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Unidade 1
Educação especial
no brasil e no
mundo
CEO
DIRETORA EDITORIAL
ALESSANDRA FERREIRA
GERENTE EDITORIAL
PROJETO GRÁFICO
TIAGO DA ROCHA
AUTORIA
4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ÍCONES
Unidade 1
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5
Educação Especial no Mundo ................................................... 9
SUMÁRIO
Vertente psicopedagógica................................................................................. 27
Legislação Brasileira........................................................................................... 36
Unidade 1
6 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Olá estudante!
APRESENTAÇÃO
Nesta unidade de estudo, vamos abordar sobre a histó-
ria da Educação Especial no Mundo e no Brasil. Você sabe como
as pessoas com deficiência eram vistas e tratadas pela socieda-
de? Quando as pessoas com deficiência começaram a ser reco-
nhecidas e valorizadas como cidadãos? É importante que você
compreenda que a Educação Especial é o primeiro passo para
a Educação Inclusiva. Dessa forma, você estudará o percurso da
legislação brasileira na Educação Especial até os dias atuais, em
que a sociedade e o governo buscam uma Educação Inclusiva de
qualidade para todos. Mas afinal, qual a diferença entre Educa-
ção Especial e Educação Inclusiva? Você sabe? Vamos descobrir?
Unidade 1
Bons estudos!
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 7
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 01. Nosso objetivo
OBJETIVOS
8 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Educação Especial no Mundo
Ao término deste capítulo você será capaz de en-
tender como começou a Educação Especial no
Mundo. Isto será fundamental para o exercício de
OBJETIVO sua profissão. É importante saber que a Educação
Especial tem um papel muito importante na his-
tória das pessoas com deficiência, pois foi a partir
dela que os indivíduos com deficiência começaram
a ser vistos como cidadãos, capazes de conviver
e desenvolver atividades em sociedade. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? En-
tão vamos lá. Avante!
Unidade 1
Antes de adentrar a Educação Especial, vamos en-
tender como as pessoas com deficiências eram vis-
tas e tratadas pela sociedade na Antiguidade. Veja
REFLITA uma síntese na tabela 1 a seguir.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 9
Quadro 1: Pessoas com deficiência da Antiguidade
ÉPOCA CARACTERÍSTICAS
Egito Antigo
Unidade 1
10 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ÉPOCA CARACTERÍSTICAS
Idade Média
Nesta época, por causa da propagação da doutrina
cristã, esse quadro de abandono das pessoas com
VOCÊ SABIA? deficiência é alterado, pois para esta doutrina o
homem era uma criatura divina. Logo, todos deve-
riam ser aceitos e amados como tal (SILVA, 2012).
Unidade 1
De acordo com Silva (2012) é na era cristã, que os
indivíduos com deficiência foram alvo de caridade,
sendo acolhidos em conventos ou igrejas, possi-
velmente em troca de serviços. Entretanto, nesta
época, as pessoas com deficiências eram culpadas
pela própria deficiência, pois a deficiência era com-
preendida como um castigo de Deus pelos peca-
dos cometidos. (SILVA, 2012).
Foi na Idade Média, em Paris, por volta de 1260,
que o Rei Luís IX criou o primeiro hospital para
pessoas cegas. O objetivo deste hospital era aten-
der os soldados que tinham ficado cegos durante
a Sétima Cruzada. O nome dado para o hospital foi
Quize-Vingsts, o que significa “15 vezes 20”, ou se-
ja, 300 soldados cegos (GUSGEL, 2010 apud SILVA,
2012).
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 11
De acordo com Bergamo (2012), no século XVII os
deficientes eram internados em orfanatos, manicômios, prisões
e outros tipos de instituições, eles eram excluídos do convívio
social. Somente no final do século XVIII e início do século XIX que
a sociedade passou a oferecer ajuda assistencial (como abrigo e
alimentação) para as pessoas com deficiência, com objetivo de
afastar essas pessoas da vida em sociedade, pois os deficientes
eram considerados um perigo social.
12 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
centros de reabilitação, oficinas protegidas de
trabalho, clubes sociais especiais, associações
desportivas especiais. (SASSAKI, 2002, p. 31)
Unidade 1
se basear na prática pedagógica e, ainda, que deve haver individualidade no
processo de aprendizagem.
Século XVII - o abade Charles Michel de L’Epée fundou a primeira escola
pública para surdos em Paris. Ele é conhecido como o pai dos surdos.
1784 - Valentin Haüy fundou o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris.
Na época, eram utilizadas letras em relevo no processo de aprendizagem dos
cegos (Mazzotta, 2005 apud Silva, 2012).
1829 - Louis Braille, adaptou o código militar de comunicação noturna criado
por Charles Barbier de La Serre. Esse código ficou conhecido inicialmente pelo
nome de sonografia e, posteriormente, Braille.
Jean Marc Gaspard Itard - médico francês que foi o responsável por educar
o menino selvagem de Aveyron, capturado por volta de 1800. Esse médico
foi reconhecido tanto pela sua habilidade de ensinar uma língua aos surdos
quanto por sua perspicácia na reeducação de Victor de I’Aveyron.
1832 - Foi fundada uma instituição para prestar atendimento aos deficientes
físicos, na Alemanha, em Munique.
Em Roma - A médica italiana, Maria Montessori, contribuiu para a evolução da
educação especial, ao criar um programa de treinamento para crianças com
deficiência mental nos internatos de Roma.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 13
Segundo Sassaki (2002), a integração social buscou a
inserção de pessoas com deficiência aos sistemas sociais como
a educação, o trabalho, a família e o lazer. O autor elucida que
essa abordagem teve incentivo de certos princípios e respectivos
processos: normalização e mainstreaming.
Normalização:
[...] significa criar para pessoas atendidas em
instituições ou segregadas de algum outro
modo, ambientes tão parecidos quanto
possível com aqueles vivenciados pela
população em geral. Fica evidente que se
trata de criar um mundo (moradia, escola,
trabalho, lazer etc.) separado embora muito
parecido com aquele em que vive qualquer
Unidade 1
Mainstreaming:
[...] uma tentativa de integração, (...) que
significa levar os alunos mais próximo possível
dos serviços educacionais disponíveis na
corrente principal da comunidade. (...) ele
estudava em uma escola comum, embora se
tratasse de uma simples colocação física do
mesmo em várias salas comuns. (SASSAKI,
2002, p. 32)
14 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
• Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, das
Nações Unidas;
Unidade 1
todas as formas de discriminação contra as pessoas
portadoras de deficiência realizada em 1999, na
Guatemala;
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 15
• 1948 - Declaração Universal de Direitos Humanos
(ONU): determina os direitos humanos - direito à vida,
direito à integridade física, direito à liberdade, direito
à igualdade e à dignidade e o direito à educação, são
os direitos fundamentais de todos os indivíduos e,
consequentemente, estes devem ser respeitados.
16 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
compromisso com a Educação para Todos: Princípios,
Política e Prática em Educação Especial.
Unidade 1
deficiência e suas famílias.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 17
Figura 1 – Monumento a Pedro Ponce de Léon
Unidade 1
18 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Educação Especial no Brasil
Ao final deste capítulo você será capaz de identifi-
car como o liberalismo influenciou a educação das
pessoas com deficiência no Brasil. Irá conhecer e
OBJETIVO compreender como as primeiras instituições espe-
cializadas do país atendiam as pessoas com defi-
ciência. Conhecer esse contexto histórico é muito
importante para você contextualizar a história da
Educação Especial no Brasil. Vamos lá?
Unidade 1
164).
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 19
tual (SANDRONI, 1999) e influenciou o início
da educação das pessoas com deficiência no
Brasil, porque o movimento estava vinculado
com a democratização dos direitos para todos
os cidadãos. (SILVA, 2012, p. 21)
20 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Barros, Barão de Congonhas do Campo, criou
em 1825, a Casa da Roda ou Casa dos Expos-
tos e a instalou no pavimento térreo da Santa
Casa da Misericórdia. O Asilo dos Expostos era
também chamado de Casa da Roda em alusão
ao dispositivo nela existente, uma roda que,
girando em torno de um eixo perpendicular,
ocupava toda uma janela - sempre aberta do
lado de fora, de modo que quem desejasse se
desfazer de uma criança pudesse depositá-la
na caixa e, movimentando a roda, passá-la
para o interior do prédio. Na mesma ocasião,
o governo da Província funda, na capital, em
1824, o asilo para meninos órfãos - o Seminá-
rio de Sant’Anna -, e, em 1825, para as meni-
Unidade 1
nas, o Seminário da Glória. (MORAES, 2000, p.
73 apud SILVA, 2012, p. 22)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 21
Estados Unidos começaram a organizar serviços voltados para o
atendimento das pessoas com deficiência sensoriais, mentais e
físicas, quando acontecia no Brasil um crescimento econômico,
a estabilização do poder imperial e a crescente influência das
ideias trazidas do exterior (principalmente da França), segundo
Mazzotta (2005 apud SILVA 2012).
22 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
inicia a discussão, em 1883, sobre a educação das pessoas com
deficiência no Primeiro Congresso de Instrução Pública.
[...] assim como a instrução pública primária, a
educação das pessoas com deficiência não foi
considerada importante. Por sua vez, o ensino
superior progrediu com o apoio da corte, já
que interessava a elite. Como as escolas eram
escassas e de pouca qualidade, ela não exer-
ceu o papel de identificadora de deficientes.
Em uma sociedade pouco urbanizada e pouco
aparelhada, cuja população era em sua maior
parte iletrada, as pessoas com deficiência rea-
lizavam a maior parte das tarefas assim como
as demais pessoas sem grandes problemas.
Unidade 1
Apenas crianças com deficiências mais seve-
ras chamavam a atenção e eram colocadas
em instituições. (SILVA, 2012, p. 25)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 23
a educação era louvada como elemento de
promoção individual, de acesso aos melhores
empregos, inclusive para aumento da renda.
(SILVA, 2012, p. 33)
24 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
• 1929 - Instituto Santa Terezinha: funcionava em
regimento de internato e recebia apenas meninas
surdas. (Observação: em 1970 ampliou o atendimento
para os meninos, como externato, e ainda, passou a
integrar os alunos com deficiência, com os seus alunos
do ensino regular).
Unidade 1
• 1950 - Associação de Assistência à Criança
Deficiente (AACD) - atende crianças, jovens e adultos
com deficiência física buscando prevenir, habilitar e
reabilitar, e ainda, propiciar a integração social.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 25
promovidas pelo Ministério da Educação nessa época para as
pessoas com deficiência:
Médico-pedagógica
A vertente médico-pedagógica está relacionada ao campo
médico. Nesta vertente, de acordo com Silva (2012), as decisões
relacionadas com o diagnóstico e com as práticas pedagógicas
são subordinadas ao médico.
Percebendo a importância da pedagogia e
também o quanto poderia ser prejudicial se-
gregar as crianças mais comprometidas com
adultos com diagnósticos de doença mental,
médicos criaram instituições escolares em sa-
las anexas aos hospitais psiquiátricos. Embo-
ra esses pavilhões tivessem continuado com a
segregação dos deficientes, havia a tentativa
de ir além do atendimento médico e alcançar
26 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
a educação. Iniciou-se a preocupação em sis-
tematizar conhecimentos que pudessem aju-
dar na participação das crianças na vida do
grupo social. Assim passou a ser estabeleci-
da na educação da pessoa com deficiência a
questão segregação versus integração na prá-
tica social mais ampla. (JANNUZZI, 2004 apud
SILVA, 2012)
Unidade 1
Vertente psicopedagógica
Segundo Silva (2012), os influenciadores desta vertente
foram da área de psicologia, em destaque para as obras de
Alfred Binet, pedagogo e psicólogo francês e Théodore Simon,
com os testes de inteligência. Jannuzzi (2004) citado por
Silva (2012) explica que eles criaram e utilizaram uma escala
métrica de inteligência, o que representou uma nova forma de
classificar as pessoas com deficiência com base nos critérios de
aproveitamento escolar. “Com isso, cresceu significativamente
o número de alunos que a escola passou a apontar desviantes,
iniciando a rejeição dos que apresentavam deficiências mais
evidentes” (SILVA, 2012, p. 31).
[...] os educadores sentiam dificuldade em re-
conhecer os alunos com deficiência e definir
os critérios a serem utilizados para a identi-
ficação. Diante dessa dificuldade, passaram
a ser considerados normais todos os alunos
que eram capazes de se adaptar às condições
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 27
de vida diária, sendo que essa capacidade
era identificada com a simples observação do
comportamento dos alunos. Essa observação
era realizada pelos professores e, principal-
mente, por psicólogos. (SILVA, 2012, p. 31)
Terminologias utilizadas na
Unidade 1
28 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Quadro 2: Mídia e Deficiência – 1981 a 1993
TERMOS E
ÉPOCA VALOR DA PESSOA
SIGNIFICADOS
“pessoas deficientes”.
De 1981 até 1987.
Pela primeira vez
Por pressão das Foi atribuído o valor
em todo o mundo,
organizações “pessoas” àqueles que
o substantivo
de pessoas com tinham deficiência,
“deficientes” (como
deficiência, a ONU igualando-os em direitos
em “os deficientes”)
deu o nome de “Ano e dignidade à maioria dos
passou a ser utilizado
Internacional das membros de qualquer
como adjetivo, sendo-
Pessoas Deficientes” ao sociedade ou país.
lhe acrescentado o
ano de 1981.
substantivo “pessoas”.
O “portar uma
De 1988 até 1993.
deficiência” passou a
Alguns líderes
Unidade 1
“pessoas portadoras ser um valor agregado
de organizações
de deficiência”. à pessoa. A deficiência
de pessoas com
Termo que, utilizado passou a ser um detalhe
deficiência contestaram
somente em países da pessoa. O termo foi
o termo “pessoa
de língua portuguesa, adotado na Constituição
deficiente” alegando
foi proposto para Federal e nos estatutos
que ele sinaliza que
substituir o termo Estaduais e em todas
a pessoa inteira é
“pessoas deficientes”. as leis e políticas
deficiente, o que era
pertinentes ao campo
inaceitável para eles.
das deficiências.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 29
Quadro 3 - Mídia e Deficiência – Década de 1990
TERMOS E
ÉPOCA VALOR DA PESSOA
SIGNIFICADOS
“pessoas com
De 1990 até hoje. O
necessidades especiais”.
art. 5º. da Resolução De início, “necessidades
A expressão surgiu
CNE/CEB no. 2, de especiais” representava
primeiramente para
11/9/01, explica que apenas um novo
substituir “deficiência”
as necessidades termo. Depois, com a
por “necessidades
especiais decorrem vigência da Resolução
especiais”, daí a
de três situações, uma no 2, “necessidades
expressão “portadores de
das quais envolvendo especiais” passou a
necessidades especiais”.
dificuldades vinculadas ser um valor agregado
Depois, esse termo
às deficiências e tanto à pessoa com
passou a ter significado
dificuldades não- deficiência quanto a
próprio sem substituir
vinculadas a uma causa outras pessoas.
o nome “pessoas com
orgânica.
deficiência”.
Unidade 1
O valor agregado
“pessoas com deficiência”
às pessoas é o de
e pessoas sem
Em junho de 1994. fazerem parte do
deficiência, quando
A Declaração de grande segmento
existirem necessidades
Salamanca preconiza a dos excluídos que,
educacionais especiais
educação inclusiva para com o seu poder
e se encontrarem
todos, tenham ou não pessoal, exigem sua
segregadas, têm o direito
uma deficiência. inclusão em todos os
de fazer parte das escolas
aspectos da vida da
inclusivas e da sociedade
sociedade. Trata-se do
inclusiva.
empoderamento.
30 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
É nesta época que surgem novos valores agregados às
pessoas com deficiência: como o do empoderamento (uso do
poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o
controle da situação de cada um); e o da responsabilidade de
contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à
inclusão de todas as pessoas, com ou sem deficiência (SASSAKI,
2003).
Quadro 4 - Mídia e Deficiência – Dias atuais
TERMOS E
ÉPOCA VALOR DA PESSOA
SIGNIFICADOS
Unidade 1
especiais dos alunos
Educação Inclusiva educacionalmente
e reconhece “que as
e na égide da a sua abrangência
dificuldades enfrentadas
Convenção sobre os incluindo nesse grupo
nos sistemas de ensino
Direitos das pessoas todos os alunos em
evidenciam a necessidade
com Deficiência, situação de exclusão
de confrontar as práticas
aprovada pela escolar, desde aqueles
discriminatórias e criar
ONU em 2006, a que apresentam
alternativas para superá-
expressão Pessoas deficiências, que
las”. Assume a educação
com Necessidades vivem nas ruas ou
Inclusiva como primeira
educacionais que trabalham, as
alternativa para responder
especiais se amplia superdotadas, em
às demandas da sociedade
e reconhece a desvantagem social,
contemporânea e
importância da as que apresentam
reconhece a necessidade
expressão pessoas diferenças linguísticas,
de uma abordagem
com deficiência, entre étnicas ou culturais,
sistêmica das políticas
outras necessidades com deficiência ou
públicas para a Educação.
especiais. altas habilidades.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 31
Neste capítulo estudamos a história da Educação
Especial no Brasil, que se inicia a partir das ideias
liberais. Além disso, foi apresentada a primeira
RESUMINDO instituição, Santa Casa da Misericórdia de São
Paulo, que atendia os pobres e os doentes, e
a criação dos primeiros institutos - Instituto
Benjamin Constant (que atendia as pessoas
com deficiência visual) e o Instituto Nacional de
Educação de Surdos, e os outros institutos, que
surgiram depois desses para atender as pessoas
com deficiência. Além disso, explicamos as duas
vertentes pedagógicas (a médico-pedagógica e a
psicopedagógica) que foram observadas ao longo
da história da Educação Especial. Para finalizar, foi
apresentada uma tabela com as terminologias
utilizadas na história da Educação Especial. No
Unidade 1
32 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Legislação da Educação
Especial: percurso histórico
Ao final dos estudos deste capítulo você será capaz
de analisar como os movimentos internacionais e
nacionais de Educação Especial influenciaram no
OBJETIVO percurso da construção da legislação brasileira da
Educação Especial até os dias atuais. Conhecer a
legislação brasileira é fundamental para o exercício
da sua profissão. Vamos lá!
Unidade 1
Projeto de Lei para as pessoas com deficiência foi proposto em
29 de agosto de 1835 pelo deputado Cornélio Ferreira França. O
documento propõe a criação de uma classe para surdos-mudos
e cegos (ALIAS, 2016, p. 13). Veja no quadro 2 a cronologia no
período do Reino e Império, com os principais marcos históricos,
referente às pessoas com deficiência.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 33
Considerado o primeiro hospício do país, tinha por
objetivo a exclusão social dos loucos;
34 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
doença, deficiência ou por motivo de idade. Os asilos
estavam localizados no Rio de Janeiro e nas províncias
do Pará, Rio Grande do Sul e Mato Grosso;
Unidade 1
de número 224, “Reforma do ensino primário e várias
instituições complementares da instrução pública”.
Apesar de ser uma proposta de ação para valorizar
a atividade física na escola, aparece no documento a
visão da época com relação às pessoas que apresentam
deficiência;
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 35
Leia a seguir alguns artigos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (ONU, 1948):
Art. I - Todas as pessoas nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. São dotadas de razão
e consciência e devem agir em relação umas
às outras com espírito de fraternidade.
(...)
Unidade 1
(...)
Legislação Brasileira
A Educação Especial começou a se tornar
questão de política pública na década de 1960,
quando começa a se notar a preocupação do
36 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
poder público com esse ramo da educação.
Ela foi tratada pela primeira vez na Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) de 1961, a lei no 4.024
(BRASIL, 1961), em que aparece um título com
dois artigos (art. 88 e 89). De acordo com
essa lei, o atendimento aos estudantes com
deficiência (chamados na lei de “excepcionais”)
poderia ser realizado na escola comum ou em
instituições particulares, que podiam receber
financiamento do governo. (ALIAS, 2016, p. 14)
Unidade 1
tratados na lei como deficientes mentais, superdotados ou que
apresentassem atraso quanto à idade de matricula deveriam ter
tratamento especial” (ALIAS, 2016, p. 16).
Pesquisadores relatam que, nessa época, as
escolas especiais acabaram recebendo muitos
alunos com problemas de aprendizagem
(GLAT, 2007; MENDES, 2010). Isso acontecia
porque era o aluno que tinha que se adequar
ao meio e, portanto, não havia preocupação
com a adaptação curricular, por exemplo, ou
com a adoção de estratégias para que esses
alunos pudessem aprender. (ALIAS, 2016, p.
16)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 37
aos alunos com deficiência e elaborar as políticas públicas no
âmbito da Educação Especial.
Art. 2º. O CENESP atuará de forma a propor-
cionar oportunidades de educação, propondo
e implementando estratégias decorrentes dos
princípios doutrinários e políticos, que orien-
tam a Educação Especial no período pré-es-
colar, nos ensinos de 1º e 2º graus, superior
e supletivo, para os deficientes da visão, audi-
ção, mentais, físicos, educandos com proble-
mas de conduta para os que possuam defi-
ciências múltiplas e os superdotados, visando
sua participação progressiva na comunidade.
(BRASIL, 1973)
Unidade 1
38 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
especializado nas redes regulares de ensino.
(JANNUZZI, 2004 apud SILVA, 2012, p. 65)
Unidade 1
são marcadas pela defesa da escola pública de qualidade e
maior participação da sociedade nos destinos da educação.
Ainda, segundo a autora, neste período, nasce o novo
modelo democrático de gestão escolar compartilhado entre
os profissionais da educação (professores, diretores), pais,
estudantes e comunidade. Neste contexto, em 1988, foi
promulgada a nova Constituição Federal do Brasil, que tinha
como principal objetivo:
[...] instituir um Estado democrático, destina-
do a assegurar o exercício dos direitos so-
ciais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a
justiça como valores supremos de uma socie-
dade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
(SILVA, 2012, p. 67)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 39
ensino e implementar a formação humanística, científica e para
o trabalho.
40 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
balizar as políticas produzidas a partir daí e,
consequentemente, a forma como o estudan-
te público-alvo da Educação Especial é visto
na escola. Passa-se do paradigma integracio-
nista e normalizador para o paradigma inclu-
sivo. (ALIAS, 2016, p. 17)
Unidade 1
A Declaração de Salamanca trouxe à tona a importância
do direito de todos à educação, o que já havia sido abordado
na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e na
Conferência Mundial de Educação para Todos, que aconteceu
em 1990, também em contexto internacional. (ALIAS, 2016, p. 17)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 41
A Declaração de Salamanca (MEC, 1994, online)
acredita e proclama:
• Toda criança possui características, interes-
SAIBA MAIS ses, habilidades e necessidades de aprendi-
zagem que são únicas;
• Sistemas educacionais deveriam ser designa-
dos e programas educacionais deveriam ser
implementados no sentido de se levar em
conta a vasta diversidade de tais característi-
cas e necessidades;
• Aqueles com necessidades educacionais es-
peciais devem ter acesso à escola regular,
que deveria acomodá-los dentro de uma Pe-
dagogia centrada na criança, capaz de satisfa-
zer tais necessidades;
Unidade 1
42 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
a educação é direito fundamental. Dessa
forma, há implicações na maneira como esse
estudante passa a ser visto dentro da escola,
dentro da sala de aula, como ele aprende,
o desenvolvimento de sua aprendizagem e
de estratégias que corroborem isso. (ALIAS,
2016, p. 17)
Unidade 1
Art. 58. Entende-se por educação especial,
para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar oferecida preferencialmente
na rede regular de ensino, para educandos
com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação. (Redação dada pela Lei nº
12.796, de 2013).
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 43
infantil e estende-se ao longo da vida,
observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo
único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 13.632, de 2018). (BRASIL, 2020)
44 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
superior nas áreas artística, intelectual ou
psicomotora;
Unidade 1
Conforme já mencionado anteriormente, na Declaração
de Salamanca, “ao incluir todas as crianças”, sem distinção de
cor, origem, cultura, gênero sexual, entre outras, temos uma
Educação Inclusiva para todos! De acordo com Mendes (2006)
citado por Silva (2012), a Declaração Salamanca é o marco
mundial da filosofia da educação inclusiva, pois a partir dela as
teorias e práticas inclusivas são difundidas em muitos países,
principalmente no Brasil.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 45
• 1990 - Lei n°. 8.069, Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Em seu artigo 53, assegura a
todas as crianças e adolescentes o direito à igualdade
de condições para o acesso e permanência na
escola e atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino;
46 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
expressão dos surdos, e o ensino da Língua Portuguesa
como segunda língua;
Unidade 1
• 2007 – Decreto n°. 6.094. Implementa o Plano de
Desenvolvimento da Educação, tendo como eixos a
formação de professores para a educação especial e o
compromisso com a educação para todos, viabilizando a
garantia do acesso, da permanência no ensino regular e
o atendimento às necessidades educacionais especiais
dos alunos, bem como fortalecendo o ingresso destes
nas escolas públicas;
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 47
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”;
48 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Educação Especial versus
Educação Inclusiva
Ao final dos estudos deste capítulo você será ca-
paz de distinguir a Educação Especial da Educação
Inclusiva. Saber distinguir essas duas perspectivas
OBJETIVO educacionais é fundamental para o exercício da
profissão. E então? Motivado para desenvolver es-
ta competência? Então vamos lá.
Unidade 1
A exclusão representa o período em que TODAS as pessoas
com deficiência eram excluídas totalmente da sociedade, isto é,
elas não participavam de nenhuma atividade na comunidade,
pois eram consideradas incapazes para trabalhar e conviver com
outras pessoas. Assim, elas eram internadas em instituições de
caridade, com doentes e idosos. É importante lembrar que em
algumas culturas era comum o infanticídio das crianças com
deficiência.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 49
Figura 1: Escola especial
Fonte: Freepik
50 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Se faz necessário recordar que na integração total era o
estudante com deficiência que tinha que se adequar a escola,
sendo assim, a escola mantinha a sua estrutura física e pedagógica
inalterada. O estudante com necessidades educacionais
especiais tinha quer se capazes de seguir o currículo adotado
pela escola no ensino regular. Mas, infelizmente, a maioria
deles não conseguiam acompanhar, logo, esses estudantes
com deficiência continuavam frequentando a classe especial,
consequentemente, a escola era dividida em dois ambientes:
educação regular e educação especial.
Unidade 1
relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A
integração implica em reciprocidade” (BRASIL, 1994, p. 18). Ainda,
segundo a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994,
p.18), a integração é um
(...) processo gradual e dinâmico que pode
tomar distintas formas de acordo com as
necessidades e habilidades dos alunos. A
integração educacional escolar refere-se
ao processo de educar-ensinar, no mesmo
grupo, a criança com e sem necessidades
educacionais especiais durante uma parte ou
na totalidade do tempo de permanência na
escola. (BRASIL, 1994, p.18)
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 51
cruzados”, isto é, não faz nenhuma alteração para que as pessoas
com deficiência possam se adaptar ao seu meio. Pelo contrário,
as pessoas com deficiência só serão aceitas se forem capazes de:
Moldar-se aos requisitos dos serviços
especiais separados (classe e escola especial,
entre outros). Acompanhar os procedimentos
tradicionais (de trabalho, escolarização,
convivência social, entre outros). Contornar
os obstáculos existentes no meio físico
(espaço urbano, edifícios, entre outros).
Lidar com as atitudes discriminatórias da
sociedade resultantes de estereótipos,
preconceitos e estigmas. Desempenhar
papéis sociais individuais (aluno, trabalhador,
pai, mãe, entre outros) com autonomia, mas
Unidade 1
Inclusão social
Agora, vamos falar sobre o paradigma da inclusão social,
que é o momento em que estamos vivenciando na sociedade.
Este processo se diferencia da integração, pois a inclusão social
é bilateral, isto é, a sociedade e as pessoas que estão excluídas
trabalham juntas na busca de soluções efetivas que possibilitam
a equiparação de oportunidade para todos e todas.
52 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A prática da inclusão social repousa em
princípios até então considerados incomuns,
tais como: a aceitação das diferenças
individuais, a valorização de cada pessoa, a
convivência dentro da diversidade humana,
a aprendizagem através da cooperação.
A diversidade humana é representada,
principalmente, por origem nacional, sexual,
religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência.
(SASSAKI, 2002, p. 42).
Unidade 1
população, inclusive das pessoas com deficiência.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 53
[...] a educação inclusiva é um meio de
assegurar que os alunos que apresentem
alguma deficiência tenham os mesmos direitos
que os outros e que todos sejam cidadãos
de direito nas escolas regulares, bem-vindos
e aceitos, formando parte da vida daquela
comunidade”. (CAMPBELL, 2009, p. 139)
54 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
que se promovam a aprendizagem e o
desenvolvimento pessoal de todos.
Unidade 1
aprendem juntos. E ainda, segundo a autora, não podemos
esquecer que a Educação Inclusiva é uma questão de direitos
humanos, “uma vez que defende que não se pode segregar
nenhuma pessoa como consequência de sua deficiência ou
de sua dificuldade de aprendizagem” (CAMPBELL, 2009, p.
142).
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 55
Figura 2 – Inclusão versus Integração
Unidade 1
56 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
De acordo com Souza et al (2005), existem duas
teorias que você precisa conhecer para entender
como a integração e a inclusão se constituem:
SAIBA MAIS • A teoria do meio menos restritivo possível:
As pessoas com deficiência, desde a infância,
devem ser atendidas à parte, em serviços e
programas individualizados, como os de es-
timulação precoce em instituições especia-
lizadas: creches, escolas e classes especiais
de educação infantil, de ensino fundamental,
entre outros.
• A teoria do meio mais favorável possível: Cisa
o aperfeiçoamento dos atendimentos e pro-
gramas educativos, sem que precisem ser
individualizados, mas que possam atender e
Unidade 1
beneficiar todas as crianças na sua pluralida-
de.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 57
Observa-se na tabela anterior que as características
específicas das duas teorias buscam modalidade diferentes da
educação especial. Uma visa para integração na escola, mas em
salas de aulas separadas e a outra tende para a inclusão de todos
os estudantes com necessidades educacionais especiais na sala
de aula regular, isto é, sala de aula comum.
58 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ALIAS, Gabriela. Desenvolvimento da aprendizagem na
Educação Especial - Princípios, fundamentos e procedimentos na
REFERÊNCIAS
Educação Inclusiva. São Paulo: Cengage, 2016. (Recurso eletrônico).
Unidade 1
Julho de 1973 - Publicação Original. Disponível em: <https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-72425-3-julho-
1973-420888-publicacaooriginal-1-pe.html.> Acesso em: 01 nov.
2020.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 59
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos.
Rio de Janeiro: WVA, 1997.
60 EDUCAÇÃO INCLUSIVA