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HORAS IN ITINERE

Jornada De Trabalho

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho procura discutir, algumas das atuais alterações da Consolidação


das Leis do Trabalho, um diploma legal com mais de meio século de existência,
saudado à sua época como o refúgio do trabalhador e atualmente criticado pela
dificuldade que causa ao relacionamento.

Assim, será mencionada nesta exposição, a importância do reconhecimento à


norma coletiva, tendo esta o papel social de conjugar os respectivos interesses
das partes nas relações de trabalho, estabelecendo condições, diante dos fatos
que constituem a rotina da atividade.

2. CONCEITO

O termo jurídico em Latim, numa tradução literal, pode ser entendido como
horas na estrada ou no itinerário. O conceito das Horas in itinere está
preceituado no § 2º, do art. 58 da CLT, que diz:

“Art. 58, § 2º o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e


para o seu retorno por qualquer meio de transporte não será computado na
jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou
não servido por transporte público, o empregador fornecer a condução. ”

Da leitura do referido conceito, depreende-se a necessária existência de dois


elementos essências para a caracterização das horas in itinere, sejam eles: 1)
que o local da prestação de serviços esteja em lugar de difícil acesso, ou não
seja servido pelos meios normais de transporte público; 2) que o empregador
forneça, com meios próprios, a condução.
3. SOBRE AS HORAS IN ITINERES

É importante observar que não é sempre que ocorre a caracterização das


horas “in itinere” ou seja, não é caracterizada referida hora extra para todo e
qualquer empregado todas as vezes que o mesmo se desloca até o local de
trabalho.

Se o empregado utiliza seus meios próprios ou se o local onde trabalha é


servido de transporte público regular, estas horas extras referentes ao percurso
são indevidas.

Já quando o empregador fornece o transporte porque não existe transporte na


região para que o empregado consiga chegar ao trabalho ou voltar a sua
residência, será caracterizado o tempo gasto pelo empregado do trajeto de ida
e volta do trabalho como horas “in itinere”.

Foi instituído legalmente esse direito na Consolidação das Leis do Trabalho,


quando o artigo 58, parágrafo 2º foi alterado pela lei 10.243 de de 19/06/2001.
A edição da lei foi resultado de várias decisões dos tribunais trabalhistas e da
Súmula 90 do Tribunal Superior do Trabalho que foi editada em 1978, sendo
posteriormente alterada em 2005, incoporando diversas outras situações e
esclarecendo quando são ou não devidas as horas “in itinere”.

Entendemos que da alteração da referida Súmula 90 do Tribunal Superior do


Trabalho vale destacar que a mera insuficiência de transporte público não
enseja o pagamento de horas "in itinere"; e que se houver transporte público
regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas "in
itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte
público.

Vale esclarecer também que não importa se o transporte fornecido pelo


empregador é gratuito ou pago de forma parcial pelo empregado para o
reconhecimento do direito às horas “in itinere”.
Muitos empregadores desconhecem também que a jurisprudência do Tribunal
Superior do Trabalho entende que por aplicação analógica da Orientação
Jurisprudencial Transitória nº 36 da SBDI-1 o tempo despendido pelo
empregado entre a portaria da empresa e o efetivo local de trabalho como
horas “in itinere”, por caracterizar tempo à disposição do empregador.

Assim, o empregador deve observar as situações acima apontadas para evitar


condenações a este título, caso venha a ser discutido em juízo o direito do
empregado em receber hora “in itinere”.

4. REFORMA TRABALHISTA: ALTERAÇÃO DA LEI

O tempo que o trabalhador passa em trânsito entre sua residência e o trabalho,


na ida e na volta da jornada, com transporte fornecido pela empresa, deixa de
ser obrigatoriamente pago ao funcionário. O benefício é garantido atualmente
pelo Artigo 58, parágrafo 2º da CLT, nos casos em que o local de trabalho é de
difícil acesso ou não servido por transporte público.

A reforma trabalhista extingue o direito do empregado de computar as horas “in


itinere, que é o tempo despendido pelo empregado no deslocamento de sua
residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno,
caminhando ou por qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo
empregador, não será mais computado na jornada de trabalho, por não ser
mais considerado como um tempo (horário) à disposição do empregador.

A intenção da lei é de que, desobrigado do pagamento de horas in itinere, o


empregador se sinta estimulado a dar o transporte aos empregados, porque
isso não lhe trará acréscimo de custos. O recado da nova lei ao empregador é
de que ele pode fornecer o transporte para o empregado, pois a empresa não
será mais penalizada com o pagamento das horas in itinere nesses casos.
Diante de todo o exposto, podemos concluir que uma vez respeitados os
requisitos presentes na Súmula 90 do TST, o trabalhador tem direito ao
recebimento das horas despendidas no itinerário entre a sua casa e o local de
trabalho, bem como o seu retorno. Diante disso, é necessário que exista
condução fornecida pela empresa e que não exista transporte público para o
local de difícil acesso. É, portanto, essencial que o transporte seja fornecido
pelo empregador, já que, uma vez não preenchido este requisito, o empregado
não terá direito ao pagamento das horas itinerantes. Caso este transporte
público exista, mas seja insuficiente, não haverá a computação dessas horas
para fim de jornada de trabalho. Havendo transporte particular em parte do
trajeto, não seria justo cobrá-lo do empregador, uma vez teria dois ônus: o de
fornecer o transporte e pagar as horas extraordinárias. Assim, o pagamento se
limita ao trecho não servido pelo transporte público. Nada obsta que o
empregador possa cobrar dos seus empregados, alguma importância pelo
transporte fornecido. Ainda cabe ressaltar que, o TST tem entendido pelo
cabimento da limitação das horas in itinere, através de acordo ou convenção
coletiva, tendo como fundamento o fato de que o sindicato não aceitaria assinar
alguma coisa que fosse prejudicial aos trabalhadores em sua generalidade e
que haveria nesse caso, concessões recíprocas tanto para o empregador como
para a empresa. Caso a soma das horas efetivamente trabalhadas e das horas
in itinere ultrapassem as oito horas legalmente permitidas na jornada de
trabalhode acordo com o estabelecido no artigo 7º, inciso XIII da Constituição
Federalestas serão remuneradas como horas extraordinárias, e deverão ser
pagas com no mínimo 50% a mais do que a hora normal, conforme dispõe o
artigo 59 da CLT. Este pagamento tem como intuito favorecer tanto o
trabalhador - uma vez que este irá despender muito tempo até chegar ao local
de difícil acesso - e, nada mais justo que receber por isso, quanto a empresa,
pois por estar situada em local de difícil acesso, dificilmente encontraria mão-
de-obra - essencial para a realização do trabalho - se os trabalhadores não
recebessem um estímulo para isto.

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