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Atv Penal 04
Atv Penal 04
SEGURO/BA
DOS FATOS
Foi ouvida uma testemunha de defesa que afirmou ter visto da janela de sua
residência os policiais militares chutando a porta e invadindo a casa do acusado, bem
como ouviu ele ser espancado e torturado, em razão dos gritos e pedidos de
clemência por parte dos militares.
Após a produção dessas provas em audiência de instrução, foi aberta vista para a
Acusação e a Defesa apresentarem as suas considerações finais no prazo de 5
(cinco) dias.
DO DIREITO
PRELIMINARMENTE
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia
desta;
IV - as provas já apuradas;
Diante dos dispositivos citados, especialmente o art. 411 do CPP, que regulamenta
a audiência de instrução e julgamento, percebe-se que o interrogatório deve ser feito
ao final, em homenagem aos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa
e devido processo legal.
Ocorre que pelo que consta nos autos, em audiência de instrução e julgamento,
primeiramente, interrogou-se o acusado.
Outro ponto que merece atenção é sobre os efeitos de uma prova produzida de forma
ilícita, consoante ocorre quando há a prática de um crime (tortura e abuso de
autoridade). Nesse viés, destaca-se o art. 157 do CPP, nesses termos:
Para tornar clara a questão, o ordenamento jurídico brasileiro prevê como crime a
tortura e a invasão de domicílio feita de forma ilegal, trazendo para o caso a aplicação
do art. 157 do CPP, que fora citado anteriormente, conforme se vê a seguir, nesses
termos, Lei nº 9.455/97, Art. 1º Constitui crime de tortura:
Caso não tenha nenhuma outra prova hábil a condenar o acusado, a impronúncia é
medida que se impõe, na forma do art. 414 do CPP, é o que requer a defesa do
acusado.
PRELIMINAR – NULIDADE POR AUSÊNCIA DE PERÍCIA
Muito relevante destacar que os crimes não transeuntes (que deixam vestígios)
exigem a necessidade de realização de perícia para constatar a materialidade do
crime, notadamente quando se trata de delitos contra a vida, em que a causa da morte
deve ser averiguada.
Nesse espeque, cita-se o art. 158 do Código de Processo Penal, que assim elucida
a questão:
Dentro da disposição legal, fica bem nítida a ideia de que o exame pericial é
fundamental nos delitos que deixam vestígios, como sói acontecer nos crimes contra
a vida, sendo que sua ausência impede a constatação da materialidade delitiva.
Caso já tenha ocorrido o sepultamento do corpo da vítima, isso não é empecilho para
a realização do exame de corpo de delito, pois o Código de Processo Penal, em seu
art. 163, assim traz:
Os demais pormenores da prova pericial estão tratados nos arts. 159 e 160, in verbis:
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por
perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: (...) III - por falta das
fórmulas ou dos termos seguintes: (...) b) o exame do corpo de delito nos
crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
Dessa forma, como não há prova lícita ou válida para a condenação, requer o disposto
no art. 414 do CPP, que determina a impronúncia em tais situações.
MÉRITO
DA PROVA TESTEMUNHAL
Em relação à prova testemunhal, na forma dos arts. 202 e 203 do CPP, destaca-se
que a pessoa que presenciou os fatos tem o dever legal de dizer a verdade, podendo
qualquer um ser considerado testemunha na forma prescrita na lei:
As testemunhas são ouvidas acerca dos fatos e possuem o dever de falar a verdade
sobre o que presenciaram, não podendo deixar de comparecer ao referido ato
processual. Pela ordem processual já citada, primeiro, são ouvidas as testemunhas
de acusação e, posteriormente, as de defesa, em obediência, mais uma vez, aos
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Os policiais militares podem ser ouvidos como testemunhas, uma vez que é natural
do seu ofício presenciarem a prática de crimes, todavia esse meio de prova não pode
ser considerado absoluto, como se todos os agentes públicos que participaram da
prisão fossem pessoas de presumida boafé, devendo essa análise ser feita no caso
concreto, conforme jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, nesses
termos:
Nesse sentido há testemunho de defesa que deixa claro que os policiais praticaram
todas as ilicitudes e ilegalidades contra o réu.
Por exemplo, caso alguém se valha de uma arma de fogo para realizar um crime de
homicídio, os crimes de posse e porte de arma de fogo anteriormente praticados para
a consecução daquele crime devem ser absorvidos, diferentemente do que ocorre no
concurso material de crimes, previsto no art. 69 do CP, em que todos os crimes são
aplicados e as respectivas penas somadas.
Em outras palavras, em vez de o agente responder por vários crimes com as penas
somadas, haverá a punição apenas pelo crime-fim, restando os demais crimes
absorvidos e sem qualquer punição. Além disso, deve ser lembrado que, no presente
caso, ocorreu a hipótese de erro na execução prevista no art. 73 do CP, que tem a
seguinte redação:
Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser
também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
do art. 70 deste Código.
Quando o agente queria atingir apenas uma pessoa, mas atinge ambas, tem-se a
regra do art. 70 do CP, que é citada na parte final do art. 73. Por tal regra, ocorre
aquilo que se chama de concurso formal próprio, em que o agente responde apenas
pelo crime mais grave com a pena exasperada, sem que haja a soma delas. Por
exemplo, se cometeu um homicídio que almejava e a outra morte não foi desejada,
responderá por um crime de homicídio com a pena aumentada, em vez de somar dois
homicídios.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra
do art. 69 deste Código.
Caso o agente quisesse os dois homicídios, então teria o concurso formal impróprio
da 2ª parte do art. 70 do CP, em que as penas seriam somadas, mas isso somente
se houvesse dolo de matar as duas vítimas.
PEDIDO
OAB/SP 160.585