Decisão Processo Superendividamento

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Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0802688-65.2023.8.02.0000 e código Y65KrKXT.
Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Fábio José Bittencourt Araújo
Agravo de Instrumento n.º 0802688-65.2023.8.02.0000
Contratos Bancários
3ª Câmara Cível
Relator:Des. Fábio José Bittencourt Araújo
Agravante : Banco Santander Brasil S/A.
Advogado : Flávio Neves Costa (OAB: 153447/SP).
Advogado : Ricardo Neves Costa (OAB: 120394/SP).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 10/04/2023 às 12:50 .
Advogado : Raphael Neves Costa (OAB: 225061/SP).
Agravado : Najara Pereira de Lira.
Advogado : Marcelo Mendes da Silva (OAB: 61670/GO).

DECISÃO/MANDADO/CARTA/OFÍCIO N.º ____/2023.

1 Trata-se de agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo interposto


por Banco Santander Brasil S/A, em face de Najara Pereira de Lira, visando reformar
decisão proferida pelo Juízo de Direito da 11ª Vara Cível da Capital, nos autos da "ação de
repactuação de dívida (superendividamento) c/c tutela de urgência" tombada sob o n.º
0745023-25.2022.8.02.0001, cujo dispositivo restou proferido nos seguintes termos:

"[...] A documentação que instrui a inicial permite, de plano, o


enquadramento jurídico para deferimento do pedido de urgência, pois,
confere a plausibilidade à argumentação da autora.
Tais fatos são suficientes para demonstrar também o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo, uma vez que a cobrança coloca em risco
a sua sobrevivência, com crescimento significativo das dívidas e
consequente prejuízo na repactuação pretendida.
Desta maneira, faz-se presente a evidência do direito alegado e o perigo da
demora, autorizando a medida antecipatória, o que faz com a presente
decisão caminhe para o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela
perseguida.
Em assim sendo, recepciono, para deferir, a pretensão da parte autora
quanto ao provimento de urgência alvitrado, para limitar os descontos em
folha de pagamento até o valor correspondente a 30% do salário líquido da
autora, até ulterior deliberação deste juízo. [...]" (sic, fl. 75, dos autos de
origem, grifos no original).

2 Em suas razões recursais (fls. 1/12), o recorrente alegou que "caso mantida a
limitação dos descontos em contracheque de forma irrestrita à 30% dos rendimentos líquidos,
se esquivará o ora Agravado do cumprimento dos contratos licitamente firmados com o ora
Agravante, mesmo após valer-se de sua condição de aposentada servidora pública do estado
para usufruir de maior margem consignável e desfrutar dos valores contratados, valendo-se de
diversos benefícios decorrentes da modalidade de crédito consignado, com juros e encargos

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muito inferiores aos praticados em outras modalidades de crédito" (sic, fl. 5).
3 Sustentou que "Da leitura da relação dos incluídos artigos. 104-A e 104-B do
Código de Defesa do Consumidor, conclui-se que os procedimentos previstos pela Lei
14.181/21 representam respectivamente repactuação de dívida de forma consensual e
repactuação de dívida de maneira compulsória. Ou seja, não cabe concessão de tutela de

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urgência dentro da primeira fase do procedimento de repactuação, pois a Lei nº
14.181/21, privilegiou a via da autocomposição" (sic, fl. 7, grifos no original).
4 Aduziu que "o Nobre Juízo a quo, ao proferir a r. decisão agravada e conceder a
antecipação de tutela para limitar irrestritamente os descontos em 30% dos vencimentos do
Agravado, desrespeitou importantes preceitos legais, inclusive, desrespeitando a
determinação proferida recentemente publicada que envolve o tema 1085 do STJ, em
que houve a decisão que é lícito os descontos efetuados de empréstimos bancários
comuns em conta corrente, não sendo aplicado o disposto previsto na lei nº 10.820/2003,
artigo 1º, parágrafo 1º" (sic, fl. 8, grifos no original).
5 Ao final, formulou assim seus pedidos:

"[...] Assim, nos termos dos relevantes fundamentos de direito aduzidos nas
inclusas razões do cabimento do recurso, reitera o agravante seja concedido
o necessário efeito suspensivo ativo, proibindo-se e suspendendo-se os
efeitos da medida liminar deferida nos autos de origem até o trânsito em
julgado do presente recurso, ante o perigo de dano de difícil ou incerta
reparação, nos termos do artigo 1.019, I do Código de Processo Civil.
Ex positis, requer-se seja dado provimento ao presente agravo de
instrumento, reformando a decisão recorrida, salvo se o próprio Juiz
prolator reformá-la, nos termos do artigo 1.018 do Código de Processo
Civil/2015.
Pelo exposto, comprovada a impropriedade da decisão agravada, proferida
em desacordo com a Legislação Pátria e jurisprudência vigente, a qual trará
enormes e injustificados prejuízos ao agravante caso seja mantida tal como
proferida em Primeiro Grau de Jurisdição, requer a Vossas Excelências seja
provido o presente recurso, reformando-se a decisão ora agravada, nos
termos acima expostos.
Diante do exposto, espera o agravante que o Egrégio Tribunal, com os
áureos suplementos dos ilustres integrantes da Colenda Câmara Julgadora,
dê provimento ao presente recurso para o fim de se reformar a respeitável
decisão ora enfrentada, uma vez que demonstrado que o equívoco cometido
na r. decisão proferida, porquanto em desacordo com preceitos legais e
jurisprudenciais. [...]" (sic, fl. 12).

6 Com a exordial recursal, vieram os documentos de fls. 13/48.


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7 É o Relatório, no essencial. Fundamento e decido.
8 De início, importa destacar que estão presentes todos os requisitos genéricos
extrínsecos (preparo – fl. 48, tempestividade e regularidade formal) e intrínsecos (cabimento,
legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer) de
admissibilidade recursal, salientando que, nos termos do § 5º, do art. 1.017, do Código de

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Processo Civil de 2015, inexistem documentos obrigatórios a serem juntados aos autos deste
agravo de instrumento, uma vez que o processo de primeira instância tramita em meio
eletrônico.
9 Ademais, no que concerne ao cabimento do agravo de instrumento, observo que a
hipótese dos autos se enquadra naquela prevista no parágrafo único, do art. 1.015, do Código
de Processo Civil de 2015, que autoriza a interposição desta modalidade de recurso, quando a
decisão agravada versar sobre tutelas provisórias.
10 Assim, conheço do presente agravo de instrumento e passo à análise do pedido
antecipação dos efeitos da tutela recursal.
11 Atualmente, a possibilidade de concessão de efeito suspensivo encontra respaldo
no art. 995 do Código de Processo Civil de 2015, segundo o qual a decisão recorrida poderá
ser suspensa quando houver elementos que evidenciem dano grave, de difícil ou impossível
reparação e ficar comprovada a probabilidade do provimento do recurso, in verbis:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição


legal ou decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por
decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco
de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a
probabilidade de provimento do recurso. (Grifos aditados).

12 Atualmente, a concessão de tutela provisória encontra respaldo no art. 300 do


Código de Processo Civil, segundo o qual a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo, in verbis:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,
exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra
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parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. (Grifos aditados).

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13 Ademais, cumpre registrar que a antecipação de tutela recursal ou a concessão de
efeito suspensivo é medida que, à luz do art. 1.019 do Código de Processo Civil de 2015, será
cabível quando verificada a presença dos requisitos da tutela de urgência requerida. Confira-
se:

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído


imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o
relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em
antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal,
comunicando ao juiz sua decisão; [...] (Grifos aditados).

14 Desta feita, para a concessão de efeito suspensivo em sede de agravo de


instrumento, imperiosa se faz a presença concomitante de dois requisitos essenciais, quais
sejam: a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
15 No que concerne ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, deve
haver a comprovação de que a manutenção da decisão de primeiro grau poderá ocasionar
prejuízo iminente ao agravante, ou, de alguma forma, pôr em risco o próprio objeto da
demanda. Já a probabilidade do direito destaca a coerência e a verossimilhança de suas
alegações, por meio de análise sumária do pedido feito, caracterizando cognição em que
impera a razoável impressão de que o autor é detentor do direito alegado.
16 Consoante relatado, o agravante defende a legalidade dos descontos realizados
sobre os proventos líquidos da autora, ora agravada, decorrentes de empréstimo consignado.
17 Ao analisar os autos de origem, observei que a autora ingressou com "ação de
repactuação de dívida", alegando superendividamento, em razão do fato de terem sido
realizados descontos em seus proventos no importe de R$ 3.000,00 (três mil reais), referentes
a um empréstimo consignado pactuado para renegociar dívidas existentes perante o agravante.
Além disso, a demandante informa que, do salário líquido depositado em sua conta corrente,
também são descontados R$ 524,60 (quinhentos e vinte e quatro reais e sessenta centavos),

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provenientes de uma cédula de crédito bancário, referente a outra renegociação realizada com
o banco agravante. Assim, consigna que, após pagar as parcelas junto ao recorrente, lhe
sobram apenas R$ 757,18 (setecentos e cinquenta e sete reais e dezoito centavos) para sua
subsistência e de seus filhos.
18 A respeito do tema, reproduzo os exatos termos contidos no art. 54-A, §1º, do

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Código de Defesa do Consumidor, com as alterações inseridas pela Lei n.º 14.181/2021, por
trazer o conceito de superendividamento, in verbis:

Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento


da pessoa natural, sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira
do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de
o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação. (Grifos aditados).

19 As dívidas vencidas e vincendas tratadas pela nova lei "englobam quaisquer


compromissos financeiros assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações
de crédito, compras a prazo e serviços de prestação continuada", conforme dispõe o §2º, do
supramencionado dispositivo legal.
20 Além disso, as alterações inseridas pela Lei n.º 14.181/2021 preveem a
possibilidade de elaboração de um plano para pagamento da dívida, seja através de acordo
entre as partes ou de forma compulsória, a ser apresentado pelo próprio Magistrado que
poderá realizar a revisão de contratos e repactuação das dívidas restantes.
21 Nesse contexto, constato que a autora contraiu um empréstimo junto ao
demandado, na modalidade crédito consignado (contrato n.º 542264758), no valor de R$
124.119,27 (cento e vinte e quatro mil, cento e dezenove reais e vinte e sete centavos), a ser
pago em 72 (setenta e duas) parcelas de R$ 3.000,00 (três mil reais), utilizando parte do valor
para sanar dívidas com o próprio banco, consoante se depreende dos documentos de fls.
43/45.
22 Ainda da análise do caderno processual, observei que a demandante também
possui um segundo empréstimo com o agravante (fls. 51/53), este na modalidade crédito
pessoal (contrato n.º 0033018632000070500), no valor de R$ 22.704,56 (vinte e dois mil,
setecentos e quatro reais e cinquenta e seis centavos), também utilizado para pagamento de
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débito junto ao banco réu. Conforme pactuado, o aludido empréstimo deverá ser pago em 99
(noventa e nove) parcelas no importe de R$ 524,60 (quinhentos e vinte e quatro reais e
sessenta centavos).
23 No ponto, impende consignar que a autora possui uma renda bruta mensal no
montante aproximado de R$ 5.544,04 (cinco mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e

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quatro centavos), conforme demonstrativo de pagamento acostado aos autos de origem (fls.
26/28). Assim, o valor das parcelas dos empréstimos contraídos junto ao agravante
correspondem a 63,57% (sessenta e três vírgula cinquenta e sete por cento) de seus
rendimentos brutos e 82% (oitenta e dois por cento) de seus rendimentos líquidos, se abatidos
os encargos trabalhistas e demais descontos legais.
24 Noutra banda, a autora comprovou ser mãe de 2 (dois) filhos e está grávida do
terceiro, estando numa gravidez de risco por ser portadora de Diabetes tipo 2, necessitando
fazer uso diário de insulina, conforme documentos de fls. 29/42.
25 Nessa senda, a meu ver, o desconto de 82% (oitenta e dois por cento) de seus
rendimentos líquidos para pagamento de empréstimos contraídos junto ao banco recorrente
impossibilita que a ora agravada aufira renda suficiente para garantir o seu mínimo existencial
e de sua família.
26 Saliente-se, por oportuno, que, ao tratar sobre a preservação e o não
comprometimento do mínimo existencial para fins de prevenção, tratamento e conciliação de
situações de superendividamento em dívidas de consumo, o Decreto n.º 11.150/2022 prevê o
seguinte, in verbis:

Art. 3º No âmbito da prevenção, do tratamento e da conciliação


administrativa ou judicial das situações de superendividamento, considera-
se mínimo existencial a renda mensal do consumidor pessoa natural
equivalente a vinte e cinco por cento do salário mínimo vigente na data de
publicação deste Decreto.

27 De mais a mais, não me passa despercebido que o Superior Tribunal de Justiça,


nos autos do REsp n.º 1.863.973/SP, julgado sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 1.085),
fixou a seguinte tese: "São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns
em conta-corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde que previamente
autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo aplicável,
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por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os
empréstimos consignados em folha de pagamento" (grifos aditados).
28 No entanto, a meu ver, o entendimento da Corte Cidadã deve estar em harmonia
com os princípios do nosso ordenamento jurídico, em especial o princípio da dignidade da
pessoa humana, previsto no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, da boa-fé objetiva,

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disposto no art. 4º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor. Desta forma, é irrelevante
a natureza do empréstimo, se consignado ou não, pois, no meu sentir, deve ser observado o
procedimento previsto na Lei n.º 14.131/2021 e priorizado o pagamento da dívida sem privar
o devedor do mínimo necessário para sua subsistência.
29 Em abono desse entendimento, trago à colação a jurisprudência dos Tribunais
pátrios, verbo ad verbum:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Pretensão à limitação de descontos em


30% da remuneração líquida. Admissibilidade. Demanda fundada na
lei nº lei nº 14.181/21 (lei do superendividamento). Hipótese em que não
tem aplicação o entendimento firmado pelo C. Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.863.973-SP.
Presença dos requisitos do artigo 300, "caput", do Código de Processo
Civil. Decisão reformada. Recurso provido. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2291170-69.2022.8.26.0000; Relator (a): JAIRO BRAZIL;
Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro de Valparaíso - 1ª
Vara; Data do Julgamento: 29/03/2023; Data de Registro: 29/03/2023).

TUTELA DE URGÊNCIA – Ação nominada de "ação de conhecimento


com pedido de repactuação de dívidas (superendividamento)" - Decisão que
deferiu o pedido de concessão de tutela de urgência para que as partes
rés debitem da parte autora apenas e tão somente o percentual de 30%
de cada parcela mensal devida a título de contrato de mútuo - Presentes
elementos que evidenciam a probabilidade do direito e de perigo de
dano (CPC/2015, arts. 294 e 300, caput), em intensidade suficiente,
para, na atual situação processual, o deferimento da tutela de urgência,
para determinar que a parte ré agravante debite da parte autora
apenas e tão somente o percentual de 30% de cada parcela mensal
devida a título de contrato de mútuo - Presente o requisito de perigo de
dano, visto que envolve descontos realizados em verba de natureza
alimentar, comprometendo o sustento de pessoa superendividada –
Manutenção da r. decisão agravada. RECURSO – O recurso não pode ser
conhecido quanto à pretensão da parte agravante de exclusão de incidência
de multa diária ou a redução do seu valor, em caso de descumprimento da
determinação judicial, por falta de interesse recursal (CPC/2015, art. 996).
Recurso conhecido, em parte, e desprovido. (TJSP; Agravo de Instrumento
2220790-21.2022.8.26.0000; Relator (a): Rebello Pinho; Órgão Julgador:
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20ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional X - Ipiranga - 3ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 28/03/2023; Data de Registro: 28/03/2023).

APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. INTERESSE RECURSAL. RECURSO


CONHECIDO EM PARTE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
CONFIGURADO. PRELIMINAR INDEFERIDA. EMPRÉSTIMOS.
DESCONTOS NA CONTA CORRENTE. CRÉDITO CONSIGNADO.

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LIVRE DISPOSIÇÃO DAS PARTES. MÍNIMO EXISTENCIAL.
PONDERAÇÃO. REPACTUAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI DO
SUPERENDIVIDAMENTO. POSSIBILIDADE. DOLO E MÁ-FÉ. NÃO
PRESUMÍVEIS. SUPERENDIVIDAMENTO. COMPROVAÇÃO.
SERVIDOR PÚBLICO. MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. LIMITE
DESCONTO. OFÍCIO. ÓRGÃO EMPREGADOR. RECÁLCULO DA
PARCELA. IMPOSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PRINCÍPIO DA
SUCUMBÊNCIA. REGRA. SENTENÇA MANTIDA. 1. O recurso é o
meio pelo qual se visa reverter a decisão que tenha sido prejudicial à parte.
Com efeito, para que seja demonstrado o interesse recursal é necessário que
o recorrente comprove a presença do binômio necessidade e
utilidade/adequação. Quanto à necessidade do recurso, é imperiosa a
existência de uma decisão que cause prejuízo imediato à parte, que
justificaria a interposição recursal visando a melhora da situação. 2. No
caso dos autos, pretendem os apelantes a ampliação da quantidade de
parcelas do financiamento, ante a redução de seu valor na sentença.
Contudo, tal questão já havia sido objeto de análise em embargos de
declaração, os quais foram providos, tendo o Juízo a quo indicado de forma
explícita que deveria haver a majoração da quantidade de parcelas, como
pretendido pela parte. Assim, já havendo manifestação expressa na sentença
indicando a necessidade de ampliação do prazo para pagamento das dívidas,
em virtude da redução do valor das parcelas, não se justifica a interposição
de apelação para este fim, não havendo interesse recursal quanto a este
pedido. 3. O Juiz é o presidente do processo e o destinatário da prova, de
forma que tem o dever de conduzir o feito para determinar a instrução,
conforme a relevância e a necessidade para formar o convencimento
judicial, bem como indeferir as diligências inúteis ou protelatórias (artigos
370 e 371 do CPC). 4. Na hipótese, defendeu o apelante a necessidade de
expedição de ofício ao empregador do autor/apelado a fim de averiguar a
margem consignável da parte à época da tomada do crédito. Contudo, na
presente ação, não se questiona a validade do contrato firmado entre as
partes, mas o superendividamento do autor, não sendo, pois, necessária a
produção da prova requerida. Preliminar indeferida. 5. Muito embora os
apelantes defendam a validade dos contratos de mútuo, a questão posta
nos autos transcende tal alegação, visto que no pedido inicial o autor
pretende a repactuação de dívida em observância ao disposto na Lei
14.181/2021. 6. Compete ao magistrado analisar a situação específica
de cada processo, com o intuito de realizar um juízo de ponderação
casuística, observando as peculiaridades e circunstâncias que envolvem
a lide, no caso, a liberdade de contratar, a obrigatoriedade dos
contratos e os princípios da dignidade humana e do mínimo existencial.

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7. Em se constatando que a integralidade da remuneração do
consumidor está sendo utilizada para o abatimento das prestações dos
empréstimos ou que o valor remanescente não seja suficiente a lhe
garantir o mínimo existencial, delimitar os descontos realizados pela
instituição financeira se trata de garantir o mínimo de dignidade para a
subsistência da parte. Isso porque o banco acaba por consumir todo o
valor que seria utilizado em necessidades básicas como alimentação,

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medicações ou moradia. 8. De acordo com o princípio da função social
do contrato, incumbe à instituição financeira observar, em suas
operações de empréstimo, o conceito de crédito responsável, que
pressupõe o dever de cuidado, de informação clara e até de
aconselhamento ao mutuário. 9. Muito embora os apelantes
questionem a aplicabilidade da lei do superendividamento aos contratos
de crédito consignado, ainda que tais créditos possuam regramento
específico, não são excluídos da aplicação da Lei 14.181/21, posto que
nos arts. 54-A, §2º, e 104-A, §1º, há indicativo de que todos os
compromissos financeiros assumidos pelo consumidor seriam
abrangidos pela norma. 10. O direito brasileiro é regido pelo princípio
da boa-fé, sendo assim, tendo os apelantes arguido a má-fé ou o dolo do
autor na contratação do financiamento bancário, caberia àqueles o
ônus de provar suas alegações. 11. O fato de vários contratos terem sido
realizados em um curto período de tempo não implica dizer que haveria má-
fé ou dolo, mas apenas corrobora a situação financeira desestabilizada do
autor. 12. Há comprovação do superendividamento do apelado se a parte
demonstra que, após abatidos os descontos compulsórios em seu
contracheque, bem como despesas com o pagamento de pensão alimentícia,
além dos descontos com os empréstimos retro mencionados, resta ao
recorrido a quantia de R$31,94. 13. Para caracterizar o
superendividamento faz-se necessário comprovar, não necessariamente
a impossibilidade de adimplemento das dívidas, mas que o pagamento
destas traria prejuízo ao sustento do devedor. 14. A remuneração dos
militares do Distrito Federal é regida pela Lei 10.486/02 e, consoante a
referida norma, há impedimento de que os descontos em folha de
pagamento superem a quantia de 70% dos rendimentos. Deve-se observar,
contudo, que tal limitação considera o somatório de todos os descontos,
obrigatórios ou não, e não somente o valor das dívidas. 15. O recálculo do
valor do débito deve ser realizado pelas instituições financeiras e informado
por estas ao empregador do autor. 16. Em regra, a condenação por
honorários advocatícios é regida pelo princípio da sucumbência, nos termos
do art. 85 do CPC. O princípio da causalidade somente é aplicado de forma
excepcional, nos casos em que não houver condenação. 17. Apelações
parcialmente conhecidas e, nessa extensão, não providas. (TJDFT – AC
07041807720228070001 – Relatora: LUCIMEIRE MARIA DA
SILVA - Órgão Julgador: 4ª Turma Cível – Julgamento: 09/03/2023).

(Grifos aditados).

30 Nesse passo, certo é que a agravada demonstrou sua condição de


superendividada, de forma que o pagamento das dívidas existentes com o agravante
9
fls. 59

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0802688-65.2023.8.02.0000 e código Y65KrKXT.
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comprometem sobremaneira a sua subsistência.
31 Conclui-se, então, que não há razão para reformar a decisão vergastada,
porquanto ausente a probabilidade do direito alegado pelo recorrente.
32 Dessarte, não verificada a probabilidade do provimento do recurso, revela-se
despicienda a análise do requisito do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 10/04/2023 às 12:50 .
uma vez que, como dito, a presença dos referidos requisitos deverá ser cumulativa.
33 Diante do exposto, INDEFIRO o pedido de concessão, em sede liminar, de
efeito suspensivo ao agravo de instrumento, mantendo inalterado os termos do decisum
vergastado, ao menos até o julgamento de mérito deste recurso.
DILIGÊNCIAS:
A) Em observância ao disposto no art. 1.019, inciso I, parte final, do Código de
Processo Civil, oficie-se ao Juízo de Direito da 11ª Vara Cível da Capital, informando-lhe o
teor desta decisão.
B) Na forma dos preceitos contidos nos arts. 1.019, inciso II, e 219, também do
Código de Processo Civil de 2015, intime-se a parte recorrida para, querendo, contra-arrazoar
o presente recurso, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, facultando-lhe juntar cópias das peças
que entenderem convenientes.
C) Ao fim, apresentada ou não a manifestação, voltem-me os autos conclusos.
D) Publique-se. Intime-se. Cumpra-se.
Maceió, 10 de abril de 2023.

Des. Fábio José Bittencourt Araújo


Relator

10
fls. 71

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Agravo de Instrumento n. 0802688-65.2023.8.02.0000
Contratos Bancários
3ª Câmara Cível
Relator: Des. Fábio José Bittencourt Araújo
Agravante : Banco Santander (BRASIL) S/A.
Advogado : Flávio Neves Costa (OAB: 153447/SP).
Advogado : Ricardo Neves Costa (OAB: 120394/SP).
Advogado : Raphael Neves Costa (OAB: 225061/SP).
Agravado : Najara Pereira de Lira.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .
Advogado : Marcelo Mendes da Silva (OAB: 61670/GO).

ACÓRDÃO

EMENTA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. "AÇÃO DE REPACTUAÇÃO DE DÍVIDA


(SUPERENDIVIDAMENTO) C/C TUTELA DE URGÊNCIA". DECISÃO RECORRIDA
CUJO TEOR DEFERIU O PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA,
LIMITANDO EM 30% (TRINTA POR CENTO) DOS PROVENTOS LÍQUIDOS DA
AGRAVADA, OS DESCONTOS REALIZADOS EM SUA FOLHA DE PAGAMENTO.
RECURSO INTERPOSTO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA
ALEGANDO QUE (I) A LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS ACARRETARÁ NO NÃO
CUMPRIMENTO DO CONTRATO FIRMADO; (II) O PROCEDIMENTO DE
REPACTUAÇÃO DE DÍVIDA PRIVILEGIOU A AUTOCOMPOSIÇÃO; E, (III) HOUVE
INOBSERVÂNCIA O ENTENDIMENTO FIRMADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA NO TEMA 1.085. NÃO ACOLHIMENTO. HIPÓTESE DE
SUPERENDIVIDAMENTO. APLICAÇÃO DO ART. 54-A E SEGUINTES DO CDC, COM
AS ALTERAÇÕES INSERIDAS PELA LEI N.º 14.181/2021. POSSIBILIDADE DE
REPACTUAÇÃO DAS DÍVIDAS, TENDO EM VISTA O COMPROMETIMENTO DO
MÍNIMO EXISTENCIAL. VALOR DOS DÉBITOS QUE CORRESPONDEM A 82%
(OITENTA E DOIS POR CENTO) DOS RENDIMENTOS LÍQUIDOS. TESE FIRMADA
PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO JULGAMENTO DO RESP N.º
1.863.973/SP, SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS (TEMA 1.085), DEVE
ESTAR EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DO NOSSO ORDENAMENTO
JURÍDICO, EM ESPECIAL, DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, PREVISTO NO
ART. 1º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E DA BOA-FÉ OBJETIVA,
DISPOSTO NO ART. 4º, INCISO III, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNANIMIDADE.

CONCLUSÃO: vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento


de n.º 0802688-65.2023.8.02.0000, em que figuram, como agravante, Banco Santander
(BRASIL) S/A., e como agravada, Najara Pereira de Lira, devidamente qualificados nos
autos.
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 3.ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado de Alagoas, à unanimidade de votos, em CONHECER do agravo de
instrumento para, no mérito, e por idêntica votação, NEGAR-LHE PROVIMENTO,
1
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mantendo incólume a decisão vergastada; conforme o voto do Relator.
Participaram do julgamento os Desembargadores relacionados na certidão expedida
pela Secretaria do respectivo órgão julgador.
Maceió, 25 de maio de 2023.

Des. Fábio José Bittencourt Araújo


Relator

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .

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RELATÓRIO

1. Trata-se de agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo interposto por


Banco Santander Brasil S/A, em face de Najara Pereira de Lira, visando reformar decisão
proferida pelo Juízo de Direito da 11ª Vara Cível da Capital1, nos autos da "ação de
repactuação de dívida (superendividamento) c/c tutela de urgência" tombada sob o n.º

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .
0745023-25.2022.8.02.0001, cujo dispositivo restou proferido nos seguintes termos:

"[...] A documentação que instrui a inicial permite, de plano, o


enquadramento jurídico para deferimento do pedido de urgência, pois,
confere a plausibilidade à argumentação da autora.
Tais fatos são suficientes para demonstrar também o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo, uma vez que a cobrança coloca em risco
a sua sobrevivência, com crescimento significativo das dívidas e
consequente prejuízo na repactuação pretendida.
Desta maneira, faz-se presente a evidência do direito alegado e o perigo da
demora, autorizando a medida antecipatória, o que faz com a presente
decisão caminhe para o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela
perseguida.
Em assim sendo, recepciono, para deferir, a pretensão da parte autora
quanto ao provimento de urgência alvitrado, para limitar os descontos em
folha de pagamento até o valor correspondente a 30% do salário líquido da
autora, até ulterior deliberação deste juízo. [...]" (sic, fl. 75, dos autos de
origem, grifos no original).

2. Em suas razões recursais (fls. 1/12), o recorrente alegou que "caso mantida a
limitação dos descontos em contracheque de forma irrestrita à 30% dos rendimentos líquidos,
se esquivará o ora Agravado do cumprimento dos contratos licitamente firmados com o ora
Agravante, mesmo após valer-se de sua condição de aposentada servidora pública do estado
para usufruir de maior margem consignável e desfrutar dos valores contratados, valendo-se de
diversos benefícios decorrentes da modalidade de crédito consignado, com juros e encargos
muito inferiores aos praticados em outras modalidades de crédito" (sic, fl. 5).
3. Sustentou que "Da leitura da relação dos incluídos artigos. 104-A e 104-B do
Código de Defesa do Consumidor, conclui-se que os procedimentos previstos pela Lei
14.181/21 representam respectivamente repactuação de dívida de forma consensual e
repactuação de dívida de maneira compulsória. Ou seja, não cabe concessão de tutela de
urgência dentro da primeira fase do procedimento de repactuação, pois a Lei nº
14.181/21, privilegiou a via da autocomposição" (sic, fl. 7, grifos no original).
1
Magistrado Sérgio Wanderley Persiano
3
fls. 74

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4. Aduziu que "o Nobre Juízo a quo, ao proferir a r. decisão agravada e conceder a
antecipação de tutela para limitar irrestritamente os descontos em 30% dos vencimentos do
Agravado, desrespeitou importantes preceitos legais, inclusive, desrespeitando a
determinação proferida recentemente publicada que envolve o tema 1085 do STJ, em
que houve a decisão que é lícito os descontos efetuados de empréstimos bancários
comuns em conta corrente, não sendo aplicado o disposto previsto na lei nº 10.820/2003,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .
artigo 1º, parágrafo 1º" (sic, fl. 8, grifos no original).
5. Ao final, formulou assim seus pedidos:

"[...] Assim, nos termos dos relevantes fundamentos de direito aduzidos nas
inclusas razões do cabimento do recurso, reitera o agravante seja concedido
o necessário efeito suspensivo ativo, proibindo-se e suspendendo-se os
efeitos da medida liminar deferida nos autos de origem até o trânsito em
julgado do presente recurso, ante o perigo de dano de difícil ou incerta
reparação, nos termos do artigo 1.019, I do Código de Processo Civil.
Ex positis, requer-se seja dado provimento ao presente agravo de
instrumento, reformando a decisão recorrida, salvo se o próprio Juiz prolator
reformá-la, nos termos do artigo 1.018 do Código de Processo Civil/2015.
Pelo exposto, comprovada a impropriedade da decisão agravada, proferida
em desacordo com a Legislação Pátria e jurisprudência vigente, a qual trará
enormes e injustificados prejuízos ao agravante caso seja mantida tal como
proferida em Primeiro Grau de Jurisdição, requer a Vossas Excelências seja
provido o presente recurso, reformando-se a decisão ora agravada, nos
termos acima expostos.
Diante do exposto, espera o agravante que o Egrégio Tribunal, com os
áureos suplementos dos ilustres integrantes da Colenda Câmara Julgadora,
dê provimento ao presente recurso para o fim de se reformar a respeitável
decisão ora enfrentada, uma vez que demonstrado que o equívoco cometido
na r. decisão proferida, porquanto em desacordo com preceitos legais e
jurisprudenciais. [...]" (sic, fl. 12).

6. Com a exordial recursal, vieram os documentos de fls. 13/48.


7. Em decisão de fls. 50/59, indeferi o pedido de concessão, em sede liminar, de
efeito suspensivo ao agravo de instrumento, mantendo inalterado os termos do decisum
vergastado.
8. O Magistrado singular foi oficiado acerca do teor do aludido decisum (fl. 61).
9. Apesar de devidamente intimada, a agravada deixou transcorrer in albis o prazo
sem apresentar contrarrazões, consoante certidão de fl. 63.
10. É o relatório, no essencial. Passo a proferir meu voto.

4
fls. 75

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VOTO

11. Ab initio, saliento que a verificação dos requisitos genéricos extrínsecos e


intrínsecos de admissibilidade recursal fora realizada por ocasião da decisão liminar de fls.
50/59. Assim, passo, de logo, ao exame do mérito recursal.
12. O cerne do presente agravo de instrumento cinge-se à insatisfação do recorrente

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quanto à determinação de limitação dos descontos realizados em folha de pagamento no
patamar de até 30% (trinta por cento) do salário líquido da autora.
13. Ao analisar os autos de origem, observei que a autora ingressou com "ação de
repactuação de dívida", alegando superendividamento, em razão do fato de terem sido
realizados descontos em seus proventos no importe de R$ 3.000,00 (três mil reais), referentes
a um empréstimo consignado pactuado para renegociar dívidas existentes perante o agravante.
Além disso, a demandante informa que, do salário líquido depositado em sua conta corrente,
também são descontados R$ 524,60 (quinhentos e vinte e quatro reais e sessenta centavos),
provenientes de uma cédula de crédito bancário, referente a outra renegociação realizada com
o banco agravante. Assim, consigna que, após pagar as parcelas junto ao recorrente, lhe
sobram apenas R$ 757,18 (setecentos e cinquenta e sete reais e dezoito centavos) para sua
subsistência e de seus filhos.
14. A respeito do tema, reproduzo os exatos termos contidos no art. 54-A, §1º, do
Código de Defesa do Consumidor, com as alterações inseridas pela Lei n.º 14.181/2021, por
trazer o conceito de superendividamento, in verbis:

Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento


da pessoa natural, sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira
do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de
o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação. (Grifos aditados).

15. As dívidas vencidas e vincendas tratadas pela nova lei "englobam quaisquer
compromissos financeiros assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações
de crédito, compras a prazo e serviços de prestação continuada", conforme dispõe o §2º, do
supramencionado dispositivo legal.
16. Além disso, as alterações inseridas pela Lei n.º 14.181/2021 preveem a
possibilidade de elaboração de um plano para pagamento da dívida, seja através de acordo
5
fls. 76

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entre as partes ou de forma compulsória, a ser apresentado pelo próprio Magistrado que
poderá realizar a revisão de contratos e repactuação das dívidas restantes.
17. Nesse contexto, constato que a autora contraiu um empréstimo junto ao
demandado, na modalidade crédito consignado (contrato n.º 542264758), no valor de R$
124.119,27 (cento e vinte e quatro mil, cento e dezenove reais e vinte e sete centavos), a ser
pago em 72 (setenta e duas) parcelas de R$ 3.000,00 (três mil reais), utilizando parte do valor

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .
para sanar dívidas com o próprio banco, consoante se depreende dos documentos de fls.
43/45.
18. Ainda da análise do caderno processual, observei que a demandante também
possui um segundo empréstimo com o agravante (fls. 51/53), este na modalidade crédito
pessoal (contrato n.º 0033018632000070500), no valor de R$ 22.704,56 (vinte e dois mil,
setecentos e quatro reais e cinquenta e seis centavos), também utilizado para pagamento de
débito junto ao banco réu. Conforme pactuado, o aludido empréstimo deverá ser pago em 99
(noventa e nove) parcelas no importe de R$ 524,60 (quinhentos e vinte e quatro reais e
sessenta centavos).
19. No ponto, impende consignar que a autora possui uma renda bruta mensal no
montante aproximado de R$ 5.544,04 (cinco mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e quatro
centavos), conforme demonstrativo de pagamento acostado aos autos de origem (fls. 26/28).
Assim, o valor das parcelas dos empréstimos contraídos junto ao agravante correspondem a
63,57% (sessenta e três vírgula cinquenta e sete por cento) de seus rendimentos brutos e 82%
(oitenta e dois por cento) de seus rendimentos líquidos, se abatidos os encargos trabalhistas e
demais descontos legais.
20. Noutra banda, a autora comprovou ser mãe de 2 (dois) filhos e está grávida do
terceiro, estando numa gravidez de risco por ser portadora de Diabetes tipo 2, necessitando
fazer uso diário de insulina, conforme documentos de fls. 29/42.
21. Nessa senda, a meu ver, o desconto de 82% (oitenta e dois por cento) de seus
rendimentos líquidos para pagamento de empréstimos contraídos junto ao banco recorrente
impossibilita que a ora agravada aufira renda suficiente para garantir o seu mínimo existencial
e de sua família.
22. Saliente-se, por oportuno, que, ao tratar sobre a preservação e o não
comprometimento do mínimo existencial para fins de prevenção, tratamento e conciliação de
situações de superendividamento em dívidas de consumo, o Decreto n.º 11.150/2022 prevê o
6
fls. 77

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seguinte, in verbis:

Art. 3º No âmbito da prevenção, do tratamento e da conciliação


administrativa ou judicial das situações de superendividamento, considera-
se mínimo existencial a renda mensal do consumidor pessoa natural
equivalente a vinte e cinco por cento do salário mínimo vigente na data de
publicação deste Decreto.

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23. De mais a mais, não me passa despercebido que o Superior Tribunal de Justiça, nos
autos do REsp n.º 1.863.973/SP, julgado sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 1.085),
fixou a seguinte tese: "São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns
em conta-corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde que previamente
autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo aplicável, por
analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os
empréstimos consignados em folha de pagamento" (grifos aditados).
24. No entanto, a meu ver, o entendimento da Corte Cidadã deve estar em harmonia
com os princípios do nosso ordenamento jurídico, em especial o princípio da dignidade da
pessoa humana, previsto no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, da boa-fé objetiva,
disposto no art. 4º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor. Desta forma, é irrelevante
a natureza do empréstimo, se consignado ou não, pois, no meu sentir, deve ser observado o
procedimento previsto na Lei n.º 14.131/2021 e priorizado o pagamento da dívida sem privar
o devedor do mínimo necessário para sua subsistência.
25. Em abono desse entendimento, trago à colação a jurisprudência dos Tribunais
pátrios, verbo ad verbum:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Pretensão à limitação de descontos em


30% da remuneração líquida. Admissibilidade. Demanda fundada na
lei nº lei nº 14.181/21 (lei do superendividamento). Hipótese em que não
tem aplicação o entendimento firmado pelo C. Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.863.973-SP.
Presença dos requisitos do artigo 300, "caput", do Código de Processo
Civil. Decisão reformada. Recurso provido. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2291170-69.2022.8.26.0000; Relator (a): JAIRO BRAZIL;
Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro de Valparaíso - 1ª
Vara; Data do Julgamento: 29/03/2023; Data de Registro: 29/03/2023).

TUTELA DE URGÊNCIA – Ação nominada de "ação de conhecimento


com pedido de repactuação de dívidas (superendividamento)" - Decisão que
deferiu o pedido de concessão de tutela de urgência para que as partes
rés debitem da parte autora apenas e tão somente o percentual de 30%
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fls. 78

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de cada parcela mensal devida a título de contrato de mútuo - Presentes
elementos que evidenciam a probabilidade do direito e de perigo de
dano (CPC/2015, arts. 294 e 300, caput), em intensidade suficiente,
para, na atual situação processual, o deferimento da tutela de urgência,
para determinar que a parte ré agravante debite da parte autora
apenas e tão somente o percentual de 30% de cada parcela mensal
devida a título de contrato de mútuo - Presente o requisito de perigo de
dano, visto que envolve descontos realizados em verba de natureza
alimentar, comprometendo o sustento de pessoa superendividada –
Manutenção da r. decisão agravada. RECURSO – O recurso não pode ser

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conhecido quanto à pretensão da parte agravante de exclusão de incidência
de multa diária ou a redução do seu valor, em caso de descumprimento da
determinação judicial, por falta de interesse recursal (CPC/2015, art. 996).
Recurso conhecido, em parte, e desprovido. (TJSP; Agravo de Instrumento
2220790-21.2022.8.26.0000; Relator (a): Rebello Pinho; Órgão Julgador:
20ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional X - Ipiranga - 3ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 28/03/2023; Data de Registro: 28/03/2023).

APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. INTERESSE RECURSAL. RECURSO


CONHECIDO EM PARTE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
CONFIGURADO. PRELIMINAR INDEFERIDA. EMPRÉSTIMOS.
DESCONTOS NA CONTA CORRENTE. CRÉDITO CONSIGNADO.
LIVRE DISPOSIÇÃO DAS PARTES. MÍNIMO EXISTENCIAL.
PONDERAÇÃO. REPACTUAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI DO
SUPERENDIVIDAMENTO. POSSIBILIDADE. DOLO E MÁ-FÉ. NÃO
PRESUMÍVEIS. SUPERENDIVIDAMENTO. COMPROVAÇÃO.
SERVIDOR PÚBLICO. MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. LIMITE
DESCONTO. OFÍCIO. ÓRGÃO EMPREGADOR. RECÁLCULO DA
PARCELA. IMPOSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PRINCÍPIO DA
SUCUMBÊNCIA. REGRA. SENTENÇA MANTIDA. 1. O recurso é o
meio pelo qual se visa reverter a decisão que tenha sido prejudicial à parte.
Com efeito, para que seja demonstrado o interesse recursal é necessário que
o recorrente comprove a presença do binômio necessidade e
utilidade/adequação. Quanto à necessidade do recurso, é imperiosa a
existência de uma decisão que cause prejuízo imediato à parte, que
justificaria a interposição recursal visando a melhora da situação. 2. No
caso dos autos, pretendem os apelantes a ampliação da quantidade de
parcelas do financiamento, ante a redução de seu valor na sentença.
Contudo, tal questão já havia sido objeto de análise em embargos de
declaração, os quais foram providos, tendo o Juízo a quo indicado de forma
explícita que deveria haver a majoração da quantidade de parcelas, como
pretendido pela parte. Assim, já havendo manifestação expressa na sentença
indicando a necessidade de ampliação do prazo para pagamento das dívidas,
em virtude da redução do valor das parcelas, não se justifica a interposição
de apelação para este fim, não havendo interesse recursal quanto a este
pedido. 3. O Juiz é o presidente do processo e o destinatário da prova, de
forma que tem o dever de conduzir o feito para determinar a instrução,
conforme a relevância e a necessidade para formar o convencimento
judicial, bem como indeferir as diligências inúteis ou protelatórias (artigos
370 e 371 do CPC). 4. Na hipótese, defendeu o apelante a necessidade de
expedição de ofício ao empregador do autor/apelado a fim de averiguar a
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fls. 79

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margem consignável da parte à época da tomada do crédito. Contudo, na
presente ação, não se questiona a validade do contrato firmado entre as
partes, mas o superendividamento do autor, não sendo, pois, necessária a
produção da prova requerida. Preliminar indeferida. 5. Muito embora os
apelantes defendam a validade dos contratos de mútuo, a questão posta
nos autos transcende tal alegação, visto que no pedido inicial o autor
pretende a repactuação de dívida em observância ao disposto na Lei
14.181/2021. 6. Compete ao magistrado analisar a situação específica de
cada processo, com o intuito de realizar um juízo de ponderação
casuística, observando as peculiaridades e circunstâncias que envolvem

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FABIO JOSE BITTENCOURT ARAUJO, liberado nos autos em 25/05/2023 às 17:26 .
a lide, no caso, a liberdade de contratar, a obrigatoriedade dos
contratos e os princípios da dignidade humana e do mínimo existencial.
7. Em se constatando que a integralidade da remuneração do
consumidor está sendo utilizada para o abatimento das prestações dos
empréstimos ou que o valor remanescente não seja suficiente a lhe
garantir o mínimo existencial, delimitar os descontos realizados pela
instituição financeira se trata de garantir o mínimo de dignidade para a
subsistência da parte. Isso porque o banco acaba por consumir todo o
valor que seria utilizado em necessidades básicas como alimentação,
medicações ou moradia. 8. De acordo com o princípio da função social
do contrato, incumbe à instituição financeira observar, em suas
operações de empréstimo, o conceito de crédito responsável, que
pressupõe o dever de cuidado, de informação clara e até de
aconselhamento ao mutuário. 9. Muito embora os apelantes
questionem a aplicabilidade da lei do superendividamento aos contratos
de crédito consignado, ainda que tais créditos possuam regramento
específico, não são excluídos da aplicação da Lei 14.181/21, posto que
nos arts. 54-A, §2º, e 104-A, §1º, há indicativo de que todos os
compromissos financeiros assumidos pelo consumidor seriam
abrangidos pela norma. 10. O direito brasileiro é regido pelo princípio
da boa-fé, sendo assim, tendo os apelantes arguido a má-fé ou o dolo do
autor na contratação do financiamento bancário, caberia àqueles o ônus
de provar suas alegações. 11. O fato de vários contratos terem sido
realizados em um curto período de tempo não implica dizer que haveria má-
fé ou dolo, mas apenas corrobora a situação financeira desestabilizada do
autor. 12. Há comprovação do superendividamento do apelado se a parte
demonstra que, após abatidos os descontos compulsórios em seu
contracheque, bem como despesas com o pagamento de pensão alimentícia,
além dos descontos com os empréstimos retro mencionados, resta ao
recorrido a quantia de R$31,94. 13. Para caracterizar o
superendividamento faz-se necessário comprovar, não necessariamente
a impossibilidade de adimplemento das dívidas, mas que o pagamento
destas traria prejuízo ao sustento do devedor. 14. A remuneração dos
militares do Distrito Federal é regida pela Lei 10.486/02 e, consoante a
referida norma, há impedimento de que os descontos em folha de pagamento
superem a quantia de 70% dos rendimentos. Deve-se observar, contudo, que
tal limitação considera o somatório de todos os descontos, obrigatórios ou
não, e não somente o valor das dívidas. 15. O recálculo do valor do débito
deve ser realizado pelas instituições financeiras e informado por estas ao
empregador do autor. 16. Em regra, a condenação por honorários
advocatícios é regida pelo princípio da sucumbência, nos termos do art. 85
do CPC. O princípio da causalidade somente é aplicado de forma
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fls. 80

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Fábio José Bittencourt Araújo

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0802688-65.2023.8.02.0000 e código dnHjBGmX.
excepcional, nos casos em que não houver condenação. 17. Apelações
parcialmente conhecidas e, nessa extensão, não providas. (TJDFT – AC
07041807720228070001 – Relatora: LUCIMEIRE MARIA DA
SILVA - Órgão Julgador: 4ª Turma Cível – Julgamento: 09/03/2023).

(Grifos aditados).

26. Nesse passo, certo é que a agravada demonstrou sua condição de superendividada,

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de forma que o pagamento das dívidas existentes com o agravante comprometem
sobremaneira a sua subsistência.
27. Conclui-se, então, que não há razão para reformar a decisão vergastada, de modo
que o não provimento do recurso é medida que se impõe.
28. Ante o exposto, voto no sentido de CONHECER do agravo de instrumento para,
no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, mantendo incólume a decisão vergastada.
29. É como voto.
Maceió, 25 de maio de 2023.

Des. Fábio José Bittencourt Araújo


Relator

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