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Renata Viana

2023
Ver Vendo

De tanto ver, a gente banaliza o olhar – ver... não vendo.


Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia,
sem ver.
Parece fácil, mas não é: o que nos cerca, o que nos é familiar,
já não desperta curiosidade.
O campo visual da nossa retina é como o vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.
Se alguém lhe pergunta o que você vê pelo caminho, você não sabe.
De tanto vê, você banaliza o olhar.
Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo
hall do prédio do seu escritório.
Lá estava sempre, pontualíssimo, o porteiro.
Dava-lhe bom dia, às vezes, lhe passava um recado ou uma
correspondência. Um dia o porteiro faleceu.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a
mínima ideia.
Em 32 anos nunca consegui vê-lo.
Para ser notado o porteiro teve que morrer.
Se, um dia, em seu lugar tivesse uma girafa cumprindo o rito,
pode ser, também, que ninguém desse por sua ausência.
O hábito suja os olhos e baixa a vontade. Mas há sempre o
que ver; gente; coisa; bichos.
E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê aquilo que o adulto não vê. Tem olhos atentos
e limpo para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela
primeira vez, o que, de tão visto, ninguém vê. O pai que raramente vê
o próprio filho. O marido que nunca viu a própria mulher.
Os nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos.
...e por ai que se instala no coração o monstro da indiferença.
Otto Lara Resende
Que nós sejamos capazes
como educadores de ter
um olhar humanizado e
sensível...
Métodos de
Alfabetização

Análise da
Alfabetização
hipótese de
e
escrita
Letramento

Alfabetização

Estratégias Psicogênese
de da Língua
estimulação Escrita

Programa de
intervenção
Dicionário Aurélio
 Alfabetização - s.f. Ação de alfabetizar. / Difusão do ensino
primário, restrita ao aprendizado da leitura e escrita
rudimentar.
 Alfabetizar - v.t. Ensinar a ler e a escrever. / Dar instrução
primária.
Ao pensar na melhor estratégia para a alfabetização, chega-se à
conclusão, de que a melhor perspectiva é o ponto de vista do
aluno e não da escola ou dos pais.

Como o aluno aprende e não como o professor ensina.


Cada pessoa possui um estilo de aprendizagem predominante.

Ativo Reflexivo

Pragmático
Teórico
• Estilo Ativo : valoriza dados da experiência, entusiasma-
se com tarefas novas e é muito ágil.

• Estilo Reflexivo : atualiza dados, estuda, reflete e


analisa.

• Estilo Teórico : é lógico, estabelece teorias, princípios,


modelos, busca a estrutura e sintetiza.

• Estilo Pragmático: aplica a ideia e faz experimentos.


Isso significa que quanto mais recursos pedagógicos eu
utilizar nas aulas melhor será a aprendizagem dos alunos.

Aprendemos de maneiras diferentes.


Alfabético
e Palavração
Soletração

Sintéticos Analíticos

Silábico
ou Fônico Global Setenciação
Silabação
As teorias desenvolvidas por Emilia Ferreiro e seus
colaboradores deixam de fundamentar-se em concepções
mecanicistas sobre o processo de alfabetização, para seguir os
pressupostos construtivistas/interacionistas de Vygotsky e
Piaget.


Quem é Emilia Ferreiro?

Emilia Ferreiro nasceu na Argentina em 1936. Doutorou-se na


Universidade de Genebra, sob orientação do biólogo Jean Piaget,
cujo trabalho de epistemologia genética ela continuou, estudando e
aprofundando-se em um assunto que Piaget não explorou: a escrita.

A partir do ano de 1974, Ferreiro desenvolveu na Universidade de


Buenos Aires uma série de experimentos com crianças, a qual expôs
as conclusões do estudo na obra Psicogênese da Língua Escrita,
juntamente com a pedagoga Ana Teberosky.

Hoje Emilia é professora titular do Centro de Investigação e Estudos


Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México,
onde vive.
As origens dos pressupostos construtivistas estão nos
estudos do psicólogo suíço Jean Piaget, que concluiu que as
estruturas lógicas das crianças são diferentes das dos
adultos e que as práticas pedagógicas devem respeitar
essas diferenças, propondo atividades adequadas a cada
estágio do desenvolvimento intelectual.
Piaget quem criou o termo construtivismo, e sim Emilia
Ferreiro, que na década de 1970 fez a ponte entre a teoria
e a prática pedagógica.
Ela não criou um método de alfabetização, procurou observar como se realiza a
construção da linguagem escrita na criança.

Na Universidade de Buenos Aires, a partir de 1974, como docente, iniciou seus


trabalhos experimentais, que deram origem aos pressupostos teóricos sobre a
Psicogênese do Sistema de Escrita, campo não estudado por seu mestre, Piaget,
que veio a tornar-se um marco na transformação do conceito de aprendizagem da
escrita, pela criança.

Realizou importantes parcerias de estudo com Ana Teberosky, Alicia Lenzi, Suzana
Fernandez, Ana Maria Kaufman e Lílian Tolchinsk.

Do ato de ensinar, o processo desloca-se para o ato de aprender por meio da


construção de um conhecimento que é realizado pelo educando, que passa a ser
visto como um agente e não como um ser passivo que recebe e absorve o que lhe é
"ensinado".
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Garatuja:

Representação através de
desenhos com traçados
ordenados ou desordenados.
⚫ Diversas possibilidades de manuseio e contato com material
escolar. Ex.: folhas, canetinhas, massinha, etc.

⚫ Buscar estratégias que permitam a criança trabalhar a


coordenação motora fina de forma lúdica. Ex. : Trabalhar
rasgadura, bolinhas de papel, pintura, colagem, etc.

⚫ Garantir o desenvolvimento do esquema corporal (desenho).


Ex.: Auto retrato, desenho do corpo, colagem das partes do
corpo, etc.
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase pré-silábica

❑ Não considera quais fonemas devem ser


representados, que as letras deveriam estar
relacionadas a tais sons;
❑ Não percebe que a quantidade de letras usadas no
momento da escrita está relacionada com a
quantidade de fonemas;
❑ O foco da atenção está voltado para a palavra como
um todo, como se ela fosse um bloco de som único.
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase pré-silábica

❑ Atenta ao significado e não necessariamente aos


constituintes sonoros da palavra;
❑ Realismo nominal;
❑Utiliza letras aleatórias, geralmente presentes em
seu próprio nome.
SA PA TO
ER A NVLTU
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábica

❑ Segmentação da palavra em sílabas;


❑ Identifica o número de sílabas que a palavra possui;
❑ Percepção que a extensão da fala está relacionada
com a extensão da escrita;
❑ O elemento de contagem é a sílaba;
❑ Considera critérios quantitativos. Para escrever
deve-se usar uma letra para cada uma das sílabas da
palavra;
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábica

❑Critério de quantidade (quantas sílabas a palavra


tem) e não de qualidades (quais os sons que a sílaba
contém);
Esta etapa pode ser dividida em dois níveis:

✓ SILÁBICO RESTRITO
✓ SILÁBICO SONORO
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábica

SILÁBICO RESTRITO
Representa cada sílaba por uma única letra qualquer,
sem relação com os sons que ela representa.

SA PA TO
V U X
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábica

SILÁBICO SONORO
▪ Avanço na percepção dos fonemas da sílaba
▪ Cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante
que expressa o seu som correspondente.
SA PA TO
A A O
S P T
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábico Alfabética

✓ Período de transição no qual a criança trabalha


simultaneamente com duas hipóteses: a silábica e a
alfabética.
✓ Ora ela escreve atribuindo a cada sílaba uma letra, ora
representando as unidades sonoras menores, os fonemas.
✓ Critério mais preciso de segmentação e análise mais
pormenorizada.
✓ Identificação da maioria dos fonemas, que sejam vogais
ou consoantes.
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Silábico Alfabética


✓ Informações sistemáticas a respeito das letras e dos
sons que elas representam.
✓ Correspondência cada vez mais precisa entre os sons e
letras.
✓ Percepção do esquema CV.
SA PA TO
LA LA LO

TA PA TO

SA A TO
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Alfabética
✓ Conseguem entender a lógica do funcionamento do sistema de
escrita alfabético, representando cada fonema com uma letra.
✓ Precisão na detecção de todos os fonemas das palavras e a
sistematização das relações entre tais sons e as letras
correspondentes.
✓ Compreensão que, para escrever, deve estar atenta a cada um
dos fonemas que estão presentes em cada uma das sílabas das
palavras faladas
✓ Critério quantitativo (quantos são os fonemas) e critério
qualitativo (quais são os fonemas)
✓ Não significa que a criança está escrevendo corretamente
todos as palavras (fase ortográfica).
Relembrando a psicogênese da língua escrita:

Fase Alfabética

SAPATO

PALIAÇO
Denomina-se consciência fonológica a consciência das
características formais da linguagem.
Esta habilidade compreende dois níveis:
1. A consciência de que a língua falada pode ser segmentada em
unidades distintas, ou seja, a frase pode ser segmentada em
palavras; as palavras, em sílabas e as sílabas, em fonemas.
2. A consciência de que essas mesmas unidades repetem-se em
diferentes palavras faladas.

(Byrne e Fielding-Barnsley, 1989)


Diferentes pesquisas têm apontado o papel do desenvolvimento da
consciência fonológica para a aquisição da leitura e escrita. [...]
Crianças com dificuldades em consciência fonológica geralmente
apresentam atraso na aquisição da leitura e escrita, e
procedimentos para desenvolver a consciência fonológica podem
ajudar as crianças com dificuldades na escrita a superá-los.
(Capovilla e Capovilla, 2000).
O que é consciência fonológica?

Conjunto de habilidades que nos permitem refletir sobre as partes


sonoras das palavras.
Além de usar as palavras para nos comunicar, podemos assumir
diante delas uma atitude metacognitiva, refletindo sobre sua
dimensão sonora.

(cf. BRADLEY; BRYANT, 1987; CARDOSO-MARTINS, 1991; FREITAS,


2004; GOMBERT, 1992).
Unidades linguísticas
Percepção e reflexão sobre as
unidades:

TEXTO PALAVRAS SÍLABAS FONEMAS


Refletindo práticas: estratégias de estimulação
Refletindo práticas: estratégias de estimulação
Refletindo práticas: estratégias de estimulação
DIAGNÓSTICO

OU

ESTIMULAÇÃO?
Silábico
Pensa em...
unidade sílaba
Mas representa..
-com quantidade e sem representação sonora; (TIRB)
-Com representação sonora com vogal (AAUA)
-Com representação sonora com consoante(MRUG)
1-OBSERVE OS DESENHOS E COMPLETE AS PALAVRAS COM AS LETRAS QUE FALTAM.

P____T____C____

M___ L ____

B___ L____
B____N____C____

C____M____NHÃ___

C___ V___L___
Associação de semelhanças sonoras e representações na escrita
Manipulação silábica – rima/aliteração

M __ _ _

_E T_ CA

__ NE __
_ _ _ A _ O

_ O A
Alfabetização ≠ Letramento

Alfabetização Letramento
Alfabetização ≠ Letramento
As ações presentes nos verbos alfabetizar e letrar indicam
ações distintas que não deveriam acontecer
separadamente. O ideal seria alfabetizar letrando.

Alfabetizado Letrado
Indivíduo que saber ler e escrever Indivíduo que vive em estado de
letramento, usa e pratica a leitura e a
escrita e responde adequadamente as
demandas sociais de leitura e escrita
Alfabetização Letramento
Aprender a ler e escrever Apropriar-se da leitura e escrita
Prática centrada na aprendizagem da Prática centrada nas situações sociais de
decodificação. Não há preocupação em uso da leitura e da escrita. Tem como
aproximar o contexto dessa aprendizagem objetivo não só a aprendizagem da escrita
a conteúdos escolares mas também sua utilização adequada em
diferentes contextos e atendendo a
diferentes demandas
Programa de intervenção

Diagnóstico

✓ A sondagem deve ser individual, o que torna necessário propor


ao resto da turma uma atividade que dispense ajuda.
✓ Descobrir quais as hipóteses de escrita das crianças.
✓ Acompanhar a evolução individual para planejar as
intervenções necessárias para que todos efetivamente avancem.
✓ Distribuição da turma em grupos de trabalho.
✓ Definição das parcerias de trabalho entre os alunos.
✓ Organizar a rotina.
✓ Elaboração de atividades de acordo com cada nível.
✓ Sequência didática (com prazos determinados)
✓ Projetos que durem várias semanas ou meses.
Programa de intervenção
Diagnóstico

Adriana

Ricardo

Roberta
Programa de intervenção

Planejamento

• Situações didáticas essenciais para o sucesso na


alfabetização:
• Ler para os alunos
• Fazer com que eles leiam mesmo antes de saber ler
• Assumir a função de escriba para textos que a turma
produz oralmente
• Promover situações que permitam a cada um deles
escrever até que todos dominem de fato o sistema de
escrita.
• Realizar atividades que estimulem a reflexão sobre o
sistema alfabético.
Ilustrando...
Ilustrando...
Ilustrando...
Ilustrando...
Ilustrando...
Ilustrando...
Ilustrando...
Alfabetização para todos....

Resultado de um projeto desenvolvido para professores que


atuam com crianças da Educação Infantil:

❖Alfabetização como processo;


❖Atingir alunos com dificuldade em avançar de um nível para o outro;
❖Fracasso escolar;
❖ Distúrbio de aprendizagem;
❖ Dislexia;
❖ Distúrbios globais do desenvolvimento;
❖ Déficit de atenção;
❖ Dificuldades escolares;
“Muitas características são comuns a estas crianças”
(ZORZI, 2009)

• Níveis elementares de escrita, predominando a fase pré-silábica;


• Limitação para compreender a composição sonora das palavras, ao
nível das sílabas e dos fonemas;
• Dificuldades para compreender que os mesmos sons podem estar
presentes em diferentes palavras;
• Dificuldade para realizar atividades que relacionem palavras de
acordo com sua composição sonora;
• Dificuldade com rimas;
• Desconhecimento dos nomes de todas as letras;
• Limitação na escrita de letra: são capazes de evocar somente algumas
delas.
“Muitas características são comuns a estas crianças”
(ZORZI, 2009)

• Ausência ou precariedade de correspondência fonema-grafema;


• Não diferenciação entre letra, sílaba, palavra, frase e linha;
• Pouco contato com textos escritos, mesmo na condição de ouvinte de
leituras praticadas por outros;
• Vocabulário reduzido;
• Ausência de influência da linguagem escrita sobre a linguagem oral;
• Desinteresse por situações envolvendo atividades de leitura e escrita;
• Autoestima prejudicada, marcada pela crença de que aprender a ler e
e escrever são coisas difíceis e que tal objetivo não poderá ser
alcançado;
• Dificuldade na construção de narrativas orais.

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