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desenvolvimento

Não há um período privilegiado de maturidade, o desenvolvimento ocorre durante toda a vida. Há sim capacidades
que se desenvolvem e outras que declinam em diferentes idades: “ganhos e perdas entretecem-se num processo
dinâmico”.
O desenvolvimento é multiplamente determinado pela ação conjunta de fatores ligados à idade (biológicos e sociais),
à História e aos acontecimentos de vida, normativos ou não.
A psicologia do desenvolvimento ao longo da vida, refere-se ao “estudo da constância e da mudança ativas e
sistemáticas, na conduta humana ao longo da ontogénese, da conceção até à morte” e aborda as diferenças e as
semelhanças inter-individuais bem como os fatores da sua variabilidade. Ocupa-se “da descrição e da explicação das
mudanças ontogenéticas ligadas à idade, do nascimento até à morte” e visa “a descrição, explicação e otimização dos
processos de desenvolvimento ao longo da vida, da conceção até à morte”.
Os indivíduos têm um papel ativo na construção da realidade e do seu próprio desenvolvimento. Os processos
psicológicos (por exemplo, TPS e identidade) cuja complexidade, flexibilidade e diferenciação são crescentes em
níveis de auto-organização pessoal cada vez mais integrados, são importantíssimos no que toca ao desenvolvimento.
Assim, o desenvolvimento é produto da interação entre o indivíduo e os seus contextos de vida.
Para além do viés intrapsíquico, existem as dimensões contextuais e históricas específicas na compreensão e
promoção do desenvolvimento, as experiências de vida.
Para além do normativo, existe diversidade inter-individual na direção das mudanças, elevada plasticidade intra-
individual. O desenvolvimento é caraterizado pela equifinalidade (diferentes padrões de desenvolvimento podem
levar a um mesmo resultado desenvolvimental) e pela multifinalidade (padrões idênticos de desenvolvimento que
podem levar a diferentes formas de (dis)funcionamento). Portanto, um acontecimento de vida adverso pode não
levar necessariamente ao mesmo resultado, psicopatológico ou saudável, em todos os indivíduos -
(im)previsibilidade das trajetórias desenvolvimentais.
Os indivíduos confrontam-se ao longo da vida com diversos acontecimentos que têm o potencial de produzir
continuidades e descontinuidades no processo de desenvolvimento.
1. natureza: acontecimentos de caráter biológico ou de caráter social
2. normatividade: acontecimentos que são comuns à maioria das pessoas daquela idade e contexto, ou não
3. previsibilidade: acontecimentos esperados, não esperados ou não-acontecimentos
O confronto com estes acontecimentos pode provocar reestruturações pessoais e relacionais mais ou menos
profundas, sentimento de descontinuidade pessoal, questionamento ativo e stress psicológico, perdas de formas
anteriores de funcionamento, mudança nos pressupostos sobre si e sobre o mundo ou mudança no comportamento
e na relação com os outros.
A transição desenvolvimental é um acontecimento de vida desencadeador, o processo de mudança e o resultado do
processo (quando há um acontecimento de vida que põe em crise - estrutural, funcional e emocional - o sistema,
exigindo mudanças nos padrões de funcionamento, constituindo tarefas de desenvolvimento).

perspetiva do ciclo vital


As pessoas resultam do seu processo de desenvolvimento e são, ao mesmo tempo, agentes do seu próprio
desenvolvimento.
De acordo com esta perspetiva, existem 4 caraterísticas do desenvolvimento ao longo da vida:
1. multidimensionalidade
2. plasticidade
3. multicausalidade
4. contextualização
perspetiva biopsicossocial
De acordo com esta perspetiva, existem 4 forças do desenvolvimento:
1. biológica
2. psicológica
3. sócio-cultural
4. ciclo vital
Existem ainda 4 questões-chave (controvérsias) do desenvolvimento:
1. nature - nurture
2. estabilidade - mudança
3. continuidade - descontinuidade
4. universalidade - especificidade contextual

modelo desenvolvimental ecológico


Neste modelo, a ação e o desenvolvimento humanos estão em contexto. De acordo Bronfenbrenner, a ecologia social
refere-se a toda a rede de interações e interdependências entre pessoas, instituições e construções culturais às quais
a pessoa se deve adaptar psicologicamente.
Destacam-se 4 tópicos relevantes:
1. processo: processos proximais (interações “entre um organismo humano biopsicológico ativo em evolução e as
pessoas, objetos e símbolos do seu ambiente imediato”, que se vão complexificando progressivamente. Estas
interações diferem de acordo com as caraterísticas individuais e as caraterísticas do contexto) enquanto “motores
do desenvolvimento”
2. pessoa: as características individuais
3. contexto: os vários níveis de contexto (microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema)
4. tempo: cronossistema (situando os indivíduos no seu espaço histórico)
O contexto envolve vários níveis:
1. microssistema: envolve as interações da criança e outras pessoas no ambiente imediato, como a casa, escola ou
grupo de pares. Inicialmente, o microssistema é pequeno, envolvendo interações de cuidados com os pais,
geralmente em casa. À medida que as crianças crescem, fazem mais, com mais pessoas, em mais lugares. À medida
que as crianças se mudam da área doméstica para a vizinhança e a comunidade, as suas interações com os outros
aumentam bastante. A criança que inicia o ensino fundamental agora tem uma rede maior de amigos e companheiros
de brincadeira para interagir. Quando a criança visita um amigo na casa do amigo, ela pode entrar em contato com
a mãe do amigo, irmãos, visitantes da casa. Assim, o microssistema pode consistir na família nuclear da criança,
mas também pode se expandir para incluir aqueles outros com quem a criança interage.
2. mesossistema: envolve as interações das várias configurações dentro do microssistema. Por exemplo, a casa e a
escola interagem durante as reuniões de pais e professores. A escola e a comunidade em geral interagem quando as
crianças são levadas para excursões ou quando o sistema escolar tenta aprovar uma taxa escolar. A abordagem
ecológica aborda o impacto conjunto de dois ou mais ambientes na criança (e, por extensão, na relação pai-filho).
3. exossistema: envolve as instituições nas quais a criança não participa diretamente, mas que exercem uma
influência indireta sobre ela. Por exemplo, o conselho escolar é parte do exossistema da criança, pois os membros
do conselho elaboram currículos para a educação da criança, determinam quais livros estarão na biblioteca escolar
(ou nas listas de leitura da classe) e assim por diante. Da mesma forma, o pai, os locais de trabalho e as situações
económicas determinam os horários em que estarão disponíveis para a criança, determinam o humor quando estão
com a criança e assim por diante. Os pais podem querer passar mais tempo com seus filhos, mas por causa das
restrições de trabalho não podem. O local de trabalho dos pais era um lugar em que seus filhos não tinham
participação direta, mas teve um grande impacto em suas vidas. Por exemplo, a pobreza e o desemprego causam
sofrimento psicológico nos pais, o que, por sua vez, diminui a sua capacidade de criar apoio, consistência e
envolvimento dos pais. Como resultado, as crianças podem ter problemas de adaptação tanto em casa quanto na
escola. Estudos que abordam os efeitos da habitação, saúde, programas de televisão, frequência à igreja, agências
governamentais sobre as crianças, estão todos examinando as interações dos exossistemas com a criança.
4. macrossistema: envolve a interação das crianças com as crenças, valores, expectativas e estilos de vida dos seus
ambientes culturais. Existem estudos que examinam as interações das crianças com os seus macrossistemas em
diferentes culturas, mas também pode haver macrossistemas dentro de uma cultura. Por exemplo, nos EUA, a
família de dois assalariados, a família monoparental de baixa renda e a família mais tradicional com o pai como
único ganha-pão constituem, cada uma, um macrossistema e cada uma exibe seu próprio estilo de vida característico,
conjunto de valores e expectativas. Por exemplo, na casa tradicional, a mãe provavelmente assume a maioria das
tarefas domésticas, como cozinhar refeições, limpar, marcar consultas com o pediatra, etc, enquanto o pai sai para
trabalhar todos os dias e tem como responsabilidade principal o sustento financeiro da família. Nesse tipo de família,
um valor familiar pode ser o fato de as crianças estarem muito envolvidas em atividades extracurriculares (o filho
joga basquete, a família está em todos os jogos; a filha tem aulas de dança, os pais estão presentes para recitais). Na
família de mães solteiras, é mais provável que os filhos contribuam e carreguem mais a carga das tarefas domésticas.
As crianças neste tipo de família podem não ser tão incentivadas a participar de atividades extras, mas pode-se
esperar que façam um trabalho depois da escola para ajudar nas despesas domésticas. Diferentes tipos de famílias,
diferentes tipos de pais, diferentes necessidades e expectativas.
Encontram-se algumas implicações neste modelo:
1. ponto de vista epistemológico: contrapõe a uma epistemologia linear, causalista cartesiana e unidirecional, uma
epistemologia circular, sistémica complexa e multicausal.
2. compreensão dos problemas humanos: deixam de se compreendidos numa dimensão intrapessoal para alargar a
sua compreensão aos sistemas mais próximos ou alargados onde o sujeito se desenvolve: “não há problemas
psicológicos mas dimensões psicológicas de problemas humanos”.
3. sublinha a dimensão diacrónica e dialética do desenvolvimento humano.

recursos dificuldades
microssistema recursos mais próximos: amigos, trabalho, stress, padrão vinculação, violência, conflitos,
escola, vizinhos, religião, lazer, etc. psicopatologia, etc.
mesossistema instituições que se associam com outras, as incompatibilidades, “concorrência” e
quais podem apelar a outras instituições ou desconfiança, etc.
pessoas.
exossistema que outros recursos existem fora do recursos sociais e económicos reduzidos.
microssistema e que conseguem dar apoio?
macrossistema valores culturais, importância aos processos de discriminação, estereótipos,
comportamentos, papéis, estatuto, etc. baixas expectativas sociais, etc.

O desenvolvimento ocorre em contexto e os contextos proporcionam diferentes oportunidades de desenvolvimento.

contextos → experiências de vida → desenvolvimento


O desenvolvimento psicológico tem várias dimensões: intrapsíquica, intrapessoal e transpessoal e depende dos
grupos primários (família, escola,…), dos grupos secundários (não há relação direta com todos os elementos) e das
próprias organizações, instituições e comunidades.

desenvolvimento psicossocial
No desenvolvimento da identidade (Erikson) existe(m) equíbrio(s) entre dimensões intrapsíquicas e interpessoais,
fatores biológicos, cognitivos, afetivos, sociais, históricos, etc: a identidade (vai sendo re)construída nas escolhas
que vamos fazendo, articulando novos investimentos mas assegurando o sentido de continuidade e coerência.
Erikson perspetivava o desenvolvimento tendo em conta aspetos de cariz biológico, psicológico e social, enfatizando
as interações entre o indivíduo e o meio na formação de uma estrutura básica para a construção da identidade.
Enfatiza o processo de construção da identidade e a dimensão psicossocial do desenvolvimento, numa conceção do
ego contextualizada e histórica, pois para além de fatores genéticos, fisiológicos e anatómicos, existem influências
culturais e históricas.
Erickson propõe 8 estádios no desenvolvimento psicossocial ao longo da vida. Cada estádio é caraterizado por uma
crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa que requerem uma resolução adaptativa. O conceito
de crise como inerente ao processo de desenvolvimento, com conflitos-chave em torno dos quais este processo
ocorre, sendo que a forma criativa e idiossincrática como cada crise é resolvida é determinante para a resolução dos
conflitos futuros e para a formação do ego.
O indivíduo desenvolve-se através de experiências ligadas às modalidades de resolução das crises e a formação da
identidade inicia-se nos primeiros quatro estádios, sendo que, o sentido desta identidade é negociado na adolescência
mas evolui e influencia os últimos três estádios. O núcleo de cada estádio é uma crise básica, que existe não só
durante aquele estádio específico, sendo nesse mais proeminente, mas também nos estádios posteriores a nível de
consequências e tendo raízes prévias nos anteriores. A forma como é feita a resolução do conflito de cada estádio
relaciona-se com o desenvolvimento da identidade, e pode ser mais ou menos positiva e saudável.
1. estádio confiança vs desconfiança (0-18 meses): neste estádio a criança vai aprender o que é ter ou não confiança
em si, no outro e no mundo. Esta confiança está muito relacionada com a interação do bebé com a mãe ou os seus
cuidadores primários: se a mãe/os cuidadores não responde(m) às necessidades da criança, esta pode desenvolver
medos, sentimentos de desconfiança que irão perturbar as suas relações futuras com as pessoas e o modo como irá
viver os contextos da vida; caso a mãe/cuidador seja responsiva face às necessidades da criança esta desenvolverá
um sentimento de confiança, conseguindo encarar bem as situações futuras.
2. estádio autonomia vs dúvida e vergonha (18 meses-3 anos): este estádio psicossocial é dominado pela contradição
entre a autonomia com o exercício de uma vontade própria e o controlo sobre o meio e o seu oposto ou polo negativo
constituído pela dúvida e a vergonha; a criança precisa de poder experimentar e de se sentir protegida no processo
de autonomização. Afirmar uma vontade é um importante passo na construção da individualidade.
Depois de ter conquistado confiança naqueles que as tratam, as crianças começam a descobrir que têm vontade
própria e afirmam o seu sentido de autonomia ou independência, realizam a sua vontade. Se as crianças são
demasiado reprimidas ou castigadas é provável que desenvolvam um sentimento de dúvida e vergonha.
3. iniciativa vs culpa (3-6 anos): a criança já se exprime com àvontade, física e verbalmente, e realiza atividades
diversificadas afirmando a sua identidade; este estádio marcará a possibilidade de tomar iniciativas sem medo
excessivo de culpabilidades; pede-se às crianças que assumam mais responsabilidades. No entanto podem surgir
sentimentos marcados de culpa se as crianças são demasiado responsabilizadas, sentindo-se muito ansiosas.
4. industria/mestria vs inferioridade (6-12 anos): este estádio está associado à entrada da criança na escola, o que lhe
vai permitir viver novas experiências e aprendizagens, sendo que o desempenho e o sentimento de capacidade se
torna central nesta fase; o seu polo negativo é o sentimento de inferioridade e de inadequação que lhe advém de não
se sentir confiante nas suas capacidades ou de não se sentir reconhecida nem segura no seu papel dentro do grupo
social a que pertence.
5. identidade vs difusão/confusão (12-18/20 anos): é o estádio em que, na vertente positiva, o adolescente vai adquirir
uma identidade psicossocial, isto é, compreender/definir o seu papel no mundo; neste estádio os adolescentes, com
novas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam vários estatutos e papéis sociais; esta exploração é potenciada
pela moratória social que as sociedades ocidentais actualmente definem para esta fase em que é permitido (e até
esperado) aos adolescentes um período de confusão e indecisão, em que poderão de forma “socialmente aceite”
explorar diferentes alternativas, como serão exemplo as questões vocacionais que se colocam nesta fase. O versus
negativo refere-se aos sentimentos de confusão/difusão de quem ainda não se encontrou a si próprio. A grande
virtude adquirida neste estádio é a fidelidade: fidelidade aos investimentos, compromissos e ideais.
6. intimidade vs isolamento (18/20-35 anos): os indivíduos encaram a tarefa desenvolvimental de construir relações
com os outros numa comunicação profunda expressa no amor e nas relações de amizade. É o estádio de jovem adulto
que, com uma identidade assumida, poderá criar relações de intimidade com o(s) outro(s). A vertente negativa é o
isolamento de quem não consegue partilhar afectos com intimidade nas relações significativas.
7. generatividade vs estagnação (35-65 anos): a generatividade é a fase de afirmação pessoal e de desenvolvimento
das potencialidades do ego, nomeadamente no mundo do trabalho, da família e de interesse pelos outros e por uma
vida social; a pessoa sente-se madura para transmitir mensagens às gerações seguintes; a vertente positiva é o
sentimento de comprometimento social, de que se tem coisas interessantes a passar às gerações vindouras; a vertente
negativa é a centralização nos seus interesses próprios e superficiais, o empobrecimento das relações interpessoais,
a estagnação.
8. integridade vs desespero (depois dos 65 anos): quando se considera positivo o que se viveu e se compreende a
integridade da sua existência ao longo dos vários estádios, faz-se “a integração cumulativa do ego”; o desespero é a
sua vertente negativa que advém quando se renega a vida, mas se sabe que já não se pode recomeçar uma nova
existência; a grande virtude adquirida nesta estádio é a sabedoria de quem se entende num balanço da vida, de quem
sabe renunciar.
Conceito de estádio psicossocial: nos diferentes estádios o grande objetivo é sempre resolver os desafios psicossociais
de forma equilibrada, isto é, contrabalançando os dois opostos de cada fase. Por exemplo, a confiança básica do 1º
estádio, é uma tarefa psicossocial muito importante para o indivíduo aprender a confiar nas pessoas que o rodeiam,
e que será determinante para a qualidade das suas relações futuras. Mas por outro lado, o indivíduo não deverá
desenvolver uma confiança exagerada nos outros, sendo igualmente importante saber moderar esta confiança básica
com a própria desconfiança, sob pena de poder ser considerado ingénuo e ser facilmente “enganado” pelos outros.
Da mesma forma, também no 2º estádio será sempre importante equilibrar a construção da autonomia com a
consciência das consequências dos nossos atos nos outros (vergonha e dúvida).
Cada fase é responsável por um "conflito sócio-emocional" do indivíduo, exigindo uma superação dessa crise para
que se chegue ao estágio seguinte. Pode-se comparar o desenvolvimento emocional e social à construção de uma
casa: a fundação da casa precisa ser firme para que o primeiro andar se sustente, e assim por diante até o último
andar. Da mesma forma, cada fase do desenvolvimento do indivíduo é importante para que a próxima fase possa
ser superada sem problemas.
Os estádios de desenvolvimento psicossocial de Erikson não deverão ser vistos como estanques e sucessivos pois,
para este autor, em cada nova fase de desenvolvimento da identidade, há a necessidade e a oportunidade de actualizar
todas as tarefas anteriores. Simultaneamente, a forma como cada tarefa é resolvida irá condicionar a qualidade das
tarefas posteriores também. Desta forma conclui-se que os diferentes estádios deverão ser vistos de forma integrada
e recorrente numa compreensão mais rica do funcionamento e desenvolvimento psicológico.
De reter ainda que em cada fase, há uma combinação de fatores intra e interpessoais (daí a designação de estádios
de desenvolvimento psicossocial) bem como é admitida a influência de fatores sociais mais abrangentes na forma
como cada indivíduo resolve as suas tarefas desenvolvimentais.
Fatores de risco vs fatores de proteção: os fatores de risco são as caraterísticas dos indivíduos e dos contextos que
reduzem as capacidades biológicas, psicológicas e/ou sociais dos mesmos para manterem o seu bem-estar e adaptação
em contextos sociais. Por outras palavras, são caraterísticas ou circunstâncias que aumentam a probabilidade de
ocorrer uma perturbação, probabilidade esta que aumenta na presença de vários destes fatores.
O efeito sinergético diz que a presença de vários fatores multiplica de modo exponencial o risco de psicopatologia
(por exemplo, com um fator o risco é baixo, com dois o risco aumenta quatro vezes, e assim sucessivamente).
Fatores protetores: caraterísticas ou condições que protegem os indivíduos de perturbação face ao risco.
Resiliência: outro conceito importante nesta equação entre fatores é a resiliência, isto é, “a capacidade do indivíduo
para uma adaptação bem-sucedida, funcionamento positivo ou competências na presença de adversidade,
envolvendo múltiplos riscos e ameaças internas e externas ou, ainda, a capacidade de recuperação na sequência de
uma experiência traumática prolongada”.
Importa a diminuição dos fatores de risco e o aumento dos fatores de proteção. Segundo Moreira (2004), “a
identificação dos fatores de risco e de proteção é fundamental, já que permite uma melhor compreensão do
fenómeno, de onde resulta uma maior intencionalidade no desenho das intervenções preventivas. Isto torna possível
a implementação de estratégias que permitam, por um lado, anular os fatores de risco e, por outro lado, incrementar
os fatores de proteção”.
Reorganização do Self ao longo da vida adulta
1. sem relação direta com a idade mas sim com as mudanças cognitivas e os desafios colocado pelos acontecimentos
de vida.
2. compreensão crescente e cada vez mais integrada da complexidade do Self.
3. maior sentido de competência, capacidade de gestão do stress e de gerir adversidades, sentido controlo pessoal, de
propósito e responsabilidade.
4. balanço entre ganhos e perdas (por exemplo, ao nível da imagem corporal).

sexualidade
A sexualidade nos seus múltiplos aspectos é fundamental ao desenvolvimento do ser humano, uma vez que é uma
função básica do ser humano, que pode ser expressa por pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores,
comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos, influenciada por fatores biológicos, psicológicos, sociais,
económicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais, com uma estreita relação com o
estado de saúde e a qualidade de vida da pessoa.
Segundo a OMS, a sexualidade “é uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura, intimidade, que
se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo
sexual, e influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e por isso influencia também a nossa saúde física
e mental”. Implica uma integração dos aspetos somáticos, afetivos, intelectuais e sociais do ser sexuado, de modo a
atingir um enriquecimento e um desabrochamento da personalidade humana, da comunicação e do amor.
A sexualidade acompanha-nos desde a infância e sofre modificações ao longo de toda a nossa vida.
A sexualidade infantil é auto erótica, ligada às funções somáticas, sequencial (fase oral, fase anal, fase fálica - o
complexo de Édipo - e fase da latência). Na adolescência, ocorre a puberdade e a crise sexual, a masturbação e
comportamentos homossexuais e/ou exploratórios. A sexualidade dos adultos tem função de relação e de prazer,
não há padrões, mas sim sexualidade e genitalidade, erotismo e fantasia, investimento afetivo e intimidade, pressão
em relação às performances, “diferenças” entre a psicofisiologia da sexualidade masculina e feminina, orgasmo e o
conceito de gratificação sexual e “educação sensorial”.
Os discursos sociais da sexualidade na adolescência são muito centrados nos comportamentos de risco, justificando
estratégias de promoção da saúde nesta faixa etária. Existe uma constante exposição dos jovens ao sexo e à
sexualidade, no entanto, embora o acesso à informação seja muito fácil, por si só ela não assegura a educação sexual
Conteúdos mínimos da educação sexual:
1. do 1º ao 4º ano: noção de corpo; o corpo em harmonia com a natureza; noção de família ; diferenças entre rapazes
e raparigas; proteção do corpo e noções dos limites, dizendo não às aproximações abusivas.
2. 5º e 6º ano: puberdade (aspetos biológicos e emocionais); o corpo em transformação; caracteres sexuais
secundários; normalidade, importância e frequência das suas variantes bio-psicológicas; diversidade, tolerância;
sexualidade e género; reprodução humana e crescimento; contraceção e planeamento familiar.
3. do 7º ao 9º ano: compreensão da fisiologia geral da reprodução humana; compreensão do ciclo menstrual e
ovulatório; compreensão da sexualidade como uma das componentes mais sensíveis da pessoa, no contexto de um
projeto de vida que integre valores e uma dimensão ética; compreensão da prevalência, uso e acessibilidade dos
métodos contracetivos; compreensão da epidemiologia e prevalência das principais DST e as suas consequências,
bem como os métodos de prevenção; conhecimento das taxas e tendências de maternidade na adolescência e
compreensão do respetivo significado; conhecimento das taxas e tendências das interrupções voluntárias de
gravidez, as suas sequelas e significado; compreensão da noção de parentalidade no quadro de uma saúde sexual e
reprodutiva saudável e responsável.
4. ensino secundário: tendências na idade de início das relações sexuais; métodos contracetivos disponíveis e
utilizados; razões do seu falhanço e não uso; evolução e consequência nas taxas de gravidez e aborto; aspetos
relacionados com a incidência e sequelas das DST. No que se refere à fisiologia da reprodução humana deve ser
dado ênfase à compreensão e determinação do ciclo menstrual em geral, com particular atenção à identificação,
quando possível, do período ovulatório, em função das caraterísticas dos ciclos menstruais.
Os objetivos da educação psicológica para o desenvolvimento psicossexual são:
1. promover intimidade, mutualidade, interdependência, partilha, segurança, reciprocidade.
2. promover uma atitude crítica face às mensagens transmitidas pela família, pares, media, evidenciando
discrepâncias e potenciando a construção de uma postura pessoal perante essas questões.
3. promover a tomada de decisão consciente, consequente e responsável face à sexualidade.
4. promover a tomada de perspetiva social.
5. promover a comunicação no contexto de uma relação diádica.
6. desenvolvimento de uma identidade sexual.
7. desmistificar mitos e desconstruir preconceitos.
Satifação sexual: é um dos fatores psicológicos mais avaliados na área das disfunções sexuais. A falta de consenso
quanto à definição e à operacionalização do conceito, revela-se nas diferentes concetualizações teóricas de satisfação
sexual e nas diferentes metodologias de avaliação.
A satisfação sexual tem sido positivamente relacionada com a satisfação conjugal. Os homens e as mulheres que
relatam estar satisfeitos com os seus relacionamentos conjugais também relatam estar satisfeitos com os seus
relacionamentos sexuais. A insatisfação sexual pode resultar de disfunções sexuais na própria pessoa ou no
companheiro, ou pode existir independentemente da presença de alguma disfunção sexual.
Multiplicidade de fatores que afetam o desejo e a resposta sexual: genéticos e fisiológicos; associados ao uso de
substâncias e a estados físicos (alcool, drogas, alterações hormonais, doenças crónicas,…); fatores psicológicos
(ansiedade, depressão, in/disponibilidade, cansaço, investimento noutras áreas); fatores sócio-culturais e educativos
(culpabilidade, vergonha, dificuldades com a intimidade); fatores relacionais (hostilidade/violência, ciúme,
“desamor”/erosão da relação, falta de atração física, contexto de exigência, contexto de falta de criatividade,
contexto de incapacidade de metacomunicar, contexto de receio de julgamento ou abandono).

conjugalidade
Elementos de um casal: eu, tu e nós.
As propriedades emergentes da relação transformam as próprias identidades individuais (a relação é fonte de
crescimento e transformação dos indivíduos e do próprio sistema).
A tarefa desenvolvimental do casal é construir a intimidade. A intimidade é vista como uma tarefa
desenvolvimental e de qualidade da relação adulta, partilha do self (pressupõe a construção prévia da identidade),
implica e atualiza as tarefas anteriores (confiança básica, iniciativa, autonomia, indústria, identidade) e é
fundamental para a resolução das tarefas seguintes (generatividade, integridade).
intimidade = compromisso + investimento
Os estatutos da intimidade:
1. pré-íntimo: medo da intimidade (ambivalência face ao compromisso, ainda sem investimento profundo numa
relação).
2. pseudo-íntimo: investimento aparente, mas centração sobre si próprio, sem mutualidade (sem entrega nem
aceitação do outro); superficialidade e narcisismo na relação.
3. estereotipado: sem capacidade de intimidade e investimento, evitamento da relação, comunicação é limitada,
relações ao serviço dos próprios interesses.
4. isolado: inexistência de relações, indivíduo considera-se auto-suficiente.
O casal enquanto sistema relacional com propriedades emrgentes, é um sistema que está além das caraterísticas
individuais e das interações específicas.

Eu e tu → desejos, necessidades, valores, atitudes e expectativas.

Nós → projeto de casal e modelo relacional.


O “mapa-mundo” de cada um, o sistema de mitos, crenças e expectativas na construção e mudança da relação é
fulcral na construção do sistema relacional.
Expectativas e crenças irrealistas que são trazidos para a relação da história individual e das representações sociais:
entre marido e mulher não se mete a colher; o amor dura para sempre; quando se ama, tudo é possível; o amor
permite conhecer e “adivinhar” o outro; não pode haver segredos num casal; o amor é cego; quem o feio ama, bonito
lhe parece.

perspetivas teóricas na qualidade conjugal


A qualidade conjugal é um construto com uma longa e controversa história. A primeira medida de qualidade
conjugal foi realizada por Terman, Buttenwieses, Fergunson e Wilson (1938) - o que basicamente diferencia os casais
felizes dos infelizes?
Teoria da troca social: Levinger (1965, 1976) aplicou os conceitos da teoria da troca social ao casamento. O sucesso
da relação conjugal relaciona-se com o balanço que os conjuges fazem dos aspetos satisfatórios (segurança
emocional, realização sexual e formação da família) vs aspetos desafiadores (problemas financeiros, preconceitos
sociais e divergências religiosas).
As relações terminam quando uma conjunção de fatores combina: mais desafios e insatisfações que aspetos
satisfatórios, poucos impedimentos para separação e muitas alternativas atrativas fora do matrimónio.
Teoria cognitivo-comportamental: sugere que as respostas cognitivas aos comportamentos do outro afetam a relação
e que, com o tempo, a acumulação dessas experiências influencia gradualmente, positiva ou negativamente, a
avaliação e a consequente satisfação que os conjuges experimentam.
Teoria da vinculação: a satisfação conjugal está relacionada com o padrão de vinculação estabelecido na infância
(crianças que vivenciaram uma relação de segurança e afeto com os seus pais teriam maior probabilidades de repetir
esse modelo nas suas relações adultas).
Teoria da crise: analisa como as famílias reagem às situaçoes de crise. A quantidade de recursos disponíveis para
uma família enfrentar uma situação stressante vai definir a natureza da crise que se poderá gerar bem como a sua
capacidade de superação (enfatiza a importância dos processos dinâmicos na relação).
Interacionismo simbólico: a família é um grupo de pessoas em interação que criam os seus símbolos e os seus
significados que, por sua vez, influenciam a formação da identidade dos membros, a transmissão dos valores
familiares e a aprendizagem dos papéis sociais que cada um deve desempenhar.
A qualidade conjugal seria resultado da avaliação que cada conjuge faz da adequação dos papéis conjugais ao
esperado.
Modelo circumplexo: de acordo com Olson, o nível de funcionamento do casal varia em função de três dimensões:
a coesão, a adaptabilidade e a comunicação.
tipo de relação nível de coesão
Hipóteses do modelo: os níveis centrais ou equilibrados de coesão (separado emaranhado muito
e conectado) geram funcionamento familiar e conjugal ótimo; os extremos conectado moderado a alto
(desprendido ou emaranhado) são normalmente associados a problemas a separado moderado a baixo
longo prazo para a relação e os seus membros. desprendido muito baixo

tipo de relação adaptabilidade


Hipóteses do modelo: os níveis equilibrados (estruturado e flexível)
caótico muito alto
conduzem a um melhor funcionamento familiar e conjugal; os extremos
flexível moderado a alto
(rígido e caótico) os mais problemáticos para as famílias e casais.
estruturado moderado a baixo
rígido muito baixo

Modelo de adaptação da vulnerabilidade ao stress: integra as teorias da vinculação, da crise e comportamental. O


modelo sustenta que os casais necessitam de se adaptar a uma grande variedade de eventos stressores e circunstâncias
que surgem na vida a dois. A capacidade de adaptação vai depender do nível de stresse que eles experimentam e dos
recursos pessoais, relacionais e contextuais existentes.
teoria variáveis essenciais
teoria comportamental (Gottman, 1982) recursos pessoais
teoria da vinculação (Bowlby, 1984)
teoria da troca social (Levinger, 1965, 1976) contexto, auto-avaliação e adaptabilidade
teoria da crise (Hill, 1949)
teoria do interacionismo simbólico (Burr & cols., 1979)
teoria dos sistemas familiares (Olson & cols., 1979, 2000)
modelo de adaptação da vulnerabilidade ao stresse (Karney & contexto, recursos pessoais e processos
Bradbury, 1995) adaptativos

dyadic adjustment scale -


Pressupõe concordância conjugal em relação a:
DAS (Spanier, 1976)
1. finanças familiares
2. divertimento, lazer e ocupação dos tempos livres
3. religião
4. amigos
5. convencionalismo
6. “filosofia de vida”
7. “formas de lidar com familiares”
8. objetivos e prioridades
9. quantidade de tempo conjunto
Pressupõe também a frequência com que acontece:
1. troca de ideias estimulante
2. rirem juntos
3. discutirem calmamente um assunto
4. problemas com falta de demonstração de afeto
5. problemas associados a relacionamento sexual
Compreender a relação conjugal: distribuição do poder e responsabilidade pelos conflitos; compreender a história
do casal, o quotidiano e o tipo de interações (comportamento e reforço); explorar domínios de conflito;
(re)construção do “nós”; atribuições e expectativas; significados da relação.
Conjugalidade vs parentalidade: habitualmente, a segunda etapa do ciclo vital da família é marcada pelo nascimento
do primeiro filho. Com ele surgem não só dois novos sub-sistemas (parental e filial) mas, também, novas funções,
novas tarefas e um conjunto de reorganizações relacionais, intra e inter-familiares bem como intersistémicas.

parentalidade
Modelo de funcionamento que pressupõe o desempenho das funções executivas, como proteção, educação,
integração na sociedade, relativamente às gerações mais novas (estas funções não são necessariamente
desempenhadas pelos pais biológicos).
A parentalidade tem como funções: satisfazer as necessidades básicas de sobrevivência e saúde, disponibilizar à
criança um mundo organizado e previsível, responder às necessidades de compreensão cognitiva das realidades extra
familiares, satisfazer as necessidades de afeto, confiança e segurança, satisfazer as necessidades de interação social
da criança, e sua integração na comunidade.
Hoghughi (2004) definiu os processos da parentalidade como um conjunto de atividades que são pensadas para
promover o bem-estar da criança. Organiza a parentalidade em:
1. atividades parentais: conjunto de atividades necessárias para uma parentalidade adequada destacando-se os
domínios do cuidado, disciplina e desenvolvimento (desenvolvimento, controlo e disciplina, cuidado físico,
emocional e social)
2. áreas funcionais: referem-se ao funcionamento da criança (saúde física e mental, comportamento social e
funcionamento educativo e intelectual)
3. pré-requisitos: as especifidades necessárias ao desenvolvimento da atividade parental (motivação, recursos,
oportunidades, compreensão e conhecimento)
O modelo dos determinantes da parentalidade, consiste num modelo explicativo do funcionamento parental, com
base na identificação de três domínios determinantes:
1. características pessoais dos pais
2. características das crianças
3. fontes contextuais de stress e suporte
O estudo da parentalidade na psicologia do desenvolvimento analisa os processos através dos quais os pais
influenciam o desenvolvimento da criança (PDCA), mas também o processo pelo qual a parentalidade influencia o
desenvolvimento dos pais (PDAI).
De acordo com Bornstein, a parentalidade pode fortalecer o desenvolvimento psicológico, a autoconfiança, e o bem-
estar, traz novos desafios e a oportunidade de revelar diferentes aptidões.
Segundo Satir, ser pai ou mãe não é fácil e ambos têm que aprender a sê-lo na escola mais difícil de todas - a escola
para fazer pessoas: os pais constroem o curriculum; os pais são os professores, os diretores, o conselho escolar, os
alunos, etc; não têm férias, estão em funcionamento os 365 días por ano (24h/dia).
Segundo o modelo desenvolvimental ecológico, a parentalidade como uma transição desenvolvimental envolve
stress e mudança (ganhos e perdas, novos desafios, reorganização, novos papéis e complexificação), por exemplo, a
gravidez e a parentalidade como processos dinâmicos de construção e desenvolvimento, implicam novas respostas
cognitivas, emocionais e comportamentais.
Já a resolução da parentalidade na confluência de múltiplas influências contextuais envolve apoio social, contexto
cultural, recursos económicos e sociais, contexto profissional e relação com famílias de origem), por exemplo, a
gravidez e a parentalidade são eventos socio-historicamente influenciados, e cuja resolução envolve diferentes níveis
de atuação.
A parentalidade como período de desenvolvimento, pressupõe a necessidade de resolver tarefas desenvolvimentais
específicas e viver uma crise própria, isto é, “implica uma necessidade de reorganização que pode permitir o acesso
a níveis de funcionamento superiores no sentido da resolução de problemas desenvolvimentais anteriores, e
organização de constelações intrapsíquicas e relacionais mais complexas e gratificantes”.

transicão para a parentalidade


A gravidez como uma transição desenvolvimental com tarefas específicas:
1. aceitar a gravidez: planeamento/desejo da gravidez, ambivalência natural e aceitação e integração da gravidez e
da parentalidade.
2. relação com o bebé: representação do bebé, cuidados com o bebé e interação com o bebé (papel dos movimentos
fetais e das ecografias neste processo).
3. construção da identidade materna: reavaliar modelos parentais disponíveis, atualização da relação com os pais e
antecipar modelos parentais.
4. reconstrução da relação conjugal: do par romântico ao par parental (reestruturação dos papéis dos conjuges),
conjuge como fonte de suporte social vs insatisfação conjugal na gravidez e significado da gravidez e da
parentalidade para o casal.
As principais mudanças são relativas ao alargamento/expansão da estrutura interna (reorganização familiar e novos
papéis) e relações com o exterior (novos limites). Do lar centrado no casal ao lar centrado nas crianças, do
investimento na organização da díade às relações pais-filhos, revolução afectiva no casal (redistribuição de papeis,
funções e imagens: no casal, perante as fam. origem, perante a comunidade) e o casal “sobe” de geração (prestador
de cuidados).
Modelo parental: a função parental no ajustamento das funções materna e paterna exige nova complementariedade
e flexibilização das relações segundo critérios relacionais específicos. Os pais têm função de apoio ao crescimento e
desenvolvimento dos filhos, de nutrir, orientar e controlar (em diferentes proporções ao longo da vida), de
autoridade (o sistema parental regula o poder) e hierarquia (há diferentes estatutos entre as gerações).
Nas famílias com bebés, existe um ajustamento do sistema conjugal, isto é, é necessário criar espaço para o/a(s)
filho/a(s), existe também um “assumir de papéis” parentais e ajustamento às exigências de desenvolvimento de
uma criança dependente (com objetivo de estimular e promover o seu desenvolvimento) e reorganização das relações
com a(s) família(s) de origem e a comunidade. A qualidade da resolução desta tarefa depende: da qualidade da
relação conjugal (prévia e atual), da flexibilidade do novo sistema parental, das características do/a(s) bebé(s) e dos
recursos de apoio.
Já nas famílias com filhos adolescentes, é necessário que haja uma flexibilização dos limites familiares de modo a
aceitar a independência dos filhos, ou seja, mudança nas relações pais-filhos, facilitar o equilíbrio entre liberdade e
responsabilidade, partilha desta tarefa com a comunidade, estabelecimento de interesses pós-parentais, recentração
na vida conjugal e nas carreiras profissionais e início da função de suporte à geração mais velha.
Nas famílias com filhos jovens-adultos, é fulcral desenvolver relações adulto-adulto entre pais e filhos, possibilitar
aos filhos as entradas e saídas no sistema, permitir a separação e o “lançamento” dos filhos no exterior, com rituais
e assistência adequada, realinhamento das relações familiares para incluir par amoroso dos filhos e manutenção de
uma base de suporte familiar.
A saída dos filhos de casa e o casal de meia-idade (mudança nos papéis geracionais): eestruturação individual e da
relação conjugal, aceitação de incapacidades e perdas, redefinição das relações com as gerações mais velhas e mais
novas - suporte a netos e à geração mais velha (abertura do sistema) – e estabelecimento de interesses individuais e
conjugais pós-parentais, recentração na vida conjugal e nas carreiras profissionais.
De pais a avós: De acordo comNeurgarten, existem estilos de avós, o formal (assumem papéis “politicamente
corretos”, sem interferirem no sistema parental), brincalhão (os netos como fontes de prazer, estilo laissez-faire),
substituto (assume papéis parentais, por substituição ou apoio do sistema parental), reservatório (papel autoritário
e de poder perante toda a família) e distante (ausente no dia-a-dia, com interação em ocasiões rituais).

familia
A família é entendida como um sistema, um todo, uma globalidade que só na perspetiva holística pode ser
corretamente compreendida. De acordo com Gameiro, esta é como “uma rede complexa de relações e emoções, na
qual se observam sentimentos e comportamentos que não são passíveis de ser pensados com os instrumentos criados
para o estudo dos indivíduos isolados”.
1. a família é um todo relacional, um todo organizado, uma globalidade constituída por um conjunto de pessoas e
pela teia relacional que os unifica. Assim, é impossível conhecer a família apenas a partir do conhecimento
individual dos seus elementos porque mais do que a soma das partes, a família comporta relações de
interdependência recíproca (relações de circularidade e não de linearidade) que constituem a identidade do sistema.
2. a família como um conjunto de subsistemas: os sistemas complexos (isto é, mantidos por transações que,
mudando, também mudam o sistema) são compostos por subsistemas. A família é um todo, mas é também
constituída por muitas totalidades ou subsistemas (individual, parental, conjugal, fraternal,…). Esta hierarquização
sistémica permite valorizar: a família como um todo e também, simultaneamente, os indivíduos como totalidades
inseridas noutros sistemas e as próprias relações da família com o meio.
Cada um dos subsistemas tem um conjunto de papéis e funções orientado para um objetivo comum. Os subsistemas
são diferenciados entre si mas extremamente interligados (por exemplo, num divórcio é difícil separar os
subsistemas conjugal e parental). Na intervenção psicológica na família, muitas vezes o mais importante são as
relações entre subsistemas.
3. a família como sistema aberto e permeável à mudança: a abertura do sistema está presente em cada
unidade/totalidade que é delimitada por fronteiras semi-permeáveis que operam a uma passagem seletiva de
informação. Isto verifica-se quer ao nível das relações entre subsistemas, quer ao nível das relações da família com
o meio. Estes limites ou fronteiras são normas que definem quem e como participa num subsistema, e variam de
família para família, e com o momento da evolução da família.
4. a família como um sistema imerso em sistemas mais alargados: cada elemento participa em diversos sistemas e
subsistemas - complexidade relacional - pois cada elemento tem muitas relações internas e externas que influenciam
o funcionamento familiar. A família é ela própria um sistema entre sistemas e como tal tem que ir integrando as
trocas que mantém com o exterior. Assim, vai mudando com a sociedade (mas não totalmente, para manter a sua
integridade e identidade). Portanto, devemos sempre ter em conta a família de origem de cada elemento, a sociedade
em que está inserida, e a influência da participação dos seus membros noutros contextos.
5. a família tem capacidade de auto-organização: a família é capaz de mobilizar os seus recursos internos e externos
para dar resposta às exigências do meio. Assim, a família integra as influências externas, mas não está dependente
delas porque tem a sua autonomia e não é meramente reativa ao meio por causa desta capacidade auto-organizativa
- abertura funcional (relação com o meio) e fecho organizacional (identidade e autonomia).
6. a família como um sistema em evolução: a família como um sistema vivo sofre um processo de diferenciação
progressiva, no sentido da evolução e da complexificação, num processo de diferenciação estrutural (mudança na
organização relacional), e de coevolução, pois há transformações associadas devido á interação entre os subsistemas.
Assim, a mudança familiar ocorre no todo, em cada elemento e a diferentes níveis: funcional, interacional e
estrutural.
A teoria geral dos sistemas fornece algumas outras pistas: cada família enquanto sistema é um todo mas é também
é parte de outros sistemas, de contextos mais vastos nos quais se integra; dentro da família existem outras totalidades
mais pequenas que são, elas próprias, partes do grupo total (os subsistemas).
Os sistemas abertos têm três propriedades:
1. totalidade ou corolário da não somatividade: o sistema não é igual à soma das partes - o sistema é um todo, mas
também parte do sistema porque qualquer alteração numa das partes provoca alterações no seu todo, havendo uma
interdependência sistémica.
2. retroacção e feed-back: são os mecanismos de auto-regulação dos sistemas vivos que garantem a estabilidade
sistémica, permitindo que o sistema atinja um novo equilíbrio dinâmico interno e externo (homeostase sistémica).
3. equifinalidade: postula que o mesmo estado final pode ser atingido a partir de situações iniciais diferentes, ou seja,
os estados iniciais podem produzir resultados finais imprevisíveis. Coloca em causa a causalidade linear e qualquer
lógica preditiva dos sistemas humanos.
4. lei da dissipação/lei da evolução: os sistemas fechados tendem para a autodestruição (entropia); os sistemas
abertos têm a capacidade de integrar as estruturas dissipativas e atingir níveis de auto-organização cada vez mais
complexas e integradas, sendo os mecanismos de retroacção e feed-back que garantem a identidade sistémica.
5. teleologia versus auto-organização: esta capacidade permite ao sistema a continuidade da sua evolução para níveis
superiores de auto-organização. Contudo apesar das mudanças permanentes, o sistema mantém uma organização
estável (homeostase), independentemente das pressões que actuam sobre ele, porque possui uma abertura funcional
ao meio e simultaneamente um fecho organizacional que garante a sua identidade sistémica.
Implicações da perspetiva sistémica: do ponto de vista epistemológico, contrapõe a uma epistemologia linear,
causalista cartesiana e unidireccional, uma epistemologia circular sistémica complexa e multicausal; compreensão
dos problemas humanos, isto é, deixam de ser compreendidos numa dimensão intrapessoal para alargar a sua
compreensão aos sistemas mais próximos ou alargados onde o sujeito se desenvolve (“não há problemas psicológicos
mas dimensões psicológicas de problemas sociais”) - questiona a categorização clássica da DSM; sublinha a
dimensão diacrónica e dialética do desenvolvimento humano.

teoria da comunicacão de Watzlawick


Watzlawick define 3 axiomas na comunicação familiar: “é impossível não comunicar”, “a comunicação implica
conteúdo e relação” e “a natureza dos factos depende das sequências de comunicação entre os sujeitos”.
Gregory Bateson, Don D. Jackson e Paul Watzlawick exploraram as questões que envolvem a comunicação humana
(as características e as suas dificuldades), partindo do princípio de que relacionar-se com o outro, comportar-se
socialmente é, necessariamente, comunicar e não comunicar é simplesmente impossível.
As suas principais teses no campo da comunicação:
1. a comunicação é um processo mais analógico do que digital, ou seja, ela ocorre em vários níveis verbais e não-
verbais, e é exatamente nos não-verbais que ela é mais eficiente; assim, o processo humano de comunicação
configura-se como um “jogo” com esses vários níveis ou tipos lógicos.
2. comunicação é o mesmo que comportamento, é inerente à própria existência, é um processo que não tem oposto,
ninguém pode não se comportar assim como não pode deixar de comunicar.
3. numa relação entre dois agentes, não se pode falar apenas em “transferência de energia”, ocorre muito mais uma
“troca de informação”.
4. na mente humana não existem objectos ou eventos mas somente percepções e regras.
5. a essência da comunicação é a criação de redundâncias (por oposição à procura de objectividade e univocidade da
mensagem).
As pessoas entendem-se, comunicam-se. Mas esse não é um processo tão simples quanto parece. Seria ingenuidade
acreditar que, para haver a comunicação, basta a transmissão de A para B de uma mensagem, por meio de um código,
através de um canal. E que se trata de B descodificar o que A emitiu e incorporar essa mensagem. Gregory Bateson
pelo contrário, considera que o processo comunicacional é muito mais complexo e amplo e menos óbvio. Muitas
vezes a fala, o discurso expresso, o texto, não significam muita coisa. Nós, comunicamos muitas vezes mais por
gestos, por posturas corporais, por formas não-verbais.. Até pelo silêncio.
A comunicação, assim, para Bateson, é um processo mais amplo porque envolve diferentes planos e diferentes
modulações. O mais elementar é o plano da linguagem verbal indicativa: “Este é um gato”, que John Austin chamava
de declaração constatativa. Mas este plano precisa de ser confirmado por outros planos que acompanham a fala para
ser efectivamente compreendido. Quer dizer, não basta saber que a coisa é dita, é preciso ver como ela é dita, se é
como informação, advertência, ironia, gozo, etc. Estes outros planos da linguagem, acima do plano meramente
denotativo, são formas conotativas que podem estar dentro da linguagem (ironias, metáforas, etc) ou fora dela
(expressões corporais, faciais, inflexões, etc).
Deste modo, Bateson considera que a comunicação humana é antes de mais um tipo de jogo, mais do que um
processo uniforme e lógico. As pessoas têm que saber associar a coerência de uma frase dita a uma determinada
situação, à maneira como ela é dita, às intenções claras ou escondidas do falante para poderem posicionar-se. Todo
este jogo constitui o enigma da comunicação, operando simultaneamente com as múltiplas ambiguidades e
interpretações que ela encerra.
Estamos, portanto, diante de um processo caótico, em que os actores criam situações a que outros respondem, mas
cujo desenrolar é imprevisível por força da própria inconstância da acção dos participantes e da sua expressão verbal
e não-verbal. Muitas pessoas têm dificuldade em operar com os diferentes níveis comunicacionais. Uma resposta
brusca é antes uma agressão ao outro e não está associada ao sentido da mensagem. Por exemplo, se um colega de
trabalho pergunta ao outro: “Como é que você conseguiu ir para casa ontem, em pleno horário de expediente?” e o
outro responde “De carro, como é que havia de ser!?”, a resposta foi usada antes como uma reacção à pergunta
provocatória/desafiadora do colega.
Naturalmente, as pessoas sempre podem dizer “O que quer dizer com isso?” para melhor mapear esta operação com
diferentes tipos lógicos que constituem uma única mensagem comunicacional. Mas a sensação é sempre de uma
certa nebulosidade, exactamente porque a fala nunca é directa e suficiente. Diz Bateson que por isso, confiamos
mais nos modos não verbais de postura, gestos, expressões faciais, entonação e contexto para comunicar do que no
nível meramente denotativo.
Bateson refuta a ideia de que a linguagem é feita de palavras, dizendo, ao contrário, que ela é em primeiro lugar um
sistema de gestos. A linguagem dos gestos é muito mais expressiva, mais rica que a linguagem falada e nela
confiamos mais; muitas vezes, parar de falar diz-nos muito mais do que continuar a falar. A maioria das nossas
comunicações envolvem sinais cinéticos e paralinguísticos: movimento do corpo, tensões involuntárias de músculos
voluntários, mudança da expressão facial, hesitações, mudanças no tempo da fala ou no movimento, sobretons da
voz e irregularidades da respiração.
O verbal e o não-verbal, o denotativo e o conotativo são chamados também, por Bateson, de digital e analógico. A
comunicação digital é uma forma ritualizada de comunicação, não há nenhuma troca de informação, a maioria das
conversas, diz Bateson, é apenas sobre se as pessoas estão irritadas ou aspectos relativos à relação entre elas.
Pragmática da comunicação humana: todos os comportamentos sociais e, portanto, as práticas comunicacionais no
interior desses relacionamentos, são “jogos”, quer dizer, sequências de comportamentos governados por regras, e
marcados por relações e padrões de relações
A comunicação pode ainda ser considerada relativamente às funções, poderes e papéis:
1. comunicação simétrica ou horizontal: é aquela que acontece a nível de iguais (irmãos, casal - o risco é a escalada
agressiva).
2. comunicação complementar ou assimétrica ou vertical: é aquela que acontece entre pais e filhos - os riscos são a
rigidificação ou a comunicação paradoxal (double-bind).
Os processos comunicacionais tanto interpessoais quando coletivos e “de massa” só consideram as mensagens
efetivamente comunicadas uma vez “filtradas” pelas relações, a saber, uma vez considerados aspetos relacionais
como “como eu as recebo”, “que destino lhes dou”, “que respeitabilidade tem aquele que a emite”, etc.
Em termos da teoria da perceção, os autores propõem quatro níveis de perceção que nos ajudarão a compreender as
oportunidades que tem a comunicação de mudar padrões instalados:
1. nível dos objetos, fatos, eventos.
2. nível dos significados atribuídos (interpretação dos objetos)
3. nível dos padrões de significado (unificação de diferentes objetos e significados num todo que dá sentido ao
mundo)
4. nível dos mecanismos de funcionamento e mudança (insight, ver “mais longe”, ver de “fora”)
O primeiro nível é elementar e imediato, trata-se do conhecimento das coisas, a perceção pura e simples dos objetos
que nossos sentidos transmitem (um cão percebe um círculo e uma elipse, mesmo que isso nada diga sobre a coisa
percebida).
No momento em que se atribui um significado a essas perceções, quando elas deixam de ser meros sinais para me
dizerem algo - círculo e elipse indicando ao cão prazer e dor, adquirindo portanto significado para a sua sobrevivência
- chegamos ao segundo nível da perceção, o nível das significações.
Um nível de terceira ordem surge quando a soma total de significados, obtidos através do contactos com vários
objetos singulares do seu meio, proporciona uma visão unificada do mundo do qual também ele participa. São
relativos à sua existência e ao significado do mundo em que vivem (a mudança de padrões comunicacionais refere-
se à capacidade de introduzir mudanças no segundo e no terceiro nível).
A aceitação de mudanças na perceção de terceira ordem (psicoterapia) busca exatamente a mudança nos padrões
básicos que só será possível a partir de uma quarta ordem de perceção, onde já só há vislumbres de perceção. É nesse
nível, dizem eles, que se pode comunicar ou pensar a respeito das premissas de terceira ordem (isto é, saindo delas
e alcançando um nível que as possa ver “de cima” ou “de fora”). Trata-se da área da intuição e da empatia, da
experiência do “aha, eureka”. Esta é a área onde tem lugar a mudança terapêutica, uma mudança que, após uma
terapia bem sucedida, resulta impossível dizer como e por que se produziu e em que realmente consiste.
De acordo com Relvas, o ciclo vital é “o esquema de classificação em estádios que demarcam uma sequência
previsível de transformações, diferenciando fases ou etapas”, isto é, uma sequência previsível de transformações na
organização familiar, em função do cumprimento de tarefas bem definidas
Esta conceção diz que a família se confronta com regularidades que se consolidam em estádios de desenvolvimento.
E é possível identificar uma sequência previsível dessas transformações na organização familiar de acordo com
determinadas tarefas que são constituídas em etapas. As tarefas dependem das caraterísticas dos indivíduos, das
pressões sociais para o desempenho adequado de tarefas essenciais e são respostas dadas às mudanças provocadas
pela alteração dos papéis.
novo papel → mudanças → tarefas desenvolvimentais → novo estádio de desenvolvimento
O desenvolvimento ocorre ao longo de diferentes resoluções da sua função interna (subsistência) e externa
(socialização) e das suas tarefas (pertença e individualização).
De acordo com Duvall, o ciclo vital da família age de acordo com a presença de crianças e a evolução e idade do filho
mais velho.
De acordo com Hill e Rodgers, existem 5 estádios segundo alterações no número de elementos, faixas etárias e
ocupações dos pais.
Já Relvas, baseia-se na perspetiva estrutural de Minuchin, mas introduz o estádio dos filhos adolescentes (5 estádios
na totalidade).

formação do casal → família com filhos pequenos → família com filhos na escola → família com filhos
adolescentes → família com filhos jovens-adultos

aspetos negativos do ciclo vital aspetos positivos do ciclo vital


discrepâncias no número e marcadores de etapas utilidade no diagnóstico e avaliação da situação
a família “típica” levantamento de hipóteses
ignora fatores sociológicos planeamento inicial da intervenção
muitas tarefas são recorrentes e sobrepostas, coexistem compreensão desenvolvimental da família

como analisar e compreender uma familia?


É importante perceber quem está presente, quem fala, que temas surgem, quais as diferenças na participação dos
diferentes elementos, que diferenças de opinião emergem, como reagem às contribuições uns dos outros, que relações
de poder emergem, qual o clima emocional, os papéis desempenhados pelos membros, as relações entre eles, os
hábitos e rotinas familiares, a história do casal, a história intergeracional, entre outros.
Escala de avaliação global do funcionamento relacional (Kaslow): trata-se de uma grelha de observação, um apêndice
no DSM-IV, que descreve, de forma simples, diversas situações e permite ao avaliador dar uma nota global ao
funcionamento familiar, de 1 a 99 (quanto melhor o funcionamento da família, maior é a nota).
1. (1–20): as rotinas relacionais são poucas (por exemplo, não há horários combinados de refeições, sono ou período
de vigília); os membros da casa frequentemente não sabem onde os outros estão, ou o que esperar uns dos outros; a
comunicação é repetidamente prejudicada por mal-entendidos e falta de atenção ao que os outros dizem.
Responsabilidades pessoais e geracionais não são reciprocamente aceites e reconhecidas. Os limites da unidade
relacional como um todo e dos subsistemas não podem ser identificados ou respeitados. Pode haver ameaça e/ou
agressão física ou sexual entre membros. O desespero e o cinismo são francos; pouca atenção é prestada às
necessidades emocionais dos outros; quase não existe sentimento de pertença, ligação ou preocupação com o bem-
estar uns dos outros.
Em suma, a unidade relacional tornou-se excessivamente disfuncional para garantir a continuidade de contacto e
ligação.
2. (21–40): os padrões e rotinas relacionais não satisfazem as necessidades dos membros; expectativas estabelecidas
são ignoradas ou rigidamente cumpridas, apesar das mudanças situacionais. Transições do ciclo vital como partidas
ou entradas das/nas relações geram problemas frustrantes e não resolvidos. A tomada de decisões é tirânica ou
bastante ineficaz. As caraterísticas particulares dos indivíduos não são apreciadas, ou são ignoradas por coligações
rígidas ou confusamente fluidas. Períodos de convivência agradável em conjunto são pouco frequentes; distância
óbvia e hostilidade declarada reflectem conflitos importantes que permanecem não resolvidos. Disfunção sexual
grave entre os adultos é frequente.
Em suma, a unidade relacional é óbvia e seriamente disfuncional. Períodos de relacionamento satisfatório são raros.
3. (41–60): a comunicação, a solução de problemas e as atividades rotineiras, com bastante frequência, são inibidas
ou dificultadas por conflitos não resolvidos; há dificuldade moderadamente grave em adaptar-se a situações de stress
e transições, como saídas da família, mortes, nascimentos e casamentos. A tomada de decisões é só
intermitentemente competente e efectiva; nessas situações observa-se excessiva rigidez ou falta significativa de
estrutura. As necessidades individuais estão frequentemente submersas. Dor e/ou raiva ineficaz ou paralisia
emocional interferem com a possibilidade de partilhar alegrias. Apesar de haver algum calor e apoio para os
membros, esses, em geral, são desigualmente distribuídos. Problemas sexuais entre os adultos são frequentes.
Em suma, apesar de haver períodos ocasionais de funcionamento satisfatório e competente das relações, as relações
disfuncionais e insatisfatórias tendem a prevalecer.
4. (61–80): a maioria dos problemas quotidianos é resolvida adequadamente, mas existe dor e dificuldade em
responder a situações incomuns. Alguns conflitos permanecem não resolvidos, mas não perturbam a relação. A
tomada de decisões é feita, em geral, de forma competente, mas o esforço para o controle dos membros entre si, às
vezes, é maior que o necessário e/ou é ineficaz. Indivíduos e coligações são claramente demarcados mas, às vezes,
são depreciados ou discriminados. Uma gama de sentimentos é expressa, mas é evidente que há áreas de bloqueio
emocional e tensão. Calor e carinho estão presentes, mas são marcados por irritabilidade e frustração. A atividade
sexual dos adultos pode ser algo insatisfatória e problemática.
Em suma, o funcionamento da unidade relacional é algo insatisfatório. São resolvidas muitas das dificuldades que
ocorrem ao longo do tempo, mas não todas.
5. (81–99): existem padrões e rotinas combinados que permitem a satisfação das necessidades de cada participante,
existe flexibilidade para mudar a resposta a eventos ou necessidades fora do usual. Os conflitos ocasionais e
transições difíceis são resolvidos através de comunicações e negociações destinadas a solucionar problemas. Existe
um entendimento compartilhado e acordo sobre os papéis e tarefas apropriados; a tomada de decisões é estabelecida
para cada área funcional; existe reconhecimento das caraterísticas particulares e dos méritos de cada subsistema (por
exemplo, pais/casal, irmão e indivíduos). Existe uma atmosfera otimista nas relações apropriadas para a situação;
uma grande variedade de sentimentos é livremente expressa e elaborada; há uma atmosfera geral de calor, carinho
e valores partilhadas. As relações sexuais dos adultos são satisfatórias.
Em suma, a unidade relacional está a funcionar satisfatoriamente segundo o relato dos participantes e a perspetiva
dos observadores.

outras familias
Famílias adotivas: a família adotiva não se distingue, no essencial, da família biológica (mesmas funções e os
mesmos direitos e deveres). Normalmente, os pais adotivos são mais velhos, com carreiras profissionais mais
estabelecidas, com maior segurança financeira, casados há mais tempo e enfrentaram uma situação de infertilidade.
As diferenças dos pais adotivos são que, geralmente, recebem uma criança mais “crescida”, pressupõe ter de passar
por uma avaliação (ter de se expor) e aspetos legais e têm de se habituar à ideia de que a sua criança, nascida de
estranhos, realmente lhes “pertence”.
Para estabelecer o equilíbrio e harmonia da família, é importante que os pais adotivos formem um laço afetivo e de
um sentimento de pertença; criem um ambiente que, não só vá ao encontro das necessidades das crianças, em geral,
mas do seu filho adoptivo, em particular; discutam a adoção com o filho(a); lidem com a curiosidade da criança
sobre a sua família de origem; ajudem o filho(a) com o sentimento de perda relacionado com a adoção; e em alguns
casos, quando o adotado chega à adolescência e à idade adulta, é importanet que lidem com os seus planos de procura
da sua família de origem.
Monoparentalidade (aposta perda conjugal ou não): caraterizam-se por ser famílias onde a geração dos pais está
apenas representada por um único elemento.
A perda/inexistência do subsistema conjugal, resulta no enfraquecimento ou até perda do espaço de partilha e
suporte emocional, de comunicação simétrica e complementar, de partilha de tarefas, de resolução de problemas, de
construção de um sentimento de individualidade e pertença e de modelação das relações amorosas dos filhos.
Existe, portanto, uma sobrevalorização do subsistema parental: processos de autonomização dificultados, famílias
emaranhadas, famílias pas de deux (Minuchin, 1988) e parentificação de um/a do/a(s) filho/a(s).
Seja por viuvez ou divórcio, é um acontecimento de vida não normativo, que envolve uma situação de transição
(stress e crise) e implica mudanças significativas, uma vez que a família é confrontada com uma situação de luto
e/ou uma reorganização do sistema familiar.
No caso da viuvez, existem algumas dificuldades associadas, tais como: os comportamentos e cognições
desadaptadas (ruminações, auto-estima, etc), o “contar” à criança, indisponibilidade do adulto em processo de luto,
subsistência familiar (menores recursos económicos), ausência da figura de apoio e diminuição dos contactos sociais
(isolamento social).
No caso de divórcio, existem também algumas dificuldades, como por exemplo, desvalorização do outro progenitor,
gestão da custódia (por exemplo, quando o/a(s) filho/a(s) não querem estar com o outro progenitor), pensões de
alimentos, visitas e férias, conflitos familiares acrescidos, subsistência familiar (menores recursos económicos),
ausência da figura de apoio e diminuição dos contactos sociais (isolamento social).
Com a ocorrência de tudo isto, a família deve aprender a lidar com a solidão e stress e reconstruir a identidade.
Como consequências destes sucedidos, na relação parental, temos a preocupação excessiva com o/a(s) filho/a(s), o
apoio do/a(s) filho/a(s), a necessidade de “compensar” o/a(s) filho/a(s) e culpabilizar o/a(s) filho/a(s).
Como consequências para o/a(s) filho/a(s), temos algumas dificuldades psicológicas e comportamentais (insucesso
escolar, culpabilização, comportamentos agressivos, depressivos e antissociais), diminuição da “quantidade” e da
“qualidade” da relação com os pais, ausência de modelos de socialização, mudanças nos contextos de vida e
desenvolvimento psicológico acelerado (identidade, autonomia e raciocínio moral).
O impacto positivo ou negativo no/a(s) filho/a(s) relacionam-se com a qualidade da relação parental (no caso do
divórcio), alterações nas condições de vida, recursos sociais de apoio, caraterísticas do/a(s) filho/a(s) - idade, sexo,
nível desenvolvimental, caraterísticas da personalidade - qualidade da relação com ambos os progenitores, relações
de fratria e presença de outros adultos significativos.
No que toca à viuvez, está associado um processo de luto que engloba a aceitação da perda, a experiência da dor, o
reajuste ao meio e o reinvestimento emocional.
No que toca ao divórcio, está associada a cooperação intraparental, a comunicação pais-filhos e adaptação à nova
situação e papéis.

mitos do casamento mitos do divórcio


se nos amamos, tudo se resolverá como já não nos amamos, nada resulta
primeiro, preocupa-te com o outro primeiro, preocupa-te comigo
não critiques e foca-te no positivo critica tudo, foca-te no negativo
primeiro, encara-te como parte do casal primeiro, encara-te como indivíduo
o que é meu, é nosso o que é teu, é meu
o casamento torna as pessoas mais felizes o divórcio torna as pessoas mais felizes
o que é o melhor para as crianças, é o melhor para nós o que é melhor para nós, é devastador para as crianças

questões de genero
De acordo com alguns estudos de Amâncio (1994) e Basow (1992), existem diferentes associações de caraterísticas
ao feminino (emotiva, dependente, sensível, submissa) e ao masculino (rígido, independente, forte, superior).
Conclui-se que o género se revela como fator estruturante da imagem de um indivíduo.
Os esteriótipos são crenças que se atribuem a membros de grupos devido à pertença a esses mesmos grupos, isto é,
um conjunto de atributos que se acredita que definem os membros de um determinado grupo social. Os esteriótipos
de género são um conjunto de crenças partilhadas e organizadas acerca das caraterísticas dos homens e das mulheres,
isto é, os atributos que as pessoas acreditam serem caraterísticos de um ou outro sexo.
Dentro dos esteriótipos de género, identificamos uma componente descritiva (os atributos, ou traços de
personalidade que as pessoas geralmente acreditam que caraterizem os membros de um determinado grupo) e
prescritiva (os comportamentos considerados adequados para esse grupo, isto é, os papéis de género).
Concluindo, os estereótipos de género são um conjunto de crenças partilhadas e organizadas acerca das caraterísticas
dos homens e das mulheres.
Os estereótipos têm como objetivo simplificar e organizar um meio social complexo, mas também justificar a
discriminação de grupos e gerar preconceitos e criar distinções entre o grupo de pertença e os outros grupos, por
comparação ou por contraste (Tajfel, 1983).
A ativação dos estereótipos de género inclui a(s) pessoa(s)-alvo, a(s) que perceciona(m) e a situação. Os agentes de
socialização são os pais, a escola (professores e colegas) e os meios de comunicação.
De acordo com Maccoby e Jacklin, existem 4 diferenças entre os géneros: as raparigas apresentam, precocemente,
mais competências verbais a nível da compreensão, vocabulário e fluência e os rapazes apresentam melhores nas
capacidades visuo-espaciais; a partir dos 2 anos, os rapazes são mais agressivos, tanto verbal como fisicamente e
partir da adolescência, têm maior capacidade a nível do raciocínio numérico.
Feminino vs masculino: “a definição de pessoa adulta, subjacente ao estereótipo feminino, encontra-se, assim,
limitada às funções afetivas e de objeto de desejo, às quais se associa a ausência de qualidades orientadas para o
trabalho e para a autonomia individual” (Amâncio, 1994, p.64)
“a pessoa do sexo masculino apresenta uma diversidade de competências que a constitui como referente universal,
em ideal de individualidade, aparentemente liberta dos contextos, enquanto que a pessoa do sexo feminino se
constitui como referente exclusivo das próprias mulheres, como ideal electivo dessa categoria, e só tem sentido
dentro das fronteiras contextuais em que é definida” (Amâncio, 1994, p.87)
No que toca às brincadeiras, as raparigas focam-se mais em guiões domésticos e românticos e os rapazes preferem
atividades que envolvem perigo, conflito, e demonstração de força física.
No que toca à interação social, as raparigas respeitam mais o outro, evitando liderar, nas amizades partilham mais
pormenores e os rapazes têm tendência a estabelecer amizades que se constituem pela partilha de atividades.

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