Fio Da Meada - 2014 02 11 - É A Insegurança Jurídica, Sua Boba

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É a insegurança jurídica, sua boba

No último domingo (09/02), o empresário Pedro Passos (Natura), presidente do Instituto


de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – Iedi, concedeu uma entrevista ao jornal
O Estado de S.Paulo sintetizando a opinião de vários outros empresários e de outros
agentes do mercado, como os advogados, como eu e muitos dos meus amigos e colegas:
a questão econômica brasileira passa pela “confiança”. O que tomo a liberdade de
traduzir como “segurança jurídica”.

Em determinado trecho da entrevista, o imbróglio tributário brasileiro é resumido da


seguinte forma: “Outro exemplo é o tema regulatório ou tributário. Houve um
movimento de tributação das empresas em assuntos não claros do ponto de vista da
legislação que aumentou enormemente as contingências por questões tributárias.”

Os anos recentes foram pródigos em gerar “contingência por questões tributárias”. Cito
apenas as duas mais fresquinhas: a tributação dos dividendos e a tributação dos lucros
auferidos no exterior – ambas disciplinadas pela Medida Provisória n° 627.

No primeiro caso (dividendos), a definição sobre a incidência do imposto sobre a renda,


por parte das autoridades fiscais, demorou seis anos; e a resposta foi pela tributação,
inclusive, de maneira retroativa. Com isso, da noite para o dia, as empresas que
produziram riqueza, apuraram lucro e o distribuiu aos seus sócios e investidores viram-
se diante de uma contingência de difícil cálculo. Contingência essa que prejudica o sono
de muitos administradores ainda hoje.

A par da insegurança jurídica gerada por essa discussão tardia e desprovida de amparo
legal, a tributação dos dividendos, tal como pretendida pelas autoridades fiscais, abala a
confiança futura de empresários e investidores, fazendo com que aumente a cautela na
decisão sobre aporte de recursos na economia brasileira. Perde, com isso, o
desenvolvimento econômico do País.

Já a questão dos lucros no exterior é um ponto mais antigo: estamos entrando no décimo
terceiro ano de disputa, cuja conclusão espera-se para a conversão da MP 627 em lei.

A discussão iniciou com a edição da trigésima quinta edição de uma medida provisória
que não foi convertida em lei – em razão de uma mudança no texto constitucional,
pudemos conviver com medidas provisórias permanentes.

Mais de uma década depois, às vésperas de importante decisão de tribunal superior


sobre o caso, a Presidente da República concedeu anistia e possiblidade de
parcelamento alongado para os valores questionados relativos à tributação dos lucros no
exterior. A situação, então, ganhou traços daqueles programas de televisão do tipo “para
ou continua”: o prazo para adesão ao programa de anistia seria uma sexta-feira,
enquanto que o julgamento da questão no tribunal superior estava agendado para a
terça-feira seguinte.

A par da insegurança jurídica gerada por essa encruzilhada em que as multinacionais


brasileiras foram jogadas, a proposta de tributação dos lucros no exterior, tal como
prevista na MP 627, tem grande probabilidade de inibir a expansão e a integração
internacional das empresas brasileira. Perde, com isso, o desenvolvimento econômico
do País.

Não é sem razão que o senhor Pedro Passos sentencia na mesma entrevista (e que foi a
manchete): “A confiança dos empresários no governo acabou”.

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