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Enquadre (Setting) Grupal

D is ci pl ina : Pr oc e s s o s G r u p ai s
Enquadre
O enquadre/setting é conceituado como a soma dos procedimentos que organizam,
normatizam e possibilitam o processo terapêutico. Assim, é a conjunção de regras e
combinações que estruturam o processo, como, por exemplo, local, horários, números
de sessões semanais, tempo de duração da sessão, férias, honorários, número de
pacientes, se aberto ou fechado, etc. O enquadre grupal varia muito com o nível do
objetivo a que se propôs a grupoterapia e com o tipo de formação da grupoterapia.
Enquadre
Os principais elementos que devem ser levados em consideração na configuração
de um setting grupal são:
• se o grupo é homogêneo ou heterogêneo;
• se o grupo é fechado ou aberto;
• número de participantes;
• número de sessões;
• tempo de duração da sessão;
• tempo de duração da grupoterapia;
• simultaneidade com outros tratamentos;
• participação, ou não, de um observador ou de um co-terapeuta.
Enquadre
O grau de ansiedade que o grupo trabalha é um elemento implícito na composição
de um setting grupal, pois a grupoterapia não se desenvolve se no campo grupal a
ansiedade for inexistente ou se for excessiva. Outro elemento inerente ao setting é o
que denominamos "atmosfera grupal", que depende da atitude efetiva interna do
grupoterapeuta, do seu estilo pessoal de trabalhar, dos parâmetros teórico-técnicos.
Enquadre
Vale lembrar que dentre as clássicas regras técnicas da Psicanálise individual de
Freud as que devem ser mantidas na grupoterapia analítica são as da livre associação
de ideias (conhecida como "regra fundamental"), abstinência, neutralidade, atenção
flutuante. E a estas quatro regras explícitas, deve ser acrescentado uma quinta implícita
em Freud: a regra do amor à verdade. Além dessas, uma sexta regra é fundamental nas
grupoterapias: a do sigilo, sem a qual o grupo perde a coesão e a confiabilidade.
Regra da livre associação de ideias:
fenômeno da ressonância
A regra da “livre associação de idéias" ou “regra fundamental“ postulada por Freud,
constitui-se de que o analisado deveria assumir o compromisso em “dizer tudo que lhe
viesse à cabeça" e o psicanalista deveria incentivá-lo, mesmo que tivesse que usar o
recurso da pressão.
Assim, dois fatores modificaram essa recomendação técnica: o primeiro é que a
prática clínica evidenciou que alguns pacientes podiam utilizar desta regra a serviço de
suas resistências à análise e o segundo são as profundas modificações que estão
ocorrendo relativamente à concepção de como cura a psicanálise, numa trajetória que
vai desde a época pioneira, quando os psicanalistas procuravam (intelectualmente)
descobrir os acontecimentos traumáticos reprimidos até a época atual, em que a ênfase
incide na interação (emocional) entre o paciente e seu psicoterapeuta.
Regra da livre associação de ideias:
fenômeno da ressonância
Na atualidade, a expressão “livre associação de ideias" deve ser entendida como
um direito em falar tudo o que quiser (ou não falar), antes do que uma obrigação formal
o paciente deve ser estimulado para que ele próprio encontre os elos associativos entre
o que diz, pensa, sente e faz. Em grupoterapias mais especificamente, o relato de cada
paciente sofre as inevitáveis restrições impostas pelo setting grupal, em que ocorre uma
óbvia delimitação do tempo e do espaço de cada um com os demais.
Regra da livre associação de ideias:
fenômeno da ressonância
Assim, a regra da livre associação no caso das grupoterapias sofre alguma
modificação no sentido de que o fluxo de pensamentos e sentimentos partem livremente
dos indivíduos, mas as cadeias associativas se processam num intercâmbio entre a
totalidade grupal.
Ademais, há um fenômeno específico conhecido como “Ressonância” que consiste
em um jogo de diapasões acústicos, ou de bilhar, a comunicação é trazida por um
membro do grupo e ressoa em um outro, o qual por sua vez vai transmitir um significado
afetivo equivalente, ainda que, provavelmente venha embutido numa narrativa de
embalagem bem diferente. Logo, a função do grupoterapeuta é a de discernir um tema
comum do grupo.
Regra da neutralidade
A regra da neutralidade aborda que o terapeuta se mantenha neutro e que não
esteja envolvido na relação de emoções dos seus pacientes. Assim, um dos maiores
riscos é o de ser desvirtuado em razão da própria natureza do enquadre grupal com a
sua multiplicidade de estímulos. Porém, é preciso mostrar que o conceito de
neutralidade não estabelece que o terapeuta se comporte exclusivamente como um
indivíduo frio/seco ou como uma esfinge enigmática.
Regra da neutralidade
O conhecimento de uma atitude neutra por parte do terapeuta valoriza que este
mantenha um intercâmbio afetivo com os seus pacientes, ficando claro que não poderá
haver um comprometimento na preservação dos limites e da hierarquia do enquadre
grupal. Dessa forma, é importante o terapeuta se deixar envolver emocionalmente em
uma situação empática.
Regra da neutralidade
A execução da regra da neutralidade adquire uma importância no enquadre de
grupo terapêutico, já que há possibilidade de que o terapeuta possa ter preferências por
determinados componentes, ou certas idiossincrasias por outros e, dessa forma, vir a
"tomar partido", transgredindo a tão necessária neutralidade. Podemos usar como
exemplo uma terapia de casal, onde cada indivíduo levante uma demanda ao terapeuta
para que este tome uma determinada posição de natureza dissociada, pois requer que
ele fique do lado de um, e contra o outro.
Regra da abstinência
Freud criou esta regra/técnica sugerindo a necessidade de que o analisando se
abstivesse em tomar atitudes importantes em sua vida sem antes de passar pelo
detalhamento da análise. Da mesma forma, o terapeuta deve se abster-se em gratificar
os pedidos provindos dos pacientes nos casos em que estes visam à busca de
gratificações externas, como uma forma de compensar as carências internas. Assim,
essa recomendação quer dizer que a melhor maneira de um terapeuta atender às
necessidades dos pacientes, é a de entender o como, o porquê e o para que das
mesmas.
Regra da abstinência
Nesse sentido, especificamente em relação às grupoterapias, é preciso dar um
destaque especial à exigência — técnica e ética — de que os pacientes (e o grupo
terapeuta) se abstenham em comentar com outras pessoas o que se passa dentro do
grupo. Logo, é tão importante essa recomendação que ela até merece ser considerada
como a “regra do sigilo”.
Regra do amor à verdade
A regra do amor à verdade é acrescentada como a quinta regra que também deve
ser mantida na grupoterapia analítica implícita em Freud. Logo, a finalidade de qualquer
terapia analítica é a de adquirir um pleno sentimento de liberdade interna, visto que para
o caminho da liberdade é necessário o caminho da verdade.
Além disso, numa grupoterapia encontra-se uma desvantagem devido que o grupo
pode possibilitar ao indivíduo ocultar o seu lado oculto, limitando a se abrir. Mas a
vantagem consiste em uma pressão coletiva, quando os participantes dos grupos
desvelam uns aos outros havendo certas verdades que teimam em permanecer ocultas.
Para que mantenha o clima de franqueza, verdade e liberdade, é necessário que
essa atitude parta do grupoterapeuta, já que este constitui como um novo e importante
modelo de identificação.
Função “continente” do setting
É o último aspecto relativo ao campo grupal conforme a conceituação de Bion e,
pode ser chamado também de "holding" por Wunicott. Assim, “o continente” diz de um
desenvolvimento que o grupo possui, onde segue as etapas evolutivas do ser humano.
Um exemplo disso é que a criança em seus primórdios, que não sente seu corpo como
uma unidade integrada devido a falta de maturação hormonal, isso pode acontecer nos
grupos também, especialmente em seus inícios.
Função “continente” do setting
Ademais, as pessoas tendem a criar suportes sociais, que dizem de dois
importantes aspectos: o primeiro que é se sentir cuidado, amado e valorizado, e o
segundo, onde o indivíduo é contido, delimitado de espaço em suas responsabilidades e
comunicação interpessoal. Com isso, o individuo vai se sentindo individualizado,
diferente dos demais, e socialmente integrado, onde se estrutura o sentimento de
identidade individual grupal e social.
Conclusão
Por fim, foi possível compreender a importância do enquadre/setting como um fator
que impacta e altera a dinâmica do grupo, já que é o responsável por regular aspectos
como horários, locais, quantidade de pessoas, número de sessões entre outros; o quais
são responsáveis não só para que o grupo exista, mas também para a organização
grupal.
Nesse sentido, os estudos acerca do setting possibilitaram entender uma série de
temáticas e conceitos que envolvem esse panorama, além de trazer esclarecimentos e
compreensões, que até então eram desconhecidos sobre a questão.
Referencias Bibliográficas
ZIMERMAN, David E. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2. ed. Artmed. 2000.
p. 93-99.
Integrantes
Ana Clara Martins Ribeiro Gontijo
Augusto Sousa Rodrigues
Brenda Nadiele da Silva Leite
Camila da Silva Lima
Letícia de Souza Abreu
Rayssa Andrade Santos
Thayná Lopes de Paulo

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