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Prof.

Paulo Afonso de Oliveira Junior


Importante o estudo da aquisição da posse, pois como
já sinalizamos, é através da determinação do início da
posse que se poderá verificar se a mesma contém
algum vício, se é uma posse nova ou velha ou mesmo
a verificação do prazo para o usucapião.

Adotando a teoria de Ihering, o legislador brasileiro


determinou o modo de aquisição da posse:

Art. 1204

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Segundo doutrina a aquisição da posse poderá se dar de modo
originário ou derivado.

Chamamos de aquisição originária a posse adquirida sem


vínculo com o possuidor anterior, é o caso do esbulho quando da
cessação do vício. Nesta modalidade teremos a aquisição da
posse por:
apreensão da coisa;
exercício do direito;
disposição da coisa ou do direito.

Chamamos de aquisição derivada da posse quando houver


concordância em sua transmissão pelo antigo possuidor. Nesta
modalidade teremos a aquisição pela:
tradição;
e pela sucessão.

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• Aquisição originária por apreensão da coisa

Acontece a aquisição da posse originária por


apreensão quando alguém toma unilateralmente para
si a coisa abandonada (res derelicta) ou sem dono (res
nullius).

Também será considerada adquirida a posse por


apreensão, quando alguém retira a coisa de outrem
sem sua permissão, mas este não toma providências
para fazer cessar a violência ou a clandestinidade.

As coisas móveis consideram-se apreendidas pela


transferência à área de influência do possuidor e os
imóveis por sua ocupação e uso.

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• Aquisição originária pelo exercício do direito

Se a aquisição da posse originária por apreensão


é em regra para as coisas propriamente ditas, a
aquisição originária pelo exercício do direito será
para os direitos reais sobre coisas alheias, como o
uso e as servidões por exemplo.

Adquire a posse pelo exercício do direito aquele


que faz passar águas em terreno alheio sem a
oposição de seu proprietário (servidão de água)
ou ainda o locatário que adquiri a posse pelo
exercício do direito de locação.
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• Aquisição originária por disposição da coisa ou
do direito

Nenhum direito inerente a propriedade é tão


forte quando o direito de se dispor do bem.
Aquele que dispõe de sua posse, através da venda,
do comodado ou mesmo dos direitos reais
menores, indiscutivelmente está exercendo sobre
o bem um dos poderes da propriedade.

Se dúvidas houvesse a respeito da aquisição da


propriedade, com o ato de disposição a mesma
não deve mais persistir.
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• Aquisição derivada por tradição

Como já falamos a tradição nada mais é que a entrega da


coisa. É geralmente a forma mais comum de aquisição da
posse.

Tradição real: há entrega efetiva e material da coisa na


intenção de se transmitir a posse.
Tradição simbólica: quando mesma não sendo entregue a
coisa propriamente dita, a um ato que simboliza a sua
entrega, como as chaves do apartamento ou do carro.
Tradição ficta: (cláusula constituti) há a transferência do
domínio da coisa, e o transmitente permanece em poder
da coisa a outro título, como usufrutuário ou locatário.
(traditio brevi manu) modalidade de
tradição ficta que se dá quando o detentor da posse direta
adquiri o domínio da coisa concentrando também em suas
mãos a posse indireta.

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• Aquisição derivada por sucessão

A aquisição derivada por sucessão poderá


acontecer entre vivos ou causa mortes.

Art. 1206
Art. 1207

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Pessoas que podem adquirir a posse
Art. 1205

• A própria pessoa que a pretende ou seu representante

O representante pode ser legal, judicial ou convencional.


Ex: Pais em favor dos filhos
Inventariante em favor dos herdeiros
Mandatário investido para o negócio

A questão da capacidade civil para aquisição da posse é


ponto controverso na doutrina, havendo aqueles que
acreditam em sua necessidade sob o fundamento que a
posse exige existência de vontade. Outros, baseados na
posse como um fato crêem que a posse pode ser adquirida
pelos menores. Posse natural X posse civil.

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• Gestor de negócios

A hipótese de aquisição da posse do inciso II do


art. 1205, traz a figura do gestor de negócios (art.
861 s) que não necessita de mandado exclusivo,
mas o início desta modalidade de posse só se dá
com a ratificação.

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Perda da Posse

Assim como o cc de 2002 não mais enumera os


meios de aquisição da posse, também não o faz
para os meios de sua perda, consignando apenas
que perde a posse quem não mais exerce poderes
de dono sobre a coisa

Art. 1223
art. 1224

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• Abandono

É a manifestação expressa ou tácita do possuidor que


não quer mais a coisa.
Ex: Aquele que atira coisa móvel à rua
Aquele que abandona imóvel

Tudo observando a destinação econômica do bem


Ex: Casa de praia
Navio naufragando

No abandono a efetivação da perda da posse só ocorre


quando outra pessoa passa a possuir a coisa.

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• Tradição

É a intenção do possuidor de entregar a coisa a


outrem, seja pela doação ou compra e venda.

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• Perda da coisa

Ocorre quando o possuidor perde a coisa contra


sua vontade, diferentemente do abandono.
Ex: Pássaro que foge da gaiola
Celular esquecido no banco de praça

Nesta modalidade, a perda da posse só se efetiva


quando não há mais possibilidade de se
reencontrar a coisa.

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• Destruição da coisa

Perde a posse aquele que tem a coisa destruída.

Não existindo mais o bem não é possível exercer


sobre ele a posse.

Ex: Morte de um animal


Imóvel demolido

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• Pela posse de outrem

Mesmo contra a vontade do possuidor sua posse


pode ser esbulhada, devendo este tomar medidas
para se reintegrar na posse sob pena de perdê-la
em definitivo com a transformação da posse
injusta em posse justa frente a terceiros.

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Efeitos da Posse

• Proteção possessória
• Percepção dos frutos
• Responsabilidade pela deterioração ou perda da
coisa
• Indenização pelas benfeitorias e do direito de
retenção
• Usucapião

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• Proteção possessória
Legítima defesa (para manter)
Desforço imediato (para restabelecer)
§ 1º art. 1210

Ações possessórias (Interditos possessórios)


Manutenção
Reintegração
Interdito Proibitórios

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Manutenção e Reintegração

Art. 560 CPC

Requisitos para as ações


Art. 561 CPC
• Posse
• Turbação ou esbulho
• Data da turbação ou esbulho
• Continuação ou perda da posse

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Petição Inicial - Art. 555 NCPC

Caso comum é a ocupação de uma única área por


muitas pessoas, já tendo decidido o STJ que é
perfeitamente possível nestes casos impetrar ação das
ações possessórias contra os ocupantes do terreno
sem individualização, devendo o oficial de Justiça
identificar alguns (geralmente os líderes da
ocupação) por ocasião da citação.

O novo código de processo civil traz previsão a este


respeito nos parágrafos do art. 554.

A lei não determina especificamente qual seria o


valor de causa das ações possessórias, mas aplica-se a
regra do inciso IV do art. 292 NCPC.

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Concessão da liminar –Art 562 NCPC

Recurso contra a decisão que concede ou denega


a liminar é o agravo por instrumento.

Quando concedida a liminar de manutenção ou


reintegração a mesma será cumprida pelo oficial
de justiça. Geralmente dá-se prazo para a saída
voluntária, que não ocorrendo, utilizar-se-á força
policial para restabelecer o estado anterior da
posse (statu quo ante).

Contestação – art. 564 NCPC

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Interdito Proibitório

Art. 567 NCPC

Requisitos para as ações


• Posse atual do autor
• Ameaça de turbação ou esbulho pelo réu
• Justo receio de ser concretizada a ameaça

É possível a transformação da ação do interdito proibitório


em ação de manutenção ou reintegração, caso a turbação
ou o esbulho se concretize no curso do processo.

É possível a concessão de liminar também na ação do


interdito proibitório, o que não era permitido no código de
1916

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Ações correlatas aos interditos possessórios

Como já estudado, as ações possessórias são a


manutenção, reintegração e os interditos
proibitórios, no entanto, existem outras ações
que podem ser utilizadas pelo possuidor.

• Ação de imissão na posse


• Ação de nunciação de obra nova (art. 934
CPC/73)
• Embargos de terceiro (art 674 CPC)

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• Percepção dos frutos

Os frutos devem pertencer ao dono da coisa como


acessórios que são. Art. 92

Art. 1214
1215
1216

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Classificação dos frutos

Quanto à origem:
Naturais – que renovam pela força da natureza
Industriais – são os que surgem pela atuação do
homem
Civis – rendas produzidas pela coisa

Quanto ao estado
Pendentes – enquanto unidos a coisa que o produziu
Percebidos – depois de separados, colhidos
Estantes – separados e armazenados para venda
Percipiendes – os que deveriam ser, mas não foram
colhidos
Consumidos – Os que já colhidos foram consumidos

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• Responsabilidade pela deterioração ou perda da coisa

O possuidor de boa-fé não tem responsabilidade


sobre a deterioração da coisa, a não ser que se prove
dolo.
Art. 1217

Já o possuidor de má-fé terá dever de indenizar


mesmo que a coisa pereça por força maior, a não ser
que prove que a coisa pereceria mesmo que estivesse
com o antigo possuidor.
Art. 1218

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• Indenização pelas benfeitorias e do direito de
retenção

Vamos Recordar:

Benfeitorias necessárias: Tem por finalidade


conservar o bem ou evitar que ele se deteriore.
Benfeitorias úteis: as que aumentam ou facilitam o
uso do bem.
Benfeitorias voluptuárias: são as que somente
embelezam o bem, o torna mais luxuoso, geralmente
de caráter recreativo.

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Mas uma vez para a questão da necessidade ou não de
indenização pelas benfeitorias, nosso código civil, cria
regras distintas para o possuidor de boa-fé e o de má-fé.

O possuidor de boa-fé - art. 1219

Direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e


úteis.
Direito de retirar as benfeitorias voluptuárias se não lhe
forem pagas e se não danificar o bem.
Direito de retenção da coisa pelas benfeitorias necessárias
e úteis.

O possuidor de má-fé – art. 1220

Terá direito exclusivamente de ser indenizado pelas


benfeitorias necessárias.

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É claro que nas medidas de proteção da posse,
pode-se apurar créditos e débitos tanto em favor
do autor quando do réu, por isso mesmo nossa
legislação textualmente consigna que estes
créditos e débitos podem se compensar.

É claro que as benfeitorias só serão indenizáveis


se ao tempo da mudança da posse, estas ainda
existirem.

Art. 1221

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Para a apuração do valor das indenizações pelas
benfeitorias teremos as regras do art. 1222

Tal dispositivo fazia mais sentido na vigência do


CC 1916, quando dos períodos de variação
inflacionária instável pelo qual passou o país.

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O direito de retenção

O possuidor de boa-fé ainda terá o chamado


direito de retenção que constitui na autorização
legislativa de reter a coisa consigo até o
pagamento das benfeitorias necessárias e úteis,
conforme parte final do art. 1219.

O possuidor de má-fé não goza deste direito, nem


mesmo frente a indenização pelas benfeitorias
necessárias que terá direito por força do art. 1220.

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Para haver o direito de retenção doutrina
enumera os seguintes requisitos:

Detenção legítima da coisa que tenha o dever


de restituir.
Crédito do detentor , exigível.
Relação de conexidade.
Inexistência de exclusão convencional ou
legal do exercício de retenção.

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O direito de retenção poderá ser alegado em
contestação nas ações possessórias ou mesmo em
execução de título extrajudicial para entrega de
coisa certa.

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• Usucapião

A usucapião também é listado pela doutrina como


efeito da posse, segundo Rosenvald, o mais
importante efeito da posse, pois é através dela que o
possuidor transforma sua situação fática em
propriedade.

Vale lembrar que nem toda posse tem efeito


usucapienda.
Posse "ad interdicta" X posse "ad usucapionem"

Como a usucapião é colocada em nosso CC como


meio de aquisição da propriedade, a estudaremos por
ocasião do estudo da propriedade.

Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.


Bibliografia Consultada

 Diniz, Maria H. Manual de direito civil. Disponível em: Minha


Biblioteca, (4th edição). Editora Saraiva, 2022.
 Gagliano, Pablo, S. e Rodolfo Mario Veiga Pamplona Filho. Novo Curso
de Direito Civil - Direitos Reais - Vol. 5. Disponível em: Minha
Biblioteca, (4th edição). Editora Saraiva, 2022.
 Goncalves, Carlos R. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. v.5.
Disponível em: Minha Biblioteca, (18th edição). Editora Saraiva, 2023.
 LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil Volume 4 - Coisas. Disponível em:
Minha Biblioteca, (7th edição). Editora Saraiva, 2021.
 TARTUCE, Flávio. Direito Civil : Direito das Coisas. 15ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2023.

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