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CARTA DE INTENÇÕES

2° Semestre
CEI PADRE ANTON
MEROTH
LEITURA DELEITE: A TÁTICA DA BOLSA
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
A Jussara estava a fim de um cara e bolou um plano para conhecê-lo. Ou para
ele a conhecer. Um plano minucioso, que descreveu para as amigas como se fosse
uma operação militar. Em vez de conquistar um reduto inimigo, Jussara
conquistaria o cara, que se renderia ao seu ataque. Ela acreditava que, no amor
como na guerra, planejamento era tudo.

Jussara sabia que José Henrique - o nome do cara era José Henrique - tinha
dinheiro e não tinha namorada firme, duas precondições para seu plano valer a
pena. Era bonito, era um intelectual (andava sempre com um livro embaixo do
braço) e tinha hábitos regulares. Todos os dias saía do trabalho e sentava-se numa
mesa de bar, sempre a mesma mesa, para comer uma empada e tomar uma cerveja
(só uma, e ele não fumava nem tinha qualquer outro vício aparente) antes de ir
pegar seu carro num estacionamento próximo. Geralmente bebia sozinho e ia direto
para casa, onde morava com a mãe viúva.
O ataque, de acordo com a melhor tática militar, deveria ser de surpresa.
Mas surpreendente apenas o bastante para ser inesquecível sem assustar o
cara. A ideia da Jussara era que, no primeiro contato, ele já descobrisse
tudo sobre ela. O que ele faria com essa informação dependeria do que
viesse depois. Ou, como disse a Jussara, "dos desdobramentos". Mas no
primeiro instante ele teria que saber tudo a seu respeito. Como conseguir
isso?
Com a bolsa. As amigas se entreolharam. Com a bolsa? Com a bolsa. Jussara
entraria no bar remexendo na sua bolsa, fingindo procurar alguma coisa com
tanta concentração que esqueceria de olhar para frente, e esbarraria no
José Henrique, derramando todo o conteúdo da bolsa na mesa à sua frente,
ou no chão ao seu lado.
 - E o conteúdo da bolsa dirá tudo o que ele precisa saber a meu respeito,
entendem? Serei eu dentro da bolsa. Tudo o que eu sou, tudo o que eu
gosto. Ele vai me ajudar a colocar as coisas de volta dentro da bolsa e em
poucos minutos conhecerá minha alma e minha biografia.
Jussara já sabia o que colocaria dentro da bolsa. Um bonequinho de pelúcia que certamente
enterneceria o cara, mostrando seu coração bom e algo infantil. Envelopes com sementes,
mostrando sua preocupação com o meio ambiente. E um livro, para ele saber que ela também
lia. Mas precisava decidir: que livro? Estava aceitando sugestões. Poesia? Martha Medeiros?
Karl Marx? Prosopopeia? O Pequeno Príncipe? Qual faria maior efeito? Escolheram um
Saramago, desde que não fosse muito pesado. 

E o encontro se deu. Todo o conteúdo da bolsa da Jussara caiu na frente do cara, que ajudou
a botá-lo de volta, como previsto. Mas ele nem notou o livro e as outras coisas. Pegou um
estojo de maquiagem da Jussara e disse: "Eu uso o mesmo blush!".

***

A Jussara culpa seu fracasso numa falha que costuma frustrar as operações militares:
reconhecimento insuficiente do terreno.

 - Faltou pesquisa - lamenta.

Luís Fernando Veríssimo


Planejamento
• Planejar o trabalho pedagógico demanda o olhar antecipado para

uma ação que se pretende realizar durante um período de tempo,em

um determinado espaço e com diversos materiais, a partir da

observação e da escuta direcionadas para os interesses, as

curiosidades, os questionamentos, as necessidades de bebês e

crianças, tanto individual quanto coletivamente.


A Carta de Intenções é um instrumento de registro que vem ao encontro
da reinvenção da ação docente porque revela os modos de organização da
vida nos cotidianos da Educação Infantil, como os momentos de chegada e
saída, refeição, higiene, uso do parque, organização da sala de
referência e contato com a natureza. Essa organização da vida
possibilita o direito dos bebês e crianças à convivência, à participação,
à brincadeira.
Carta é um planejamento diário?

Como colocar em prática as intenções da Carta?

A Orientação Normativa sobre Registros na Educação Infantil 01/19 estabelece


que a Carta de Intenções substitui o Plano Anual: aquele planejamento anual
(organizado por mês, bimestre ou semestre) que era feito no início do ano e
que não considerava a escuta das crianças e nem a flexibilidade do planejamento
contínuo. Nesse contexto é importante destacar que a Carta de Intenções
não substitui o planejamento contínuo docente. Este deve ser elaborado e
registrado pelos professores em seus Diários de Bordo, Semanário ou outro
instrumento de registro. Isto quer dizer que é fundamental que os professores
planejem por escrito as proposições que serão oferecidas para e com os
bebês e as crianças com antecedência
CERTEZAS E DÚVIDAS SOBRE A CARTA DE INTENÇÕES

CERTEZAS

• A CARTA DE INTENÇÕ ES PRECISA TER COMO BASE


O CURRÍCULO DA CIDADE – EDUCAÇÃ O INFANTIL; • INTENCIONALIDADE PEDAGÓ GICA;
• BONS CONTEXTOS DE EXPERIÊNCIAS; • INTERAÇÕ ES E PARTICIPAÇÃ O DAS
FAMÍLIAS;
• CONHECER O CONTEXTO EM QUE AS CRIANÇAS
ESTÃ O INSERIDAS; • PROTAGONISMO DO PROFESSOR/BEBÊ E
CRIANÇA;
• FLEXIBILIDADE;
• AUTORIA;
• PROJETOS INSTITUCIONAIS;
• OLHAR SENSÍVEL DO PROFESSOR
• OBSERVAÇÃO E ESCUTA DOS BEBÊ S E CRIANÇAS; BUSCANDO NOVOS DESAFIOS E
EXPERIÊ NCIAS;
• FLEXIBILIDADE E PODE SER REVISITADA;
• PROCESSO CONTÍNUO QUE PRECISA SER
• TEMPOS, ESPAÇOS, MATERIALIDADES E REVISITADO;
INTERAÇÕ ES;
• EDUCAR E CUIDAR
• COMO SERÁ O REGISTRO/ACOMPANHAMENTO DAS
APRENDIZAGENS;
Como elaborar a segunda carta de intenções?

Na perspectiva da Pedagogia da Infância


KISHIMOTO; OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2013

OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007:

a possibilidade mais adequada para planejamento anual do trabalho da professora é a


elaboração de uma Carta de Intenções.

Essa Carta, como o próprio nome já diz, apresenta

O ponto de partida do trabalho docente e do planejamento, bem como suas


primeiras intenções que serão recheadas, ressignificadas ou transformadas ao
longo do caminho.
A escrita da Carta será feita por agrupamento ou individual?

Qual o caminho correto para uma carta de intenções? (Semestral? Anual?)

Como começar a Carta?

A elaboração da Carta de Intenções, por ser atividade autoral de cada professora, não
pressupõe modelos fixos, sua linguagem pode favorecer seu compartilhamento com crianças
e famílias/responsáveis, para que se aproximem do processo vivenciado desde o início.

Ela representa um compromisso com a aprendizagem e o desenvolvimento dos bebês e das


crianças e deve ser revisitada frequentemente, ao longo do ano letivo. A proximidade
desta modalidade a um roteiro reforça que “planejar é a atitude de traçar, projetar,
programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de
interação, de experiências múltiplas e significativas para / com o grupo de crianças”
(OSTETTO, 2000, p.177).
Como começar a Carta?

É preciso destacar que que não há um único modelo de Carta de Intenções


porque cada contexto educacional carrega suas especificidades que
precisam ser consideradas na Carta - Projeto Político-Pedagógico - e cada
sujeito que escreve a Carta possui diferentes experiências formativas,
profissionais e pessoais que precisam dialogar com o Currículo da Cidade -
Educação Infantil.
Como direcionar essa escrita?

O conteúdo da Carta de Intenções deve ser a sinalização de projetos


didáticos, experiências, atividades e brincadeiras que a(o)
professora(or) quer proporcionar para os bebês e as crianças ao longo do
ano, anunciando o que entende naquele momento como potência, a fim de
que eles possam se desenvolver e avançar em suas aprendizagens.
PERGUNTAS QUE SERVIRÃO PARA REFLEXÃO:

•Agora, para este momento é super necessário refletir a partir destas considerações iniciais
da primeira carta:
• O que de fato se concretizou? 
•Como foi o seu percurso do inicio do ano até hoje?
•Como os vínculos e parcerias foram surgindo? Como as INTERAÇÕES com as crianças, com as
famílias, com os colegas docentes, como o coletivo CEI Padre Anton Meroth, com a gestão,
como estas relações foram se construindo e te afetando como professora ?
•Como se deu a reflexão a respeito da importância da frequência e da aprendizagem?
•Como foi a participação nos Indicadores de Qualidade? Dia da Família na Escola? Processo de
Escrita do Relatórios?
•Como os momentos formativos têm surtido efeitos em sua prática? 
•E o que pretende avançar com sua turma?
Como ampliar as leituras de mundo do grupo e explorar a cultura infantil?

Que contextos de investigação pode ser organizado, oferecido?

Que possibilidades de novas descobertas promover?

Como você utiliza os tempos e as relações entre os tempos da instituição e os tempos dos bebês e das
crianças?

Como você organiza os espaços que podem se tornar ambientes que convidam para uma brincadeira, para
uma exploração, para uma pesquisa, para a superação de um desafio;

Como seleciona as materialidades diversas?

E as proposições de interações por meio de brincadeiras de pequenos e grandes grupos, de encontros com
a arte, de rodas de histórias, etc. :?

Pense em integralidade e não em áreas fragmentadas;

Refletir sobre as ações que possibilitem as temáticas voltadas para a Educação Antirracista, Povos
Indígenas, Povos Migrantes, Educação Especial, entre outros;

Projete que as intenções são flexíveis e que projetos devem surgir durante o percurso.
Análise das Cartas de Intenções

Como avaliar se a escrita da Carta de Intenções está correta?

- A carta de intenções explicita os princípios da Pedagogia da Infância? Quais? Estes


princípios estão em consonância com o Currículo da Cidade?

- A carta acolhe, inclui e revela a escuta dos interesses, sugestões e ideias dos bebês e das
crianças?

- A carta revela o “COMO?”

- A carta revela a sinalização dos projetos, experiências e brincadeiras que o professor (a)
pretende proporcionar aos bebês e crianças?
“Você não pode
mudar o vento, mas
você pode ajustar as
velas do barco e
chegar onde você
quer”. (Confúcio).

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