöner;

Structure, function, and control of the human musculoskeletal network (2018)


Murphy AC, Muldoon SF, Baker D, Lastowka A, Bennett B, Yang M, et al.

The Effect of Variability of Practice at Execution Redundancy Level in Skilled and


Novice Basketball Players (2016)
Hamidreza Taheri, Davoud Fazeli, and Sogand Poureghbali

Serial practice impairs motor skill consolidation (2017)


Kristin-Marie Neville, Maxime Trempe

Lengthening our Perspective: Morphological, Cellular and Molecular Responses


to Eccentric Exercise (2014)
Robert D. Hyldahl, Ph.D. and Monica J. Hubal, Ph.D.

Resistance Training Specialist Program, Manual de Apoio ao Curso Mastery Level


(2017).
Thomas Clark Purvis

Comparison of responses to strenuous eccentric exercise of the elbow flexors


between resistance-trained and untrained men (2008)
Newton MJ, Morgan GT, Sacco P, Chapman DW, Nosaka K.

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Concentric or eccentric training effect on eccentric exercise induced muscle


damage (2002)
Newton MJ, Nosaka K

Greater Muscle Damage Induced by Fast Versus Slow Velocity Eccentric Exercise
(2005)
D. Chapman, M. Newton, P. Sacco, K. Nosaka

The role of fatigue in susceptibility to acute muscle strain injury (1996)

Mair SD, Seaber AV, Glisson RR, Garrett WE Jr.

Impact of stretch-shortening cycle rest interval on in vivo muscle performance


(2005)
Cutlip RG, Geronilla KB, Baker BA, Chetlin RD, Hover I, Kashon ML, Wu JZ.

Molecular Exercise Physiology (2014)


Henning Wackerhage

Potenciação Pós Activação e Fadiga (2016)


Pedro Asseiceira

Liderança e a nova ciência. Aprendendo organização com um universo ordenado.


Wheatley, M. (1992).

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Figuras

Figura 1.
The role of fatigue in susceptibility to acute muscle strain injury (1996)
Mair SD, Seaber AV, Glisson RR, Garrett WE Jr.

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