Você está na página 1de 4

AUSÊNCIA

Ausência: situação de algúem que desapareceu e de quem não existem notícias, não se
sabendo se está viva ou morta, e que deixou bens que carecem de administração.

Pressupostos da ausência [artigo 89º/1 CC]


1) desaparecimento – não presença do sujeito no seu domicílio;
2) desaparecimento qualificado – não há notícias do desaparecido nem se sabe
se este se encontra vivo ou morto;
3) necessidade de administrar os bens do ausente
4) falta de representante legal ou procurador

Finalidades do regime da ausência: defesa da paz pública e, mais ainda, a


proteção do património do ausente e dos interesses dos seus sucessores.

Há três fases diferentes no instituto da ausência, em que o interesse dominante


se vai transferindo, gradualmente, da proteção do património do ausente para a
defesa dos interesses dos sucessores:
1) Curadoria provisória – artigos 89º a 98º CC;
2) Curadoria definitiva – artigos 99º a 113º CC;
3) Morte presumida – artigos 114º a 119º CC.

MUITO IMPORTANTE: Embora a lei estabeleça uma ordem cronológica relativamente


ao prazo para requerer cada uma destas fases, NÃO é obrigatório seguir essa mesma
sequência, isto é, nada impede que se possa requerer a curadoria definitiva ou a morte
presumida sem se ter requerido a curadoria provisória.

Na resolução de um caso prático sobre ausência devem: verificar se os


pressupostos do artigo 89º/1 CC se encontram preenchidos; depois,
identificar a fase em que se encontram e qual a sua finalidade principal; a
seguir, dizer quem tem legitimidade para requerer a ausência e se o prazo
foi cumprido; e finalmente, explicar os efeitos e o regime dessa fase.
CURADORIA PROVISÓRIA

Finalidade:
O sentido jurídico deste regime é o da proteção do património do ausente, na
expectativa do seu regresso.

Legitimidade:
Para requerer a curadoria provisória: artigo 91º CC - Ministério Público e “qualquer
interessado” [nota: esse “interessado” não tem de ser um familiar ou herdeiro, basta
ser alguém que esteja interessado na administração dos bens do ausente]
Para exercer a função de curador provisório: artigo 92º/1 CC – cônjuge do ausente,
herdeiros ou os interessados na conservação dos bens, cabendo ao tribunal nomear
o curador provisório [artigo 89º/1 CC, “in fine”].

Prazo:
Não há prazo para requerer a curadoria provisória, bastando estarem verificados os
pressupostos da ausência e o tribunal nomear curador provisório [artigo 89º/1 CC].

Regime:
Artigo 94º/1 CC: A curadoria segue o regime do mandato geral, remetendo assim
para os artigos 1157º CC e ss. [fazer esta remissão no vosso CC]
Artigo 1157º CC: Mandato = contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar
um ou mais atos jurídicos por conta da outra.
Artigo 1159º/1 CC: O mandato só compreende os atos de administração ordinária.
CONCLUSÃO: Os curadores apenas podem praticar atos de administração
ordinária, não podendo, regra geral, dispor nem alienar os bens do ausente.
Artigo 94º/3 CC: Curador provisório apenas pode alienar ou onerar bens do ausente
com autorização judicial.
Artigo 94º/4 CC: Restrição dos casos em que a autorização judicial é concedida ao
curador, nos termos do número anterior: a) evitar deterioriação ou ruína dos bens;
b) solver dívidas do ausente; c) custear benfeitorias necessárias ou úteis [remissão
para o artigo 216º CC]; d) ocorrer a outra necessidade urgente.
Artigo 96º CC: Remuneração do curador de 10% da receita líquida que realizar.
Artigo 98º CC: Termo da curadoria provisória.
CURADORIA DEFINITIVA
Finalidade:
O sentido deste regime é mais o da proteção do interesse dos futuros titulares dos
bens, embora ainda não seja realizada a partilha definitiva dos bens do ausente.

Legitimidade:
Para justificar a ausência: Ministério Público [artigo 99º CC, “in fine”] ou algum dos
interessados consagrados no artigo 100º CC.
Para ser curador definitivo: Artigo 104º CC – herdeiros e demais interessados a quem
tenham sido entregues os bens do ausente.

Prazo:
O artigo 99º CC consagra dois prazos mínimos para requerer a curadoria definitiva,
sendo estes prazos relativos à data das últimas notícias do ausente:
i) 2 anos – se não tiver deixado representante legal nem procurador [se
nada for dito no enunciado da frequência, é isto que presumem];
ii) 5 anos – se tiver deixado representante legal ou procurador bastante.

Regime:
Artigo 110º CC: Aplica-se o regime do artigo 94º CC [ver página anterior]
Artigo 101º CC: Abertura de testamento.
Artigo 102º CC: Entrega de bens aos legatários e outros interessados.
Artigo 103º CC: Entrega dos bens aos herdeiros.
Artigo 106º CC: Suspende-se a exigibilidade das obrigações que se extinguiriam pela
morte do ausente.
Artigo 108º CC: Cônjuge não separado de pessoas e bens pode requerer inventário
e partilha e exigir os alimentos [ver artigo 2003º/1 CC] a que tiver direito.
Artigo 111º CC: Os ascendentes, descendentes e cônjuge nomeados curadores
definitivos têm direito à totalidade dos frutos percebidos [nº 1]; os restantes têm
direito a uma remuneração de 1/3 da receita líquida que realizarem [nº 2].
Artigo 112º CC: Termo da curadoria definitiva.
Artigo 113º CC: Se o ausente regressar ou se houver notícias da sua existência e do
lugar onde reside, os seus bens ser-lhe-ão entregues após este os requerer [nº1].
MORTE PRESUMIDA
Finalidade:
Há uma descrença da sobrevivência do ausente e, portanto, a lei presume a sua
morte e os seus bens serão entregues aos sucessores e àqueles que a eles teriam
direito por morte do ausente.

Legitimidade:
O artigo 114º/1 CC, “in fine”, remete para o artigo 100º CC relativamente aos
interessados com legitimidade para requerer a morte presumida.

Prazo:
Existem três prazos mínimos para a declaração da morte presumida, todos eles
dependentes da idade do ausente e relativos à data das últimas notícias:
i) 10 anos – regime geral [artigo 114º/1 CC];
ii) 5 anos – se entretanto o ausente tiver completado 80 anos de idade
[artigo 114º/1 CC];
iii) 5 anos após atingir a maioridade – se o ausente for menor [artigo
114º/2 CC]. [notem que este prazo é INDEPENDENTE da idade do menor].

Regime:
Artigo 115º CC: A declaração da morte presumida produz os mesmos efeitos da
morte com exceção da dissolução do casamento, ou seja: termo da personalidade
jurídica [artigo 68º/1 CC] e abertura da sucessão [artigo 2024º CC e ss.]
Artigo 116º CC: Cônjuge do ausente casado civilmente pode ser contrair novo
casamento; se o ausente regressar, considera-se o primeiro matrimónio dissolvido à
data da declaração da morte presumida.
Artigo 117º CC: Entrega dos bens, remetendo para o artigo 101º CC, não havendo,
porém, caução (contrariamente à curadoria definitiva: artigo 107º CC)
Artigo 119º/1 CC: Se o ausente regressar, terá direito à devolução do seu património
no estado em que se encontrar, bem como o preço dos bens alienados e sub-rogados
e, ainda, os bens adquiridos mediante o preço dos alienados.
Artigo 119º/2 CC: Sucessores de má fé [sentido subjetivo: conhecimento de um
facto ou situação juridicamente relevante, neste caso a sobrevivência do ausente à
data da declaração da morte presumida: artigo 119º/3 CC] devem indemnizar o
ausente [artigo 562º CC e ss.] pelos prejuízos causados.

Você também pode gostar