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Campus de Apucarana
Centro de Ciências Humanas e da Educação Curso: Serviço Social 1º ano
Disciplina: Ciências Politica
Docente: Elson Lima
teoria política e à concepção de Estado, bem como a análise das interações entre
Estado, política e poder.
Carnoy (1990) identifica duas concepções antagônicas do Estado ao longo
dos séculos. A primeira, fundamentada no pensamento liberal, enxerga um Estado
neutro, independente do poder econômico, autônomo em relação à sociedade civil, e
expressando a vontade geral. Essa visão o considera como promotor do bem
comum, transcendentando conflitos de classe e realidade sócio-histórica. A segunda
concepção, de inspiração marxista, analisa o Estado capitalista em sociedades
marcadas por desigualdades e conflitos inerentes à sua natureza de classes.
Autores como Marx, Gramsci, Poulantzas e Offe oferecem uma visão crítica do
Estado capitalista, compreendendo suas contradições e buscando alternativas para
superá-las.
O período da Idade Moderna, do século XV ao XVIII, caracteriza-se por
transformações sociais, políticas e econômicas, resultando no surgimento do Estado
Moderno. Durante esse período, o sistema capitalista substituiu o feudalismo, a
burguesia ganhou relevância política e econômica, as relações servis
desmoronaram, o trabalho assalariado emergiu, e o poder concentrou-se nas mãos
dos reis, com alianças entre monarcas e burguesia. No campo cultural, destacam-se
o Renascimento, e no espiritual, a Reforma Protestante (COTRIN, 1997b).
A primeira forma de Estado Moderno foi o absolutista, originado do apoio
dado pela ascensão da burguesia à monarquia. Esse apoio visava enfraquecer o
poder da aristocracia feudal, que se opunha aos interesses burgueses. O Estado
absolutista centralizou todas as decisões políticas e ampliou sua autoridade sobre
vastos territórios anteriormente controlados pelos senhores feudais. Dessa forma, a
realeza assumiu diretamente a administração econômica, a justiça e o poder militar.
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um dos principais defensores teóricos do
modelo de Estado absolutista, caracterizado pelo poder absoluto dos reis e pelos
privilégios da nobreza. Contudo, esse tipo de Estado, após atingir seu auge,
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escapou da onda neoliberal. Países importantes como Chile, Brasil, Bolívia, Peru e
México adotaram o neoliberalismo como uma resposta à hiperinflação. Lopes (1995)
destaca que esses países, após anos de governos autoritários, passaram por uma
abertura política durante os anos 80, mas essa transição foi superficial, pois as
condições essenciais para o exercício da cidadania, incluindo direitos fundamentais
e acesso à informação crítica, ainda não estavam plenamente desenvolvidas. A
democratização dos regimes coincide com o fortalecimento do capitalismo
selvagem, enfraquecendo os direitos do cidadão. A versão latino-americana do
neoliberalismo exige sacrifícios maiores e impõe ajustes mais drásticos do que nos
países capitalistas avançados. No Brasil, a tendência de redução do tamanho do
Estado, abertura da economia para o mercado externo, restrição da atuação estatal
e ampla privatização dos serviços públicos se intensifica na década de 1980,
ganhando força nos anos 90.
Nesse período, a elite dirigente, políticos e empresários brasileiros se
articulam em torno de propostas de desmonte do Estado. O Estado, anteriormente
visto como o principal agente do desenvolvimento, passa a ser "demonizado". A
narrativa adotada é maniqueísta, polarizando o campo do capitalismo, livre iniciativa
e empresariado como bom, enquanto coloca a intervenção estatal, o funcionalismo
público e os políticos no campo mau. A ofensiva neoliberal não é apenas uma luta
pela redefinição econômica; é também uma disputa entre visões alternativas de
sociedade e um esforço para criar categorias próprias de interpretação do mundo e
da vida social, conforme Silva (1994) destaca.
Na década de 1990, as esquerdas brasileiras enfrentam um recuo devido à
conjuntura internacional favorável ao neoliberalismo. A sociedade civil, impactada
pelo desemprego e instabilidade econômica, torna-se receptiva às teorias do Estado
mínimo, facilitando a disseminação da ideia de redução do tamanho do Estado.
Mesmo entre os cidadãos mal informados, a proposta de desmonte do Estado ganha
apelo, sem que se percebam os possíveis prejuízos. Curiosamente, aqueles que
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veem o Estado como um mal muitas vezes anseiam por uma boa escola pública
para seus filhos ou por serviços de saúde que garantam tranquilidade às famílias
trabalhadoras.
No atual cenário, observa-se uma contradição na sociedade brasileira, onde
diferentes setores, inclusive grupos dominantes, unem-se para defender um Estado
mínimo. Ao mesmo tempo, esses setores demandam do Estado a garantia dos
direitos de cidadania, como saúde, segurança e educação. O neoliberalismo tornou-
se a política predominante para os grupos dominantes, levando a estratégias
privatizantes consideradas como solução universal para os problemas sociais. Esse
fenômeno não é exclusivo do Brasil, mas reflete as transformações globais que
alteraram a concepção e as funções do Estado nas sociedades contemporâneas,
impulsionadas pela evolução capitalista. A nova ordem mundial destaca-se pela
internacionalização do capital, a predominância do capital financeiro, o domínio dos
oligopólios transnacionais e a influência da informação, permitindo interpretar os
esforços brasileiros de reajuste do papel do Estado como parte de uma tendência
global que se iniciou nas décadas de 1970 e envolve a expansão do capitalismo
além das fronteiras nacionais.
O fenômeno da globalização, iniciado após a Segunda Guerra Mundial, é um
processo contínuo que se estende por todas as esferas da vida coletiva, abrangendo
o mundo todo. Apesar de não ser um acontecimento conclusivo, está em constante
evolução e apresenta resultados imprevisíveis. A globalização penetra não apenas
entre os países de destaque, mas também nas nações de escalões secundários,
como América Latina e África.
Esse processo é caracterizado pela crescente interdependência das
economias globais, gerando mudanças significativas nos âmbitos político, social e
cultural. Ianni (1988) destaca o enfraquecimento do estado-nação diante da
dinâmica da economia internacional, onde a supremacia financeira, política e militar
dos grandes centros de poder atua como uma transmissão entre a economia global
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