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APG 03 – “MENOS É
administração da insulina ou de hipoglicemiantes
orais, omissão da aplicação da insulina, mau
funcionamento da bomba de infusão de insulina;
MAIS” - Doenças agudas: Infecções (pulmonar, trato
(Complicações agudas do diabetes urinário, influenza), IAM, AVE, hemorragia
gastrintestinal, queimaduras, pancreatite;
mellitus)
- Distúrbios endócrinos: Hipertireoidismo,
feocromocitoma, síndrome de Cushing,
Objetivos:
acromegalia e diabetes gestacional;
- Compreender a etiologia, os fatores de risco, a
- Fármacos: Glicocorticoides, agonistas
fisiopatologia, as manifestações clínicas, o
adrenérgicos, fenitoína, betabloqueadores,
diagnóstico e o tratamento das complicações
clortalidona, diazóxido, pentamidina, inibidores de
agudas do diabetes mellitus (DM).
protease, antipsicóticos atípicos (aripiprazol,
Hipoglicemia, cetoacidose diabética (CAD) clozapina, olanzapina, quetiapina e risperidona),
e estado hiperglicêmico hiperosmolar inibidores do SGLT-2 (dapagliflozina,
(EHH). canagliflozina e empagliflozina), etc.
- Substâncias: Álcool (consumo excessivo),
1. Crises hiperglicêmicas ecstasy, cocaína, maconha, cetamina, heroína, etc.
- Desidratação: Oferta inadequada de água,
- As “crises hiperglicêmicas” englobam a uremia, diálise, diarreia, sauna, etc.
cetoacidose diabética (CAD) e o estado - Outros: Ingestão excessiva de refrigerantes ou
hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), os quais líquidos contendo açúcar.
representam as 2 complicações agudas mais graves
do diabetes mellitus (DM). OBS: Os 2 principais fatores precipitantes da
CAD são tratamento inadequado (p. ex., omissão
1.1. Epidemiologia do uso da insulina ou de outras medicações
- A taxa de incidência anual de CAD estimada a antidiabéticas) e infecções (p. ex.: pneumonia e
partir de estudos populacionais americanos varia de infecções do trato urinário).
4,6 a 8 episódios por 1.000 admissões de pacientes
com diabetes. OBS: O principal fator precipitante do EHH são
Embora a CAD ocorra prioritariamente no as infecções (p. ex.: pneumonia, infecção do trato
DM1, ela tem sido vista com frequência urinário e sepse).
crescente no DM2.
◦ A CAD costuma ser considerada como 1.3. Fisiopatologia
pouco frequente no DM2, geralmente - Os defeitos subjacentes na CAD e no EHH:
surgindo em situações de estresse Deficiência absoluta ou relativa de insulina
intenso, tais como infecções graves, na CAD ou ação ineficaz da insulina no
IAM, AVE, etc. EHH;
Ela é principal causa de mortalidade em Níveis elevados de hormônios
crianças, adolescentes e adultos jovens com contrarreguladores, o que resulta em
DM1 (cerca de 50% dos óbitos). aumento da produção hepática de glicose e
◦ É a complicação mais grave do DM1. diminuição da utilização de glicose nos
- O EHH é muito raro no DM1, com nítido tecidos periféricos;
predomínio no DM2, do qual pode ser a Desidratação e anormalidades eletrolíticas,
manifestação inicial em até 17% dos casos. principalmente em virtude da diurese
Ainda que predomine em idosos, o EHH osmótica causada por glicosúria.
pode ser observado em qualquer grupo
etário. 1.3.1. Cetoacidose diabética (CAD)
- Caracteriza-se por hiperglicêmica associada à
1.2. Fatores predisponentes produção excessiva de corpos cetônicos, os quais
- Em muitos casos, não se consegue identificar um incluem acetoacetato (AA), β-hidroxibutirato
fator precipitante para CAD e EHH. (BHB) e acetona.
Camila Ribeiro de Sousa
O AA é o corpo cetônico central e dele Parte dos ácidos graxos livres resultantes da
derivam os demais. lipólise no tecido adiposo é convertida em
◦ O BHB é formado a partir da redução triglicerídeos no fígado, ocorrendo
do AA nas mitocôndrias. hipertrigliceridemia grave.
◦ A acetona é gerada pela - Acidose metabólica com anion gap elevado: Os
descarboxilação espontânea do AA. corpos cetônicos são ácidos fortes, e sua produção
▪ Causa o hálito cetônico por ser excessiva (acúmulo) causa hipercetonemia e
muito volátil. acidose metabólica.
- A tríade bioquímica característica da CAD é: Essa acidose metabólica é do tipo ânion-
hiperglicemia, cetonemia e acidose metabólica gap aumentado devido ao acúmulo dos
com hiato aniônico (anion gap) alto. cetoânions, neste caso o β-hidroxibutirato e
- Hiperglicemia: É o resultado de 3 eventos: o acetoacetato.
Aumento da gliconeogênese (síntese de ◦ A decomposição da acetona no plasma
glicose): Insulinopenia e elevação dos libera estes cetoânions e H+.
níveis de cortisol levam a diminuição da O aumento da pressão parcial de dióxido de
síntese de proteínas e aumento da carbono (PaCO2) estimula os centros
proteólise, com um aumento da produção respiratórios, provocando uma respiração
de aminoácidos (alanina e glutamina), os rápida e profunda – respiração de
quais, juntamente com os ácidos graxos Kussmaul.
livres (AGL) liberados dos adipócitos, Tanto a hiperglicemia quanto os altos níveis
servem de substrato para a gliconeogênese. de corpos cetônicos causam diurese
Aumento da glicogenólise (quebra do osmótica, o que leva à hipovolemia e à
glicogênio): O aumento dos níveis de diminuição da taxa de filtração glomerular,
glucagon, catecolaminas e cortisol, a qual agrava ainda mais a hiperglicemia.
associado à insulinopenia, estimula as
enzimas gliconeogênicas, especialmente, a
fosfoenolpiruvato carboxiquinase
(PEPCK).
Menor utilização da glicose por fígado,
músculos e adipócitos.
◦ A redução da taxa de filtração
glomerular pela desidratação contribui
para agravar a hiperglicemia.
- Cetonemia: A combinação de insulinopenia e
excesso de catecolaminas propicia aumento do
catabolismo do tecido adiposo (lipólise) com
produção excessiva de AGL e glicerol, os quais, no
fígado, serão oxidados em corpos cetônicos, um
processo, predominantemente, estimulado pelo
glucagon.
Concentrações aumentadas de glucagon
reduzem os níveis hepáticos de malonil-
CoA, a primeira enzima limitadora da
síntese de novo de ácidos graxos.
Níveis reduzidos de malonil-CoA
estimulam cetogênese via carnitina OBS: Jejum prolongado: Quando o organismo é
palmitoiltransferase 1 (CPT1-L), isoforma privado de fontes energéticas exógenas
hepática, que promove oxidação de AGL a (alimentos), há queda da glicemia e dos níveis
corpos cetônicos. plasmáticos de insulina, com elevação
Além disso, na CAD, estão diminuídos o concomitante dos hormônios contrainsulínicos
metabolismo e a depuração dos corpos (glucagon, cortisol, GH e catecolaminas). As
cetônicos. reservas energéticas endógenas passam a ser
utilizadas, ocorrendo consumo do glicogênio
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hepático, lipólise com produção de ácidos graxos e quais se correlacionam com níveis de consciência
glicerol e catabolismo muscular, gerando alterados.
aminoácidos. No fígado, os ácidos graxos serão
convertidos em cetonas (cetogênese).
1.5.2. EHH
- Os critérios diagnósticos da ADA são:
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Glicose plasmática > 600 mg/dL; - Quando a glicemia estiver entre 200 e 250 mg/dL
pH arterial > 7,3; na CAD e entre 250 e 300 mg/dL no EHH, muda-
HCO3 > 18; se a RL para solução glicosada (SG) a 5% e SF
Osmolaridade plasmática efetiva > 320 0,45%, com o intuito de minimizar o risco de
mOsm/kg. queda muito rápida da glicemia, o que poderia
favorecer o surgimento de hipoglicemia e edema
cerebral, bem como agravamento da cetoacidose.
A infusão deve variar entre 150-250 mL/h,
mantendo-se a glicemia entre 150-200
mg/dL.
- A reposição excessiva de líquidos, que alguns
autores consideram como mais de 5L em um
período de 8h, pode contribuir para o surgimento
de complicações da cetoacidose, como edema
cerebral e síndrome da angústia respiratória.
1.6. Tratamento
2.5. Diagnóstico
- A conduta na suspeita clínica de hipoglicemia
grave é a imediata coleta de sangue para avaliação
- DM1: Em diabéticos tipo 1 não ocorre da glicemia seguida da administração de 25 a 50 g
diminuição da secreção de insulina em resposta à de glicose intravenosa (50 a 100 mL de glicose a
hipoglicemia, uma vez que sua concentração 50%), enquanto se aguarda o resultado.
circulante, causadora de hipoglicemia, depende da
absorção da insulina administrada. Em 2.6. Tratamento
contrapartida, eles tendem a desenvolver - O melhor tratamento da hipoglicemia é sua
insuficiência autonômica, expressa precocemente prevenção.
pela perda da resposta esperada de aumento na • Os pacientes devem ser orientados a
secreção de glucagon na vigência de hipoglicemia. reconhecer os sinais hipoglicêmicos de
Após 5 anos de doença, a resposta da alerta, assim como evitar atitudes que
epinefrina, principal arma de defesa contra possam predispor a hipoglicemia.
a hipoglicemia, mostra-se frequentemente - Pacientes conscientes: Pacientes com sintomas
atenuada, sendo seu limiar para liberação de hipoglicemia e capazes de engolir devem ingerir
mais baixo do que em indivíduos normais, 15 g de carboidrato de absorção rápida (p. ex., uma
especialmente, após uma hipoglicemia colher das de sopa de açúcar ou 30 mL de soro
prévia. glicosado a 50% diluído em água filtrada). A
glicemia capilar deve ser avaliada após 15 minutos;
2.4. Manifestações clínicas se não houver reversão da hipoglicemia,
- Os sinais e sintomas de hipoglicemia são recomenda-se repetir o processo.
inespecíficos; por isso, o diagnóstico deve, sempre - Pacientes torporosos ou em estado de coma:
que possível, ser confirmado por meio de dosagem Está contraindicada a administração de alimentos
da glicemia capilar ou plasmática. VO, devido ao risco de aspiração
- Sinais e sintomas neuroglicopênicos traqueobrônquica. Havendo um acesso venoso
(insuficiente concentração de glicose para o disponível, deve-se administrar 3 ampolas (30 mL)
funcionamento adequado do SNC): Tonturas, de glicose a 50%, diluídas em 100 mL de SF 0,9%
cefaleia, parestesias, confusão mental e/ou por via IV. Reavaliar a glicemia capilar em 5
distúrbios do comportamento. Até convulsões, minutos e, não havendo recuperação, o
torpor e coma, o qual, raramente, pode ser fatal. procedimento deve ser repetido.
- Sinais e sintomas de hiperatividade • Após a correção imediata, é necessário
autonômica: Adrenérgicos (taquicardia, oferecer alimentos, se possível.
palpitações, sudorese, tremores, etc.) e
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• Na indisponibilidade de acesso venoso, Referências:
oral, pode-se administrar glucacon por via - VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio
SC ou intramuscular (IM) e instalar o de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022.
acesso venoso periférico.
• Em ambiente extra-hospitalar, um familiar Artigo:
ou amigo pode aplicar glucagon IM ou SC “Preditores de risco de acidentes de trânsito por
(1 mg para adultos e 0,5 mg para hipoglicemia em motoristas brasileiros com
crianças), que, em geral, restaura a diabetes mellitus tipo 1” (2021)
consciência ao paciente dentro de 15 - A hipoglicemia no paciente com DM1 pode ser
minutos. considerada um importante fator de desatenção o
• Náuseas e, mais raramente, vômitos são os que pode justificar o elevado risco de acidentes de
principais efeitos colaterais desse trânsito nessa população.
tratamento. - Durante um episódio de hipoglicemia, o paciente
• Outra opção mais atraente, em virtude de pode apresentar comprometimento cognitivo, com
maior facilidade e rapidez de aplicação, é alterações no nível de consciência e atraso nas
o glucagon nasal (Baqsimi®), ainda não respostas de reação.
disponível no Brasil em 2020. - Além disso, estudos com simulador de direção
- Hipoglicemia assintomática: Devem elevar os demonstram que o ato de dirigir representa uma
níveis de glicemia média a serem alcançados, situação de estresse para o organismo, levando a
reduzir a dose total diária de insulina, usar uma maior manifestação de sintomas autonômicos,
esquemas de múltiplas pequenas doses de insulina liberação de epinefrina e necessidade mais elevada
Regular (ou, de preferência, dos análogos Aspart, de glicose para o organismo.
Lispro ou Glulisina), aumentar o número de - Em um estudo retrospectivo, pacientes com DM1
pequenos lanches durante o dia e incrementar a apresentaram incidência de 19% de acidentes
frequência de automonitoramento da glicemia. automobilísticos durante dois anos de avaliação
• Esforços devem ser feitos para evitar retrospectiva.
hipoglicemias durante semanas ou meses, - Os acidentes descritos foram diretamente
visando à reversão da adaptação do SNC. relacionados ao maior número de hipoglicemias
• A troca das insulinas Regular e NPH pelos enquanto dirigiam, à ausência da verificação da
análogos de insulina de ação ultrarrápida glicemia antes de iniciar a dirigir e ao uso de
(Aspart, Lispro ou Glulisina) e de ação insulina em múltiplas injeções diárias. Até metade
lenta (Detemir, Glargina ou Degludeca), dos pacientes nunca haviam conversado com seu
respectivamente, é bastante útil, visto que médico sobre hipoglicemia e direção.
eles se acompanham de menor risco de Fonte: SALLA, Rafaela Fenalti. Preditores de
hipoglicemia. risco de acidentes de trânsito por hipoglicemia em
- Coma de causa indeterminada: Qualquer motoristas brasileiros com diabetes mellitus tipo 1.
diabético em coma, caso não se possa determinar UFRGS, 2021. Disponível em:
de imediato o valor da glicemia, deverá ser <https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/221582>
medicado com duas ampolas de glicose a 50% IV .
(após a coleta de material para dosagem da
glicemia).
- Hipoglicemia grave induzida por fármacos:
Deverá ser hospitalizado para tratamento com
infusão contínua de glicose e cuidadoso
monitoramento da glicemia.
- Hipoglicemia em paciente em uso de acarbose:
Devem ser tratadas com comprimidos de glicose
ou glucagon (IM, SC ou intranasal), uma vez que
acarbose retarda a absorção de carboidratos. O uso
de alimentos contendo açúcar (sacarose) pode não
ser útil, uma vez que a absorção intestinal está
prejudicada.