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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
TRABALHO DE CAMPO I DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Nome do estudante: Filipe Manuel Tuto Código: 71210360

Introdução
O presente trabalho aborda a questão da validade do casamento inter-racial de
Muhorro e Hermenegilda perante os tribunais moçambicanos. Esse caso gera
discussões relevantes no âmbito do Direito Internacional Privado, pois envolve uma
situação em que um casamento celebrado em outro país é questionado em
Moçambique. Será necessário analisar a legislação nacional sobre casamentos inter-
raciais, bem como as convenções internacionais aplicáveis, a fim de verificar a
possibilidade de reconhecimento desse casamento.
Discussão do caso de Muhorro e Hermenegilda
Base jurídica
O caso de Muhorro e Hermenegilda envolve questões de Direito Internacional
Privado (IPL), especificamente relacionadas com o conflito de leis em matéria de
casamento. A base jurídica para a discussão deste caso é o Direito Internacional
Privado (LPI), que regula as relações jurídicas privadas com elementos internacionais.
No caso em apreço, os elementos internacionais são:
Nacionalidade dos cônjuges (etíope)
Local do casamento (Alemanha)
Local de discussão da validade do casamento (Moçambique)
A Lei Moçambicana IPD (Lei n.º 4/2004) estabelece regras específicas para
determinar a lei aplicável ao casamento, tendo em conta a nacionalidade, domicílio e
residência habitual dos cônjuges.
Análise de Caso
Para determinar qual lei deve ser aplicada à questão da validade do
casamento, é necessário analisar as regras de conexão do DIP. No caso em apreço,
as principais regras de ligação a considerar são:
Lex loci celebrationis: A lei do local onde o casamento é celebrado
(Alemanha) rege a sua forma e validade.
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Lex patriae: A lei nacional dos cônjuges (Etiópia) rege os seus direitos e
deveres conjugais.
Lex fori: A lei do foro (Moçambique) rege a questão da validade do casamento
para efeitos no seu território.
No caso em questão, o casamento de Muhorro e Hermenegilda foi celebrado
na Alemanha em 2019. Ambos os cônjuges são etíopes. A lei alemã reconhece a
validade do casamento entre Muhorro e Hermenegilda, independentemente da raça
dos cônjuges. A lei etíope, por outro lado, considera nulos os casamentos entre
pessoas de raças diferentes. A lei moçambicana, por outro lado, não tem qualquer
disposição específica sobre a validade dos casamentos internacionais.
Lei aplicável ao casamento
Lex loci celebrationis: A lei alemã reconhece o casamento entre pessoas de
raças diferentes, pelo que o casamento seria considerado válido na Alemanha.
Direito nacional: A lei etíope, por outro lado, não reconhece os casamentos
inter-raciais, o que pode levar à nulidade do casamento na Etiópia.
Regra de Conflito de Moçambique: A lei moçambicana do IPD determina que
a lei aplicável ao casamento é a lei nacional dos cônjuges, neste caso, a lei da
Etiópia.
Validade do casamento em Moçambique:
Considerando a regra de conflito de Moçambique, o casamento de Muhorro e
Hermenegilda pode ser considerado nulo em Moçambique, uma vez que a lei etíope
não o reconhece. No entanto, é importante examinar se a aplicação do direito etíope
seria compatível com os princípios da ordem pública internacional moçambicana.
Ordem pública internacional
A ordem pública internacional moçambicana proíbe a discriminação racial e
garante a igualdade de todos perante a lei. A aplicação da lei etíope, que anula o
casamento por motivos raciais, pode ser considerada discriminatória e viola a ordem
pública internacional moçambicana.
Soluções possíveis
a) Reconhecimento de casamento
Os tribunais moçambicanos podem reconhecer o casamento de Muhorro e
Hermenegilda com base na lei alemã, considerando que o casamento foi celebrado
num país que o reconhece como válido e que a aplicação da lei etíope seria
discriminatória.
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b) Aplicação da lei moçambicana


Os tribunais moçambicanos podem aplicar a lei moçambicana ao caso, que
reconhece o casamento entre pessoas de raças diferentes.
c) Anulação do casamento
Os tribunais moçambicanos podem anular um casamento com base na lei
etíope se considerarem que a aplicação da lei estrangeira não viola a ordem pública
internacional moçambicana.
O caso de Muhorro e Hermenegilda apresenta um conflito de leis sobre o
casamento, com implicações complexas do direito internacional privado. A solução do
caso dependerá de uma análise cuidada dos princípios jurídicos envolvidos, da ordem
pública internacional moçambicana e das particularidades do caso concreto.
Fatores a considerar
Ao tomar a sua decisão, os tribunais moçambicanos podem também considerar
outros fatores, tais como:
Ordem Pública: A nulidade do casamento por motivos raciais pode ser
considerada contrária à política pública moçambicana, que valoriza a igualdade
racial.
Direitos dos cônjuges: Os tribunais devem ter em conta os direitos dos
cônjuges, incluindo o direito à vida familiar e à proteção social.
Interesse das crianças: Se o casal tiver filhos, o tribunal deve considerar o
interesse dos filhos em terem um ambiente familiar estável.

Conclusão
A conclusão do caso de Muhorro e Hermenegilda apresenta incerteza sobre a
validade do casamento perante os tribunais moçambicanos. Apesar da celebração
válida na Alemanha (lex loci celebrationis), há conflito com a lei etíope (lex patriae)
que o considera nulo por questões raciais.
Os tribunais moçambicanos terão a árdua tarefa de decidir entre:
• Reconhecer o casamento: Aplicando a lex loci celebrationis, respeitando a
validade do casamento sob a lei alemã. Isso garante a estabilidade familiar do
casal.
• Anular o casamento: Aplicando a lex patriae, anulando o casamento devido à
lei etíope. Essa decisão fragmentaria a vida familiar construída pelo casal.
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Referencias bibliográficas
DIP. (2004). Lei n.º 4/2004. Moçambique.
https://www.hcch.net/en/instruments/conventions/full-text/?cid=88
_____ Manual do Curso de Licenciatura em Direito. Direito Internacional Privado.
Código: ISCED31-CJURCFE021

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