Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Portarias de extensão
Além disto, a portaria de extensão está sujeita ao princípio da subsidiariedade só indo
intervir nas relações jurídicas laborais que não estejam abrangidas por IRCT negocial.
EXEMPLO: Foi celebrado um acordo de empresa entre o empregador 1 e o sindicato A;
o empregador 1 tem vários trabalhadores - A, B, C e D; A é filiada no sindicato A,
sendo-lhe aplicado o acordo de empresa, de acordo com o art. 496.º do Código do
Trabalho; B está filiada no sindicato B, que celebrou o acordo de empresa com o
empregador 1, sendo-lhe aplicada a convenção coletiva que foi celebrada com o
empregador, com base no art. 515.º do Código do Trabalho, nãos e lhe aplicando a
portaria de extensão; C não está filiado em nenhum sindicato, pelo que a portaria de
extensão pode ser-lhe aplicável, já que está numa situação de vazio regulamentar; D está
filiado no sindicato C, mas este não tem convenção coletiva, o que quer dizer que não se
pode aplicar-lhe nenhuma convenção coletiva, pelo que se pergunta se se pode aplicar a
portaria de extensão, questão que é controversa na doutrina.
● ROMANO MARTINEZ apresenta a sua posição, entendendo que a portaria de
extensão não pode determinar a extensão a trabalhadores ou empregadores filiados
noutro sindicato ou associação de empregadores, sendo necessário que sejam não
sindicalizados; caso contrário, colocar-se-ia em causa a autonomia contratual do
sindicato, cuja liberdade negocial ficaria coartada; se um determinado sindicato não quis
negociar e celebrar aquela convenção coletiva de trabalho, ou não pretendeu depois de
esta estar celebrada aderir a esse instrumento, quer dizer que ele tinha alguma objeção
relativa a essa convenção coletiva;
● LUÍS GONÇALVES DA SILVA é da opinião oposta, entendendo que a portaria de
extensão pode abranger os trabalhadores e empregadores não filiados em qualquer
associação, como pode abranger trabalhadores e empregadores filiados em associação
não outorgante do instrumento aplicável; não concorda que este entendimento afete a
liberdade sindical ou ponha em causa outros valores, pois, desde logo, é preciso
recordar que os sujeitos que queiram celebrar uma convenção coletiva de trabalho o
podem fazer, tendo como efeito a sua celebração a cessação imediata da aplicação da PE
aos destinatários do IRCT (art. 484.º).
O art. 3.º/ 1 e o art. 3.º/ 3 do Código do Trabalho: regula a relação entre IRCT e lei; ou
seja, à partida, a todos os IRCT vai-se aplicar este regime, estando a PCT aí incluída;
Mas existe o art. 3.º/ 2 do Código do Trabalho: ● entendimento do Tribunal
Constitucional (Acórdão 306/ 03 1 ): no que respeita à relação da PCT com outras
fontes, o art. 3.º/ 2 do Código do Trabalho dispõe que a norma legal de contrato de
trabalho não pode ser afastada por portaria de condições de trabalho; ou seja, quanto às
PCT mantém-se a regra da imperatividade mínima das normas laborais (ao contrário do
que acontece com as portarias de extensão); é assim, porque as portarias de condições
de trabalho são regulamentações administrativas dos vínculos laborais, pelo que não
poderiam afastar a lei, ou diminuir a tutela que a mesma atribui aos trabalhadores (art.
112.º/ 5 da CRP); enquanto ato regulamentar, a portaria de condições de trabalho deve
subordinar-se às fontes de valor superior, como o é a lei;
O que justifica o tratamento diferente entre PE e PCT? Foi suscitada uma questão, no
Tribunal Constitucional, relativamente ao art. 4.º do Código do Trabalho de 2003,
perguntando-se se a possibilidade de afastar era constitucional face aos IRCT não
negociais, e, em particular, se não havia uma violação do art. 112.º/ 5 da CRP. Quanto a
esta questão, o TC dividiu a sua resposta entre as PE e as PCT: 1) quanto às primeiras,
disse que a possibilidade de uma portaria de extensão regular o conteúdo da lei está
previsto no art. 56.º/ 4 do Código do trabalho (o legislador pode regular a eficácia das
convenções coletivas de trabalho, e a PE ainda seria uma forma de intervir na eficácia
subjetiva das CCT); por outro lado, visa-se regular princípios, na PE, como o princípio
da igualdade (igualdade de regimes aplicáveis a trabalhadores filiados ou não filiados);
ainda disse que a PE não tem conteúdo inovatório, pois o que vem fazer uma PE é
implicar a aplicação da CCT a sujeitos que não estavam vinculados à mesma, por isso é
que o regime hierárquico não é diferente do regime hierárquico das CCT; ou seja, o TC
considerou que não eram inconstitucionais as remissões; 2) quanto às PCT, estas não
cabem no art. 56.º/ 4 (não regulam o regime de CCT) e também não defendem o
princípio da igualdade (porque, à partida, não há uma desigualdade no setor de atividade
porque não há uma CCT só para aquele setor); por isso, o TC refletiu que era preciso
distinguir entre diferentes normas que existem - i) normas totalmente imperativas; ii)
normas parcialmente imperativas; iii) normas dispositivas; iv) normas supletivas - para
o TC, são aquelas que expressamente subordinam a sua aplicação à existência de IRCT
(exemplo disso é o art. 265.º do Código do Trabalho..
LUÍS GONÇALVES DA SILVA e ROMANO MARTINEZ entendem que o regime
aplicável é o regime geral e que o art. 3.º/ 2 não tem nenhuma especificidade face aos
arts. 3.º/ 1 e 3.º/ 3 do Código do Trabalho. Sustentam que só admitir a intervenção da
PCT nestas matérias seria restringir de forma significativa a utilidade das mesmas,
porque a sua utilidade está limitada a um número reduzido de artigos no Código. Além
disso, se a PCT não tem em vista a defesa do princípio da igualdade, não se pode negar
que, quando é emitida, visa suprir desigualdades ou inadequações no regime que é
aplicado aos trabalhadores sujeitos a PCT. Ou seja, a PCT também vem defender
princípios com relevância constitucional ou laboral, pelo que não deve ser diminuída
porque tem menos relevância no Código. Ademais, para os autores, não está em causa
uma violação do art. 112.º/ 5 do CRP quanto a normas dispositivas e parcialmente
imperativas, visto que o art. 3.º/ 1 do Código do Trabalho vem determinar que as regras
do Código podem ser afastadas do IRCT (vem fazer com que não haja uma congelação
da posição hierárquica da lei quanto às matérias que regulam). Ou seja, já resulta a
subsidiariedade da lei do art. 3.º/ 1 do Código do Trabalho.
Regulamentos internos
PALMA RAMALHO refere que o regulamento de empresa deve ser considerado uma
fonte de Direito do Trabalho, ainda que não integre o elenco das fontes formais, por
força do carácter geral e abstrato das suas disposições.
● MENEZES CORDEIRO também aponta que o facto de o regulamento interno vir
referido na lei a propósito da formação do contrato de trabalho e dos poderes laborais,
faz de si uma fonte mediata de regras laborais (é um instrumento normativo que retira a
sua força jurídica de outras fontes).
● Já ROMANO MARTINEZ sustenta que os regulamentos internos não são fonte de
Direito e, por isso, não podem constituir um modo de formação e revelação de normas
jurídicas.
● LUÍS GONÇALVES DA SILVA entende que o facto de o regulamento da empresa
não vir regulado no art. 1.º do Código do Trabalho não impede que assim seja
considerado; na sua opinião, o regulamento de empresa é uma fonte laboral, que tem
carácter geral e abstrato.
Direito à mentira
PALMA RAMALHO refere que a única alternativa viável é mentir, pelo que reconhece
este direito. Se um empregador pergunta qual é a orientação sexual do trabalhador, e o
trabalhador não quer responder, está nesse direito. Mas o empregador pode valorar isso
como uma resposta que ele mesmo não quer ouvir, por isso, a forma de o trabalhador se
salvaguardar é mentir.
● ROMANO MARTINEZ já não admite um direito subjetivo à mentira, invocando o
abuso de direito. Também MENEZES CORDEIRO considera que não há direito à
mentira, pois o Direito não pode tutelar, ab initio, situações que correspondem a
informações falsas.
Não obstante se possa considerar que não há um direito à mentira, não quer dizer que a
situação fique sem tutela. Isto é, há, na mesma, um ilícito cometido pelo empregador,
não podendo prevalecer-se dele. Então, uma das vias é recorrer ao abuso de direito (tu
quoque), já que o empregado gerou a situação que deu azo à questão ilícita, não se
podendo proteger.
Quanto ao facto de o empregador pedir ao trabalhador Euclides para saber em que sindicato
está o trabalhador inscrito, tem de se articular o art. 16.º com o art. 17.º/ 1, a) do Código do
trabalho. O art. 17.º visa densificar as situações em que se protege a reserva da intimidade da
vida privada. ● ROMANO MARTINEZ entende que esta exceção se compreende no art. 17.º/ 1,
a), sendo a filiação sindical uma pergunta lícita
Artigo 11º
O Código do Trabalho de 2003 referia-se à subordinação jurídica por referência à
‘’direção’’ e à ‘’autoridade’’. O Código de 2009 veio eliminar o termo ‘’direção’’,
acrescentando a palavra ‘’organização’’.
● ROMANO MARTINEZ considera que esta eliminação não tem impacto prático,
porque a ideia de direção está implícita na de autoridade do empregador.
● Mas o acrescento da palavra ‘’organização’’ tem dado origem a outras discussões,
porque podem haver situações nucleares, que constituem o centro da subordinação
jurídica, em que há heterodeterminação da prestação (ou seja, o empregador dá ordens
ao trabalhador, controlando intensamente a sua atuação), havendo, no entanto, casos
mais ambíguos em que a subordinação se manifesta através de elementos mais
periféricos (quando maior for a autonomia téncica do trabalhador na realização da us
aprestação, menos intensa será a subordinação jurídica a que está sujeito).