Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
https://novaescola.org.br/conteudo/8291/lugar-de-bebe-e-fora-do-berco
Que atividades realizar com pequenos até 1 ano, que geralmente não falam nem andam? Antes de
assumir uma turma de berçário, Marlene Steffens, do CEI Miosótis, em Joinville, a 176 quilômetros de
Florianópolis, costumava ouvir questionamentos como esse. O que a princípio parece um empecilho,
no entanto, é um foco de oportunidades. "Uma das especificidades dessas crianças é que estão em um
momento de aquisição de linguagem, locomoção, comunicação e conhecimento sobre o corpo. Por
isso, todo estímulo é necessário", diz Maria Teresa Venceslau de Carvalho, coautora do livro Interações:
Ser Professor de Bebês - Cuidar, Educar e Brincar, uma Única Ação (Cisele Ortiz, 221 págs., Ed. Blucher,
11/3078-5366, 53 reais).
Livres para investigar o jardim, os pequenos exploraram brinquedos, sons e movimentos
O biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) descreve essa fase do desenvolvimento infantil como sensório-
motora, em que conhecemos o mundo por meio dos sentidos. Propiciar o contato com elementos
visuais, sonoros, olfativos e táteis auxilia no aumento e no aperfeiçoamento desse repertório. Por
acreditar na importância da experimentação, Marlene elaborou um planejamento anual voltado à
exploração de diferentes materiais e espaços dentro e fora da classe.
Em outra proposta, o berçário foi transformado em um spa, com ofurôs, velas e óleos aromáticos para
perfumar o ambiente e música relaxante. Cada bebê foi colocado dentro de um balde com água
aquecida a 37 graus Celsius e pétalas de rosas. A professora alerta para a importância de regular a
quantidade de água, que deve ficar abaixo do pescoço da criança quando ela estiver imersa. Para
favorecer a interação entre os bebês, os baldes foram colocados perto uns dos outros. Ela também os
aproximou do espelho fixado na parede para auxiliá-los na descoberta do próprio corpo, ampliando a
consciência de si mesmo.
A logística para dar conta de tudo isso não foi fácil. "Lidar com crianças tão pequenas demanda uma
organização muito precisa para que elas não fiquem desassistidas", afirma Clélia Cortez, formadora do
Instituto Avisa lá. Marlene conta com a ajuda de duas auxiliares. Como só tinham quatro baldes, ela
coordenava os banhos enquanto uma cuidava dos demais bebês e a outra mudava a água e higienizava
tudo para que as próximas crianças pudessem entrar nos ofurôs.
Atividades ao ar livre
As áreas externas da creche também se tornaram espaços ricos em descobertas para os pequenos,
com a organização de cantos de atividades. A turminha foi levada ao jardim da instituição, em que,
sobre um tatame, foram colocados instrumentos musicais, bolas e brinquedos. "O ambiente é um
terceiro educador e esse tipo de organização favorece a autonomia das crianças", diz Clélia. No grupo,
houve quem engatinhou até o objeto favorito, subiu no cavalinho e bateu a mão no pandeiro. Marlene
interveio com ações específicas, como jogar a bola para pegarem.
Em cada um dos espaços da creche, novos desafios foram ofertados à turma
Para Clélia, dar espaço e tempo para que os bebês possam fazer escolhas é essencial. Isso não significa
bombardeá-los com atividades - o excesso de estímulos pode confundi-los. A ideia é ter um olhar
atento e individual para cada um a fim de identificar interesses e avanços e, assim, oferecer desafios
adequados. Momentos coletivos de convivência como esses são interessantes, pois a criança pequena
tende a aprender por imitação e, ao observar movimentos feitos pelos colegas, se desenvolve mais
rapidamente.
No canteiro de plantas que circunda o gramado, a professora propiciou o contato com o solo seco e
úmido. Os bebês foram colocados sobre a terra e, delicadamente, ela a oferecia para que tocassem.
"Alguns estavam mais resistentes no começo, mas aos poucos eu fui aproximando cada um do
material", conta.
No parque da instituição, que conta com um playground, um labirinto de toras e um morro de pneus e
areia, a turma pôde circular livremente, o que contribuiu para o avanço motor. Uns subiram e
desceram o monte, apoiando-se nos pneus, outros tentaram andar pelo labirinto segurando nas
paredes.
Caso alguém se recusar a participar da atividade, é preciso respeitar seu tempo e não forçar. "Se o
bebê não quiser ficar em pé, não adianta pegar na mão dele e segurá-lo. O mais adequado é oferecer
outros meios para que ele faça o movimento naturalmente, como colocar objetos em que possa se
apoiar e almofadas para que caia com segurança", afirma Maria Teresa.
3 Exploração em todo canto No espaço externo, organize cantos com brinquedos, bolas e
instrumentos musicais. Deixe os bebês livres para interagir e fazer as próprias escolhas.
4 Estímulos e aprendizagem Ofereça às crianças diferentes texturas para tocarem, como terra úmida
e seca. Leve-as também a locais com objetos em que possam se apoiar e testar o equilíbrio e a
motricidade.
Um universo de sensações
Conheça as atividades realizadas pelos bebês do CEI Miosótis e saiba o que aprenderam:
Pés na terra
A criançada entrou de corpo inteiro no canteiro de plantas ao redor do jardim. Para ajudar quem não
quis se sujar, a professora interveio, fazendo com que se familiarizasse com a terra e as plantas.
Motricidade
No morro formado por pneus e areia, mesmo os bebês que não sabiam andar se arriscavam a subir e
descer. O fazer autônomo das crianças auxilia no desenvolvimento motor.
Estímulos sonoros
Instrumentos musicais variados foram colocados sobre um tatame no jardim. A educadora Marlene
Steffens incentivou os pequenos a tocá-los e a prestar atenção nos sons que cada um produzia.
Exploração livre
Sensações
As crianças puderam sentir a diferença entre a terra seca e a úmida em uma proposta voltada a
ampliar o repertório de sentidos. A sujeira das mãos e das roupas foi recompensada com muito
aprendizado.
Ofurô no espelho
Em baldes com água a 37° C, os bebês experimentaram um banho relaxante, realizado em frente a um
espelho. A proposta ajuda no desenvolvimento da consciência corporal das crianças.
Ducha com boneca
No banho, os bebês puderam sentir a água cair sobre eles enquanto interagiam com bonecas. Assim,
eles se familiarizam com os gestos realizados pelas educadoras nesse momento.