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Metodologia de Intervenção

Comunitária
Uma bússola para intervenção comunitária: a
abordagem sistêmica
• Inicialmente trata-se de huma história de 6
cegos e ao longo do caminho se depara com um
elefante e os mesmos não sabia o que se tratava,
razão pela qual cada um interpretava a parte do
elefante de acordo com o seu passado, um
alegava ser um muro, outro, árvore, outro,
leque, outro comentou ser uma lança e o último
que caminhava conversando junto com um
cervo ele chegou a conclusão que era elefante.
Essa história versa os problemas comuns que um interventor social se
depara:

Em primeiro lugar, a questão da multiplicidade de pontos de vista sobre a


mesma realidade, que condiciona a percepção dos observadores. Há
necessidade de uma rigorosa vigilância do sistema interventor sobre as
suas próprias percepções, condicionadas pela cultura de que é portador.

Em segundo lugar, tem haver com o erro comum a qualquer dos seis
protagonistas, sendo que cada um tinha uma percepção parcial da
realidade, para identificar o obstáculo foi necessário a ajuda do servo que
possua a visão de conjunto do mesmo.
O macroscópio
• Na abordagem sistémica Joël de Rosnay chama a atenção para a necessidade
de uma nova visão global que permita discernir o que ele chama domínio do
infinitamente complexo:

• Microscópio, telescópio: palavras que evocam as grandes descobertas


científicas no campo do infinitamente pequeno e do infinitamente grande. O
microscópio permitiu um mergulho nas profundezas do ser vivo, a
descoberta da célula, dos micróbios e dos vírus, o progresso da biologia e da
medicina. O teles- cópio abriu ao espírito a imensidade do cosmos, traçou a
rota dos planetas e das estrelas e preparou o homem para a conquista do
espaço.
Hoje encontramo-nos perante um outro infinito: o infinitamente
complexo. Mas desta vez não há instrumentos: apenas um
cérebro nu, uma inteligência e uma lógica desarmadas perante a
imensa complexidade da vida e da sociedade. (...) Precisamos
pois de um instrumento novo, tão precioso como o foram o
microscópio e o telescópio para o conhecimento científico do
Universo, mas que seria, desta feita, destinado a todos aqueles
que tentam compreender e situar a sua ação.

A este instrumento chamei macroscópio (macro, grande e


skopein, observar) (Rosnay, 1975: 9).
O nevoeiro informacional
• Uma das características da realidade social que
nos rodeia é a sua complexidade, o que
dificulta o seu entendimento. Para exprimir
esta dificuldade Edgar Morin propõe o
conceito de nevoeiro informacional, que
impede o homem contemporâneo de enxergar
a realidade que o rodeia, integra três
componentes que funcionam como filtros entre
o observador e a realidade:
• A sobre informação, que se traduz no excesso de informações
inúteis em que é imerso no seu quotidiano.

• A subinformação, segundo elemento do nevoeiro informacional,


decorre dos insuficientes dados sobre o que nos envolve. Uma
típica situação de subinformação era a dos cartógrafos do século
XIX que, para não fantasiarem os seus mapas se viam coagidos a
representarem exten- sas regiões desconhecidas a branco.

• Para dificultar ainda mais a perceção ainda existe a


pseudoinformação, ou seja o conjunto de informações deliberada
ou involuntariamente deformadas sobre a realidade social.
A questão da informação no trabalho
comunitário

No trabalho comunitário esta questão põe-se com


particular incidência: é preciso ter uma metodologia
rigorosa que permita selecionar informação relevante
sobre as comunidades com as quais se trabalha a fim de
• diagnosticar os seus recursos e necessidades;

• programar linhas de atuação adequadas;


É neste contexto que a abordagem sistémica se torna um
poderoso ins- trumento de trabalho em dois diferentes aspetos:

• Como esperanto científico e técnico, permite que diferentes


agentes com formações diversas possam falar uma mesma
linguagem simples, apesar dos seus múltiplos pontos de vista;

• Como ferramenta metodológica, salienta os principais


elementos em jogo em cada situação e as principais relações.
O que é a abordagem sistémica?

Nascida neste século, a partir da fecundação de


várias disciplinas entre as quais se contam a
biologia, a teoria da informação, a cibernética e a
teoria dos sistemas (Rosnay, 1975: 77), a
abordagem sistémica parte da constatação que o
Universo é constituído não por unidades
singulares mas por sistemas, isto é por conjuntos
de elementos em interação
Aplicação da abordagem sistémica ao trabalho comunitário

Abordagem sistémica constitui uma útil ferramenta para descrever


os aspetos mais relevantes de uma dada realidade, selecionando a
informação mais relevante e eliminando os elementos de sobre
informação.
Numa primeira aproximação poderemos formular três conjuntos de
perguntas:
• Quanto ao seu ambiente externo, expressão que aqui é
sinónimo de sistema contextual ou de macrossistema, interessa
saber os aspetos ou características do meio exterior que
condicionam a vida da comunidade em causa, ou no sentido do
seu desenvolvimento (oportunidades) ou do seu atraso
(ameaças).
• Quanto ao seu ambiente interno (o interior da
comunidade como sis- tema) é importante
colher, nesta primeira aproximação, informações
sobre o modo como responde aos inputs do
macrossistema (circui- tos) , ao modo como está
organizado o sistema de poder e liderança
(estrutura formal e informal), os padrões de
comunicação entre os residentes e entre estes e o
exterior (rede comunicacional) e os principais
valores e comportamentos partilhados pelas
pessoas que vivem nessa comunidade (cultura).
Planeamento e programação em
Desenvolvimento Comunitário

• O que é planear?

O planeamento comunitário é um processo dedutivo


que parte da definição de grandes orientações
decorrentes do querer comum - a que se dá o nome
de estratégias, políticas, etc. - para a definição de
metas claramente avaliáveis e de meios a afetar para
as alcançar.
• seja requisito a preencher no planeamento da intervenção
comunitária:

• As estratégias e objetivos devem ser clara e rigorosamente


formulados, de modo a evitar problemas de comunicação e
interpretação entre os protagonistas do processo.
• O quadro de resultados desejáveis traçado sob forma de
estratégias e objetivos, deve apresentar uma hierarquização
clara a fim de se entender quais são as prioridades definidas;
• O plano deve também retratar a relação de dependência entre
os vários objetivos (precedências no tempo, por exemplo), a
fim de se otimizar a sua execução.
• Nesse documento devem estar previstos
procedimentos de avaliação para a
monitorização da sua execução.
• Cada objetivo deve ser seguido da previsão de
recursos a afetar (pessoas, instalações
equipamentos, verbas, tempo previsto).
Vantagens
• Partindo da fotografia da situação da comunidade,
permite sistematizar as orientações para uma ação
coerente com as necessidades identificadas (olhar
cinematográfico);
• Permite ainda articular necessidades, objetivos gerais e
específicos, estratégias, recursos e atividades,
assegurando a resposta a múltiplas necessidades de
forma integrada, reforçando a coerência interna da
intervenção e evitando a sobreposição de atividades.
Execução e administração de programas em Desenvolvimento Comunitário

O que é administrar?
• O termo administrar, do latim admanus trahere,
significa trazer à mão, comandar.
Esta expressão operacionaliza-se no terreno, numa
função com- plexa, que integra ações de:
• Planeamento (definição de rumos);
• Organização (identificação, hierarquização e articulação
de meios): -controle (comparação dos resultados obtidos
com os previstos e intro- dução de medidas de correção;
• Comunicação (por em comum), para o que
deve ter particular atenção na conceção de um
sistema de comunicações aceitável (com
mecanis mos fiáveis de produção, distribuição
e validação da informação) e repeitá-lo.
• Motivação dos protagonistas, através da
capacidade de os convencer do valor do
projeto e de manter a coesão possível para os
conduzir aos objetivos definidos;
Questões-chave na administração de
programas
Competências se destinam a ser instrumentos de
duas estratégias:
• Uma estratégia de coesão criar laços fortes de
solidariedade entre sistema interventor e
sistema cliente,
• Uma estratégia de condução que se reporta
ao modo como é concebido o processo de
decisão (preparação, tomada e execução das
decisões)(Carmo, 1995: 681).

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