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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

GQI 169 – Projetos em Química Experimental

Docente Responsável – Fabiano Magalhães

TEORES DE ACIDEZ EM SUBPRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL – FARINHA


DE CARNE OSSO E SEBO

Gabriel Pereira Chediak – 201910580


Luis Otávio Gatti Rabelo de Sa - 201820801
Luísa Reis Moreira – 201920018
Vinícius Siqueira Oliveira – 201720846
1. Introdução

A carne suína é uma das três proteínas animais mais consumidas no mundo. Só em
2020, o abate de suínos cresceu cerca de 6,4%, totalizando 49,3 milhões de cabeças, segundo
dados do IBGE. As exportações de carne suína do Brasil somaram 1 milhão de toneladas em
2021 a melhor marca da série histórica. Nos últimos cinco anos, o volume embarcado pelo
país aumentou 80%. Já a carne bovina, o país, que exportou 1,55 milhão de toneladas em
2021, teve o desempenho prejudicado pelo embargo chinês, que durou mais de cem dias. A
China respondeu por mais de 50% da carne bovina exportada pelo Brasil em 2021. O
embargo de pouco mais de três meses prejudicou o país. Nós ficamos abaixo da marca de
2019, quando 1,56 milhões de toneladas foram embarcadas.

Junto com a produção de carne, também aumenta a quantidade de rejeitos desses


animais, como casco, pêlo, sangue, gorduras, ossos, entre outros que, se fossem dispensados
na natureza, causariam um grande desastre. Mas, ao contrário disso, o material tem um
destino nobre: transformados pela indústria da graxaria, os rejeitos viram componentes para
ração animal e, principalmente, seguem para a produção de biodiesel – ao lado do sebo
bovino e, especialmente, do óleo vegetal (soja).

As graxarias são unidades de processamento normalmente anexas aos matadouros ou


frigoríficos, mas também podem ser autônomas. Elas utilizam subprodutos ou resíduos das
operações de abate e de limpeza das carcaças e das vísceras, sangue, partes dos animais não
comestíveis e aquelas condenadas pela inspeção sanitária, ossos e aparas de gordura e carne
da desossa, além de resíduos de processamento ou industrialização da carne, para produção de
farinhas ricas em proteínas, gorduras e minerais,e de gorduras ou sebos. Há graxarias que
também produzem sebo e/ou o chamado adubo organo-mineral somente a partir dos ossos,
normalmente recolhidos em açougues.

A farinha de carne e osso é utilizada na formulação de dietas destinadas à avicultura, à


suinocultura, bem como ao setor de pet food. Possui alta concentração de proteínas e vitamina
B12, além de cálcio e fósforo em quantidades bem relevantes, podendo ser usada
principalmente como base para rações.
O sebo bovino é um produto obtido através do cozimento de subprodutos bovinos
(constituído principalmente de ossos e vísceras). Possui vasta aplicação, sendo utilizado na
formulação de rações para suínos, aves e linha pet, seguindo especificações definidas pelo
Ministério da Agricultura. Além, é claro, de sua utilização em Indústrias Químicas, higiene e
limpeza, vernizes e lubrificantes, ácidos graxos e outros como indústria farmacêutica
(glicerina). Ainda é utilizado no segmento de Biodiesel, já comprovadamente considerada
uma alternativa econômica ambientalmente viável.

1.1 Acidez Alcoólica e Acidez de Óleos e Gorduras - Farinha de Carne e Osso e


Sebo

Os ácidos graxos livres (AGL) presentes em óleos e gorduras (ou produtos que os
contenham) são resultantes da hidrólise de alguns triglicerídeos (TAG), na ligação éster entre
o glicerol e o ácido graxo. A acidez está associada à caracterização do estado de conservação
de grãos e da deterioração de óleos e gorduras, por conseguinte a ocorrência de ácidos graxos
livres indica a perda da integridade da molécula, antes neutra e totalmente apolar. A hidrólise
dos lipídios pode ocorrer por diversos fatores como: condições impróprias de armazenamento
(temperatura e umidade elevadas), ataque enzimático de microrganismos ou de lipases
naturais existentes no material.
Como os ácidos graxos são ácidos fracos, é necessário usar uma base forte como o
hidróxido de sódio para titulá-los. Pelo mesmo motivo, o ponto de equivalência
estequiométrica, quando titulados com uma base forte, está no lado alcalino. Por isso a acidez
causada pelos ácidos graxos livres é estimada pela titulação com hidróxido de sódio em
solução alcoólica, usando fenolftaleína como indicador.
Reações:

Hidrólise de uma molécula de triglicerídeo (formação dos AGL):

Reação de neutralização dos ácidos graxos livres (AGL) com hidróxido de sódio:

2. Objetivos

O objetivo deste experimento é analisar o teor de acidez em subprodutos animais


provenientes da indústria de alimentação animal, como a farinha de carne e osso e o sebo.
Serão feitas análises em quatro lotes de cada material para fins de comparação entre os lotes e
o tratamento dos dados, com os quais poderemos verificar se estão de acordo com os limites
estabelecidos pelos órgãos responsáveis.

3. Materiais/Reagente e Metodologia

Para ambas as análises precisaremos dos seguintes reagentes, materiais, vidrarias e


equipamentos:

- 800 mL Álcool etílico absoluto (C 2H5OH)


- Biftalato de potássio (C8H5KO4)
- Fenolftaleína (C20H14O4)
- 2,05 g Hidróxido de sódio (NaOH)
- Água destilada
- Papel de filtro qualitativo
- 150 mL de Éter etílico (C4H10O)
- 5 Erlenmeyer 250ml
- 1 Béquer de 500 ml
- 1 Béquer de 600 ml
- 1 Tampa (rolha) para Erlenmeyer de 250 ml
- 2 Frascos com tampa (de reagente) (para armazenar o álcool neutralizado e a solução
de éter + álcool)
- 2 Proveta de 100ml
- 4 Papel de filtro qualitativo
- 1 Funil de vidro
- 1 Bastão de vidro
- Estufa
- 1 Bureta 50 mL
- Balança analítica
- 1 Balão Volumétrico de 500ml
- Chapa aquecedora

4. Procedimentos Para Análise de Acidez Alcoólica da Farinha de Carne e Osso

4.1 Preparação do Álcool etílico absoluto neutralizado:

O álcool etílico absoluto neutralizado deve ser preparado momentos antes do uso.
Manter o frasco de álcool etílico absoluto bem fechado para evitar a formação de ácido
carbônico.
Colocar em um Erlenmeyer de 1000 ml, 500 ml de álcool etílico com o auxílio de uma
proveta. Adicionar 4 gotas de solução indicadora de fenolftaleína 1% (m/v) e com agitação
constante, gotejar a solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L até coloração levemente rósea.

4.2 Solução padronizada de hidróxido de sódio 0,1 mol/L:

Preparação da solução de NaOH: Pesar aproximadamente 2,05 g de hidróxido de


sódio em béquer de 100 mL e dissolver em água destilada. Transferir quantitativamente para
balão volumétrico de 500 mL, completar o volume e homogeneizar.

Padronização: Pesar aproximadamente 0,2 g de biftalato de potássio previamente seco


em estufa a 105°C por 2 horas. Transferir para um Erlenmeyer de 250 mL, dissolver com 75
mL de água destilada, adicionar 4 gotas de solução indicadora de fenolftaleína 1% (m/v),
titular com a solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L.
Cálculo da molaridade real do Hidróxido de Sódio:

𝑚
𝑀𝑟 = 204,23 𝑥 𝑉
𝑥 1000 Equação [1]

Onde:

Mr - Molaridade real da solução de hidróxido de sódio 0,1 Mol/L


m - Massa do biftalato de potássio, em g
V - Volume de solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L gasto na titulação, em mL
204,23 - Massa molar do biftalato de potássio
1000 - Fator de conversão entre unidades de volume (mL e L)

4.3 Procedimentos:

- Pesar 2,5 gramas de amostra em uma balança analítica e colocar em um Erlenmeyer de


250 ml;
- Com uma proveta de 100ml, colocar 75 ml de álcool etílico absoluto neutralizado
dentro do Erlenmeyer com a amostra e tampar. Deixar em repouso por 30 minutos,
agitando de 5 em 5 minutos (deixando descansar nos últimos 5 minutos);
- Pegar outro Erlenmeyer de 250 ml e prepará-lo com funil de vidro e papel de filtro
qualitativo;
- Filtrar a amostra neste segundo Erlenmeyer;
- Em seguida, despejar o resíduo do papel de filtro no primeiro Erlenmeyer e
acrescentar 50 ml de álcool etílico absoluto neutralizado e deixar em repouso por 15
minutos, agitando a cada 5 minutos;
- Filtrar novamente sobre o mesmo papel de filtro juntando com o primeiro filtrado;
- Adicionar 4 gotas de de solução indicadora de fenolftaleína 1% (m/v) e titular com
solução do hidróxido de sódio 0,1 mol/L até coloração rósea persistente por 30
segundos.

Cálculo:

(𝑉𝐴 ) 𝑥 𝑀𝑟 𝑥 40
Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝐴𝑐𝑖𝑑𝑒𝑧 (𝑚𝑔 𝑁𝑎𝑂𝐻 / 𝑔) = 𝑚
Equação [2]

Onde:

VA - Volume de hidróxido de sódio 0,1 mol/L gasto na titulação da amostra, em mL


Mr - Molaridade real da solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L
m - Massa da amostra, em g
40 - Massa molar do hidróxido de sódio (g/mol)
5. Procedimentos Para Análise de Acidez de Óleos e Gorduras do Sebo

5.1 Preparação da solução reagente éter-álcool (2+1) neutralizada

A solução reagente éter-álcool (2+1) neutralizada deve ser preparada momentos antes
do uso. Importante manter o frasco da solução reagente éter-álcool neutralizada bem fechado
para evitar a formação de ácido carbônico.

Misturar 2 partes de éter etílico (333 ml) com 1 parte de álcool etílico absoluto (167 ml)
da seguinte forma:

- Medir 167 mL de álcool etílico absoluto em uma proveta de 250 mL e depois


transferir para o balão volumétrico de 500 mL.
- Completar o balão volumétrico com éter etílico.

Transferir esta solução para um erlenmeyer de 1000 mL, adicionar 4 gotas de solução
indicadora de fenolftaleína 1% (m/v) e com agitação constante, gotejar a solução de
hidróxido de sódio 0,1 mol/L, previamente padronizado, até coloração levemente rósea.

5.2 Procedimentos:

- Pesar aproximadamente 2,5 g de amostra em Erlenmeyer ou béquer de 250 mL; para


amostras de coloração escura, pesar apenas 1 g.
- Adicionar 50 mL da solução éter-álcool neutralizada o agitar até completa dissolução.
Para amostras de difícil dissolução, levar ao banho-maria, evitando excesso do
aquecimento que pode provocar elevação do valor de ácidos graxos livres.
- Adicionar 4 a 5 gotas de solução Indicadora de fenolftaleína 1% (m/v) e titular com
solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L até coloração rósea persistente por 30
segundos.

Cálculo:

(𝑉𝐴) 𝑥 𝑀𝑟 𝑥 282,5 𝑥 100


𝐴𝑐𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑒𝑚 Á𝑐𝑖𝑑𝑜 𝑂𝑙é𝑖𝑐𝑜% (𝑚/𝑚) = 𝑚 𝑥 1000
Equação [3]

Onde:

VA - Volume de hidróxido de sódio 0,1 mol/L gasto na titulação da amostra, em mL


Mr - Molaridade real da solução de hidróxido de sódio 0,1 mol/L
m - Massa da amostra, em g
282,5 - Massa molar do ácido oléico
100 - Fator percentual
1000 - Fator de conversão entre unidades de volume (mL).
6. Resultados e Discussões

Para a realização das análises foi feita a padronização da solução de NaOH em


triplicatas. A partir da Equação [1] foram obtidos os seguintes resultados apresentados na
Tabela 1.

Tabela 1: Padronização da Solução de NaOH

Todas as análises de acidez, tanto do Sebo Bovino quanto da Farinha de Carne e Osso
foram feitas em duplicatas para redução de erros sistemáticos. Para os cálculos da análise da
acidez da Farinha de Carne e Osso foi utilizada a Equação [2] e os resultados obtidos estão
indicados na Tabela 2.

Tabela 2: Índice de Acidez da Farinha de Carne e Osso

Os cálculos para a acidez do Sebo Bovino foram feitos seguindo a Equação [3], onde
os valores encontrados estão exibidos na Tabela 3.

Tabela 3: Índice de Acidez do Sebo Bovino


7. Conclusões

Diante das inúmeras aplicações para o sebo bovino e a farinha de carne e osso, é
necessário que estes materiais estejam de acordo com os parâmetros físico-químicos
estabelecidos pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,.

Desta forma, foram comparados os resultados obtidos nas análises de acidez para
ambos os materiais com os valores estipulados pelo MAPA, indicados nas Tabelas 4 e 5, e foi
possível concluir que todos os lotes de ambos os materiais utilizados estão dentro dos
padrões, uma vez que o indicado pelo MAPA é que a acidez em ambos os materiais seja
menor que 6.

Tabela 4: Índice de Acidez da farinha de carne e osso permitida de acordo com o MAPA

Tabela 5: Índice de Acidez do sebo bovino permitida de acordo com o MAPA

Foi observado também que alguns lotes apresentaram acidez maior que outros, algo
esperado devido às condições de armazenamento, processamento e decomposição do material
que podem variar de lote para lote.
8. Referências bibliográficas

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos


químicos e físicos para análise de alimentos, V.1. 4. ed. São Paulo: PROL, 2005. p. 596;
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AMERICAN ÕIL CHEMISIS SÕCIETY (AOCS). Official and recommended


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KRISHNAMURTI, R. G. Cooking oils, salad oils and salad dressings. In: SWERIV, D.
Bailey's industrial oil and fat products. 4 ed. New York: Wiley­Interscience, 1982. v. 2. p.
320-326.

MEHLENBACHER, V. C. The analysis of fais and °fls. Champaigri: Garrard Press,


1960, Stability, c. 4. p. 188-235.

BACCAN, N.; ANDRADE, J.C.; GODINHO, O. E. S. BARONE, J. S. Química


analítica quantitativa elementar. São Paulo: Edgard Bliicher, 2001. Práticas de laboratório, c.
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CANAL RURAL. Exportações brasileiras de carne suína cresceram 80% em cinco


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<https://www.canalrural.com.br/programas/exportacoes-brasileiras-de-carne-suina-crescera
m-80-em-cinco-anos/>. Acessado em: 09 de fevereiro de 2022.

CETESB – COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO


AMBIENTAL;FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.Guia Técnico
Ambiental de Frigoríficos Industrialização de carnes (bovina e suína) - Série p+l. São Paulo:
CETESB, 2008.

NUTRIBELO. Produtos. Disponível em: <https://nutribelo.com.br/produtos/>.


Acessado em: 09 de fevereiro de 2022.

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa


n°110. 2020.

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