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O réu havia sido absolvido na primeira instância, mas caso foi parar na mais alta Corte após recursos
apresentados pela acusação.
A ministra Cármen Lúcia, do STF, absolveu um assistido da Defensoria Pública de Minas Gerais acusado
de furtar galinhas.
O caso aconteceu em setembro de 2019 na cidade de Bambuí, na região Centro-Oeste do Estado.
O homem foi denunciado pelo furto de quatro aves. No momento de sua prisão em flagrante, a polícia
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recuperou duas das galinhas. As aves valiam, na época, R$ 5.
Em dezembro de 2019, o juízo da vara Criminal de Bambuí entendeu que "os fatos praticados pelo
acusado não configuram a tipicidade material necessária para o reconhecimento do delito" e absolveu o
assistido, com fundamento no artigo 386, inciso III do CPP, tendo em vista a atipicidade da conduta por
força do princípio da insignificância.
O Ministério Público interpôs recurso e, em fevereiro de 2022, a 5ª câmara Criminal do TJ/MG deu
provimento, condenando o homem.
No acórdão, a 5ª câmara afirmou não ser aplicável o princípio da insignificância. "Verificada a
reincidência e os maus antecedentes do réu, bem como o fato de que ele se encontrava em cumprimento
de pena quando do cometimento do crime em comento, não há que se falar em aplicação do princípio da
insignificância."
A DP/MG interpôs agravo em recurso especial no STJ. Em junho de 2023, o ministro relator analisou o
recurso e negou o pedido.
A Defensoria Pública de Minas, então, interpôs agravo regimental no agravo em recurso especial no STJ,
cujo provimento foi negado. Na decisão, a 5ª turma afirmou que a reincidência e os maus antecedentes
afastam a incidência do princípio da insignificância.
Então, a DP/MG interpôs habeas corpus no STF pedindo a reforma do acordão para absolver o homem da
acusação de furto, uma vez que o fato provocou lesão mínima, o que invalida a tipicidade material.
Em decisão monocrática, a ministra Cármen Lúcia, relatora do processo, reconheceu a incidência do
princípio da insignificância pelas circunstâncias específicas do caso e restabeleceu a sentença do juízo da
vara Criminal de Bambuí, que havia absolvido o réu em 2019.
"As circunstâncias apresentadas, o caráter fragmentário do Direito Penal e, especialmente, a mínima
lesividade da conduta praticada pelo agente conduzem ao reconhecimento de ausência de dano criminal
efetivo ou potencial ao patrimônio da vítima, ensejando o reconhecimento da atipicidade material da
conduta, pela ausência de ofensividade ao bem jurídico tutelado pela norma penal", afirmou na decisão.
Na decisão, a ministra pontuou a reincidência do assistido, porém reconheceu a mínima ofensividade da
conduta e a ausência de periculosidade social decorrente da ação.
"Não se desconhece a reincidência específica do agente, mas, em relação ao fato delituoso, objeto do
presente processo, está evidenciada a inexpressividade jurídica e econômica da conduta para os fins de
subsunção do fato aos ditames penais, com os contornos comprovados."
O número do processo não foi divulgado.
Informações: DP/MG.
O episódio
O homem foi detido na noite de 21 de janeiro por seguranças da estação Oscar Freire da Linha 4-Amarela
do Metrô. No boletim de ocorrência, consta que ele andava descalço e sujo na estação - que fica numa das
ruas mais nobres da capital paulista - quando foi abordado por seguranças, que questionaram se precisava
de ajuda ou informação.
Como o homem negou a necessidade de ajuda, passou a ser vigiado pelos seguranças da estação. Na
sequência, o homem pegou a mochila de um usuário distraído que estava sentado no chão e saiu correndo.
Segundo o boletim de ocorrência, a vítima correu atrás do morador de rua para recuperar a mochila e
desviou de um soco no rosto dado pelo suspeito. Na sequência, o homem foi rendido pelos seguranças e,
exaltado, teria tentado agredir um deles. Ele foi preso em flagrante.
"Tem razão a DPE/SP. Não estou certa da tipificação da conduta do paciente. Tampouco estou certo da
não-tipicidade da conduta de seguranças que acompanham, por quarenta minutos, um cidadão na
expectativa de que erre. Quarenta minutos quatro olhos sobre alguém na miséria. Não é o caso de indagar
se estamos diante de um momento de fúria?", disse a ministra em sua decisão.
Medidas cautelares
A ministra Daniela Teixeira acolheu o pedido de habeas corpus e determinou a liberdade do homem.
Determinou, também, que ele seja encaminhado ao órgão de assistência social do município, em busca de
abrigo, empregabilidade e renda; e a Defensoria deve verificar se o réu está com sua documentação de
identidade, se tem carteira de trabalho e cartão de vacinação em dia.
Foram impostas medidas cautelares. O homem deverá passar todas as noites em um abrigo e ser
entrevistado mensalmente pela Defensoria Pública para que se verifique sua evolução pessoal.
Processo: HC 889.138