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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Fases da Cicatrização............................................... 5
3. Materiais de Sutura.................................................... 7
4. Suturas..........................................................................14
5. Cuidados Pós-Sutura..............................................23
Referências Bibliográficas .........................................25
SUTURAS 3

1. INTRODUÇÃO Henri de Mondeville, cirurgião que


preconizou que as feridas limpas ci-
A sutura constitui a aproximação das
catrizam melhor, dessa maneira não
bordas de tecidos lesionados ou sec-
deveriam ser usados unguentos e
cionados. Tem como propósito a ma-
bálsamos, os corpos estranhos deve-
nutenção de uma correta contigui-
riam ser removidos e o sangramento
dade dos tecidos, visando orientar e
cessado. Recomendava ainda curati-
facilitar as fases iniciais do processo
vos com compressas embebidas em
de cicatrização, ao mesmo tempo em
vinho quente.
que fornece uma força tênsil neces-
sária à união destes tecidos, até que Apenas no século XVI, Ambroise Paré
este processo se conclua. A aproxi- (1510-1590), considerado o funda-
mação das bordas dos tecidos res- dor da ortopedia, modificou o trata-
secados ou seccionados deve ser mento das feridas que, até então, ain-
mantida utilizando-se materiais que da eram cauterizadas com ferro em
resistam às trações e tensões que brasa e óleo fervente, substituindo
podem ser exercidas sobre a ferida. a cauterização por sutura com fios.
Paré desempenhou o principal papel
Os primeiros relatos que se tem dos
no revigoramento e na atualização da
procedimentos realizados para fecha-
cirurgia da Renascença, e representa
mento de feridas são do Egito antigo,
o corte do vínculo remanescente en-
por volta do ano 1100 a.C. Durante a
tre as técnicas e o pensamento cirúr-
idade média um cirurgião conhecido
gico dos antigos e o impulso em dire-
como Albucasis (930-1013), nascido
ção a eras mais modernas.
na Espanha, escreveu o primeiro livro
ilustrado de cirurgia, introduzindo o No entanto, o uso dos fios se fazia de
uso do ferro em brasa para cauteriza- forma não asséptica, o que trazia uma
ção de feridas, o qual teve grande in- eminente chance de infecções e com-
fluência sobre os cirurgiões da época, plicações no sítio da ferida. Dessa
que usaram essa técnica por séculos. maneira, um importante nome a ser
citado é de Joseph Lister, um cirurgião
No século XIII, dois cirurgiões italia-
inglês, que realizou monumentais es-
nos - Guglielmo Salicetti e seu aluno
forços para introduzir a antissepsia
Guido Lanfranchi - abordaram em seu
sistemática, com base científica, no
livro Chirurgia Magna (1296), temas
tratamento de ferimentos e na reali-
como sutura de nervos e recomenda-
zação de operações.
vam a sutura intestinal.
Por volta de 1865, Lister instilava
Já no fim do século XIII e início do
ácido carbólico puro em feridas e so-
século XIV, as escolas francesas ga-
bre curativos, e também no ambiente
nham prestígio e há o destaque de
SUTURAS 4

em torno do campo operatório e da disponibilidade da esterilização levou


mesa. Além disso, um de seus prin- ao desenvolvimento de aventais, len-
cipais avanços foi o desenvolvimen- çóis, instrumentos e suturas estéreis.
to de suturas absorvíveis estéreis. Da mesma maneira, o uso de más-
Ele acreditava que grande parte da caras, gorros, luvas e jalecos opera-
supuração profunda encontrada em tórios também evoluiu naturalmente,
ferimentos era criada por ligaduras sendo que apenas em meados de
de seda previamente contaminadas. 1890 houve a uniformização destas
Lister desenvolveu uma sutura com técnicas em todas os procedimentos
categute carbolizado, que era melhor cirúrgicos realizados.
do que qualquer outra anteriormente Durante a Primeira Guerra Mundial
produzida. muitos avanços foram feitos em múl-
As técnicas de antissepsia defendidas tiplas áreas da cirurgia. Sem dúvida, o
pos Lister levaram certo tempo para maior feito cirúrgico foi no tratamento
serem aceitas e disseminadas, sendo de infecção de feridas. Os cirurgiões
os alemães os primeiros a entende- fizeram experimentos com nume-
rem a importância da bacteriologia e rosas soluções antissépticas e vá-
da teoria do germe. Como consequ- rios tipos de curativos cirúrgicos. Um
ência, foram os primeiros a expandir princípio de tratamento de ferimentos
a teoria de Lister sobre antissepsia, com base em desbridamento e irriga-
mas descartando seu spray em favor ção acabou evoluindo.
da fervura e do uso da autoclave. A
SUTURAS 5

MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRICO DAS SUTURAS

SUTURAS: aproximação das bordas de


tecidos lesionados ou seccionados

Egito Antigo

Primeiros relatos de fechamento de feridas

Século VIII

Albucasis introduz o uso de ferro em brasa


para cauterização de feridas

Século XIII

Guglielmo Salicetti e Guido Lanfranchi abordam o

HISTÓRICO
tema sutura em seu livro Chirurgia Magna

Século XIV

Mondeville preconiza a limpeza das feridas para melhor


cicatrização

Século XVI

Ambroise Paré substitui a cauterização por sutura com fios

Século XIX

Joseph Lister desenvolve suturas absorvíveis estéreis

2. FASES DA (proliferativa) e fase de maturação (ou


CICATRIZAÇÃO de remodelamento).
O processo de cicatrização corres- A fase inflamatória caracteriza a re-
ponde a uma cascata de eventos ação imediata do tecido à lesão, na
que culminam com a reconstituição qual ocorre hemostasia e inflamação.
tecidual. Pode ser dividido em três Esta fase representa a tentativa de
etapas: inflamatória, regenerativa limitar o dano mediante parada do
SUTURAS 6

sangramento, selamento da superfí- de granulação e gerando intensa de-


cie da ferida e remoção de qualquer posição de colágeno, fibronectica e
tecido necrótico, resíduos estranhos àcido hialurônico, conferindo à ferida
ou bactérias presentes. Apresenta um rápido ganho de força tênsil. No
maior permeabilidade vascular, mi- entanto, ainda é necessária uma re-
gração de células para a ferida por sistência suplementar, mantida pelos
quimiotaxia, secreção de citocinas e materiais da sutura.
fatores de crescimento. Logo que se A fase de maturação, que tem início
completa a síntese da ferida, poucas no décimo quarto dia, se caracteriza
horas após a aproximação de suas por uma constante remodelação do
bordas, já ocorre um vedamento des- tecido conjuntivo. Neste instante, a
ta por um coágulo de fibrina, consti- ferida apresenta aproximadamente
tuindo uma barreira protetora contra 10% da resistência de um tecido sa-
a entrada de agentes infecciosos. dio, o que já é o suficiente para ga-
Ocorrerá então um acúmulo de poli- rantir uma sustentação. A partir de
morfonucleares, llinfócitos e monóci- então, a ferida começa a sofrer um
tos, estendendo-se até o quinto dia. processo contínuo de remodelação e
A partir do quinto dia, à medida que moldagem que culmina em ganho de
as respostas agudas de hemostasia força tênsil, evoluindo progressiva-
e inflamação começam a desapare- mente por até 2 anos.
cer, a estrutura da malha aguarda o
reparo da ferida por meio da angiogê- SE LIGA! Após as considerações sobre
nese, fibroplasia e epitelialização. Dá- as fases da cicatrização se torna mais fá-
-se então início a fase proliferativa, cil entender a necessidade de utilização
também chamada de fase de granu- de materiais de sutura que mantenham
forsa tênsil por um período adequado de
lação, na qual a ferida passa a ser po- acordo com cada tecido.
voada por fibroblastos, macrófagos e
mononucleares, formando o tecido
SUTURAS 7

MAPA MENTAL: FASES DA CICATRIZAÇÃO

1. Hemostasia

Fase Inflamatória

2. Quimiotaxia

3. Migração epitelial

Fase Proliferativa 4. Granulação

5. Maturação

6. Contração

Fase de Maturação 7. Cicatriz

8. Remodelamento da cicatriz

3. MATERIAIS DE SUTURA A escolha dos fios deve basear-se


em critério objetivos como biocom-
Fios
patibilidade, força tênsil, elasticidade,
Para que o procedimento de sutura sítio anatômico a ser suturado, tensão
realizado seja bem-sucedido é neces- à qual será submetida a sutura, idade
sário fazer uma boa escolha em rela- do paciente e grau de contaminação
ção ao fio a ser utilizado, uma vez que da ferida, dentre outros.
eles serão os responsáveis pela jun- As principais características de um
ção dos tecidos que sofreram lesão fio de sutura ideal são demonstra-
ou diérese.. Dessa forma, o conheci- das no quadro a seguir:
mento das propriedades dos fios e da
região que será suturada é muito im-
portante para uma boa cicatrização.
SUTURAS 8

Ter adequada força tênsil e


Baixa reatividade tecidual Fácil manuseio
mantê-la por tempo suficiente

Maleável Bem visível Fácil esterilização

Não permitir crescimento


Resistente a trações Baixo custo
bacteriano

Figura 1. Características de um fio ideal.

modo, podem ser definidos como


SE LIGA! Na realidade o fio ideal não fios que apresentam maior força
existe, uma vez que nenhum fio de su- tênsil e durabilidade maior que 60
tura existente contempla todas estas
dias. É importante salientar que ao
características desejáveis, no entanto,
seguindo estas premissas podemos re- longo do tempo estes fios também
alizar a escolha do fio que melhor se en- se desintegram, contudo, quando
quadra em cada situação. comparados aos fios absorvíveis,
sua durabilidade é maior.
Propriedades dos Fios • Configuração: Os fios podem ser
monofilamentares ou multifila-
• Absorção: Os fios são classifica-
mentares. Fios monofilamentares
dos em absorvíveis e inabsor-
possuem apenas um filamento e,
víveis. Os fios absorvíveis são
por este motivo, são menos male-
aqueles que, ao passarem por pro-
áveis e possuem maior memória, o
cessos de fagocitose, hidrólise ou
que torna mais difícil o seu manu-
reações de proteólise, se desin-
seio e diminui a segurança de seus
tegram e não deixam resíduos no
nós. No entanto, têm como vanta-
organismo. Também podem ser
gem o fato de causarem menos le-
definidos como fios que perdem
sões durante sua passagem pelos
rapidamente sua força tênsil, de
tecidos. Já os fios multifilamentares
modo que se mantêm aproxima-
possuem vários filamentos trança-
damente 60 dias sem perder suas
dos ou torcidos entre si, conferindo
características.
maior flexibilidade, porém causam
• Os fios inabsorvíveis permane- maiores traumas ao tecido e pos-
cem um tempo maior em contato sibilitam maior adesão bacteriana
com o organismo humano e, desse entre seus filamentos (Fig. 1).
SUTURAS 9

Figura 2. Configuração dos fios de sutura. Adaptada de: Bioline Fios Cirúrgicos Ltda.

• Origem: Os fios podem ter origem tensão e retornar ao seu compri-


biológica (animal ou vegetal) ou mento habitual após o fim desta.
sintética. Os primeiros materiais
• Memória: É definida como a capa-
utilizados nas sínteses cirúrgicas
cidade do fio em retornar a sua for-
eram de origem biológica, contudo,
ma original após ser manipulado.
devido a seu alto custo de produção
É uma propriedade não desejada
e à intensa reação inflamatória que
nos fios de sutura, uma vez que
podem desencadear, atualmente
permite que os nós se desfaçam
vêm sendo amplamente substitui-
com mais facilidade.
dos pelos fios sintéticos, que provo-
cam menos reatividade tecidual e • Coeficiente de fricção: É a capa-
podem ser manipulados de acordo cidade que o fio apresenta de des-
com as necessidades que o fabri- lizar através do tecido e dos nós.
cante acredita serem convenientes. • Segurança dos nós: Está intima-
• Força Tênsil: Termo utilizado para mente relacionada ao coeficiente
definir a força necessária para que de fricção de um fio. Fios com bai-
o fio sofra algum rompimento. Ao xo coeficiente de fricção, como os
escolhermos um fio de sutura, de- monofilamentares, afrouxam com
vemos ter em mente que a sua mais facilidade. Estudos apontam
força tênsil não deve ser menor ou que o nó é a região mais frágil de
maior que à do tecido no qual será uma sutura, sendo assim, um fio
utilizado, deverá ser equivalente. precisa ter uma força tênsil e um
coeficiente de fricção adequados
• Elasticidade: É a capacidade de
para não sofrer deslizamentos que
um fio se alongar quando está sob
possam desfazer o nó.
SUTURAS 10

• Reação tecidual: A ocorrência de da ferida, a técnica de sutura e os


um processo inflamatório é a fase materiais utilizados. Como dito an-
inicial da cicatrização, como visto teriormente, os fios multifilamen-
anteriormente. Determinados tipos tares permitem maior penetração
de fios de sutura podem induzir a bacteriana no interior da trama de
exacerbação desta resposta infla- seus filamentos. Estudos também
matória, o que pode culminar em demonstraram que reações enzi-
anormalidades da cicatrização. Os máticas envolvidas na absorção
fios monofilamentares inabsorví- dos fios, principalmente nos de ori-
veis são os que desencadeiam me- gem biológica, aumentam a adesi-
nor resposta inflamatória. Já entre vidade bacteriana.
os fios absorvíveis, os de origem
• Diâmetro/Calibre do fio: Os fios
biológica são os que desencadeiam
apresentam diâmetros ou calibres
maior reação tecidual, sendo que
variados expressos em número
esta atinge seu pico máximo no sé-
de zeros (#-0), por exemplo 2-0
timo dia após a realização da sutura.
(dois-zeros) ou 6-0 (seis-zeros).
• Crescimento bacteriano: A infec- O número de zeros corresponde a
ção constitui a complicação mais um diâmetro capaz de determinar
frequente nas suturas e seu surgi- a resistência tênsil. Quanto maior o
mento depende de algumas variá- número de zeros, mais fino é o fio
veis como o grau de contaminação (Fig. 2).

Figura 3. Numeração dos fios de sutura segundo o diâmetro.

• Visibilidade em campo cirúrgico: • Custo: É importante que olhemos


É importante que os fios tenham o custo dos fios, contudo o mais
alguma coloração para que haja importante é adequar o fio ao pro-
maior visibilidade no campo cirúr- cesso cirúrgico que será realizado.
gico. Desse modo é adequado que Abaixo podem ser vistos os principais
os fios não sejam transparentes ou fios de sutura utilizados na prática ci-
vermelhos, uma vez que podem ser rúrgica relacionados com suas res-
perdidos na presença de sangue. pectivas propriedades.
SUTURAS 11

FIOS INABSORVÍVEIS

Seda Algodão Nylon Aço inox Prolene

Origem Biológica Biológica Sintética Sintético Sintético

Multifilamen-
Mono ou multifilamen-
Configuração tar, trançado e Multifilamentar Monofilamentar Monofilamentar
tar trançado
revestido
Perde 50% em Perde 50% em
Força Tênsil Perde 11% em um ano Elevada Elevada
um ano seis meses
Maleabilidade Alta Alta Baixa Baixa Baixa

Segurança do
Alta Alta Baixa Alta Baixa

Reação Tecidual Intensa Intensa Mínima Ausente Mínima

Tecidos em
geral, incluindo Tecidos em Áreas de grande
Indicações gerais Suturas vascu-
cardiovascu- geral, incluindo tensão e cicatriza-
Indicação sendo mais usado em lares ou mesmo
lares, oftal- gastrointesti- ção lenta, como o
suturas de pele hernioplastia
mológicos e nal e pele esterno e tendões
neurológicos

FIOS ABSORVÍVEIS
Ác.
Categute Vicryl PDS Monocryl
Poliglicólico

Origem Biológica Sintética Sintética Sintética Sintética

Multifilamentar
Configuração Multifilamentar Multifilamentar trançado Monofilamentar Monofilamentar
torcido
Mantém 60%
Mantém 75% Mantém 50% ao
Mantém por 7 a no sétimo dia Mantém 50% entre o 25°
Força Tênsil após duas final da primeira
10 dias e 50% no 25° e 30° dias.
semanas semana
dia

Maleabilidade Baixa Alta Alta Baixa Alta

Segurança do
Boa Alta Alta Baixa Alta

Reação Tecidual Intensa Mínima Mínima Mínima Mínima

Sínteses em ge- Procedimentos


Indicações Suturas de múscu-
ral sem necessi- pediátricos e Suturas
Indicação gerais em los, aponeuroses e até
dade de retirada cardiovascu- intradérmicas
cirurgias mucosas
do fio lares
SUTURAS 12

MAPA MENTAL: CARACTERÍSTICAS DOS FIOS

Capacidade do fio em
retornar a sua forma original
após ser manipulado
Absorvíveis

Inabsorvíveis Memória

Absorção Custo Monofilamentares


Força necessária
para que o fio sofra
algum rompimento Força Tênsil Configuração Multifilamentares

Capacidade do fio se Elasticidade Coeficiente de fricção


alongar quando está
sob tensão e retornar
ao seu comprimento Reação tecidual Segurança dos nós
habitual ao fim desta

Diâmetro Crescimento bacteriano

Origem Visibilidade em campo cirúrgico


Quanto maior o número de
zeros, menor o diâmetro do fio
Biológica: animal ou vegetal

Sintética
SUTURAS 13

Agulhas triangulares (cortantes) ou espa-


tuladas. Seu corpo varia entre retan-
As agulhas são o principal agente
gular, redondo e espatulado, fazendo
traumático em suturas, tem por fun-
uma transição entra a ponta e a in-
ção promover a passagem do fio pelo
serção do fio. Agulhas cortantes fa-
tecido com o menor trauma possível.
cilitam a técnica cirúrgica em tecidos
Dividem-se em fundo ou olho (região
resistentes, como a derme, por exem-
em contato com o fio), corpo e pon-
plo. Porém, tecidos nobres como fí-
ta. Podem ser classificadas em trau-
gado ou córnea podem exigir menos
máticas e atraumáticas. As agulhas
trauma local, sendo indicada a utili-
antigas que necessitavam da inser-
zação de agulhas rombas e espatu-
ção do fio eram mais traumáticas por
ladas nesses tecidos (Fig. 3). Quanto
terem sua extremidade distal alarga-
ao seu formato, podem ser retas ou
da e estão em desuso, já as agulhas
circulares. As circulares têm curvatu-
acopladas ao fio tem um amplo uso
ra relacionada à fração de um círculo
na atualidade e causam um trauma
(1/4, 3/8, ½, 5/8). Diferentes curvatu-
necessário apenas para a passagem
ras facilitam determinado movimento
do fio.
durante sua utilização (Fig. 4).
Além disso as agulhas também po-
dem ser classificadas em cilíndricas,

Corpo Corpo Corpo

Ponta

Ponta
Ponta
Cilíndrica Cortante com corte reverso Ponta cortante e corpo cilíndrico

Corpo Corpo Corpo

Ponta Ponta Ponta


Cortante com ponta de precisão Ponta romba e corpo cilíndrico Microponta em espátula

Figura 4. Principais agulhas cirúrgicas disponíveis. Fonte: SAVASSI. Cirurgia Ambulatorial, 1999.
SUTURAS 14

Reta 1/4 círculo 1/8 círculo 1/2 círculo 5/8 círculo

Figura 5. Formatos e curvaturas das agulhas cirúrgicas. Fonte: Bioline Fios Cirúrgicos Ltda.

MAPA MENTAL: CARACTERÍSTICAS DAS AGULHAS

Triangulares x Cilíndricas Traumáticas x


x Espatuladas Atraumáticas

Retas x Circulares

4. SUTURAS abaixo dessa, estejam eles adequa-


damente tratados ou não. E associado
Todas as suturas promovem em maior
aos anteriores, há o efeito hemostá-
ou menor grau três efeitos básicos
tico da sutura, decorrente da tensão
nos tecidos vivos onde são aplicadas.
dos pontos, da aproximação dos teci-
Há o efeito de síntese (aproximação),
dos e do recobrimento dos planos. A
em que a tensão da sutura terá o efei-
interação apropriada desses efeitos,
to de propiciar a cicatrização primária
resultando em tratamento adequado
da ferida. Secundariamente, ocorrerá
das feridas, dependerá do material a
o recobrimento das estruturas em
ser utilizado e da correta técnica ci-
planos anatômicos imediatamente
rúrgica a ser empregada.
SUTURAS 15

As suturas podem ser classificadas corretamente; a escolha do material


quanto: 1) à permanência, em absor- adequado (instrumental, fios, agu-
víveis (temporárias) ou inabsorví- lhas) contribui substancialmente para
veis (permanentes); 2) à técnica, em o sucesso do procedimento. Deve-se
sutura descontínua ou sutura con- escolher o instrumental mais delica-
tínua; 3) aos planos, em planos se- do possível para cada tipo de sutura,
parados ou planos conjuntos; 4) à porém que cumpra sua utilidade de
posição das bordas, em coaptante, maneira eficaz.
eversante ou inversante. Além disso, deve ser observado o
tipo de ferida, e se há ou não pos-
Condições para uma Boa Sutura sibilidade de suturá-la, considerando
o tamanho e a gravidade da lesão, e
Algumas condições contribuem para o risco de infecção. Nem toda lesão
o sucesso do procedimento de sutu- é passível de sutura imediata, muitas
ra dos tecidos: lavagem com solução vezes será necessário lançar mão do
salina para retirada de corpos estra- uso de retalhos, por exemplo, ou rea-
nhos; a antissepsia ao redor da lesão lizar profilaxias infecciosas.
evitará a deiscência da sutura devido
a processos infecciosos; apresen-
tação adequada das bordas da fe- Técnica Anestésica Ideal
rida permite uma sutura sem irregu- Dependendo da intervenção pro-
laridades ou falhas de aproximaçã; posta e do local, podem ser usadas
a hemostasia prévia diminui a pos- diferentes técnicas de anestesia lo-
sibilidade de infecções e infiltração cal para a obtenção da analgesia.
dos tecidos, além de evitar a perda No caso da realização de suturas, o
da sutura por formação de coleções anestésico geralmente utilizado é a
(hematomas); a ausência de tensão lidocaína com vasoconstritor em ex-
entre as bordas, por aproximação de tremidades proximais (ex: couro ca-
planos profundos, quando necessá- beludo) e sem vasoconstritor em
rio, evita deiscências por erro técni- extremidades distais (ex: dedos). A
co e propicia cicatrizes com melhor técnica mais adequada é o bloqueio
qualidade; evitar espaços mortos e de campo, no qual a infiltração local
remover corpos estranhos ou teci- de anestésico é realizada delimitan-
dos desvitalizados previne compli- do uma área circunscrita em torno da
cações e necessidade de reinterven- lesão a ser tratada. Essa delimitação
ções; anestesia local diminuirá a dor deve ser realizada através da infiltra-
e tratá mais conforto para o pacien- ção em botões anestésicos em pelo
te, permitindo a realização da técnica menos dois pontos opostos. Deve-se
SUTURAS 16

introduzir a agulha obliquamente até Técnica de Sutura


os planos mais profundos repeitando
Existem, cinco pré-requisitos que de-
a área circunscrita. Aspira-se a serin-
vem ser respeitados para que se te-
ga previamente à administração do
nha uma sutura ideal:
anestésico local para verificar se há
retorno de sangue e se certificar que
o anestésico não está sendo injetado
na corrente sanguínea.

Simetria entre um ponto e outro


Não permitir que as bordas
Realizar tração adequada e entre o ponto e a borda da
fiquem sob tensão
ferida

Evitar nós sobre a ferida Fios e agulhas adequados

Para o correto posicionamento e a realizada em um único tempo ou em


utilização da agulha e porta-agulha dois tempos de uma borda a outra.
dividimos, mentalmente, a agulha
curva em terços. Na utilização usual,
a agulha está posicionada em 90º em Suturas Descontínuas
relação ao porta-agulhas, sob preen- Ponto Simples Separado: é a técni-
são na ponta do mesmo e com sua ca mais utilizada, pois é fácil e rápida.
ponta orientada para a palma da mão É o ponto ideal para uma aproxima-
do cirurgião. A transfixação dos te- ção correta das bordas de uma ferida.
cidos deve ser realizada com a pon- Utiliza-se agulha curva, portanto sua
ta da agulha mantendo contato em introdução na pele deve acompanhar
90º com a superfície, podendo ser seu círculo (Fig. 5).
SUTURAS 17

Figura 6. Ponto simples de pele. A e B: maneira correta de se dar o ponto. C: compensação no caso de bordas de
diferentes espessuras. Fonte: SAVASSI. Cirurgia Ambulatorial, 1999.
SUTURAS 18

Ponto Donati (“longe-longe, per-


to-perto”): Permite aproximação
uniforme das bordas mesmo quando
for uma incisão incorreta ou quando
as bordas forem irregulares, apesar
de ter uma execução mais trabalho-
sa. Ele começa de forma semelhante
ao ponto simples, mas uma vez com-
pletado o ponto simples a agulha é
voltada no sentido do início do pon-
to, pegando uma pequena porção de
derme e epiderme, dos dois lados da
ferida, de tal forma que, quando o nó
é atado, as bordas serão suspensas
(Fig. 6).
Figura 7. Ponto Donati. Fonte: SAVASSI. Cirurgia Am-
bulatorial, 1999.

Ponto em X: Utilizada em regiões contrária à inicial. Ao final, para finali-


com grandes resistências submetidas zar a sutura, o fio é passado em mes-
à tensão. O fio é passado em um lado mo nível ao inicial, em borda oposta
da incisão e, após, a um nível abaixo (Fig. 7).
nas duas bordas, iniciando pela borda

Figura 8. Ponto em X. Fonte: INGRACIO, A.R. Técnica cirúrgica, 2017.


SUTURAS 19

Ponto em U Horizontal: Na sutura intradérmica, de forma horizontal, em


em U horizontal, ou ponto de Gillies, U. O fio não é exteriorizado nesta bor-
a agulha penetra a pele de forma in- da. Após a confecção do U horizontal
tradérmica na fase inicial, em uma intradérmico, a agulha retorna verti-
das bordas. Na borda contralate- calmente e ao lado de sua entrada,
ral a passagem do fio é totalmente também intradérmica (Fig. 8).

Figura 9. Ponto em U Horizontal. Fonte: INGRACIO, A.R. Técnica cirúrgica, 2017.

Suturas Contínuas
Este tipo de sutura tem maior indi-
cação nos casos em que há grandes
extensões para suturar e é necessário
ganhar tempo, porém seus resultados
deixam a desejar.
Ponto Simples Contínuo (chuleio
simples): consiste na confecção de
pontos simples, seriados e sem inter-
rupção. O nó é realizado no início e no
final da sutura. Possui técnica rápida
e de fácil execução. (Fig. 9).

Figura 10. Ponto contínuo simples. Fonte: SAVASSI.


Cirurgia Ambulatorial, 1999.
SUTURAS 20

Ponto Contínuo Ancorado (chuleio A entrada e saída dos fios são reali-
festonado): Realizado da mesma zadas lado a lado, de forma contínua
forma que a sutura simples contínua, (Fig. 11).
porém com o cruzamento do fio en-
tre os nós. É utilizado para dar firmeza
à sutura, principalmente nas suturas
longas, conferindo maior fixação dos
lábios da sutura (Fig. 10).

Figura 12. Ponto em U Horizontal.

Sutura Intradérmica: É realizada por


passagem do fio de forma horizontal,
em plano mais superficial possível. A
passagem do fio contra lateral deve
Figura 11. Ponto Contínuo Ancorado.
ser realizada no mesmo nível do tér-
mino da passagem imediatamente
Ponto em U Horizontal Contínuo anterior. O fio deve ser cruzado. O fio
(barra grega ou colchoeiro): Sutu- pode ser exteriorizado, com ou sem
ra realizada em U, horizontalmente, nó externo, nas duas extremidades.
transfixando a pele em suas bordas. Tem excelente confrontamento ana-
tômico e efeito estético (Fig. 12).
SUTURAS 21

Figura 13. Sutura intradérmica. Fonte: INGRACIO, A.R. Técnica cirúrgica, 2017.

Nós Cirúrgicos
Os nós cirúrgicos têm extrema im-
portância durante o ato cirúrgico para
hemostasia e síntese. Eles podem ser
feitos manualmente, com o auxílio de
um porta-agulhas ou serem usados
ambos. O nó verdadeiro da sutura é
dado com 3 seminós: 1º contenção;
2º fixação; 3º segurança.
SUTURAS 22

MAPA MENTAL: TÉCNICAS DE SUTURA

Ponto Simples
Ponto em X Donati Ponto em U
Separado

Sem nós sobre a ferida Suturas descontínuas


Ponto Simples
Contínuo
Fios e agulhas
adequados
Intradérmica

Sem tensão Pré-Requisitos Suturas contínuas


Ponto Contínuo
Ancorado
Simetria

Ponto em U contínuo
Nós cirúrgicos:
Tração adequada formados por
3 seminós

1º contenção 2º fixação 3º segurança


SUTURAS 23

5. CUIDADOS ser considerados estão: 1) aspecto da


PÓS-SUTURA cicatriz (seca, sem edema ou conges-
tão); 2) local da ferida (submetido ou
Após realizada a sutura a mesma
não a grandes tensões); 3) direção da
deve ser coberta com curativo ade-
cicatriz (obedece ou não as linhas de
quado e, caso seja necessário, devem
força da pele); 4) ausência de condi-
ser prescritas as profilaxias determi-
ções que interferem na cicatrização;
nadas. Além disso, devem ser pres-
5) tipo de tecido e sua capacidade de
critos analgésicos para controle da
adquirir resistência tênsil; 6) tensão a
dor e orientados os cuidados gerais
que o tecido será submetido.
com a higienização da ferida, como
lavagem com água e sabão e troca
dos curativos.
Os fios de sutura devem ser mantidos
apenas enquanto úteis. Como norma,
devem ser retirados o mais breve pos-
sível, logo que a cicatriz adquira resis-
tência. Entre os elementos que devem
SUTURAS 24

MAPA MENTAL: SUTURA

Segurança dos nós Memória

Configuração Reação tecidual

Elasticidade Força tênsil

Crescimento bacteriano
Aproximação das Absorção
bordas de tecidos
lesionados ou Diâmetro/calibre do fio
1. Fase Inflamatória Origem
seccionados

2. Fase Proliferativa Coeficiente de fricção


Características dos Fios
Fases da Cicatrização Visibilidade em
3. Fase de Maturação campo cirúrgico
SUTURAS
Custo
Retas x Circulares Características
Suturas Descontínuas
das Agulhas
Traumáticas x Atraumáticas
Ponto Simples Contínuo
Triangulares x Cilíndricas x Seminós Suturas Descontínuas
Espatuladas
Ponto em U contínuo
1º contenção Ponto em X
Ponto Contínuo Ancorado
2º fixação Ponto Simples Separado
Intradérmica
3º segurança Ponto em U

Donati
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Anderson Ricardo Ingracio. Técnica cirúrgica. Caxias do Sul, RS: Educs, 2017.
Courtney M. Townsend, Jr. et al. Sabiston tratado de cirurgia. Tradução: Alexandre Maceri
Midão et al. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
GOFFI, F. S. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia.
4. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001.
FONSECA, F. P. ; SAVASSI-ROCHA, P. R. Cirurgia Ambulatorial. 3. ed. Rio de janeiro: Edi-
tora Guanabara-Koogan, 1999.
MAGALHÃES, H. P. Técnica cirúrgica e cirurgia experimental. São Paulo: Elsevier, 1996.
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