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IED I - Teóricas JAV
IED I - Teóricas JAV
OBRAS:
Introdução ao estudo do Direito, Miguel Teixeira de Sousa;
Direito: introdução e teoria geral, José de Oliveira Ascensão;
Tratado do Direito Civil Português (volume I), António Menezes Cordeiro;
15-10-2020
Parte introdutória:
A ordem jurídica portuguesa tem uma tradição histórica que remonta ao Direito
Romano e aos povos germânicos -> Portugal integra a família romano-germânica
do Direito;
O sistema romano-germânico é diferente do Sistema Common law (EUA)
A palavra “Direito” tem várias acessões. Podemos desde logo distinguir entre
Direito objetivo e Direito subjetivo.
Direito Público:
Um sujeito - Estado ou pessoa coletiva pública - está em posição de
superioridade em relação ao outro —> O Estado ou as pessoas coletivas públicas
intervém na sua posição de supremacia, enquanto titulares de poderes de
autoridade
Princípio da competência: o sujeito em posição de superioridade não tem
completa liberdade de ação, estando condicionado pelas competências que lhe
são atribuídas pela lei;
- Não há uma delimitação objetiva entre Direito Público e Direito Privado, sendo,
muitas vezes, bastante difícil dizer em que dimensão é que uma norma se insere.
O Direito não é objeto de estudo exclusivo dos juristas: está relacionado com
outras disciplinas, disciplinas que estudam o Direito de vários pontos de vista
(Sociologia do Direito - a relação existente entre o Direito e a sociedade; o Direito
inerente à vida em sociedade e sofre alterações com as transformações desta;
História do Direito - estudo do Direito enquanto produto cultural, que sofre
alterações ao longo do tempo; assim, de modo geral, o Direito é diferente em
épocas históricas diferentes; Filosofia do Direito - estudo dos fundamentos e dos
valores inerentes ao Direito, e não da ordem jurídico vigente).
A ordem social é inerente à vida em sociedade e não deve ser confundida com a
ordem natural.
ORDEM NATURAL: não se dirige ao homem e visa explicar fenómenos naturais,
exprimindo-se através de leis da física/geografia/biologia; a ordem natural é
universal (válida em qualquer tempo e qualquer espaço) e não pode ser violada;
ORDEM SOCIAL: tem a finalidade de regular as relações entre os indivíduos que
vivem em sociedade, interagindo uns com os outros; é essencial para a sociedade,
pois uma sociedade sem ordens não pode subsistir;
Ordem moral:
- É constituída por regras que se dirigem à consciência humana e que visam o
aperfeiçoamento da pessoa, quer perante si própria, quer perante outras
pessoas;
- A violação de uma norma moral pode ter como sanção o peso na consciência ou
os remorsos
Ordem religiosa:
- É uma ordem transcendente, uma vez que é constituída por regras que definem
as relações entre o homem e a divindade, fixando os deveres do crente para
com Deus;
- A violação desta ordem pode implicar sanções divinas (ideia de céu e inferno);
Ordem jurídica: espaço da ordem social que o Direito regula (apesar de existir o
princípio de subsidiariedade, este espaço é cada vez maior, pois o Direito tem
vindo a incidir sobre cada vez mais domínios)
“Ubi ius ibi societas; ibi societas ibi us” (“onde há Direito, há sociedade; onde
há sociedade, há Direito”)
Características do Direito:
O Direito é
… uma realidade humana (o direito regula somente condutas humanas, pois os
destinatários das normas jurídicas são apenas os seres humanos);
… uma realidade social (há uma relação estreita entre Direito e sociedade - o
direito é inerente à vida em sociedade - e a evolução social provoca
transformações jurídicas)
… uma realidade cultural (o direito pode ser visto como um sistema de valores e
de convicções que pode ser apreendido e transmitido às gerações seguintes)
Funções do Direito
-> Função constitutiva: o Direito constitui uma realidade, uma realidade que sem
ele não existe; os conceitos jurídicos não se referem a coisas do mundo, pois a
sua existência é fruto do Direito: o crime é uma realidade construída pelas leis
penais, e sem determinadas leis não haveria o contrato de compra e venda;
-> Função política: o Direito organiza o poder político, impondo limites ao seu
exercício (forma de impedir totalitarismos).
-> Função pacificadora: o Direito disciplina situações de violência, procura
resolver os conflitos inerentes à convivência entre os membros da sociedade e
estabelece sanções em caso de violação das suas regras (sanções que podem ser
impostas com o uso da força).
-> Função social: o Direito regula as relações que se estabelecem entre os
indivíduos (neste plano, define o que é proibido e obrigatório, e, portanto, o que é
permitido), e entre os indivíduos e a sociedade (estabelece as obrigações do
Estado para com os indivíduos, e, inversamente, os deveres que os indivíduos têm
para com o Estado).
___
DIREITO VS MORAL (o que distingue a ordem jurídica da ordem moral?)
A principal diferença:
- “para o Direito, nada há de relevante antes de ser exteriorizada uma intenção” (a
intenção de ter uma comportamento antijurídico, enquanto não for exteriorizada,
não é juridicamente relevante -> ex: a intenção de matar alguém só é relevante
para o Direito se, efetivamente, levar um indivíduo a cometer o ato de matar)
- por oposição, “para a moral, a intenção do agente é sempre relevante” (ex: a
moral reprova sempre a intenção de matar, ainda que esta não leve ao ato
propriamente dito).
PARA ALÉM DO CRITÉRIO DA EXTERIORIDADE (acima referido), temos: critério do
mínimo ético, critério teleológico, critério da autonomia…
DIREITO E JUSTIÇA
O Direito tem como fim a justiça, sendo esta o valor primário do ordenamento
jurídico. Para além do valor da justiça, o direito salvaguarda valores como a
segurança e a confiança
Modalidades da justiça:
Justiça distributiva
Justiça comutativa
Justiça legal
- As características fundamentais:
A ordem jurídica é imperativa, pelo que, quando o “dever ser” de uma norma
jurídica não for observado, existem consequências:
DESVALORES DE ATOS
— Invalidade jurídica: dentro da invalidade, que leva o ato a não produzir efeitos
jurídicos, temos a nulidade e a anulabilidade.
NULIDADE-> a forma mais grave de invalidade
- Há uma destruição de todos os efeitos do ato desde o seu início - o ato é nulo
desde a altura em que é praticado, pelo que se considera que nunca chegou
sequer a produzir efeitos;
- A nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal, e pode-o ser a todo
o tempo - não há um prazo para invocar a nulidade.
ANULABILIDADE -> forma menos grave de invalidade
- Só são destruídos os efeitos do ato desde que a anulabilidade é requerida
(assim, o ato começa inicialmente por produzir efeitos);
- A anulação de um ato está dependente do pedido das pessoas com especial
interesse na anulação (o tribunal não pode declarar oficiosamente), que a
podem requerer num prazo definido pela lei;
-
- Ineficácia jurídica -> o ato existe e é valido, mas não é capaz produzir efeitos
jurídicos perante certas pessoas (inoponibilidade de um ato, existente e válido,
a certas pessoas).
SANÇÕES
As modalidades de sanção:
SANÇÃO PUNITIVA é a sanção que consiste na imposição de uma pena, que pode
ser equiparada a um “castigo”, ao indivíduo que violou uma regra jurídica.
Existem penas:
criminais -> pena de prisão, pena de multa…
civis -> ver art. 1649.º cc
disciplinares -> suspensão, demissão de um cargo…// Ex: um funcionário de
uma escola tem um comportamento inadequado para com os alunos e a direção
da escola aplica-lhe uma sanção
contra-ordenacionais -> coima, interdição do exercício de uma atividade..
30-10-2020
O art. 336.º refere-se à ação direta, que torna lícito o recurso à força própria com
o fim de realizar ou assegurar um direito próprio. No entanto, para falarmos em
“ação direta”, é necessária a verificação de três requisitos:
-> Agressão já consumada
-> Impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais
-> Tem de estar em causa a deterioração ou a inutilização do objeto do direito
(aquele que reage em ação direta tem de atuar num cenário em que se arrisca a
que o seu direito fique “esvaziado”, pois o objeto desse direito foi destruído ou
deteriorado);
—> Proporcionalidade da ação do agente perante as consequências da sua
atuação: os direitos a acautelar pela ação direta têm de ter um valor superior às
situações jurídicas sacrificadas pelo exercício da ação direta (o sacrifício imposto
pela ação direta tem de ser manifestamente inferior aos direitos que se visam
acautelar pela ação direta);
REQUISITOS:
-> A existência de uma agressão atual (por atual entende-se a agressão que
esteja em curso ou a agressão eminente, prestes a ocorre) e ilícita
Assim, a agressão daquele que age em legítima defesa ou ação direta, por
exemplo, não é passível de legítima defesa (não posso agir em legítima defesa
contra uma pessoa que já age em legítima defesa, pois aqui a agressão é lícita)
A agressão tem de ser uma conduta humana -> grande parte da Doutrina afirma
que a agressão de um animal exclui a possibilidade de legítima defesa // aplica-
se aos animas o regime das “coisas”
A MENOS QUE o animal seja um instrumento da atuação humana (O sujeito A
ordena ao seu cão para atacar B; é o cão que vai atacar B, pondo em causa a sua
pessoa e o património, mas a agressão tem origem numa ordem humana, pelo
que B pode agir em legítima defesa)
-> Há uma impossibilidade de recurso aos meios de tutela da ordem jurídica para
evitar a consumação da agressão (Y está a ser atacado por X numa rua deserta;
não tem o telemóvel para contactar as autoridades e não consegue pedir auxílio a
ninguém)
OU HAVENDO A POSSIBILIDADE DE RECORRER AOS MEIOS DE HETEROTUTELA, tal
aumenta substancialmente o perigo da lesão, isto é, o recurso aos meios de
heterotutela causaria grandes sacrifícios ao ofendido-> X aponta uma arma à
cabeça de Y; Y tem o telemóvel e pode contactar as autoridades, mas se o fizer, o
mais provável é que X dispare contra si, pelo que “mais vale” agir em legítima
defesa
Os requisitos:
-> Existência de um perigo de dano iminente ou em curso
NÃO HÁ UMA AGRESSÃO (como há na legítima defesa), MAS SIM UM PERIGO DE
DANO (o estado de necessidade visa evitar a consumação ou o aumento de um
dano).
-> Destruição ou danificação de coisa alheia com o fim de remover o dano
Ex: num dia muito quente de verão, um homem vê um bebé a chorar dentro de
um carro, carro que está ao sol e que tem as janelas todas fechadas; o homem
parte o vidro do carro e retira de lá o bebé para o proteger de um perigo (morte
por insolação).
-> Proporcionalidade: ato praticado em estado de necessidade só é justificado
quando possa remover um dano manifestamente superior àquele que vai ser
causado pelo agente que atua com base nele ——> no exemplo anterior, há
proporcionalidade pois o dano que o agente causa (partiu o vidro de uma janela
do carro) não é manifestamente superior ao eventual dano que o agente visa
remover (a morte do bebé).
As Fontes de Direito
Sistema romano-germânico
Não há uma relação hierárquica entre estas fontes -> por terem juricidade
própria, as fontes de direito imediatas não são superiores às mediatas.
08-11-2020
Fontes de Direito
Fontes INTERNAS vs fontes INTERNACIONAIS
Dentro das fontes internas, o Prof. Oliveira Ascensão faz uma grande distinção
entre fontes intencionais e fontes não intencionais.
Fontes intencionais - formas voluntárias de criação de direito; a LEI é a principal
fonte voluntária (lei resulta de um processo voluntário e previamente definido).
VS
Fontes não intencionais - formas espontâneas, não organizadas, de criação do
direito (o direito vai-se criando a partir dos hábitos e das tradições dos povos,
não sendo resultado de um processo organizado e definido); dentro das fontes
não intencionais, temos o costume.
O termo “enunciado linguistico” abrange tanto as situações em que a lei tem uma
proveniência oral (atualmente, as situações em que a lei tem proveniência oral
praticamente não existem; era algo típico das sociedades medievais e muito
pouco desenvolvidas) tanto as situações em que a lei tem uma configuração
escrita.
Para falarmos de lei em sentido formal, temos de ter em atenção três aspetos
importantes:
A maior parte do Direito que nos rege tem a sua origem no exercício da função
legislativa ou regulamentar do Estado (atos legislativos, e atos regulamentares do
governo, respetivamente). Contudo, isso não significa que não existam outras
entidades, públicas ou até não públicas, com competência normativa!
Apesar de serem entidades públicas, as autarquias locais não são Estado, e dentro
do poder local temos as câmaras municipais e as juntas de freguesia.
- Regulamentos de administração autónoma
Os municípios, cujo orgão executivo é a câmara municipal, têm competência
normativa para aprovar posturas e regulamentos municipais. Assim, podemos
encontrar em diferentes municípios do país diferentes regulamentos, dirigidos às
pessoas que vivem no município.
As juntas de freguesia têm também competência normativa, aprovando as
posturas e os regulamentos das juntas de freguesia.
Para além das autarquias locais, existem outras entidades com competência
regulamentar.
-> Regulamentos da administração indireta, produzidos por… (exemplos)
- Banco de Portugal
- Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões
-> Decretos regulamentares regionais
-> Estatutos (regulamentos produzidos por pessoas coletivas de direito público,
que visam definir o seu funcionamento e a sua organização interna - Estatuto da
Universidade de Lisboa, por ex)
-> Regimentos (Regimento da Assembleia da República, por ex)
Para além da lei em sentido formal e da lei em sentido material…
Atos normativos atípicos (atípicos pois não são tidos como “lei”, porque não
provêm nem do exercício da função legislativa do Estado, nem do exercício da
função regulamentar do mesmo)
- Decretos do Presidente da República
- Resoluções genéricas da Assembleia da República
Uma lei em sentido formal é normalmente também uma lei em sentido material
-> Uma lei que contém uma ou mais regras jurídicas e que simultaneamente
provém de um orgão com competência legislativa é, simultaneamente, uma lei em
sentido formal (orgão com competência legislativa) e em sentido material.
Para além da lei (em sentido formal e material), temos nas fontes internas
imediatas as normas corporativas (art. 1º e 2º CC)
IMPORTANTE: normas corporativas subordinam-se à lei, hierarquicamente
superior
Características da lei
—> Normalmente, a lei é abstrata e geral.
Generalidade
Dirige-se a uma pluralidade indeterminada de destinatários, e não a um conjunto
específico de indivíduos (ainda que seja possível configurar o destinatário ou
destinatários principais -> a lei é abstrata mesmo quando se dirige apenas a
pessoas com mais de 65 anos, pois dirige-se a qualquer pessoa que tenha mais
que 65 anos e não a uma pessoa ou um grupo específico):
Abstração:
Dizer que lei é abstrata é dizer que a sua previsão se refere não a uma situação
concreta, mas a uma categoria de situações —> lei vale para uma pluralidade
indeterminada de casos e não para casos específicos!
O costume
USOS: “Os usos são uma fonte mediata do direito, porque os usos que não forem
contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíeis quando a lei o
determine”
Juricidade é imanente ao costume // Juricidade não é imanente ao uso (pelo que
este só pode ser fonte de direito quando uma fonte imediata lhe atribuir essa
qualidade
___
Revogação - cessação da lei é determinada por outra lei (há uma lei revogada e
uma lei revogatória) - lei revogatória tem de ser de hierarquia igual ou superior à
lei revogada / Lei geral não revoga lei geral!!!
Inexistência jurídica - forma mais grave que pode afetar uma fonte de direito cujo
conteúdo que seja contrário a outra fonte de direito de grau superior
Invalidade
-> Nulidade
-> Anulabilidade
Ineficácia em sentido restrito
O Professor José Oliveira Ascensão define norma jurídica como o “critério material
de solução de casos concretos”
Norma jurídica existe para regular casos concretos, o que demonstra que o
Direito é mesmo uma Ciência prática
Gerais - uma norma é geral, uma vez que é concebida para uma pluralidade de
destinatários não determinados, independentemente de o número de
destinatários ser menor ou maior;
NORMAS
Gerais
Especiais
-> a especialidade pode ser subjetiva (destinatários), espacial ou material
Excecionais
-> definem um regime jurídico contrário àquele que consta da regra legal
26-11-2020
Regras de remissão
-> Regras que não contêm em si critérios para a resolução de casos concretos -
apontam para outras regras, sendo essas outras regras que têm a função de
resolução de casos concretos
- Art. 499.º e 251.º
Regras de conflito
-> Regras que visam resolver conflitos no espaço ou no tempo; as regras que
resolvem conflitos no espaço/tempo determinam qual a regra que, entre as regras
de vários ordenamentos jurídicos, é competente para regular uma situação
plurilocalizada - DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Presunções legais
-> noção de presunção legal - art. 349.º
Art. 350/1: “Quem tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a
que ela conduz” - quem tem a seu favor a presunção legal, tem o ónus da prova,
fica liberto do facto provatório
Ficções legais
O legislador equipara uma realidade a outra realidade para permitir a aplicação a
ambas da regra que regula uma dessas realidades
Princípios jurídicos
Princípios formais -> princípio da justiça, princípio da confiança, princípio da
certeza (nestes princípios há uma abstração elevada de conteúdo, o que permite
múltiplas concretizações - nem todos concebem a justiça da mesma forma)
Princípios materiais -> princípio que concretiza um conteúdo (princípio da
retroatividade da lei - art. 12.º CC - é um princípio material, concretiza o
princípio da segurança)
Sistema jurídico
- Autónomo (o sistema jurídico português é autónomo em relação ao sistema
jurídico alemão ou francês, por exemplo; dentro do sistema jurídico português, os
subsistemas que correspondem aos ramos do direito têm autonomia)
- Aberto (dizemos que o sistema é aberto porque ele é um “sistema
estruturalmente orientado para o seu meio ambiente e não pode substituir sem
meio ambiente”);
- Móveis (o sentido de uma regulação, mesmo quando a sua redação permanece
a mesma, pode variar ao longo do tempo)