Você está na página 1de 15

1

Universidade São Tomas de Moçambique


Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais

Limites do Comunitarismo e Contratualismo

Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos

Discente: Lurdes Claudia Castigo Macave, Código: 2021291046

Docente:

Abril, 2024
2

Universidade São Tomas de Moçambique


Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais

Limites do Comunitarismo e Contratualismo

Trabalho a ser apresentado ao departamento


de Recursos Humanos, Curso de Licenciatura
em RH, como requisito parcial de avaliação,
no âmbito da cadeira de Filosofia.
O Docente:

Discente: Lurdes Claudia Castigo Macave, Código: 2021291046

Abril 2024
3

Índice
1. Introdução....................................................................................................................................4

1.1.Objectivos..................................................................................................................................4

1.2.Metodologia...............................................................................................................................5

2. Limite de Comunitarismo............................................................................................................5

2.1. A concepção comunitarista da educação..................................................................................6

2.1.1. Características centrais..........................................................................................................6

2.2.A prioridade do justo e o pluralismo.........................................................................................8

2.3. A excessiva restrição do âmbito da razão pública liberal.........................................................9

3.O problema dos incentivos e da valorização do esforço.............................................................10

3.1.Estado de Natureza..................................................................................................................10

4.Limite de contratualista..............................................................................................................10

4.1.A democracia contratualista e gestão da educação..................................................................11

4.2.O contrato social......................................................................................................................12

4.2.1.A democracia comunitarista.................................................................................................13

5. Conclusão..................................................................................................................................14

6.Referências.................................................................................................................................15
4

1. Introdução
As divergências entre liberais e comunitaristas no que diz respeito ao tema da justiça ocupam o
debate da Filosofia Política nas últimas décadas. A prioridade do justo em relação às concepções
comunitárias do bem é um dos aspectos centrais da discussão. Com pontos de partida distintos, o
desafio é comum a essas duas correntes
O limite do construtivismo na fundamentação do direito humano ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, é uma análise sobre a justificação no modelo construtivista,
proposto por John Rawls (John Bordley Rawls) na teoria do Liberalismo Político, em que coloca
os bens primários enquanto necessidades dos cidadãos, desconsiderando direitos difusos, por
exemplo. Rawls em seu modelo construtivista sustenta que para haver uma sociedade justa e que
garanta as necessidades das pessoas em suas condições de cidadãs, afirma que tais necessidades
devem ser reconhecidas publicamente como benéficas para todos, passando tal decisão por um
consenso politico para ser aceita como benéfica para todos cidadãos.

1.1.Objectivos
Geral

 Compreender declaração universal dos direitos humanos;

Expecifico

 Descreve a declaração universal dos direitos humanos;


 Explicar declaração universal dos direitos humanos

1.2.Metodologia
A metodologia define o processo seguido no desenvolvimento da pesquisa. Para LUFT (1991:
420) “ metodologia é o tratado dos métodos, onde o método é a ordem seguida de investigação,
no estudo de persecução de quaisquer objectivos”.

Neste contexto, para a elaboração deste trabalho, recorreu se a: Consultas bibliográficas que
consistiu na leitura e interpretação de diversas de vários autores que sustentam sobre o assunto
em estudo; Analise e interpretação que consistiu na análise e compilação da matéria estudada.
5

2. Limite de Comunitarismo
Os comunitaristas invertem as prioridades na concepção de pessoa perante a política. Na política
da dignidade igual proposta pelos liberais, o que é estabelecido pretende ser universalmente o
mesmo, “uma cesta idêntica de direitos e imunidades”, mas na política da diferença exige-se o
reconhecimento da identidade peculiar de determinado grupo ou indivíduo; está em questão o
que o distingue, não o que iguala, ou o que se coaduna com a identidade dominante ou
maioritária (TAYLOR, 2000, p. 250 251).
O comunitarismo, na visão de Taylor, supõe apenas um potencial universal: “O de formar e
definir a própria identidade, tanto como indivíduo quanto como cultura” (p. 253). A dignidade
não está na autonomia, na capacidade, tal como definida por Kant, de o agente racional dirigir a
própria vida por meio de princípios. O Estado, na acepção tayloriana, não se define meramente
pela incumbência de promover o direito, um sistema que regule a convivência entre agentes
livres, racionais e iguais na perspectiva da justiça; é, sobretudo, o palco em que a luta pelo
reconhecimento se expressa, tal como ocorre na prática das acções afirmativas.

2.1. A concepção comunitarista da educação


A concepção comunitarista da educação pressupõe que deve haver um contínuo entre a cultura
local e o currículo escolar. Os professores não poderiam ser agentes estranhos à comunidade,
ensinando saberes e valores em virtude apenas de sua suposta universalidade, racionalidade e
científicidade. A identidade é formada a partir da pertença a uma comunidade, sem a qual uma
pessoa não pode descrever a si mesma. Por isso, a escola tem de ser uma entidade comunitária,
uma criação da comunidade local, para responder às necessidades educativas específicas.
A comunidade torna-se uma fonte de valores e o referencial para se definir a democracia e a
formação humana.
O aprendizado é um “comportamento cultural”. A legitimidade democrática não resulta de
escolhas individuais ou da construção negociada de valores, mas é “essencialmente um produto
colectivo”. As escolhas, aparentemente individuais, reflectem o reconhecimento de deveres
definidos colectivamente por meio de exemplos e companheirismos. Isso gera responsabilidades
que mantêm a estabilidade social.
6

2.1.1. Características centrais


Uma das características centrais da concepção política de justiça de Rawls é a sua independência
de doutrinas morais abrangentes. Essa posição é motivada pela possibilidade e necessidade de
um acordo sobre a concepção de justiça, apta para orientar as principais instituições políticas e
sociais, principalmente, a constituição política. A restrição ao domínio do político é a condição
para tal acordo. As doutrinas morais abrangentes, por sua vez, podem endossar os princípios de
justiça e o farão para torná-los estáveis, mas estes não podem derivar daquelas. A concepção
política de justiça tem, pois, a característica de ser autos sustentada. As diferentes concepções de
vida boa, próprias das doutrinas abrangentes, dificultam enormemente a possibilidade de se
atingir o “propósito político” do liberalismo político, ou seja: “assegurar a cooperação social com
base no respeito mútuo” (SANDEL, 2005, p. 258).
Seria esse objectivo tão importante a ponto de superar outros interesses originários de doutrinas
morais? Para Sandel, muitas “exigências e reivindicações” emergem dessas doutrinas e, por isso,
não é “razoável”, para “efeitos políticos”, excluí-los ou simplesmente deixá-los de lado
(SANDEL, 2005, p. 257), até porque algumas delas podem ser verdadeiras.
Não há dúvida de que, nas sociedades democráticas, diferentes concepções de “vida boa” são
apresentadas e defendidas. Rawls reconhece isso e considera fundamental que elas endossem os
princípios da justiça como equidade. Para Sandel, todavia, a questão é saber até que ponto essas
doutrinas morais são ou não capazes de “superar os valores políticos” (SANDEL, 2005, p. 259).
Sustentar que se trata de domínios diferentes – os valores políticos, referindo-se aos elementos
constitucionais essenciais e às questões de justiça básica, por um lado, e as doutrinas morais e
religiosas, reportando-se à vida privada ou às “associações voluntárias”, por outro – não avança
na discussão, pois nesse caso nenhum conflito surgiria, segundo Sandel. Logo, não faria sentido
dizer, como fez Rawls, que os valores políticos haveriam de se sobrepor aos valores éticos,
religiosos ou diferentes concepções do bem. Se são âmbitos distintos, não teríamos conflitos.
Ocorre, no entanto, que Sandel não justifica sua afirmação da ausência desses conflitos.
Exemplos mostram que eles acontecem, até mesmo entre os valores políticos. Isso indica o fato
de Rawls ter estabelecido a prioridade do primeiro princípio em relação ao segundo.
Para demonstrar que a prioridade do justo sobre o bem não pode ser sustentada, Sandel, a título
de exemplo, promove um debate sobre o aborto e a escravidão. Alega que um posicionamento
7

contra ou a favor em ambos os casos não pode afastar argumentos morais importantes. Essa
exclusão dependeria do fato de se saber qual das doutrinas morais é verdadeira.
Ora, o tema do aborto não é objecto de debate no nível dos princípios, mas assunto a ser
enfrentado no estágio legislativo. Já o problema da escravidão pode ser resolvido a partir do
primeiro princípio de justiça de Rawls e sem apelo aos valores morais e religiosos. Estes, por
certo, estarão em consonância com o primeiro princípio. O recurso aos direitos fundamentais é
suficiente para condenar quaisquer formas de escravidão. As doutrinas morais abrangentes
poderão endossar a defesa desses direitos, por diferentes razões, mas não é preciso recorrer a elas
para condenar a escravidão.
O acordo político em torno dos princípios, feito sob o véu da ignorância, diz respeito aos
elementos constitucionais essenciais. Os assuntos controversos não entram na agenda política.
Por isso, são decididos em outro estágio, onde o véu da ignorância é parcialmente suspenso.
Nesse estágio, os cidadãos argumentarão a partir de suas concepções de bem. Aliás, também
endossarão os princípios de justiça a partir dessas concepções.
O limite delas, no entanto, são os princípios de justiça política. A solução de possíveis conflitos
precisa estabelecer prioridades, mas deve fazê-lo a partir de um critério objectivo e comum.
A não-dependência de doutrinas morais abrangentes por parte dos princípios de justiça afecta,
pois, somente a estes. A crítica sobre o fato do debate em torno do aborto não poder ser
moralmente neutro, isto é, não poder desconhecer razões morais e religiosas, não considera
suficientemente os quatro estágios da aplicação dos princípios de Rawls.

2.2.A prioridade do justo e o pluralismo


Uma sociedade democrática convive com distintas doutrinas morais, religiosas e filosóficas
abrangentes e, por vezes, incompatíveis, mas razoáveis. Diante desse pluralismo, impõe-se a
prioridade do justo. A grande dificuldade refere-se à possibilidade de construir uma concepção
de justiça a partir disso. Uma restrição em relação a uma concepção política de justiça foi a
solução encontrada. De acordo com Sandel, para o liberalismo político esse pluralismo diz
respeito tão somente às concepções de bem e, por isso, atribui a prioridade ao justo. Essa
“assimetria”, no entanto, para Sandel, tem um pressuposto sem o qual ela não se sustenta. O
liberalismo tem de pressupor que não há um pluralismo razoável acerca da justiça.
8

O liberalismo político tem de pressupor não só que o exercício da razão humana em condições de
liberdade produzirá desacordos acerca da vida boa, mas também que o exercício da razão
humana em condições de liberdade não produzirá desacordos acerca da justiça. (SANDEL, 2005,
p. 266).

Os defensores do liberalismo político, na apreciação de Sandel, poderiam responder dizendo que


as divergências sobre a justiça não se referem ao que os princípios devem ser e, sim, à sua
aplicação. Haveria concordância, por exemplo, quanto à liberdade de expressão constar da lista
dos direitos fundamentais, mas discordância quanto ao entendimento desse direito em alguns
casos concretos, como por exemplo, se a liberdade de expressão deve ou não proteger toda e
qualquer publicidade comercial.

Não há dúvida de que existe um pluralismo razoável em torno da justiça. A questão é avaliar
qual ou quais dos princípios têm mais chance de ser objecto de um acordo para orientar nossas
principais instituições sociais e políticas. A questão é saber o que realmente é importante para o
domínio do político. É fundamental que, para sua estabilidade, os valores desse domínio sejam
endossáveis pelas doutrinas abrangentes.
A controvérsia em torno do “estatuto moral da homossexualidade”, sugerida por Sandel, não é
um bom exemplo. Esse assunto é objecto de discussão e ponderação no estágio legislativo e não
na construção dos princípios da posição original. Não é, portanto, elemento constitucional
essencial. É uma questão de lei e não de princípio. No legislativo os argumentos morais têm
força e podem ser adoptados pelos cidadãos. O véu da ignorância afecta a construção dos
princípios, mas não a elaboração das leis, ou pelo menos não em parte. Não há dúvida de que
nessa elaboração, os cidadãos vão argumentar a partir de seus interesses e concepções de bem,
isto é, a partir de uma razão não-pública. O critério aqui é o voto da maioria.

2.3. A excessiva restrição do âmbito da razão pública liberal


A tese da prioridade do justo sobre o bem perpassa todo o liberalismo político de Rawls. A
independência dos princípios de justiça para com as doutrinas morais abrangentes se impõe
como condição de possibilidade de um acordo. A razão pública diz respeito somente ao objecto
desse acordo, ou seja, aos “elementos constitucionais essenciais e questões de justiça básica”
(Rawls, 2005, p. 214). Isso significa que muitos aspectos ficam de fora da “argumentação
9

pública no fórum público” (2005, p. 215). É o que Rawls chama de “razões não-públicas” e dá
como exemplo vários tipos de associações, tais como as igrejas, universidades e as sociedades
científicas. Sua argumentação é pública em relação a seus membros, mas não-pública em relação
aos cidadãos em geral. A razão pública diz respeito ao “bem do público”; é a razão dos cidadãos
enquanto “corpo colectivo” (colletive body), na medida em que promulgam leis e emendam sua
Constituição (RAWLS, 2005, p. 213 e p. 214). Mas existem questões políticas que não são
objecto da razão pública, uma vez que não são elementos constitucionais essenciais.

3.O problema dos incentivos e da valorização do esforço


Outros temas de intenso debate e objecto de muita controvérsia no referente ao liberalismo
político de Rawls são o dos incentivos e o do mérito pelo esforço. Sandel os discute
apresentando algumas objecções. O alvo da crítica aqui é o princípio da diferença. Referindo-se
aos incentivos8, a pergunta de Sandel é plausível: “se os talentosos só puderem se beneficiar de
suas aptidões quando eles ajudarem os menos favorecidos, o que acontecerá se eles resolverem
trabalhar menos ou não desenvolverem suas habilidades? ” (SANDEL, 2014, p; 195). De fato, o
princípio da diferença permite desigualdades de renda, concessões de incentivos e até privilégios,
desde que isso de algum modo beneficie os menos favorecidos. Não é justo tratar os diferentes
de forma igual. Desigualdades são justificáveis e diferenças salariais, a título de incentivos, são
perfeitamente justas, desde que isso reverta em benefícios para os menos privilegiados.

3.1.Estado de Natureza
Este é o estágio prévio à inserção do indivíduo em uma estrutura sociopolítica e com instituições
artificiais. Dado que, aqui, a subjectivarão da natureza humana parte do nível individual para o
colectivo, destacam-se as seguintes variáveis explicativas do estado de natureza: liberdade,
propriedade, natureza humana e estado de guerra. Como será visto na quarta sessão, infra, esses
elementos estão relacionados à busca e à manutenção do poder não apenas na ordem interna dos
Estados, mas igualmente na internacional, tendo, portanto, maior relevância para as teorias de RI.
Acerca da liberdade, Hobbes (2005) entende que o estado de natureza corresponde ao estágio em
que os indivíduos vivem desorganizadamente em uma verdadeira anarquia, onde a liberdade
individual é total, haja vista que todos fazem o que lhes aprouver, inexistindo, assim, segurança.
Para Locke (2006, p. 36), o estado de natureza aloca os grupos de pessoas em uma espécie de
10

progressão evolutiva em que eles vivem livres e iguais, dentro dos limites do direito natural, sem
que essa liberdade implique uma similar permissividade, de modo que “um homem adquire um
poder sobre o outro; mas não um poder absoluto ou arbitrário” (Locke, 2006, p. 37).

4.Limite de contratualista
Os contratualistas defendem que a gênese da sociedade e do poder político advém de um
contrato ou pacto social, i.e., de “um acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos,
acordo que assinalaria o fim do estado natural e o início do estado social e político” (Bobbio;
Matteucci; Pasquino, 2004, p. 272). Diante de definições amplas como essa, deve-se atentar ao
agrupar teóricos políticos tão distintos e de épocas e locais tão diferentes, como se tivessem
orientações plenamente convergentes entre si. Afinal, ao versar sobre a “escola contratualista”,
está, na realidade, tratando-se de uma mesma terminologia para denotar a racionalização da força
e o sustentáculo do poder no consenso, elementos que, por excelência, também perpassam não
apenas a ordem interna de uma sociedade, mas também suas relações exteriores.

4.1.A democracia contratualista e gestão da educação


O modelo deliberativo do contrato social constrói e apresenta um ponto de vista ético-político.
Como diz Onâ, o contrato perde sua capacidade de generalizar interesses e converte-se em
garantia – segundo a ficção consensual dos interesses dominantes.
É destacável que a teoria do contrato, que funda a democracia burguesa moderna, é ponto de
partida para se compreenderem novas concepções de democracia que sobrevieram na
contemporaneidade. Nas teorias do contrato social pressupõe-se a passagem do estado de
natureza para a sociedade civil como um ato de convenção que se dá por meio de negociações e
deliberações (colectivas) que ocorreriam num espaço ético-político comum. Assim, o estado de
natureza torna-se uma espécie de ficção onde, supostamente, ocorreriam as decisões e os pactos
que instituiriam a sociedade e o Estado. Nesse sentido, faz-se necessário conceber um ponto de
vista comum de onde se institui ou se convenciona o tipo de sociedade que se deseja. Trata-se, na
verdade, de duas ficções, de dois modelos de deliberação. Uma seria a definição de condições
aceitáveis de negociação; a outra diz respeito às convenções (tipo de sociedade, Estado e, em
nosso caso, de escola) que resultariam de tal situação.
11

Há um pressuposto lúdico na concepção do contrato social e da forma como ocorre a


deliberação, o ponto a partir do qual ele se instaura, concebido como um cenário hipotético, uma
montagem esquemática, tal como o hobbesian setting ou a posição original de Rawls. De certo
modo, pressupõem- se os indivíduos que negociam o contrato como jogadores, actuando
conforme uma atitude prudencial, a racionalidade estratégica, visando à maximização do
interesse pessoal.

4.2.O contrato social


O contrato social é concebido como um tipo de jogo em que cada jogador pode e deve
considerar, simultaneamente, as perspectivas de todos os demais jogadores. A questão é saber
como integrar as diversas perspectivas para se conceber um ponto de vista comum.
A construção de uma vontade comum exige a concepção de um ponto de vista comum, que seria
moral, a partir do qual ocorreria o decreto racional instituidor da sociedade civil, ou das cláusulas
de um acordo supostamente democrático (instituidor de governos, leis, polícia, e até mesmo de
projectos político pedagógicos, currículo e critérios de avaliação escolar). Isso exigiria uma
framework (armação, estrutura) a partir da qual se responde (colectivamente) a questões sobre a
legitimidade das obrigações políticas assim assumidas. Assim, um contrato deve ser concebido
somente como um evento contextualizado, não como um evento universalizável.
De qualquer forma, na tradição contratualista se pensou num acordo com características
universalizáveis. Semelhante universalidade acompanhou- se da pretensão de neutralidade.
A tradição contratualista “apareceu” como uma alternativa mais válida, do ponto vista ético-
político, de construção teórica não fundada na “autoridade”. Trata-se de uma teorização para
legitimar a política em face da crise das estâncias legitimadoras tradicionais, como, por exemplo,
a religião e a tradição. Agora, o protagonista para se pensar a origem do Estado e das convenções
legais seria o indivíduo.
Nesse sentido é que se fala de um contrato hipotético celebrado por indivíduos autônomos, livres
e iguais, numa posição inicial (estado de natureza) adequadamente definida. Isso pressupõe uma
situação pré contratual.
Trata-se de modelos ou tipologias deliberação colectiva concebidos na forma hipotética do
“como se”. Assim, não se trata de derivar o “dever” do ser, mas de um “como se” (fosse assim).
12

As mais novas expressões da abordagem liberal contratualista são certas concepções de gestão
em rede, correlacionadas nas parcerias e convênios, bem como a proposta do “contrato de
gestão” para se escolherem directores e se avaliar a administração das escolas. Da mesma forma,
pode-se pensar o projecto político-pedagógico como sendo um momento de instauração do
contratual, no qual seria negociado o tipo de escola que se quer. Há quem fale e, mesmo,
advogue e contraponha o contrato pedagógico e/ou didáctico entre professor e alunos
(BROUSEAU, 1988; PINTO, 2003).
A legitimidade do contrato surge da forma como são construídos as regras e os valores, bem
como são tomadas as decisões colectivas, o seu procedimento. Com base na teoria do
desenvolvimento do juízo moral de Piaget, a tradição do contrato social passou a ser concebida
como a forma mais adequada de se praticar a democracia na escola, de modo a favorecer e
respeitar a formação da autonomia dos indivíduos. Contudo, cabe ressaltar que, para a tradição
liberal, a participação não é um bem em si mesmo, mas “um meio para” que a criança
desenvolva sua autonomia num ambiente não autoritário.
A deliberação democrática, enquanto exigência cosmopolita, não tem sede própria, nem uma
materialidade institucional específica (SANTOS, 1999, p. 96).
O resgate do contratualismo por Santos retoma a temática da diferença e da correlação entre o
local e o geral e do apelo à sociedade civil, à comunidade.
Destaca-se também a repulse ao Estado nacional. Esta proposta está em consonância com aquilo
que Tedesco (1998) chamou de um “novo pacto educativo”. Com este autor, a recusa da
articulação da democracia no âmbito do Estado nacional, constituído como centro de das
deliberações colectivas, liga-se a uma proposta de negociações em rede.

4.2.1.A democracia comunitarista


Identidade cultural como base para a formação São destacadas agora críticas ao contratualismo
que negam sua lógica como base para a democracia, que dão lugar a novas concepções de
participação cidadã, sobretudo aquelas em que a comunidade e as tradições tornaram-se a
referência, não mais o indivíduo.
No caso, o comunitarismo recusa o contrato social como base para a decisão colectiva, sobretudo
porque o esquema deste supõe uma abstracção dos agentes num modelo que na prática não seria
13

operacional. Entende-se agora que quem toma decisões são pessoas cuja filiação a uma
comunidade e tradição não pode ser suprimida ou depurada para se concebê-las calculando como
agentes supostos como meramente livres e racionais. Contudo, as críticas feitas pelo
comunitarismo ao princípio do contrato social não rompem com o ideário econômico liberal
mais abrangente.
A concepção comunitarista é também “historicista” e refere-se sempre a um conteúdo. A uma
ética de princípios e a uma democracia meramente procedimental opõe uma ética das virtudes, e
seu conceito fundamental é a ideia de bem comum, a ser garantido pela participação. A justiça
comunitária é definida conforme o mérito, desde que dado sempre no interior de um contexto
social, onde é compreendido como alguma forma de excelência. A razão prática é
contextualizada também no sentido de que não procura apenas construir fórmulas que dependem
do contexto, mas melhor articular o que o está implicado no contexto.
Segundo MacIntyre (2001), o eu é a unidade narrativa de uma vida humana. O eu não é o sujeito
transcendental do “iluminismo”, portador de uma razão e de uma vontade que o constitui como
autônomo, independente da história e da cultura. Assim, o comunitarismo concebe a pessoa a
partir da tradição; o eu passa a ser compreendido a partir da linguagem: “É errado separar o eu e
seus papéis da história da linguagem que o eu especifica e por intermédio da qual os seus papeis
ganham expressão” (2001,p. 72).
14

5. Conclusão

Tanto a concepção liberal quanto a comunitarista da democracia apontam para o perigo do


totalitarismo e da imposição de um bem comum a toda sociedade. Contudo, isso não pode ser um
argumento contra a reexportação de democracia baseada na soberania popular. Esta exige que a
economia não tenha autonomia diante do político, que o restabelecimento da soberania nacional
deva controlar o mercado e que um povo deva ter um projecto comum de formação nacional.
Entretanto, isso não pode ser feito sem “sobressaltos” perante o espectro do jacobinismo e do
socialismo. Tratase de redescobrir novas formas da sociabilidade democrática, que superem a
perda da ligação social provocada pelo esfacelamento das coerções e das legitimações colectivas
correlativa ao desencadeamento ilimitado do individualismo e do hedonismo democráticos. Isso
que não pode ser feito sem se questionar as possibilidades da “concordância crescente entre a
livre oferta de mercadorias, o livre sufrágio democrático e as aspirações do individualismo
narcísico”.
Os teóricos contratualistas, ao se preocuparem com a sistematização lógica e subjectivarão do
estudo clássico da política, certamente se tornam referências fundamentais para os estudos
políticos, internacionais e internacionalistas actuais, ainda que, contra seus métodos e modelos,
pesem críticas.
15

6.Referências
ACKERMAN, Bruce. Social justice in the liberal state. Bringhampton: NY Yale University
Press, 1980.
BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1997. O Estado num mundo
em transformação. Washington: BM, 1997.
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade. A busca da segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2003.
BROUSEAU, Guy. Le contrat didactique: le milieu. RDM, v. 9, n. 3, p. 309-336, 1988.
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: Os clássicos da
política, org. Franscisco C. Weffort, Ática, São Paulo 2008.
MONTEAGUDO, R. Contrato, moral e política em Rousseau. Marília: Editora da UNESP,
2010.
NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade. In: Os clássicos da
política, org. Franscisco C. Weffort, Ática, São Paulo 2008.
RECIO, Encarnación Moya; NASCIMENTO, Paulo Roberto. Introdução a Ciências
Políticas: Teoria, Instituições e Autores Políticos. Rede For, São Paulo, 2012.
RIBEIRO, Janine Renato. Hobbes: o medo e a esperança. In: Os clássicos da política, org.
Franscisco C. Weffort, Ática, São Paulo 2008.
ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social (1757), Abril Cultural, São Paulo, 1983.

Você também pode gostar