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CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS - UNICHRISTUS

CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO I
PROFA. ME. FLÁVIA CARVALHO MENDES SARAIVA

UNIDADE IX – CRÉDITO TRIBUTÁRIO

9.3. EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

• Expressão “exclusão do crédito tributário” - não é questão pacífica na nossa doutrina.


• Paulo de Barros Carvalho e Roque Antonio Carrazza - a exclusão do crédito tributário atinge a norma
de incidência tributária, alterando a sua estrutura.
• OUTROS DOUTRINADORES - efeito na relação jurídica tributária estabelecida entre fisco e contribu-
inte - a exclusão do crédito tributário só ocorre em relação à isenção, pois a norma que prescreve a anistia
produzirá tão somente a extinção da multa.

OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR

NASCIMENTO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

NÃO HÁ LANÇAMENTO E O CRÉDITO NÃO SE


CONSTITUI.

LINHA DO TEMPO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

OBRIGAÇÃO
EXCLUSÃO CRÉDITO EXTINÇÃO DO
TRIBUTÁRIA TRIBUTÁRIO CRÉDITO

FATO GERADOR LANÇAMENTO

• Há duas hipóteses de exclusão: ISENÇÃO (exclui crédito de TRIBUTO) e ANISTIA (exclui crédito de
MULTA).

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• Em ambos os casos, NÃO SE DISPENSA O CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS.
Ex.: a isenção de ICMS não dispensa a escrituração dos livros fiscais.

9.3.1. ISENÇÃO

• Dispensa legal do pagamento de TRIBUTO?


• Divergência doutrinária.
a) SIM - o vínculo obrigacional se instauraria ao longo do tempo em que a norma isentiva tivesse vigência,
haja vista não haver óbice ao exercício da competência tributária nem causa para impedir a ocorrência
do fato gerador - a norma isencional atuaria sobre o dever jurídico de pagar o tributo, dispensando-o.
b) NÃO - isenção como instrumento legal impeditivo de produção de efeitos da norma impositiva. A lei
isentiva, norma de caráter especial, atuaria diretamente sobre a norma de tributação, lei geral, impedindo
ocorrência do fato gerador, a constituição da obrigação e a formação do crédito tributário - hipótese de
não incidência legalmente qualificada.
• Não é causa de não incidência, pois os fatos geradores ocorrem e dão nascimento a obrigações tribu-
tárias, sendo apenas excluída a etapa do lançamento.
• Concessão mediante LEI ESPECÍFICA (art. 150, §6º da CF/88).
• “ISENÇÃO PREVISTA EM CONTRATO”: ocorre quando o governo faz um acordo com uma(s) em-
presa(s), se comprometendo a conceder benefícios fiscais para as que ela(s) se instale(m) em seu terri-
tório. Mesmo nesse caso, a isenção só decorre de lei.
• A ISENÇÃO PODE ABRANGER SOMENTE PARTE DO TERRITÓRIO DA ENTIDADE TRIBU-
TANTE, EM FUNÇÃO DAS PECULIARIDADES LOCAIS.
• Importante: isenções concedidas pela União devem observar o princípio da uniformidade geográfica.
SALVO DISPOSIÇÃO DE LEI EM CONTRÁRIO, A ISENÇÃO NÃO É EXTENSIVA ÀS TAXAS E ÀS
CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA NEM AOS TRIBUTOS INSTITUÍDOS POSTERIORMENTE À SUA
CONCESSÃO (art. 177).
• Taxas e contribuições de melhoria são tributos contra prestacionais (o sujeito passivo é diretamente
beneficiado). Ex.: se uma lei concede isenção do IPTU para uma classe de contribuintes, estes ainda
devem pagar a taxa de coleta de lixo.
• Quanto aos tributos criados posteriormente, há uma certa lógica (a lei que concedesse seria muito
genérica).
• Obs: art. 177 (“salvo disposição de lei em contrário”), o que significa que é possível isenções que
recaiam sobre taxas, contribuições de melhoria e tributos ainda não instituídos.

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• Revogação da isenção.
✓ A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser
revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104 (art. 178).
✓ Obs: art. 178, CTN - ISENÇÕES ONEROSAS E NÃO ONEROSAS:
ISENÇÃO ONEROSA ISENÇÃO NÃO ONEROSA
(CONDIÇÕES E PRAZO CERTO)
Revogável a qualquer tempo.
Não pode ser revogada, é direito adquirido.

✓ Exemplo de isenção onerosa: lei específica concede isenção de ICMS por 10 anos (prazo certo) para
as empresas que se instalarem no interior de PE e produzam mamona (condições). A empresa que cum-
pre os requisitos durante a vigência da lei tem direito adquirido à isenção, que não pode ser revogada.
✓ Súmula 544 do STF: ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS CONCEDIDAS, SOB CONDIÇÃO ONEROSA, NÃO
PODEM SER LIVREMENTE SUPRIMIDAS.
✓ Revogação da isenção onerosa ≠ revogação da lei concessória de isenção onerosa (é possível).
✓ Durante a vigência da lei, quem cumpre os requisitos tem direito adquirido, pelo prazo previsto na lei,
mesmo que esta venha a ser revogada.
✓ Não prejudica quem já cumpriu os requisitos, só impede o gozo daqueles que não tinham cumprido na
data da revogação.
a) JURISPRUDÊNCIA DO STF E DO STJ: a aplicação conjunta dos artigos 178 e 104, III, do CTN -
considera-se a possível a revogação de isenção de impostos não incidentes sobre o patrimônio ou a
renda a qualquer tempo, não estando a supressão do benefício sujeita ao princípio da anterioridade,
a não ser que concedido o favor fiscal por prazo certo e em função de determinadas condições;
b) Supremo Tribunal Federal – SÚMULA 615, STF - O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ANUALI-
DADE (§ 29 DO ART. 153 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL) NÃO SE APLICA À REVOGAÇÃO DE ISEN-
ÇÃO DO ICM (1984) - como há mera dispensa legal de pagamento de tributo, a revogação de norma
isentiva possui efeito imediato, permitindo a cobrança referente aos fatos geradores que lhe são pos-
teriores no mesmo exercício financeiro.
• ART. 179 DO CTN - a isenção pode ser concedida em CARÁTER GERAL OU INDIVIDUAL - devendo-
se sempre observar o princípio da isonomia, tendo em vista que a desoneração de alguns cria distinção
entre contribuintes.
a) caráter geral: a lei identifica quem são os beneficiários da isenção. Então, basta que a lei esteja vi-
gente para que a desoneração possa ser usufruída pelos seus destinatários. A verificação por parte da
administração da correta fruição do benefício ocorrerá em momento posterior.
b) caráter individual: exige requerimento prévio do interessado à autoridade administrativa onde se faça
prova do cumprimento e das condições legais, uma vez que a lei não identifica de forma objetiva quem
são os destinatários, ela apenas estabelece requisitos e condições.

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• Importante - O contribuinte tem que requerer para que a autoridade administrativa, em despacho fun-
damentado, verifique se estão presentes aqueles requisitos da lei, façam prova do cumprimento dos re-
quisitos e condições legais - o benefício é efetivado somente após despacho de autoridade administrativa
em requerimento do contribuinte.
Obs: Quando o tributo é lançado por período certo de tempo, o despacho concessório deve ser
renovado antes da expiração de cada período, cessando automaticamente os seus efeitos a partir
do primeiro dia do período para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do reco-
nhecimento da isenção (art. 179, §1º).
• São aplicáveis as regras do art. 155 (moratória): a concessão da isenção em caráter individual não
gera direito adquirido e será revogada quando não houver o cumprimento dos requisitos cobrança de
juros de mora e, se houve dolo, juros de mora + penalidade - se houve dolo, há suspensão da prescrição
entre a concessão e sua revogação se não houve dolo, a revogação só pode ocorrer antes da prescri-
ção.
• Isenção x Alíquota Zero
✓ naturezas jurídicas distintas - a consequência de ambas é a mesma relativamente ao ônus fiscal;
✓ nos dois casos o contribuinte não pagará tributo, em razão da inexigibilidade do crédito tributário.
✓ diferenças estruturais - aplicação dos princípios da anterioridade e da legalidade.
✓ a isenção se submete à reserva legal, só podendo ser concedida ou revogada mediante lei específica.
✓ a alíquota zero, dependendo do tributo, pode ser fixada por ato do Poder Executivo, ato normativo
infralegal, considerando o caráter extrafiscal de alguns tributos.

9.3.2. ANISTIA

• Perdão legal de PENALIDADES PECUNIÁRIAS (multas).


• A anistia é o perdão de infrações – EFEITO: tornar inaplicável a sanção.
• Luciano Amaro - não é a sanção que é anistiada; o que se perdoa é o ilícito e, perdoando este, deixa
de ter lugar a sanção.
• Precisa ser fundamentada a fim de não acarretar em privilégio odioso.
• Art. 14 da LC 101/2000, toda renúncia de receita tem que ser justificada. Para que um ente exonere,
faz-se necessário explicações sobre o cálculo a ser feito, que envolve as receitas e as despesas públicas.
• Não deve ser concedido de forma frequente - deve ser utilizada apenas em casos de relevância social
ou econômica;
• Só pode abranger as INFRAÇÕES COMETIDAS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI QUE A CONCEDE
(sem exceção).
• Não se pode perdoar infração futura.

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limites temporais: APÓS O COMETIMENTO DA INFRAÇÃO e ANTES DO LANÇAMENTO DA PENALI-
DADE (depois o crédito já está constituído e só pode haver dispensa por remissão).

ANISTIA VEDADA
INFRAÇÕES
ATOS PRATICADOS
RESULTANTES DE
CRIMES OU COM DOLO,
CONLUIO,
CONTRAVENÇÕES FRAUDE OU
SALVO DISPOSIÇÃO
SIMULAÇÃO
EM CONTRÁRIO

ANISTIA EM CARÁTER ANISTIA EM CARÁTER LIMITADO


GERAL a) Às infrações da legislação relativa a determinado tributo;
b) Às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado
montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza;
c) A determinada região do território da entidade tributante, em função
de condições a ela peculiares;
d) Sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei a
conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade
administrativa.

• A anistia é concedida por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interes-
sado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei para
sua concessão.
• O despacho constante do art. 182, não gera direito adquirido, aplicando-se quando cabível, no que diz o
art. 155.
• A concessão da anistia não gera direito adquirido e será revogada de ofício, sempre que se apure
que o beneficiado não satisfaça ou deixou de satisfazer as condições ou não cumpria ou deixou de
cumprir os requisitos para sua concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de
mora.
• O tempo decorrido entre a concessão da anistia e a sua revogação não se computa para efeito de
prescrição do direito à cobrança do crédito tributário.
• Ela só se aplica aos casos dos tributos em atraso e aos de denúncia espontânea, jamais aos
casos de infração material qualificada.

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