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MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS
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TEMA 2 – FATORES INTRÍNSECOS
Alimento Aa Alimento Aa
Frutas frescas e vegetais >0,97 Geleia 0,75 a 0,80
Aves e pescados frescos >0,98 Gelatina 0,82 a 0,94
Carnes frescas >0,95 Arroz 0,80 a 0,87
Ovos 0,97 Farinha de trigo 0,67 a 0,87
Pão 0,95 a 0,96 Mel 0,54 a 0,75
Queijos (maioria) 0,91 a 1,00 Frutas secas 0,51 a 0,89
Queijo parmesão 0,68 a 0,76 Caramelos 0,60 a 0,65
Carnes curadas 0,87 a 0,95 Cereais 0,10 a 0,20
Bolo assado 0,90 a 0,94 Açúcar 0,10
Nozes 0,66 a 0,84
Fonte: Banwart, 1989.
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Mas qual a Aa ideal para a multiplicação microbiana? Esta é uma resposta
um tanto complexa, pois a interação dos fatores é que vai determinar. Todavia,
pode-se afirmar que os microrganismos têm um valor máximo, mínimo e ótimo
para sua multiplicação. Entretanto, o comportamento microbiano em relação à Aa
mínima e ótima é bem variável. São relatados na literatura valores de Aa mínima,
conforme a Tabela 2 (Franco; Langraf, 2008):
Organismos Aa Organismo Aa
Grupos Grupos
Bactérias deteriorantes 0,90 Bactérias halofílicas 0,75
Leveduras deteriorantes 0,88 Bolores xerofílicos 0,65
Bolores deteriorantes 0,80 Leveduras osmofílicas 0,61
Organismos específicos Organismos específicos
Clostridium botulinum tipo E 0,97 Candida scottii 0,92
Pseudomonas spp 0,97 Trichosporon pullulans 0,91
Acinetobacter spp 0,96 Candida zeylanoides 0,90
Escherichia coli 0,96 Staphylococcus aureus 0,86
Enterobacter aerogenes 0,95 Alternaria citri 0,84
Bacillus subtilis 0,95 Penicillium patulum 0,81
Candida utilis 0,94 Aspergillus echinulatus 0,64
Vibrio parahaemolyticus 0,94 Zygosaccharomyces rouxii 0,62
Botrytis cinerea 0,93 Xeromyces bisporus 0,61
Rhizopus stolonifer 0,93
Mucor spinosus 0,93
Fonte: Jay, 2005.
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2.2 Potencial hidrogeniônico (pH)
Organismo pH
Mínimo Ótimo Máximo
Bactérias (maioria) 4,5 6,5 a 7,5 9,0
Bacillus subtilis 4,2 a 4,5 6,8 a 7,2 9,4 a 10
Clostridum botulinum 4,8 a 5,0 6,0 a 8,0 8,5 a 8,8
Clostridium perfringens 5,0 a 5,5 6,0 a 7,6 8,5
Escherichia coli 4,3 a 4,4 6,0 a 8,0 9,0 a 10
Lactobacillus (maioria) 3,0 a 4,4 5,5 a 6,0 7,2 a 8,0
Pseudomonas ( maioria) 5,6 6,6 a 7,0 8,0
Salmonella 4,5 a 5,0 6,0 a 7,5 8,0 a 9,6
Staphylococcus aureus 4,0 a 4,7 6,0 a 7,0 9,5 a 9,8
Leveduras 1,5 a 3,5 4,0 a 6,5 8,0 a 8,5
S. cerevisiae 2,0 a 2,4 4,0 a 5,0 -
Bolores 1,5 a 3,5 4,5 a 6,8 8,0 a 11
Aspergillus niger 1,2 3,0 a 6,0 -
Penicillium 1,9 4,5 a 7,6 9,3
Fonte: Banwart, 1989.
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Tabela 4 – Valores de pH de alguns alimentos
Vegetais pH Carnes pH
Alface 6,0 Bovina ( moída) 5,1 a 6,2
Aspargos 5,7 a 6,1 Frango 6,2 a 6,4
Brócolis 6,5 Presunto 5,9 a 6,1
Espinafre 5,5 a 6,0 Pescados pH
Milho 7,3 Peixe fresco ( maioria) 6,6 a 6,88
Tomate 4,2 a 4,3 Salmão 6,1 a 6,3
Frutas pH Camarão 6,8 a 7,0
Banana 4,5 a 4,7 Laticínios pH
Laranja (suco) 3,6 a 4,3 Leite 6,3 a 6,5
Maçã 2,9 a 3,3 Manteiga 6,1 a 6,4
Uva 3,4 a 4,5 Queijo 4,9 a 5,9
Fonte: Jay, 2005.
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Os microrganismos que necessitam de uma condição redutora (Eh em
torno de –200mV) são as bactérias anaeróbias (gênero Clostridium), e as que
precisam de Eh positivo são as bactérias aeróbias (alguns membros do gênero
Bacillus). Entretanto, algumas bactérias, apesar de aeróbias, crescem melhor sob
condições levemente redutoras e são chamadas de microaerófilas (lactobacilos e
campilobactérias). Já outras bactérias têm a habilidade de crescer tanto em
condições de aerobiose como em anaerobiose e são chamadas de anaeróbias
facultativas, como algumas espécies de mofos e leveduras, apesar de a maior
parte desses microrganismos serem aeróbios.
Analisando-se a Eh de alguns alimentos percebe-se que sucos tendem a
possuir valores entre 300 e 400 mV, sendo interessante observar que as bactérias
aeróbias e os fungos são os maiores causadores de deterioração nesses
produtos. Em relação aos produtos cárneos, pedaços de carne e carne moída
possuem valor em torno de –200 mV e 200 mV, respectivamente (Jay, 2005).
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2.5 Antimicrobianos naturais
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2.5.2 Estruturas biológicas
3.1 Temperatura
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Para microrganismos psicrotróficos, que possuem diferentes velocidades
de multiplicação, foram propostas duas novas categorias: europsicrotrófico e
estenopsicrotrófico. O primeiro grupo não forma colônias visíveis até o 6-10° dia
entre 0 °C e 7 °C e são das espécies Enterobacter cloacae, Yersinia enterocolitica
e Hafnia alvei. O segundo grupo forma colônias visíveis nesta faixa de temperatura
e são as espécies Pseudomonas fragi e Aeromonas hydrophyla.
Alimentos refrigerados, como carnes, pescados, ovos e frangos, são
susceptíveis a multiplicação por psicrófilos e psicrotróficos, incluindo os gêneros
Pseudomonas, Alcaligenes, Flavobacterium e Micrococcus. Boa parte das
bactérias termófilas de importância em alimentos são as dos gêneros Clostridium
e Bacillus, incluindo-se as espécies deterioradoras (B. coagulans e C.
thermosaccharolyticum) e as patogênicas (C. botulinum e C. perfringens). Os
mesófilos têm grande relevância em alimentos pelo fato de fazerem parte do grupo
de patógenos de interesse (Franco; Langraf, 2008).
Os mofos, assim como as bactérias, têm a capacidade de crescer a uma
ampla faixa de temperatura. Muitos crescem em temperaturas de refrigeração e
são encontrados em ovos e superfícies de carnes e frutas, como as linhagens de
Aspergillus, Cladosporium e Thamnidium. As leveduras não crescem em
temperaturas termofílicas, mas em psicróficas e mesófilas (Jay, 2005).
Pode parecer interessante armazenar os alimentos em temperatura de
refrigeração ou ainda menores, mas nem sempre essa prática é adequada. Por
exemplo, bananas são melhor conservadas em temperatura de 13 a 17°C do que
de 5 °C a 7 °C. Ainda, boa parte dos vegetais, como aipo, batata e repolho,
mantém melhor sua qualidade se armazenada em temperaturas de 10°C. A
escolha certa da temperatura sempre deve estar associada à presença ou
ausência de gases (CO2 e O3) e da umidade relativa dor ar (Jay, 2005).
O binômio tempo X temperatura é o fator mais importante para controlar,
diminuir ou eliminar microrganismos durante o processamento dos alimentos, pois
altas temperaturas são capazes de eliminar microrganismos patogênicos. Sabe-
se que o alimento deve atingir temperatura mínima de 74°C no centro geométrico
para eliminar os microrganismos de forma rápida e eficaz (Silva Junior, 2020).
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alimento como no crescimento superficial de microrganismos dentro dele. Sendo
assim, é de extrema importância que determinado alimento, com Aa 0,60, seja
estocado em condições que não aumente sua Aa e que não absorva umidade do
ar. Por exemplo, quando alimentos com alta Aa são armazenados em ambientes
baixa UR, eles perdem umidade. De modo contrário, quando alimentos com baixa
Aa são estocados em locais com alta UR, absorvem umidade do ambiente.
Existe também uma relação entre umidade relativa e temperatura de
armazenamento. De modo geral, quanto menor a temperatura, maior a UR, e vice-
versa. Condições de baixa UR devem ser empregadas em alimentos que sofrem
deterioração por mofos, leveduras e bactérias em sua superfície. Já condições de
alta UR em ambiente de refrigeração, as carnes de frango e bovina, quando mal
embaladas, tendem a sofrer deterioração superficial, uma vez que a microbiota da
carne é predominantemente anaeróbia.
Embora seja possível diminuir as chances de deterioração superficial de
certos alimentos em condições de baixa UR, existe a possibilidade de o alimento
perder umidade para o ambiente e, assim, sua qualidade. Práticas de alteração
da atmosfera gasosa retardam o crescimento superficial de microrganismos sem
diminuir a UR (Jay, 2005).
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em temperaturas baixas seu efeito é mais eficiente. Os outros fatores são o pH, a
Aa, os microrganismos presentes (suas condições metabólicas) e, evidentemente,
a concentração de CO2. Atmosferas com CO2 têm sido utilizadas em carnes
vermelhas e em frutas (na concentração de 10%), prolongando seu tempo de
armazenamento (Franco; Langraf, 2008).
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a sacacina, plantaricina e helveticina, produzidas pelo gênero Lactobacillus
(Kone; Fung, 1992).
A nisina tem sido utilizada como antimicrobiano em alimentos para impedir
o desenvolvimento de Gram-positivos e a germinação de seus esporos, mas não
é efetiva contra Gram-negativos, sendo reconhecida pelo FDA como segura
(GRAS) (Delves-Broughton et al., 1996; Franco; Langraf, 2008). Ela possui dois
mecanismos de ação: interfere na síntese da parede celular e promove a
formação de poros na membrana celular. Como resultado, ocorre alteração na
permeabilidade, consequentemente efluxo de moléculas essenciais (íon K+,
aminoácidos e ATP) por meio dos poros, culminando em morte celular (Breukink
et al., 1999). Esta bacteriocina tem sido utilizada, em larga escala, na indústria de
alimentos de vários países, como agente antibotulínico em queijos e ovo líquido,
além de molhos e alimentos enlatados (Benkerroum et al., 2002; Rilla et al., 2004).
No Brasil, a nisina é largamente utilizada em produtos lácteos, como queijos e
requeijão, e mais recentemente foi aprovado seu uso em produtos cárneos
industrializados cozidos (Brasil, 2019).
Outra forma de interação é a exclusão competitiva, em que microrganismos
inócuos, administrados via oral, colonizam o epitélio intestinal de aves jovens
impedindo que patógenos como Salmonella e Campylobacter cresçam.
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microrganismo transponha todas as barreiras citadas anteriormente; do contrário,
a ação conjunta de todas não permitirá a esporulação (Jay, 2005).
Por meio do conceito dos obstáculos foi possível dar origem à tecnologia
dos obstáculos (hurdle technology), que tem como base a utilização de métodos
combinados de conservação de alimentos, como a salga, a acidificação, o
tratamento térmico, o uso de aditivos etc., a fim de produzir alimentos com maior
qualidade, seguros, que satisfaçam o consumidor e que tenham um shelf life
prolongado. Falaremos sobre estes métodos posteriormente.
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REFERÊNCIAS
BENKERROUM, N.; GHOUATI, Y.; GHALFI, H.; ELMEJDOUB, T.; ROBLAIN, D.;
JACQUES P.; THONART, P. Biocontrol of Listeria monocytogenes in model
cultured milk by in situ bacteriocinproduction from Lactococcus lactis lactis.
International Journal of Dairy Technology, Cumbria, v. 55, n. 3, p. 145-151,
2002.
BREUKINK, E.; WIEDEMANN, I.; VAN KRAAIJ, C.; KUIPERS, O. P.; SAHL, H. G.;
KRUIJFF, B. Use of the cell wall precursor lipid II by a pore-forming peptide
antibiotic. Science, Washington, v. 286, n. 5448, p. 2361-2364, 1999.
JAY, J. M. Modern food microbiology. 6. ed. Nova York: Van Nostrand Reinhold,
2005.
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KONE, K.; D.Y.C. FUNG. 1992. Understanding bacteriocins and their use in foods.
J. Dairy Food and Env. Sanitation. v. 12, n. 5, p. 282-285, 1992.
ZAPICO, P.; GAYA, P.; NUÑEZ, M.; MEDINA, M. Activity of goats' milk
Lactoperoxidase System on Pseudomonas fluorescens and Escherichia coli at
refrigeration temperatures. J Food Prot., v. 58, n. 10, p. 1136-1138, out. 1995.
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