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CUIDADO INTEGRAL A

SAÚDE DO ADULTO II

Maurício Rouvel Nunes


Alterações do sistema
hematopoético:
série vermelha, série
branca e anemias
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever o glossário de hematologia e a análise e interpretação das


alterações encontradas na série vermelha e na série branca.
 Apresentar a Sistematização da Assistência de Enfermagem que aborda
alterações nas séries branca e vermelha.
 Elaborar os cuidados que permeiam a anemia utilizando a Sistema-
tização da Assistência de Enfermagem.

Introdução
As alterações do sistema hematopoético possuem repercussão em todos
os órgãos e tecidos do corpo humano. Os pacientes com distúrbios
hematológicos, em geral, possuem alterações significativas nos exames
laboratoriais, mas com poucos sinais e sintomas. Assim, o enfermeiro pre-
cisa conhecer as principais alterações hematológicas, os termos científicos,
bem como a sua aplicação no cuidado de enfermagem.
Neste capítulo, você vai descrever os principais termos utilizados em
hematologia, a análise e a interpretação das alterações na série branca e
vermelha, vai apresentar a Sistematização da Assistência de Enfermagem
(SAE) nas alterações da série branca e vermelha e vai elaborar os cuidados
que permeiam a anemia usando essa ferramenta.
2 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

Glossário de hematologia e análise e


interpretação da série branca e vermelha
A hematopoese é o processo pelo qual os elementos figurados do sangue são
formados. A palavra tem origem no verbo grego poiéo, que significa criar,
produzir e fazer. O sistema hematológico é constituído pelo sangue e os locais
onde ele é produzido, e é formado pelos seguintes órgãos:

 medula óssea;
 baço;
 timo;
 tecido linfoide;
 fígado;
 tubo digestivo;
 rins.

Os constituintes do sangue são os elementos figurados e o plasma, que


contribuem com 45% e 55% do volume do sangue, respectivamente. Os ele-
mentos figurados do sangue estão imersos no plasma e são os seguintes
(HOFFBRAND; MOSS, 2018; ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2005):

 hemácias (eritrócitos ou glóbulos vermelhos);


 leucócitos (glóbulos brancos);
 plaquetas.

A medula óssea constitui o local da hematopoese, é altamente vascularizada


e é onde encontramos as células percursoras, denominadas células-tronco. As
células-tronco possuem uma capacidade de replicação e, quando estimuladas,
podem sofrer um processo de diferenciação em células-tronco mieloides, que
vão dar origem aos eritrócitos, aos leucócitos e às plaquetas; e em células
linfoides, que vão dar origem aos linfócitos T e B. Todas as células sanguíneas
se originam das células-tronco mieloides (HOFFBRAND; MOSS, 2018).
Para compreender a hematologia é importante reconhecer os termos cien-
tíficos da área, por isso, o glossário traz os termos e as definições da área
para auxiliar os profissionais na compreensão da terminologia científica. No
Quadro 1, a seguir, verifica-se o glossário em hematologia.
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 3

Quadro 1. Glossário em hematologia

Termos Definições

A Anisocitose Glóbulos vermelhos de tamanhos diferentes

Angiogênese Formação de nomanualvos vasos

Anemia Diminuição anormal dos glóbulos vermelhos

Aplasia medula Produção de sangue inadequada


óssea

B Basófilo Célula que contém histamina e integra as reações


de hipersensibilidade

Bastões Granulócitos imaduros

Basofilia Aumento no número de basófilos

C Células-tronco São as células primordiais encontradas na medula


óssea que irão originar os outros tipos celulares

D Desoxihemoglobina Hemoglobina não ligada ao oxigênio

Diferenciação Processo pelo qual as células se especializam,


celular gerando uma diversidade de outras células

E Eosinófilo Célula envolvida nas reações alérgicas

Eritrócito (hemácia; Transporta a hemoglobina para fornecer oxigênio


glóbulo vermelho) aos tecidos. Média de vida de 120 dias.

Eritropoese Produção de eritrócitos

Eritropoetina Hormônio produzido pelos rins

F Fibrinólise Dissolução de trombos

Fagocitose Ingestão e digestão de micro-organismos

G Granulócitos Células que fazem grupo dos leucócitos que


possuem grânulos no citoplasma

H Hemostasia Processo de prevenção da perda sanguínea


de vasos intactos e da interrupção do
sangramento de um vaso seccionado

Hematopoese Processo de formação das células sanguíneas

Hemofilia Doença hereditária ocasionada pela


falta de fatores de coagulação

(Continua)
4 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

(Continuação)

Quadro 1. Glossário em hematologia

Termos Definições

H Hemácias Sinônimo de eritrócitos e de glóbulos vermelhos

Hemoglobina Proteína que contém ferro e é responsável pelo


transporte de oxigênio nas células sanguíneas

Hematócrito Percentual do volume sanguíneo


consistido por eritrócitos

Hipocromia Diminuição anormal no conteúdo de


hemoglobina dos eritrócitos

Hemograma Exame laboratorial que analisa


os elementos do sangue

I Imunoglobulina São os anticorpos

Imunodeficiência Desordem do sistema imunológico


caracterizada pela incapacidade de
estabelecer uma resposta do sistema imune

Índices Avaliam indiretamente as características


hematimétricos dos eritrócitos, quanto ao volume e
ao conteúdo de hemoglobina

L Linfócito Componente integrante do sistema imune

Linfomas Neoplasias de células linfoides

Linfócito T Responsável pela imunidade celular

Linfócito B Responsável pela imunidade humoral

Leucopenia Diminuição no número de glóbulos brancos

Leucemia Câncer no sangue

Linfoides Células que dão origem aos linfócitos

LMA Leucemia mieloide aguda

Linfopenia Contagem de linfócitos inferior a 1.500/mm3

Leucocitose Nível aumentado de leucócitos


na corrente sanguínea

(Continua)
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 5

(Continuação)

Quadro 1. Glossário em hematologia

Termos Definições

L Leucemia Proliferação neoplásica de um


tipo celular específico

Leucograma Exame que analisa os leucócitos

M Microcitose Diminuição do tamanho dos glóbulos vermelhos

Macrocitose Aumento do tamanho dos glóbulos vermelhos

Macroplaquetas Plaquetas de tamanho aumentado

Monócito Penetra no tecido como macrófago


e tem ação fagocítica

Mieloides Células que dão origem às células sanguíneas

Mielofibrose Distúrbio mieloproliferativo, caracterizado


pela fibrose ou cicatrização medular

Mieloma Doença maligna originária dos plasmócitos

N Neutrófilo Essencial na prevenção ou na limitação da


infecção bacteriana por meio da fagocitose

O Ontogênese Desenvolvimento do corpo da


geração até a fase adulta

Oxi-hemoglobina Hemoglobina ligada ao oxigênio

P Plaquetas Fragmentos de megacariócitos, proporciona a


base para a coagulação, mantém a homeostasia

Policromasia Presença de eritrócitos jovens, naturalmente


liberados pela medula óssea

Petéquias Manchas hemorrágicas puntiformes avermelhadas

Plasmócito Secreta imunoglobulina Ig, forma


mais madura do linfócito B

Plasma Parte líquida do sangue

Plasminogênio Proteína que degrada a fibrina

Policetemia Aumento de volume dos eritrócitos

Plaquetograma Exame que analisa as plaquetas

(Continua)
6 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

(Continuação)

Quadro 1. Glossário em hematologia

Termos Definições

Q Quimioterapia Tratamento que busca destruir


as células cancerígenas

R Reticulócitos Eritrócitos imaduros liberados pela medula óssea

RDW Largura da distribuição do


tamanho dos eritrócitos

S SMD Síndrome mielodisplásica

Sangue Tecido conjuntivo líquido que


circula pelo sistema vascular

T Trombose Coagulação do sangue dentro do vaso sanguíneo

Trombocitopenia Baixo nível de plaquetas

Talassemias Doença hereditária caracterizada por um


defeito na síntese da hemoglobina

Trombofilia Predisposição em desenvolver trombose

V VCM Volume corpuscular médio

VHS Velocidade de hemossedimentação

Fonte: Adaptado de Failace (2015).

Análise e intepretação das alterações da série vermelha


No processo de hematopoese, a série vermelha está dentro do que se deno-
mina de eritropoese, ou seja, formação de eritrócitos (glóbulos vermelhos ou
hemácias). As alterações das células vermelhas podem se dar em relação ao
tamanho, à forma e à coloração. Ao analisarmos a morfologia do eritrócito,
podemos observar os seguintes processos:

 macrocitose ou microcitose;
 hipocromia e hipercromia;
 policromasia.
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 7

A fisiopatologia da eritropoese é de extrema importância para o entendi-


mento do hemograma. Os glóbulos vermelhos são produzidos pela medula
óssea, a partir da célula progenitora hematopoética comprometida por fatores
de crescimento comuns e pela eritropoetina. Na circulação, o eritrócito pode
ter uma sobrevida encurtada por ter sido formado com defeitos intrínsecos
de membrana, de hemoglobina ou de enzimas, e a diminuição no sangue de
eritrócitos leva o indivíduo a desenvolver as anemias.

A anemia é definida como a diminuição da taxa de hemoglobina para índices inferiores


a 13 g/dL para homens adultos, 12 g/dL em mulheres adultas e 11 g/dL para gestantes
e crianças de 6 meses a 6 anos de idade.

A partir dos dados do hemograma, com os índices hematimétricos, as


anemias podem ser classificadas em três tipos fundamentais de acordo com
volume corpuscular médio (VCM) (Quadro 2) (HOFFBRAND; MOSS, 2018;
ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2005):

 microcíticas hipocrômicas;
 normocíticas normocrômicas;
 macrocíticas hipercrômicas.

Quadro 2. Classificação das anemias

Classificação VCM

Microcíticas hipocrômicas VCM < 82 fL

Normocíticas normocrômicas VCM entre 82–98 fL

Macrocíticas hipercrômicas VCM > 98 fL

Fonte: Adaptado de Failace (2015).


8 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

As anemias microcíticas hipocrômicas são indicativas de hiperatividade


da medula óssea, as normocíticas normocrômicas indicam hipofunção da
medula óssea, e as macrocíticas hipercrômicas tem origem na síntese de DNA
(ZAGO; FALCAO; PASQUINI, 2005).
A Figura 1, a seguir, apresenta os sintomas da anemia.

Figura 1. Sintomas da anemia.


Fonte: VectorMine/Shutterstock.com.

Anemias microcíticas hipocrômicas

As anemias microcíticas hipocrômicas são as mais comuns em todo o mundo,


variam somente na etiologia. A anemia por deficiência de ferro (ferropriva)
é a mais importante delas, sua microcitose é originária da insuficiência da
síntese de hemoglobina. A carência de ferro é a deficiência nutricional mais
comum no mundo, a anemia é uma manifestação tardia e insidiosa da carência,
que surge quando as reservas orgânicas esgotam-se em virtude do balanço
negativo. A anemia ferropriva pode estar associada à doença subjacente e os
seus sintomas podem se mesclar aos da doença de base. Os principais sinais
e sintomas da anemia ferropriva incluem:
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 9

 palidez;
 cansaço;
 sonolência;
 cefaleia;
 zumbido no ouvido;
 baixo desempenho nas atividades diárias.

O diagnóstico de anemia ferropriva é facilmente realizado pelo hemograma,


em que se verifica diminuição nos níveis de hemoglobina de forma conco-
mitante com o VCM e a largura da distribuição de tamanho dos eritrócitos
(RDW) aumentada. Há exames complementares ao hemograma, como a
ferritina sérica, em que, na anemia ferropriva, o valor sérico de ferro será
menor do que 10 mg/dL.

Anemias normocíticas normocrômicas

As anemias normocíticas normocrômicas, são as oriundas de doenças crônicas


e da insuficiência renal. Originam-se a partir de doenças reumatológicas,
infecciosas e renais e que possuem como processo fisiopatológico a redução
da eritropoetina, a redução da resposta medular à eritropoetina e a redução
da sobrevida das hemácias na circulação, por isso, nesse tipo de anemia, é
necessário tratar a doença de base.

Anemias hemolíticas

Existe um outro grupo de anemias que são as hemolíticas. São assim definidas
quando há diminuição da sobrevida do eritrócito, que normalmente é de 110 a
120 dias. Nesse tipo de anemia, além dos sinais e dos sintomas gerais, costuma
haver icterícia e esplenomegalia. As principais são as de origem congênita,
a anemia falciforme, as talassemias, a hemoglobinopatia C e a deficiência de
glicose-6-fosfato desidrogenase, sendo as duas primeiras as mais frequentes
na população.
A anemia falciforme é uma doença hemolítica de caráter autossômico e
recessivo em indivíduos homozigóticos para a hemoglobina S, em que ocorre
uma mutação na posição 6 da extremidade N-terminal do cromossomo 11,
substituindo ácido glutâmico por valina; A HbSS em condições de hipoxia
se polimeriza no formato de foice. A anemia ocorre pela diminuição da heo-
moglobina devido ao aumento de hemólise no baço.
10 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

As hemácias falciformes contribuem para processos inflamatórios, vasoclu-


são, aumento de coagulação e lesão tecidual. O hemograma é o primeiro passo
para o diagnóstico, pois é possível visualizar as hemácias em forma de foice. No
Brasil, a verificação de anemia falciforme está na lista dos exames analisados
no teste do pezinho. As talassemias também são hereditárias e hemolíticas e
caracterizam-se na síntese errônea das cadeias globinícas da hemoglobina.
No hemograma, pode-se verificar uma hipocromia com microcitose.

Anemias macrocíticas hipercrômicas

As anemias macrocíticas podem ser megaloblásticas ou não megaloblásticas,


desse grupo, a mais importante anemia megaloblástica é a deficiência de
vitamina B12 e/ou de folato. As anemias megaloblásticas caracterizam-
-se por importante distúrbio bioquímico envolvendo a síntese de DNA,
responsável pelas manifestações patológicas e clínicas. Tanto os folatos
quanto a vitamina B12 são indispensáveis para a síntese de timidina, um
dos nucleotídeos que compõem o DNA. A síntese inadequada de DNA tem
como consequência modificações do ciclo celular, retardo da duplicação
e defeitos de reparo do DNA, sendo assim, há um aumento no número de
células com quantidade de DNA maior do que o normal, assim, os eritro-
blastos apresentam um núcleo maior e mais volumosos e são chamados de
megaloblastos. A hemácia ou o eritrócito resultante do megaloblasto é o
macrócito. As principais manifestações clínicas da deficiência de vitamina
B12 são as seguintes:

 fraqueza;
 dor na língua;
 parestesias.

Como as deficiências de vitamina B12 e de folatos afetam a síntese de


DNA e a divisão celular, além das alterações hematológicas, encontram-se
reações no epitélio em geral, principalmente no tubo digestivo, como ardência,
dor, e vermelhidão na língua. A perda de apetite e a esplenomegalia podem
ser achados clínicos. No hemograma, podemos interpretar as alterações ma-
crocíticas, evidenciadas pelos níveis de VCM aumentados (HOFFBRAND;
MOSS, 2018; ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2005).
Como em outras anemias, as anemias por deficiência de folato e de vitamina
B12 resultam de uma disparidade da disponibilidade e demanda nutricional.
As suas causas podem estar associadas aos seguintes fatores:
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 11

 menor ingestão de nutrientes;


 menor absorção intestinal;
 defeitos no transporte do metabolismo;
 aumento de excreção ou perdas e aumento das necessidades fisiológicas.

Análise e intepretação das alterações da série branca


O leucograma, que pode estar inserido no hemograma, fornece o número e a
contagem diferencial de leucócitos no sangue periférico e reflete clinicamente
o momento dinâmico na hora coleta. Nos adultos, os neutrófilos correspondem
a 60% dos leucócitos presentes, a 30% dos linfócitos, e a 10% das outras
células: eosinófilos, basófilos e monócitos (FAILACE, 2015).
Os neutrófilos originam-se na medula óssea, possuem meia-vida intra-
vascular curta de 8 horas e atuam na aderência ao germe, promovendo a sua
fagocitose e causando sua morte intracelular. A neutrofilia é definida como a
contagem absoluta de neutrófilos bastonetes somados aos segmentados aumen-
tados em número absoluto no sangue, considerando os limites de (1.500–7000
µ/L). O desvio à esquerda, que é quando o número de neutrófilos bastonados
é elevado no sangue, é um conceito presente nas interpretações laboratoriais.
Há neutrofilia em basicamente todas as doenças inflamatórias agudas e é
usual nas doenças inflamatórias crônicas. Na febre reumática, há neutrofilia
importante, como leucócitos de 13.000 a 20.0000 µ/L, com desvio à esquerda.
No lúpus eritematoso sistêmico, na artrite reumatoide e na doença de Chron,
há também presença de neutrofilia (FAILACE, 2015).
A neutropenia ou neutrocitopenia é a diminuição do número absoluto de
neutrófilos. É evidenciada quando a contagem global de neutrófilos (bastonados
+ segmentados) forem inferiores a 1.6000 µ/L. As neutropenias podem ser
classificadas da seguinte forma (FAILACE, 2015):

 menores — quando os níveis de neutrófilos variam de 1.000 a 2.000


µ/L, mas sem alterações hematológicas;
 agranulocitose — que é a neutropenia aguda, severa e passageira que
pode ter origem idiopática ou iatrogênica devido ao uso fármacos;
 neutropenias crônicas severas — estão presentes nas leucemias de
linfócitos grandes.

Os linfócitos podem dividir-se em T e B, com os seus respectivos subtipos.


Eles vivem longamente, circulam no sangue e localizam-se por prazo variável
nos órgãos linfoides, onde podem se ativar e se proliferar em resposta aos
12 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

estímulos imunológicos. A linfocitose é uma alteração dos linfócitos, carac-


terizada pelo aumento absoluto dos linfócitos no sangue, quando os valores
de referência fogem de 1.000 a 4.000µ/L. Essa alteração é caracterizada pela
diminuição do número de linfócitos no sangue com valores abaixo de 1.000µ/L
(FAILACE, 2015).
A linfopenia surge como acompanhante da neutrofilia das doenças inflama-
tórias e infecciosas graves, em situações agudas como a pneumonia e também
duráveis em situações como: após a radioterapia, no tratamento com drogas
imunossupressoras, no linfoma de Hodgkin, na síndrome da imunodeficiência
adquirida, na qual ocorre um decréscimo progressivo dos linfócitos T CD4+.
As linfocitoses em razão de uma reação à infecção, como nos casos de
infecções por citomegalovírus. toxoplasmose aguda, hepatite A, rubéola e
doenças hemorrágicas (FAILACE, 2015).
Existem alterações oriundas dos eosinófilos, dos basófilos e dos mastócitos,
que podem ser verificadas a seguir (FAILACE, 2015).

 Eosinofilia — é o aumento absoluto de eosinófilos, ultrapassando o


limite de referência de 500 µ/L. Faz parte da resposta imunológica às
parasitoses, como infecção por Ascaris lumbricoides, Necator ame-
ricanos, Ancylostoma duodenale e Strogyloides stercoralis, todos de
alta prevalência.
 Basofilia — é presente nas síndromes mieloproliferativas, como na
leucemia mieloide aguda (LMA), podendo haver basofilia maior do
que 4.000 µ/L. Muitos dos pacientes que possuem basofilia queixam-
-se de prurido.
 Monocitopenia — é incomum e confirma-se com um achado até 200
a 300 leucócitos. Na anemia aplástica, ocorre a monocitopenia, sendo a
anemia caracterizada pela produção insuficiente de células sanguíneas
pela medula óssea

Uma das principais alterações evidenciadas no leucograma e difundida na


prática clínica, é a detecção do desvio à esquerda. No processo de maturação
dos granulócitos, as células mais jovens imaturas ficam à esquerda, de maneira
que a maturação ocorre da esquerda para a direita. O desvio à esquerda é o
nome dado na clínica para a presença em maior quantidade de bastonetes e/ou
células imaturas (metamielócitos, mielócitos, promielócitos e mieloblastos) e
se evidencia em razão de uma resposta iniciada na medula óssea frente a uma
infecção aguda, sendo um importante alerta clínico. No Quadro 3, a seguir,
está presente um exame com desvio à esquerda para ilustração.
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 13

Quadro 3. Leucograma: alterações de desvio à esquerda

Células Valores anormais Valores de referência

Leucócitos 193,0 x 103/mm 3 3.100 a 11.000 mm3

Blastos 78% 0%

Promielócito 3% 3–12%

Mielócito 0% 2–3%

Metamielócitos 2% 0–3%

Bastonetes 5% 1–5%

Segmentados 8% 40–65%

Basófilo 1% 0,0–0,7%

Eosinófilo 1% 0,5–4%

Linfócito 1% 3–17%

Monócito 1% 0,5–15%

Fonte: Adaptado de Failace (2015).

Evidencia-se que, na presença de desvio à esquerda, o mielograma traz


a contagem de células na medula óssea com presença de células imaturas,
como explicitado no Quadro 3, com a presença de blastos em sua maioria.
Esses quadros são indicativos clínicos para o enfermeiro prever possíveis
complicações oriundas das alterações hematológicas.

Sistematização da Assistência de Enfermagem


nas alterações da série branca e vermelha
A SAE é uma metodologia que auxilia o enfermeiro a gerenciar o cuidado ao
paciente e se aplica por meio do processo de enfermagem (PE). Nas alterações
hematológicas da série branca e vermelha, a maioria tem uma sintomatologia
inespecífica ou nenhum sintoma aparente, diante disso o enfermeiro precisa
compreender que a análise laboratorial no sistema hematológico é a chave
para desvendar as anomalias celulares. O hemograma é um exame simples e
amplamente difundindo, e tm extrema importância para que os profissionais
14 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

de enfermagem apliquem os seus cuidados. Esse procedimento envolve uma


cadeia que perpassa a coleta do exame laboratorial e vai até o seu resultado
e suas respectivas implicações para o cuidado do paciente (HINKLE; CHE-
EVER, 2016).
A biópsia de medula óssea em pacientes com alterações hematológicas é
um dos procedimentos com os quais o enfermeiro está amplamente envolvido.
O profissional e sua equipe de enfermagem será responsável pelo preparo do
paciente, pelo acondicionamento desse material e pelo envio adequado. Sendo
assim, percebe-se que a enfermagem possui um papel importantíssimo no
processo diagnóstico desses pacientes (HINKLE; CHEEVER, 2016).
No que tange às alterações da série vermelha, as anemias, é importante
que o enfermeiro compreenda as manifestações clínicas associadas à doença e
seu curso patológico. Durante a coleta de dados e no exame físico, é comum o
enfermeiro encontrar alterações como fraqueza, fadiga, mal-estar generalizado,
palidez da pele e das mucosas (conjuntivas e mucosa oral). Verifica-se, por
exemplo, icterícia nos pacientes com anemia megaloblástica e a língua mais
avermelhada naqueles que possuem anemia ferropriva.
A história de saúde deve pautar o histórico medicamentoso, visto que
alguns medicamentos atuam na produção celular da medula óssea. Assim, é
necessário indagar sobre o consumo de álcool, com a quantidade e duração e
sobre as atividades físicas, e realizar uma avaliação nutricional pormenorizada,
já que nela podemos identificar deficiências de ferro, de vitamina B12 e de
ácido fólico e identificar vulnerabilidades sociais e suas implicações no padrão
alimentar desses pacientes (HINKLE; CHEEVER, 2016).
No exame físico, os pacientes com alterações na série vermelha podem
apresentar sinais como taquicardia, taquipneia, ortopneia e dispneia. Além
disso, pode ocorrer o desenvolvimento de complicações, como o surgimento
de insuficiência cardíaca, conforme evidenciado por cardiomegalia e espleno-
megalia. O sistema gastrintestinal é bastante afetado com evidência de náuseas
e vômitos, melena (sangue nas fezes) e fezes escuras. Há também alterações
neurológicas que os enfermeiros podem encontrar, especialmente nas anemias
aplásicas, como dormência periférica, ataxia e deficiência de coordenação.
Na literatura, existem diagnósticos de enfermagem elencados para esses
casos. Os principais são os seguintes (HINKLE; CHEEVER, 2016):

 fadiga;
 nutrição alterada menor do que as necessidades corporais;
 perfusão tissular alterada.
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 15

Os planos e as metas devem pautar a diminuição da fadiga, a obtenção ou


a melhoria da nutrição, a perfusão tecidual adequada e a melhoria na adesão
medicamentosa e terapêutica. A prescrição de enfermagem deve elencar as
intervenções que baseiam-se nas seguintes ações:

 administrar dieta adequada;


 administrar ferro e folato conforme as necessidades terapêuticas;
 verificar o padrão ventilatório desses pacientes;
 aplicar escala de consciência.

No que tange às alterações das células brancas, a neutropenia é a principal


alteração para a qual os enfermeiros elevam a sua atenção. Quando o paciente
possui neutropenia, está suscetível a infecções exógenas e endógenas, com
o risco de infecção aumentando de forma proporcional à diminuição dos
neutrófilos. Não há sintomas de neutropenia estabelecidos até que ocorra a
infecção, no entanto, existem grupos de pacientes aos quais profissionais de
enfermagem devem ficar alertas (HINKLE; CHEEVER, 2016).

Os pacientes com neutropenia não exibem sintomatologia. A febre é um indicador


clínico importante, mas em pacientes que utilizam corticosteroides, ela pode não
estar presente.

Os enfermeiros possuem papel crucial na avaliação da gravidade da neu-


tropenia, na prevenção das complicações e no seu tratamento. É necessária a
educação em saúde ao paciente, sobretudo no contexto da atenção primária.
O enfermeiro deve auxiliar esses pacientes e seus familiares no cuidado, na
explicação e na orientação para lidar com a doença. São orientações importantes
ao paciente (HINKLE; CHEEVER, 2016):

 identificar os sinais e sintomas da infecção;


 manter boa técnica de higiene das mãos e higiene corporal;
 evitar manter contato com fezes de gato e de outros animais;
16 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

 manter uma dieta hipercalórica e hiperproteica, com consumo de 3.000


mL de água por dia;
 evitar manter contato com pessoas com infecções e com multidões.

Na coleta de dados, o enfermeiro precisa compreender a origem da di-


minuição dos neutrófilos e as particularidades dos pacientes, por exemplo,
pacientes em quimioterapia e radioterapia no tratamento de câncer, pacientes
com infecções agudas e crônicas em uso de antibioticoterapia ou antirretroviral.
O exame físico deve ser minucioso e focar nos seguintes aspectos:

 presença de lesões de pele, como hematomas, drenagem e infecção em


sítios com dispositivos invasivos;
 cor da mucosa oral e se presença de alterações;
 alterações gastrintestinais e presença de náuseas, vômitos e distensão
abdominal.

A verificação da temperatura é um dos principais cuidados a esse pa-


ciente, sendo necessária a verificação de 4 em 4 horas por dia ou a cada visita
à unidade de saúde, e a monitoração dos exames laboratoriais (HINKLE;
CHEEVER, 2016).

Saiba mais sobre neutropenia em pacientes com câncer acessando o link a seguir.

https://qrgo.page.link/Nqt9a

Os pacientes com linfopenia, que é a diminuição dos linfócitos, podem


apresentar essa alteração em razão de doenças infeciosas. Existe também a
leucocitose, que é o aumento nos níveis de leucócitos na circulação sanguínea
e é evidenciada, principalmente, pelo aparecimento das leucemias. O cui-
dado de enfermagem ao paciente com leucemia é fundamental, em razão das
complicações oriundas do processo patológico da doença e do seu tratamento.
A fraqueza e a fadiga fazem parte dos sintomas diários que esses pacientes
sofrem, além da suscetibilidade a infecções causada pelo tratamento. A lite-
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 17

ratura apresenta diagnósticos de enfermagem frequentes nos pacientes com


linfopenia. São os seguintes (HINKLE; CHEEVER, 2016):

 Risco de infecção;
 Risco de integridade da pele alterada;
 Troca gasosa prejudicada;
 Dor aguda;
 Mucosas alteradas;
 Mobilidade física prejudicada;
 Risco de excesso de volume de líquidos.

As principais complicações que esses pacientes podem desenvolver é


infecção, sangramento, mucosite e depressão e ansiedade oriundas do trata-
mento. Quando o enfermeiro planeja as suas metas para esse paciente, deve
se pautar no controle da dor e na prevenção da mucosite e de outras infecções
oportunistas. A prescrição dos cuidados deve estar pautada nas seguintes
ações (HINKLE; CHEEVER, 2016):

 administração de analgesia adequada;


 administração de dieta rica em nutrientes conforme a prescrição médica;
 realização de higiene oral adequada para manejo de mucosite associada
à quimioterapia.

Sistematização da Assistência de Enfermagem:


caso clínico série branca e vermelha
As alterações concomitantes dos pacientes que possuem alterações da série
branca e vermelha não são incomuns e, em geral, evidenciam um quadro grave
de alteração no sistema hematopoético. No exemplo a seguir, está presente
um caso que evidencia o PE com esses pacientes.
Paciente do sexo masculino, 45 anos de idade, professor, residente na Zona
Urbana da cidade, deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) às 12
horas. Apresentou sangramento gengival, hematomas em membros e nódulos
no pescoço. Informa que, há 1 mês, vem notando o surgimento de manchas
roxas nas pernas e nos braços, sem relação com trauma ou com corte. Há 6
meses, ele percebe inchaço no pescoço. No início, eram apenas nas pernas e,
com o passar do tempo, foi acometendo outras partes do corpo. Nos últimos 4
dias, começou a apresentar gengivorragia e epistaxe, o que o levou a procurar
18 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

atendimento na UPA. Nega antecedentes familiares de manchas e de doenças


hematológicas.
Relata que dorme cerca de 8 horas por noite, mas refere sentir-se com sono
durante o dia. Realiza atividade física duas vezes na semana e apresenta cansaço
eventual. Alimenta-se três vezes ao dia com diversidade de nutrientes. Tem
ingestão hídrica de, aproximadamente, 3 litros/dia. Eliminações vesicais e intes-
tinais normais. Ao exame físico apresentou-se lúcido, orientado, comunicativo,
hipocorado (+++/+4), com fadiga. Ventilando em ar ambiente. Verificam-se
nódulos palpáveis bilaterais na área cervical, sangramento gengival, mucosite
oral, com presença de edema e lesões ulcerativas secreções purulentas. Pele
com presença de diversas equimoses pelo corpo, com até 10 cm de diâmetro
em membros superiores e inferiores. Bulhas normofonéticas em dois tempos
e sem sopros (BNF2T SS), abdome normotenso, ruídos hidroaéreos presentes.
Eliminações vesicais e intestinais espontâneas. Extremidades aquecidas e
perfundidas. Apresentou os seguintes sinais vitais:

 pressão arterial (PA) — 125x85 mmHg;


 frequência cardíaca (FC) — 88 bpm;
 frequência respiratória (FR) — 16 ipm;
 temperatura (T) — 37,1ºC.

Foram solicitados hemograma e coagulograma. Em resultado laboratorial,


percebem-se alterações laboratoriais apresentadas no Quadro 4.

Quadro 4. Alterações laboratoriais do paciente do caso clínico

Laboratorial Valores Valores de referência

Hemoglobina 9,0 12,8–17,8 g/dL

VCM 83 80–98 fL

HCM 25 27–33 pg

Linfócitos 90% 42–53%

Monócitos 4% 1–7%

Reticulócitos 9% 0,5–1,5%

Fonte: Adaptado de Hoffbrand e Moss (2018).


Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 19

A presença elevada de linfócitos na punção de medula óssea é indicativa


de leucemia linfocítica crônica, evidenciando invasão de linfócitos na me-
dula. A anemia hemolítica está evidenciada no hemograma, com reticulócitos
aumentados.
A partir do caso apresentado, o enfermeiro elencou os diagnósticos, resul-
tados e intervenções de enfermagem demonstrados no Quadro 5.

Quadro 5. Diagnósticos, planejamentos e intervenções de enfermagem para o caso clínico

Diagnóstico de Planejamento Intervenção de


Aprazamento
enfermagem de enfermagem enfermagem

Integridade da Propiciar a Monitorar o 8, 14, 20 e


pele prejudicada recuperação tamanho do 24 horas
relacionada adequada da pele hematoma
à alteração
Administrar SN
no volume
derivados de
de líquidos e
sangue para
evidenciado por
transfusão,
hematomas
conforme
prescrição médica

Orientar o 8, 14, e 20
paciente sobre horas
os sinais de
sangramento
(pulso fraco e
rápido, palidez e
cansaço, queda
na pressão e
náuseas e vômitos
com sangue)

Monitorar testes 8, 14, e 20


de coagulação horas
e níveis de
hematócrito e de
hemoglobina

(Continua)
20 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

(Continuação)

Quadro 5. Diagnósticos, planejamentos e intervenções de enfermagem para o caso clínico

Diagnóstico de Planejamento Intervenção de


Aprazamento
enfermagem de enfermagem enfermagem

Integridade da Propiciar a Monitorar a SN


pele prejudicada recuperação ocorrência de
relacionada adequada da pele sinais e sintomas
à alteração de sangramento
no volume persistente
de líquidos e (verificar
evidenciado por secreções e se
hematomas há sangue vivo)

Manter colchão 8, 14, e 20


piramidal para horas
minimizar
traumas à pele

Integridade Prevenir Realizar 8, 14 e 20 horas


da membrana complicações e higiene oral
mucosa oral evitar infecção
Aplicar SN
prejudicada
anestésicos locais
relacionada a
e analgésicos
estressores e
tópicos, conforme
evidenciada
prescrição médica
por lesão oral
Orientar o 8, 14, e 20
paciente a realizar horas
a higiene oral
com escovas
macias, sem
fricção intensa e
com enxaguatório
bucal

Acompanhar o 8, 14, e 20
paciente durante horas
a higiene oral,
auxiliando-o,
se necessário

(Continua)
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 21

(Continuação)

Quadro 5. Diagnósticos, planejamentos e intervenções de enfermagem para o caso clínico

Diagnóstico de Planejamento Intervenção de


Aprazamento
enfermagem de enfermagem enfermagem

Fadiga Controle da fadiga Orientar o SN


relacionada a paciente a manter
estressores e repouso no
evidenciada por leito, conforme
padrão de sono preferência
não restaurador
Avaliar alterações 8, 14, e 20
e por cansaço
da cor da pele, horas
se está azulada
ou se tem palidez
na conjuntiva e/
ou leito ungueal
(parte abaixo
das unhas)

Monitorar 8, 14,20, 2,
a resposta 8 horas
cardiorrespiratória
a atividades
(taquicardias,
dispneia,
sudorese, palidez
e frequência
respiratória)

Monitorar exames 8, 14, e 20


laboratoriais horas
(hemograma)

Monitorar 8, 12, 16 e
a ingestão 20 horas
nutricional para
garantir recursos
energéticos
adequados
22 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

Cuidados na anemia de acordo com


a Sistematização da Assistência
de Enfermagem
A aplicação da SAE ocorre por meio do PE, que é o instrumento metodo-
lógico, privativo do enfermeiro, e que orienta o cuidado de enfermagem e
a documentação da prática profissional. Possui as seguintes etapas inter-
-relacionadas e interdependentes (GARCIA, 2016):

 coleta de dados ou histórico de enfermagem;


 diagnósticos de enfermagem;
 planejamento de enfermagem;
 implementação de enfermagem;
 avaliação de enfermagem.

A implementação de cuidados aos pacientes com anemia é variável em


razão da variabilidade de anemias que se apresentam, assim, faz-se necessário
ilustrar os principais cuidados de enfermagem a esses pacientes, conforme a
etiologia da anemia (HINKLE; CHEEVER, 2016).
Nas anemias, em geral, preconizam-se cuidados associados às manifes-
tações clínicas mais recorrentes nesses pacientes, como a fadiga oriunda de
transporte de oxigênio tecidual inadequado e evidenciada pelas dificuldades
em realizar atividades diárias. Deve ser realizada a manutenção da nutrição
adequada com alimentos ricos em ferro e proteína e a manutenção da perfusão
e dos líquidos, principalmente nos casos de hemólise, a partir de infusões
volêmicas e transfusões e da adesão terapêutica dos pacientes ao tratamento.
No Quadro 6 estão descritas as principais anemias e os cuidados de enfer-
magem mais relatados na literatura científica (HINKLE; CHEEVER, 2016).
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 23

Quadro 6. Cuidados de enfermagem nas anemias

Anemias Cuidados de Enfermagem

Anemia  Aconselhar o paciente a manter uma dieta saudável e


ferropriva rica em ferro, com alimentos como feijão, carnes e suco
de laranja.
 Orientar sobre o uso da suplementação de ferro, com
ingestão 1 hora antes das refeições.
 Administrar o ferro intramuscular, quando recomendado
e prescrito.

Anemia  Orientar o paciente sobre a terapia imunossupressora e a


aplásica importância de tomar a medicação conforme a prescrição.
 Monitorar os efeitos colaterais, orientado os pacientes
sobre os estágios do tratamento e seus efeitos colaterais.

Anemias  Atentar para possíveis dificuldades de realização das ati-


megaloblásticas vidades de vida diária.
 Avaliar a pele, as mucosas e a língua, visto que, na anemia
megaloblástica, há presença de icterícia e de perda de
pigmentação da pele.

Anemias  Verificar a temperatura corporal, em razão da associação


hemolíticas da hemólise com a presença de febre.
 Identificar sintomatologia de crise falciforme (dor aguda
nas articulações).
 Administrar transfusões de sangue, conforme a prescrição
médica.
 Administrar analgésicos conforme apropriado.
 Instruir o paciente acerca da doença e sua base genética.

Fonte: Adaptado de Hinkle e Cheever (2016).


24 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

Entre as anemias, a falciforme vem sendo estudada cada vez mais na enfer-
magem, visto os cuidados peculiares de uma anemia crônica, ou seja, de um
paciente que irá viver com as complicações pelo resto da vida. O Brasil possui
uma frequência desse tipo de anemia considerável, estima-se que de 5 a 6% da
população tenha a anemia falciforme. Esses dados nos alertam e evidenciam
a necessidade do olhar do profissional de enfermagem para essa doença (OLI-
VEIRA, 2019). A seguir, será apresentado um caso clínico de anemia falciforme
para compreensão da aplicação da SAE nos cuidados ao paciente com anemia.

A anemia falciforme é a doença hereditária monogênica mais comum no Brasil, ocorre


de forma predominante em afrodescendentes. Sua importância clínica é tão relevante
que, em nosso País, a inclusão da eletroforese de hemoglobina na triagem neonatal
já é uma realidade (CANÇADO; JESUS, 2007).

Sistematização da Assistência de enfermagem: caso


clínico anemias
Paciente do sexo masculino, 40 anos de idade, agricultor, residente na Zona
Rural da cidade, deu entrada na emergência do hospital, às 14 horas, apre-
sentando dor em membros inferiores há 3 dias. Paciente refere que, há 3 dias,
começou a sentir dores osteomusculares intensas. No início, elas cediam com
dipirona e paracetamol; no entanto, nos últimos dias, as dores se intesificaram,
não cedendo com os medicamentos que ele possuía em casa. Informa que seu
pai, falecido, tinha dores intensas em membros também e faleceu por doença
cardíaca. Relata ser tabagista há 15 anos; dorme cerca de 8 horas por noite.
Realiza atividade física duas vezes na semana e apresenta cansaço eventual.
Alimenta-se três vezes ao dia e tem ingestão hídrica de, aproximadamente, 3
litros/dia. Eliminações vesicais e intestinais normais.
Ao exame físico, o paciente apresenta-se lúcido, orientado, comuni-
cativo. Ventilando em ar ambiente. Hipocorado +2/+4. Palidez cutânea em
extremidades. BNF2T SS. Abdome normotenso, ruídos hidroaéreos presentes.
Eliminações vesicais e intestinais espontâneas. Extremidades com perfusão
diminuída. Dor grau 7 em escala numérica verbal à palpação em membros
inferiores. Apresentou os seguintes sinais vitais:
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 25

 PA — 130x80 mmHg;
 FC — 115 bpm;
 FR — 18 ipm;
 T — 36,4oC.

Foram solicitados hemograma e leucograma. O resultado do hemo-


grama confirma que o paciente possui anemia com hemoglobina de 6,2
g/dL, leucócitos aumentados em 14.800 e hemácias em forma de foice
em grande quantidade, sendo diagnosticado com anemia falciforme, em
crise falciforme.
A partir do caso apresentado, o enfermeiro elencou os diagnósticos,
resultados e intervenções de enfermagem ao paciente do caso clínico
(Quadro 7).

Quadro 7. Cuidados de SAE ao paciente do caso clínico

Diagnóstico de Planejamento Intervenção de


Aprazamento
enfermagem de enfermagem enfermagem

Dor aguda Controle da dor Aplicar escala SN


relacionada numérica de dor
a agente quando ocorrer a
biológico lesivo queixa e identificar
e evidenciado a localização,
por autorrelato duração e o que
da intensidade agrava a dor,
de dor usando registrar o horário
instrumento e comunicar
padronizado de
dor e alterações Administrar SN
no parâmetro analgésicos, anti-
fisiológico inflamatórios e
opioides conforme
prescrição médica

Informar e anotar 8, 10, 12, 14, 16,


se a frequência 18, 20, 24, 2, 4,
cardíaca do maior 6 e 8 horas
do que 100 bpm e
se a pressão arterial
for maior do que
130x80 mmHg

(Continua)
26 Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias

(Continuação)

Quadro 7. Cuidados de SAE ao paciente do caso clínico

Diagnóstico de Planejamento Intervenção de


Aprazamento
enfermagem de enfermagem enfermagem

Dor aguda Controle da dor Aplicar escala SN


relacionada numérica de dor
a agente quando ocorrer a
biológico lesivo queixa e identificar
e evidenciado a localização,
por autorrelato duração e o que
da intensidade agrava a dor,
de dor usando registrar o horário
instrumento e comunicar
padronizado de
dor e alterações Administrar SN
no parâmetro analgésicos, anti-
fisiológico inflamatórios e
opioides conforme
prescrição médica

Informar e anotar 8, 10, 12, 14, 16,


se a frequência 18, 20, 24, 2, 4,
cardíaca do maior 6 e 8 horas
do que 100 bpm e
se a pressão arterial
for maior do que
130x80 mmHg

Perfusão tissular Perfusão tissular Informar e anotar 8, 10, 12, 14, 16,
periférica periférica se o pulso tibial for 18, 20, 24, 2, 4,
ineficaz menor do que 60 6 e 8 horas
relacionada ao bpm e a pressão
tabagismo e arterial sistólica
evidenciada por em tornozelos
alterações das for menor do
características que 90 mmHg
da pele e da cor
da pele pálida Verificar a 7, 13 e 19 horas
na elevação presença de
do membro cianose periférica
(cor azulada nas
extremidades)

Monitorar 8, 14 e 20
resultados horas
laboratoriais
(hemograma)
Alterações do sistema hematopoético: série vermelha, série branca e anemias 27

CANÇADO, R. D.; JESUS, J. A. A doença falciforme no Brasil. Revista Brasileira de He-


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HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-
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