Aula 1 Introdução

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Oncobiologia

2ºCiclo Ciências Biomédicas/Bioquímica


2023-24

Cecília Santos
Planificação
BIBLIOGRAFIA

Artigos de revisão: Disponibilizados no Moodle para cada tema/aula

Livros de texto:
Weinberg R A (2014) The Biology of Cancer, Garland Science, Whitehead Institute for
Biomedical Research Ed., 864p.
Objetivos
1. Compreender a estrutura e composição celular dos tecidos epitelial e conjuntivo e da matriz
extracelular
2. Distinguir entre tumores malignos e benignos;
3. Descrever a classificação dos tumores;
4. Descrever a evolução dos tumores;
5. Identificar os fatores ambientais intrínsecos e extrínsecos, o estilo de vida, a hereditariedade e alguns
microrganismos como principais agentes causadores de cancro.
Objetivos
2. Identificar as características e mecanismos moleculares envolvidos na carcinogénese:

1) Reconhecer a importância do controlo do ciclo celular no aparecimento do cancro;


2) Identificar as vias de sinalização associadas à carcinogénese;
3) Compreender os mecanismos de ação dos oncogenes e genes supressores de tumores;
4) Descrever as vias apoptóticas e a autofagia e reconhecer a sua importância no controlo da proliferação
celular;
5) Compreender o papel dos telómeros e da telomerase na proliferação celular;
6) Compreender a importância da instabilidade genómica, da epigenética e das deficiências nos
mecanismos de reparação do ADN no aparecimento do cancro; analisar e discutir o conceito de células
estaminais cancerosas.
7) Reconhecer a importância da angiogénese no crescimento tumoral e identificar factores promotores e
inibidores da angiogénese;
8) Compreender a importância da constituição da matriz celular e dos mecanismos de adesão celular na
proliferação e metastização dos tumores;
9) Identificar as condições necessárias à metastização dos tumores e os mecanismos subjacentes a este
processo;
10) Analisar o papel do sistema imunitário na eliminação de células cancerosas e na imunoterapia;
Objetivos

3. Analisar e interpretar estudos no âmbito da oncobiologia: identificar os métodos


laboratoriais mais usados e a sua adequação; desenhar experiências para responder a
questões científicas no domínio do cancro
4. Conhecer algumas metodologias experimentais de investigação no cancro e discutir a sua
aplicabilidade,

5. Realizar e interpretar os resultados de técnicas laboratoriais usadas em oncobiologia:


1) Executar ensaios de imunohistoquímica com marcadores tumorais em cortes de parafina de
tumores; colorações com hematoxilina e eosina;
2) Cultivar linhas celulares de cancro;
3) Executar ensaios de avaliação da proliferação celular;
4) Executar ensaios para avaliação da apoptose;
5) Executar ensaios de migração celular.
Avaliação
1. Obtenção de frequência- 100% das aulas práticas e 60% das aulas teóricas-práticas

i) Duas frequências (F1 e F2) com perguntas de escolha múltipla - 70% da nota final.

ii) Revisão bibliográfica (AR) - 10% da nota final que será efetuado em grupos de 3-4 alunos.

iii) Artigo científico (RP)- 10% da nota final;

iv) Apresentação destes trabalhos a todos os colegas na forma de comunicação oral (AP)-5%
para a apresentação de cada trabalho

v) Os alunos obtêm aprovação na disciplina se a classificação por frequência calculada pela


fórmula abaixo for ≥ a 9,5, desde que a média das duas frequências seja (F1+F2)/2 ≥9:

((F1+F2)/2)) x 0,70 + RP x 0,10+ AR x 0,10+ARPx0,05+AARx0,05


“Nothing in life is to be feared, it is only to
be understood”.
Marie Skłodowska-Curie (1867-1934)

Marie Skłodowska-Curie, foi uma física e química polaca naturalizada francesa que conduziu
investigação pioneira sobre a radioatividade. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel, sendo
também a primeira pessoa e a única mulher a ganhá-lo duas vezes, além de ser a única pessoa a ser
premiada em dois campos científicos diferentes. Primeiro em 1903 pelas suas contribuições para a Física. Em
1911 voltou a ser a laureada com o prémio Nobel da Química.
O cancro começa nas células

Alterações genéticas e epigenéticas


CANCRO
As células estão organizadas nos tecidos que formam os órgãos
https://www.youtube.com/watch?v=2vn7b46V3eY&t=44s
https://www.youtube.com/watch?v=kZqMxjH4fbY&t=170s
Epitélio pavimentoso estratificado

Colo do utero

Pele
Epitélio glandular

Estômago
Epitélio colunar

Intestino delgado
Junções celulares

Junções de oclusão “tight junctions”


Junções de adesão “adherens junctions” (zonula adherens) e
Desmossomas- mantêm as células unidas por moleculas de adesão (caderinas).
Polaridade das células epiteliais
• Num epitélio polarizado a composição das membranas celulares difere entre a
membrana apical e a membrana basolateral

• A expressão das proteinas da lamina basal e das junções intercelulares no


cancro diminui levando à perda da polaridade e ao favorecimento da
proliferação
Tecido conjuntivo
Em que órgãos surgem os cancros?
Tumores benignos
• Benignos: crescem localmente sem invadirem tecidos adjacentes mas
podem causar danos por compressão de outros órgãos ou produção
excessiva de compostos:
Ex: adenomas da tiróide e da pituitária, miomas uterinos, lipomas, pólipos intestinais
Tumores malignos=cancro
•Malignos: invadem tecidos vizinhos e libertam células que
migram para outros órgãos formando metástases
(associadas a 90% das mortes causadas por estes tumores)
Tumores malignos
•Aglomerados de células que perderam a capacidade de formar tecidos com a
organização, função e arquitetura normais
•As células têm a capacidade de crescer para além da membrana basal
•Podem ainda sofrer alterações que lhes conferem motilidade e adaptabilidade a
outros ambientes podendo metastisar

https://www.youtube.com/
watch?v=IeUANxFVXKc
Tumores Benignos vs Malignos

A rutura da membrana basal está associada à malignização dos tumores


Tumores malignos de origem epitelial
Das células pavimentosas-derivam de cels epiteliais com
função de protecção (pele, cervix)
Carcinomas
80% dos tumores
Adenocarcinomas-derivam de células epiteliais com
função secretora (mama, estomago)
Tumores Benignos vs Malignos

A rutura da membrana basal está associada à malignização dos tumores


Tumores Benignos vs Malignos

A rutura da membrana basal está associada à malignização dos tumores


Tumores Benignos vs Malignos
Adenocarcinomas

A rutura da membrana basal está associada à malignização dos tumores


Tumores não epiteliais-sarcomas
Origem em células do tecido conjuntivo que derivam da mesoderme embrionária,
células mesenquimatosas (fibroblastos, adipócitos, osteoblastos e miócitos)
Sarcomas
• Derivam das células dos tecidos moles ou dos tecidos ósseos e cartilagineo
• São pouco comuns
• Sarcomas de tecidos moles-gordura, músculos, nervos, tecidos fibrosos, vasos
sanguíneos ou tecidos profundos da pele.
• Podem ser encontrados em qualquer parte do corpo.
• Mais frequentes nos braços ou pernas, mas podem surgir no tronco, cabeça e
pescoço, nos órgãos internos e na área posterior da cavidade abdominal em
posição retro peritoneal.
• Tendem a invadir os vasos sanguíneos com tendência a formar metástases nos
pulmões

https://www.cancer.net/navigating-cancer-
care/videos/cancer-research-news/sarcoma-
%E2%80%93-introduction-with-dr-robert-maki
Cancros hematopoiéticos
Origem em células hematopoiéticas e do sistema imunitário-leucemias e linfomas

• Leucemia-doença maligna, da medula óssea, atingindo mais frequentemente os


precursores dos globulos brancos: podem ser da linhagem linfoide - leucemia
linfoblástica - ou mieloide - leucemia mieloblástica - ou seja dos precursores que
vão dar origem aos linfócitos ou aos outros glóbulos brancos;
• Existem dois tipos - agudas e crónicas - e diversos sub-tipos
• Leucemias agudas-proliferação das células mais imaturas que não chegam a
células maduras.
• Leucemias crónicas- as células tumorais são mais diferenciadas e o crescimento da
doença é mais lento;
• Existem essencialmente a leucemia linfática crónica ou aguda e a leucemia
mieloide crónica ou aguda.
As células de leucemia mielóide aguda (LMA) têm
Leucemias linfocíticas agudas apenas uma pequeno citoplasma ao redor de
(ALLs) surgem de linhagens de grandes núcleos. Derivam de células precursoras da
linhagem que forma vários tipos de granulócitos, e
linfócitos-B (80%) e de linhagens monócitos, estes últimos se desenvolvendo em
de linfócitos-T (20%). macrófagos.
Cancros hematopoiéticos
Linfoma não Hodgkin vs Linfoma de Hodgkin
• Cancros que se desenvolvem no sistema linfático
• Os linfócitos afetados começam a se multiplicar de forma anormal e a
acumular nos gânglios linfáticos onde surgem tumefações indolores
geralmente no pescoço, axila ou virilha.
• Os linfócitos afetados perdem propriedades de combate à infeção
• A principal diferença entre o linfoma de Hodgkin e o linfoma não Hodgkin está
nos linfócitos específicos que sofrem transformação maligna. O linfoma de
Hodgkin apresenta um tipo específico de célula anormal chamada célula de
Reed-Sternberg.

As células de Reed-Sternberg representam menos


de 1% do tecido tumoral, enquanto a maioria das
células no tecido inclui linfócitos- e B, eosinófilos,
macrófagos e células plasmáticas.
Cancros do sistema nervoso central e
periférico
Origem em células do sistema nervoso central e periférico-gliomas,
neuroblastomas, schwanomas e meduloblastomas que derivam da
neuroectoderme
Astrócitos Glioblastoma

Gânglios
simpáticos
Camada granular Meduloblastoma do sistema
nervoso
periférico

Neuroblastoma
Oligodendrócito Oligodendroglioma
Outros tipos de tumor
•Melanomas que derivam de células da crista neural
Evolução dos tumores
•Entre o tecido normal e um tumor maligno agressivo,
existem muitos estádios de aparência intermediária
nos tecidos:
Hiperplasias- muito semelhantes aos tecidos normais mas
com um número excessivo de células
Metaplasias-quando células normais são substituídas por células de aparência
normal de outro tecido; são frequentes em regiões de transição
Displasias
Contêm células citologicamente anormais e são consideradas
Pólipo do cólon estados de transição entre aglomerados de células
benignas e pré-malignas :
– Núcleos de tamanhos variáveis
– Aumento da razão entre o tamanho do núcleo e
tamanho do citoplasma
– Aumento da atividade mitótica
– Perda de características citoplasmáticas das células
normais

Ductal carcinoma in situ (DCIS) pólipos


Exs: pólipos adenomatosos
adenomas
papilomas
•Contêm todos os tipos celulares
encontrados no tecido normal
•Formam massas macroscópicas que não
invadem o tecido conjuntivo
•Têm características displásticas
A maior parte dos cancros desenvolve-se ao longo de décadas

Figure 13.39b The Biology of Cancer (© Garland Science 2007)


Cancro colorectal
As alterações genéticas e epigenéticas vão-se
acumulando à medida que o tumor progride

LOH

TSG

➢ Explicar a metastização preferencial para o


fígado
➢ Explicar a importância dos rastreios do CCR
Classificação de tumores
Características das células cancerígenas
Características emergentes

Proliferação Evasão aos supressores


independente de crescimento

Desregulação do Evasão ao sistema


met. energético imunitário

Resistência à Imortalidade
apoptose replicativa

Instabilidade genómica, Inflamação como


mutações e epigenética promotor dos tumores
Indução da Invasão e
angiogénese metástase

Agentes facilitadores
Características fenotípicas das células cancerígenas

•Aumento do tamanho e número de nucléolos


•Aumento da razão núcleo/citoplasma
•Retração do citoplasma
•Formação de agregados e cordões de células
•Pleomorfismo celular
•Variações no tamanho e forma do núcleo
•Perda de inibição de crescimento por contacto
Alterações bioquímicas
•Alterações nos padrões de glicosilação de glicolípidos,
glicoproteínas e proteoglicanos da superfície celular e nas
mucinas
•Alterações nos sistemas de transporte membranares que se
tornam mais eficientes nas células transformadas
•Aumento das enzimas envolvidas na síntese de ácidos nucleicos
•Aumento das enzimas líticas (proteases, glicosidases,
colagenases)
•Predomínio da glicólise em vez do ciclo de Krebs como fonte de
energia- Efeito de Warburg
Alterações no metabolismo da glicose
PET-Scan

Mostra a absorção de glicose


marcada com um fluoróforo
numa massa tumoral
Agentes causadores de cancro

•Hereditariedade
•Fatores ambientais
•Fatores associados ao estilo de vida
•Ambiente hormonal
•Inflamação crónica
• Agentes patogénicos: bactérias, vírus,
fungos e alguns parasitas)
Hereditariedade
•A incidência de determinados tipos de cancro está
associada à frequência de determinados alelos que
aumentam a susceptibilidade ao cancro
•Cancros hereditários: retinoblastoma, poliploidia multipla
familiar do cólon, alguns cancros da mama associados a
mutações no BRCA1/2
•Susceptibilidade aumentada a carcinogénios: Xeroderma
pigmentosum, polimorfismos que afetam a capacidade
de metabolizar xenobióticos
•Os cancros hereditários representam menos de 20% de
todos os cancros
Factores ambientais
•Contaminação do ar, água e alimentos por agentes
carcinogénicos: herbicidas, químicos industriais,
derivados do alcatrão, fibras de asbestos (amianto e
fibrocimento)
•Radiação UV e radiação ionizante (radão, raios X)
Fatores ligados ao estilo de vida

40% dos cancros podem ser prevenidos com a adoção de estilos de vida saudáveis
Factores ligados ao estilo de vida

•Consumo de tabaco
•Dieta
•Exercício
•Exposição solar
•Comportamento sexual e reprodutivo
• Exposição aos estrogénios
• Amamentação
• Nuliparidade
• Exposição ao vírus do papiloma humano e cancro
cervical
Ambiente hormonal e desregulação endócrina
•Hábitos reprodutores- a incidência de cancro da mama é superior em mulheres
nuliparas e que nunca amamentaram

•Desregulação endócrina-a exposição a químicos que mimetizam a ação de


hormonas (disruptores endócrinos, EDCs) são suspeitos de contribuírem para a
incidência do cancro da mama ao alterarem os níveis teciduais de hormonas,
alterações na expressão dos receptores hormonais, transporte das hormonas e
seu metabolismo

•Estudos recentes têm mostrado que os efeitos da exposição pré-natal aos


xenoestrogénios tém um impacto superior à exposição na vida adulta no
aumento da incidência de tumores da mama, vagina e útero em modelos
animais. Estes dados têm sido corroborados por estudos epidemiológicos em
particular no que se refere ao cancro da mama.
Agentes patógenicos
Originam tumores através de 3 mecanismos principais:
• Infeção persistente que causa inflamação e dano ao DNA através da libertação
de espécies reativas de oxigénio (ROS) pelos macrófagos que usam este
mecanismo para eliminar microorganismos
• Expressão de oncogenes
• Atividade imunossupressora do hospedeiro
Microorganismo Tipo Tipo de Cancro Modo de Acção
Helicobacter Bactéria Gástrico Secreção de amónia -> gastrite
pylori crónica
Fusobacterium Bactéria Colorretal Induz a proliferação
nucleatum Criação de ambiente pro-
inflamatorio
Epstein-Barr Vírus Gástrico (10%) Metilação do genoma das células
(EBV) Burkitt’s hospedeiras
lymphoma

Hepatite B (HBV) Vírus DNA Carcinoma Inflamação crónica, fígado gordo


Hepatite C (HCV) Virus RNA Hepatocelular
Virus papiloma Vírus DNA Cérvix Diminuição apoptose e
humano (HPV) mecanismos de reparação do DNA
induction, desregulação do ciclo
celular
Kaposi’s Sarcoma pele, boca,
Herpesvirus nariz, nódulos
(KSHV) linfáticos
Aspergillus Fungo Carcinoma Produção de aflotoxina que
Hepatocelular provoca a formação de aductos de
Inflamação crónica
Inflamação crónica
Oncovírus

• The Rous sarcoma virus was the first oncovirus identified in early 1900s:
http://www.dnatube.com/video/286/Rous-Sarcoma-Virus-RSV--classic-
experiment

• Demonstration in 1980 of the first human retrovirus, human T-cell


leukemia virus type 1 (HTLV-1), which causes adult T-cell leukemia, was
another important landmark

• Dr. Harald zur Hausen of Germany won the Nobel Prize in 2008 for his
discovery in 1983 that HPVs cause cervical cancer.

• It is now estimated that 20%-25% of human cancers worldwide have a


known viral aetiology
DNA Virus-HPV
https://www.youtube.com/watch?v=WSL8rBMWW1Y&t
=86s

RNA Virus-HCV
http://www.youtube.com/watch?v=ZJ0wQ4sTAwQ
Mecanismos de ação dos oncovírus

• Contêm sequencias de genes que aumentam a proliferação celular


-protooncogenes

• Integração no genoma a montante dos proto-oncogenes-


mutagénese insercional

• A sobre expressão das proteínas de replicação podem induzir


proliferação celular anormal
Oncovirus

• Oncogenes encode proteins that control cell proliferation, apoptosis, or both.

• Alterations in the control of their expression or in the structure of the proteins


they encode lead to their activation as oncogenes driving cell proliferation out
of control

• Many oncogenes were identified in genomes of rapidly transforming


retroviruses: Rous sarcoma virus, avian erythroblastosis virus and Harvey
sarcoma virus

• Afterwards, it was found that cells exposed to chemical carcinogens and cells
derived from spontaneous human tumors expressed potent transforming
genes related to those carried by retrovirus without any association with
viral infections
Oncovírus
Carcinogénios vs mutagénios

•A maior parte dos carcinogénios físicos e


químicos induzem mutações
•Todos os mutagénicos são carcinogénicos mas
nem todos os carcinogénicos são mutagénicos

•Pro-carcinogénios vs carcinogénios
Experiências de Ames

Figure 2.24 The Biology of Cancer (© Garland Science 2007)


Figure 2.25 The Biology of Cancer (© Garland Science 2007)

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