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[GABRIEL CAVALCANTE DE AZEVEDO]

HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA E CLÍNICA


SÍNDROME DA Quando uma pessoa se infecta com o HIV, caso o
IMUNODEFICIENCIA tratamento não seja iniciado, a doença segue seu curso e o
paciente pode encontrar-se em uma dessas três fases:
• Infecção aguda ou fase sintomática inicial ou
HIV/AIDS síndrome retroviral aguda (SRA).
• Fase de latência clínica.
ASPECTOS GERAIS • Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
INFECÇÃO AGUDA (FASE SINTOMÁTICA INICIAL)
VIRUS DO HIV
os achados, por serem inespecíficos, são confundidos com
O HIV (vírus da imunodeficiência humana) pertence à
outras infecções virais; daí a importância de considerar a
família dos retrovírus, que são vírus RNA, que através de
infecção pelo HIV
uma enzima (transcriptase reversa), tornam-se capazes
de transcrever seu genoma de RNA em uma dupla fita de É uma doença com clínica semelhante à mononucleose
DNA e integrar-se ao genoma da célula hospedeira. (febre, linfonodomegalia, rash cutâneo, mialgias e
Existem dois tipos de HIV: faringite) autolimitada. A carga viral é elevada e os níveis
de linfócitos decrescem.
• HIV Tipo 1: responsável pela maior parte da
pandemia, inclusive no Brasil. LATENCIA CLÍNICA
• HIV Tipo 2: está presente principalmente no A fase assintomática com duração superior a dez anos é
território africano. Acredita-se que o HIV-2 tenha
vista com maior frequência naqueles pacientes com carga
um menor potencial de transmissão e baixa
viral (set point) baixa
infectividade.
O surgimento da resposta humoral (soroconversão),
TRANSMISSÃO associada à resposta imune celular citotóxica (aumento de
A principal forma de transmissão naqueles com menos de CD8), contém parcialmente a replicação viral, diminuindo
13 anos é a vertical. Nos maiores de 13 anos, predomina a a viremia para um nível denominado set point. O
transmissão sexual. prognóstico do paciente é influenciado por este set point.
Esta fase costuma durar entre 6-12 meses.
Podemos dividir as vias de transmissão do vírus HIV da
seguinte forma: ✪ COMO CAI EM PROVA: uma linfadenopatia generalizada
persistente pode ocorrer na fase assintomática, porém a
• Exposição sexual: homossexual, bissexual e
sua presença não interfere no prognóstico da doença!!!
heterossexual
• Exposição sanguínea: Usuários de Drogas AIDS
Injetáveis (UDI) e transfusão de sangue e
Fase sintomática precoce – CD4 > 350
hemoderivados
• Exposição perinatal (vertical); Esta fase encontramos uma imunodeficiência moderada,
• Exposição percutânea: acidente de trabalho não chegando ao ponto de AIDS, por isso este grupo ficou
• Exposição ignorada. conhecido antigamente por “complexo relacionado a aids”

☒ CUIDADO: Não possui capacidade de transmissão: A carga viral volta a subir e os linfócitos voltam a cair.
Enquanto a contagem de linfócitos T CD4+ permanece
• Suor; acima de 350 cel/mm³, os episódios infecciosos mais
• Lágrimas; frequentes são geralmente bacterianos. Sintomas
• Fezes; constitucionais (febre baixa, perda ponderal etc.), diarreia
• Urina; crônica, cefaleia e lesões orais (candidíase, estomatite,
• Vômitos; gengivite, periodontite). O período médio é de 2-3 anos.
• Saliva.
☑ SAIBA MAIS: o vírus HIV pode causar outras doenças por
EPIDEMIOLOGIA dano direto a órgãos tais como:
Há algumas tendências no Brasil que são cobradas em • Nefropatia Associada ao HIV (NAHIV): síndrome
provas: nefrótica, com proteinúria intensa e
TENDENCIA DE AUMENTO TENDENCIA DE QUEDA hipoalbuminemia, habitualmente sem sinais
Detecção em homens Detecção em mulheres
clínicos de hipertensão arterial ou edema
• Alterações neurológicas: inclui alterações
Razão entre os sexos Mortalidade geral
neurocognitivas, como perda da memória,
Numero de casos novos em HSH lentificação psicomotora e deficit de atenção
Detecção em gestantes • Cardiomiopatia;
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Fase Aids – CD4 <200 EXAMES COMPLEMENTARES PARA ABORDAGEM INICIAL


Se caracteriza por uma contagem de CD4 < 200/mm³, pelo
2° pico de viremia (carga viral alta) e pelas doenças
oportunistas que só ocorrem após a presença desta
grave imunodeficiência. São as doenças definidoras de
SIDA/aids. Caso não seja iniciada nenhuma profilaxia ou
terapia antirretroviral, a história natural da infecção
termina com óbito do paciente
DIAGNÓSTICO
MÉTODOS DISPONÍVEIS
Existem quatro principais tipos de testes realizados que
TRATAMENTO
são:
• Teste rápido; Uma vez que a infecção pelo HIV for confirmada, será
indicado o tratamento! Ele independe da contagem de
• Imunoensaio (ELISA);
linfócitos TCD4+ e da carga viral. O esquema atual
• Western Blot;
preconizado pelo Ministério da Saúde contém três drogas:
• Teste molecular (detecção da carga viral)
Teste rápido
São imunoensaios mais simples (geralmente de métodos
mais antigos que detectam anticorpos menos específicos),
com tempo médio de janela imunológica de 6 a 8 semanas.
Como fonte de material, incluem-se fluido oral, soro,
plasma ou sangue total (permitindo o uso de amostras INIBIDORES DA TRANSCRIPTASE REVERSA ANÁLOGOS
obtidas por punção digital). DE NUCLEOSÍDEOS E NUCLEOTÍDEOS – TDF/3TC
Imunoensaio (ELISA) Drogas básicas do esquema inicial, bem toleradas e com
É capaz de detectar simultaneamente anticorpos e o baixo índice de efeitos adversos. Dentre eles destacam-se a
antígeno p24, com janela diagnóstica de 15 dias. disfunção renal e perda óssea (principalmente ao TDF)

☑ SAIBA MAIS: o p24 é um dos componentes do vírus HIV, INIBIDORES DA INTEGRASE – DTG
sendo especialmente importante quando a detecção de Este é um medicamento mais novo e poucos eventos
anticorpos não é possível. adversos. As reações mais frequentes de intensidade
Western Blot moderada a grave foram insônia e cefaleia.

Criado para a confirmação diagnóstica, contornando os OUTRAS DROGAS


resultados falso-positivos que podem ocorrer nos métodos Algumas drogas e esquemas alternativos:
anteriores. São de custo elevado e requerem interpretação
subjetiva para estabelecer um diagnóstico. • Zivovudina (AZT): Usado para profilaxia da
transmissão vertical, causa supressão medular,
Teste molecular anemia.
É a detecção quantitativa da carga viral e o primeiro a • Efavirenz (EFV): possui baixa taxa de efeitos
positivar. colaterais (terror noturno, sonhos vívidos,
ansiedade, depressão) e boa posologia, porém
PROTOCOLO DIAGNÓSTICO
entrou em desuso por seu índice de resistência.
Se os testes vierem discordantes, temos que fazer um 3º • Inibidores da protease (Atazanavir, Ritonavir,
teste diferente dos anteriores. Lopinavir...): Todos interagem com a rifampicina,
droga que faz parte do tratamento da tuberculose.
Para a confirmação da infecção do HIV, precisamos de DOIS
Por isso, devemos trocar uma das duas
TESTES consecutivos com resultado reagente:
medicações caso você esteja em uma situação em
• Dois testes rápidos com amostra de sangue (de que essas medicações possam ser prescritas em
fabricantes diferentes) associação;
• Um teste rápido usando fluido oral e outro teste
rápido usando sangue
• Um imunoensaio de 3ª ou 4a geração e um teste
molecular (carga viral).
• Um imunoensaio de 3ª ou 4a geração e um
western blot ou imunoblot rápido.
[GABRIEL CAVALCANTE DE AZEVEDO]

TRATAMENTOS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS • Entricitabina;


Gestantes TRANSMISSÃO VERTICAL

Em gestantes, o tratamento pode ser diferente do esquema


básico, afinal, o dolutegravir não deve ser usado no
Manejo do RN
primeiro trimestre da gestação por risco de defeito no tubo
neural.
Coinfectados com TB
São dois pontos importantes sobre o tratamento do
coinfectado:
• O esquema básico (TDF + 3TC + DTG) pode ser feito
em associação com o tratamento da tuberculose,
porém a dose do dolutegravir deve ser dobrada.
• A rifampicina não deve ser feita em associação
com inibidores de protease. Caso o paciente já
faça uso de algum, a recomendação é trocar essa
classe por outra.
PROFILAXIA
INFECÇÕES OPORTUNISTAS
PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP)
Critérios de indicação
Para saber se ela está indicada, você precisa de 5 respostas
afirmativas a essas perguntas:
• O tipo de exposição foi percutânea, através de
membranas mucosas e cutâneas com pele não
íntegra?
• O material biológico envolvido foi sangue, sêmen,
secreções vaginais, líquidos de serosas, líquido
amniótico, líquor, líquido articular e leite
materno?
• Paciente fonte tem sorologia positiva ou
desconhecida para o HIV?
• Paciente exposto tem sorologia não reagente
para HIV?
• O acidente foi a menos de 72h?
Esquema
O esquema recomendado para a PEP é o mesmo esquema
que o Ministério da Saúde recomenda para tratamento
inicial de pacientes infectados pelo HIV, por 28 dias.
PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO (PREP)
Critérios de indicação
Ela deve ser considerada para pessoas a partir de 15 anos,
com peso ≥ 35 kg sexualmente ativas e que tenham risco TRATO RESPIRATÓRIO
aumentado de aquisição da infecção pelo HIV, como a
realização de relações sexuais desprotegidas. PNEUMOCISTOSE

Esquema Geralmente, a banca associa ao quadro pulmonar a


presença de candidíase oral, que é um marcador de
Utilizamos um esquema com DUAS DROGAS: imunossupressão
• Tenofovir
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Causada pelo Pneumocystis jiroveci. Clinicamente, o Quadro clínico


paciente apresenta um quadro subagudo de tosse seca,
Febre, perda ponderal e sudorese noturna. As alterações
febre, dispneia e hipoxemia.
nas radiografias de tórax são identificadas em até 1/4 dos
Diagnóstico casos, com um infiltrado miliar predominando nas bases.
É geralmente, presuntivo. A associação da história clínica Tratamento
com exames de imagem e laboratório é a maneira mais
Consiste no uso de macrolídeo (claritromicina) com
usada para isso. Na tomografia de tórax, é frequente o
etambutol. Em caso de doença extensa, uma terceira droga
encontro de infiltrados intersticiais em vidro fosco. De
poderia ser adicionada (rifabutina, ciprofloxacina ou
exames laboratoriais, a elevação do lactato desidrogenase
amicacina).
(LDH) é bem característica.
Tratamento
SISTEMA NERVOSO CENTRAL

É feito com sulfametoxazol e trimetoprim por 21 dias. Após NEUROTOXOPLASMOSE


o uso do antibiótico em dose terapêutica, devemos Causada pelo Toxoplasma gondii. É a doença neurológica
lembrar de mantê-lo em dose profilática três vezes por associada a lesões expansivas cerebrais mais comum em
semana para evitar recorrência da doença. pacientes com infecção pelo HIV.
☑ SAIBA MAIS: Pacientes com pneumocistose moderada à Quadro clínico
grave, ou seja, com PaO2 < 70mmHg em ar ambiente ou
Tem um curso subagudo e o paciente pode apresentar
gradiente alvéolo-capilar > 35mmHg, têm indicação do uso
febre com algumas alterações neurológicas como, por
de corticoides
exemplo, convulsões, alteração do estado mental e sinais
TUBERCULOSE focais, como hemiparesia, hemiplegia e disfasia.
Suspeitada por perda ponderal, febrícula intermitente, Diagnóstico
sudorese noturna, dor torácica ventilatório-dependente e
Na tomografia computadorizada (TC) de crânio
queda do estado geral.
tipicamente podemos encontrar lesões cerebrais
Diagnóstico hipodensas, com realce anelar ou nodular após uso do
Solicitar radiografia de tórax (adenopatias mediastinais, contraste
derrame pleural, infiltrado intersticial, lesões atípicas e É presuntivo e é feito com a associação do quadro clínico
cavitações), pesquisa de BAAR em escarro, solicitação de com exame de imagem. Para diagnóstico definitivo,
ADA em drenagem de líquido de derrame pleural e PPD precisaríamos realizar uma biópsia da lesão cerebral, o que
(quanto menor a contagem de CD4+, maior a chance de ser não está indicado de rotina
negativo).
Tratamento
Tratamento
Se TC não melhorar dentro de 10 a 14 dias de tratamento,
O tratamento prioritário é o da tuberculose, sendo investigar linfoma primário de sistema nervoso central.
posteriormente iniciadas as drogas antirretrovirais.
O tratamento é feito por 6 semanas (42 dias) e pode ser
Em linhas gerais, as medidas terapêuticas para a TB nos realizado com qualquer uma das opções
indivíduos portadores do HIV+ não diferem muito das
• Sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico. Caso
adotadas para os soronegativos. A grande questão é em
o paciente seja alérgico à sulfa, devemos trocar a
relação ao uso concomitante com TARV:
sulfadiazina pela clindamicina e suspender o
• Pacientes diagnosticados concomitantemente ácido folínico.
com ambas as afecções: o tratamento para • Sulfametoxazol-trimetoprim (SMX-TMP).
tuberculose deverá ser instituído imediatamente,
NEUROCRIPTOCOCOSE
introduzindo-se os ARV em até duas semanas;
• Já em uso de TARV: iniciar imediatamente o Causada por um fungo chamado de Cryptococcus
tratamento para TB, avaliando compatibilidade neoformans. É a doença fúngica invasiva com risco de
(interações medicamentosas) com os óbito que mais ocorre nesses pacientes.
antituberculínicos. Quadro clínico
MICOBACTERIOSE ATÍPICA Clinicamente, o paciente apresenta sinais e sintomas de
Diferentemente da tuberculose, a infecção por MAC é uma meningite e hipertensão intracraniana, como cefaleia,
complicação tardia, de pacientes em estado avançado de náuseas e vômitos, rigidez de nuca, edema de papila,
imunossupressão com CD4 < 50/mm³ (média de 10/mm³). paralisia do VI par craniano (por ter um trajeto longo) e
confusão mental.
Ocorre principalmente pelas do complexo Mycobacterium
avium (MAC – Mycobacterium avium ou espécies de
Mycobacterium intracellulare).
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Diagnóstico circunscritas e parecem com um “vulcão”. O tratamento


desses casos deve ser feito com aciclovir
O grande marcador que confirma o diagnóstico é a tinta da
china positiva em amostra do líquor PROFILAXIA DE INFECÇÕES OPORTUNISTAS
No exame da punção lombar, evidencia-se um aumento da
pressão de abertura (> 20 cmH2 O ou 200 mmH2 O). O
líquor pode apresentar uma quimiocitologia normal ou
com uma celularidade um pouco aumentada às custas de
linfomononucleares, proteínas um pouco elevadas e
glicose um pouco baixa.
Tratamento
Nos pacientes que não estavam em uso da TARV, devemos
aguardar em torno de 2 a 10 semanas para iniciar essas
medicações.
feito em 3 fases:
• Indução: é a fase inicial e devemos fazer a
associação de anfotericina com 5-flucitosina ou
fluconazol. A duração é em torno de 2 semanas.
• Consolidação: deve ser iniciada em seguida à
indução, com fluconazol em doses altas por 8
semanas.
• Manutenção: após a consolidação, reduzimos a
dose do fluconazol que deve ser mantido por pelo
menos um ano
GASTRINTESTINAIS
CANDIDÍASE ORAL E ESOFÁGICA
A candidíase oral geralmente é um marcador precoce de
imunossupressão, porém não é uma doença definidora de
aids
É uma doença que se manifesta clinicamente com a
presença de placas esbranquiçadas na cavidade oral que
conseguem ser removidas com uma espátula. Nos
pacientes com candidíase oral que apresentem disfagia,
pense logo em candidíase esofágica, que é a causa mais
frequente de disfagia nos pacientes com AIDS.
Tratamento
Tanto o tratamento da candidíase oral quanto da esofágica
é feito com fluconazol.
ULCERAS ESOFÁGICAS
Citomegalovirose
No anatomopatológico, há a identificação de células
epiteliais com inclusões basófilas no citoplasma e
eosinofilias dentro do núcleo, formando uma imagem de
“olho de coruja”
O agente viral mais associado a úlceras esofágicas em
pacientes com HIV é o CMV. As úlceras são confluentes e
lineares ou longitudinais. O tratamento de escolha, nesses
casos, é feito com ganciclovir
Herpes
São causadas principalmente pelo HSV-1. Decorrem do
rompimento de vesículas que coalescem e formam úlceras
pequenas, geralmente menores que 2 mm. São bem

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