Relatório Infância - Alana Gabriela Gabrielly

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UNIVERSIDADE NILTON LINS

CURSO DE PSICOLOGIA

RELATÓRIO OBSERVACIONAL

MANAUS - AM
2023
ALANA FERREIRA DE PAIVA FRAZÃO MATRÍCULA: 23016657
GABRIELA ROCHA DA SILVA MATRÍCULA: 23000538
GABRIELLY YASMIN SILVA PADILHA MATRÍCULA: 23002422

RELATÓRIO OBSERVACIONAL

Relatório Observacional apresentado para a disciplina


Psicologia e Infância, ministrada pela Profº Esp. Maria
Fernanda Santos Rodrigues, como requisito para
obtenção da nota parcial da avaliação institucional do
curso de Psicologia.

MANAUS - AM
2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4

DESCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES ....................................................................................... 7

OBSERVAÇÃO 1 .................................................................................................................. 7

OBSERVAÇÃO 2 .................................................................................................................. 9

OBSERVAÇÃO 3 ................................................................................................................ 11

RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................ 13

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 19

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 20

ANEXO I – FOTOS DA ATIVIDADE ................................................................................... 22

ANEXO II - GENETOGRAMA .............................................................................................. 26

ANEXO III – ANAMNESE ..................................................................................................... 27

ANEXO IV - PLANTA BAIXA DA CASA ............................................................................ 34

ANEXO V - AUTORIZAÇÃO DOS PAIS ............................................................................. 35


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INTRODUÇÃO

Segundo o ECA (1990), “a infância é um direito fundamental na estruturação do


indivíduo, onde a sociedade e a família devem assegurar a criança e ao adolescente absoluta
prioridade, tendo como direito à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a
profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e
comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”. A psicologia traz alguns teóricos que abordam a
temática infância, será discorrido de forma sucinta sob o ponto de vista teórico de alguns deles.
A infância para Sigmund Freud (1905), desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento da personalidade, Freud criou uma ideia de que a infância era dividida em
fases, chamada de fases psicossexuais, cada fase aborda uma característica especifica do
desenvolvimento da criança. Fases oral, anal, fálica, latência e genital, Freud descreve que o
desenvolvimento das fases Psicossexuais culmina na maturidade.
Melanie Klein, foi uma das grandes contribuintes para a psicanálise infantil e teve suas
teorias voltadas para a infância, o livro a “Psicanálise de crianças” lançado em 1932 faz
referência a toda sua obra, Melanie apostou em teorias que afirmam que a infância desempenha
um papel importante no desenvolvimento da personalidade e na compreensão das dinâmicas
emocionais. Os pontos de vista principais de Klein é o contexto da fase depressiva, a
importância de brincar e fantasiar como forma de expressão das emoções, entre outras teorias
que discorrem acerca dos sentimentos mais complexos. Para Klein a infância é um dos períodos
de grande relevância pois é a partir do desenvolvimento emocional que as crianças constroem
suas relações com o mundo ao seu redor e seus cuidadores.
Segundo Piaget (1977) cada vez que ensinamos antecipadamente a uma criança alguma
coisa que poderia ter descoberto por si mesma ao longo do tempo essa criança foi impedida de
inventar e, consequentemente, de entender completamente. o objeto de conhecimento, e os
novos esquemas se formam a partir de outros, coisas anteriores adquiridas. A educação não
pode se contentar em apenas ensinar. O verdadeiro sentido da educação infantil deve ser o de
contribuir para o desenvolvimento da criança a fim de que esta realize todas as suas
possibilidades e responsabilidades humanas características do período de desenvolvimento em
que que no momento, fazendo com que a criança se desenvolva.
Para Piaget começa a ser demonstrado um pensamento concreto na fase de 8 a 12 anos
de idade, as normas sociais já começam a fazer sentido pra a criança. Nessa fase as crianças já
começam aprender a desenvolver, conceitos de caracterizaram e pensamentos lógicos e
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concretos, fazendo com que a criança entenda o que é um copo fino e largo ou um copo baixo
e grosso comportam a mesma quantidade de líquido que será introduzido. Nessa faixa etária, o
desenvolvimento da criança já contempla conhecimentos sobre regras sociais e sobre o senso
de justiça.
Segundo Bentzen (2012), sem a capacidade de observar – de “ver” e de “ouvir” – de
forma significativa, não poderíamos interagir eficazmente com as crianças sob nossos cuidados.
Sendo assim, não conseguiríamos de fato auxiliar essa criança no que precisa, além de não ser
possível entender o seu desenvolvimento e crescimento e com isso ajudá-la a interagir e de
forma positiva auxilia-las em suas fases.
Na observação é possível de fato enxergar o desenvolvimento da criança, a construção
de suas habilidades sociais assim como a sua personalidade em diversos tipos de situações que
lhe forem apresentadas. No entanto Brandt (1972), indica que a observação é dependente da
atenção, e a atenção é necessariamente seletiva.
Goodwin e Driscoll afirmam que as emoções são especialmente adequadas para
métodos de observação (1986), nesse contexto entende-se que em uma observação infantil é
possível ver como a criança realmente se mostra, sem qualquer teste ou questionamentos e
principalmente sem a sensação de ser validado por um adulto ou pelo seu responsável.
Entretando é de suma importância o entendimento de que não é apenas o olhar para a
criança de forma “banal” e sim entender o que está sendo observado e como se deve utiliza-la
de forma precisa para coletar os dados corretos referente ao menor.
O objetivo principal do nosso relatório foi trazer a vivência, além das experiências do
nosso assistido em torno da terceira infância e como os fatos que ocorreram ainda na primeira
e segunda infância trouxeram como reflexo para o dado momento em que se encontra e o que
pode ser gerado de positivo e negativo durante a sua adolescência e consequentemente a fase
adulta.
Nesse ponto, acreditamos que conseguimos absorver em nossa primeira experiência em
relação a uma pesquisa norteada a um menor muito mais do que se encontra nos livros, pois
com a anamnese e a observação foi possível aprendermos pessoalmente sobre o
desenvolvimento, além de toda a perspectiva teórica e pessoal além de suas interações pessoais.
Com isso, acreditamos que essa primeira experiência foi enriquecedora e trouxe consigo
muitos ganhos tanto para a nossa aprendizagem pessoal quanto profissional, além de nos
incentivar a seguirmos nossa caminhada com precisão, seguindo os tipos de abordagens para
um melhor resultado para o menor.
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Um dos caminhos norteadores que usamos, foi abdicar de qualquer preconceito e


achismos referente a este menor e sua família, onde a partir desses momentos começamos a nos
posicionar como discentes de psicologia e conseguimos levar os ensinamentos aprendidos em
sala de aula, para conseguirmos entender e obter todo o resultado que nos foi solicitado, o
entendimento acerca de alguns teóricos como Klein, Freud, Piaget foi de extrema importância,
uma vez que a partir desse entendimento foi possível observar comportamentos e necessidades
daquela criança.
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DESCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES

OBSERVAÇÃO 1
Observadoras: ALANA PAIVA; GABRIELA ROCHA; GABRIELLY SILVA.
Dia: 17 de outubro de 2023.
Hora do início da observação: 18:35h
Hora do fim da observação: 20:10h.
Local de observação: Quarto
Condições do local: Limpo e organizado

Ao iniciarmos nossa primeira observação fomos recepcionados com um lanche que a


mãe do assistido fez de boas-vindas, chamamos o menor algumas vezes juntamente com seu
primo mais velho que mora na mesma residência, onde após algumas relutâncias aceitou lanchar
a mesa com todos.
Durante o lanche o assistido se sentou no sofá, ficou bastante atento na conversa e
comeu bastante, repetindo o lanche. Ficou calado durante todo esse tempo, porém durante a
conversa fluía pode-se perceber que de vez em quando ele dava um sorriso tímido, meio torto,
mas que parece ser obediente e também calado.
Em um momento mostrou seus gatos, que tem muito cuidado e carinho, conversou com
o seu primo que tem quase a mesma idade e que percebe tem uma amizade muito próxima por
morarem juntos e terem quase a mesma idade.
Ao finalizar, pegou sua louça e a lavou e organizou os pratos e limpou a pia indo em
seguida com a permissão da mãe para o quarto onde todos os dias é liberado duas horas para
ficar no computador jogando.
Ele gosta de jogar ROBOX, onde fica muito concentrado e ao ter qualquer dúvida
referente ao jogo logo pede ajuda ao primo. Durante esse momento, ao ser questionado disse
que está no sexto ano e que sempre gosta de jogar no escuro e que sabe cada detalhe do jogo.
Disse que gosta muito dos seis gatos, mais que sente muita falta do Bruce, seu antigo
gato que foi atropelado. Percebeu-se que sempre que não gosta de um jogo diz que está
“enjoado” dele e logo já escolhe outro. As vezes joga apenas por jogar e nem sabe ao menos do
jogo, porém rápido mexe no teclado e aprende o mesmo.
Ao pedirmos para que ensinasse o que estava jogando, prontamente aceitou e ensinou o
passo a passo com muita timidez, mas além de ensinar ajudou a escolher o melhor carro e nome
de jogadora.
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Não gosta de redes sociais e as vezes assiste YouTube, pois prefere usar a internet para
jogar. Disse também que gosta mais ou menos da escola não dando muitos detalhes e logo
seguiu dizendo que não gosta de jogos de apostas de corrida, que costuma dormir as 23 horas e
gosta de conversar com o irmão mais velho e com seu primo.
Disse que não costuma jogar na rua por falta de crianças, que gosta do Dj Alok e de
músicas internacionais e que não gosta muito de contato físico.
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OBSERVAÇÃO 2
Observadoras: ALANA PAIVA; GABRIELA ROCHA; GABRIELLY SILVA.
Dia: 19 de outubro de 2023.
Hora do início da observação: 18:40h
Hora do fim da observação: 20:00h
Local de observação: Beco onde fica a casa do assistido
Condições do local: Salubre

Ao chegarmos na casa do assistido, o encontramos em frente de casa em um beco onde


mora junto com a mãe e com a prima, onde estava brincando de cubo mágico sozinho, mas sem
apresentar nenhum desconforto.
Em um dado momento uma colega do beco o chamou para brincar junto com sua prima
que prontamente aceitou. Nesse momento eles chamaram a discente Gabrielly para brincar de
bola e ficaram brincando do jogo “03 cortes”.
Durante o jogo foi possível vê-lo sorrir e brincar. Em dado momento a bola furou e ficou
aguardando com paciência para que conseguíssemos uma bola nova e até mesmo riu quanto a
situação.
Percebeu-se essa interação com os amigos e com a prima, que estavam tentando
entender como jogar o cubo mágico e ele prontamente tentando explicar para elas e pareceu
muito interessado e proativo.
Brincou bastante de bola, em alguns momentos era possível perceber essa interação com
os amigos, ficava animado e sorria bastante ao acertar com força a bola. Quando as outras
crianças do beco começaram a vê-los também se juntaram e decidiram jogar queimada.
Foi possível perceber um início de interação com as outras crianças e como ele fica
animado com as outras crianças da mesma idade e como também pelo menos naquele momento
o acolheram.
Durante o jogo ele conseguiu se soltar, sorriu bastante e conversou com todos os colegas.
A mãe disse que foi a primeira vez que ele brincou com as crianças, pois é muito tímido.
Porém durante o tempo de observação naquele dia foi percebido que a falta de internet
que foi o real motivo para não está dentro de casa o possibilitou a ter essa oportunidade de
interação com as outras crianças.
Na verdade, embora exista uma certa introspecção e até mesmo em alguns momentos
uma vergonha ou um sorriso tímido, quando ele se junta e consegue ter um contato com as
crianças da mesma idade é perceptível como outra criança é mostrada.
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Entretanto, quase ao final da observação houve uma situação em que uma colega menor
passou da linha da queimada e ele ficou muito chateado por ela não ter seguido a regra do jogo
e nesse momento correu para a rua para se esconder. Não sabemos se foi por um acesso de
raiva, mas fomos atras dele e pedimos para voltar.
Não houve relutância, nos pediu desculpas e explicou o que aconteceu e nesse momento
a única coisa que podemos fazer foi avisar que era muito perigoso ir para a rua por causa dos
carros e que quando houvesse um novo episódio parecido ele poderia fazer a respiração “cheira
uma flor e sopra uma vela” para lhe ajudar. Ele fez a respiração e disse que continuaria e que
tentaria não repetir o ato.
A mãe naquele momento não falou nada, e após o ocorrido voltou para a brincadeira
com as outras crianças como se nada tivesse acontecido e com um sorriso no rosto. Nosso
horário finalizou, nos despedimos e ele continuou brincando até que desse o horário da mãe
chamá-lo.
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OBSERVAÇÃO 3
Observadoras: GABRIELLY SILVA.
Dia: 30 de outubro de 2023
Hora do início da observação: 18:30h.
Hora do fim da observação: 20:30h.
Local de observação: beco onde fica a casa do assistido.
Condições do local: Salubre

Logo na minha chegada ele começou a jogar bola, muito paciente e bastante falante, os
gatos estavam na rua e com carinho colocou a gata para dentro de casa para não baterem a bola
nela.
Voltou a brincar de bola sem nenhum problema e percebeu o interesse do menor em
moto, não é competidor ao jogar bola e citou que não é muito bom em jogar o esporte por isso
prefere ficar na dele, não compete com quem é maior que ele. Percebeu-se que sua defesa é
chutar a bola para longe para não competir, sempre brincando sem empurrar e no seu limite.
Se mostrou curioso ao olhar a casa dos vizinhos, muito calado a todo tempo e quando
começa a jogar bola atrapalha as pernas. Em um dado momento foi oferecido por um amigo
refrigerante e o mesmo não aceitou.
Ao decorrer da brincadeira ele insinuou brincar de “porrada”, mas não foi adiante.
Percebeu-se que sempre segura os amigos para conseguir o domínio da bola (segura pelo braço).
Por um tempo novamente saiu da vista da mãe e saiu para brincar e correr em uma parte distante
da casa, e ao retornar começou a jogar a bola na parede como se estivesse chateado por não ter
conseguido chutar a bola da forma que deveria e isso fez com que o mesmo ficasse chateado.
Ao ver a sandália jogada no chão foi guardar em casa, muito sorridente com a mãe e
chateado ao mesmo tempo, quando ele decidiu guardar a sandálias em casa, pediu de sua mãe
para que parasse de brincar na rua e sua mãe disse que não pois ela disse que ele iria ficar de
“cara no celular”. Ele parava na frente de casa com os primos e amigos para descansar e
reclamar de não poder entrar em casa.
Em seguida quando percebeu que as meninas pararam de brincar, começou a brincar
com a mãe de jogar a bola para o alto e ver quem alcança e nesse momento se tornou mais
competitivo e começou a jogar com mais força e sendo mais competitivo, o que foi interessante
de ver.
Em seguida sua mãe me chama enquanto ele está brincando para conversar para explicar
um pouco do seu comportamento nestes momentos dizendo que ele estava de castigo pois tinha
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havia sido “malcriado” na igreja , aconteceu que havia o momento de comer um pão e passar
para o colega do lado , porém ele não quis passar e preferiu jogar no chão ao dar para o colega,
porém uma pessoa que o conhecia chegou e conversou com ele fazendo com que ele se
acalmasse , fazendo com que ele pegasse o pão do chão e o jogasse no lixo em seguida pegou
um novo pão e deu na mão do colega , e isso foi passado para a mãe e ela como um estilo de
correção o tirou do seu conforto que seria a tela do computador e mandando ele brincar na rua.
No final, novamente saiu da vista da mãe e ao retornar voltou para perto de sua casa e
nesse momento sentou e parou de jogar, ficou alguns minutos sentado e sua mãe decidiu colocá-
lo para dentro e assim chegamos ao fim da nossa última observação.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a observação foi relatado que o pai está ausente desde 2019 por uma
eventualidade atípica pois foi preso por um crime que não cometeu (mãe acredita fielmente
nisso), e até o momento está aguardando soltura pois a família demorou para conseguir pagar
um advogado por condições financeiras.
Além disso, a mãe informou que a família aguarda a soltura para o final do ano,
entretanto até essa época o pai sempre esteve ativo em todas as fases de sua vida e após o
ocorrido percebe-se que o menor usou toda afetividade paterna para o irmão e que a mãe além
de ser a favor também incentiva ambos que ambos precisam cuidar um do outro como pai e
filho.
Para Aberatury (1991), o lugar do pai, entre seis e doze meses, não é tão destacado na
literatura, como acontece com a figura materna, no entanto, o contato corporal entre o bebê e o
pai, no cotidiano, é referência na organização psíquica da criança, devido à sua função
estruturante para o desenvolvimento do ego. No segundo ano de vida, já existe a imagem de pai
e de mãe, e a figura paterna fica mais acentuada e tem a função de apoiar o desenvolvimento
social da criança, auxiliando-a nas dificuldades peculiares a este período e no desprendimento
necessário da criança aos costumes da situação familiar, mantidos pela mãe.
As teorias psicológicas e as pesquisas científicas afirmam e fundamentam o papel da
figura paterna no desenvolvimento e no psiquismo infantil. É pressuposto da teoria psicanalítica
o papel estruturante do pai, a partir da instauração do complexo de Édipo. Na trama familiar, o
sujeito se constrói e sai do estado de natureza para ingressar na cultura. Freud, em seu trabalho
Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, afirma: "na maioria dos seres humanos,
tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de
qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada".
Para Aberastury, o pai representa a possibilidade de o equilíbrio pensado como
regulador da capacidade da criança investir no mundo real. A necessidade da figura paterna no
processo de desenvolvimento infantil ocorre entre seis e doze meses, quando a criança se vê
inserida no triângulo edípico, denominado organização genital precoce, e, na adolescência,
quando a maturação genital obriga a criança a definir seu papel na procriação, havendo um
movimento mais intenso na adolescência para que o filho alcance maior autonomia.
O distanciamento entre o homem e os demais membros do núcleo familiar denuncia-se
na fragilidade do vínculo estabelecido entre pai e filho, principalmente quando se trata de
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crianças do sexo masculino. Penetrar este silêncio e entender a questão do pai, tendo como eixo
a identidade masculina, culturalmente determinada, tem sido tarefa de estudos, que colocam em
perspectiva experiências contemporâneas de paternidade. O pai exercia o poder na casa, com
força para manter o círculo vicioso em que a família estava secularmente encerrada.
Sua autoridade valia tanto para os filhos como para a mulher, que dele dependia
economicamente e a
quem se submetia de acordo com as regras estabelecidas. A importância do pai, do patrimônio
e da religião reduziu, expressivamente, o espaço físico e sentimental da criança.
A partir de um estudo de caso clínico e de uma rigorosa revisão da literatura, relacionada
à importância da figura paterna na vida dos filhos, Eizirik e Bergamann afirmam que a ausência
paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da
criança, bem como influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.
O menor relata que não gosta da escola pois os colegas de aula não legais com ele,
jogam bolinhas de papel na sua cabeça e as vezes lhe chamam de burro, anteriormente durante
a anamnese a mão também relatou que o menor trocou de escola pois a antiga professora em
determinado momento o chamou de burro e percebeu que isso além de magoa-lo, afetou muito
em relação a não se sentir mais feliz em ir a escola e fazer sua atividades.
Para Vigotski (1995), a história do desenvolvimento cultural de uma criança conduz ao
desenvolvimento de sua personalidade, de tal forma que ela se constitui por meio dos outros.
Nesta perspectiva é inconcebível dar crédito aos discursos inatistas que defendem a estrutura
genética da pessoa como responsável por suas ações e condutas. O termo bullying é utilizado
inadequadamente, principalmente pela mídia, para se referir a toda e qualquer manifestação ou
ato de violência e/ou conflito.
O bullying caracteriza-se como uma forma de violência específica com características
e consequências próprias em sua manifestação. Trata-se de violência contínua e intencional que
acontece entre os pares, sendo definido, por Fante (2005), como: Um conjunto de atitudes
agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou
mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações,
apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos
que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além
de danos físicos, morais e materiais são algumas das manifestações do comportamento bullying.
(FANTE, 2005). A opção por explicitar o bullying em articulação com a estrutura social mais
ampla justifica-se diante da necessidade em se perceber a realidade de determinado assunto em
sua totalidade. Um olhar mais amplo para a totalidade do bullying escolar possibilitará uma
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ampliação dos debates empreendidos até agora, ao favorecer uma análise explicativa do
fenômeno em oposição à sua descrição imediata. Dentre as diversas formas de violência que
podem ocorrer em ambientes permeados por relações sociais, vem ganhando destaque nos
últimos anos o bullyingem ambientes escolares. Embora não haja consenso na literatura sobre
sua definição, de acordo com Almeida, Lisboa e Caurcel (2007), Freire e Aires (2012), Nashiki
(2013), Olweus (1995), Paul, Smith e Blumberg (2012) e tal violência ocorre por meio da
perseguição e intimidação de um aluno por um ou vários companheiros de escola. As situações
são marcadas pela intencionalidade de causar danos e sofrimentos, pela repetitividade das
ocorrências de violência, bem como pela assimetria de poder no controle ao outro. Em oposição
a essa conceituação, Francisco e Libório (2011) afirmam que, para além dos aspectos ligados
às questões mais individualistas, seria necessário enfocar na definição de bullying os aspectos
histórico-culturais em sua dinamicidade, sobretudo ao evidenciá-lo como uma manifestação
eminentemente humana e socialmente construída.
Levinsky (apud DIAS, 1996, p. 74) ressalta que é “uma reação consequente a um
sentimento de ameaça ou de falência da capacidade psíquica em suportar o conjunto de pressões
internas e externas a que está submetida”. Dias (1996) nos alerta que há violência quando um
sujeito faz uso de sua autoridade, por meio da força física ou psicológica, para obrigar e oprimir
alguém ou um grupo a agir de forma contrária à sua vontade ou até mesmo os priva de um bem
ou de seu direito à liberdade.
Observamos que o menor passa a maior parte do tempo em casa após a escola e um dos
passatempos preferidos dele são jogos no computador, mais precisamente um jogo chamado
ROBLOX, onde fica muito concentrado, e durante essa interação nos disse que sempre gosta
de jogar no escuro e que sabe cada detalhe do jogo.
Segundo Vygotsky (1991), afirma que a brincadeira infantil é uma situação imaginária
criada pela criança onde ela pode, no mundo da fantasia satisfazer seus desejos até então
impossíveis para sua realidade, ele também afirma que mesmo sendo livre e não estruturada,
possui regras. Para o autor todo tipo de brincadeira está embutido de regras, até mesmo o faz-
de-conta possui regras que conduzem o comportamento das crianças. Existe uma linha tênue
que diferencia a brincadeira de jogo.
Pesquisadores como Negrine (1994), Friedmann (1996), Biscoli (2005) e o próprio
Vygotsky (1991) não fazem diferenciação semântica entre jogo e brincadeira. Entretanto
existem algumas características que podem diferenciar o jogar do brincar. Brougére e Wajskop
(1997) afirmam que a brincadeira é simbólica e o jogo funcional, ou seja, enquanto a brincadeira
tem a finalidade de ser livrem, o jogo inclui o objetivo final a ser alcançado que é a vitória.
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Ao iniciarmos a segunda observação o menor estava brincando no beco onde fica a sua
casa e nesse tempo foi possível perceber um início de interação com as outras crianças e como
ele fica animado com essas crianças que são mesma idade dele e como também pelo menos
naquele momento o acolheram.
Segundo Piaget (1999) na terceira infância a criança passa a pensar mais logicamente,
suas habilidades linguísticas e sua memória ampliam, e começa a partir daí a desenvolver a sua
autoimagem e consequentemente autoestima, é também na terceira infância que inicia a
interação no meio escolar, na comunidade, essa criança passa a ser exposta a um novo grupo
social, o que leva a preocupação de alguns autores acerca das consequências desse novo
processo de adaptação.
Entretanto, quase ao final da observação houve uma situação em que uma colega menor
passou da linha da queimada e ele ficou muito chateado por ela não ter seguido a regra do jogo
e nesse momento correu para a rua para se esconder. Não sabemos se foi por um acesso de
raiva, mas fomos atras dele e pedimos para voltar.
Porém durante a terceira observação o mesmo fato voltou a acontecer e novamente o
menor saiu da vista da mãe e foi brincar e correr em uma parte distante da casa, e ao retornar
começou a jogar a bola na parede como se estivesse chateado por não ter conseguido chutar a
bola da forma que deveria e isso fez com que o mesmo ficasse chateado.
Segundo Vaz e Moreira (2022), é importante ressaltar a necessidade de haver um preparo
para lidar com as frustrações antes de ser inserido nesse novo contexto social, pois esse momento a
criança entra em contato com culturas e crenças diferentes do que está habituada, o que pode ser
prejudicial em vista que a partir das interações se dá a construção da sua identidade e percepção de
si mesma.
Ainda diante dessa temática, é importante ressaltar que Vaz e Moreira (2022) retratam
que o modo como o indivíduo recebe e processa as informações é um reflexo do adulto que se
tornará, considerando que grande parte dos comportamentos são aprendidos, esse indivíduo
poderá repetir com o outro o que observou nos seus pais, como também poderá se tornar um
adulto com autoestima rebaixada e que necessita de aprovação. Sendo prejudicial
primeiramente a si mesmo, mas também nas suas relações interpessoais, na vida profissional
bem como nos relacionamentos afetivos.
Também ocorreu durante a última observação, após o episódio anteriormente citado a
interação de voltar a brincar de bola sem nenhum problema como se nada houvesse acontecido.
Durante esse tempo percebeu o interesse do menor em motos, e ao conversar relatou que não é
competidor ao jogar bola pois ao seu ver não é muito bom em jogar o esporte e por isso prefere
ficar na dele, não compete com quem é maior que ele.
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Percebeu-se que sua defesa é chutar a bola para longe para não competir, sempre
brincando sem empurrar e no seu limite, nesse momento pediu de sua mãe para que parasse de
brincar na rua e sua mãe disse que não pois disse que ele iria ficar de “cara no celular”. O
mesmo se chateou e enquanto parava na frente de casa com os primos e amigos para descansar,
reclamava por não poder entrar em casa.
Para Vaz e Moreira (2022), crianças com sentimento de inferioridade, acabam sendo
tímidas, pois tem receio de estabelecer relações por se sentirem inseguras e acreditarem não
possuir qualidades, além do estresse causado pela busca de aceitação e frustração quando isso
não ocorre. Portanto crianças que são introvertidas, não necessariamente são negativas e com
sentimento de inferioridade, algumas apenas sentem desconforto em chamar atenção.
Segundo Papalia e Feldman (2013), à medida que as crianças crescem, elas tornam-se
mais conscientes de seus próprios sentimentos e dos sentimentos das outras pessoas. Elas
podem regular ou controlar melhor suas emoções e responder ao sofrimento emocional alheio.
Quando os pais sabem reconhecer as emoções dos outros, dão nome a elas e permitem
que as crianças tenham espaço para expressá-las, seus filhos entendem e reconhecem melhor as
emoções (Castro, Halberstadt, Lozada, & Craig, 2015). Pais que reconhecem os sentimentos de
dor de seus filhos e os ajudam a focar-se na solução da fonte do problema estimulam a empatia,
o desenvolvimento pró-social e as habilidades sociais (Bryant, 1987; Eisenberg et al., 1996).
Por outro lado, quando os pais respondem à expressão de emoções com desaprovação
ou punição em excesso, emoções como raiva e medo podem tornar-se mais intensas e prejudicar
o ajustamento social da criança (Fabes, Leonard, Kupanoff, & Martin, 2001) ou ela poderá
tornar-se reservada ou ficar ansiosa em relação aos sentimentos negativos (Almas, Grusec, &
Tackett, 2011).
Também aconteceu nesse dia ao questionarmos o motivo do menor está chateado, a mãe
nos relatou que a criança estava de castigo pois havia sido “malcriado” na igreja, onde durante
o momento da partilha de alimentos havia o momento de comer um pão e passar para o colega
do lado, porém ele não quis passar e preferiu jogar no chão ao dar para o colega. Nesse
momento, uma pessoa que o conhecia chegou e conversou com ele fazendo com que se
acalmasse e pegasse o pão do chão e jogasse no lixo e em seguida pegasse um novo e desse na
mão do colega. Após o ocorrido, o episódio foi relatado a mãe que como uma espécie de
correção o tirou do seu conforto que seria a tela do computador e o mandou brincar na rua.
Papalia e Feldman (2013), justifica que a forma como o conflito familiar é resolvido
também é importante. Se o conflito familiar for construtivo, pode ajudar as crianças a verem a
necessidade de regras e padrões, bem como a aprenderem sobre quais questões vale a pena
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discutir e quais estratégias podem ser eficazes (Eisenberg, 1996). Por exemplo, em um estudo
longitudinal, quando o conflito familiar era resolvido de maneiras construtivas, as crianças
informavam mais segurança emocional um ano depois e, no ano subsequente, mais
comportamento pró-social (McCoy, Cummings, & Davies, 2009).
Acerca do desenvolvimento em relação a forma de “castigo” e o motivo para o ocorrido,
Vaz e Moreira (2022) exemplificam o seguinte entendimento, pais que constantemente
reprimem e cobram dos seus filhos um comportamento bondoso e disciplinado de forma
excessiva e destacam suas atitudes negativas, formam crianças inseguras com necessidade de
aprovação, se tornando posteriormente um adulto com a autoestima rebaixada e com
dificuldade de socialização
Dessa forma, finalizamos o Resultado e Discussões referente ao nosso relatório
conforme análises retiradas da anamnese com a mãe e durante as observações com o menor que
achamos mais importantes e que ao nosso ver necessitavam de uma atenção especial.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciarmos os estudos em relação a anamnese, desde o momento da procura do


assistido até a permissão da mãe houveram expectativas e alguns medos em relação a como isso
iria impactar a vida dessa criança e a nossa enquanto discentes, pois além de ser a nossa primeira
experiência como estudantes de psicologia e em um projeto de campo, ainda estaríamos
adentrando em um lar que não tínhamos nenhuma relação afetiva e de qualquer conhecimento
e que seria completamente diferente da nossa própria vivência.
Entretanto, desde o primeiro momento nosso trio conseguiu responder as perguntas da
responsável além de olhar para observação como uma forma de aprendizado, anotando todos
os detalhes possíveis para que pudéssemos trazer com riqueza de detalhes o ambiente que nos
encontrávamos e a experiência do menor acerca do seu próprio mundo.
Além disso, utilizamos de forma responsável e afetiva todos os meios necessários para
a conclusão da anamnese de forma ampla, segura, levando todos os ensinamentos aprendizados
considerados em sala de aula e como resultado conseguimos colher todos os dados que a mesma
nos relatava de forma precisa, além de deixa-la confortável e segura para que trouxesse em suas
respostas o enriquecimento de informações que buscávamos além de colhermos todas os pontos
chaves que englobaram desde a primeira infância até a terceira infância do menor.
Acreditamos que a anamnese assim como as observações, além de todos os dados
colhidos foram de suma importância nesse processo, pois assim conseguimos identificar
diversas análises acerca do desenvolvimento infantil do assistido, assim como o que
trabalhamos em sala de aula e podemos obter valiosas experiências e maior compressão acerca
das teorias estudadas acerca do assunto.
Experienciar a observação infantil no primeiro ano do curso, nos trouxe um olhar
diferenciado acerca do quanto as fases da infância são de extrema importância para a formação
do indivíduo, compreender o desenvolvimento de cada uma dessas fases vivenciadas, nos
possibilita entender o quão saudável necessita ser essas fases para que haja uma transição bem-
sucedida entre elas.
Sendo uma experiência enriquecedora sugerimos mais vivências em campo,
enxergamos a anamnese e as observações como ferramentas valiosas, que além de proporcionar
conhecimento, nos permite entender as dinâmicas sociais, a validação das coletas dos dados e
identificação das necessidades das crianças.
20

REFERÊNCIAS

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entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes portugueses y brasileños. Revista
Interamericana de Psicologia, 41(2), 107-118.
Recuperado de » http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=28441201

BARBOSA, Alexandre. Deputado (PSDB). Autor do Projeto de Lei No 350/2007.


Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 2007.
Disponível em <http://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=708716>

BENTZEN, Warren. Guia para observação e registro do comportamento infantil. Cengage


Learning (6ª edição Norte - Americana) – tradução Português, 2012

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DELVAL, Juan. (1998) As origens do desenvolvimento. In: DELVAL, Juan. Crescer e


pensar: a construção do conhecimento na escola. Porto Alegre: Artes Médicas, p. 63-74.

FIGUEIRA, SA. Uma nova família? O moderno e o arcaico na família de classe média
brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar;1987

GOMES, AJ. RESENDE, VR. O pai presente: o desvelar da paternidade em uma família
contemporânea. Psic.: Teor. e Pesq. 2004;20(2):119-25.

GREENSPAN, Stanley. Entrevista clínica com crianças. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1993.

MAHLER, MS. O nascimento psicológico da criança: simbiose e individuação. Porto


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http://acervo.novaescola.org.br/educacao-infantil/0-a-3- anos/brinquedo-certo-para-cadaidade-
mobile-fantoches-carrinhos- caixas-mordedores-creche-535400.shtml.22

PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre:
AMGH, 2013.
21

RESENDE, VR. A paternidade e o resgate da experiência humana do homem [Resumo].


In: UNESP, Org. Anais, III Fórum de Debates em Extensão Universitária e Assuntos
Comunitários. Bauru: UNESP;1997. p.46.
22

ANEXO I – FOTOS DA ATIVIDADE

1) ANAMNESE
23

2) OBSERVAÇÃO 1
24

3) OBSERVAÇÃO 2
25

4) OBSERVAÇÃO 3
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ANEXO II - GENETOGRAMA
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ANEXO III – ANAMNESE


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ANEXO IV - PLANTA BAIXA DA CASA


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ANEXO V - AUTORIZAÇÃO DOS PAIS

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