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CONCESSÃO E PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Prof. Edilson

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Relata a doutrinadora Odete Medauar1 que o instituto da concessão surgiu no século XIX
na Europa e foi utilizada principalmente na França, via de regra quando os serviços exigiam grandes
investimentos e pessoal técnico especializado. Como o Estado, na maioria das vezes, não dispunha
de recursos suficientes, fazia uso da concessão, a qual tinha como característica um contrato de
longo prazo como forma de oportunizar ao concessionário o retorno do investimento. Investimento
este geralmente de elevada monta.
2. FUNDAMENTO LEGAL
I - CF - ART. 175, CAPUT: Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

II - Lei 8.987/1995: Trata do regime de concessão e permissão da prestação de serviços


públicos.
III - Lei 9.074/1995: Estabelece normas prorrogações das concessões e permissões de
serviços públicos, mais especificamente dos serviços de energia elétrica;
IV - Lei 11.079/2004: Instituiu as normas gerais para licitação e contratação de parceria
público-privada-PPPs, e a concessão especial de serviço público, nas modalidades de concessão
patrocinada e concessão administrativa.
3. MODALIDADES DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
I - Concessões comuns: Reguladas pela Lei 8.987/1995. Se subdividem em:
a) Concessões de serviço público simples (art. 2°, II); e

b) Concessões de serviço público precedidas da execução de obra pública (art.


2°, III).
II - As concessões especiais são reguladas pela Lei 11.079/2004. Se subdividem
em:
a) Concessões patrocinadas (art.2°, § 1°); e
b) Concessões administrativas (art. 2°, § 2°).
3.1. Concessão de serviços públicos simples (comum ou tradicional)
Art. 2°, II da Lei 8.987/1985:
II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder
concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica
ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por
sua conta e risco e por prazo determinado;
Exemplo: Concessão para prestação de serviço de transporte público municipal.
3.2. Concessão de serviço público precedido de execução obra pública
Art. 2°, III da Lei 8.987/1985:

III - concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a


construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou
melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder
concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa
jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua
realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária
seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por
prazo determinado;

1 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 14ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1996, p. 332.
Exemplo: Construção, ampliação e manutenção de rodovias onde se cobram pedágios.
3.3. Licitação
Na modalidade de concorrência onde serão adotados os seguintes critérios de julgamento
(arts. 2º, II e III, e 15 da Lei 8.987/1995):
a) o menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado;
b) a maior oferta, nos casos de pagamento ao poder concedente pela outorga da
concessão;
c) a combinação dos critérios menor valor da tarifa, maior oferta e melhor oferta de
pagamento;
d) melhor proposta técnica, com preço fixado no edital;
e) melhor proposta em razão da combinação dos critérios de menor valor da tarifa do
serviço público a ser prestado com o de melhor técnica;
f) melhor proposta em razão da combinação dos critérios de maior oferta pela outorga
da concessão com o de melhor técnica; ou
g) melhor oferta de pagamento pela outorga após qualificação de propostas técnicas.
Observação: O edital poderá prever a inversão de fases de habilitação e julgamento do
procedimento licitatório (art. 18-A)
3.4. Encargos do concedente (art. 29)
a) regulamentar o serviço concedido e fiscalizar permanentemente a sua
prestação;
b) aplicar penalidades regulamentares e contratuais;
c) intervir na prestação do serviço, nos casos e condições previstos em lei;
d) extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei e na forma prevista no
contrato;
e) homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das
normas pertinentes e do contrato;
f) zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e solucionar queixas e
reclamações dos usuários, que serão cientificados, em até trinta dias, das
providências tomadas; etc
3.5. Encargos da concessionária (art. 31)
a) prestar serviço adequado, na forma prevista na Lei, nas normas técnicas
aplicáveis e no contrato;
b) prestar contas da gestão do serviço ao poder concedente e aos usuários,
nos termos definidos no contrato;
d) cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e as cláusulas contratuais da
concessão;
e) captar, aplicar e gerir os recursos financeiros necessários à prestação do
serviço.
3.6. Prazo da concessão
Prazo máximo da concessão, incluído eventual prorrogação, é de até trinta e cinco
anos (art. 1°, § 2° da Lei 9.074/1995, c/c o art. 5°, I da Lei 11.079/2004)
3.7. Extinção da concessão (art. 35)
a) advento do termo contratual (art. 35): É o termo final do contrato, sendo este a forma
natural de extinção da concessão;
b) encampação ou resgate (art. 37): É a retomada do serviço pelo poder concedente
durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa
específica e após prévio pagamento da indenização, sem inadimplemento por parte do
concessionário.
c) caducidade (art. 38): Se dá por inadimplemento total ou parcial do concessionário.
São exemplos:
I - Serviço prestado de forma inadequada ou deficiente;
II - Descumprimento das cláusulas contratuais;
III - Paralisação do serviço, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso
fortuito ou força maior;
IV - Perder as condições econômicas, técnicas ou operacionais para manter
a adequada prestação do serviço concedido;
V - Não cumprir as penalidades impostas por infrações, nos devidos prazos;
VI - Não atender a intimação do poder concedente no sentido de regularizar a
prestação do serviço; e
VII - Condenação em sentença transitada em julgado por sonegação de
tributos, inclusive contribuições sociais.
Observação: A caducidade obrigatória ocorre quando há subdelegação sem autorização.
d) rescisão: Por iniciativa da concessionária, no caso de descumprimento das normas
contratuais pelo poder concedente, mediante ação judicial especialmente intentada para esse fim,
deixando de prestar o serviço após uma decisão judicial, transitada em julgado (arts. 38 e 39);
e) anulação: Em decorrência de vicio de legalidade. A anulação pode vir de decisão
administrativa em razão do poder de autotutela ou por decisão judicial;
f) falência: Não só a falência, mas também o falecimento ou incapacidade do titular, no
caso de empresa individual (art. 35, VI).
3.8. Reversão
A reversão nada mais é do que a transferência dos bens do concessionário para o
patrimônio do poder concedente em razão da extinção do contrato (art. 35, § 1°, I).
Celso Antônio Bandeira de Mello2 cita como exemplos, “locomotivas, vagões, trilhos,
estações de desembarque, diques, cais portuários de embarque e desembarque e dragas
marítimas”.
3.9. Controle
Nos dias de hoje, via de regra o controle se dá pelas agências reguladoras, cujo objetivo
consiste na regulamentação e controle sobre os serviços prestados por concessão.
3.11. Responsabilidade das concessionárias (art. 37, § 6º da CF)
O STF decidiu que “a responsabilidade das concessionárias e permissionárias de serviço
público, no que se refere aos danos causados a terceiros, será de natureza objetiva, mesmo que o
dano tenha prejudicado terceiro não usuário daquele serviço público (informativo 557)”.
Observação: O poder concedente não responde de forma solidária, mas de forma subsidiária.
4. PARCERIAS PUBLICO-PRIVADAS - PPP’s (Lei 11.079/2004)
Art. 2º Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade
patrocinada ou administrativa.
I - Concessão patrocinada (art. 2°, § 1º da Lei 11.079/2004):
Art. 2°
(...)
§ 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de
que trata a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à
tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro
privado.
Observação: A contraprestação poderá se dar da seguinte forma: ordem bancária, cessão de
créditos não tributários, outorga de direitos em face da administração pública, outorga de direitos
reais sobre bens públicos dominicais e outros meios admitidos em lei.
Exemplo: Concessão de rodovias, semelhante às concessões comuns, entretanto, de fluxo
pequeno de veículos, impossibilitando o investimento exclusivo do setor público ou da iniciativa
privada.

2Op. cit.p.342.
II - Concessão administrativa (art. 2°, § 2º da Lei 11.079/2004):
Art. 2°
(...)
§ 2º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a
Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução
de obra ou fornecimento e instalação de bens.
Observação: Não é admitindo remuneração pelo usuário, pois o pagamento da obra ou serviço é
efetuado diretamente pela concedente.
Exemplos: Administração de hospitais (Hospital do Subúrbio (HS) em Salvador), presídios
(Complexo Prisional de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais), etc.
4.1. Características
I - É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada cujo valor do contrato
seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) e que tenha como objeto único o
fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra
pública (art. 2°, § 4°, incs. I e III);
II - Indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de
polícia e de outras atividades exclusivas do Estado (art. 4°, III);
III - Prazo de vigência do contrato não inferior a 5 (cinco), nem superior a 35 (trinta e
cinco) anos, incluindo eventual prorrogação (art. 5°, I).
4.2. Licitação (arts 10 a 13)
A contratação das PPP’s será precedida de licitação na modalidade de concorrência (art.
10).
Observação: No caso de concessão patrocinada, onde a Administração Pública pague ao parceiro
mais de 70% da remuneração, dependerá de legislação específica (art. 10§ 3°).
5. PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
A Lei 8.987/1995 refere-se a permissão no artigo 2º, inciso IV, e no artigo 40.

Art. 2°
(...)
IV - permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante licitação, da
prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica
que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada mediante contrato de adesão,
que observará os termos desta Lei, das demais normas pertinentes e do edital de licitação,
inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder
concedente.
Observação: A permissão por ser ato precário, pode ser revogada de forma unilateral pelo poder
concedente, sem indenização ao permissionário.
5.1. Responsabilidade civil das permissionárias
Tal como ocorre com as concessionárias, as permissionárias respondem de forma
objetiva pelos eventuais danos causados ao poder concedente e a terceiros (art. 37, § 6º, da CF).

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