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MANUAL PRÁTICO

Terapia Cognitivo-
Comportamental
TRANSTORNO DISMÓRFICO
CORPORAL
O transtorno dismórfico corporal está especificado na Sessão II do DSM-V dentro
dos transtornos obsessivos- compulsivos e outros transtornos relacionados, pos-
suindo os seguintes critérios diagnósticos:
z Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas percebidas na aparência física
que não são observáveis ou que parecem leves para os outros.
z Em algum momento durante o curso do transtorno, o indivíduo executou
comportamentos repetitivos (verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente,
beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (por exemplo, comparando
sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência.
z A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.
z A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações
com a gordura ou o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem
os critérios diagnósticos para um transtorno alimentar.

Ressalta-se a importância de especificar se o transtorno dismórfico corporal ocorre:1


z Com dismorfia muscular: há preocupação com a ideia de que sua estrutura corporal
é muito pequena ou insuficientemente musculosa.
z Com insight bom ou razoável: no qual há o reconhecimento de que as crenças do
transtorno dismórfico corporal são inverídicas ou que podem ou não ser verdadeiras.
z Com insight pobre: o indivíduo acredita que as crenças do transtorno dismórfico
corporal são provavelmente verdadeiras.
z Com insight ausente/crenças delirantes: o indivíduo está completamente convencido
de que as crenças do transtorno dismórfico corporal são verdadeiras.

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Ressalta-se que os “defeitos” ou falas corporais que incomodam os indivíduos com
esse transtorno são imperceptíveis para terceiros. Qualquer área do corpo pode ser
o foco de preocupação. Porém, os dismórficos apresentam preocupações que va-
riam desde parecer “sem atrativos” ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou
“um monstro”. Tais preocupações são intrusivas e indesejadas, além de tomarem
muito tempo na vida desses indivíduos, cerca de 3 a 8h/dia. Qualquer área do corpo
pode ser foco dessa preocupação, sendo comum compararem a própria aparência
com a de outras pessoas. Também são frequentes verificações constantes de defei-
tos no espelho, arrumar-se excessivamente, camuflar supostos defeitos, fazer exer-
cício em excesso, procurar procedimentos estéticos demasiadamente.1

DICA DO MESTRE!
A dismorfia muscular é uma forma de transtorno dismórfico corporal que ocorre
quase exclusivamente no sexo masculino. Consiste na preocupação com a ideia de
que o próprio corpo é muito pequeno ou insuficientemente magro ou musculoso.
Isso leva à prática de exercícios em excesso, uso de anabolizantes e dietas radicais.

A etiologia do transtorno dismórfico corporal contempla fatores ambientais (altas ta-


xas de negligência e abuso infantil e genéticos – alta prevalência em parentes de pri-
meiro grau de indivíduos com TOC). A prevalência do transtorno dismórfico corporal
é de 2,4% nos adultos norte-americanos, sendo 2,5% no sexo feminino e de 2,2% no
masculino. Na Alemanha, a prevalência é de 1,7 a 1,8%. Entre pacientes dermatoló-
gicos é de 9 a 15%; entre pacientes de cirurgia estética é de 7 a 8%; entre pacientes
adultos de ortodontia fica 8% e entre pacientes que se apresentam para cirurgia fa-
cial ou maxilofacial é de10%. Não há diferença entre os gêneros, sendo iniciado por
volta dos 16 a 17 anos. Todavia, pode ocorrer na infância, na vida adulta ou em idosos,
sendo que quanto mais precoce o aparecimento, mas grave o prognóstico.1
É importante a realização do diagnóstico diferencial entre o transtorno dismórfico
corporal e os transtornos: alimentares; de ansiedade de doença; depressivo maior;
de ansiedade; psicóticos; de ansiedade social; relacionados a substâncias. Além
do TOC, das preocupações normais com a aparência e defeitos físicos claramen-
te perceptíveis, além dos outros transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos
relacionados.1

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Modelo cognitivo
Para a TCC, o sistema de crenças distorcidas dos pacientes com transtorno dismór-
fico corporal é construído nas primeiras relações vivenciadas e vai se estruturando
cotidianamente. Uma das crenças centrais distorcidas nesses pacientes é a de que
seu valor pessoal está condicionado ao peso ou formato corporal, sendo que ne-
nhuma outra característica pessoal pode ser significante. Eles ignoram ou desvalo-
rizam as características que estão fora dos parâmetros previamente estabelecidos.
Para esses pacientes, ter o corpo idealizado seria garantia de competência, supe-
rioridade e sucesso. 2 A seguir, tem-se a estrutura cognitiva:

Distorções cognitivas
Pensamento dicotômico Previsão do futuro
Ampliação leitura mental Rotulação
Abstração seletiva Personalização
Comparações injustas
Visão de si Visão dos outros
Inadequada São bonitos
Feia São bem-sucedidos
Assimétrica São amados
Inferior São superiores
Visão do mundo
O mundo é perigoso.
O mundo é competitivo.
O mundo é exigente.
Crenças centrais
“Sou inferior”
“Sou inadequada”
“Sou feia”
“Não sou boa o suficiente”
“Não sou amada”
Crenças intermediárias
“Devo ser perfeito”
“Devo fazer todos os esforços para me tornar bem apresentável”
“As pessoas amadas e bem-sucedidas são bonitas, magras e simétricas”
“Se eu não fizer procedimentos para me tornar melhor, então estarei fadada ao fracasso”
“Se eu não for bonita, magra e simétrica, não serei amada e bem-sucedida”

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Caso exemplo (adaptado)2
C., 18 anos, sexo feminino, procura um cirurgião plástico para trocar os implantes de
silicone nos seios. Aos 16 anos já havia colocado implantes, mas agora aos 18 gostaria
de substituir por um maior. Disse que a mãe e a irmã colocaram e que admirava as
atrizes de sucesso que têm os seios grandes e por este motivo pretendia aumentar
mais ainda os seus. Tinha muito medo da cirurgia em si, mas se as atrizes haviam
conseguido e não haviam tido problemas mais graves, ela também conseguiria. Nes-
te caso, C. segue o modelo familiar e o modelo das atrizes apresentado pela mídia.
No processo familiar e grupal de C. desenvolvem-se crenças distorcidas acerca de
aceitação ou rejeição, que fazem com que C. necessite alterar sua forma corporal para
se sentir aceita e atender às expectativas do meio ambiente em que vive. Para ela, o
aumento do tamanho dos seios está relacionado com o sucesso pessoal.

MAPA CONCEITUAL

Defeitos Não
Preocupação Físicas
Falhas observáveis

Sofrimento Significativo
T. dismórfico
corporal
Prejuízos Diversas áreas

Desamor

Inferioridade
Crenças
distorcidas Inadequação

Entre outras

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REFERÊNCIAS

1. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
2. Veras ALL. Desenvolvimento e construção da imagem corporal na atualidade:
um olhar cognitivo-comportamental. Rev. Bra. de Ter. Cog. [Internet]. 2010
[citado em 01 fev. 2021]. 6(2); 96-116. Disponível em: https://cdn.publisher.
gn1.link/rbtc.org.br/pdf/v6n2a05.pdf

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