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PROBLEMAS E CONCEITOS TEÓRICOS ESTRUTURADORES

5 DA PSICOLOGIA

O ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO

Psicologia B 12
Luís Rodrigues | Fernando Rua
© Plátano Editora, 2015
5 O estádio pré-operatório

Estádio do desenvolvimento cognitivo caraterizado pelo crescente uso do


pensamento simbólico e da linguagem, mas ainda de forma pré-lógica.

A criança não se limita a agir sobre os objetos (como antes), mas representa-os,
isto é, substitui-os por símbolos que valem por esses objetos e assim pode
pensar sobre eles, desenhá-los, etc. Da inteligência prática passamos à
inteligência representativa ou pensamento.

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5 O estádio pré-operatório

A caraterística geral do pensamento pré-operatório e a razão de ser das suas


limitações: a centração ou egocentrismo (centração em si mesmo).

A centração ou egocentrismo pode ser entendida de dois modos:

a) o sujeito é incapaz de compreender que há várias perspetivas acerca da


realidade e dos objetos, considerando somente o seu ponto de vista;
b) o sujeito concentra-se num aspeto de um problema ou de uma situação,
ignorando outros aspetos igualmente relevantes.

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5 O estádio pré-operatório

Piaget considera que o estádio pré-operatório é constituído por dois períodos


distintos:

1 – A fase do pensamento pré-concetual ou mágico, centrado na imaginação e


por ela dominado (dura dos 2 aos 4 anos);
2 – A fase do pensamento intuitivo, centrado na perceção dos dados sensoriais e
a ela submetido (prolonga-se dos 4 aos 7 anos).

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5 O estádio pré-operatório

O PENSAMENTO PRÉ-CONCETUAL OU MÁGICO

Vive de imagens e não de conceitos. É um pensamento mágico, que transforma


o imaginário em realidade.

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5 O estádio pré-operatório

EXEMPLOS DE PENSAMENTO MÁGICO

a) O animismo – tendência para atribuir aos objetos físicos e aos fenómenos


naturais qualidades psicológicas (sentimentos, vontade, pensamentos e
emoções). O animismo exprime-se em frases como «O Sol está a deitar-se
porque está com sono.» e «A minha boneca está doente.» e na ideia de que
as estrelas que se veem no céu à noite iluminam o Sol para que possa dormir
sem medo da escuridão.
b) O realismo – tendência para atribuir a realidades psicológicas (desejos,
medos, fantasias) uma existência física. Assim, a fada madrinha, o Lobo Mau
e o Pai Natal não são ficções.

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EXEMPLOS DE PENSAMENTO MÁGICO

c) O artificialismo – tendência para acreditar que os objetos físicos e os


acontecimentos naturais são produzidos por pessoas: «O céu foi pintado por
um grande artista».
d) O finalismo – tendência para acreditar que nada acontece por acidente e,
sobretudo, que tudo tem uma justificação finalista, isto é, existe em função
do fim que cumpre. Assim, as nuvens movimentam-se para encobrirem o Sol,
este existe para que não vivamos sempre de noite, as educadoras do
infantário estão lá de manhã, vivem lá, esperando por mim todos os dias da
semana. É típico da criança nesta fase pensar que as pessoas e os objetos
existem em função de si.

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PENSAMENTO INTUITIVO

Tipo de pensamento centrado nos aspetos particulares dos objetos, ainda


incapaz de generalização propriamente dita, pouco flexível e contraditório. Não
sendo já influenciada como era pelas suas fantasias, a criança é excessivamente
influenciada pela sua perceção das propriedades dos objetos físicos e confunde
as aparências com a realidade.

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EXEMPLOS DE PENSAMENTO INTUITIVO

a) O raciocínio pré-causal – Traduz a dificuldade de entendimento das relações


de causa-efeito. Por exemplo, uma criança pode pensar que um túmulo é a
causa da morte porque as pessoas mortas estão lá enterradas; outra poderá
pensar que, estando frio em casa e havendo lá aranhas, são estas as
causadoras do frio.

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EXEMPLOS DE PENSAMENTO INTUITIVO

b) Dificuldade em distinguir uma classe de objetos de um único objeto.


Confunde o todo com uma das suas partes, o geral com o particular,
identificando todos com alguns. A criança baseia a maioria das suas
inferências num acontecimento particular ou num simples atributo de um
objeto. Assim, poderá concluir que por todos terem volantes, camiões,
autocarros e automóveis estes são objetos idênticos. Dada a imprecisão da
generalização, o raciocínio não é indutivo mas transdutivo, isto é, não
abandona o plano do particular, não atinge o conceito geral («meio de
transporte rodoviário»).

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EXEMPLOS DE PENSAMENTO INTUITIVO

c) A ausência da noção de conservação da quantidade. Caraterística própria de


um pensamento que, baseado na intuição e não na lógica, não compreende
que há permanência na mudança, confundindo aparência e realidade.
Imaginemos a seguinte situação: mostramos a uma criança de 6 anos dois
copos idênticos e com a mesma quantidade de líquido, algo que a criança
obviamente sabe. Vertemos o líquido de um dos copos para um terceiro copo
diferente, alto e estreito.
Perguntamos à criança qual dos copos tem maior quantidade de líquido. A
resposta será: o copo alto e estreito.

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1. A criança observa dois copos idênticos (com o mesmo diâmetro e a mesma altura) que
contêm igual quantidade de líquido. 2. Observa que o líquido de um dos copos passa para
um copo mais alto e menos largo. 3. Interrogada sobre qual dos copos contém maior
quantidade de líquido, a sua resposta será: «O copo mais alto!». Confundiu a aparência com
a realidade.

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5 O estádio pré-operatório

O que aconteceu?

A criança foi vítima das aparências, deixou-se iludir.

Por que razão a criança errou ?

A criança centrou a sua atenção num aspeto do problema – a altura do copo, ou


seja, o nível da água – ignorando completamente outros aspetos igualmente
relevantes (incapacidade de descentração).
Não se apercebeu de que uma alteração de um dado aspeto pode ser
compensada por uma mudança quanto a outro. O que realmente aconteceu no
exemplo apresentado foi que uma alteração quanto à altura do recipiente, o seu
aumento, foi compensada por outra, a diminuição do diâmetro.

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5 O estádio pré-operatório

A criança notaria que não houve aumento da quantidade de líquido se fizesse


regressar este ao recipiente original (um dos copos baixos e largos), isto é, se
invertesse a operação efetuada.
Contudo, o seu pensamento é marcado pela irreversibilidade, pela incapacidade
de inverter mentalmente uma sequência de factos ou de operações,
regressando ao ponto de partida.

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5 O estádio pré-operatório

A importância da aquisição da noção de conservação da quantidade

A aquisição do conceito de conservação – a capacidade de representar


mentalmente a estabilidade no seio da mudança – é o sinal de que a fase pré-
operatória foi ultrapassada.

Esta capacidade de mentalmente anular uma mudança aparente significa que o


pensamento se tornou reversível. A reversibilidade é um esquema que permite
compreender que, se A é maior do que B, então B é menor do que A. Tal
esquema torna relativamente fácil a uma criança reverter uma operação
efetuada (7 + 2 = 9), retornando ao ponto inicial (9 – 2 = 7).

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Comparação entre os estádios sensório-motor
5 e pré-operatório

INTELIGÊNCIA SENSÓRIO-MOTORA INTELIGÊNCIA PRÉ-OPERATÓRIA

• A inteligência apoia-se em
perceções e atos motores, • A inteligência apoia-se em
desenvolve-se através da ação. símbolos (a criança consegue
pensar num objeto, pessoa ou
situação, sem o ter presente –
(inteligência prática) capacidade de representação
simbólica).
• Ausência de capacidade de (inteligência simbólica ou
representação simbólica e, por representativa)
isso, de pensamento ou de • Com a linguagem surge o
linguagem. pensamento.
• Ausência de pensamento lógico.

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