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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

MILENA ALVES DA SILVA DE SOUZA


Matrícula nº 1550008052
8º Semestre – Turma A

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Santos
2022

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3
1. CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ..................................... 4
2. AS FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ................................... 5
2.1 Fontes Internas ................................................................................................................. 5
2.1.1 Constituição e leis ........................................................................................................... 5
2.1.2 Costume nacional ........................................................................................................... 6
2.1.3 Doutrina e jurisprudência interna ................................................................................... 7
2.2 Fontes Internacionais ...................................................................................................... 7
2.2.1 Tratados Internacionais.................................................................................................... 8
2.2.2 Costume Internacional .................................................................................................... 9
2.2.3 Jurisprudência Internacional .......................................................................................... 9
3. A LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO ............ 11
3.1 Estatuto pessoal no DIPr brasileiro .............................................................................. 11
4. ELEMENTOS DE CONEXÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO . 13
4.1 Das conexões pessoais ................................................................................................... 13
4.1.1 Domicílio ...................................................................................................................... 13
4.1.2 Nacionalidade ............................................................................................................... 14
4.2 Lex fori (Lei do Foro) ................................................................................................... 14
4.2.1 Lex rei sitae .................................................................................................................. 14
4.2.2 Lex loci delicti comissi ................................................................................................. 15
4.2.3 Lex loci executionis ou lex loci solutionis ................................................................... 15
4.2.4 Locus regit actum ou lex loci contractus (lugar de constituição da obrigação) ........... 15
4.2.5 Autonomia da vontade .................................................................................................. 16
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 18

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INTRODUÇÃO

O Direito Internacional Privado tem a função de informa qual legislação deve ser
aplicada aos diversos casos e conflitos de interesse privado. Em outras palavras, tem como
função tratar das relações e leis no aspecto civil, garantindo o bom relacionamento entre
pessoas, físicas e jurídicas, de diferentes Estados. Regrando as relações comerciais ou
familiares, sempre no domínio entre particulares, e em diversas áreas do direito, sejam estas
de matéria penal, cível, trabalhista e de família, como divórcios, sucessões, adoções, etc.
O presente trabalho tem o intuito de elucidar questões relativas ao Direito
Internacional Privado, começando por seu conceito, expondo as diversas fontes aplicadas,
apresentando também os conflitos existentes.

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1. CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

O DIPr uma disciplina jurídica que se fundamenta num método e numa técnica de
aplicação do direito, que busca solucionar os conflitos de leis estrangeiras no espaço, ou seja,
os fatos em conexão espacial com leis estrangeiras divergentes, autônomas e independentes,
buscando aplicar a melhor norma ao caso concreto. Trata-se do conjunto de princípios e regras
de direito público destinados a regulamentar os fatos que orbitam ao redor de leis estrangeiras
contrárias, bem como, observar os efeitos jurídicos que uma norma interna pode causar além
do domínio do Estado em que foi editada, e também nas relações jurídicas subjacentes sejam
de direito privado ou público.
Apesar disso, o direito internacional privado por si só não resolve a questão jurídica
sub judice, visto que suas normas são apenas indicativas ou indiretas, ou seja, apenas indicam
qual ordem jurídica substancial (nacional ou estrangeira) deverá ser aplicada no caso concreto
no fim, resolver a questão principal
Para que o DIPr possa atuar num processo judicial deve aparecer na relação jurídica
um determinado elemento estrangeiro conectando a questão sub judice a mais de uma ordem
jurídica. Não havendo o elemento estrangeiro no caso concreto não há que se falar na aplicação
das normas do DIPr. Desta forma, não se fazendo presente a conexão espacial com leis
estrangeiras contrárias, o conflito apresentado não pertence ao DIPr, pois não ultrapassa as
fronteiras de um determinado Estado. Deve, assim, o ato ou o fato jurídico estar em contato
com dois ou mais meios sociais onde vigoram normas jurídicas autônomas e independentes,
cada qual regulando à sua maneira o mesmo tema, para que possa operar o DIPr.
Diante do exposto, o DIPr tem por finalidade, em princípio, indicar ao magistrado
nacional a norma, nacional ou estrangeira, que será aplicada ao caso concreto, contudo, sem
resolver a questão jurídica posta perante a Justiça do foro. Ressalta-se que a indicação da
norma competente e a possibilidade de aplicação do direito estrangeiro perante a ordem
jurídica do foro, vem demonstrar a dimensão do DIPr, que busca a efetiva aplicação do direito.
De acordo com o previsto no art. 16 da LINDB: “Quando, nos termos dos artigos
precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem
considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”. Nos países que adotam, como direito
aplicável, para além do direito substantivo ou material, também as normas de DIPr estrangeira,
nasce o problema do reenvio.

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2. AS FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

As fontes do Direito Internacional Privado podem ser internas, ou seja, nacionais,


brasileiras, ou ainda, internacionais, variando, em maior ou menor medida, em relação ao
assunto tratado. Podem ser também, na forma ser escritas: como leis, tratados etc., ou não
escritas, como os costumes. Alguns temas de DIPr são mais incisivamente versados por fontes
internas (leis, decretos, regulamentos, costumes internos etc.); outros, mais por fontes
internacionais (tratados, costumes internacionais etc.); alguns deles são versados,
indistintamente, tanto por fontes internas como internacionais.
E sendo assim, o sistema das fontes contemporâneas do Direito Internacional Privado
é um sistema misto, visto que que os Estados têm suas leis internas, seus regulamentos e seus
costumes locais, mas também são partes em grande número de tratados internacionais, tanto
multilaterais como bilaterais, relativos à matéria.

2.1 Fontes internas

São fontes internas do DIPr aquelas oriundas de detrminado Estado, sendo essas,
historicamente, as mais importantes na maioria dos países. Tanto a Constituição, como as leis
e os costumes nacionais estabelecem, cada qual ao seu modo, regras aplicáveis aos conflitos
de leis no espaço com conexão internacional, merecendo devida análise. Pelo fato de as
normas internas regularem, com maior ênfase, os conflitos de leis no espaço com conexão
internacional, é que a generalidade da doutrina atribui ao Direito Internacional Público a
característica de ramo do direito público interno do Estado.

2.1.1 Constituição e leis

As normas escritas de Direito interno, em especial, a Constituição e as leis, são as


fontes mais importantes do DIPr em vários países. No Brasil, a quase totalidade das normas
conflituais de DIPr encontra-se na lei. O constitucional contém pouquíssimas regras sobre
conflitos de leis. Apesar, porém, da escassez das normas de Direito Interno Privado na
Constituição Federal, pode-se citar a regra prevista no art. 5º, XXXI, que, dispôs que “a
sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício
do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do

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de cujus”.
Ainda que existam, tratados internacionais a regular os conflitos de leis no espaço,
bem como os costumes (internos e internacionais) regular a matéria, o certo é que as leis
internas de cada Estado, continuam disciplinando com maior abrangência o tema em diversos
países, pois facilmente pode-se perceber que as normas internacionais e os costumes que
regulam o DIPr são em número bastante reduzido, quando comparadas com as leis internas
que tratam do mesmo assunto. Daí a importância que têm as normas internas para o Direito
Interno Privado, especialmente a Constituição e as leis.
A fonte interna mais importante para o Direito Interno Privado brasileiro é a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657/1942, com
redação dada pela Lei nº 12.376/2010), que disciplina o assunto nos artigos 7º ao 19º. A
LINDB, entretanto, tem recebido criticas por não ter acompanhado a evolução do DIPr no
mundo contemporâneo, razão pela qual deixa de regular inúmeras questões que a atualidade
coloca. Existem, porém, inúmeras outras normas de Direito Interno Privado esparsas na
legislação brasileira. Assim, no Código de Processo Civil encontram-se normas relativas à
competência internacional, à prova do direito estrangeiro e à homologação de sentenças
estrangeiras.

2.1.2 Costume nacional

O costume interno do Estado também é aplicado como fonte interna do DIPr,


empregado, em sistemas como o do Brasil, especialmente quando o juiz do foro não encontra
norma escrita para resolver o conflito entre normas interconectadas. De fato, em muitos países,
além das normas escritas, há também costumes nacionais a reger as relações jurídicas de
Direito Interno Privado. O princípio locus regit actum é, de caráter usual em vários países. No
Brasil, em razão do disposto no art. 4º da LINDB, os costumes apenas serão utilizados em
caso de omissão legislativa: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
O juiz nacional deve analisar o costume nacional estrangeiro e aplicá-lo quando esse
for indicado pela norma de Direito Interno Privado da lex fori. Deve o magistrado nacional
pesquisar esse costume em cada caso, ouvindo testemunhas, colhendo indícios, fazendo
exame comparativo entre os usos internos e externos e o grau de aceitação no âmbito
internacional. Após investigar a vigência e validade do costume nacional estrangeiro, deverá

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o juiz nacional aplicá-lo internamente, tal como aplica qualquer norma escrita, nacional ou
estrangeira.
Aparentemente não há no Brasil, diferentemente do que ocorre em outros países,
principalmente os europeus, nítidos costumes nacionais relativos ao DIPr.

2.1.3 Doutrina e jurisprudência interna

A doutrina e da jurisprudência interna representam um papel preponderante no auxílio


e determinação do direito aplicável quando presente determinado conflito de leis no espaço
com conexão internacional. Contudo, tanto uma como outra, não são fontes, propriamente
ditas, em nosso sistema jurídico.
Em outros sistemas jurídicos, como o dos países da common law, é também altamente
relevante o papel da jurisprudência interna, pois essa é que determina, de forma quase
absoluta, as regras nacionais aplicáveis aos conflitos de leis estrangeiras interconectadas.
Aqui, diferentemente do nosso sistema, em que predominam as normas escritas sobre os
conflitos de leis, parece lógico afirmar ser a jurisprudência verdadeira fonte formal do DIPr.
Relativamente aos países da civil law, o argumento de que a jurisprudência seria fonte
interna do DIPr pelo fato de se manifestar sobre todas as questões submetidas à sua apreciação
não convence, pois os tribunais locais decidem também todas as questões de direito interno
(civil, penal, processual, constitucional, administrativo, comercial, trabalhista, tributário etc.)
que lhes são submetidas, o que não transforma a decisão, em fonte do direito interno no tocante
aos conhecidos ramos do Direito.
A doutrina também não é propriamente fonte do DIPr, visto que direitos não nascem
dos livros, senão a sua interpretação e compreensão. Entretanto, isso não lhe retira, sua
relevancia. Nesse sentido, têm grande valor doutrinário para o DIPr os textos e documentos
emanados das entidades científicas internacionais, a exemplo da International Law
Association, da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado, do UNIDROIT, da
Câmara de Comércio Internacional, do Comitê Jurídico Interamericano e da Conferência
Especializada Interamericana sobre Direito Internacional Privado.

2.2 Fontes internacionais

São fontes internacionais do Direito Interno Privado aquelas provindas diretamente

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da ordem internacional, tais os tratados e os costumes internacionais. Atualmente, tais fontes
são de extrema importancia, pois regulam aspectos específicos do DIPr, às vezes não
disciplinados pelas fontes de internas. Outras vezes, porém, não obstante existir fontes internas
a disciplinar certo conflito de DIPr, os tratados ou os costumes internacionais complementam
a legislação interna dos Estados, auxiliando o magistrado na resolução do conflito sub judice.
Nesse contexto, portanto, também merecem destaque as fontes internacionais do DIPr,
especialmente pelo fato de, atualmente, se buscar cada vez mais um diálogo das fontes na
resolução dos conflitos de leis no espaço com conexão internacional.

2.2.1 Tratados internacionais

Visto que é impossivel a existência de um Direito Uniforme para todos os Estados do


mundo, esses têm procurado regular os conflitos de leis estrangeiras no espaço pela conclusão
de tratados internacionais específicos. De fato, tais instrumentos tem se propagado nos últimos
tempos, versando temas e assuntos dos mais variados referente ao Direito Interno Privado.
Sejam bilaterais ou multilaterais, o certo é que os tratados constituem a fonte internacional
mais importante do Direito Interno Privado.
Uma fonte convencional importante para o DIPr brasileiro é a Convenção de Direito
Internacional Privado (Código Bustamante) de 1928, elaborada pelo jurista cubano Antonio
Sánchez de Bustamante y Sirvén. Trata-se de um instrumento com 437 artigos, que versa
praticamente todas as questões de DIPr e de direito processual civil internacional, sendo, por
isso, considerado a codificação convencional mais completa existente sobre o DIPr. Sua
aplicação prática, porém, tem encontrado certa dificuldade, ainda mais quando se constata que
muitas de suas disposições caíram em verdadeiro desuso. Ademais, sua aplicação, segundo o
entendimento majoritário, está restrita às relações que envolvem nacionais ou domiciliados
em seus quinze Estados-partes, não às ligadas a nacionais ou domiciliados em terceiros
Estados. Tal, contudo, não retira a possibilidade de se invocar o Código a título de doutrina,
isto é, como meio doutrinário de auxílio à atividade prática do juiz para casos envolvendo
cidadãos de Estados não partes.
Ainda no que tange ao Brasil, merece destaque a Convenção Interamericana sobre
Normas Gerais de Direito Internacional Privado, de 1979, em vigor 1995. Tal Convenção
estabelece, no art. 1º, que a determinação da norma jurídica aplicável para reger situações
vinculadas com o direito estrangeiro ficará sujeita ao disposto nesta Convenção e nas demais

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convenções internacionais assinadas, ou que venham a ser assinadas no futuro, em caráter
bilateral ou multilateral, pelos Estados Partes, complementando que apenas na falta de norma
internacional, os Estados Partes aplicarão as regras de conflito do seu direito interno.
Existem, atualmente, inúmeras outras convenções que abordam temas estritos ou
conexos de Direito Interno Privado, merecendo destaque as convenções internacionais de
Direito Uniforme, Essa convenções, a exemplo das normas internas de DIPr, estabelecem
regras de conexão aplicáveis aos conflitos de leis no espaço com conexão internacional que
regulamentam. Na Europa, têm destaque as convenções da Haia sobre diversos tipos de
conflitos normativos, quer no âmbito do direito civil como no do direito comercial.

2.2.2 Costume internacional

Muito embora, sua aplicação seja rara, se comparado aos tratados, o costume
internacional também constitui-se em fonte formal do DIPr.
Segundo o conhecido art. 38, § 1º, b, do Estatuto da CIJ, entende-se por costume
internacional a prova de uma prática geral aceita como sendo o direito. Sendo assim, se
percebe dois elementos para a formação do costume internacional: a prática generalizada de
atos por parte dos Estados, elemento material ou objetivo, e sua aceitação como norma jurídica
(elemento psicológico ou subjetivo). Assim, à medida que uma prática relativa a certo conflito
de leis passa a ser aceita pela sociedade internacional a título de norma jurídica, tem-se, então,
formado um costume internacional sobre esse conflito normativo, caso em que os Estados
deverão normalmente observá-lo no plano do seu Direito interno, especialmente na ausência
de outras fontes escritas.
Muitos dos costumes internacionais aplicados no Direito Interno Privado foram
reduzidos a termo, para maior visibilidade e clareza, sobretudo pela Câmara de Comércio
Internacional. É exemplo dessa regulação a publicação denominada Incoterms (International
Commercial Terms/Termos Internacionais de Comércio). Esses termos comerciais
internacionais poem em prática o costume internacional relativo ao comércio internacional e
são observados pelos atores que lidam nesse ramo de atividade.

2.2.3 Jurisprudência internacional

Muito embora os casos de Direito Interno Privado resolvidos por tribunais

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internacionais, sejam raros, não se descarta o papel da jurisprudência internacional no auxílio
e determinação do direito aplicável em casos de conflitos de leis. É evidente, porém, ser
incomparável o papel da jurisprudência interna relativamente à jurisprudência internacional.
Além de mais nítida para o juiz do foro, a jurisprudência interna resolve problemas sempre
mais constantes no plano interno que a jurisprudência internacional. O escasso número de
casos de DIPr julgados por tribunais internacionais deve-se ao fato de serem geralmente afetos
a particulares, que não podem ingressar, senão por meio de proteção diplomática por parte de
um Estado, diretamente em uma corte internacional para reinvindicar direitos seus, sendo
certo que os Estados, também muito raramente, lançam mão da proteção diplomática para
reinvindicar, em nome próprio, perante um tribunal internacional, direitos de particulares
lesados por outros Estados.

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3. A LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

Parte das normas do Direito Interno Privado, encontra-se na Lei de Introdução às


Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657/1942, com redação dada pela
Lei nº 12.376/2010). A LINDB tem aplicação, como o próprio nome indica, a todas as normas
do direito brasileiro. É nela que se encontra o núcleo básico do sistema brasileiro de aplicação
das leis estrangeiras (arts. 7º a 19º).
Através das normas elencadas na LINDB é possível a aplicação do direito estrangeiro,
quando esse for o indicado, perante a Justiça brasileira. Esta é uma excessão a regra de que
apenas as leis nacionais devem ser aplicadas no Brasil, pois, como se vê, poderá uma norma
estrangeira ser aqui igualmente aplicada e surtir todos os seus efeitos, salvo se violar a
soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes. Nos países, porém, que adotam a
territorialidade estrita, o problema do Direito Interno Privado não surge. De fato, se um
determinado país não autoriza, por qualquer modo, a aplicação de uma lei estrangeira perante
o seu foro, os problemas de DIPr não aparecerão, e, surgindo um conflito, será a lex fori a
única responsável para a sua resolução.

3.1 Estatuto pessoal no DIPr brasileiro

Denomina-se estatuto pessoal a garantia dada aos estrangeiros de que as leis do seu
país de origem serão aplicadas perante a ordem jurídica de outro, relativamente ao estado da
pessoa e sua capacidade, e de que as leis do seu país o acompanham para regê-lo em tal âmbito
no território de outro. Ele contempla, todos os acontecimentos juridicamente relevantes que
marcam a vida de uma pessoa, começando pelo nascimento, com a aquisição da personalidade,
e das questões referentes à filiação, ao nome, ao relacionamento com os pais, ao pátrio poder,
ao casamento, aos deveres conjugais, à separação, ao divórcio e à morte.
O estatuto pessoal, na legislação dos diversos países, tem se baseado ou na lei de
nacionalidade da pessoa (critério político) ou na de seu domicílio (critério políticogeográfico).
Essa escolha, evidentemente, varia conforme as opções políticolegislativas tomadas por cada
Estado. Assim, enquanto os principais países europeus como a Alemanha, Áustria, Bélgica,
França e Itália, têm optado pelo critério da nacionalidade como determinador do estatuto
pessoal, os países da common law: Austrália, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra) e os latinos
Argentina e Brasil têm adotado para tal o critério do domicílio.

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No Direito Internacional Privado brasileiro, vale o critério do domicílio, que determina
a lei que deve reger o estatuto pessoal, tendo sido abandonado o critério da nacionalidade
antes utilizado, notadamente por ser este último tido como prejudicial ao próprio interessado,
pois que, ante o desconhecimento de sua lei pelas autoridades judiciais do país onde vive,
acabará sendo atendido pelos tribunais de forma mais lenta, em um processo mais custoso,
sendo-lhe estendida menos justiça do que se a causa fosse julgada pela lei do local onde vive.
A norma brasileira atual sobre a lei aplicável ao estatuto pessoal vem expressa no art.
7º, caput, da LINDB, nos seguintes termos: A lei do país em que domiciliada a pessoa
determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.

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4. ELEMENTOS DE CONEXÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Existem diversos critérios para aplicação da norma ao caso concreto sob o plano do
direito internacional, entretanto, os elementos de conexão de maior relevância e incidência
nas relações privadas, são: domicílio, nacionalidade, lexfori, lex rei sitae, lex loci delicti
comissi, lex loci executions, locusregitactum e autonomia da vontade.

4.1 Das conexões pessoais

4.1.1 Domicílio

O domicilio ou lex domicilli é o elemento de conexão, atualmente, adotado no Brasil


e na maioria dos países da América Latina. Por esse elemento aplica-se aos conflitos de leis
no espaço a norma do domicilio de uma das partes, ou seja, havendo conflito na aplicação de
normas ao caso em concreto, a direito a ser aplicado será a do local em que as partes possuem
domicílio.
O elemento de conexão do domicílio, no ordenamento jurídico brasileiro, vem
estabelecido no artigo 7º, caput da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que diz:
“(...) A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”.
Para exemplificar a aplicabilidade do lex domicilli no Brasil, o artigo 7º, § 1º da Lei
de Introdução ao Código Civil prevê que quando um casamento for realizado no Brasil, será
aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
Ressalta-se que, para a aplicação do elemento de conexão do domicílio aos conflitos entre
normas, exige-se a sua conceituação pela lex fori em que será regulada a situação concreta.
No direito brasileiro, o domicílio é conceituado como o local em que a pessoa natural se
estabelece com ânimo definitivo, nos termos do artigo 70 do Código Civil.
Importante ressaltar que, o direito internacional privado reconhece apenas existência
de um único domicílio. Assim, ainda que o lex fori permita e garanta a pessoa natural o direito
a mais de um domicílio, tal situação não será permitida nas relações internacionais.

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4.1.2 Nacionalidade

Por esse elemento de conexão, conforme definição especifica de cada lexfori, será
aplicado aos conflitos de leis, a norma do Estado em que a pessoa possui nacionalidade. A
nacionalidade é definida pela lex fori, que se pode basear no direito constitucional do
estrangeiro, no do foro, no do lugar no nascimento da parte interessada ou de seu pai, ou,
ainda, o critério que parecer lógico, contanto que se proceda à qualificação.
Com a entrada em vigor da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro no
ordenamento jurídico pátrio, a nacionalidade deixou de ser adotada como principal critério de
elemento de conexão, passando a ser aplicável a do domicílio. No entanto, o critério da
nacionalidade ainda possui grande incidência nos países europeus e de outros continentes e,
inclusive, ainda é empregado na ordem jurídica brasileira.

4.2 Lex fori (Lei do Foro)

Existem diferentes mecanismos de qualificação quanto a aplicação correta da norma


jurídica, seja quanto ao foro, ao sujeito ou objeto, assim podemos destacar a lex fori (lei do
foro), que significa que, em um conflito de qualificações, o juiz deve utilizar a qualificação
dada pelo direito do seu próprio país.
Nota-se que a lex fori é a mais utilizada e a mais correta também, visto que, não é
lógico o individou recorrer ao direito de outro país para qualificar uma questão que já está
qualificada no direito interno. Desta forma, a qualificação é feita justamente para saber qual
será o direito aplicável.
Portanto, o mecanismo jurídico para a resolução de conflitos decorrentes do Direito
Internacional Privado, deve observar a identificação do conflito, qualificação da questão
jurídica, e posteriormente a essas verificações determinará qual o direito aplicável. Desta
forma a lex fori é a aplicação da norma conforme o foro e o fato concreto.

4.2.1 Lex rei sitae

Por sua vez, a lex rei sitae, determina a aplicação da lei em que esteja situada
determinada coisa e seu objeto, portanto, é o regime jurídico geral dos bens, que se destina à
aquisição, posse, direitos reais entre outros. Tal elemento está expresso no art. 8° da LINDB,
cuja qualificação dos bens é territorial, assim será aplicada a lei do local onde se encontra
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situado o bem. Desta forma a lex rei sitae é técnica, uma vez que a sede das relações jurídicas
está no local da situação da coisa como limite imposto pela ordem pública.
Ressalta-se que tudo que for relativo ao regime da posse, da propriedade e dos direitos
reais sobre coisa alheia, nenhuma lei poderá ter competência maior do que a do território onde
se encontrarem os bens, que constituem seu objeto. Desta forma, a lei do local em que se situa
o objeto se sobrepõe às demais.

4.2.2 Lex loci delicti comissi

Compete orientar a devida obrigação de indenizar as pessoas lesadas no caso de prática


de crime, e a lei empregada será aquela do lugar da prática do fato.

4.2.3 Lex loci executionis ou lex loci solutionis

Determina que a lei a ser empregada seja a da jurisdição de execução de um contrato


ou de uma obrigação. Lex loci solutionies - a norma a ser aplicada será a do local em que as
obrigações devem ser cumpridas.

4.2.4 Locus regit actum ou lex loci contractus (lugar de constituição da obrigação)

Pode-se dizer que o lugar da conclusão do contrato é um dos critérios de conexão mais
populares, sendo conceituado como declaração de validade de ato que satisfaça as condições
formais previstas legalmente e, conseqüentemente, todo ato constituído quanto á forma
extrínseca nos termos da lei local será válido em qualquer país.
Trata-se da forma como é exteriorizada a vontade, sendo previsto na Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, no art. 9º, caput: “para qualificar e reger as
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”.
A lex loci actus ou ius loci contractus regula a obrigação, mesmo se for condicional
quanto sua forma externa. Neste caso se sujeitará às normas do país em que se constituir,
pouco importando aonde irá se verificar a condição. Portanto, um ato celebrado no exterior
poderá ter eficácia em outro país se foi observada a forma do lugar de sua celebração. Aplica-
se, portanto, a lei do local de constituição do ato negocial.

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4.2.5 Autonomia da vontade

É pessivel que as partes de um determinado contrato escolham reger essa relação


contratual pela lei de determinado país, desde que essa escolha seja manosfetada de forma
expressa ou tacita. A autonomia da vontade é expressa como um acordo entre as partes das
condições que serão estabelecidas na negociação, sendo formalizada pelo contrato, sendo
assim, as partes possuem liberdade para negociar, celebrar contratos, nominados ou
inominados, sem qualquer intervenção governamental. Cabe notar, no entanto, que essa
autonomia, não é absoluta, a de se observar os limites da ordem pública, uma vez que não se
pode conferir às partes liberdade para confrontarem o Estado de Direito. Além disso, é
necessário que se respeitem a moral e os bons costumes.
Os elementos da autonomia da vontade podem ser notados em três planos: de uma
parte, o princípio da autonomia surge como a forma privilegiada da designação da lei estatal
aplicável a um contrato internacional. De outro lado, o principio permite às partes subtraírem
o seu contrato ao direito estatal. E por fim, a autonomia da vontade seria um instrumento de
aperfeiçoamento do direito por eliminar o conflito de leis.
Na doutrina brasileira existem três correntes distintas de pensamento: a primeira,
daqueles enfaticamente contrários à autonomia da vontade; a segunda, daqueles que são a
favor, desde que limitada às regras supletivas, excluindo-se, portanto, a possibilidade de sua
aplicação ao contrato como um todo; e finalmente a terceira, daqueles favoráveis a teoria de
forma mais ampla.

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CONCLUSÃO

O direito internacional privado busca solucionar conflitos de leis no espaço referentes


ao direito privado, indicando qual direito, dentre aqueles que tenham conexão com a lide sub
judice, deverá ser aplicado. O objeto do referido direito é internacional, sempre se referindo
às relações jurídicas com conexão que ultrapassa as fronteiras nacionais. Desta maneira, o
direito internacional privado é utilizado para analisar diversos pontos, como a questão da
uniformização das leis, a nacionalidade, a condição jurídica do imigrante, o conflito de leis
como citado anteriormente e o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos pelos
países.
As relações jurídicas de direito privado, não se restringem as normas juridicas internas,
e com a globalização, nasce a necessidade de modernização do Direito Internacional Privado,
a fim de que este ofereça soluções adequadas para aplicação no caso concreto, minimizando
o conflito de leis originado por este intercâmbio, e atuando na efetiva resolução de conflitos
entre os particulares dos Estados.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 12.036, de 1º de outubro de 2009. Altera o Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de


setembro de 1942, Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, para adequá-lo à
Constituição Federal em vigor. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/L12036.htm. Acesso em: 05
de novembro de 2022.

BRASIL. Lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito


Brasileiro. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657.htm.
Acesso em: 04 de novembro de 2022.

REZEK, J.F. Direito Internacional Público - Curso Elementar, Ed. Saraiva, 8a edição, 2000.

SILVA, G.E. DO NASCIMENTO; ACCIOLY, HILDEBRANDO. Manual de Direito


Internacional Público, Ed. Saraiva, 15a edição, 2002.

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