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DIREITO CIVIL

Contratos em Espécie – Parte III

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Contratos em Espécie – Parte III
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Contratos em Espécie – Parte III.................................................................................................. 5
1. Mandato......................................................................................................................................... 5
1.1. Legislação. . .................................................................................................................................. 5
1.2. Definição e Espécies (Judicial e Extrajudicial). . .................................................................. 5
1.3. Natureza Personalíssima........................................................................................................ 5
1.4. Forma do Mandato................................................................................................................... 5
1.5. Objeto do Mandato................................................................................................................... 7
1.6. Classificação.............................................................................................................................. 7
1.7. Presunção de Gratuidade.. ....................................................................................................... 8
1.8. Representação vs Mandato.................................................................................................... 9
1.9. Mandato e Representação vs Nunciatura........................................................................... 9
1.10. Incapaz como Mandante.. .................................................................................................... 10
1.11. Incapaz como Mandatário.. .................................................................................................. 10
1.12. Proibições Legais de Ser Mandatário. . .............................................................................. 10
1.13. Substabelecimento................................................................................................................ 11
1.14. Procuração em Causa Própria............................................................................................ 14
1.15. Obrigações do Mandatário...................................................................................................16
1.16. Obrigações do Mandante.. .................................................................................................... 17
1.17. Conflito de Interesse. . ........................................................................................................... 18
1.18. Excesso de Poderes: o Mandante e o Terceiro.................................................................19
1.19. Extinção do Mandato............................................................................................................ 20
1.20. Questões Importantes. . ....................................................................................................... 22
1.21. Mandato Aparente................................................................................................................ 24
1.22. Questões Especiais.. ............................................................................................................. 25
Questões de Concurso.................................................................................................................. 29
Gabarito............................................................................................................................................ 38

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Contratos em Espécie – Parte III
Carlos Elias

Apresentação
Olá, querido(a) amigo(a)!
Vamos continuar tratando de contratos em espécie.
A diretriz é a mesma: estamos focando em concursos públicos e, por isso, só aprofundare-
mos em temas que realmente costumam ser cobrados em concurso.
Vamos em frente!

Resumo

Amigo(a), se tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É
fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Mandato1 é contrato por meio do qual o mandatário recebe poderes para praticar atos e
administrar interesses em nome e por conta do mandante. Por isso, o mandante é que
fica obrigado pelo ato do mandatário;
• Os mandatos podem ser extrajudicial (ou ad negotia) ou judicial (ad judicia);
• O mandato é contrato não solene, por poder ser realizado, de regra, sob qualquer forma.
O CC admite expressamente mandato verbal e tácito (art. 656, CC);
• Procuração é diferente de mandato. Aquela é o instrumento do mandato (art. 653, CC);
• O mandato é o negócio jurídico (o contrato), ao passo que a procuração é o seu instru-
mento. Por instrumento, entende-se um documento escrito, de modo que, se o mandato
for verbal, não há procuração;
• Em regra, a forma do mandato é livre (art. 656, CC). Sucede que, pelo princípio da atra-
ção das formas (art. 657, CC), o mandato deve revestir-se da mesma forma exigida, por
lei (art. 107, CC) ou por vontade (art. 109, CC), ao ato final a ser praticado;
• Menor de dezoito anos e maior de dezesseis anos não emancipado pode ser mandatá-
rio, mas só responderá nos termos previstos para as obrigações contraídas por menores
(art. 666, CC). Cabe, porém, ação in rem verso para reaver do menor relativamente inca-
paz o valor correspondente ao seu enriquecimento sem causa, decorrente do exercício
indevido do mandato;
• Se o mandante autoriza expressamente o substabelecimento, o advogado só responde
pelo dano causado pelo substabelecido se tivesse incorrido em culpa in eligendo ou
em culpa na instrução deste (art. 667, § 2º, CC) (STJ, REsp 1742246/ES, 3ª Turma, DJe
22/03/2019);
1
“A denominação deriva de manu datum, porque as partes se davam as mãos, simbolizando a aceitação do encargo e a pro-
messa de fidelidade no cumprimento da incumbência. O vocábulo mandato designa ora o poder conferido ao mandante,
ora o contrato celebrado, ora o título deste contrato, de que é sinônima a procuração” (Gonçalves).

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• Enunciado n. 182/JDC: “O mandato outorgado por instrumento público previsto no art.


655 do Código Civil somente admite substabelecimento por instrumento particular quan-
do a forma pública for facultativa e não integrar a substância do ato”);
• O art. 685 do CC dispõe acerca do mandato em causa própria, também designado de
mandato in rem suam. Ele é outorgado no interesse exclusivo do mandatário e autoriza
este a representar, no próprio interesse, o mandante. Como o mandatário não agirá no
interesse do mandante, o mandato em causa própria, além de ser irrevogável, não se
extingue com a morte e não gera dever de prestar constas;
• A revogação do mandato ou a sua renúncia possuem natureza de declaração receptícia,
pois a declaração de vontade precisa chegar à ciência da outra parte para gozar de efi-
cácia (arts. 686 e 688, CC). Para ter eficácia contra terceiros de boa-fé, a revogação deve
ser comunicada também a estes, sob pena de atrair a teoria da aparência em prol dos
terceiros de boa-fé (art. 686, CC);
• Mesmo havendo cláusula de irrevogabilidade, o mandante pode revogar o mandato,
caso em pagará perdas e danos (art. 683, CC). Isso decorre do fato de que o vínculo de
confiança é da essência do mandato, de sorte que o seu abalo tem de autorizar a revoga-
ção do mandato, ainda que haja cláusula de irrevogabilidade. A violação, porém, dessa
cláusula de irrevogabilidade acarretará dever de indenizar pelo fato de o art. 683 do CC
expressamente autorizar;
• Há, todavia, três casos em que a revogação é ineficaz, a saber, as dos arts. 684 (man-
dato como condição de negócio bilateral ou no exclusivo interesse do mandante), 685
(mandato em causa própria) e 686, parágrafo único (mandato para conclusão de negó-
cios iniciados, aos quais se ache vinculado) do CC;
• No caso de morte do mandante, o direito a exigir contas que ele tinha transmite-se aos
seus herdeiros, os quais possuem legitimidade ad causam para exigir do mandatário o
cumprimento desse dever. Claro: os herdeiros do mandante têm o direito de saber se o
mandatário desempenhou adequadamente o seu dever para, no caso de mal exercício
do mandato, cobrar indenização (STJ, AgInt no AREsp 865.725/RS, 3ª Turma, Rel. Minis-
tro Marco Aurélio Bellizze, DJe 06/08/2019).

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CONTRATOS EM ESPÉCIE – PARTE III


1. Mandato
1.1. Legislação
O mandato é disciplinado nos arts. 653 e seguintes do CC.
Quando, porém, se tratar de mandatos judiciais, a disciplina principal é a da lei processual
(como os arts. 103 e seguintes do CPC e o Estatuto da OAB – Lei n. 8.906/1994), de modo que
o CC será aplicável apenas supletivamente (art. 692 do CC).

1.2. Definição e Espécies (Judicial e Extrajudicial)


Mandato2 é contrato por meio do qual o mandatário recebe poderes para praticar atos e
administrar interesses em nome e por conta do mandante. Por isso, o mandante é que fica
obrigado pelo ato do mandatário. Em poucas palavras, pelo mandato, uma pessoa (mandante)
pode praticar um ato jurídico por meio de outra (mandatário).
A característica principal do mandato é a de que ele implica representação, o que não su-
cede na locação de serviços nem na comissão mercantil tampouco na preposição (como a de
funcionários).
Os mandatos podem ser extrajudicial (ou ad negotia) ou judicial (ad judicia).
O mandato extrajudicial se destina aos demais casos, para prática de negócios. Instrumen-
taliza-se pela procuração ad negotia.
Já o mandato judicial é o celebrado para outorgar poderes ao advogado para postulação
judicial, pois, em regra, só o advogado tem capacidade postulatória (ou seja, capacidade para
praticar atos em juízo). Rege-se pela lei processual e, supletivamente, pelo CC (art. 691, CC).
Instrumentaliza-se pela procuração ad judicia.

1.3. Natureza Personalíssima


O mandato é contrato personalíssimo ou intuitu personae, porque decorrente da confiança
depositada no mandatário.

1.4. Forma do Mandato


1.4.1. Contrato Não Solene

O mandato é contrato não solene, por poder ser realizado, de regra, sob qualquer forma. O
CC admite expressamente mandato verbal e tácito (art. 656, CC). Ex. de mandato verbal: deixo
2
“A denominação deriva de manu datum, porque as partes se davam as mãos, simbolizando a aceitação do encargo e a pro-
messa de fidelidade no cumprimento da incumbência. O vocábulo mandato designa ora o poder conferido ao mandante,
ora o contrato celebrado, ora o título deste contrato, de que é sinônima a procuração” (Gonçalves, 2010, p. 410).

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cheque assinado em branco para meu colega pagar a conta do almoço; dou meu cartão e a
senha pessoal a colega para que este saque valores a mim.

1.4.2. Procuração

Procuração é diferente de mandato. Aquela é o instrumento do mandato (art. 653, CC). O


mandato é o negócio jurídico (o contrato), ao passo que a procuração é o seu instrumento. Por
instrumento, entende-se um documento escrito, de modo que, se o mandato for verbal, não há
procuração.

1.4.3. Aceitação Tácita do Mandatário

Por ser contrato – negócio jurídico bilateral (resulta de duas ou mais vontades) –, o man-
dato depende do consentimento de ambas as partes para se aperfeiçoar.
Todavia, a aceitação não precisa ser expressa; pode ser tácita, quando resulta do começo
da execução (art. 659, CC).
Apesar de haver quem que admita presumir a aceitação do mandato na hipótese de um
profissional receber uma procuração e manter silêncio, tudo com fundamento do no art. 111
do CC (Gonçalves), entendemos diferente em razão da especialidade do art. 659 do CC, que
exige a aceitação tácita do mandato envolva o começo da execução. Assim, o mero fato de um
cliente entregar uma procuração a um advogado não significa que ele já aceitou o mandato. É
necessário que o advogado use a procuração.

1.4.4. Princípio da Atração das Formas ou do Paralelismo das Formas

Em regra, a forma do mandato é livre (art. 656, CC). Sucede que, pelo princípio da atração
das formas (art. 657, CC), o mandato deve revestir-se da mesma forma exigida, por lei (art.
107, CC) ou por vontade (art. 109, CC), ao ato final a ser praticado. Ex.: procuração em escritura
pública para alienação de imóvel de valor superior a 30 salários-mínimos (art. 108, CC); procu-
ração deve ser escrita para doação ou fiança, que estas exigem forma escrita em regra (arts.
541 e 819 do, CC).
Se o ato final pode ser celebrado por qualquer forma, o mandato também o poderá, de ma-
neira que a forma da procuração não precisará coincidir com a forma escolhida voluntariamen-
te para o ato final. Assim, uma procuração por instrumento particular pode ser utilizada para
celebrar um contrato por escritura pública, se a forma pública do ato final não era obrigatória
por lei ou por vontade das partes na forma do art. 109 do CC, mas decorreu de mera conveni-
ência das partes.

1.4.5. Procuração Apud Acta

É a procuração outorgada verbalmente perante o juiz e lavrada em termo pelo escrivão,


geralmente em audiência. Serve para nomear um advogado como procurador no meio de uma
audiência.

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1.4.6. Mandato por Cegos e Analfabetos

Cegos e analfabetos, por não terem como assinar nem entenderem o teor do mandato (pre-
cisam de assinatura a rogo), só podem outorgar procuração escrita por instrumento público.
Quando se tratar de mandato verbal, não há óbices a que o mandante seja cego ou anal-
fabeto. Nesse caso, porém, não há uma procuração, que é o instrumento escrito do mandato.

1.4.7. Reconhecimento de Firma em Procuração

Como o mandato é não solene, não há, em regra, necessidade de reconhecimento de fir-
ma. Todavia, no mandato ad negotia (extrajudicial), o terceiro pode exigir o reconhecimento de
firma (art. 654, § 2º, CC). Essa exceção não vale para o mandato ad judicia se esta for apre-
sentada pelo advogado em juízo, pois, no sistema processual, o advogado tem fé pública para
declarar a autenticidade de documentos (interpretação extensiva do art. 425, IV, CPC).
Por fim, a procuração apresentada perante Cartório de Registro de Títulos e Documentos
precisa ter firma reconhecida e, nesse caso, entendemos que isso não vale para procuração ad
judicia se houver declaração do advogado quanto à autenticidade do documento (art. 158, Lei
n. 6.015/1973).

1.5. Objeto do Mandato


O mandato não se restringe a atos patrimoniais, mas a todos os atos da vida civil em geral.
Ex.: mandato para reconhecimento de filho e para casamento.
Ademais, é possível acionista constituir mandatário para votação em assembleia geral de
sociedade anônima, atendidas certas condições legais (art. 126, § 1º, da Lei n. 6.404/1976).
Ademais, atos personalíssimos não podem ser objetos de mandato. Ex.: testamento, pres-
tação de serviço público, mandato eletivo, voto em eleições de políticos e exercício de po-
der familiar.

1.6. Classificação
1.6.1. Quanto à Extensão dos Poderes (Mandato em Termos Gerais e Manda-
to com Poderes Gerais) e os Poderes Implícitos

Quanto à extensão dos poderes, o mandato pode ser em termos gerais ou com poderes
especiais.
Mandato em termos gerais (ou com poderes gerais) é aquele que só confere poderes de
administração (art. 661, CC).
Mandato com poderes especiais é aquele que expressamente prevê a prática de atos que
excedem a administração ordinária, como alienar, hipotecar e transigir (art. 661, § 1º, CC).
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Outros casos em que se exigem poderes especiais: prestar fiança, casar (art. 1.542 do CC),
representar testamenteiro (art. 1.985, CC), prestar aceite em cambial.
A interpretação dos poderes outorgados no mandato deve ser restritiva, segundo doutrina,
embora se admitam poderes implícitos.
Poderes implícitos são aqueles que, por imperativo lógico, guardam conexão com o poder
explícito. Por exemplo, o poder de vender o imóvel implica implicitamente o poder de assinar a
escritura de venda desse bem; o poder de receber o pagamento pressupõe tacitamente o poder
de dar quitação.

1.6.2. Quanto aos Atos a Serem Praticados (Mandato Geral e Mandato


Especial)

Quanto aos atos a serem praticados, o mandato pode ser geral ou especial.
O mandato geral é outorgado para qualquer negócio do mandante (art. 660, CC). Ex.: man-
dato para prática de qualquer ato de interesse do mandante.
O mandato especial é outorgado para negócios especificados do mandante (art. 660, CC).
Ex.: mandato para a venda de determinado imóvel.
Essa classificação não se confunde com a já tratada classificação quanto à extensão dos
poderes; elas coexistem. Assim, por exemplo, se dou procuração para uma imobiliária cuidar
do meu imóvel para resolver problemas em geral, estou celebrando um mandato especial (por-
que se volta apenas a um negócio especificado: administrador o imóvel; e não para cuidar de
todos os meus bens e interesses) e em termos gerais (a imobiliária pode praticar qualquer ato
de administração ordinária do imóvel). Se, nesse mesmo exemplo, eu só estou dando poderes
para a imobiliária vender o imóvel, o mandato aí é especial e com poderes especiais.

1.6.3. Quanto à Pluralidade de Mandatários

Quanto à pluralidade de mandatários, o mandato pode ser singular ou plural.


Mandato singular é aquele em que só há 1 mandatário.
Mandato plural é o que envolve 2 ou mais mandatários. Pode ser subdividido em:
• Solidário: qualquer mandatário pode atuar sozinho. presume-se que o mandato plural é
solidário, salvo estipulação diversa (art. 672, CC). É a cláusula in solidum, que se presu-
me presente no mandato, se não existente cláusula em sentido diverso;
• Conjunto: todos devem agir conjuntamente ou com ratificação posterior do outro (caso
em que a ratificação retroagirá à data do ato, conforme art. 672, CC);
• Fracionário: os limites da atuação de cada mandatário são traçados no mandato, de
modo que cada um atua dentro de sua esfera de competência.

1.7. Presunção de Gratuidade


Presume-se que o mandato é gratuito, salvo pacto contrário ou o mandatário exerce ativi-
dade por profissão. Se não houver retribuição estipulada e a natureza do mandato for onerosa
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(a saber, quando o mandatário age profissionalmente), a remuneração será fixada por arbitra-
mento pelo juiz com base na natureza, complexidade e duração do serviço (art. 658, CC).

1.8. Representação vs Mandato


Representação se distingue de mandato.
Representação está tratada nos arts. 115 e seguintes do CC e é instituto jurídico em razão
do qual alguém age em nome de outrem. Pode ser legal (por decorrer da lei, a exemplo dos
pais, do tutor e do curador), judicial (por decorrer de designação judicial, como o inventariante
e o síndico da massa falida) e convencional (por decorrer de mandato, que é um contrato).
É possível haver mandato sem representação, como na hipótese em que o mandatário pra-
ticar um ato em nome próprio, ainda que no interesse do mandante: nesse caso, o mandante
não ficará vinculado (art. 663, CC).
É possível também haver representação sem mandato, como nos casos das representa-
ções legais e judiciais (o representante não recebeu poderes de procuração, e sim da lei ou
de decisão judicial). Há também representação convencional sem mandato, como no caso da
comissão mercantil, em que o comissário vende bens em nome próprio nome, mas à conta do
comitente (art. 693, CC).

1.9. Mandato e Representação vs Nunciatura


Mandato e representação diferem da nunciatura. O núncio (também designado de mensa-
geiro) é apenas um instrumento fático para o transporte da declaração de vontade de alguém,
quer como mero porta-voz, quer como entregador de um documento no qual esteja a referida
declaração de vontade. O núncio, portanto, não age em nome alheio nem por conta alheia; não
se sujeita a qualquer risco nem possui margem de discricionariedade. Não é, pois, representan-
te. O núncio não integra o negócio jurídico, de sorte que, em determinados casos (como em um
de mera entrega de carta fechada), ele poderá ser até absolutamente incapaz.
É fato, porém, que o núncio, quando reproduz verbalmente a vontade da parte, pode dis-
torcer o conteúdo da mensagem, caso em que se responsabilizará por perdas e danos inde-
pendentemente da ocorrência de culpa, assegurado à parte o direito de pleitear a anulação do
negócio jurídico por erro (art. 141, CC). Se, porém, o núncio for incapaz, entendemos não ser
devida a sua responsabilização civil nessa hipótese, pois o declarante é que assume o risco ao
escolher o incapaz como núncio.
Na representação e no mandato, todavia, o representante atua, com razoável margem de
mobilidade, dentro dos limites do contrato de mandato, em nome e por conta e risco do repre-
sentado. Quanto mais restrito for o âmbito de discricionariedade do representante, ter-se-á
situação mais próxima da nunciatura.

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O CC não disciplina expressamente a nunciatura por ser desnecessário: trata-se de contra-


to atípico.

1.10. Incapaz como Mandante


Há controvérsia doutrinária se o mandante pode ser incapaz. Entendemos que é viável,
desde que, no contrato de mandato, o incapaz seja devidamente representado ou assistido.
A lei não proíbe esse negócio, e não há motivos para dificultar a prática de atos jurídicos pelo
incapaz com base em intepretações demasiadamente restritivas.
Assim, por exemplo, se uma criança de 10 anos de idade que vive em Brasília está com
uma dívida de IPTU em relação ao seu imóvel situado em São Paulo, nada impede que ela,
representada por seus pais, outorgue procuração em favor de um paulista que se incumba de
se incumba de ir perante o fisco paulista para pagar ou parcelar a dívida. Nesse caso, sequer
haveria necessidade de autorização judicial, pois o ato não extrapola os limites da mera ad-
ministração dos bens do infante (art. 1.691, CC). Se, porém, o objetivo é a vender o imóvel de
São Paulo, o menor poderá, representado ou assistido por seus pais, outorgar procuração a
um corretor de imóveis paulista, mas também fornecer-lhe um autorização judicial (alvará) que
autorize a venda do bem, pois aí não se tem ato de simples administração (art. 1.691, CC). Não
há necessidade de esse alvará autorizar o mandato; basta que ele autorize a venda do imóvel.
Igualmente, se o menor precisa de um advogado para impugnar um tributo cobrado indevida-
mente, nada impede que ele, representado ou assistido pelos seus pais, outorguem procuração
ao advogado sem autorização judicial por se cuidar de ato de mera administração.

1.11. Incapaz como Mandatário


Menor de dezoitos anos e maior de dezesseis anos não emancipado pode ser mandatário,
mas só responderá nos termos previstos para as obrigações contraídas por menores (art. 666,
CC). Cabe, porém, ação in rem verso para reaver do menor relativamente incapaz o valor cor-
respondente ao seu enriquecimento sem causa, decorrente do exercício indevido do mandato.
Pródigo pode ser mandatário, pois a restrição que lhe afeta diz respeito apenas à disposi-
ção de seu próprio patrimônio (art. 1.782, CC).
Quanto aos demais incapazes, se a interdição não for restrita à disposição do seu pró-
prio patrimônio – como no caso da curatela de pessoas com deficiência (art. 85, Estatuto da
Pessoa com Deficiência – EPD), entendemos que não podem ser mandatários, nem mesmo
sob representação ou assistido, pois esse ato não lhes deferem proveito algum. Nada, porém,
impede que o representante legal ou judicial deles sejam, em nome próprio, mandatários de
terceiros, caso em que o incapaz não terá nenhum vínculo contratual com esse mandato.

1.12. Proibições Legais de Ser Mandatário


Estrangeiro não pode ser mandatário de acionista brasileiro em reuniões de assembleias
gerais de companhias de seguros privados (art. 199, DL 2.063/40).

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Servidor público não pode ser procurador perante repartição pública, salvo de parente até
2º grau em obtenção de benefícios previdenciários ou assistenciais (art. 117, XI, da Lei n.
8.112/90).

1.13. Substabelecimento
1.13.1. Definição, Cabimento e Responsabilidade Civil do Substabelecente

Substabelecimento é a transferência, pelo mandatário, para outrem, dos poderes de re-


presentação recebidos com o mandato. O substabelecimento é um subcontrato ou contrato
derivado (uma terceirização do objeto de um contrato principal), cujas partes são o substa-
belecente (que é o mandatário no contrato principal) e o substabelecido (também chamado
de substituto). O mandante é um terceiro em relação ao contrato de substabelecimento, mas,
apesar disso, pode ser atingido conforme exporemos abaixo.
Apesar de o mandato ser um contrato intuitu personae, a regra é a admissibilidade do subs-
tabelecimento, salvo disposição contratual em sentido contrário, tendo em vista a necessidade
de permitir ao mandatário maior margem de manobra no cumprimento de sua tarefa e consi-
derando o fato de que o mandante pode revogar a qualquer momento o mandato. Por isso, é
desnecessário que o mandato autorize expressamente o substabelecimento, conforme se ex-
trai do art. 667 (STJ, REsp 456129/RS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJ 16/12/2002).
Se inexistia autorização expressa para substabelecer, o mandatário responde perante o
mandante por todos os danos causados culposamente pelo substabelecido, assegurado o
direito de regresso contra este (art. 667, caput, CC).
Se, porém, o mandante expressamente autorizou o substabelecimento, o mandatário só
responderá pelos atos do substabelecido se incorreu em culpa na escolha deste (culpa in eli-
gendo) ou em culpa ao instruir o substabelecido acerca dos atos que deveriam ser praticados
(culpa no repasse das instruções recebidas do mandante), tudo conforme art. 667, § 2º, CC. É
que, nesse caso, o próprio mandante deu poderes para o mandatário substabelecer e, portan-
to, não pode exigir que o mandatário assuma o risco por negligências do substabelecido se a
escolha e a instrução deste foram feitas com diligência.
Nesse ponto, indaga-se: se o mandante proibir o substabelecimento, quais as consequên-
cias jurídicas?
Temos duas hipóteses, todas baseadas na proteção da boa-fé de terceiros.
Se o mandante não fez constar a proibição na procuração, terceiros não têm como saber
dela e, por isso, precisam ser protegidos. Em consequência, o mandante se vinculará pelos
atos praticados pelo substabelecido perante esses terceiros.
Se, porém, o mandante fez constar a proibição da procuração, os atos praticados pelo
substabelecido não o vinculam. É, porém, assegurado ao mandante ratificar expressamente
os atos praticados pelo substabelecido, caso em que essa ratificação retroagirá à data do ato
(art. 667, § 3º, CC).

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Em qualquer desses dois casos, porém, o mandatário violou o contrato de mandato ao


substabelecer e, por isso, responderá por todos os danos eventualmente causados pelo subs-
tabelecido, ainda que por caso fortuito. Só há uma exceção que afastaria a responsabilidade
do mandatário por ato do substabelecido em nome da proibição do enriquecimento sem cau-
sa: a prova da inevitabilidade absoluta do dano. Em outras palavras, se o mandatário provar
que esse dano sobreviveria ainda que não tivesse ocorrido o substabelecimento (inevitabilida-
de absoluta do dano), não terá de indenizar o mandante (art. 667, § 1º, CC).

1.13.2. Espécies de Substabelecimento: com ou sem Reserva de Poderes

O substabelecimento pode ser com ou sem reserva de poderes.


No substabelecimento com reserva, há cumulação de poderes de representação: o substa-
belecente continua com poderes. A transferência de poderes é provisória, de sorte que o subs-
tabelecente pode, a qualquer tempo, reassumir a exclusividade na representação, revogando
imotivadamente (rectius, resilindo unilateralmente) o substabelecimento. Ex.: um advogado
viajará, ele pode substabelecer, com reservas, seus poderes para um outro colega advogado a
fim de que este pratique atos no processo durante o período de viagem.
Já o substabelecimento sem reserva é uma verdadeira renúncia do mandato pelo man-
datário, com a transferência dos poderes a um terceiro, o substabelecido. Por isso, o substa-
belecente fica totalmente desvinculado do contrato de mandato e, portanto, não pode sequer
revogar imotivadamente (rectius, resilir) o substabelecimento. É comum haver esse substabe-
lecimento sem reservas quando a relação de confiança entre o mandante e o mandatário se
rompeu e, por isso, o mandante indica uma outra pessoa para assumir o lugar desse mandatá-
rio. Ex.: se um cliente briga com advogado originário e contrata um outro advogado, é possível
que o advogado originário substabeleça, sem reservas, os poderes ao novo advogado, perden-
do, assim, definitivamente todos os poderes que recebera pelo contrato de mandato.
O substabelecimento é mais comum para mandato ad judicia (outorgado a advogados). É
rara a sua utilização em mandatos ad negotia.

1.13.3. Caso Prático: Apropriação Indébita por Advogado Substabelecido

Cliente deu procuração a advogado autorizando expressamente o substabelecimento. O


advogado, então, substabelece, com reserva de iguais poderes (sem abrir mão dos próprios
poderes), os poderes recebidos em favor de outro advogado com boa reputação técnica e
profissional, instruindo-o adequadamente acerca do que deve ser feito no interesse do clien-
te. Esse advogado, então, usa o substabelecimento para fazer acordo no processo judicial e,
ardilosamente, não repassa o dinheiro recebido para o cliente, causando dano a este por meio
dessa apropriação indébita.
Indaga-se: o cliente pode cobrar indenização do advogado contratado? Segundo um prece-
dente do STJ, a resposta é não, porque, como havia autorização expressa para substabelecer, o

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advogado só responderia pelo dano causado pelo substabelecido se tivesse incorrido em cul-
pa in eligendo ou em culpa na instrução deste (art. 667, § 2º, CC), o que não ocorreu. O cliente
só poderá cobrar indenização do substabelecido. Não importa se o substabelecimento foi com
reserva de poderes (STJ, REsp 1742246/ES, 3ª Turma, DJe 22/03/2019).
Apesar do talento que sempre acompanham os julgados do STJ – com inclusão do supra-
citado precedente –, ousamos externar posição diferente por dois motivos.
O primeiro é que o fundamento da responsabilidade civil do advogado não é o contrato de
mandato (instrumentalizado pela procuração), e sim o contrato de prestação de serviço advo-
catício, o que afasta a incidência do art. 667, § 2º, do CC, que só trata de contrato de mandato.
De fato, como o cliente tinha um contrato de prestação de serviço advocatício, o mandato
é um mero contrato coligado àquele3. Por isso, se o advogado contratado decide prestar o
serviço mediante substabelecimentos, isso é irrelevante para o cliente. O que importa é que
o advogado contratado assegure a adequada prestação do serviço, o que inclui o repasse do
dinheiro devido ao cliente por conta de um acordo em processo judicial. Não repassado esse
dinheiro, isso configura inadimplemento do contrato de prestação de serviço, o que atrai a res-
ponsabilidade civil do advogado contratado, que só poderia se isentar da responsabilidade se
provasse algum caso fortuito ou força maior.
O segundo motivo de nossa posição é a boa-fé objetiva, que tutela a confiança nas rela-
ções contratuais (arts. 113 e 422 do CC). O particular que contrata um advogado tem a legítima
expectativa de que este prestará o serviço adequadamente, delegando ou não essa execução
a terceiros de sua confiança por meio de substabelecimentos com reserva de poderes. Ao
assinar a procuração (que costumeiramente é redigida pelo próprio advogado contratado), o
cliente não imaginará que o poder de “substabelecer”, que se perde entre os inúmeros outros
poderes específicos enfileirados no texto, é uma verdadeira “casca de banana”, pois iria atro-
fiar a responsabilidade civil do contrato de prestação de serviço. Afastar a responsabilidade
do advogado contratado por ato do substabelecido levando em conta apenas a autorização
de substabelecimento na procuração e desconsiderando que a sua obrigação se fundamenta
principalmente no contrato de prestação de serviço poderia gerar um ambiente de inseguran-
ça na relação entre cliente e advogado, de maneira que, no futuro, chegaríamos à indigesta
situação de os clientes, antes de contratarem um advogado, terem de submeter a minuta de
contrato a outro advogado para identificação de possíveis “cascas de bananas”.
Por fim, a questão seria diferente se inexistisse contrato de prestação de serviço (ainda
que verbal) com o substabelecente. No exemplo acima, suponha que o advogado contratado
pelo cliente tivesse substabelecido, com reservas, os poderes a João, que, por sua vez, substabeleceu,
3
Quanto à autonomia, os contratos podem ser classificados como autônomos ou conexos. Entre os contratos conexos,
estão os contratos acessórios, os subcontratos, os contratos normativos, os contratos relacionais e, no que nos importa
aqui, os contratos coligados. Contratos coligados são aqueles que guardam uma relação de dependência causal e funcio-
nal com outro, de maneira que um deles só foi celebrado por conta da existência do outro. Na espécie, o contrato de man-
dato só é celebrado por conta da existência do contrato de prestação de serviço advocatício.

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também com reservas, os poderes a Manoel. Manoel, então, comete o ato de apropriação indé-
bita, causando dano ao cliente. Nesse caso, temos que o art. 667 do CC seria aplicável apenas
em favor de João, que não mantinha contrato de prestação de serviço com o cliente. Assim,
João só poderia ser responsabilizado se tivesse incorrido em culpa in eligendo ou em culpa na
instrução de Manoel. Por outro lado, o advogado contratado responderia perante o cliente com
fundamento no contrato de prestação de serviço.
Portanto, entendemos que o art. 667 do CC, que trata da responsabilidade civil do substa-
belecente por ato do substabelecido, não se aplica quando o substabelecente mantiver, com
a vítima, contrato de prestação de serviço em coligação com o contrato de mandato, pois o
fundamento da responsabilidade civil será aquele primeiro contrato.
A matéria é nova no STJ: só foi analisada pela sua 3ª Turma em apenas um julgado. A 4ª
Turma ou 2ª Seção ainda haverão de julgar um caso similar e poderão adotar outro caminho.
A própria 3ª Turma poderá mudar seu entendimento com outros casos.

1.13.4. Forma do Substabelecimento

O substabelecimento pode ser instrumento particular, ainda que a procuração tenha sido
pública (art. 655, CC). Todavia, segundo doutrina majoritária, segue aplicável o princípio do
paralelismo das formas do art. 657 do CC, de sorte que, se o ato a ser praticado exigir forma
pública, o substabelecimento deverá também ser por escritura pública. É o que dispõe o enun-
ciado n. 182 das Jornadas de Direito Civil (“O mandato outorgado por instrumento público pre-
visto no art. 655 do Código Civil somente admite substabelecimento por instrumento particular
quando a forma pública for facultativa e não integrar a substância do ato”).

1.14. Procuração em Causa Própria


1.14.1. Regime Jurídico

O art. 685 do CC dispõe acerca do mandato em causa própria, também designado de man-
dato in rem suam. Ele é outorgado no interesse exclusivo do mandatário e autoriza este a
representar, no próprio interesse, o mandante. Como o mandatário não agirá no interesse do
mandante, o mandato em causa própria, além de ser irrevogável, não se extingue com a morte
e não gera dever de prestar constas.

1.14.2. Utilização Prática

1.14.2.1. Formas Indiretas de “Vender Bens” e o Problema do ITBI e do Regis-


tro no Cartório

É comum de ser utilizado como forma de “alienar o bem”: o “vendedor”, no lugar de celebrar
um contrato de compra e venda, outorga poderes ao “comprador” por meio de procuração em
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causa própria e recebe o preço do imóvel. Essa procuração não transfere o direito real de pro-
priedade, mas dá poderes ao “comprador” para alienar a coisa para si mesmo ou para terceiros.
Desse modo, se o “comprador” quiser transferir o direito real para si, basta ele, usando a
procuração, celebrar um contrato consigo mesmo (ou autocontrato4), ou seja, celebrar um con-
trato de compra e venda em que o “comprador” assinará o campo da assinatura dos dois polos
contratuais: assinará no polo do “vendedor” na condição de mandatário do titular do titular do
direito real de propriedade (assinará “por procuração”) e, também, assinará no polo do “compra-
dor” em nome próprio. Soa estranha a aparência da escritura: uma mesma pessoa assinando
os dois polos da escritura de compra e venda, como se ela estivesse vendendo o imóvel para si
mesmo. Juridicamente, porém, não se trata de uma venda para si mesmo, pois, no campo do
“vendedor”, a pessoa está assinando em nome do mandante, e não em nome próprio.
O mandato em causa própria é usada também como forma de burlar o pagamento de ITBI,
imposto cujo fato gerador é, à luz do STJ, transferência da propriedade imobiliária, que somen-
te se opera mediante registro do negócio jurídico no ofício competente” (STJ, AgRg no AREsp
n. 215.273/SP, 2ª Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 15/10/2012). Se eu quero com-
prar um imóvel a preço baixo com a intenção de revendê-lo a terceiros a um preço maior para
ter um lucro, esse arranjo negocial exigiria duas transmissão onerosas de imóvel: uma do atual
proprietário para mim por meio do registro da escritura de compra e venda que celebraríamos;
outra de mim para o terceiro adquirente. Haveria, pois, a cobrança de dois ITBIs. Para contornar
um dos ITBIs, eu poderia obter uma procuração em causa própria do atual proprietário, pagan-
do-lhe o preço do imóvel. Nesse caso, não há uma efetiva compra e venda e, portanto, não há
transferência do direito real de propriedade, de maneira que não haverá o fato gerador do ITBI.
Em seguida, eu posso, representando o atual proprietário, assinar uma escritura pública de ven-
da do imóvel para o terceiro, que, em contrapartida, pagará para mim o preço maior que eu co-
brei. Com o registro dessa escritura, o direito real de proprietário será transferido diretamente
para esse terceiro, sem passar por mim, o que será o fato gerador do ITBI. Nessa sistemática,
só haverá a cobrança de um ITBI.
Há controvérsias se essa operação configura ou não fraude fiscal e também se a procura-
ção em causa própria poderia ser registrada no Cartório de Imóveis. Entendemos que não há
fraude fiscal, pois o mandatário “em causa própria”, além de ter-se valido de um negócio jurí-
dico expressamente previsto em lei (no art. 685 do CC), jamais se tornou titular do direito real
de propriedade e, portanto, nunca desfrutou dos privilégios desse tipo de direito (como a opo-
nibilidade erga omnes), de modo que seria descabido cobrar ITBI para essa hipótese a pretexto
de simulação. Não há simulação nem fraude. Entendemos ainda que a procuração em causa
própria não pode ser objeto de registro na matrícula do imóvel em razão da taxatividade dos
4
A autocontratação é admitida apenas nos casos permitidos em lei (art. 117, CC), como é o caso do emprego da procura-
ção em causa própria (art. 685, CC). Não se admite a autocontratação quando for evidente o conflito de interesses entre o
dominus negotii e o representante. Essa é a ratio essendi da Súmula n. 60/STJ: “É nula a obrigação cambial assumida por
procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste”.

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atos de registro (art. 167, I, da LRP), mas poderia ser objeto de averbação por força da natureza
exemplificativa dos atos de averbação (art. 246, LRP), mas isso não terá o condão de transferir
o direito real de propriedade.

1.14.2.2. Forma de Prorrogar a Venda do Imóvel por Conta de uma Pendência

Quando, por exemplo, a lavratura da escritura pública de compra e venda de um imóvel não
pode ser efetuada em razão da ausência de reunião de todos os documentos necessários e
o proprietário se vê impossibilidade de aguardar essa regularização documental por motivo,
por exemplo, de uma iminente viagem, poderá o vendedor outorgar um mandato ao adquirente
para que este, após sanar as falhas documentais, conclua o negócio jurídico, lavrando o instru-
mento translativo correspondente (escritura pública ou instrumento particular, a depender da
hipótese) e, em seguida, registrando a operação no Registro de Imóveis.
Nesse caso, a lavratura do supracitado instrumento translativo configurará um contrato
consigo mesmo, assinado pelo adquirente, de um lado, em nome próprio, como comprador e,
de outro lado, como mandatário, como alienante. O adquirente, pois, figurará nos dois polos
contrapostos do negócio, motivo por que se fala em contrato consigo mesmo.

1.14.2.3. Forma de “Contratos de Gaveta” para Imóvel Financiado

A procuração em causa própria é bastante utilizada como “contrato de gaveta” em finan-


ciamentos no âmbito do SFH5, ou seja, como verdadeira cessão contratual sem anuência do
agente financeiro.

1.15. Obrigações do Mandatário


Além das obrigações inerentes ao mandato (ser diligente, agir dentro dos poderes e inde-
nizar danos culposamente causados) – tudo previstas no art. 667 do CC –, o mandatário tem
o dever de:
Prestar contas e transferir vantagens ao mandante (art. 668, CC).
Não compensar vantagens obtidas com prejuízos a que deu causa (art. 669, CC).
Apresentar o instrumento de mandato a terceiros.
Concluir negócio já iniciado, mesmo ciente da morte, interdição ou mudança de estado do
mandante (algumas das causas extintivas do mandato), se houver perigo na demora (art. 674,
CC). Semelhantemente, o procurador judicial fica obrigado durante dez dias após notificação
de renúncia a praticar atos que evitem prejuízo ao mandante (art. 45 do CPC).
5
Sistema Financeiro de Habitação.

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1.16. Obrigações do Mandante


1.16.1. Dever perante Terceiros

O mandante tem de cumprir as obrigações contraídas pelo mandatário perante terceiros


(art. 675, CC), mesmo se este desobedeceu às instruções daquele, contanto que não tenha
havido excesso de poderes. O mandante, todavia, poderá pleitear perdas e danos contra o man-
datário nesse caso (art. 679, CC).

1.16.2. Dever perante Mandatário: Remuneração e Indenização

Igualmente, o mandante tem de pagar as despesas suportadas pelo mandatário, seja de


forma adiantada (quando o mandatário requerer, caso em que este poderá se abster de prati-
car atos que exigem gastos financeiros enquanto o mandante não antecipar o dinheiro), seja
posteriormente à execução do mandato (caso em que incidirão juros desde a data do desem-
bolso), tudo conforme arts. 675 a 678 do CC.
O mandante também tem de indenizar prejuízos sofridos pelo mandatário (art. 678, CC).
Tem também de pagar remuneração do mandatário, quando o mandato for oneroso (arts.
658 e 676, CC).

1.16.3. Garantias para o Mandatário: Direito de Retenção e Solidariedade


Passiva

Para cobrar os seus créditos perante o mandante (remuneração e indenização pelas des-
pesas havidas na execução do mandato), o CC dá garantias ao mandatário: o direito de reten-
ção e a solidariedade passiva dos mandantes.
Em primeiro lugar, ele possui o direito de retenção da coisa obtida por conta do mandato
enquanto o mandante não pagar sua dívida (art. 681, CC). Embora o art. 681 do CC textualmen-
te só faça menção à indenização pelas despesas tidas pelo mandatário, a doutrina majoritária
confere-se interpretação extensiva para entender que o direito de retenção é para qualquer
dívida do mandante, inclusive a relativa à remuneração devida ao mandatário. Nesse sentido
é o enunciado n. 184/JDC (“Da interpretação conjunta desses dispositivos [arts. 664 e 681 do
CC], extrai-se que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi come-
tida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e
o reembolso de despesas”).
Em segundo lugar, se houver mais de um mandante, todos eles são solidariamente respon-
sáveis pela dívida, assegurado o direito de regresso entre eles (art. 680, CC).
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1.17. Conflito de Interesse


1.17.1. Noções Gerais

O mandatário age não apenas em nome, mas também no interesse do mandante. Há, po-
rém, situações em que o mandatário pode também ter um interesse pessoal no negócio, caso
em que estaríamos diante de um conflito de interesse entre o mandatário e o mandante.
O tema precisa ser tratado sob duas perspectivas: uma na relação entre mandante e man-
datário e outra na perante terceiros. A resposta passa pela boa-fé objetiva e pela autonomia
da vontade.
Sob a primeira perspectiva (mandante vs mandatário), temos que o conflito de interesse
não é impeditivo para a celebração do contrato de mandato, mas, em nome da boa-fé objetiva,
é dever do mandatário comunicar o mandante acerca dessa situação de conflito de interesse
para ciência. Eventual atuação do mandatário contrariamente aos interesses do mandante
poderá gerar responsabilização civil. O mandante, por conta da autonomia da vontade, pode
querer determinada pessoa como mandatário apesar do conflito de interesse: não há óbice
jurídico a tanto.
Sob a segunda perspectiva (mandante vs terceiro), o terceiro de boa-fé não pode ser preju-
dicado. Por isso, se o terceiro sabia, ainda que potencialmente, a existência de conflito de inte-
resse entre mandante e mandatário e, ainda assim, concretizou o negócio, esse negócio será
anulável no prazo decadencial de 180 dias, conforme art. 119 do CC. Apesar do silêncio desse
dispositivo, entendemos que a anulabilidade depende de prova do prejuízo para o mandante,
tudo em nome do princípio da conservação do negócio jurídico.

1.17.2. Uma mesma Pessoa como Mandatária das Partes de um Contrato: é


Possível?

Indaga-se: Pode uma mesma pessoa ser mandatário de todas as partes de um mesmo
contrato? Por exemplo, poderia uma mesma pessoa ser mandatário do vendedor e do com-
prador de um imóvel e, nessa condição, assinar a escritura pública de compra e venda em
nome dos dois?
O tema é controverso.
A Corregedoria-Geral de Justiça do TJ-RS proíbe situação de a mesma pessoa ser manda-
tária de pessoas com interesses diferentes, conforme o art. 591 do Provimento n. 32/06-CGJ,
in litteris: “Uma só pessoa pode assinar por diversas, mas há de ser idêntico o interesse delas;
se não o for, devem intervir tantas pessoas quantos sejam individualmente ou em grupos com
interesses opostos e ainda em relação às impossibilitadas de assinar, inclusive por não saber”.
Entendemos diferente, tudo com base no princípio da autonomia da vontade e da boa-fé
objetiva. Fora os casos em que há proibição legal ou proibição no contrato de mandato,

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não vemos impedimento a que a mesma pessoa seja mandatária de pessoas diferentes por
falta de vedação legal. Seja como for, em nome do princípio da boa-fé objetiva, caso o manda-
tário não comunique esse fato ao mandante e cause prejuízo a ele, deverá pagar a indenização
devida. Isso, porém, é um problema interno ao contrato de mandato.
Assim, se um brasiliense quer vender um apartamento em Copacabana (Rio de Janeiro)
para um paulista, nada impede que as partes deem procuração a um carioca (o corretor de
imóveis, por exemplo), que irá ao Tabelionato de Notas do Rio de Janeiro para assinar a escri-
tura em nome de ambas as partes.
Chamamos a atenção para o fato de que o art. 119 do CC, ao cominar a anulabilidade, e
não a nulidade, para negócios feitos em conflito de interesse, tutela interesse meramente par-
ticular, e não público, de maneira que soa exagerado, por mera interpretação extensiva, reputar
nulo o contrato de compra e venda em que as partes foram representadas pela mesma pessoa.
Afinal de contas, a nulidade dependeria da violação de uma norma de ordem pública (art. 166,
VI, CC). Tampouco é possível sustentar a anulabilidade para essa hipótese, pois a anulabilida-
de depende de previsão legal específica (art. 171, caput, CC).
No mesmo sentido do aqui defendido, o próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mo-
dificou o art. 12 do Provimento n. 35/2008-CN/CNJ para permitir que um único advogado seja
não apenas o assistente técnico das partes, mas também o representante delas na assinatura
da escritura de inventário e partilha consensuais, o que já era admitido para a escritura de di-
vórcio consensual no art. 36 do mesmo provimento. Aliás, até mesmo em processos judiciais
de divórcio ou inventário consensuais, é admissível que as partes sejam representadas pelo
mesmo advogado, de modo que seria um contrassenso não guardar simetria para o procedi-
mento em cartório. Somente em processos judiciais contenciosos que um mesmo advogado
não pode representar os interesses das partes em litígio por proibição legal (art. 15, § 6º, do
Estatuto da OAB – Lei n. 8.906/1994 – e arts. 17 e 18 do Código de Ética e Disciplina da OAB
– Resolução n. 02/2015 – CFOAB).
Desse modo, se os herdeiros ou os cônjuges estão vivendo no exterior, eles podem contra-
tar apenas um advogado no Brasil para lavrar a escritura de inventário ou divórcio consensuais:
não há necessidade de eles virem pessoalmente ao Brasil para assinar a escritura nem gastar
dinheiro com a contratação de outros profissionais que, no mais das vezes, teriam atuação
meramente formal.
Do ponto de vista hermenêutico, devem-se evitar interpretações extensivas que, sem res-
paldo legal direto, acabem burocratizando o quotidiano dos indivíduos ou impondo-lhes obri-
gações meramente formais.

1.18. Excesso de Poderes: o Mandante e o Terceiro


Ato além dos poderes outorgados não vincula o mandante, salvo se este ratificá-lo. A rati-
ficação, nesse caso, retroage à data do ato (art. 662, CC).

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A ratificação não precisa ser expressa; ela pode ser também tácita, desde que seja por ato
inequívoco.
Ex.: João, com procuração de administração em geral de bens de Manoel, vende imóvel
deste a Antônio. A venda é ineficaz, salvo se Manoel ratificar o negócio. Se Manoel ratificar a
daqui 1 ano, seja de forma expressa, seja de modo tácito (embolsando, por exemplo, o valor
da venda), considerar-se-á que a venda ocorreu na data do ato, e não na data da ratificação. Os
efeitos tributários (ITBI ou outros), por exemplo, deverão levar em conta a legislação da época
do ato, e não da ratificação.
Mandatário é considerado mero gestor de negócios, quando atua em excesso de poderes,
enquanto não houver ratificação pelo mandante (art. 665, CC). Lembre-se que a ratificação do
dono do negócio imprime à gestão de negócios os efeitos do mandato (art. 873, CC).
Em razão da boa-fé, se o terceiro sabia dos limites dos poderes do mandatário e, mesmo
assim, praticou o ato exorbitante, ele pode ser considerado um cúmplice da violação contratual
por ter agido de má-fé, de maneria que não poderá pleitear nem o mandatário nem o mandante
(arts. 662 e 673, CC). Afinal de contas, ninguém pode se servir da própria torpeza (tu quoque).

1.19. Extinção do Mandato


1.19.1. Hipóteses

Há 5 hipóteses legais de extinção (art. 682, CC):


• resilição unilateral de qualquer das partes: corresponde à revogação (se do mandante)
ou à renúncia (se do mandatário);
• morte ou interdição de qualquer das partes;
• mudança de estado que inabilite qualquer das partes, como na hipótese de o mandatá-
rio se tornar absolutamente incapaz, o que lhe subtrai a aptidão jurídica de praticar atos
sozinho, inclusive os atos de cumprimento do mandato;
• término do prazo ou conclusão do negócio.

1.19.2. Revogação

Espécies e Natureza Receptícia

A revogação do mandato pode ser expressa (declaração do mandante) ou tácita (ato in-
compatível do mandante, como assume pessoalmente o negócio). A nomeação de outro pro-
curador, comunicado ao anterior, implica revogação (art. 687, CC).
A revogação do mandato ou a sua renúncia possuem natureza de declaração receptícia,
pois a declaração de vontade precisa chegar à ciência da outra parte para gozar de eficácia
(arts. 686 e 688, CC). Para ter eficácia contra terceiros de boa-fé, a revogação deve ser comuni-
cada também a estes, sob pena de atrair a teoria da aparência em prol dos terceiros de boa-fé
(art. 686, CC).

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Cláusula de irrevogabilidade: Casos de Ineficácia

Mesmo havendo cláusula de irrevogabilidade, o mandante pode revogar o mandato, caso


em pagará perdas e danos (art. 683, CC). Isso decorre do fato de que o vínculo de confiança é
da essência do mandato, de sorte que o seu abalo tem de autorizar a revogação do mandato,
ainda que haja cláusula de irrevogabilidade. A violação, porém, dessa cláusula de irrevogabili-
dade acarretará dever de indenizar pelo fato de o art. 683 do CC expressamente autorizar.
Há, todavia, três casos em que a revogação é ineficaz, a saber, as dos arts. 684 (mandato
como condição de negócio bilateral ou no exclusivo interesse do mandante), 685 (mandato
em causa própria) e 686, parágrafo único (mandato para conclusão de negócios iniciados, aos
quais se ache vinculado) do CC.
Esta última hipótese (art. 686, CC) é justificada por estar protegendo os terceiros que já
participam do negócio já iniciado. A boa-fé objetiva condena comportamentos contraditórios:
o mandante, depois de ter outorgado a procuração dando ensejo ao início de um negócio, não
pode, depois, revogar a procuração, frustrando a conclusão do negócio.
Quanto às duas primeiras hipóteses, a ineficácia da revogação se justifica pelo fato de que
o mandato não é aí utilizado para atendimento do interesse do mandante, e sim da outra parte
do negócio bilateral ou do mandatário. De fato, a revogabilidade do mandato é justificada ape-
nas em mandatos feitos no interesse do mandante por se fundamentar no fato de que a rela-
ção de confiança é da essência do mandato. Não é o caso dos mandatos feitos nas hipóteses
dos arts. 684 e 685 do CC.,
Um exemplo é o mandato irrevogável para conferir poderes ao cessionário de quotas de
sociedade limitada perante a Junta Comercial.

Caso prático: Cláusula-Mandato em Escrituras de Compra e Venda

Um exemplo de mandato irrevogável outorgado no exclusivo interesse do mandatário (art.


684, CC) é a “cláusula-mandato” aposta em escritura pública de compra e venda de imóvel para
investir o adquirente de poderes para lavrar escrituras de rerratificação e adotar providências
perante repartições públicas com vistas ao registro da escritura no Cartório de Imóveis.
Nesse caso, a inserção da cláusula-mandato acima livra o adquirente de, numa eventual
exigência feita pelo registrador imobiliário, chamar novamente o alienante ao Tabelionato de
Notas para lavrar uma escritura pública de rerratificação. Isso pode ser muito útil, pois, muitas
vezes, o alienante está em local desconhecido ou não terá interesse em se deslocar ao Tabe-
lionato de Notas por já ter recebido o preço.
É óbvio que o poder conferido nessas hipóteses não pode alcançar a prática de atos des-
tinados a alterar elementos do negócio como o objeto do negócio jurídico ajustado, o preço e
a forma de pagamento, nem outras condições essenciais estipuladas em favor do alienante (a
exemplo de eventual condição resolutiva decorrente do inadimplemento).

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1.19.3. Morte ou Interdição de qualquer das Partes

Noções Ferais

Amigo(a) resolva a questão.

001. (CESPE/AUDITOR/SEFAZ-RS/2019) Antônio outorgou, por procuração, um mandato


para realizar negócios jurídicos de interesse do outorgante, Luciano. Um desses negócios ju-
rídicos deveria ser realizado com a maior brevidade para evitar demora que pudesse gerar pe-
rigo. No entanto, pendente de conclusão do negócio jurídico a ele cometido, Luciano faleceu.
Nesse caso, de acordo com os dispositivos do Código Civil, os herdeiros de Luciano deverão
a) renunciar ao mandato imediatamente, informando Antônio sobre esse ato.
b) revogar o mandato imediatamente, informando Antônio sobre esse ato.
c) substabelecer o mandato imediatamente.
d) praticar somente medidas conservatórias ou continuar o negócio jurídico pendente por
sua urgência.
e) substituí-lo até que se executem todas as obrigações advindas da procuração.

Por força dos arts. 690 e 691 do CC.


Letra d.

A morte ou a interdição de qualquer das partes como causa extintiva deve ser a do man-
dante ou a do mandatário. Portanto, não se extingue o mandato com a morte do administrador
da pessoa jurídica, pois esta é a mandante, e não aquele.
Como o mandato se baseia no vínculo de confiança, se qualquer das partes morre ou per-
de o discernimento dos atos negociais (interdição), é da essência do mandato que as partes
mantenham continuamente uma supervisão um do outro, de maneira que, com a morte ou a
interdição de um deles, essa supervisão se inviabiliza, o que justifica a extinção do mandato.
Seja como for, em nome da boa-fé objetiva, se se tratar de morte do mandatário e se havia
algum negócio pendente, os herdeiros do mandatário comunicar o mandante e deverão adotar
medidas conservatórias ou, se houver urgência, concluir o negócio que estava pendente (arts.
690 e 691, CC).

1.20. Questões Importantes


1.20.1. Transmissibilidade do Direito a Exigir Contas no Caso de Morte do
Mandante

No caso de morte do mandante, o direito a exigir contas que ele tinha transmite-se aos seus
herdeiros, os quais possuem legitimidade ad causam para exigir do mandatário o cumprimento

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desse dever. Claro: os herdeiros do mandante têm o direito de saber se o mandatário desem-
penhou adequadamente o seu dever para, no caso de mal exercício do mandato, cobrar inde-
nização (STJ, AgInt no AREsp 865.725/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe
06/08/2019).

1.20.2. Transmissibilidade do Dever de Prestar Contas no Caso de Morte do


Mandatário

No caso de morte do mandatário, indaga-se: o dever de prestar contas que ele tinha se
transmite ou não aos seus herdeiros?
A matéria não parece estar tão amadurecida no STJ, mas passamos a expor a melhor inter-
pretação que se extrai dos poucos julgados dessa Corte.
Segundo STJ, a regra é a de que o dever de prestar contas não se transmite aos herdeiros
do mandatário diante do caráter personalíssimo do mandato: os herdeiros, no mais das vezes,
não teria como prestar as contas por não deterem os documentos e as informações que só o
falecido mandatário tinha. Basta pensar em como uma criança de 2 anos de idade iria prestar
contas no lugar do seu falecido pai, que era mandatário de outrem (STJ, REsp n. 1122589/MG,
3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 19/4/2012).
Entretanto, ocorrendo a morte do mandatário ocorrer no curso da ação de exigir contas,
esse feito não se extinguirá, e o dever de prestar contas se transmitirá aos herdeiros do fale-
cido se, nos autos, já houver documentos probatórios suficientes para avaliar a adequação
das contas. Em outras palavras, se o mandatário, em vida, já apresentou as informações e os
documentos de que dispunha no processo, os seus herdeiros (geralmente por meio do espó-
lio) poderão sucedê-lo no polo processual por já não haver mais provas a serem produzidas. O
caráter personalíssimo do mandato aí se tornou irrelevante (STJ, REsp 1480810/ES, 3ª Turma,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 26/03/2018).
Sinaliza ainda o STJ para a possibilidade de haver a transmissibilidade do dever de prestar
contas para os herdeiros do mandatário a depender do caso concreto, especialmente quando
se verificar a viabilidade de os herdeiros acessarem as informações e os documentos neces-
sários à prestação das contas, especialmente quando o falecimento do mandatário ocorrer
no curso do ação de exigir contas (STJ, REsp 1203559/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, DJe 17/03/2014).
Portanto, segundo o STJ, o dever de prestar contas não se transmite aos herdeiros do man-
datário no caso de morte deste. A exceção corre à conta da hipótese de o mandatário, em vida,
já ter juntado os documentos e as informações de que dispunha sobre as contas nos autos
da ação de exigir contas, visto que, nessa hipótese, não haverá prejuízos aos herdeiros com a
transmissibilidade.
Por fim, no caso de tutela e curatela, há previsão expressa da transmissibilidade do dever
de prestar contas no caso de morte do tutor ou do curador (arts. 1.749, II, e 1.774 do CC). A

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tendência do STJ parece ser a de conferir interpretação restritiva a esse dispositivo para fixar
o mesmo entendimento acima do mandato, de modo que a transmissibilidade só ocorrerá se
já houver ação de exigir contas em curso com satisfatório suporte probatório relativo às con-
tas do falecido tutor ou do falecido curador. Isso é extraído do fato de que o STJ admitiu essa
transmissibilidade causa mortis do dever de prestar contas em um caso de falecimento de um
curador (que, antes, havia sido mandatário) no curso de ação de exigir contas, tudo porque o
falecido já havia apresentado uma vastidão de documentos acerca do período de sua gestão
na condição de mandatário e, depois, de curador (STJ, REsp 1480810/ES, 3ª Turma, Rel. Minis-
tra Nancy Andrighi, DJe 26/03/2018).
Ao nosso sentir, o STJ caminha bem nessa sua tendência, mas nós acrescentaríamos ape-
nas a possibilidade de a transmissibilidade do dever de prestar contas ocorrer mesmo sem
haver uma ação de exigir contas em curso no momento da morte do mandatário, desde que,
no caso concreto, o juiz verifique que os herdeiros teriam condições de acessar documentos
ou informações necessárias à prestação de contas ou verifique que não há nada a ser aces-
sado. Assim, entendemos que o dever de prestar contas se transmite aos herdeiros do man-
datário sempre que, de acordo com o caso concreto, o juiz verificar que inexistirá prejuízo à
defesa deles.

1.21. Mandato Aparente


O mandato aparente está previsto nos arts. 686 e 689 do CC e se baseia na teoria da
aparência.
Mandato aparente consiste na hipótese em que terceiro de boa-fé contrata com quem os-
tenta a aparência de mandatário, mas não o é por conta de revogação (art. 686, CC) ou de outra
forma de extinção do mandato, como a morte do mandante (art. 689, CC).
No caso de revogação, o ato praticado perante o terceiro de boa-fé é válido e eficaz, asse-
gurado, porém, o direito à indenização contra o mandatário de má-fé, que já tinha ciência da
revogação em razão da notificação revocatória exigida pelo art. 686 do CC. A ideia aí é a de que
a revogação é ato privado e inacessível por terceiros, pois consiste numa comunicação privada
entre o mandante e o mandatário, de maneira que o terceiro
No caso de outras formas de extinção do mandato – as quais estão nos incisos II ao IV
(morte, interdição, mudança de estado e término do prazo do mandato),, o ato praticado pe-
rante o terceiro de boa-fé só será válido e eficaz se também o mandatário estava de boa-fé por
ignorar essa outra causa extintiva do mandato (art. 689, CC). Se, porém, o mandatário sabia
dessa outra causa extintiva, o ato praticado perante o terceiro não será eficaz, ainda que esse
terceiro esteja de boa-fé. A ideia é a de que o terceiro poderia, ainda que com esforço, descobrir
a causa extintiva por se tratar de fato público. Além disso, prestigiar o terceiro de boa-fé aí seria
esvaziar a utilidade prática dessas causas extintivas diversas da revogação.

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Com base na boa-fé, da qual decorre a teoria da aparência, é possível admitir o mandato
aparente em outras situações, independentemente de previsão legal. Essa tutela da boa-fé por
meio da teoria da aparência no contrato de mandato guarda coerência com outras hipóteses
do Código Civil, como a do credor putativo (art. 309, CC).

1.22. Questões Especiais


1.22.1. Cláusula-Mandato: Instituições Financeiras, Administradora de Car-
tão de Crédito e o Caso do Cartão de Crédito Private Label

É nula a cláusula-mandato outorgada no exclusivo interesse do financiador, por força da


Súmula n. 60/STJ (“É nula a cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mu-
tuante, no exclusivo interesse deste”). Essa nulidade se estende para qualquer uso da cláu-
sula-mandato para, em nome do mandante, emitir títulos de crédito que o exponham a sofrer
execuções judiciais por parte de empresas do mesmo grupo econômico do mutuante. Essa sú-
mula vale tanto para instituições financeiras quanto para administradoras de cartão de crédito.
Embora seja admitida a emissão de títulos de crédito por procurador do emitente, é indevi-
da essa prática como forma de o credor forjar um título executivo contra o cliente. Por meio da
cláusula-mandato, a instituição financeira, ao invés de cobrar o seu crédito por meio das ações
de conhecimento cabíveis (que são mais morosas), emite nota promissória, no valor da dívida
não paga, a instituição integrante do seu grupo econômico ou a si mesma (como se fosse um
contrato consigo mesmo), para que esta aparelhe ação de execução contra o devedor (que é
ação mais célere). Ora, os títulos executivos são arrolados pela lei em numerus clausus e, por
sim, não podem ser criados por convenção das partes nem por uso deturpado do mandato.
Além disso, usar o mandato para sacar título de crédito contra o próprio mandante para co-
brança de um valor constante do contrato fere uma natureza essencial dos títulos de crédito: a
sua autossuficiência jurídica em relação ao negócio subjacente. A prática ainda configura abu-
so de direito (STJ, REsp 13.996/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, DJ 09/12/1991).
As instituições financeiras se valiam da cláusula-mandato para tentar obter títulos executi-
vos extrajudiciais contra o cliente por dívidas de contratos bancários que não se enquadravam
nessa condição (ex.: emitia, em nome do cliente, uma nota promissória com o valor do cheque
especial para amparar uma ação de execução contra ele), mas essa prática malabarista foi
censurada pelo STJ como nula (Súmula n. 60/STJ).
Com essa derrota no STJ, os bancos armaram outra gambiarra: fazer os clientes assinarem
notas promissórias em branco com vinculação ao contrato de abertura de crédito (como a do
cheque especial), de modo que, em havendo inadimplência, os bancos preencheriam a nota
promissória com o valor da dívida e proporiam uma ação de execução. O STJ, todavia, enten-
deu inviável tal prática por entender que não há liquidez na cártula (Súmula n. 258/STJ: “A nota
promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da
iliquidez do título que a originou”).

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Com o advento da Lei da Cédula de Crédito Bancária – CCB (Lei n. 10.931/2004) –, as insti-
tuições financeiras passaram a instrumentalizar os contratos bancários em CCB, que já é título
executivo, o que livrou os bancos de terem de buscar soluções acrobáticas para conseguir
títulos de crédito.
Quando se trata de cláusula-mandato a favor de administradora de cartão de crédito, é pre-
ciso identificar a finalidade de seu uso. Se ela for usada para emitir título de crédito para que
a administradora ou terceiros cobrem dívida do próprio mandante (o cliente), há nulidade por
aplicação da Súmula n. 60/STJ por esbarrar nos mesmos motivos acima.
Não há, porém, nulidade da cláusula-mandato usada pela administradora do cartão de cré-
dito para que: (1) a administradora, na condição de mandatário do cliente, pague as dívidas
contraídas por este perante os comerciantes ao “passar o cartão na maquinha” deste; (2) a ad-
ministradora do cartão de crédito obtenha, em nome do cliente, recursos no mercado financei-
ro para pagar as dívidas decorrentes do uso do cartão, especialmente para cobrir o desfalque
decorrente do não pagamento do valor integral da fatura pelo cliente ou para o parcelamento
de compras. Esses dois usos são inerentes à dinâmica dos cartões de crédito e não se pres-
tam ao exclusivo interesse da administradora: o primeiro uso ocorre em praticamente todos
os casos de cartão de crédito (seja ou não private label), ao passo que o segundo é mais usual
nos contratos de cartão de private label6. Não há aí emissão de título de crédito em nome do
mandante (o cliente).
No tocante ao segundo uso (para buscar recursos no mercado financeiro), a administra-
dora é obrigada a prestar contas ao cliente sobre o modo como exerceu o mandato para obter
recursos no mercado financeiro (STJ, REsp 387.581/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, DJ 01/07/2002).
Caso interessante julgado pelo STJ foi da Renner Administradora de Cartão de Crédito
Ltda, que oferece cartão de crédito private label com a marca “Renner” aos consumidores. O
voto do sempre talentoso Ministro Marco Buzzi detalha bem a hipótese (STJ, REsp 1084640/
SP, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe 29/09/2015).
Ela usa a cláusula-mandato para obter recursos no mercado financeiro quando precisa ar-
car com parte das faturas mensais que não foram pagas integralmente pelo consumidor (= é
6
Private label (marca própria) é uma espécie de terceirização da produção. Lojas grandes, como a Zara, por exemplo, podem
contratar outras empresas para produzir roupas e colocar nelas as etiquetas com a marca dessa grande loja (label se traduz
por etiqueta). No Brasil, as cadeias de supermercado Carrefour e Wall Mart foram as primeiras a se valerem da private label,
vendendo, em suas gôndolas, vários produtos a preço competitivo com suas etiquetas. Isso serve como estratégia de
branding (trabalho de divulgação da marca). Isso também ocorre nos cartões de crédito: lojas grandes produtos oferecem
cartões de crédito aos seus clientes com a marca da empresa e, para tanto, essas lojas grandes terceirizam essa atividade
financeira para uma administradora de cartão de crédito. É o caso dos cartões de crédito com a marca C&A, Renner, Tam,
nos anos 2000 Ipiranga, Gol etc. Trata-se do que se chama de cartões de crédito private label, as quais se desenvolveram
como forma de substituir os velhos sistemas de crediários. O comum é que esse cartão de crédito private label seja utili-
zado em qualquer estabelecimento que aceite a bandeira do cartão, mas há casos em que o cartão somente é aceito em
alguns estabelecimentos, como nos relacionados à empresa que dá a “marca” ao cartão.

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comum consumidor pagar as faturas do cartão de crédito parcialmente, o que leva a adminis-
tradora do cartão a buscar dinheiro no mercado financeiro para cobrir esse pagamento parcial).
Até a Lei Complementar n. 105/2001, as administradoras de cartão de crédito não podiam
ser instituições financeiras, o que as levavam a buscar recursos perante os bancos. A partir
daí, várias administradoras passaram a se transformar ou a criar instituições financeiras, ob-
servando todos os requisitos normativas da lei e do Bacen. Desse modo, enquanto instituições
financeiras, essas administradoras não precisavam mais de buscar dinheiro no mercado fi-
nanceiro, pois elas mesmas se encarregavam de “financiar” o débito e, assim, na condição de
instituição financeira, poder cobrar diretamente do cliente os salgados juros remuneratórios
incidentes sobre a parcela não paga da fatura. Nesse sentido, é a Súmula n. 283/STJ (“As em-
presas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros
remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura”). Se a adminis-
tradora não fosse instituição financeira, ela só poderia cobrar, no máximo, os tímidos juros
remuneratórios autorizados pelo art. 591 do CC.
As administradoras de cartão de crédito private label, todavia, não costumam ser institui-
ções financeiras, a exemplo da supracitada Renner Administradora de Cartão de Crédito Ltda, o
que faz a cláusula-mandato ser essencial para o sucesso da atividade dessas administradoras,
que, em nome do cliente, podem buscar recursos perante instituições financeiras para cobrir a
parcela não paga da fatura mensal pelo cliente. Assim, ao pagar parcialmente a fatura, o con-
sumidor irá pagar a diferença diretamente para a instituição financeira perante quem a admi-
nistradora, usando a cláusula-mandato, obteve o dinheiro. O consumidor pagará a dívida com
os juros remuneratórios elevados costumeiramente cobrados pelas instituições financeiras,
mas isso é plenamente lícito pelo fato de a administradora informar essas condições e esses
valores ao cliente. O uso da cláusula-mandato nessas hipóteses é feito em favor do próprio
cliente, razão por que, nessa hipótese, ela é lícita.
No caso analisado pelo STJ7, a Renner Administradora de Cartão de Crédito Ltda coloca-
va cláusula-mandato não apenas para que ela pudesse, em nome do cliente, buscar financiamento no
7
O texto da cláusula é esta (destacamos a parte declarada nula pelo STJ):
“O débito decorrente das aquisições pelo TITULAR ou seu(s) beneficiário(s), através do uso do CARTÃO DE CRÉDITO RENNER,
poderá ser parcial ou totalmente financiado por Instituição Financeira de livre escolha da LOJAS RENNER S.A e/ou da
RENNER ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA., mediante a cobrança de encargos praticados pela Instituição
Financeira e/ou Administradora de Cartões de Crédito. Para tal fim, o TITULAR, neste ato e por este instrumento, nomeia e
constitui a LOJA RENNER S.A. e/ou RENNER ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA. sua procuradora para o
fim especial de, em nome e por conta do TITULAR, negociar e obter financiamento aqui mencionado, em qualquer Institui-
ção Financeira e/ou Administradora de Cartões de Crédito de sua livre escolha, podendo esta, para tal fim, ajustar e fixar
prazos e juros, comissões encargos, lugar e pagamento e demais cláusulas e condições por mais especiais que sejam,
celebrar contratos, aceitar letras de câmbio, emitir notas promissórias, assinar cheques, recibos, quitações e outros docu-
mentos necessários ao cabal cumprimento deste mandato, razão pela qual o TITULAR desde já reconhece como líquida e
certa a dívida que assim vier a ser contraída em seu nome, além de cobrável por via executiva qualquer que seja o docu-
mento por via executiva que o representar, com renúncia expressa dele, mandante, de opor qualquer contestação quer
ao montante, quer à qualidade da dívida e quer ainda, ao rito executivo para sua cobrança. Tendo em vista que o presente

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mercado financeiro (o que seria lícito), mas também para a autorizar, em nome do cliente,
a emitir títulos de crédito para permitir a ações executivas contra o consumidor (o que já
é ilícito).
Enfim, quando se trata de administrador do cartão de crédito, a nulidade da cláusula-man-
dato à luz da Súmula n. 60/STJ só ocorre para a emissão de títulos de crédito em nome do
cliente (mandante), e não para os casos de pagar as dívidas perante os estabelecimentos em
que o cliente “passou o cartão” ou para os casos de busca de recursos no mercado financeiro
para cobrir as faturas não pagas pelo cliente.

mandato só poderá ser exercitado para e nas condições previstas neste contrato, fica desde já autorizado a LOJAS RENNER
S.A e a RENNER ADMINSTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA., em caráter irrevogável e irretratável a receber o pro-
duto das operações de crédito que celebrar em nome do TITULAR para aplicá-lo no pagamento de suas compras e/ou na
amortização ou pagamento do débito dele, TITULAR, junto a LOJAS RENNER S.A.”

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QUESTÕES DE CONCURSO
002. (FGV/CONSULTOR LEGISLATIVO/AL-RO/2018/ADAPTADA) Cláudia, 60 anos, decide
deixar Porto Velho para residir próximo aos filhos, que se encontram em Brasília. Em Porto
Velho, Cláudia possui imóveis, cujas locações lhe dão sustento. Ante a mudança de domicílio,
Cláudia atribui a Jane, sua irmã, o poder de administração de seus interesses em Porto Velho
(locação de imóveis), o que faz mediante instrumento particular. A partir desta situação, corre-
to afirmar que Cláudia celebrou contrato de:
a) procuração;
b) corretagem;
c) comissão;
d) agência;
e) mandato.

O mandato é o contrato por meio do qual alguém (mandante) outorga poderes para que ou-
trem (mandatário) pratique atos jurídicos em nome do mandante. É o caso da questão: Jane
é a mandatária e, nessa condição, pode praticar atos em nome de Cláudia relativamente ao
imóvel. Pode, por exemplo, assinar, em nome de Cláudia, um contrato para alugar o imóvel a
terceiros. Por isso, o gabarito é “E”. Veja o art. 653 do CC:

Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, prati-
car atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato.
Letra e.

003. (TRF-3ª/JUIZ/TRF3/2018/ADAPTADA) O substabelecimento deve observar a mesma


forma pela qual foi outorgado o mandato.

Pode adotar forma diversa do mandato, conforme art. 655 do CC, que autoriza substabeleci-
mento por instrumento particular apesar de o mandato ter assumido a forma pública. Veja:

Art. 655. Ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se me-
diante instrumento particular.
Errado.

004. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2018/ADAPTADA) Quando o mandato


for outorgado por instrumento público, não se poderá substabelecer por instrumento particular.

É o contrário (art. 655 do CC).


Errado.

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005. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) Quando os poderes ao manda-


tário forem outorgados por instrumento público, o substabelecimento também deverá ser por
instrumento público.

Pode ser por instrumento particular, ao contrário do dito na questão (art. 655, CC).
Errado.

006. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) A aceitação do mandato sem-


pre será expressa.

Pode ser tácita, consoante art. 659 do CC:

Art. 659. A aceitação do mandato pode ser tácita, e resulta do começo de execução.
Errado.

007. (FCC/PROCURADOR/PREF. DE CARUARU/2018/ADAPTADA) O mandato pode ser ver-


bal ou escrito, mas sempre expresso, não se admitindo mandato tácito.

É o contrário (art. 659, CC).


Errado.

008. (IADES/PROCURADOR/AL-GO/2019/ADAPTADA) O mandato não pode ser tácito.

É o contrário (art. 659, CC).


Errado.

009. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2018/ADAPTADA) O terceiro com quem


o mandatário tratar os negócios do mandante não poderá exigir que a procuração traga a firma
reconhecida.

É o contrário, conforme art. 654, § 2º, do CC:

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particu-
lar, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.
§ 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do
outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos po-
deres conferidos.

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Contratos em Espécie – Parte III
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§ 2º O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga a firma reconhe-
cida.
Errado.

010. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) Na hipótese de poderes outor-


gados conjuntamente há mais de um mandatário, o ato praticado sem interferência de todos
não terá eficácia, a menos que haja posterior ratificação.

Como os mandatários foram nomeados em conjunto, todos têm de atuar conjuntamente na


forma indicada na questão, sob pena de ineficácia do ato enquanto não houver ratificação dos
demais. Veja o art. 672 do CC:

Art. 672. Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo instrumento, qualquer deles
poderá exercer os poderes outorgados, se não forem expressamente declarados conjuntos, nem
especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se os man-
datários forem declarados conjuntos, não terá eficácia o ato praticado sem interferência de todos,
salvo havendo ratificação, que retroagirá à data do ato.
Certo.

011. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) A pluralidade de mandan-


tes outorgando poderes para a realização de negócio que lhes é comum, não implicará
solidariedade entre eles perante o mandatário, em relação aos compromissos e efeitos
do mandato.

Há sim solidariedade por força do art. 680 do CC:

Art. 680. Se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negócio comum, cada uma
ficará solidariamente responsável ao mandatário por todos os compromissos e efeitos do mandato,
salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros mandantes.
Errado.

012. (FCC/PROCURADOR/PREFEITURA DE CARUARU-PR/2018/ADPATADA) O mandato só


pode ser exercido, como mandatário, a maior de dezoito anos, no exercício pleno de sua capa-
cidade civil.

Menor com idade de 16 anos já pode ser mandatário. Não é preciso ser maior de 18 anos, ao
contrário do dito na questão. É o art. 666 do CC:

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Contratos em Espécie – Parte III
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Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas
o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às
obrigações contraídas por menores.
Errado.

013. (TRF-3ª/JUIZ/TRF-3ª/2018/ADAPTADA) Sem prévia e expressa concordância do man-


dante, é vedado ao mandatário reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, valor suficien-
te para remunerar o que for devido por força do mandato.

Não há necessidade de concordância do mandante, ao contrário do dito na questão. É o art.


664 do CC:

Art. 664. O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto
baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência do mandato.
Errado.

014. (FEPESE/ADVOGADO/CELESC/2018/ADAPTADA) O mandatário tem o direito de reter,


do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for
devido em consequência do mandato.

É o art. 664 do CC.


Certo.

015. (TRF-3ª/JUIZ/TRF-3ª/2018/ADAPTADA) Havendo valores líquidos, o mandatário pode


compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos que, por outro lado, tenha granjeado
ao seu constituinte.

É o contrário, conforme art. 669 do CC:

Art. 669. O mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos que, por
outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte.
Errado.

016. (FCC/PROCURADOR/PREFEITURA DE CARUARU-PR/2018/ADAPTADA) O mandato


não gera compensação, ou seja, o mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu
causa com os proveitos que, por outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte.

É o art. 669 do CC.


Certo.

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017. (FCC/PROCURADOR/PREFEITURA DE CARUARU-PR/2018/ADAPTADA) O mandato


em termos gerais só confere poderes de administração, ou para outorgar hipoteca e transigir,
mas não para alienar ou contrair empréstimos.

Não envolve os poderes de hipotecar ou transigir, ao contrário do dito na questão. Veja o art.
661 do CC:

Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração.


§ 1º Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administra-
ção ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos.
§ 2º O poder de transigir não importa o de firmar compromisso.
Errado.

018. (FEPESE/ADVOGADO/CELESC/2018/ADAPTADA) O mandato em termos gerais confe-


re poderes para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que não exorbi-
tem da administração ordinária.

Questão contraria art. 661, CC.


Errado.

019. (FEPESE/ADVOGADO/CELESC/2018/ADAPTADA) Quando expresso no instrumento de


procuração, o poder de transigir importa, também, o de firmar compromisso.

É o contrário: não importa o poder de firmar compromisso (art. 661, § 2º, CC).
Errado.

020. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) O mandatário deve aplicar toda


a sua diligência habitual.

É o art. 667, caput, do CC:

Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e
a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autori-
zação, poderes que devia exercer pessoalmente.
§ 1º Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na execução do man-
dato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto, embora
provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo, ainda que não tivesse
havido substabelecimento.

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Contratos em Espécie – Parte III
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§ 2º Havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos causados


pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas instruções dadas a ele.
§ 3º Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo substabelecido
não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à data do ato.
§ 4º Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será responsável se o
substabelecido proceder culposamente.
Certo.

021. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) O mandato presume-se gratuito


quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daque-
les que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa.

É o art. 658 do CC:

Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o
seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa.
Parágrafo único. Se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou
no contrato. Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por
arbitramento.
Certo.

022. (TRF-3ª/JUIZ/TRF-3ª/2018/ADAPTADA) É possível estabelecer a irrevogabilidade do


mandato quando ela for condição de um negócio bilateral ou quando tiver sido estipulada no
exclusivo interesse do mandatário.

É o art. 684 do CC:

Art. 684. Quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral, ou tiver sido
estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato será ineficaz.
Certo.

023. (FEPESE/ADVOGADO/CELESC/2018/ADAPTADA) A revogação do mandato, notificada


somente ao mandatário, extingue de plano os poderes conferidos e opera de pleno direito aos
terceiros que com ele tratar.

Não se opera contra terceiros de boa-fé. É o art. 686 do CC:

Art. 686. A revogação do mandato, notificada somente ao mandatário, não se pode opor aos tercei-
ros que, ignorando-a, de boa-fé com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as ações que no
caso lhe possam caber contra o procurador.

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Contratos em Espécie – Parte III
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Parágrafo único. É irrevogável o mandato que contenha poderes de cumprimento ou confirmação de


negócios encetados, aos quais se ache vinculado.
Errado.

024. (FCC/PROCURADOR/PREF. DE CARUARU-PR/2018/ADAPTADA) O mandato cessa so-


mente pela revogação expressa, morte de ambas as partes, término do prazo ou conclusão
do negócio.

Não foram arroladas todas as hipóteses do art. 682 do CC:

Art. 682. Cessa o mandato:


I – pela revogação ou pela renúncia;
II – pela morte ou interdição de uma das partes;
III – pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para
os exercer;
IV – pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.
Errado.

025. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2018/ADAPTADA) A conclusão do negó-


cio atribuído ao mandatário não é causa determinante para a cessação do mandato, em razão
da relação de imputação.

É caso de extinção do mandato (art. 682, IV, CC).


Errado.

026. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2018/ADAPTADA) A morte do mandante


não faz cessar imediatamente o mandato quando o negócio já houver começado e houver
perigo na demora.

É o art. 674 do CC:

Art. 674. Embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, deve o mandatá-
rio concluir o negócio já começado, se houver perigo na demora.
Certo.

027. (FGV/OFICIAL/TJ-RS/2020/ADAPTADA) Vitor foi contratado para representar o senhor


Gervásio na realização de determinados atos jurídicos que lhe reverteriam benefício patrimo-
nial. No curso da atuação, entretanto, Vitor toma ciência de que Gervásio veio a falecer. Diante
disso, o mandato:

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a) se extingue, e Vitor não deve mais atuar;


b) se extingue, mas Vitor deve concluir os atos já começados, se houver perigo na demora;
c) se mantém até a abertura de inventário, e Vitor deve continuar atuando;
d) se mantém, mas os atos de Vitor deverão ser ratificados pelo inventariante;
e) se mantém até que Vitor termine todos os atos de que foi incumbido, não podendo o inven-
tariante revogar seus poderes.

São os arts. 682, II, e 674 do CC.


Letra b.

028. (IESES/TITULAR/CARTÓRO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) São inválidos, a respeito dos


contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatário,
enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa.

Sã válidos, e não inválidos, conforme art. 689 do CC:

Art. 689. São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em nome
do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do mandato,
por qualquer outra causa.
Errado.

029. (MPE-SC/PROMOTOR/MPE-SC/2019) Nos termos do Código Civil é considerado nulo o


mandato em causa própria, quando o mandatário realiza o negócio consigo mesmo.

É válido, conforme arts. 117 e 685 do CC:

Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representan-
te, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula “em causa própria”, a sua revogação não terá eficácia,
nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar
contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as
formalidades legais.
Errado.

030. (FGV/ADVOGADO/AL-RO/2018/ADAPTADA) O mandato conferido com a cláusula “em


causa própria” é irrevogável e não se extingue pela morte do mandante nem do mandatário.

É o art. 685 do CC.


Certo.

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Contratos em Espécie – Parte III
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031. (VUNESP/JUIZ/TJ-SP/2018/ADAPTADA) O contrato de fiança é celebrado entre o


fiador e o
a) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal demandado,
poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
b) afiançado, sendo gratuito ou oneroso, mas o fiador, se como tal demandado, não poderá
compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por terceiro uma
pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
c) afiançado, sendo necessariamente gratuito, mas o fiador, se como tal demandado, não po-
derá compensar sua dívida com a do credor ao afiançado, porque, obrigando-se por terceiro
uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
d) credor do afiançado, podendo ser gratuito ou oneroso, e o fiador, se como tal demandado,
não poderá compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado, porque a compensação
exige que duas pessoas sejam, ao mesmo tempo, credoras e devedoras uma da outra.

Em primeiro lugar, a fiança é contrato firmado entre fiador e credor; o afiançado não é parte.
Isso já faz sobrar apenas as alternativas “A” e “D” como viáveis. Acontece que somente a al-
ternativa “A” é compatível com o art. 371 do CC, o que faz ela ser o gabarito. Veja o referido
dispositivo:

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

Seja como for, a questão merecia ser anulada pelo fato de afirmar que a fiança pode ser onero-
sa. Trata-se de tema controverso da doutrina8. Seja como for, o examinador acabou seguindo
a corrente de doutrinadores que afirmar existir a fiança onerosa.
Letra a.

8
OLIVEIRA, Carlos E. Elias de Oliveira. O contrato típico de fiança pode ser oneroso? Disponível:
https://profcarloselias.blogspot.com/2020/06/o-contrato-tipico-de-fianca-pode-ser.html. Elaborado em 3 de junho de 2020.

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Contratos em Espécie – Parte III
Carlos Elias

GABARITO
2. e 12. E 22. C
3. E 13. E 23. E
4. E 14. C 24. E
5. E 15. E 25. E
6. E 16. C 26. C
7. E 17. E 27. b
8. E 18. E 28. E
9. E 19. E 29. E
10. C 20. C 30. C
11. E 21. C 31. a

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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