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PROCESSO Nº TST-RR-1002302-81.2014.5.02.

0464

A C Ó R D Ã O
(8ª Turma)
GMDMC/Ee/Mp/Dmc/rv/ao

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. Tendo em vista a demonstração
de divergência jurisprudencial, merece processamento
o recurso de revista. Agravo de instrumento
conhecido e provido. B) RECURSO DE REVISTA.
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. No caso,
o Tribunal de origem indeferiu o
pedido de adicional de periculosidade
pautando-se, precipuamente, no laudo
pericial, que descreveu que o
abastecimento de empilhadeiras, com a
mera troca de um botijão vazio por um
cheio, não enseja a condenação ao
pagamento de adicional de
periculosidade. Ora, segundo a
jurisprudência que vem se firmando
neste Tribunal Superior, no exercício
das funções de operador de
empilhadeira, a exposição a gases
inflamáveis configura condição de
risco acentuado, a ensejar o direito
ao adicional de periculosidade. Recurso
de revista conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n°


TST-RR-1002302-81.2014.5.02.0464, em que é Recorrente RODRIGO RUTTER
MACIEL e Recorrido AUTOMETAL SBC INJEÇÃO E PINTURA DE PLÁSTICOS LTDA.

A Vice-Presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, pela


decisão de fls. 559/560, denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamante.
Inconformado, o reclamante interpôs agravo de instrumento às fls. 565/576
insistindo na admissibilidade da revista.
A reclamada apresentou contraminuta ao agravo de instrumento às fls.
579/581 e contrarrazões ao recurso de revista às fls. 582/585.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, nos
termos do art. 95 do Regimento Interno do TST.
Firmado por assinatura digital em 19/08/2020 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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É o relatório.

VOTO

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA

I – CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade


atinentes à tempestividade e à regularidade de representação, e
sendo isento de preparo, conheço do agravo de instrumento.

II – MÉRITO

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Sobre o tema, assim decidiu o Tribunal Regional:

"1. Adicional de periculosidade - Operador de empilhadeira movida a


GLP - Troca do botijão.
Insurge-se o reclamante contra improcedência do pedido de
pagamento do adicional de periculosidade.
Primeiro, é importante consignar que a descrição das atividades e dos
registrados feitos pelo perito no laudo não foram impugnados pelo autor.
Ou seja, no que interessa, já é possível definir que o reclamante realmente
"Fazia separação de carga e material, passava filme, etiquetava, emitia
nota fiscal, dirigia empilhadeira, carregando caminhões com gaiolas e
palets. A ", como empilhadeira era a gás, e fazia a troca dos botijões, uma
a duas vezes ao dia. constou à fl. 213. Também é de se destacar que o
volume individual do botijão era de 30 litros, o local de armazenamento
ficava em área externa e havia 150 litros de gás (fl. 217).
Fixadas essas premissas, pode-se até dizer, como o fez o autor à fl.
369 (item "12."), que ele "abastecia a empilhadeira", mas esse
abastecimento consistia na mera troca de um botijão vazio pelo cheio.
Definitivamente, não havia propriamente o abastecimento de botijões com
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gás na reclamada, pelo que não há que se falar em enchimento de


vasilhames a que alude o anexo 2, VIII, "a" da NR-16.
Com relação à área de risco, a quantidade estocada é relevante, e a do
local de trabalho está abaixo daquele limite definido pelo Quadro I referido
pelo item 4.1 da NR-16, que é de 250kg para tambores de metal, segundo o
qual:
"4 - Não caracterizam periculosidade, para fins de percepção de
adicional:
4.1 - o manuseio, a armazenagem e o transporte de líquidos
inflamáveis em embalagens certificadas, simples, compostas ou
combinadas, desde que obedecidos os limites consignados no Quadro I
abaixo, independentemente do número total de embalagens manuseadas,
armazenadas ou transportadas, sempre que obedecidas as Normas
Regulamentadoras expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a
Norma NBR 11564/91 e a legislação sobre produtos perigosos relativa aos
meios de transporte utilizados".
Ou seja, os botijões são fornecidos por empresa envasadora, à base de
troca por vazios; o estoque era de 150 litros (aparentemente distribuídos em
7 recipientes), todos alocados em depósito único, em área externa.
O item 16.6 da NR-16 não considera periculoso o transporte em
pequenas quantidades, até o limite de 200 litros para os inflamáveis
líquidos e 135 quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos.
Por fim, de acordo com a NR-16, sub-item 16.6.1: "As quantidades de
inflamáveis contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos não são
consideradas para efeito desta norma". Logo, é despicienda aquela
alegação de fl. 369, segundo a qual o autor "estava em contato permanente
com o gás, já que a empilhadeira era justamente movida por este
combustível".
Assim, diante do que consta no trabalho técnico, a atividade de troca
de cilindro da empilhadeira, a retirada do cilindro cheio do estoque, e nem
mesmo o trabalho com a empilhadeira munida de cilindro de gás, se
enquadram em alguma das atividades elencadas entre as letras "a" a "m" da
NR-16, pelo que fica mantida a sentença recorrida.
Mantida." (fls. 439/440)

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Às fls. 462/498, o reclamante se insurge contra o


acórdão regional que manteve a sentença de improcedência do
adicional de periculosidade pleiteado.
Sustenta que restou cabalmente demonstrado que
laborou em área de risco ao realizar a troca dos botijões, fazendo
jus ao referido adicional.
Quanto à tese do acórdão regional de que pela
quantidade de GLP armazenado não seria possível enquadrar a
atividade como perigosa, registra que a legislação pertinente não se
refere a quantidade, mas sim a proximidade para atuação em área de
risco.
Ressalta que "como demonstrado nos autos era o
obreiro quem abastecia a empilhadeira, estando exposto a atividade
periculosa nos termos da Portaria 3.214/78 do MTb, NR-16, anexo 02,
item 1, 2 e 3 e do artigo 193 da CLT" (fl. 472).
Argumenta, ainda, que foi consignado no laudo
pericial que o reclamante adentrava na área de risco duas vezes por
dia, o que não pode ser considerado tempo reduzido, e que a
substituição dos cilindros era feita todos os dias.
Aponta violação dos arts. 193 da CLT e 5º, caput,
e 7º, XXIII, da CF; e contrariedade à Súmula nº 364 do TST. Traz
arestos para confronto jurisprudencial.
Ao exame.
Extrai-se do acórdão regional que o reclamante realizava a troca de cilindro
de GLP da empilhadeira com a qual trabalhava duas vezes ao dia, todos os dias.
O Tribunal Regional concluiu que o abastecimento de empilhadeiras, com a
mera troca de botijão vazio por um cheio, não configura o enchimento de vasilhames a que alude o
Anexo 2, VIII, "a", da NR-16, não ensejando a condenação ao pagamento de adicional de
periculosidade.
Contudo, o aresto transcrito às fls. 473/475, oriundo TRT da 4ª Região,
válido e específico, sufraga tese divergente, de que a operação de empilhadeira e a troca do cilindro
GLP duas vezes por dia caracterizam a prestação de labor em condições perigosas.
Pelo exposto, ante a demonstração de divergência jurisprudencial, dou
provimento ao agravo de instrumento, a fim de determinar o processamento do recurso de revista.

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B) RECURSO DE REVISTA

I – CONHECIMENTO

Preenchidos os requisitos comuns de


admissibilidade, passo ao exame dos pressupostos específicos do
recurso de revista.

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Ante a fundamentação adotada no exame do agravo de


instrumento, conheço do recurso de revista por divergência
jurisprudencial.

II – MÉRITO

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Cinge-se a controvérsia ao pagamento de adicional


de periculosidade a trabalhador que, conforme consignado em laudo
pericial, realizava troca de cilindro de GLP duas vezes ao dia,
todos os dias.
No caso, o Tribunal Regional, com base no laudo
pericial, negou provimento ao recurso ordinário do reclamante, sob o
fundamento de que o abastecimento de empilhadeiras com a simples
troca do botijão vazio pelo cheio não configura o enchimento de
vasilhames, não ensejando o pagamento do adicional de
periculosidade.
Contudo, diferentemente da conclusão do Regional,
a jurisprudência que vem se firmando nesse Tribunal Superior é a de
que o abastecimento de empilhadeiras realizado diariamente enseja o
direito ao pagamento de adicional de periculosidade. Nesse sentido,
já se manifestou a SDI-1 desta Corte:

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"RECURSO DE EMBARGOS - INTERPOSIÇÃO SOB A


REGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 - ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE - MANUSEIO DE INFLAMÁVEL - GLP -
HABITUALIDADE 1. Esta Corte firmou o entendimento de que nas
operações de abastecimento de empilhadeira, por meio da troca de cilindros
de gás liquefeito de petróleo (GLP), a exposição diária e habitual a agente
inflamável em condições de risco acentuado, ainda que por apenas cinco
minutos, enseja o direito ao pagamento do adicional de periculosidade, uma
vez que não se configura o " tempo extremamente reduzido " , mas contato
intermitente, nos termos da Súmula nº 364 do TST . 2. Estando o acórdão
embargado em sintonia com esse entendimento, inviável o conhecimento
dos Embargos (art. 894, II, e § 2º, da CLT). Embargos não conhecidos." (E-
RR-11638-70.2013.5.15.0086, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DEJT
22/03/2019)

Dessa forma, a decisão recorrida merece reforma, uma vez que a hipótese
dos autos enseja pagamento do adicional de periculosidade.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso de revista para determinar o
pagamento do adicional de periculosidade no percentual de 30% sobre o salário-base, nos termos da
Súmula nº 191, I, do TST, com reflexos em DSRs, 13º salário, férias + 1/3,
depósitos do FGTS e verbas rescisórias, inclusive aviso-prévio e
multa fundiária, nos termos do pedido inicial de fls. 23/26,
conforme se apurar em liquidação de sentença. Invertido o ônus de
sucumbência quanto aos honorários periciais e quanto às custas
processuais. Custas pela reclamada, no importe de R$1.740,00,
calculadas sobre R$87.000,00, valor arbitrado à causa. Descontos
fiscais e previdenciários de acordo com a Súmula nº 368 do TST e a
OJ nº 363 da SDI-1 do TST. Juros e correção monetária nos termos da
Súmula nº 381 do TST.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Oitava Turma do Tribunal Superior do


Trabalho, por unanimidade: a) conhecer do agravo de instrumento e, no mérito, dar-lhe provimento
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para determinar o processamento do recurso de revista; e b) conhecer do recurso de revista por


divergência jurisprudencial e, no mérito, dar-lhe provimento para determinar o pagamento do
adicional de periculosidade no percentual de 30% sobre o salário-base, nos termos da Súmula nº 191,
I, do TST, com reflexos em DSRs, 13º salário, férias + 1/3, depósitos do
FGTS e verbas rescisórias, inclusive aviso-prévio e multa fundiária,
nos termos do pedido inicial de fls. 23/26, conforme se apurar em
liquidação de sentença. Invertido o ônus de sucumbência quanto aos
honorários periciais e quanto às custas processuais. Custas pela
reclamada, no importe de R$1.740,00, calculadas sobre R$87.000,00,
valor arbitrado à causa. Descontos fiscais e previdenciários de
acordo com a Súmula nº 368 do TST e a OJ nº 363 da SDI-1 do TST.
Juros e correção monetária nos termos da Súmula nº 381 do TST.
Retifique-se a autuação para constar a correta denominação da parte
agravada, AUTOMETAL SBC INJEÇÃO E PINTURA DE PLÁSTICOS LTDA.
Brasília, 12 de agosto de 2020.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


DORA MARIA DA COSTA
Ministra Relatora

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