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Copyright © 2020 por Juliana Dantas

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Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens,


lugares, negócios, eventos e incidentes são ou os produtos
da imaginação do autor ou usados de forma fictícia.

Título Original: A mãe do ano


Capa: Jéssica Gomes
Revisão: Sheila Mendonça
Este conto pertence a série “Julie & Simon” e recomendo
que leiam os títulos anteriores

Uma noiva de natal


Um noivado nada discreto
O dia dos namorados de Julie e Simon
Um bebê Inesperado
Um bebê de natal
— Eu acredito que essa seja uma forma de manter o
departamento financeiro alavancando seus resultados de maneira
equilibrada e rentável...
A voz de James, o diretor financeiro, chega a mim como de
muito longe, pois meus olhos estão fixos no celular entre minhas
mãos, o qual mantenho estrategicamente escondido sob a mesa da
sala de reunião enquanto o diretor financeiro explana sobre seus
planos para o setor.
Ninguém precisa saber que estou dando uma espiadinha nas
câmeras de segurança que estalei em casa depois que contratamos
uma babá para cuidar de Penélope. Não que não seja perfeitamente
normal que uma mãe zelosa — mesmo que uma executiva brilhante
— verifique de vez em quando como está sua bebê.
Quer dizer, eu estou espiando desde que entrei em reunião,
acho que faz o quê? Uns quarenta minutos?
A verdade é que aquelas reuniões semanais que Simon
inventa são um porre! E na minha visão de executiva muito
visionaria e sagaz, esse tempo poderia ser gasto com atividades
muito mais interessantes.
Já posso até fazer uma lista mental do que poderíamos fazer
naquelas quase quatro horas:
- Podia tomar café na Starbucks enquanto leio a última
matéria da Cosmopolitan “Como ser uma mãe exemplar e uma
rainha do sexo” (não que eu não seja uma mãe exemplar e muito
boa em sexo, claro, mas é sempre bom aprimorar nossas
habilidades. Como diz Simon: “Nunca devemos parar até sermos os
melhores.”).
- Fazer a manicure. Olho discretamente para minha unha
com esmalte vermelho lascada na ponta. Inadmissível! A verdade é
que essa vida de executiva fodona e mãe perfeita tomam muito
tempo, e já não dá para cuidar da aparência com o mesmo apuro
que antes. Acho que seria ótimo que tivéssemos um departamento
de manicure dentro da DBS. Sim! Seria incrível. Talvez devêssemos
desfazer o departamento financeiro (assim não teria que continuar
ouvindo o chato do James falando sem parar – O Mark vampiro do
RH está quase dormindo, coitado!) e colocar algumas manicures por
lá. Seria um ótimo espaço. E quem sabe uma massagista? Ou um
cabeleireiro? A tintura do cabelo da Rachel está mesmo precisando
de retoque, reparo na minha colega gerente de marketing ao meu
lado.
- Ou a melhor ideia de todas: transar com Simon na sua sala.
Essa é com certeza a melhor de todas as melhores ideias do mundo
e...
— Eu acho que precisa ser mais preciso, James.
A voz de Simon me tira do devaneio e levanto a cabeça por
um momento, fingindo interesse. James torce as mãos, um tanto
nervoso com o tom de censura de Simon e começa a gaguejar
tentando explicar sabe lá o que Simon está exigindo.
Coitado do James! Ele não sabe que o Simon é um pau no cu
e que fala só para provar que ele tem que ter a última palavra e
estar sempre certo?
Bem, eu já sei isso faz tempo, então abaixo a cabeça e foco a
atenção no celular de novo.
Mudo de câmera, que estava no quarto da bebê, pois não
acontecia nada por lá e acho a babá, Irina, entrando na cozinha com
Penélope no colo.
Penélope agora tem quatro meses e está tão linda e esperta.
Suspiro, como sempre, ainda encantada que aquele bebê lindo
tenha saído de dentro de mim — e sem danificar pra sempre minha
vagina, vamos frisar. Embora eu tenha passado quase 24 horas em
trabalho de parto, no fim Penélope nasceu muito bem e minhas
partes baixas voltaram ao normal sem maiores problemas, obrigada.
Transplante de vagina é algo que ainda não foi inventado!
Observo Irina colocar a criança no carrinho e se virar para
pegar algo na geladeira.
Irina é uma senhora de uns sessenta anos, de origem russa,
com quarenta anos de experiência como babá. Já tinha até
trabalhado com um duque! Eu achei muito fino, ainda mais quando
ela contou no dia da entrevista que conheceu a rainha certa vez.
Claro que eu tive que contratá-la. Não é todo dia que se conhece
uma babá com contatos na realeza!
Só que eu não tive tempo de permanecer com ela em casa
um tempo para que verificasse se estava mesmo se adaptando a
Penélope e se era uma excelente babá, como dizia seu currículo.
Quando coloquei minha preocupação para Simon, ele disse
que verificou todas as referências e que a babá era qualificada.
Porém, não conseguia não deixar de expressar uma certa
preocupação por a mulher ser russa.
E Deus me livre alguém me chamar de xenofóbica! Vamos
deixar claro que eu gosto muito de estrangeiros. Até votei contra o
Brexit! Inclusive participei de uma passeata na época junto com
Holly e Nancy e quase fui presa por desacato à autoridade ao gritar
com um guarda.
A sorte é que o guarda era bem bonitinho e não foi difícil
jogar um charme e no fim, acabamos indo para um pub e foi a
primeira vez que eu transei com um oficial e...
Bom, isso é passado, relanceio meu olhar para Simon há
algumas cadeiras de distância, como se ele pudesse ouvir meus
pensamentos, o que é ridículo, óbvio. Ele está com a atenção em
James ainda.
Enfim, adoro estrangeiros — principalmente se forem
gostosos como o namorado de Justin, Miguel —, mas toda vez que
Irina fala comigo com aquele sotaque eu me lembro dos filmes de
James Bond que meu pai assistia com todos aqueles espiões
russos do mal, tão em moda na Guerra Fria.
Ok, não estamos mais na Guerra Fria, mas e se Irina for uma
espiã
que está na Inglaterra para espiar executivos de empresas de
tecnologia, como Simon e eu?
E pior, e se ela estiver no país para doutrinar crianças? E se
doutrinasse Penélope? E se minha filha virasse uma pequena espiã
russa, espionando os amiguinhos na escola enquanto chamava os
comparsas russos de camarada e louvava uma imagem de Stalin?
Estremeço de horror.
Por isso, decido manter a vigilância em Irina Ivanov.
Abaixo a cabeça de novo enquanto James continua a
gaguejar para Simon e Irina está com Penélope no colo, lhe dando
mamadeira. Não posso evitar uma onda de ciúme me tomando ao
ver como Penélope sorri para a babá totalmente à vontade — a
traidora!
Será que não podia sentir um pouquinho minha falta? Abrir o
berreiro quando a babá tentasse lhe dar mamadeira, afinal mamar
nos meus peitos é muito mais interessante?
— Julie?
Levo um susto ao ouvir Simon me chamando e levanto a
cabeça, atordoada.
— O quê?
— Sua vez. — Simon levanta a sobrancelha impaciente e
percebo por sua expressão irritada que já deveria estar me
chamando há algum tempo.
— Ah, certo...
Levanto-me. E pego meu notebook, indo para frente da sala.
Sinto os olhos de Simon fixos em mim e o encaro de volta, com uma
expressão de “o que foi agora?”.
Que ele retribui com uma expressão de “eu sei o que estava
fazendo”.
Sim, eu e Simon podemos estar há pouco mais de um ano
juntos, mas já desenvolvemos uma forma bem peculiar de conversa
silenciosa de fazer inveja a qualquer casal de idoso.
Às vezes era até bem legal, como quando eu queria me safar
da conversa chata da irmã dele nos jantares de família e Simon
dava um jeito de me levar embora, bastava eu lança um olhar de “se
a Mila falar mais uma vez da porra das orquídeas de seu jardim eu
vou enfiar esse garfo no meu olho” e Simon rapidamente entendia
que eu queria ir embora.
Mas, quando ele me flagrava fazendo algo, que — na visão
dele, vamos deixar bem claro — era repreensível, era difícil de eu
me safar.
Porém, eu também sou boa de fingir demência quando
necessário, então desvio os olhos para meu notebook e acho minha
apresentação, que aparece na tela atrás de mim e antes de
começar também abro uma tela com imagens da câmera de
segurança de casa, para dar uma espiadinha de vez em quando.
— Julie, não temos o dia inteiro — Simon resmunga
impaciente.
Eu lanço um olhar de “tem que falar assim comigo mesmo?”
que Simon prontamente ignora.
Típico.
— No ano passado, nós obtivemos números excelentes e
acredito que devemos manter algumas estratégias que deram certo
e incrementá-las, como a Editorial Mídia Pitching, que aumentou
muito o reconhecimento da nossa marca e o tráfego no site e ainda
estabelecemos a marca da DBS como especialista em seu ramo...
Continuo falando e falando, porque tenho aquela
apresentação na ponta da língua e está fabulosa, nem um chato
exigente como Simon vai poder botar algum defeito.
Por isso, enquanto explico as novas estratégias de RP,
aproveito para dar uma espiadinha na câmera de casa. Irina está
abrindo a porta e um homem entra na cozinha.
Espera? Quem é aquele?
Ele veste um uniforme ou algo assim. Dou zoom na tela e
não consigo identificar de onde é o uniforme. Irina conversa com o
homem que mexe em algo na linha telefônica da cozinha.
Meu Deus, e se for um comparsa de Irina grampeando
nossos telefones?
Ainda sinto arrepios de horror ao me lembrar do escândalo
das conversas gravadas de Charles com Camila, na época ainda
amante do príncipe — casado com Diana! — em que ele dizia
querer ser seu Tampax.
Misericórdia!
Tento lembrar se eu e Simon já tivemos alguma conversa
sacana por telefone, mas não consigo me lembrar. E se tivemos foi
por celular.
Mesmo assim, se este cara estiver grampeando meu telefone
eu vou acabar com a raça perestroika dele!
Imediatamente me preocupo com Penélope. Uma olhada
mais atenta e percebo que ela não está na cozinha. Mudo para a
câmera de quarto e Penélope está no berço e começa a chorar.
Volto a câmera para a cozinha, onde Irina agora se afasta
provavelmente para o quarto de Penélope, com o homem atrás dela.
Espera, como assim?
Esquecendo-me de onde estou aumento o som para ouvir o
que eles estão dizendo e a sala inteira se assusta quando um choro
estridente de bebê se espalha por todo o ambiente.
— Ai merda! — Aperto o botão para diminuir o som e,
nervosa, só consigo aumentar mais.
— Julie, que porra?... — Simon grita.
— Me desculpe, não sei o que é...
De um pulo Simon está ao meu lado, afastando o som e seu
olhar recai sobre a tela, várias imagens da nossa casa, inclusive
aquela em que Irina acalenta Penélope que ainda chora e seu
comparsa espião está mexendo no telefone da sala.
Simon me encara furioso.
Eu o encaro de volta com minha melhor expressão de “não
comece uma briga em frente a todos os funcionários”.
E Simon me devolve uma expressão de “isso vai ter retorno”.
Ai droga.
— Bem, acho que você já nos mostrou suas estratégias, Julie
— Simon diz por fim — Rachel?
Ele chama a gerente de Marketing que está com o rosto
escondido por trás de uma folha sulfite, enquanto seus ombros
sobem e descem num riso que ela não consegue disfarçar.
— Sim, claro. — Ela respira fundo, o rosto vermelho
enquanto toma o meu lugar.
Arrasto-me de volta para minha cadeira, sabendo que Simon
deve estar irado por ter descoberto minhas espiadas.
Mas caramba, ele tem que entender!
Rachel consegue conter o riso e começa sua apresentação e
pego meu celular, mas antes que consiga entrar nas câmeras de
novo, vejo uma mensagem de Simon.
“Que merda está fazendo? Presta atenção na reunião.”
Bufo, irritada com o tom desaforado de Simon e digito rápido
uma mensagem.
“Estou de olho na nossa filha em casa com uma espiã russa!”
Simon vira a cabeça para mim na hora, com um olhar de
“você pirou de vez?”.
Dou de ombros e aponto para frente, para que ele preste
atenção em Rachel.
Ele se vira, ainda irritado.
E eu volto a espiar as câmeras.
O espião russo grampeador de telefone desapareceu.
— Você só pode estar brincando! — Simon esbraveja assim
que entramos na sua sala, após a reunião.
— Não precisa gritar, quer que a Natasha pense o quê? —
sussurro, e Simon revira os olhos impaciente.
— Quando você vem aqui para transar não se preocupa da
Natasha estar ouvindo!
— Não muda de assunto.
— Você quem está mudando! Por que fica espiando as
câmeras de segurança da nossa casa em plena reunião?
— É perfeitamente normal! Por isso instalamos aquelas
câmeras.
— Não é normal passar o tempo inteiro assistindo a babá
cuidar da nossa filha como se estivesse assistindo um maldito reality
show!
— Oh Simon, que legal seria, né? A gente daria mesmo um
ótimo reality! Seríamos como as Kardashians, só que da Inglaterra!
Talvez eu faça até uma plástica na bunda, para ficar assim bem
grande e...
— Não começa, Julie, o assunto é sério! Você passou dos
limites!
— Eu não acho. Está exagerando como sempre.
— Você percebe que fez papel ridículo na frente de todo
mundo?
Eu dou de ombros.
— Bem, não seria a primeira vez.
— Não é assim, Julie! Você deveria estar prestando atenção
no seu trabalho principalmente na hora da sua apresentação! Em
vez disso estava espiando a babá!
— Eu estava fazendo muito bem a minha apresentação, você
nem teria notado que eu estava espiando se não fosse o
probleminha com o áudio.
— Probleminha!
— Sim, tem que reconhecer que sou uma pessoa muito
capaz, Simon. Consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo, ao
contrário de você.
— Que merda está falando? Estou tentando fazer você
entender que não é admissível ficar espionando a babá!
— Pois deveria me agradecer, sabe que ela levou um homem
estranho para casa hoje?
— O quê?
— Sim, e se for um camarada dela?
— Camarada, que merda está dizendo?
— Bem, ainda não tem provas, é um palpite.
— Palpite?
— Sim, ela é russa.
— E daí?
— Se for uma espiã?
— Ficou maluca?
— Talvez sim, talvez não! Por que ela deixou um homem
muito estranho entrar em casa e ele ficou mexendo nos nossos
telefones?
— Você quer dizer o homem da Cia Telefônica?
— Tem certeza que é mesmo?
— Claro que sim, fui avisado que eles iriam verificar as linhas
hoje, Julie, pelo amor de Deus! Puta que pariu! — Simon joga as
mãos para o alto e se afasta sentando atrás da sua mesa. — Sério,
já chega, tenho muitas coisas pra fazer e não dá mesmo para
conversar com você quando começa com essas pirações!
— Não é piração...
— Eu só espero que pare de espiar a babá.
— Mas eu não faço isso, foi só hoje — minto
descaradamente.
Só que Simon sabe muito bem quando estou mentindo.
— Eu duvido.
— Ok, eu espio sempre!
— Caramba, Julie!
— Vai dizer que você também não dá uma espiadinha?
— Sim, de vez em quando, para ver se está tudo bem, não
passo o dia inteiro e muito menos deixo de fazer meu trabalho por
isso!
— Não deixo de fazer meu trabalho!
— Se não parar, mandarei desligar todas as câmeras.
— Não pode fazer isso!
— Eu posso e vou.
— Ah tá bom, senhor CEO fodão. Não pode nada!
— Espere e verá. Agora volte ao seu trabalho.
Sim, é o que eu devia fazer, mas não gosto quando Simon
fica bravo comigo. Quer dizer, ele sempre fica bravo comigo por
alguma razão, mas eu não gosto quando não consigo reverter este
quadro.
Com um suspiro, caminho até ele e me coloco atrás de sua
cadeira, massageando seus ombros tensos.
— Você precisa relaxar, Simon.
— Julie, sério, volte ao trabalho.
— Sabe o que eu estava pensando? Em colocar uma sala de
massagem na empresa, o que acha?
— Está louca?
— Por que não? É uma ótima ideia! E quem sabe manicures?
Ou aqueles tanques com peixes que mordem os nossos pés sabe?
Ouvi dizer que é um tratamento bem eficaz e...
— Ainda está aqui? — resmunga enquanto abre seu
notebook.
— Bem, se uma massagem não resolve... — Arrasto minha
mão por seu peito, até seu cinto.
Simon segura meu pulso.
— Não.
— Não o quê? — sussurro em seu ouvido, deixando meus
lábios deslizarem por seu rosto.
— Porra, Julie — ele rosna, mas em vez de me puxar para
seu colo, como eu previa, ele me afasta. — Por favor, volte ao seu
trabalho.
— Credo, Simon! Você está muito chato! Vou mesmo voltar
ao trabalho e deixar você aí com este mau humor! Desse jeito vai ter
um enfarto antes dos trinta anos e... — Eu me afasto, mas Simon
me puxa de volta e no minuto seguinte estou mesmo em seu colo
com sua linda boca mal-humorada colada a minha.
— Meu Deus, como você consegue me irritar deste jeito? —
ele resmunga quando para de me beijar.
Eu solto uma risadinha, brincando com sua gravata.
— Devia ter pensado nisso antes de casar comigo.
— Devia era ter ficado longe de você quando me fez aquela
proposta, sabia que estava metido em uma enrascada para o resto
da vida.
— Adoro quando fala isso.
— O quê?
— Para o resto da vida.
Ele sorri e me beija.

Quando saio da sala de Simon, passo pela mesa de Natasha,


ela assopra alguma coisa em mim que me faz tossir.
— Que isso, Natasha?
Eu a encaro, e ela está sorrindo.
Ainda é incrível que aquela moça sorridente seja a mesma
gótica de antes.
Agora ela parece mais filha da minha mãe do que eu.
— Que a deusa esteja com você.
— Misericórdia! — sussurro saindo da sala antes que ela
decida começar a dançar em volta de si mesma.

Saio do trabalho mais cedo naquela tarde e estou ansiosa


quando entro em casa, para ver Penélope.
Ela está no berço, enquanto Irina se ocupa em dobrar
roupinhas de bebê e colocar em seu closet.
— Olá, senhora. — Irina sorri ao me ver.
— Oi, Irina.
Mas eu mal presto atenção na espiã, quer dizer, babá, muito
ocupada em pegar Penélope no berço.
— Ah, que saudade, querida! — sussurro a colocando contra
o peito.
Ninguém conta pra gente como é difícil desapegar de nosso
bebê quando voltamos ao trabalho. Eu sentia falta de Penélope o
dia inteiro.
Sento-me na poltrona de amamentação e abro minha blusa,
mas Penélope não parece interessada em pegar meu seio.
— O que foi, querida? Não está com saudade do peito da
mamãe?
— Ela já mamou, Senhora Bennett.
Eu costumava tirar meu leite e deixar para Irina alimentar
Penélope, mas sei que não era suficiente e Irina combinava com
leite normal.
— Mas é meu peito, ela deveria querer sempre! — Sinto-me
um tanto ultrajada.
Penélope começa a chorar e eu tento acalmá-la, mas ela só
faz chorar mais.
— O que foi, filhinha? Será que ela precisa ser trocada?
— Não, ela já inclusive tomou o seu banho e está pronta para
dormir. Ela deve estar chorando porque deveria estar dormindo.
Levanto a cabeça devagar, um tanto irritada pelo tom de
superioridade da espiã, ops, babá.
— Eu acho que não. Eu saberia se ela quisesse dormir —
rebato e, me levantando, a sacudo para que pare de chorar, mas
Penélope não colabora e chora ainda mais alto.
Irina se aproxima e estende os braços.
— Por que não deixa que eu a faço dormir enquanto a
senhora descansa?
Hesito, não querendo passar Penélope para seu colo, afinal,
ela já passou o dia inteiro com a minha filha agora é minha vez!
Só que o choro de Penélope já está começando a se
transformar em um berreiro e sem alternativa a passo para o colo da
babá.
E qual não é a minha surpresa quando Penélope vai parando
de chorar quase imediatamente quando Irina sussurra palavras que
não entendo.
Franzo o olhar.
— O que está dizendo?
— É russo, ela parece gostar. — A mulher sorri.
Eu sabia!
Enquanto tomo banho e me visto descendo para a cozinha
para fazer algo para o jantar só penso que tenho que alertar Simon
de que a babá está aliciando nossa filha.

— Estou desconfiada dessa babá, Simon — eu lhe digo à


noite, enquanto estamos terminando de jantar.
Irina acabou de passar para se despedir, dizendo que
Penélope estava dormindo tranquila.
Simon levanta o rosto do prato me fitando com cara de “não
começa”.
— Desconfiada do quê? Ela parece muito boa.
— Boa demais.
— E qual o problema de ser boa demais?
— Não é esquisito? Já assistiu “A mão que balança o berço”?
— Não é um filme antigo sobre... — Simon tenta puxar a
memória.
— Uma babá assassina maluca! Não se lembra? Era a babá
perfeita, mas se revelou uma psicopata.
— Irina não é uma psicopata, Julie. — Simon ri.
— A não? Ela é perfeita! Mas quando menos se espera ela
estará com um taco de basebol me perseguindo pela casa!
Desta vez Simon ri com vontade e eu bufo, tirando os pratos
e jogando na pia.
Simon vem até mim e me abraça por trás, depositando um
beijo em meu ombro.
— Qual o problema?
— Que problema? Tirando que a babá é bem estranha e você
não está nem aí? Ela estava falando russo com a Penélope hoje.
Russo!
— Hum, pode ser interessante. Penélope pode ser uma
criança bilíngue. Vai ser bom para o currículo dela...
— E se for para aliciá-la para que se transforme em uma
espiã russa?
Simon ri.
— Julie, sério, para de delirar. Vamos, deixa a louça aí e
vamos para a cama. Antes que Penélope acorde...
Mas antes que ele termine de falar, escutamos o choro vindo
do quarto. Eu me desvencilho.
— Deixa que eu vejo — Simon diz, mas eu o impeço.
— Não, deixa que eu vou.
— Tudo bem, vou trabalhar em uns relatórios então...
Corro para cima e pego Penélope que esperneia no berço.
— Pronto, mamãe está aqui...
Penélope ainda chora um pouco mais até que eu a leve para
meu quarto.
Simon está no escritório trabalhando, então ligo a TV e
procuro algo para assistir. Acabo colocando em uma série sobre
bebês e horas depois, com Penélope já adormecida, eu entendo
qual o problema.
— Ela dormiu? — Simon retira Penélope do meu colo,
quando aceno que sim. — Vou colocá-la no berço.
Ele sai do quarto e quando volta, deitando ao meu lado e
apagando a luz, eu a acendo de novo.
— Precisamos conversar.
Simon boceja.
— E eu achando que você ia pedir pra transar.
— Não seja pervertido, o assunto é sério.
— Ok, Julie, o que quer falar? — Ele se senta ao meu lado,
cruzando os braços.
— Ocitocina.
— Quê?
— Ocitocina! — repito.
— Que diabos é isso?
— Estou muito preocupada, Simon.
— Com o quê?
— Ocitocina!
— De novo: que diabos é isso?
— Simon, sinceramente, para um CEO, você às vezes é bem
burro!
— Não sou burro!
— E não aceita críticas, precisamos trabalhar isso...
— Você que está mudando de assunto agora. Se bem que
acho até melhor...
— Não, não estou mudando, estou tentando dizer que estou
muito preocupada...
— Com a ocitocina? É algum osso que acha que quebrou?
Como o tal cúbito?
Rolo os olhos, impaciente.
Simon pega o celular.
— Não, é um hormônio!
— E?...
— Sabia que é a ocitocina que faz com que o vínculo entre
mães e filhos se intensifique?
— E?... — Simon já está distraído mexendo no celular.
— Simon, presta atenção! — Arranco o celular de sua mão.
— Na gravidez a quantidade de ocitocina cresce! E quando o bebê
nasce ela aumenta mais ainda quando a mãe permanece perto do
bebê!
— E?... — Ele continua com deboche.
— E aí que acredito que não estou desenvolvendo ocitocina
como devia, porque não estou perto da minha filha! Aí nosso vínculo
está se desfazendo. E aí ela parece preferir a babá a mim!
— Você está com ciúme da babá, é sobre isso que se trata?
— Não!
Simon ri.
— Eu acho que é.
— Não está me levando a sério.
— Se eu levasse a sério quando começa com essas merdas,
eu iria ficar maluco. — Ele apaga a luz de novo e eu acendo.
— Simon, ainda não terminei!
— Julie, está tarde, estou com sono, será que dá para deixar
essa conversa para uma hora decente?
Suspiro, me dando por vencida.
— Ok.
Mas quando ele apaga a luz do abajur eu a acendo de novo.
Simon me encara impaciente.
Eu sorrio.
— Quer transar?
— Finalmente uma boa ideia! — Ele ri me beijando.
E eu tenho que concordar com ele.

— Hoje eu não posso ir trabalhar — comunico a Simon


quando sai do chuveiro na manhã seguinte.
Estou sentada na ponta da cama, ainda de pijama e ele me
lança um olhar confuso enquanto abre o closet.
Não posso deixar de me perder um pouco admirando seu
traseiro.
Simon é mesmo muito bom de olhar e eu me pergunto se um
dia vou me acostumar.
— Está tudo bem?
— Comigo sim.
Ele se volta, vestindo a cueca boxer.
— Então por que não vai trabalhar? Alguma coisa com
Penélope? — Ele corre para o carrinho de Penélope que está em
um canto do quarto.
Rolo os olhos.
— Ela está bem.
— Então por que não vai trabalhar?
— A babá não vem hoje.
— O que aconteceu?
Ele pega uma calça.
— Ela quebrou o osso cúbito.
Simon se vira para mim, com cara de “fala sério?”.
Eu começo a rir me levantando e pegando Penélope do
carrinho.
— É brincadeira. Eu pedi que ela não viesse.
— Por que faria isso? Temos uma reunião hoje, Julie, não se
lembra?
— Sim, eu sei, mas eu posso participar por vídeo.
— Não acho que seja apropriado.
Ele veste uma camisa e eu quase lamento.
Será que Simon também acharia não apropriado se eu
pedisse para ele trabalhar sem camisa?
Podia ser algo interessante no verão, por exemplo.
— Mas quando o Mark ficou doente ele participou de
reuniões por teleconferência e ninguém viu problema algum nisso.
Eu vou fazer homework e pronto. Isso é muito aceitável sim.
— Mas não era uma reunião com clientes.
— Vai dar certo!
— Julie, é uma reunião com o pessoal da Harvey, um dos
nossos mais importantes clientes.
— Eu sei disso.
— E você lembra que quando estivemos na Harvey você
vomitou em cima do CEO, não lembra?
Ah merda, ele tem que me lembrar desse episódio
lamentável?
Eu me aproximo e beijo seus lábios.
— Não se preocupe. Vai ser perfeito desta vez.
— Se você diz — ele resmunga mal-humorado.
— Confie em mim. Vou trabalhar de casa e assim não vou
ficar tão preocupada com a Penélope.
— Pelo amor de Deus, ainda com essa encanação com a
babá?
— Eu ainda não estou certa que a Irina é a pessoa certa...
— Está sendo exagerada.
— Estou sendo cuidadosa, só isso. Agora vou trocar a
Penélope e alimentá-la.
Saio do quarto antes que ele continue a me criticar e coloco
Penélope no trocador.
Sorrio, enquanto tiro sua fralda.
— Hoje seremos só eu e você e nada daquela enxerida russa
por aqui! — Beijo sua barriguinha a fazendo rir.
Sim, tinha sido uma ótima ideia.
Eu trabalharia de casa e se desse certo eu poderia
despachar de vez a babá espiã para a Rússia.
E Simon não precisaria ficar reclamando de que eu não
prestava atenção no trabalho ou que era uma mãe com
preocupação exagerada.
Ele ia ver.
Eu ia ser eleita a mãe do ano.
Na hora marcada para a reunião, estou toda descabelada,
ainda não tive tempo de trocar de roupa — muito menos passar
sequer um batom, quanto mais uma maquiagem completa — e
Penélope decidiu que meu seio é o seu brinquedo preferido.
E pensar que ontem eu fiquei brava porque ela não queria
mamar e agora ela não quer me largar de jeito nenhum! Toda vez
que tento tirá-la do peito e colocá-la no carrinho, para que possa me
preparar para a reunião, ela abre o berreiro e quase consigo sentir
falta de Irina.
E daí que ela ia transformar minha filha numa espiã russa?
Ela poderia ser como aquelas beldades do filme do James
Bond, com boa mira para atirar e ótimo jeito de seduzir.
Sem alternativa — e ainda com Penélope grudada no meu
peito — ligo o notebook no escritório e posiciono de uma maneira
que apareça apenas meu rosto — e não meus seios.
— Certo. Eu consigo — digo a mim mesma enquanto prendo
meu cabelo para cima e rezo para não estar tão mal assim quando a
tela pisca e lá está Simon e mais quatro pessoas ao redor da mesa
de reunião.
Benjamin e Carlton da área de desenvolvimento,
responsáveis pelos aplicativos que a Harvey tinha nos solicitado, e
dois executivos da Harvey. Um deles era Martin Harvey, o CEO da
empresa. Ele parece bem feliz enquanto acena para mim,
certamente contente por estar livre da ameaça de vômito que foi
vítima da outra vez.
— Julie, bem-vinda à reunião — Simon diz todo profissional e
eu faço minha melhor expressão de executiva fodona.
— Olá, vamos começar?
Espero que eles não reparem que estou usando apenas uma
mão, enquanto a outra segura Penélope.
Benjamin e Carlton começam a mostrar os aplicativos que
desenvolvemos para a Harvey, e Simon acrescenta algumas falas.
Sei que no fundo eu nem precisaria estar ali, mas fui eu que
apresentei a proposta a Harvey e tinha feito questão de participar,
incluindo uma parte para eu apresentar também. Afinal, vamos
lembrar que além de gerente de RP eu também sou uma das
acionistas da empresa.
Porém, depois que terminamos, Harvey está cheio de
perguntas e Carlton e Benjamin começam a gaguejar para
responder, afinal são dois nerds que são incríveis para desenvolver
apps, mas não para se posicionarem bem em frente de clientes.
Simon tenta ajudá-los, pois ele ajudou a fazer aquela apresentação,
assim como eu também.
Só que eu deixo que Simon tome à frente, mantenho um olho
na tela e outro em Penélope, que em certo momento parou de
mamar e agora está quase dormindo no meu peito.
Graças a Deus.
Será que eu consigo sair de fininho e colocá-la no carrinho?
Disfarçadamente, puxo o carrinho para perto e vou tirando a
neném do meu colo e colocando para o lado.
— E o que tem a dizer, Julie? — Simon indaga do outro lado
da tela e eu volto rápido, vermelha, com todos os olhos fixos em
mim.
— É, eu... — Do que eles estavam falando agora mesmo?
Mexo nos papéis ao meu lado e nervosa acabo quase
fechando sem querer o note e apresso-me em abrir, pedindo
desculpas e quando posiciono de novo a tela noto imediatamente
que tem algo errado, pois tem cinco pares de olhos arregalados no
meu rosto. Não, espera. Não no meu rosto.
Mais abaixo.
O quê...
Abaixo o rosto e, horrorizada, vejo que não abaixei minha
blusa, depois que Penélope mamou e meu seio direito está
completamente à mostra.
— Julie, puta merda! — Simon grita e a última coisa que vejo
é seu rosto furioso quando fecha a tela do outro lado.
Ai porra, agora o Simon vai me matar!

Eu passo a tarde esperando uma ligação furiosa de Simon


que na verdade não acontece.
Penélope, depois da soneca durante a reunião, está quietinha
e eu me sento na sala, colocando-a sobre meus joelhos dobrados,
admirando seu rostinho perfeito.
— Seu pai está furioso comigo, Penélope. O que vamos
fazer?
Claro que ela responde com um sorriso banguela e alguns
barulhos que fazem com que uma bola de cuspe saia de sua boca
minúscula.
— Seria um bom momento para você aprender a falar agora,
sabe? — Brinco com seu cabelo, tufos fininhos de fios ruivos, assim
como os de Simon.
Seus dedinhos capturam o meu, e ela o leva à boca, me
fazendo sorrir.
Podia ser sempre assim, penso.
Só nós duas.
Já posso sentir a ocitocina aumentando, penso divertida.
— Ei.
Levanto a cabeça quando Simon entra na sala.
Ele já está sem o paletó e a gravata e senta ao meu lado.
Não parece nervoso. E isso é esquisito.
Será que ele tomou calmantes?
Será que eu fiz meu marido se viciar em Valium e ele vai
começar a babar a qualquer momento?
— Está bravo comigo? — sussurro.
Porque sei que ele tem motivos, não adianta eu começar a
inventar desculpas.
— Eu fiquei — ele suspira —, mas não estou mais.
Eu o encaro, desconfiada.
— Pois eu acho que tem motivos. O Martin Harvey deve
achar que sou louca. Meu Deus, ele viu meus peitos!
— Não só ele como Benjamin, Carlton e o executivo que
acompanhava Harvey.
Escondo o rosto entre as mãos.
— O que aconteceu depois?
— Bem, houve um momento de choque geral e eu desliguei o
computador e pedi desculpas, explicando que provavelmente você
estava amamentando nossa filha.
— Isso não foi nem um pouco profissional! — choramingo.
— Julie, olha pra mim — Simon pede.
E realmente acho que nunca ouvi sua voz tão paciente.
Eu o encaro, mortificada.
— Você deveria estar furioso! E eu nem vou ficar inventando
desculpas esfarrapadas para meu comportamento. Achei que fosse
tirar de letra trabalhar em casa com Penélope e tudo seria perfeito,
eu poderia ser uma boa executiva e ainda assim a mãe exemplar,
mas tudo deu errado.
— Eu não estou furioso.
— Sério?
— Não. O que está acontecendo é que você está com
dificuldade de deixar Penélope em casa e ir para o trabalho.
— Sim, eu sei — confesso — Por que é tão difícil? Acho que
nunca parei para pensar sobre isso. Eu amo meu trabalho, mas
também amo ser mãe.
— Acho que todas as mães que têm uma carreira passam
por isso.
— E o que eu faço?
— Primeiro tem que escolher. Você pode ficar em casa com
Penélope se quiser.
Sim, é uma ideia.
— Mas eu gosto do meu trabalho.
— Então continue no trabalho.
— E se Penélope me odiar?
Ele começa a rir.
— É serio, Simon. Já imagino ela, daqui a alguns anos,
nesses programas de TV: “Minha mãe me trocou pelo trabalho e por
isso eu uso crack.”.
— Não seja exagerada. Nada disso vai acontecer. Você pode
diminuir o horário, pode trabalhar de casa algumas vezes, mas sem
mostrar seus mamilos, vamos deixar claro. Minha paciência tem
limite.
— E você vai permitir que eu diminua o ritmo, senhor CEO
Workaholic?
— Eu achei que você que fosse minha chefa agora, senhora
acionista.
— Bem, é verdade. Eu sou mesmo muito poderosa!
Simon se inclina e me beija.
Penélope faz barulhinhos, mexendo os bracinhos, para
chamar a atenção, e Simon a pega no colo.
— Então, decidida?
— Acho que sim.
— E vai parar de achar que a babá é espiã russa?
— Eu ainda não tenho certeza sobre isso...
— Julie...
— Está bem!
— Se não confiar na babá, não vai dar certo.
— Eu sei...
— Irina é ótima e pensa como nossa filha se destacaria na
escola sendo bilíngue em russo apenas com três anos.
— Uau, Simon, seria incrível! Ela pode ser uma dessas
crianças prodígio!
— Ei, menos. Ela ainda é só um bebê.
— Mas ela é nossa filha. Claro que vai ser perfeita!
Simon sorri indulgente.
— Claro que sim. — Simon sorri pra mim com uma expressão
de “se ela puxar a nós, estará ferrada”.
E eu não posso deixar de rir e concordar.
— Eu não vou ser uma mãe perfeita, né?
Dou de ombros com uma careta e Simon ri.
— Não, mas nós vamos te amar e te aguentar do mesmo
jeito, pode ser?
Eu me inclino e o beijo.
— Pode ser sim.
Sorrio deitando a cabeça em seu ombro e muito satisfeita
com nossa pequena família imperfeita.
Bônus

Diário de quarentena da Julie de Harris-Bennett

Dia 1

08h

Está tudo bem. Vou me manter positiva. Só porque não podemos


sair de casa — sabe Deus até quando — porque um vírus está
atacando a todos como um daqueles filmes de ficção cientifica —
não quer dizer que seja motivo para desespero. Vou aproveitar para
ficar com Penélope, afinal a babá foi dispensada, e curtir bons
momentos com minha bebê, vou ler muitos romances no Kindle e
finalmente poder fazer todas as receitas daqueles livros caros que
comprei na internet e nunca usei... Ou posso ler a Vogue e é isso.

09h

Simon perguntou o que diabos eu estava pensando quando entrou


na cozinha e me pegou lendo a Vogue enquanto Penélope brincava
no carrinho com um mordedor. Eu o encarei sem entender nada e
ele disse que eu tinha perdido a reunião das 10h. Ah sim, aí eu me
lembrei que Simon tinha dito que não iríamos ficar em casa sem
fazer nada, e sim teríamos que fazer homework. Aff que chato!

11h

Simon, como bom CEO workaholic, está empenhado em manter


todos ocupados e trabalhando em tempo integral em seus
respectivos home offices e para isso passou o dia em reuniões
intermináveis que só servem para ele vigiar os funcionários e
garantir que todos estão fazendo suas tarefas e não refastelados no
sofá comendo Cheetos e assistindo Netflix.

12h

Simon deve ter percebido que, enquanto vigiava os funcionários,


esqueceu de me vigiar e entrou sorrateiro no meu escritório — sim,
ele insistiu que eu tinha que ter um escritório em casa também,
como se eu fosse perder meu tempo trabalhando em casa. E me
flagrou assistindo “Casamento às Cegas” na Netflix — sério, essa
Jéssica é muito sem noção!

13h

Depois da bronca de Simon, decidi trabalhar, mas antes dei uma


busca nos sites de notícia — afinal, como boa profissional de
comunicação, tenho que me manter atualizada.

14h

Estou chorando pela terceira vez, porque tenho certeza que todos
vamos pegar esse vírus e se eu morrer nem vão poder me velar
direito com aquele vestido Chanel que era meu sonho, enquanto a
Celine Dion canta a música de “Titanic”.

15h

Simon decidiu que não posso mais ver notícias e pediu que eu me
distraísse, porém com algo útil e não reality shows de casamento.
Decidi ligar para minha mãe, mas papai me disse que ela está em
uma videoconferência com suas amigas da Wicca enquanto entoam
cânticos para salvar o planeta e não pode falar comigo agora.

16h
Enquanto Penélope dormia, resolvi fazer um bolo, mas ao dar uma
olhada na despensa, percebi que não tínhamos os ingredientes,
então decidi ir até o mercado. Simon não achou uma boa ideia, mas
eu lhe garanti que tomaria todos os cuidados e ia aproveitar e
comprar tudo o que precisávamos para passar a semana sem ter
que sair de novo. Coloquei minha máscara e me sentindo uma
daquelas heroínas de filmes apocalípticos, saí de casa.

17h

Por que todas aquelas pessoas estão enchendo o carrinho de papel


higiênico? Achei estranho, mas se todo mundo está fazendo, acho
que preciso fazer também, afinal podem acabar todos os papéis
higiênicos do mundo desse jeito. Mas ao chegar à sessão, fiquei
preocupada ao ver que só tinha um pacote. Corri para lá e uma
mulher chegou ao mesmo tempo. Abracei o pacote contra o peito,
mas ela não queria largar. Lutamos pelo papel como se
estivéssemos numa luta livre sobre a lama. Ela não ia levar meu
papel higiênico, minha vida dependia daquilo! E quando puxou meu
cabelo, aí me irritei de verdade e dei um chute na sua canela,
torcendo para que ela tivesse quebrado o osso cúbito, enquanto
corria com o papel pelo supermercado, feliz por ter vencido aquela
luta. Talvez deva escrever minhas experiências nessa nova
realidade distópica e assim, quando tudo acabar, todos vão querer
ler minha emocionante biografia, e quem sabe até façam um filme!?
Eu posso mesmo ser uma heroína de filme apocalíptico!
Nota da autora

A série Julie & Simon já tinha acabado, porém, há algum tempo,


eu andava sentindo falta deles e com vontade de escrever pelo
menos um continho para matar a saudade das loucuras deste
casal maravilhoso.
Assim, aproveitei o dia das mães para escrever este conto
curtinho e divertido para dar uma espiada em como está a vida
de Julie e Simon agora como pais.
E aproveitei para acrescentar O diário de Julie Harris-Bennett na
quarentena, que eu havia postado no Instagram esses dias!

E também quero desejar um feliz dia das mães para quem é


mamãe!

Grande abraço!

#fiquememcasa
Sobre a autora

Juliana Dantas

Apaixonada por livros, séries e viagens, a paulista Juliana Dantas


envolveu-se com a escrita em 2006, escrevendo fanfics dos
seus seriados e livros preferidos. Estreou como autora
independente na Amazon em 2016 e hoje possui mais de 40 títulos
na plataforma Kindle, além de livros publicados pela Editora Harper
Collins - selo Harlequin, DVS Editora e Editora Pandorga. Em 2020,
sua série Julie & Simon teve os direitos de adaptação para produção
audiovisual contratados pela produtora Lupi.
Com mais de 90 milhões de páginas lidas no kindle, sua escrita
transita livremente entre dramas surpreendentes e romances leves
e divertidos e seus títulos sempre passam ranking de mais vendidos
da plataforma, além de já ter dois deles na lista de mais vendidos da
Veja.

E-books Publicados na Amazon:


O Leão de Wall Street
Vendetta – Livro 1
Vendetta – Livro 2
Vendetta – Livro 3
Vendetta – Livro 4
A Verdade Oculta
Segredos que ferem
Linha da Vida
Longe do Paraíso
Espinhos no Paraiso
Juntos no Paraíso
Espera – Um conto de O Leão de Wall Street
Cinzas do Passado
Trilogia Dark Paradise (Box)
A Outra
Segredos e Mentiras
Uma vida extraordinária
Por um sonho
O Highlander nas sombras
Quando você chegou
O segurança de Wall Street
Box Vendetta
Uma noiva de natal
Um noivado nada discreto
O dia dos namorados de Julie e Simon
Um sonho de Princesa
As infinitas possibilidades do nunca
Desastres sexuais ( Conto Amor, amizade e outros desastres)
Box Romances Inesquecíveis
No silêncio do mar
O que escolhemos esquecer
Um bebê Inesperado
Um bebê de natal ( conto da série Julie & Simon)
Quase uma duquesa
Desafiando a Gravidade
O que escolhemos perdoar
A irresistível face da mentira
Entre o crime e a nobreza Livro I
Entre o crime e a nobreza Livro II
Um brinde a realeza
Box Henry & Sophia
Black – O lado escuro do coração – Ato I
Black – o Lado escuro do coração – Ato II
Black – o Lado escuro do coração – Ato III

Livros físicos

A verdade oculta – Editora Pandorga


Segredos e Mentiras – Editora Volúpia
Quando você chegou – Editora Volúpia
Uma noiva de natal – Independente
Um noivado nada discreto – Independente
Um bebê Inesperado - Independente
No silêncio do Mar – Harper Collins – Harlequin
As Infinitas Possibilidades do nunca – Independente
A irresistível face da mentira – DVS Editora
O Leão de Wall Street – Independente

Audiobooks

Uma noiva de natal - Audible


Um noivado nada discreto - Audible
O que escolhemos esquecer - Audible
Box Vendetta - Audible
As infinitas possibilidades do nunca - Audible

Contatos
E-mail julianadantas.autora@gmail.com
Fanpage fb.com/@JulianaDantasAutora
Instagram @julianadantas_autora
WebSite: www.julianadantasromances.com
Caixa Postal: 79716 CEP 05022-970 São Paulo SP

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