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Direito Administrativo

Prof.: Bruna Refosco


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1. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO:

Segundo Hely Lopes Meireles, o direito administrativo é o conjunto harmônico


de princípios e regras (diz respeito à sistematização de normas doutrinárias de Direito e
não a mera aplicação da política ou das ações sociais) que regem os agentes (do
Executivo, Legislativo e Judiciário; ou seja, significa dizer que ordena a estrutura e o
pessoal do serviço p), as entidades (órgãos) e a atividade administrativa como um
todo (ou seja, é a série de atos que a Administração Pública pratica nesta qualidade, e
não quando atua de forma excepcional em condições de igualdade particular, é quando
pratica atos típicos, regidos pelas regras de Direito Público), tendente a realizar de
forma concreta (define quem é o destinatário determinado e os efeitos concretos que
irão surtir; afasta a atuação abstrata do Estado, excluindo-se a função legislativa), direta
(independente de provocação, excluindo-se a atuação jurisdicional que é inerte e depende
de provocação) e imediatamente os fins desejados pelo Estado (significa dizer que o
Direito Administrativo não define quais são os fins desejados pelo Estado, porque estes já
estão definidos em outros ramos, como por exemplo, fins definidos na Constituição
Federal. Logo, a constituição define os fins que o Estado deve buscar enquanto o Direito
Administrativo se ocupa de satisfazer, concretizar, realizar estes fins).

2. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO - DE ONDE NASCE O DIREITO


ADMINISTRATIVO?

São as origens, de onde nasce o direito administrativo. São elas:

 LEI – EM SENTIDO AMPLO: é toda e qualquer espécie normativa. Por espécies


normativas, compreendem-se aquelas que estão previstas no artigo 59 da Constituição
Federal (exemplos: Lei complementar, lei ordinária, decretos, resoluções). “Aquilo que
está escrito”.

Lembre-se que o artigo 59 escalona as espécies normativas conforme a sua


hierarquia.

Ademais, considerando que a administração pública se pauta pelo princípio da


Legalidade, conforme será estudado, muitos doutrinadores e algumas bancas
formuladoras de questões de concurso público tais como Cespe/Unb ou Fundação Carlos
Chagas colocam que tal princípio é fonte PRIMÁRIA do direito administrativo (posto que é
primeiro a lei que o administrador se reporta, objetivando fundamentar suas decisões e
atos).

Hely Lopes Meirelles em sua obra “Direito Administrativo Brasileiro – 39ª edição”
afirma que a lei em sentido amplo é fonte PRIMÁRIA do Direito Administrativo.

 DOUTRINA: A doutrina é a consequência do trabalho dos estudiosos, que objetivam


a universalização dos conceitos. É a lição dos mestres e estudiosos da área do direito. O
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Direito Administrativo é peculiar – diferentemente do Direito Penal ou do Direito Civil não


possui um “código”, mas sim, consiste numa reunião de normas; é composto pelas mais
diversas leis (sendo que tais leis nem sempre estão em harmonia umas com as outras).
Por isso, existe muita divergência entre os doutrinadores do ramo do direito
administrativo.

 JURISPRUDÊNCIA: A jurisprudência consiste no julgamento reiterado e no


mesmo sentido dos tribunais, que interpretam a lei ou podem suprir as lacunas existentes
nas mesmas.
Pode servir como mecanismo de orientação, mas não tem o poder de vincular a
decisão do administrador, exceto nos casos de súmulas vinculantes, pois pelo próprio
nome, infere-se o entendimento que ela VINCULA o posicionamento ou mecanismo a ser
adotado pelo administrador.
A jurisprudência em muito influi no âmbito do Direito Administrativo, eis que este
carece de sistematização e codificação.
Saliente-se que a mera existência de UM acórdão não significa a existência de
jurisprudência. A jurisprudência é uma série de decisões REITERADAS no mesmo sentido.
Ademais, a jurisprudência por si só não possui poder vinculativo, serve como mecanismo
norteador, mas não tem o condão de vincular as decisões, quer sejam da Administração,
quer sejam do Poder Judiciário.

***EXCEÇÃO: A chamada SÚMULA VINCULANTE impede decisões em


sentido contrário aos seus regramentos (Ocorre quando determinada
jurisprudência estiver consolidada e o Supremo Tribunal Federal torna o
entendimento da decisão de cunho obrigatório, a serem observados por outros
tribunais, juízes e pela própria Administração. Significa dizer que pode haver
decisão em sentido diverso).

 COSTUME: São as práticas habituais, reiteradas, tidas como obrigatórias, nas quais
o juiz pode levar em consideração para aplicar à fundamentação de sua decisão quando
falta lei ou jurisprudência sobre a matéria. No Brasil não é muito utilizado.
Entretanto, na seara do direito administrativo tem sido utilizado por razões de
suprimento de lacunas e em razão da deficiência da legislação administrativa.

 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO: São critérios maiores e até mesmo, às vezes não
escritos, sendo extraídos através da lógica ou da indução. Normalmente, vêm
implícitos em uma regra, servindo como alicerce, como base para o ordenamento
jurídico.
Exemplo: temos o princípio da Igualdade, que não vem escrito expressamente com
esse nome na Lei Constitucional, mas da interpretação da norma do artigo 5º, que
afirma o seguinte - “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

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País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à


propriedade, nos termos seguintes” – percebemos que o princípio da igualdade está
implícito porque a norma constitucional busca que aquele que será seu intérprete
se aperceba de que todos são iguais perante a lei.

3. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

O regime jurídico administrativo diz respeito às prerrogativas e sujeições da


administração pública, ou seja, refere-se ao grupo de princípios e regras que possuem
uma correlação entre si, colocando a Administração Pública em uma posição privilegiada
para fins de satisfazer os interesses da coletividade, mas ao mesmo tempo, limita a
atividade administrativa para evitar os abusos por parte da administração, desvio de
poderes e de finalidade.

Em síntese, o conjunto de prerrogativas e restrições a que está sujeita a


Administração e que não são aplicáveis ou encontradas nas relações estabelecidas entre
os particulares é o denominado regime jurídico administrativo.

As prerrogativas e restrições impostas à administração pública expressam-se


principalmente através dos princípios, que informam o direito público e em especial, o
direito administrativo, tratando-se também os princípios como fontes do direito
administrativo.

Há que se atentar aos fatos que nenhum princípio é absoluto, o que significa dizer
que os princípios devem ser analisados conforme o caso concreto em que se apresentam,
por si só um único princípio não é hábil para anular a existência de outros princípios. A
análise conforme o caso concreto é que dita qual princípio prevalecerá perante outro.

O direito administrativo é regido por uma série de princípios, dentre os quais


podemos dividir como: Princípios basilares do direito administrativo, princípios
constitucionalmente expressos e princípios administrativos em geral.

3.1. PRINCÍPIOS BASILARES DO DIREITO ADMINISTRATIVO:

São os princípios onde se concentra a atividade da administração pública, segundo


Celso Bandeira de Mello. São eles:

3.1.1. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO:

É um princípio implícito porque não está expressamente previsto na Constituição


Federal, mas verifica-se a sua existência quando se interpretam as normas constitucionais
que tratam sobre a administração pública e as próprias normas administrativas.

Significa a supremacia (superioridade) do interesse da coletividade (público) em


detrimento do interesse individual (particular).

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O interesse público pode ser definido como a soma dos interesses individuais dos
membros de uma determinada sociedade, desde que essa soma de interesses represente
a maioria (a maioria dos interesses em comum desta determinada sociedade).

De forma equivocada, alguns definem como sendo o interesse do administrador ou


da máquina pública em detrimento dos interesses particulares.

Na realidade é o interesse da coletividade (que daí sim, quem exerce a atividade de


proteger e salvaguardar os interesses desta coletividade é a própria máquina pública) em
detrimento dos interesses isolados de particulares.

Este princípio se expressa nas formas do chamado poder de polícia, por exemplo,
quando a administração exerce a desapropriação; quando a administração realiza a
chamada requisição administrativa; quando a administração é autônoma para fazer
cumprir suas premissas (chamada auto-executoriedade de seus atos), dentre outros.

Exemplo: a desapropriação, quando se transfere a propriedade de um bem que


pertencia a um particular para o domínio público, visando atender necessidades coletivas.

Exemplo 2 – o fechamento de um estabelecimento comercial que desrespeite as


normas sanitárias, em razão do poder de polícia que a administração detém. Protege a
saúde pública em detrimento do exercício do comércio por parte de um particular.

LEMBRANDO – O INTERESSE/SUPREMACIA NÃO É DO ESTADO OU DO


ADMINISTRADOR, MAS SIM DA COLETIVIDADE!!!!

3.1.2. INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO

Também é um princípio implícito no ordenamento jurídico brasileiro, assim como a


supremacia do interesse público.

Significa que o administrador não tem liberdade de dispor sobre o direito público.
Não pode ‘’abrir mão’’ do interesse da coletividade, porque o administrador não atua em
prol de sua própria vontade, mas sim, para satisfazer os interesses em geral.

Exemplos de expressões do princípio da indisponibilidade do interesse público:


Dispensa de licitação quando não for hipótese de dispensa, porque isto significa abrir mão
da melhor proposta.

Exemplo 2: A lei de improbidade administrativa veda expressamente a transação com


quem pratica o ato de improbidade administrativa, por força do artigo 17, § 1º da lei
8429/92.

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3.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONALMENTE EXPRESSOS –

São os princípios mínimos que a Administração Pública (direta e indireta) deve


observar. São chamados de constitucionalmente expressos porque estão transcritos no
texto legal da Constituição Federal, no artigo 37, caput:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

3.2.1. LEGALIDADE –

Este princípio está consagrado inicialmente no artigo 5º, inciso II da CF/88, que
reza “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei”. De
forma diversa, o artigo 37 do mesmo diploma legal diz que a Administração obedecerá ao
princípio da legalidade.
Denota-se claramente a distinção de legalidade feita pelo legislador pátrio entre a
legalidade aplicável ao direito público e para o direito privado.
Para o particular, significa dizer que ele está autorizado a fazer tudo, salvo aquilo que
está vedado/proibido pela lei (não contradizer as regras da lei).
Por sua vez, a administração, conforme determina o já mencionado artigo 37, deve se
subordinar à lei. A administração deve agir dentro dos limites de autorização contida na
lei. Em suma, o administrador só pode fazer o que a lei autoriza ou determina.

Resumindo:

- DIREITO PÚBLICO – ADMINISTRADOR – FAZ O QUE ESTÁ PREVISTO NA LEI.


- DIREITO PRIVADO – PARTICULAR – FAZ TUDO QUE A LEI NÃO PROÍBE.

O administrador público, durante o exercício de suas atividades funcionais, se sujeita


às determinações da lei (seja a norma constitucional ou infraconstitucional), se delas não
pode se afastar ou se desviar, sob pena de praticar um ato inválido ou nulo, expor-se à
responsabilização disciplinar, civil, criminal, ou ainda, incidir na prática do chamado abuso
de poder.

Contudo, o princípio da legalidade não exclui a margem de liberdade do


administrador, que a própria lei confere.

Como é impossível prever todas as hipóteses e casos com que o administrador irá se
deparar ao longo do exercício da sua atividade, em alguns casos é conferido certo grau de
liberdade (e faculdade) de o administrador atuar. Significa dizer que o administrador irá
atuar dentro dos limites previstos pela lei, mas com certa margem de liberdade.

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Exemplo: A aplicação de sanções aos servidores públicos que cometem alguma falta
administrativa é prevista em lei (a espécie de sanção tal como advertência, suspensão,
exoneração). Mas o enquadramento da conduta do servidor que comete a falta
administrativa é critério discricionário. A aplicação da sanção não, pois a sanção vem
prevista em lei, logo, é expressão do próprio princípio da legalidade.

Existem exceções ao princípio da legalidade? Celso Antônio Bandeira de Mello elenca


três tipos de exceções:

MEDIDAS PROVISÓRIAS – Medidas provisórias são atos unilaterais do Presidente


da Republica, que tem força de lei, mas que não são leis eis que não se submeteram ao
processo legislativo técnico, conforme definição do próprio direito constitucional, sendo
editadas nas hipóteses de relevância e urgência.

ESTADO DE DEFESA – É um instrumento utilizado para defesa do Estado e das


Instituições democráticas, que autoriza o Presidente da República, desde que ouvido o
Conselho da República e o Conselho de Defesa nacional (artigo 136 CF/88), decretar o
estado de defesa, buscando preservar ou restabelecer a ordem pública ou a paz social.
Quando da decretação do Estado de defesa, admite-se a restrição de alguns direitos
fundamentais, excepcionando-se desta forma, o princípio da legalidade.

ESTADO DE SÍTIO – Também é um instrumento de defesa do Estado e das


instituições democráticas, que autoriza o Presidente da República, desde que ouvido o
Conselho da República e o Conselho da Defesa Nacional (art. 137), decretar o estado de
sítio, buscando preservar ou restaurar a normalidade constitucional, perturbada por
comoção nacional, ineficácia do estado de defesa, em casos de declaração de guerra
externa ou para responder agressão armada estrangeira. Podendo restringir os direitos
enumerados no artigo 139, 220, bem como autorizar a intervenção nas empresas
prestadoras de serviços públicos e requisitar bens. Poderá ainda haver a restrição de todas
as garantias constitucionais, excepcionando-se, desta forma, o princípio da legalidade.

3.2.2. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE –

Significa dizer que o administrador não pode praticar seus atos buscando a satisfação
de interesses pessoais. O tratamento a ser dado aos administrados deve ser buscando a
isonomia e a igualdade entre todos, não realizando distinções de caráter pessoal.

Significa dizer que a Administração não pode tratar os administrados de forma


discriminatória, tanto para fins de prejudicar como para fins de conceder benesses,
evitando assim as condutas de favoritismos ou perseguições.

Logo, a administração deve servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais e


partidárias.

As duas maiores expressões constitucionais que representam o princípio da


impessoalidade são a Licitação e o Concurso Público.
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Exemplo: A publicação do edital de licitação oportuniza a todos que desejam


contratar com o poder público ter acesso aos requisitos para que a contratação se
perfectibilize. Com isto, a administração pública não seleciona quem deseja contratar, mas
sim, abre a oportunidade para que quem deseje contratar com a administração pública
concorra para tanto, e quem preencher os requisitos previstos no edital será o escolhido.
(não pessoalizou a contratação, mas sim, permitiu a uma gama de interessados concorrer
para contratar com o poder público).

Exemplo 2: A abertura de edital de concurso público se destina à administração


selecionar quem melhor preencher os requisitos para integrar o rol de servidores públicos.
Não contrata as pessoas por razões pessoais (como, por exemplo, partidarismo político ou
crença religiosa), mas sim, escolhe seus futuros funcionários dentre aqueles que tiverem
melhor desempenho nas provas aplicadas, tiverem mais títulos para fins de pontuação e
qualificação, dentre outros critérios definidos no edital de concurso.

CUIDADO – Quando determinado chefe de governo ou agente público


pratica atos e veicula a sua imagem à prática de tal ato para fins de se
promover, está se ferindo o princípio da impessoalidade.

Exemplo: Outdoor em que comunidade agradece ao prefeito fulano de tal pela


construção do novo hospital público da cidade.

Muito embora o artigo 37, §1º da CF/88 determine a publicidade dos atos da
administração, estes não devem servir como mecanismos de fins de promoção pessoal,
pois o ato foi praticado em prol da coletividade e não de um único agente.

 NEPOTISMO
O nepotismo significa o favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais
qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos.
Representa a aplicação dos princípios da impessoalidade, da moralidade, da eficiência ou
da isonomia.
Esta conduta é vedada por força da Súmula Vinculante nº. 13 do STF, que diz:

Súmula Vinculante n. 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança,
ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal.”.

A Súmula veda também o denominado nepotismo cruzado, que acontece quando


dois agentes públicos empregam familiares um do outro como forma de troca de favor, e,
acreditam que assim não contrariam o citado enunciado do STF.

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Muito embora a súmula vinculante seja silenciosa no que tange a possibilidade de


configuração de nepotismo no caso de indicação para cargo de natureza política, o
Supremo Tribunal Federal já manifestou posicionamento no sentido de afirmar que os
cargos de caráter político não são alcançados pelas determinações da súmula, quando
exercidos por agentes políticos.

Exemplo: Governador do Estado pode contratar o irmão Médico para Secretário de


Saúde do Estado (vide as reclamações 6.650 e 7.834).

Contudo, é imperioso salientar que, embora a súmula exista, a matéria acerca do


nepotismo ainda não se encontra regulada em lei.

3.2.3. PRINCÍPIO DA MORALIDADE -

É um conceito abstrato, com certo grau de indeterminação e vago. Relaciona-se à


idéia de lealdade, honestidade, ética e boa-fé na execução da atividade administrativa.

Muitos definem como sendo a exigência da boa administração por parte do


administrador público.

A moralidade administrativa relaciona-se diretamente com a chamada probidade


administrativa (definida e protegida pela lei 8429/92), desde que presentes a culpa ou o
dolo na violação da probidade.

Ou seja, sempre que se violar a probidade administrativa, estar-se-á violando


também a moralidade administrativa, pois estaremos diante de uma conduta de má
gestão do administrador público.

Contudo, isto não significa dizer que a violação da moralidade implica na violação da
probidade. A exemplo disso, temos a já denominada conduta de nepotismo, que viola a
moralidade administrativa (honestidade e ética), mas que não importa necessariamente na
má gestão dos recursos financeiros.

3.2.4. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Significa que, como o administrador público presta um serviço em prol da


coletividade e visando o interesse social, deve dar ciência, conhecimento, publicidade dos
atos praticados ao titular do direito.

A administração tem a obrigação de levar a conhecimento de todos seus atos,


contratos ou instrumentos jurídicos, para fins de permitir o controle e a fiscalização dos
atos que pratica.

Exemplo: quando as contas de determinada pessoa jurídica de direito público é


publicada, para fins de viabilizar a fiscalização e o questionamento caso surja dúvida
acerca do emprego dos recursos públicos.

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Exemplo 2: publicidade de edital de licitação, que permite dar conhecimento a todos


de que a administração tem interesse em contratar, e assim, permite a efetivação do
também princípio da impessoalidade.

Contudo, existem exceções à publicidade dos atos praticados pela administração, as


quais sejam:

- NOS CASOS QUE SE REFEREM À PROTEÇÃO DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA E


IMAGEM - Por disposição expressa do art. 5º, inciso X, que garante a inviolabilidade da
intimidade, vida privada e imagem (direito fundamental).

NOS CASOS EM QUE HAJA RISCO PARA A SEGURANÇA DO ESTADO E DA


SOCIEDADE -Art.5º, inciso XXXIII, quando documentos que normalmente deveriam ser
publicizados são mantidos em sigilo para fins de preservar a segurança do estado e da
sociedade.

ATOS PROCESSUAIS – Art. 5º, inciso LX, quando atos processuais deverão tramitar
em sigilo para fins de preservar a intimidade, ou quando o interesse social exigir. Nestes
casos, os atos processuais deverão correr em segredo. Exemplo: Processo administrativo
dos conselhos.

3.2.5. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA –

Foi introduzido pela EC nº 19/98, e diz respeito à exigência da prestação de um


serviço público eficiente, tanto no que diz respeito à eficiência dos meios do serviço
quanto à eficiência dos resultados do serviço prestado.

Significa dizer que consiste na realização da atividade administrativa com presteza,


perfeição e rendimento, buscando a produtividade, economicidade e redução de
desperdícios, em prol do bem comum.

No que diz respeito especificamente aos servidores públicos, a emenda constitucional


nº 19 veio para modificar a regra insculpida na constituição acerca da aquisição e perda
da estabilidade dos servidores públicos, hoje regrada pelo artigo 41, CF.

Para que o servidor adquira a chamada estabilidade, deve ser nomeado em cargo de
provimento efetivo, que depende da prévia aprovação em concurso público de provas ou
de provas e títulos; três anos de exercício efetivo (NÃO DE ESTÁGIO PROBATÓRIO), ser
aprovado na chamada avaliação de desempenho (clara incidência do princípio da
eficiência).

O servidor que adquire a estabilidade pode perdê-la em virtude de processo


administrativo (desde que garanta a ampla defesa e o contraditório), através de processo
judicial com trânsito em julgado ou através da chamada avaliação periódica (expressão
legal do princípio da eficiência prevista no artigo 41, §1ª, inciso III da Constituição
Federal).

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A avaliação periódica é feita conforme cada estatuto de servidor dispõe.

Também é exemplo da expressão do princípio da eficiência a chamada eficiência


exigida quando da prestação dos serviços públicos, tanto com relação ao meio como são
prestados como os resultados obtidos. O serviço tem que atender plenamente as
necessidades para as quais foi criado.

O princípio da eficiência assim como o princípio da moralidade é um tanto quanto


abstrato, não consistindo em um conceito fechado.

RECURSO PARA DECORAR OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONALMENTE


EXPRESSOS: LIMPE!!!

L egalidade
I impessoalidade
M oralidade
P ublicidade
E ficiência

3.3. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS EM GERAL

São aqueles que não estão expressos no artigo 37 caput, mas que podem ser
encontrados em outros dispositivos da própria constituição federal ou então, regulados em
outras normas de caráter infraconstitucional.

3.3.1. PRINCÍPIO DA ISONOMIA

Significa tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais, na medida


de suas desigualdades.

Deve observar a correlação lógica entre o fato discriminado e a razão jurídica pela
qual a discriminação é feita.

A jurisprudência dominante tem exigido que a lei de determinada carreira preveja tais
exigência discriminatórias, além da compatibilidade com o objetivo da norma.

É o caso, por exemplo, da súmula 683 do STF, que reconhece a possibilidade do limite
de idade, quando a complexidade do cargo assim exigir. Quando a natureza das
atribuições de um cargo justifica o limite de idade, então, a estipulação do limite de idade
é constitucional (tanto para o caso de idade, como condição física, etc).

Exemplos:

 Concurso para salva-vidas que veda a participação de cadeirantes do certame (não


viola a isonomia);

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Concurso para a polícia civil na área burocrática que veda a participação de cadeirante
– viola a isonomia;

 Exigência de 3 anos de exercício de atividade jurídica para os concursos de MP e


magistratura – não viola porque é exigência da lei orgânica dos cargos.

** PROVA FÍSICA EM CONCURSO:

A prova física em concurso com critérios diferenciados para mulheres não viola o
princípio da isonomia, porque as mulheres são fisicamente diferentes dos homens.

3.3.2. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA –

Está previsto no artigo 5º, inciso LV da CF/88, com a seguinte redação:

Art. (...)
LV - aos litigantes em processo judicial ou administrativo são assegurados o
contraditório e a ampla defesa
(...)

É a expressão do próprio Estado Democrático. Representa a oportunidade de


defesa da parte, quando a ela é imputada a prática de determinada conduta. Não significa
a mera abertura de prazo, mas sim, dar a oportunidade efetiva do exercício da defesa.
Desmembra-se na realização de duas necessidades:

 DEFESA PRÉVIA – Consiste na informação das penalidade pré-determinadas ao caso


que se apresenta. O sujeito não pode ser surpreendido com penas que não saiba,
então, o processo é divido em etapas que permitem a ciência do sujeito ao que ele
está sendo submetido, a qual conduta lhe é imputada e quais os resultados possíveis.
 GARANTIA DE INFORMAÇÃO DO PROCESSO – é permitir que o sujeito conheça o
processo, tenha acesso ao mesmo, por exemplo, ao permitir as cópias. Contudo, a
administração não tem o dever de arcar com os custos das cópias, isto é
responsabilidade do interessado.
 GARANTIA DE RECURSO – é direito constitucional, decorrente da ampla defesa, para
que a parte possa exercer a tentativa de reformar ou anular uma decisão que lhe foi
desfavorável ou prejudicial.

CUIDADO – EM SE TRATANTO DE RECURSOS ADMINISTRATIVOS, HÁ A


POSSIBILIDADE DA REFORMATIO IN PEJUS, POR FORÇA DE EXPRESSA
DETERMINAÇÃO LEGAL DA LEI 9.784/99, CONFORME O ART. 64,
PARÁGRAFO ÚNICO. CONTUDO, A REVISÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO (QUANDO SURGE FATO NOVO) NÃO ADMITE A
REFORMATIO IN PEJUS, POR EXPRESSA DISPOSIÇÃO LEGAL DO ART. 65,
PARÁGRAFO ÚNICO DA MESMA LEI.

LEMBRANDO QUE REFORMATIO IN PEJUS É A REFORMA DA DECISÃO


QUE ACARRETA EM AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO DO RECORRENTE!!!

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 PRODUÇÃO DE PROVAS – é a prova realizada e avaliada para fins de quem traz a


prova a conhecimento da autoridade competente possa convencer o julgador dos
seus argumentos.
 DEFESA TÉCNICA – A presença de advogado é facultativa nos processos
administrativos em geral, não caracterizando nulidade do procedimento a ausência do
mesmo, por disposição da Súmula Vinculante nº 5 do STJ, que diz que “a falta de
defesa técnica por advogado em processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição Federal”.

3.3.3. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Significa a obrigatoriedade que a administração pública tem de dar ciência da


existência de um processo e do conteúdo do mesmo à parte interessada.
Não se limita única e exclusivamente a proceder com a citação da parte para
que a mesma se manifeste. Tal princípio é muito mais abrangente, pois significa também
ouvir as alegações da parte, permitir sua manifestação, sua produção e alegação de
provas, para que a mesma exerça a sua influência no convencimento da autoridade que
julga.
3.3.4. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

A administração ou aquele que atua em seu nome deve agir com bom senso,
de forma razoável, congruente e proporcional (ou seja, abrange o princípio da
proporcionalidade).
A razoabilidade nada mais é do que um limite dado para a discricionariedade
(margem de liberdade) do administrador, para que ele ao praticar seus atos estabeleça
uma relação de oportunidade e conveniência de um lado e a finalidade legal de outro.
Logo a conduta do administrador deverá ser sensata e racional.

Exemplo: O administrador resolve construir um hospital e não escola. Isto é uma


opção do administrador (o chamado mérito administrativo). Contudo, se o administrador
muda de idéia e resolve construir uma praça ao invés do hospital, há um controle de
legalidade, do princípio constitucional (a decisão não foi razoável). Neste caso, o poder
judiciário pode fazer controle de legalidade com base em princípios constitucionais.

3.3.5. DA PROPORCIONALIDADE

O princípio da proporcionalidade é caracterizado pelo fato de presumir a existência


de uma relação adequada entre um ou vários fins determinados e os meios com que são
levados a cabo, na descrição do jurista Paulo Bonavides.

A proporcionalidade deriva do princípio da razoabilidade, diz respeito à análise de


alguns critérios de aplicação, os quais sejam a adequação, no caso de a medida adotada
ser a mais adequada; a necessidade, no caso de a medida adotada vise a preservar o
direito fundamental mais importante no caso concreto; e por fim, a proporcionalidade em
sentido estrito, questionando se o meio escolhido foi o menos oneroso dentre os
existentes.

Em suma: é o equilíbrio entre o ato praticada e as medidas aplicadas em razão dele,


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considerando os benefícios e prejuízos (não pode causar mais prejuízo que benefício).

Exemplo: servidor que pratica uma infração funcional de natureza leve, mas sofre
pena de demissão a bem do serviço público. A sanção é desequilibrada, não razoável e
não proporcional.

TANTO O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE COMO DA


PROPORCIONALIDADE SÃO PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS NO TEXTO
CONSTITUCIONAL, PORÉM SÃO EXPRESSOS NO TEXTO
INFRACONSTITUCIONAL, EM ESPECIAL NA LEI 9.784/99 QUE TRATA, EM SEU
ARTIGO 2º QUE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DEVE OBEDECER A
RAZOABILIDADE E A PROPORCIONALIDADE.

3.3.6. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE

Significa que a atividade administrativa não pode parar, ausência de interrupção, o


dever da administração de manter-se sempre em funcionamento, dentro das formas e
períodos das prestações.

O Estado tem o dever de prestar o serviço de forma ininterrupta, contínua.

Em decorrência de tal afirmação surgem discussões acerca do direito de greve na


administração pública, do particular que contrata com a administração pública e que
deseja suspender o serviço contratado face à inadimplência e a excepcio non adimplenti
contractus (exceção do contrato não cumprido).

CORTE DO SERVIÇO PÚBLICO POR INADIMPLÊNCIA:

Atualmente surgem discussões com relação ao corte do serviço público por razões de
inadimplência. A lei 8.987/95 que regula a concessão e a permissão de serviços públicos
reconhece a existência de possibilidade de interrupção dos serviços nas seguintes
hipóteses:

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao


pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes
e no respectivo contrato.

§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de


emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade

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*Reparem que em ambas as hipóteses se exige o aviso prévio, exceto em casos de


emergência.

Contudo, doutrina e jurisprudência discutem a constitucionalidade da interrupção dos


serviços nas hipóteses de inadimplemento.

A posição majoritária e que tem prevalecido é que os serviços públicos, em especial


os essenciais não podem ser interrompidos de forma alguma, exceto nos casos de
emergência ou desde que haja aviso prévio, motivados pelas razões descritas nos incisos I
e II do §3º da Lei 8.987/95.

Para os que defendem esta posição majoritária, a impossibilidade de interrupção,


salvo nas exceções previstas, se deve pela própria existência do princípio da continuidade.

A interrupção do serviço mediante aviso prévio se justifica porque há que se tratar de


forma desigual quem não efetua o pagamento do serviço com relação a quem arca com o
custeio corretamente. Isto é expressão do próprio princípio da isonomia.

Muito embora esta seja a posição predominante no momento, existem decisões e


também quem defende posição diversa desta, que afirma que a interrupção é
inconstitucional porque lei infraconstitucional não pode excepcionar o princípio da
continuidade implícito na constituição federal, devendo o prestador do serviço recorrer ao
poder judiciário para ver satisfeita a cobrança do débito pela inadimplência.

Ainda assim, existem decisões em nossos tribunais que impedem o corte do serviço,
quando a suspensão do mesmo acarrete em prejuízo irreparável a quem se utiliza deste
serviço, como é o exemplo, a prestação de energia elétrica a hospitais. Nestes casos, tem-
se a clara aplicação do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e da supremacia do
interesse público.

GREVE DO SERVIDOR PÚBLICO

A CF/88 prevê o direito de greve ao servidor público no seu art. 37, inciso VII,
desde que este seja exercido na forma e nos limites previsto em lei. Contudo até hoje não
houve edição da lei que regulamente o direito de greve do servidor.

Sendo assim, incumbiu ao Poder Judiciário manifestar-se os casos em que a greve é


considerada legal ou ilegal, e frente a inércia do legislativo, vale-se dos critérios definidos
nas normas celetistas para definir os limites das greves feitas pelos servidores públicos
(logicamente, se valendo das normas celetistas que não contrariem as normas
constitucionais ou o estatuto dos próprios servidores).

Existem algumas manifestações da AGU e do STF definindo alguns parâmetros do


que se considera por greve legal e greve ilegal de servidores.

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Em alguns casos, há o entendimento de que quando os servidores exercem tal


direito, contudo, os serviços que prestam são essenciais e que se o serviço for afetado
pelo exercício da greve, causando grave prejuízo, a greve poderá ser reconhecida como
greve ilegal.

LEMBREM-SE: No caso dos MILITARES, existe vedação constitucional do direito de greve,


conforme dispõe o artigo 142, §3º, IV da CF/88, e também porque o próprio Código Penal
Militar define esta conduta como sendo crime militar.

EXCEPCIO NON ADIMPLENTI CONTRACTUS (exceção do contrato não


cumprido)

Tal expressão muito estudada no direito civil, no que tange ao direito contratual,
significa que uma parte não pode exigir o cumprimento do contrato com relação à outra
parte, se não deu cumprimento à sua obrigação.

Existem posições divergentes quanto à aplicação deste instituto nos contratos


celebrados com a administração pública.

A doutrina defendida por Hely Lopes Meirelles entende que não se aplica esta
cláusula nos contratos administrativos, ou seja, mesmo que a Administração Pública esteja
inadimplente, quem contratou com a Adm. Pública deverá continuar prestando o serviço
em nome do chamado princípio da continuidade.

Já a doutrina mais moderna e defendida por Celso Antonio Bandeira de Mello


entende que inexiste a aplicação deste instituto, contudo, não por tempo indeterminado,
mas sim, por um prazo de 90 dias. Ou seja, se a administração não arcou com o
cumprimento da sua parte no contrato, por 90 dias o contratado deve manter a execução
do serviço. Contudo, transcorrido os 90 dias e a administração permanecer inadimplente,
o prestador do serviço pode suspender o fornecimento do serviço à administração pública.
Este é o entendimento que tem prevalecido.

Esta possibilidade surgiu frente ao disposto no artigo 78, inciso XV da Lei de


Licitações e Contratos (8.666/96).

3.3.7. PRINCÍPIO DA AUTOTELA

Diz respeito à autonomia que a administração possui para revisar os atos que
pratica, para anulá-los quando forem ilegais ou revogá-los, por motivo de conveniência e
oportunidade, independente de ter que recorrer ao Poder Judiciário para revisar os seus
atos.

Tal princípio encontra-se expresso na Súmula 346 do STF, que reza o seguinte:

“A Administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornem ilegais, porque deles não se originam direitos”.

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Também encontramos a autotutela da administração insculpida na súmula 473 do


STF:

“A Administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial”.

Na mesma orientação que versam ambas as súmulas, na Lei 9.784/99, no seu


artigo 53, encontramos implicitamente a própria descrição do princípio da autotutela,
quando tal dispositivo diz que a administração deve anular seus próprios atos quando
eivados de vício, e pode revogá-los por motivos de conveniência e oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos.

3.3.8. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE

Também aparece descrito sob as expressões presunção de legalidade e de


veracidade. É um princípio aplicado aos atos praticados pela administração pública, onde
se presume que todo o ato praticado é presumidamente legal (ou seja, presume-se que o
ato obedeceu à legislação), até que se prove o contrário.

Tal princípio é aplicado aos atos administrativos posto que se pressuponha que a
administração atua observando a legalidade, conforme escrito no artigo 37 caput da
CF/88.

Contudo, a presunção é relativa (ou juris tantum), admitindo prova em contrário,


cabendo o ônus a quem alega que o ato não é legal (ou seja, admite-se o questionamento
tanto na esfera administrativa quanto na esfera judicial de que o ato não observou os
regramentos previstos em lei).

A presunção de legitimidade se deve também ao fato de que as decisões


administrativas podem ser executadas de forma imediata, gerando obrigações para o
particular, sem que se requeira a anuência do mesmo para tanto, sendo que a
administração pode se valer de meios diretos ou coativos para executar seus atos.

3.3.9. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

A administração pública é composta por entes da administração direta (União,


Estados, Municípios e DF), mas possui a faculdade de criar a Administração Indireta
(autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista).

A criação da administração indireta depende de lei, que deve definir as finalidades


específicas destes entes. A criação dos mesmos é ocorrência do fenômeno da
descentralização administrativa.

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Logo, este princípio foi criado, pensando na sua aplicação para a criação dos entes
da administração pública indireta, que descentralizados (fora da administração pública
indireta) especializam a função de prestação dos serviços públicos (logo, daí a expressão
princípio da especialidade), sendo que seus administradores não podem se afastar dos
objetivos previstos em lei.

Estas pessoas jurídicas são vinculadas às finalidades para as quais foram criadas.

3.3.10 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO

Este princípio diz respeito ao dever que a administração tem de justificar os atos
que pratica, com a indicação dos fundamentos de fato e de direito que ensejaram a
realização do mesmo.

Serve para verificar se a atuação do administrador é compatível com os


regramentos da legislação, para evitar arbitrariedades e abusos.

A motivação deve ser prévia ou contemporânea, jamais posterior à prática do ato


(o administrador indica antes ou no momento em que pratica o ato, não depois).

3.3.11. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Tem como escopo evitar alterações supervenientes que causem instabilidade com
relação aos administrados ou que ensejem situação de insegurança (o administrado não
saber o que pode lhe ocorrer, a que está submetido).

É um dos princípios basilares do Estado Democrático de Direito.

Maria Sylvia Zanella di Pietro assim se manifesta acerca do porquê da importância


da existência de tal princípio: “O princípio se justifica pelo fato de ser comum, na esfera
administrativa, haver mudança de interpretação de determinadas normas legais, com a
consequente mudança de orientação, em caráter normativo, afetando situações já
reconhecidas e consolidadas na vigência de orientação anterior. Essa possibilidade de
mudança de orientação é inevitável, porém gera insegurança jurídica, pois os interessados
nunca sabem quando a sua situação será passível de contestação pela própria
Administração Pública”.

4. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA– ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E


INDIRETA

4.1. Formas de prestação da atividade administrativa.

A regra geral é que o Estado deveria prestar o serviço ele mesmo, através de seu
núcleo central, também conhecido como administração direta, representada na figura da
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal (a chamada prestação
centralizada na figura destes entes).

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Com o início do processo de privatização e buscando garantir maior eficiência


(expressão do princípio da eficiência, segundo a EC 19/95) aos serviços, o Estado passou
a descentralizar os serviços públicos, transferindo a execução das atividades para que
outras pessoas fizessem em seu lugar.
De tal informação extrai-se o entendimento que quem poderia executar o serviço
de forma descentralizada seriam as pessoas da administração pública indireta ou os
particulares (estes últimos, quando da concessão, permissão e delegação de serviços
públicos em geral, que será estudado mais adiante).
A forma centralizada ou descentralizada de prestação dos serviços demonstra a
existência de dois fenômenos recorrentes na Administração Pública, que se denominam
respectivamente DESCONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO.

A DESCONCENTRAÇÃO decorre da hierarquia, onde há deslocamento para a


execução de uma determinada atividade dentro da mesma pessoa jurídica. Exemplo:
Governador do Estado determina a execução dos serviços públicos de saúde ao
Secretário de Saúde do Estado.

A DESCENTRALIZAÇÃO decorre do chamado princípio da especialidade, onde se


desloca a execução de uma determinada atividade para uma nova pessoa (física ou
jurídica), para um novo ENTE. Diferentemente do que ocorre com a desconcentração,
não existe hierarquia entre quem transfere a execução do serviço e quem recebe (não
há relação de mando e obediência ou subordinação), o que existe é o direito de
fiscalização e controle.
Exemplo: A união criará mediante lei uma autarquia para a execução de uma
atividade que lhe era inerente. Poderá fiscalizar se a atividade está sendo executada
observando os princípios aplicáveis à administração pública. É o caso do INSS, uma
autarquia federal que recebe as contribuições para a manutenção do Regime Geral
da Previdência Social, sendo responsável pelo pagamento da aposentadoria, pensão
por morte, auxílio-doença, auxílio-acidente, entre outros benefícios previstos em lei. O
INSS trabalha junto com a Dataprev, empresa de tecnologia que faz o processamento
de todos os dados da Previdência. Está vinculado ao Ministério da Previdência Social.

RECURSO PARA DECORAR:

descOncentração: lembrem da vogal da palavra O – criação de um novo Órgão.

descEntralização: lembrem da vogal da palavra E – criação de um novo Ente, nova


pessoa jurídica.

PRESTAÇÃO CENTRALIZADA:

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É o serviço público prestado pela Administração Pública Direta. Não há transferência


dos serviços, tudo fica concentrado numa única pessoa jurídica, que se vale dos seus
órgãos para executar os serviços.

PRESTAÇÃO DESCENTRALIZADA:

Aqui há a transferência do serviço, tanto para pessoas jurídicas da Administração


Pública Indireta como para terceiros.

FORMAS DE DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA:

OUTORGA – Quando se transfere a titularidade e a execução do serviço Público. A


corrente majoritária defende que é o que ocorre quando a Administração Pública Direta
transfere para a Administração Pública indireta a execução dos serviços (em especial para
as autarquias e fundações), sendo que a transferência se dará por força de lei.

DELEGAÇÃO – Transfere-se a execução dos serviços, mas a titularidade ainda


pertence à Administração Direta. Pode ser através de Lei (delegação legal) quando se
transfere para as pessoas jurídicas de direito privado em especial às Sociedades de
Economia Mista, Empresas Públicas e Fundações de Direito Privado; contudo, também
existe a delegação contratual, que ocorre quando é transferida aos particulares a
execução do serviço via contrato que a Administração celebra com particulares (permissão
e concessão de serviço).

Excepcionalmente será delegada ao particular via ato administrativo, como é o caso


de autorização de serviços públicos.

4.2. AGENTES PÚBLICOS

Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, os agentes públicos são todas as pessoas
físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal.
A categoria de agentes subdivide-se em:
Agentes políticos: São as autoridades públicas Supremas do Governo e da
Administração na sua área de atuação. Têm prerrogativas diversas, liberdades funcionais,
como por exemplo, foro privilegiado ou inamovibilidade. Exemplos: Chefes de Governo,
Ministros, Secretários, Senadores, Deputados, Vereadores, Magistrados em geral,
Procuradores e Promotores, Diplomatas e Conselheiros de Contas.
Agentes administrativos: São aqueles que se vinculam ao Estado ou às suas
entidades autárquicas e fundacionais, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime jurídico
da entidade estatal a que servem. São servidores públicos com maior ou menor
hierarquia. Ex.: Dirigentes de empresas estatais, servidores públicos concursados,
servidores em cargos de comissão, empregados púbicos, servidores temporários.
Agentes honoríficos: Cidadãos convocados, nomeados ou designados para
exercer transitoriamente determinado serviço. Exemplo: Jurados, Mesários.
Agentes delegados: São os particulares (pessoa física ou jurídica) que recebem

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a incumbência, a responsabilidade da execução de uma obra, de determinada atividade ou


serviço. Exemplo: Concessionários e Permissionários de Serviços Públicos.
Agentes credenciados: São aqueles incumbidos de representar a Administração
em determinado ato, ou praticar certa atividade específica, através de credenciamento
realizado pela administração.

RELAÇÃO ENTRE O ESTADO E OS SEUS AGENTES:

Tem por objetivo estudar a relação que se estabelece entre os estados e os agentes
que agem em seu nome. Para explicar como o Estado manifesta a sua vontade e como se
faz presente na prática de seus atos ou quando instado para tanto, surgem 3 teorias que
explicam a relação entre o Estado e os seus agentes, as quais sejam:

 Teoria do Mandato - A relação entre o Estado e o agente se dá através de um


contrato de mandato. Esta teoria não é adotada porque, se o Estado não tem agente
ainda, como vai manifestar sua vontade de assinar contrato com um agente?!!! Seria
impossível o Estado assinar este contrato.
 Teoria da Representação: Através de tutela/curatela que se estabelece a
representação entre Estado e agente, eis que o agente seria um representante do
Estado. Contudo, esta teoria não é adotada, uma vez que o Estado não é incapaz e o
instituto da representação utiliza-se quando se faz necessária a representação de
alguém que não possui CAPACIDADE. Logo, esta teoria não é utilizada.
 Teoria do órgão ou da imputação: a relação entre estado e agente decorre
por força de lei. Logo, há uma mistura entre a vontade do Estado e as
atitudes do agente, sem que para isso haja contrato, mandato, etc,
somente determinação legal. É a teoria adotada.

4.3. ÓRGÃO PÚBLICO

São as divisões das entidades estatais ou centros especializados de competência,


como, por exemplo, o Ministério do Trabalho, da Fazenda, etc. Cada um tem competência
para realizar os seus serviços. Exercem esta competência através dos seus agentes.

* CARACTERÍSTICAS:

- NÃO TEM PERSONALIDADE JURÍDICA: não podem ser sujeito de direitos e


obrigações, sendo que os atos que praticam são atribuídos ou imputados à entidade
estatal a que pertencem.

Exemplo: Criança que se machuca dentro de escola pública estadual. Quem responde
é o Estado e não a escola que é órgão da Secretaria Estadual de Educação, portanto, sem
personalidade jurídica.

- NÃO PODEM CELEBRAR CONTRATO – Porque não tem personalidade jurídica.


Contudo, pode ser gestor. (exceção prevista no artigo 37, §8º da CF/88).

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- PODEM TER CNPJ – Segundo a instrução normativa 748 da Receita Federal, para
fins de controle de recursos.

- PODEM IR A JUÍZO – Excepcionalmente, com algumas ressalvas feitas pela


jurisprudência e somente quando busca prerrogativas funcionais, normalmente como
sujeito ativo (lembrem-se, o órgão público NÃO RESPONDE POR SEUS ATOS)

CLASSIFICAÇÃO:

 INDEPENDENTES: São aqueles nos quais não existe hierarquia entre os poderes. São
os derivados da Constituição. Exemplo: Senado, Câmara, Presidência da República,
Assembléia Legislativa.
 AUTÔNOMOS: Tem autonomia mas não independência. Se subordinam aos órgãos
independentes. Ex.: Ministério da Fazenda, Secretarias Municipais, etc. Alguns
autores consideram MP e TC como órgãos autônomos.
 SUPERIORES: Órgãos de direção, mas sem autonomia e muito menos independência,
mesmo que tenham poder de decisão. Ex.: Gabinetes de governo, procuradorias,
coordenadorias.
 SUBALTERNOS: Não tem poder de decisão, apenas tem função de execução. Ex.: RH,
Almoxarifado, Zeladoria, etc.
 SIMPLES: Não tem outros órgãos agregados à sua estrutura. Ex.: gabinete de
assessor.
 COMPOSTO: possui órgãos agregados à sua estrutura para complementar ou
especializar funções. Exemplo: Posto de Saúde, delegacias de ensino dentro das
escolas.
 SINGULARES: De um único titular. Exemplo: Presidência da República, Governador de
Estado, Juízo Monocrático.
 COMPOSTO – Aquele que tem mais de um agente. Conselhos, Tribunais, Casas
Legislativas, etc.

4.4. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

É aquela criada pelo fenômeno da descentralização, expressão do próprio princípio da


especialidade, composta pelas entidades que tem personalidade jurídica própria,
responsáveis pela execução de atividades administrativas. Subdividem-se em: Autarquias,
Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.

Tais entes tem personalidade jurídica própria (diferente dos órgãos), o que significa
dizer que respondem por seus atos e dos seus agentes. Para tanto, possuem patrimônio e
receita própria, destinados a cumprir suas responsabilidades. Logo, possuem autonomia
técnica, financeira e administrativa.

Ou seja, se um funcionário de alguma autarquia causa lesão ou dano a alguém, a


vítima pode ajuizar ação contra a autarquia, visando à reparação.

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CRIAÇÃO: No caso de autarquias, a criação se dará mediante lei ordinária específica,


diferentemente do que ocorre com a fundação, a sociedade de economia mista e a
empresa pública, posto que estas últimas para serem criadas dependerão de lei que
autorize as respectivas instituições, por força do artigo 37, inciso XIX da CF/88.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
(...)
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
(...)

Atentem para a redação do artigo que diz que a lei complementar pode DEFINIR as
áreas de atuação destes entes da administração pública indireta, contudo, não pode criar
e nem autorizar a criação, isto se dá mediante LEI ORDINÁRIA ESPECÍFICA.

Para que a pessoa jurídica de direito privado exista não basta que a lei ordinária
autorize a sua criação, para isto, se a pessoa jurídica tiver natureza empresarial, o registro
será na Junta Comercial. Mas se tiver natureza civil, o registro será no cartório de Pessoas
Jurídicas. A partir do registro que a pessoa jurídica irá existir (regra esta para as
fundações públicas de direito privado, empresas públicas e sociedades de economia
mista).

FINALIDADES DA PESSOA JURÍDICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


INDIRETA

As pessoas jurídicas devem atender as finalidades definidas por lei, por força do
artigo 37, inciso XIX. Também não podem ter fins lucrativos, muito embora possam obter
lucro. A finalidade sempre será o interesse público.

Contudo, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, de acordo com o


disposto no art. 173 da CF/88 podem ter duas finalidades diferentes: a prestação do
serviço público e a exploração da atividade econômica.

No caso das empresas públicas e das sociedades de economia mista, o Estado não
poderá intervir na atividade econômica (em regra), exceto quando for indispensável ao
interesse coletivo ou à segurança nacional. Embora estas pessoas jurídicas não sejam
criadas objetivando o lucro, nada obsta que ele seja obtido, desde que satisfaça o
interesse público, a teor do que dispõe o artigo 173, §1º da CF/88.
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Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta


de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos
imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo
sobre:

HIERARQUIA E SUBORDINAÇÃO
As pessoas jurídicas da administração pública indireta não se subordinam e nem
tem relação de hierarquia com a Administração Pública Indireta, entretanto, existe
controle e fiscalização, como a doutrina denomina, controle finalístico (para que a pessoa
jurídica da Administração Pública Indireta não se desvirtue dos fins para os quais foi
criada), sendo que o controle pode ser exercido pelo Tribunal de Contas (que exerce o
controle pelo poder legislativo).
O Poder judiciário pode fazer o controle do ato praticado pela administração
indireta, contudo, desde que devidamente provocado (o poder judiciário não age de
ofício), através da ação judicial.
Por sua vez, o poder executivo exerce o controle através da Supervisão Ministerial,
ou seja, através do Ministério que foi criado para esta finalidade. Exemplo: Ministério do
Desenvolvimento Social para controlar entidade de assistência social da administração
pública indireta.
Por fim, no que diz respeito ao controle de nomeação de dirigentes, embora não
exista hierarquia entre a Adm. Direta e a Adm. Indireta, o poder executivo poderá nomear
os dirigentes desta última (faculdade esta criticada amplamente pela doutrina).

4.4.1 ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


INDIRETA:

4.4.4.1. AUTARQUIA:

É uma entidade (pessoa) jurídica de direito público, que tem personalidade jurídica e
patrimônio próprio. É destinada a execução de atividades destacadas da administração
pública indireta. Exemplo: O serviço de previdência social é exercido pelo INSS. A
autarquia recebe a titularidade e a execução das atividades do Estado.

O regime jurídico é o de direito público. Portanto, em muito se assemelha a fazenda


pública, o que importa dizer:

 Seus atos são atos administrativos;

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 Pode celebrar contratos administrativos, com as mesmas prerrogativas da adm.


Pública direta.
 Se sujeita à licitação;
 Se sujeita ao mesmo regime de responsabilidade da administração pública direta, ou
seja, art. 37, §6º CF/88 (com a responsabilidade subsidiária do Estado);
 Se sujeita à prescrição quinquenal da fazenda pública (posição do STF), sendo que o
STJ entende que a reparação civil contra a fazenda pública é exercida no prazo de 3
anos (artigo 206 do Código Civil);
 Seus bens são considerados bens públicos, eis que é pessoa jurídica de direito
público;
 Submetem-se ao regime de precatório, na forma regulada pelo artigo 100 da CF/88.
 Gozam de privilégios tributários, como a imunidade tributária no tocante à realização
da atividade específica, ou seja, não pagam impostos. Quando não realiza atividade
específica, não tem imunidade (imunidade não absoluta). Artigo 150, inciso VI, alínea
“a” da CF/88. (contudo, pagam taxas e contribuições).
 Possuem o prazo processual especial dado à fazenda pública, ou seja, o dobro pra
recorrer, o quádruplo para contestar (artigo 188 CPC), mas tem prazo SIMPLES para
contrarrazoar.
 Em regra tem direito ao chamado reexame necessário, mas nos casos em que a
causa tiver valor pequeno (até 60 salários mínimos) ou a matéria já ter sido decidida
no pleno do tribunal (art. 475 CPC).
 Sujeitam-se a responsabilidade fiscal e à contabilidade pública.
 As pessoas que trabalham nas autarquias são servidores públicos**
** CUIDADO: Servidores públicos que se submetem ao regime estatutário ou
celetista, depende da lei que criou o cargo. A corrente majoritária da doutrina
sustenta que o regime jurídico único significa um só regime. A matéria ainda é
discutida pelo STF.

Exemplos de Autarquias: Universidades Federais, INSS, INCRA, IBAMA, Agências


Reguladoras, Conselhos de Classe (menos a OAB).

AUTARQUIA PROFISSIONAL

Ou também chamado conselho de classe tem natureza de autarquia. Logo:

 Tem como objetivo exercer a fiscalização das atividades profissionais;


 A anuidade cobrada tem natureza tributária e o seu não pagamento se sujeita à
execução fiscal;
 Se sujeita à contabilidade pública e aos tribunais de conta;
 Deve realizar concurso público para contratar seus servidores (embora existam
muitas ações discutindo este tema).

**** A OAB É EXCEÇÃO À REGRA!

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 Aquele que trabalha na OAB se sujeita à regime celetista;


 Sua execução (pelo não pagamento da anuidade) é comum e não via execução fiscal;
 Não se sujeita à contabilidade pública e ao tribunal de contas.
 Logo, não é considerada autarquia.

AUTARQUIAS DE REGIME ESPECIAL

Surgiu no âmbito das Universidades Públicas, tendo tratamento diferenciado em


alguns aspectos. Seus dirigentes são escolhidos mediante eleição e não por nomeação do
chefe do executivo.

AGÊNCIAS REGULADORAS

É uma espécie de autarquia em regime especial eis que possui algumas regras
próprias, tais como:

1) Função de regulação: normatiza, controla e fiscaliza (logo, detém autonomia)

2) Nomeação ou investidura especial (feita pelo presidente da república em âmbito


nacional, com prévia aprovação do Senado Federal);

3) Mandato com prazo fixo (que varia conforme cada lei de criação de cada agência)

4) Obrigatoriedade de licitação, embora permitida a adoção do pregão e consulta de


preços (ainda não definida em lei);

5) Seus funcionários são servidores públicos, contudo, os que foram admitidos antes
via contratação temporária permanecem até o fim do contrato, até o preenchimento das
vagas via concurso público.

Exemplos de Agências Reguladoras: ANATEL, ANEEL, ANCINE, ANTT, ANS, ANVISA,


ANAC, ANP.

 Estados e Municípios podem criar suas próprias agências reguladoras.

4.4.4.2. FUNDAÇÃO:

É a pessoa jurídica composta por um patrimônio juridicamente personalizado,


destacado pelo seu fundador, para uma finalidade específica.

Não tem proprietário, nem titular, nem sócios. Consiste num patrimônio que é
destinado a um fim, dirigido por administradores ou curadores, objetivando cumprir as
premissas de seus estatutos.

Se for instituída por particular será a chamada fundação privada. Se for instituída
pelo poder público, será a chamada fundação pública.

Exemplo de Fundação Privada: Fundação Roberto Marinho.

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Exemplo de Fundação Pública: Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Doutrina e Jurisprudência adotam o entendimento de que se admitem os dois


regimes para a fundação pública, que pode ser de regime privado ou público. Ademais,
predomina o entendimento na doutrina, de forma quase unânime, de que as fundações
criadas pelo poder público são espécies de autarquias, as chamadas autarquias
fundacionais.

Nesse sentido é correto afirmar que a lei ordinária autoriza a criação de fundações
públicas de direito privado, enquanto lei ordinária cria as fundações públicas de direito
público (porque são as chamadas autarquias fundacionais).

4.4.4.3. EMPRESAS PÚBLICAS

A empresa pública tem natureza de pessoa jurídica de direito privado., muito


embora seu capital seja todo público, dedicada à prestação de serviço público ou a
explorar atividade econômica. Pode ser constituída sob qualquer modalidade
empresarial: S/A, Limitada, etc. Vide artigo 173, §3º da CF/88.

A competência para julgar suas ações será da Justiça Federal, se a empresa


pública for federal. Se a empresa for estadual, a competência é da Justiça Estadual.
Exemplos: EPCT, CEF.

4.4.4.4. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

É pessoa jurídica de direito privado, que mescla capital público e privado, com
direção estatal. Logo seu regime é híbrido/misto. Contudo, a maioria do capital é
concentrada nas mãos do poder público (maioria de ações votantes do poder público).

Tem como finalidade a prestação de serviço público ou a exploração de atividade


econômica. Só é constituída na modalidade de Sociedade Anônima.

A competência para julgar suas ações será da Justiça Estadual, mas a ação poderá
ser da Justiça Federal se houver interesse da União na causa.

Exemplo: Banco do Brasil, Bancos Estaduais, Petrobrás.

FINALIDADES DAS EMPRESAS PÚBLICAS E DAS SOCIEDADES DE ECONOMA


MISTA:

 PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO – seu regime, embora privado, será híbrido,


sendo que o regime é mais público do que privado, o que delimita sua
responsabilidade.
 EXPLORADORAS DE ATIVIDADE ECONÔMICA – Neste caso, o Estado não intervirá na
atividade, salvo nos casos que sejam de interesse coletivo ou afetem a segurança
nacional. Na hipótese de exploração da atividade econômica, o regime é mais
próximo do privado.

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 REGIME – é o ligado às pessoas jurídicas de direito privado.


 SUJEIÇÃO À FALÊNCIA – A lei 11.101/05 afirma que as empresas públicas e as
sociedades de economia mista não se sujeitam à falência, independente da
finalidade. Embora a doutrina entenda que a exploradora de atividade econômica se
submete à falência, a lei não faz esta distinção expressamente. Para fins de prova
dissertativa é importante fazer esta distinção, mas as provas objetivas normalmente
cobram a aplicação da transcrição literal da lei.

RESPONSABILIDADE CIVIL DA EP E DA SEM

As pessoas prestadoras de serviço público se submetem a regra da


responsabilidade objetiva insculpida no artigo 37, §6º da CF/88, tendo o Estado a
responsabilidade subsidiária.

Por sua vez, as pessoas que exploram a atividade econômica se submetem à


responsabilidade do direito civil (em regra, subjetiva), afastando-se inclusive a
responsabilidade subsidiária do Estado.

LICITAÇÃO

O dever de licitar depende da finalidade da EP ou da SEM. Quando prestadoras de


serviço público, estão obrigadas a licitar, por expressa previsão do artigo 37, XXI da
CF/88.

Em sendo exploradoras de atividade econômica, poderão ter estatuto próprio,


podendo por meio de lei específica o seu regramento de licitações e contratos. Como até
hoje não existe esta lei específica, as EP e as SEM, se submetem à licitação.

IMPOSTOS:

Quando exploradoras de atividade econômica, não é possível estabelecer privilégios,


por força do regramento do artigo 173, §3º da CF/88.

Por sua vez, na qualidade de prestadoras de serviços públicos, têm o privilégio


tributário de imunidade de impostos, desde que o valor do tributo cobrado não seja
repassado ao usuário. (art. 150, §3º CF/88).

REGIME DE PESSOAL

As pessoas que trabalham na EP e na SEM são chamadas de empregados públicos


(porque ambos entes da administração pública indireta são pessoas jurídicas de direito
privado).

Se os direitos estiverem previstos na CF/88 ou na lei são estatutários. Se for previsto


em CLT, são celetistas, logo, empregados. No entanto, se assemelham com os servidores
público nos aspectos que dizem respeito à:

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 Prestar concurso público;


 Sujeitam-se a não acumulação de cargos (em regra);
 Sujeitam-se à improbidade administrativa;
 Sujeitam-se à lei penal como funcionários públicos;
 Em face de seus atos cabem remédios constitucionais;

** MAS CUIDADO, SE SUJEITAM À DESPETIDA IMOTIVADA, POR ATUAL


POSIÇÃO DO TST E DO STF, VIDE SÚMULA 390 DO TST E ARTIGO 41 DA
CF/88.

BENS DA EP E DA SEM:

Em regra, os bens são penhoráveis, pois seguem o regime de direito privado. Agora
se os bens estiverem diretamente ligados à prestação do serviço público gozam das
mesmas prerrogativas dos bens públicos (exceção à regra geral).

4.4.4.5. ENTES DE COOPERAÇÃO:

São aqueles que existem em uma situação peculiar, colaborando com o Estado,
mas que não se enquadram exatamente na administração direta ou indireta. São os
chamados entes paraestatais.
São pessoas jurídicas de direito privado fora da administração, que cooperam das
mais variadas maneiras, tais como fomento, estímulo à pesquisa, etc.
Podem receber dotação orçamentária, recebendo dinheiro público via contrato ou
repasse. Podem ter lucro, mas não objetivarem o lucro.
Sujeitam-se ao controle do tribunal de contas e à obediência do processo licitatório.
Seu pessoal se submete à CLT, embora haja concurso de seleção
Não detém privilégios tributários específicos nem privilégios processuais. A
competência para julgamento de suas ações é da Justiça Estadual (se serviço social
autônomo estadual, e da Justiça Federal se o serviço é federal).
A exemplo, temos os chamados Serviços sociais autônomos.

4.4.4.6. ENTIDADES DE APOIO:

São pessoas jurídicas de direito privado, que não tem fins lucrativos. Servem para
apoiar e incentivar as atividades em universidades e hospitais públicos.

Geralmente, tem natureza de Fundação privada (constituídas pelos próprios


servidores). Mas, podem ter natureza de Associação ou Cooperativa.

. As entidades de apoio surgem para apoiar e investir nessas instituições que são
sucatiadas e não tem estrutura. Ex: oferecem pós-graduação paga, mas em contrapartida
oferecem bolsas de estudo para mestrado/doutorado e/ou incentivam a pesquisa.
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Seu quadro de pessoal é preenchido por funcionários da própria


universidade/hospital, tendo sede no próprio local. Assim, pode receber dotação
orçamentária (recursos públicos) e se utilizar de bens públicos (ex: a mesa é da
universidade). Podem utilizar a estrutura pública. Seus servidores são servidores públicos
lotados da própria universidade ou hospital (são “emprestados”.

Apesar de todos esses privilégios públicos, se utilizam os recursos de forma privada.


Por isso que de acordo com a doutrina deveria ser controlada pelo TC. Deveriam ser
obrigadas a licitar.

4.4.4.7. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS (OS)

São pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, identificadas também
pela sigla OS.

Serve para cooperar com o Estado. Não prestam serviço público, mas sim serviços
secundários a essas atividades.

É administrada por Conselho de Administração composto por administradores e


particulares. Isso permite que o administrador tenha o controle da máquina administrativa
e dos recursos (dinheiro público e liberdade da iniciativa privada).

Tribunal de Contas pode exercer controle. Atualmente se discute a necessidade de


tais entes licitarem.

4.4.4.8. ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO


(OSCIP)

É uma pessoa jurídica privada já formada, que irá colaborar com o Estado na
execução do projeto, após o término do projeto ela se desvincula do Estado. É regulada
pela L. 9.790/99. Ocorre quando a Administração tem estrutura precisando de
modernização.

Sua administração é feita por particulares, não incidindo interferência.

Serviu para executar projetos de modernização (planejamento de execução). Para a


doutrina, o termo de parceria teria natureza de contrato administrativo.

A OSCIP recebe dinheiro público como pagamento para execução de um projeto.


Logo, não há participação direta no orçamento. Mas o termo de parceria não transfere
bens ou servidores.

Para a celebração de Termo de Parceria, a OSCIP deve existir no mercado há, pelo
menos, 1 ano, naquele ramo de atividade. A regra geral é que deve licitar.

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5. PODERES DA ADMINISTRAÇÃO

São os instrumentos/prerrogativas pelos quais o Estado se vale para buscar os seus


interesses. O poder em si é algo abstrato, mas a materialização dos Poderes da
Administração se dá através dos atos administrativos, onde a Administração expressa a
sua vontade.

Não se confundem com os chamados poderes do Estado, que são os poderes


Legislativo, Executivo e Judiciário, os poderes aqui tratados são os que o administrador
dispõe (para buscar realizar os fins do Estado).

5.1. CARACTERÍSTICAS DOS PODERES DA ADMNISTRAÇÃO

 De exercício obrigatório: é uma obrigação que se incumbe ao administrador. O


exercício do poder é uma atividade obrigatória do administrador (logo, dever).
 Irrenunciável: O administrador não pode renunciar a este poder, primeiramente, face
à indisponibilidade do interesse público, eis que como o administrador exerce uma
função pública e em prol da coletividade, não pode ‘abrir mão’ desta competência. É
uma obrigação e não uma faculdade o exercício do poder.
 Não criação de entraves para administração futura: O administrador de hoje não
pode renunciar ao exercício do poder porque isso poderia comprometer a
administração futura.

5.2. LIMITES DO PODER

O exercício do poder vem delimitado em lei, em regra, e, de forma subsidiária,


também é limitado pelos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

Quando não se observam os limites do poder, incide-se a prática denominada Abuso


de Poder, existente em duas modalidades:

* Excesso de Poder: o administrador vai além do que lhe era permitido, era
competente, mas extrapola a competência. Ex. Delegado que agride injustificadamente o
preso.

* Desvio de Finalidade: vício subjetivo, vício ideológico, defeito na finalidade do


ato. Muitas vezes tem aparência de legalidade. Ex. Delegado ao invés de cumprir
mandado de prisão quando recebeu ordem, espera para fazer no dia do casamento para
impor maior constrangimento. O mesmo ocorre nos casos de remoção de servidor por
interesses pessoais, quando na realidade o servidor deve ou pode ser removido dentro das
hipóteses previstas em lei.

O exercício do poder em si pode gerar responsabilidades ao administrador, seja por


ação ou por omissão.

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5.3. CLASSIFICAÇÃO DE PODERES DA ADMINISTRAÇÃO

Quanto à margem de liberdade

VINCULADO: O administrador está adstrito aos termos da lei. Não há liberdade do


administrador na sua atuação. Não há juízo de valor, nem conveniência e oportunidade.
Nesse sentido, preenchidos os requisitos legais, o administrador é obrigado a praticar o
ato. Ex: concessão de aposentadoria, licença para construir, licença para dirigir, concessão
de férias.

DISCRICIONÁRIO: É aquele poder que tem juízo de valor, conveniência e


oportunidade e liberdade de escolha, mas sempre nos limites da lei, sob pena de
arbitrariedade. O ato que ultrapassa os limites da lei será ilegal e arbitrário, sendo,
portanto, nulo. Ex: permissão de uso de bem público, autorização para uso de veículos
acima do peso e da medida permitida, licença especial para tratar de interesses
particulares.

A discricionariedade, portanto, é classificada como relativa ou parcial, já que a


autoridade está ao tempo toda presa a alguns limites, de competência, finalidade ou ainda
forma. O Judiciário Pode controlar esses limites objetivos e, se for o caso, anular o ato.
Mas não se admite a análise feita pelo juiz do chamado ‘mérito administrativo’ em
substituição ao administrador (porque ao Juiz incumbe a função de julgar, não de
administrar).

5.4. ESPÉCIES DE PODER DA ADMINISTRAÇÃO


5.4.1. PODER REGULAMENTAR OU PODER NORMATIVO

É o poder que a administração tem de definir normas e regras complementares à lei


já existente, buscando a melhor aplicação e execução da mesma.

Um exemplo de quem detém este poder são os chefes do Executivo, para


regulamentar lei através de decreto.

Exemplo de atos no exercício do poder regulamentar: Edição de regulamentos,


portarias, instruções normativas, resoluções, etc.

Mas atentem que embora a administração tenha o poder regulamentar ou normativo,


não tem o poder de legislar, pois isto é função que incumbe essencialmente ao poder
Legislativo (função típica).

 Diferenças entre o Regulamento e Decreto

O nome regulamento decorre do conteúdo do ato. Se no conteúdo houver


regulamentação de ato, será regulamento.

O formato ou moldura desse ato será o Decreto. Nem todo o Decreto tem como
conteúdo um Regulamento (nomear servidor por Decreto: não tem no conteúdo
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Regulamento). Mas, se tiver como conteúdo um regulamento, será chamado de Decreto


Regulamentar.

 Diferença entre Regulamento e Lei

O regulamento se diferencia de lei. As principais diferenças são as seguintes:

(a) A lei é realizada por meio de procedimento com mais formalidade: processo
legislativo rigoroso e público, com deliberação parlamentar. O regulamento é feito sem
qualquer formalidade. Não há procedimento público, nem deliberações.

(b) A lei é feita por uma casa legislativa, que possui pluralidade de interesses e
representações. Por isso, em tese, a casa legislativa é muito mais representativa do que o
chefe do executivo. O decreto regulamentar, em regra, é realizado pelo chefe do poder
executivo, que possui bem menor representatividade.

Num primeiro momento, o regulamento surgiu como regulamento executivo. Mas,


hoje, há duas modalidades.

5.4.2. PODER HIERÁRQUICO

É aquele que se compõe de graus ou de escalões na esfera interna da administração,


numa relação de ascendência interna e subordinação entre órgãos ou agentes, com o fim
de distribuir funções, fiscalizar, rever e corrigir atos.

Em suma, significa estruturar, escalonar, hierarquizar os quadros da Administração.


Pretende definir os chefes e subordinados. Estabelecida a hierarquia, o administrador pode
(no exercício do poder hierárquico):

(a) dar ordens;

(b) delegar funções, excepcionalmente;

(c) avocar funções;

(d) fiscalizar e controlar o exercício de atos praticados por seus subordinados;

(e) revisar atos dos seus subordinados;

(f) aplicar sanção por infração funcional (também há exercício de poder disciplinar,
que é conseqüência do poder hierárquico).

Lembrando que aplicar penalidade também é exercício de poder disciplinar. A


doutrina entende que poder disciplinar é conseqüência do poder hierárquico.

A regra geral é de que não existe hierarquia nos Poderes Judiciário e Legislativo no
que se referem as suas funções típicas de legislar e julgar. Porém, no que tange às
atividades internas (administrativas) destes agentes, existe hierarquia. Exemplo: Juiz que

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é hierarquicamente subordinado aos atos administrativos do local onde exerce suas


funções.

5.4.3. PODER DISCIPLINAR

É uma outra face do poder hierárquico, que tem por fim aplicar sanção pela prática
de infração disciplinar (sanção). Logo, refere-se à infração no exercício de função pública.
Atinge aqueles que estão na intimidade da Administração (função pública). É aplicação de
sanção em face do exercício de atividade pública.

Poder disciplinar é aplicado contra quem? Para que exista infração funcional deve
estar no exercício de uma função pública, e é chamado de agente público, o particular não
é atingido pelo poder disciplinar, somente o agente público, seja de forma temporária,
com ou sem função. É aquele que esta na intimidade da administração, significa exercício
de função pública.

Na magistratura e no MP, há independência funcional, o que não impede sanção


administrativa por infração no exercício da função. Não há independência administrativa.
Há subordinação administrativa, embora não funcional. Nesse sentido, não se afasta o
poder disciplinar.

Hely Lopes Meirelles entende que o poder disciplinar era sempre discricionário. Mas,
hoje, o poder disciplinar é, em regra, discricionário, uma vez que pode ser vinculado em
alguns casos (ex: sanção aplicada a certa infração).

Contudo, ao aplicar a sanção do advinda do exercício do poder disciplinar, a pena


(sanção em si) deve obedecer à margem de liberdade vinculada, enquanto a identificação
da infração cometida possui margem de liberdade, consistindo em discricionariedade do
intérprete.

Exemplo: Sanção para conduta escandalosa e incompatível na repartição pública. A


sanção (pena) é prevista tipicamente em lei (grau de liberdade vinculado à lei), porém,
entender a conduta como escandalosa e incompatível é um juízo de conveniência e
oportunidade, feito por quem aplicará a sanção juízo de valor, logo, margem de liberdade
discricionária.

Ainda assim, quando da aplicação do poder disciplinar a autoridade deverá agir em


observância ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade (especialmente quando lhe
for exigida a discricionariedade do entendimento da conduta do servidor a ser punido).

Atente-se também ao fato de que o poder disciplinar é obrigatório, e a inércia da


autoridade que deve aplicar a sanção pode constituir o crime de condescendência
criminosa (art. 320 CP).

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5.4.4. PODER DE POLÍCIA

É o mecanismo através do qual o Estado realiza o controle estatal das atividades e


dos interesses individuais, para mantê-los dentro dos seus limites, sem que se prejudique
outrem, ou também, serve de instrumento para a restrição dos interesses particulares em
prol do interesse público, tudo em busca do bem estar social.

O art. 78 do CTN dá o conceito legal de poder de polícia:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração


pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade,
regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse
público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade
pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
(Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 28.12.1966)

Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando


desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com
observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como
discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

 Cumpre salientar que, em análise a este conceito cunhado pelo CTN, em alguns casos
o poder de polícia gera a possibilidade de cobrança de ‘’taxa de polícia’’. Esta ocorre
em decorrência de um serviço prestado ou quando ocorre alguma diligência realizada
pelo Estado que enseje custo. Lembrando que TAXA é espécie tributária, vinculada à
contraprestação do Estado. Exemplo: Taxa para expedição de CNH.

OBJETO DO PODER DE POLÍCIA

O poder de polícia tem por escopo disciplinar a liberdade dos interesses dos
particulares bem como das propriedades.

Em regra a restrição do poder de polícia não é onerosa, porque o seu exercício não
gera o direito de indenizar, eis que seu objetivo é regular direitos. Como não impede o
exercício dos direitos, mas tão somente, determina a forma que os mesmos deverão ser
exercidos, por tal razão se justifica a não incidência de indenização.

Exemplos: Limitação que se impõe para a construção de um imóvel, por exemplo,


regulamentando a altura. Aqui não se impede o exercício de propriedade, apenas delimita,
regulamente como o mesmo deve ser feito.

MODALIDADES DE EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA:

*Ato normativo. Quando a Administração estabelece regra urbanística, por


exemplo. Nesse caso, está normatizando, o que representa o exercício do poder de
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polícia. O exercício do poder se d’ação/base norma. Ex: regulamentação da velocidade da


avenida; normas de construção; regras sanitárias.

*ato punitivo. Quando se regulamenta e há desrespeito a norma (normalmente


havia uma regulamentação para a conduta, que foi desrespeitada e que ensejará a
punição). Ex: embargo de obra; apreensão de mercadoria e destruição de mercadoria;
aplicação de multa por desrespeito a regulamentação de velocidade em via pública.

MOMENTO DO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA

PREVENTIVO – Quando realiza a normatização em si. Exemplo: quando previne


acidentes de trânsito ao colocar radares, etc.

FISCALIZATÓRIO – Quando realiza a verificação do cumprimento de uma ordem já


emanada. Ex.: quando a vigilância sanitária vai aos estabelecimentos verificar se as
normas sanitárias estão sendo cumpridas.

REPRESSIVO OU PUNITIVO – quando há o descumprimento de uma determinada


regulamentação que enseja a aplicação de sanções administrativas.

FUNDAMENTO DO PODER DE POLÍCIA:

O poder de polícia é praticado em nome da supremacia geral, ou seja, a atuação do


Estado independe de vínculo jurídico com relação ao indivíduo ao qual a regulamentação
se destina. Não se trata de punição por descumprimento de contrato ou por alguma
relação jurídica anterior. É pura e simplesmente a existência de supremacia geral
(supremacia da defesa dos interesses da coletividade frente aos interesses individuais).

DELEGAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA:

O STF já se manifestou no sentido da impossibilidade de delegação do poder de


polícia, pautada tal decisão no princípio da segurança jurídica.

O poder de polícia por si só não pode ser delegado, contudo, os meros atos
materiais, decorrentes do exercício do poder de polícia podem ser objeto de delegação.
Exemplo: O ato de bater a foto do radar.

Outro exemplo: quando na hipótese de impossibilidade de construir que enseja embargo


de obra. Descumprida a ordem, pode a administração efetuar a determinação de
demolição da obra e contratar terceiro para executar a demolição.

DIFERENÇA ENTRE POLÍCIA ADMINISTRATIVA E POLÍCIA JUDICIÁRIA:

O exercício do poder de polícia estabelece a denominada polícia administrativa.


Logo, a polícia administrativa é a responsável por cuidar da adequação dos interesses
individuais com o interesse coletivo, dentro da comunidade.

Pode ser exercida, por qualquer órgão, desde que respeitada a competência e a
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finalidade. Exemplo: Polícia Sanitária.

É diferente da polícia judiciária, que trata da prevenção e repressão das infrações


penais, tem o objetivo de conter o crime, controlá-los e puni-los. A judiciária é exercida
pela polícia civil, que é a instituição criada propriamente para isso.

ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA

* Discricionariedade - Significa que o poder de policia, em regra, é atuação


discricionária. Há o exercício de juízo de conveniência e oportunidade. Ex: autorização,
decidir velocidade em determinada avenida; a altura de determinado prédio. Mas, poderá
excepcionalmente ser exercício vinculado. Ex: na licença para construir, a decisão da
Administração é vinculada, desde que preenchidos os requisitos; licença para dirigir.

A vinculação do poder de polícia ocorre, segundo Hely Lopes Meirelles, quando a


norma legal que rege este poder de polícia estabelecer a forma que o poder de polícia
deve ser realizado. Se desobedecida a forma prevista em lei sob a alegação de o poder de
polícia ser discricionário, a autoridade praticante do ato de poder de polícia agirá de forma
arbitrária e ilegal.

Cuidado: a autorização é ato discricionário; ex. autorização para veículo acima da


medida ou peso transitar.

* Auto-Executoriedade - Significa que a Administração dispensa o controle ou


autorização do poder judiciário. Não significa fazer de qualquer forma, pois não dispensa o
formalismo. Não significa liberdade. A auto-executoriedade não impede o controle do
judiciário quanto à legalidade. A auto-executoriedade é uma das expressões da autotutela
administrativa.

* Imperatividade ou Coercibilidade - Significa que o ato de policia é imperativo,


coercitivo, obrigatório. A ordem da Administração deve ser cumprida, até que se obtenha
decisão em sentido contrário. Pode inclusive importar em uso de força pública, se for
necessário.

RECURSO PARA DECORAR OS ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA – SIGLA


DAC:

D iscricionariedade

A uto-executoriedade

C oercibilidade

Exemplos de Poder de Polícia:

Polícia Sanitária, Polícia de medicamentos, Controle de pesos e medidas, delimitação


de idade para a entrada em estabelecimentos, etc.

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6. ATOS ADMINISTRATIVOS

Ato administrativo é aquela manifestação de vontade do Estado (Administração


Pública) ou de seu representante (ex: concessionárias, permissionárias, serviço notarial
etc.) que crie, modifique ou extingue direitos, perseguindo o interesse público, submetido
a regime jurídico público, inferior e complementar a lei, sujeitando-se a controle pelo
poder judiciário (conceito segundo Hely Lopes Meirelles).

6.1. Distinções entre ato e fato administrativo.

Fato é o acontecimento do mundo em que se vive. Se atingir órbita do direito


administrativo, a atividade material no exercício da função administrativa que visa efeitos
práticos na administração; será chamado de fato jurídico administrativo. Exemplo: o
falecimento do servidor público atinge o direito administrativo (vacância do cargo público).

O fato não tem manifestação de vontade.

O fato não é passível de anulação e revogação.

O fato não goza de presunção, ele apenas nasce ou não.

O ato administrativo por sua vez consiste na manifestação de vontades da


Administração Pública, que repercutem na esfera do direito administrativo. Exemplo:
Desapropriação.

O ato tem manifestação de vontade.

O ato é passível de anulação e revogação.

O ato goza de presunção de legitimidade e legalidade.

6.2. ATOS DA ADMINISTRAÇÃO.

Sempre que a administração manifesta sua vontade, estará praticando um ato da


administração, sendo que este ato poderá seguir regime público ou privado.

Quando o ato da administração segue regime público, denomina-se ato


administrativo. Alguns doutrinadores nomeiam como ato administrativo típico.

Quando ato da administração segue regime privado, denomina-se de ato


administrativo atípico, pois a administração ao praticar estes atos não envolve os poderes
estatais, ficando no nível das demais pessoas.

Mas, o Ato Administrativo poderá ser praticado por empresa privada, não sendo Ato
da Administração. Será Ato Administrativo fora da administração. São atos de
concessionárias e permissionárias. Ex: ato de corte de energia elétrica por empresa
privada (ex: permissionária e concessionária), por exemplo, é Ato Administrativo porque

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segue regime público, embora não seja Ato da Administração.

Ato Administrativo segue regime público dentro ou fora da Administração. Já os Atos


da Administração seguem regime privado ou público.

RESUMINDO:

1. Atos praticados pela administração regidos pelo direito privado são apenas atos da
administração.

2. Atos praticados pela administração e regidos pelo direito público são atos
administrativos + atos da administração.

3. Aqueles regidos pelo direito público, mas que estão fora da administração – não
foram praticados pela administração -, são atos administrativos.

6.3. ELEMENTOS OU REQUISTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Para a doutrina majoritária, são elementos do ato administrativo (L. 4.717 – Ação
Popular): sujeito competente, forma, motivo, objeto, finalidade (visa o interesse público).

A falta de qualquer desses elementos implica a possibilidade de anulação do ato.

*Sujeito Competente (Sujeito ou Competência): Diz respeito à atribuição legal


do agente ou do órgão para a prática do ato. Para ser sujeito de ato de administrativo,
deve ele exercer função pública, com ou sem remuneração. Agente público é toda aquela
que exerce função pública.

Competência administrativa é poder dever ou mera faculdade do administrador? A


competência administrativa é de exercício obrigatório. É poder dever, não havendo
escapatória. Caso seja de exercício obrigatório, a competência é irrenunciável. Se quem
manda é a lei, não pode ser a competência objeto de mera vontade do administrador.

Competência administrativa não pode ser transacionada, é imodificável, não admite


transação, de exercício obrigatório, não admitindo prescrição de competência
administrativa. Não se admite prorrogação. Competência administrativa é improrrogável.

É possível a delegação de competência administrativa? Em regra, não é possível


delegação e avocação de competência. No entanto, pode haver delegação e avocação,
desde que justificado. Arts. 11 a 15 da lei 9784/99.

Para ser sujeito de ato administrativo exige-se como condição:

A) Agente público: Significa que depende do exercício de função pública. Ex:


mesário de eleição, jurado no júri etc.

B) Agente capaz: Em princípio, exige-se a capacidade do agente para a validade do


ato. Mas, se o ato for vinculado, admite-se a validade do ato ainda que o ato seja

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praticado por agente incapaz.

C) Agente não impedido, nem suspeito: Não há legislação especifica quanto a


impedimentos e suspeições. Utiliza-se a regra geral do CPC. Poderá gerar a nulidade do
ato, por vício quanto ao sujeito.

D) Agente competente: Essa competência deve estar prevista em lei. Assim, as


fontes são a lei e a CF/88.

**** ALGUMAS SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS NÃO ADMITEM A DELEGAÇÃO


DA COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA. SÃO ELAS (recurso pra decorar –
DENOREX):

DE – decisão em recurso administrativo;

NO – edição de ato normativo;

REX- casos de competência exclusiva.

Estão elencadas no artigo 13 da Lei 9.784/99.

FORMA DO ATO ADMINISTRATIVO: A forma do ato administrativo deve ser


prevista em lei. Existem desdobramentos desta forma. Assim, exige-se:

A) Exteriorização da vontade - A exteriorização da vontade depende da


observação de formalidades específicas (determinadas por lei).

B) Formalidades específicas - Em regra, os atos administrativos devem ser


praticados por escrito. Mas, admite-se a prática de atos administrativos por outra forma.

Os atos administrativos devem cumprir formalidades específicas. Na prática de ato


administrativo, o Administrador deve obedecer ao princípio da solenidade de formas.

C) Processo administrativo prévio - Exige-se um processo administrativo para


que se pratique ato administrativo. Assim, o ato administrativo é resultado de um
processo, que deve respeitar o contraditório e a ampla defesa. Nesse contexto, o
procedimento administrativo prévio compõe a forma do ato administrativo. O
procedimento administrativo prévio é uma forma de documentar e legitimar a conduta do
Administrador.

MOTIVAÇÃO: É o fato em virtude do qual agiu a administração. A motivação é a


correlação lógica entre os elementos do ato administrativo e a lei. Representa as
explicações. A doutrina diverge quanto à obrigatoriedade da motivação. Para a doutrina
majoritária e para o STF a motivação é obrigatória nos atos administrativos. Hely Lopes
Meirelles, por sua vez entende que nem sempre a motivação é obrigatória, mas quando
ela existir, a autoridade que pratica o ato fica sujeita à comprovação da real existência dos
motivos (exemplo: Exoneração ad nutum).

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A motivação deve acontecer antes ou durante a prática do ato, não podendo ser
superveniente. Exemplo: a desídia de um servidor é o motivo pelo qual se aplica a sanção;

OBS: O silêncio do administrador não pode ser considerado nem sim nem não, salvo se a
lei assim definir expressamente. Silêncio administrativo é nada jurídico. Havendo pedido a
administração com o consequente silêncio (inércia ou falta de motivação) cabe impetração
de Mandado de Segurança (para fins de garantir a obtenção da resposta).

LEGALIDADE DO MOTIVO - Para que o ato seja legal, todos os seus elementos
devem ser legais. Para que o motivo seja legal, exige-se:

Materialidade do motivo: significa que o motivo deve ser verdadeiro.

Compatibilidade do motivo declarado com o motivo legal (previsto na lei).


Ex: a pena de demissão é uma sanção grave, sendo aplicada quando ocorrida infração
grave por servidor. Se o servidor praticar infração leve e for aplicada pena de demissão, o
motivo declarado será incompatível com o legal. Em razão disso, cada ato administrativo
tem a sua aplicação exata (tipicidade). A compatibilidade nada mais é do que a
observância ao princípio da proporcionalidade e da razoabilidade. O motivo deve ser
compatível com o resultado do ato.

Essa compatibilidade é que faz nascer a chamada TEORIA DOS MOTIVOS


DETERMINANTES que significa que uma vez declarado o motivo deve ele ser cumprido.
Nesse sentido, vincula o administrador aos motivos declarados. Mas, se este motivo for
falso ou ilegal (não for compatível com a lei) ou não for compatível com o resultado,
haverá ilegalidade do motivo, violando-se a Teoria dos Motivos determinantes. Ex: a
exoneração ad nutum (de servidor ocupante de cargo em comissão) não exige motivação
e motivo. Mas, se o administrador motivar a exoneração na redução de despesas, a
contratação de outros servidores para desempenhar a mesma atividade implica em motivo
falso, gerando violação a Teoria dos Motivos determinantes.

Contudo, existe a possibilidade de o administrador modificar o motivo sem que viole


a Teoria dos Motivos Determinantes, que é quando ocorre a desapropriação, desde que
mantida uma razão de interesse público. É a chamada TREDESTINAÇÃO LEGAL, porque
autorizada pelo ordenamento jurídico.

Ex.: Desapropriou propriedade para fins de construir uma escola pública, mas muda
de idéia e resolve construir um hospital. Mudou a finalidade, mas o interesse público se
mantém.

OBJETO DO ATO ADMINISTRATIVO - É o resultado prático do ato administrativo.


Ex: a concessão de licença. É o efeito jurídico imediato do ato. Ex.: A concessão de
aposentadoria. O efeito jurídico é a concessão deste direito de se aposentar. Deve conter:

* Objeto lícito - Para o direito administrativo, objeto lícito significa aquele previsto
(autorizado) em lei, atendendo assim ao princípio da legalidade.
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* Objeto possível - O objeto deve ser faticamente possível. Ex: a promoção de


servidor falecido é impossível, salvo para servidor militar.

* Objeto determinado - O objeto deve ser especificado. Todos os seus aspectos


devem ser definidos. Ex: na nomeação de Alberto para cargo de Delegado, deve-se
caracterizar a pessoa e o cargo.

FINALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO: É o bem jurídico que se busca


proteger, a razão de interesse público, também chamado de efeito jurídico mediato do
ato.O motivo é o que enseja a prática do ato (é algo passado). O Objeto é o ato em si
mesmo (a prática imediata, o presente). A finalidade é o que se busca proteger, o futuro.

ATO: APOSENTADORIA.

MOTIVO – Implementou os requisitos previstos em lei.

OBJETO – A CONCESSÃO EFETIVA DA APOSENTADORIA. (SE APOSENTAR)

FINALIDADE – Desocupar uma vaga no serviço público em razão de manifestação de


vontade que servidor manifestou em se aposentar, garantir o direito de aposentadoria
previsto em lei para quem implementa as condições, etc.

6.4. DESVIO DE FINALIDADE: É um vício ideológico, subjetivo. É um defeito na


vontade do administrador.

A doutrina tradicional entende que o desvio de finalidade pode gerar vício tanto na
finalidade que se busca como no motivo. Exemplo disso é a remoção de servidor público,
que é fundamentada em necessidade de serviço. O motivo é a necessidade do serviço e o
fim é colocar este servidor em local que a administração julgue ser mais importante ou
necessário. Se a remoção for fundamentada na necessidade do serviço, contudo,
praticada com FALSO MOTIVO (na realidade, foi removido por questões políticas) há
desvio de finalidade do ato praticado.

6.5. MARGEM DE LIBERDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS:

VINCULADO – É aquele que não tem liberdade, nem juízo de valor, de conveniência
ou de oportunidade. Presentes todos os requisitos legais o administrador é obrigado a
praticar o ato.

DISCRICIONÁRIO - Por sua vez o ato discricionário tem certo grau de liberdade,
possibilidade de exercício de juízo de valor, de conveniência e de oportunidade, mas
sempre observando os limites dispostos em lei.

Contudo, como todo o ato persegue o interesse público (independente de sua


margem de liberdade), no quesito finalidade é sempre vinculado.

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Importante ressaltar que a análise da conveniência e da oportunidade integram o


que se chama de mérito administrativo, que pode ser identificado quando a
administração tem que decidir ou atuar, valorando internamente as consequências ou
vantagens do ato. Logo, o mérito do ato administrativo é um juízo de conveniência e
oportunidade que o administrador público faz quando tem diante de si o instituto da
discricionariedade.

>>> OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Importante ressaltar as colocações de Hely


Lopes Meirelles, no tocante ao que se entende por mérito administrativo, ao afirmar que
em se tratando de ATOS ADMINISTRATIVOS VINCULADOS não há que se falar em mérito
administrativo, visto que a atuação do administrador na prática destes atos deve atender
tão somente às imposições legais.

Por sua vez, em se tratando de ATOS ADMINISTRATIVOS DISCRICIONÁRIOS, a


escolha e valoração dos motivos e objeto e finalidade do ato não cabe ao judiciário rever
os critérios adotados pelo administrador, pois isto é MÉRITO ADMINISTRATIVO (o
administrador faz o ato porque ele que detém o conhecimento acerca do que a
administração deve perseguir), PORÉM, mesmo nos atos discricionários, havendo desvio
de finalidade ou abuso de poder o judiciário PODE rever este ato por razões de
ILEGALIDADE.

6.6. REVISÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PELO PODER JUDICIÁRIO

Qualquer ato administrativo, independente de ser vinculado ou discricionário pode


ser revisto pelo Poder Judiciário, naquilo que diz respeito à legalidade do ato.

No caso de o motivo alegado para a prática do ato ser falso, ilegal ou incompatível
com o resultado do ato; ou ainda, quando o objeto for ilícito, impossível ou indeterminado,
o judiciário poderá rever o motivo e o objeto do ato, mesmo o discricionário, pois se
estará analisando a legalidade da questão.

No que tange à razoabilidade, proporcionalidade e eficiência do ato, o judiciário


realiza análise de legalidade, embora atinja o mérito do ato administrativo. Embora
aparentemente se questione se isso não é controle de mérito, portanto, exclusivo da
administração; na realidade isto é espécie de controle de legalidade e de princípios
constitucionais, os quais o Poder Judiciário, quando devidamente provocado, poderá
realizar.

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6.7. ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

São as características dos atos administrativos. Diferem-se dos atributos do Poder de


Polícia.

RECURSO PARA DECORAR: PAI

P resunção de legitimidade

A uto-executoriedade

I mperatividade

PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE - Significa que o ato administrativo é


presumidamente legítimo, legal e verdadeiro, ou seja, foi feito obedecendo as regras
morais, as determinações previstas em lei e corresponde à verdade. Contudo, esta
presunção é RELATIVA (iuris tantum), pois admite prova em contrário, ou seja, admite
que se questione, por exemplo, que o ato não obedeceu às determinações previstas em
lei.

O ato goza desta presunção porque a pode aplicá-los imediatamente aos


administrados. Também goza desta presunção porque se parte do pressuposto que a
administração pratica seus atos em consonância ao princípio da legalidade, previsto no
art. 37 da CF/88.

AUTO-EXECUTORIEDADE - Significa que a Administração pode praticar o ato


INDEPENDENTE de autorização do poder judiciário, mesmo que este possa exercer o
controle de legalidade sobre os atos já praticados. A auto-executoriedade nada mais é do
que clara expressão do princípio da autotutela.

IMPERATIVIDADE – Também chamada de coercibilidade, diz que os atos são


obrigatórios e devem ser observados. (os atos têm o poder de fazer os administrados
obedecerem às determinações feitas pelo administrador). Contudo, embora a
imperatividade seja a regra geral nem todos os atos são imperativos. A exemplo disso,
temos as certidões, atestados, que são atos meramente enunciativos

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6.8. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS:

QUANTO AO QUANTO AO QUANTO AO QUANTO À FORMAÇÃO


DESTINATÁRIO ALCANCE GRAU DE
LIBERDADE
ATO GERAL – é ATO INTERNO – VINCULADO – SIMPLES- Aquele que tem
aquele aplicado a toda Produz efeitos Não há liberdade, uma única manifestação de
uma coletividade somente dentro nem conveniência vontade.
da administração e oportunidade
ATO INDIVIDUAL – é ATO EXTERNO - DISCRICIONÁRIO COMPOSTO- Aquele que
aquele que tem um ou produz efeitos – É aquele que tem duas manifestações
mais destinatários dentro e fora da tem juízo de valor dentro de um mesmo
específicos administração dentro dos limites órgão, uma principal e
da lei. uma secundária.
COMPLEXO- Há duas
manifestações de vontade,
em órgãos diferentes, mas
com o mesmo patamar de
igualdade.

6.9. MODALIDADES (OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE ATOS


ADMINISTRATIVOS):

ATO NORMATIVO É aquele que normatiza, regula determinada situação. É o


exercício do poder regulamentar. Pode também ser
exercício do Poder de Polícia.
ATO Aquele que estrutura, organiza os quadros da
ORDINATÓRIO administração. É o exercício do Poder hierárquico.
ATO Aquele que certifica, atesta ou emite opinião (parecer)
ENUNCIATIVO sobre uma situação existente. Não tem caráter de decisão.
ATO NEGOCIAL Aquele com coincidência de vontades. Ex.: Licença pra
construir, permissão, concessão.
ATO PUNITIVO Aquele que institui sanções. Pode ser exercício do Poder
disciplinar ou do Poder de Polícia punitivo.
ATO ALIENATIVO Transfere bens ou direitos de um titular pro outro.
ATO Altera situações que já existem, mas sem extinguir direitos
MODIFICATIVO ou obrigações
ATO ABDICATIVO Aquele em que o titular abre mão de um direito.
ATO VÁLIDO Aquele que contém todos os elementos necessários para
sua eficácia.
ATO PENDENTE Esta sujeito a condição ou termo para produzir efeitos.

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6.10. FORMAÇÃO E EFEITOS DO ATO ADMINISTRATIVO

*Formação e Validade: Para a doutrina majoritária, o ato PERFEITO é aquele que


completou o seu ciclo de formação sem que se analisem os seus requisitos.

Já para considerar um ato VÁLIDO, deve se analisar se ele já percorreu toda a sua
trajetória de ciclo e obedeceu a todos os seus requisitos de formação.

Um ato para ser considerado EFICAZ é quando estiver apto para a produção de
efeitos.

CONSIDERANDO AS COLOCAÇÕES ACIMA, O ATO ADMINISTRATIVO PODE


SER:

PERFEITO, VÁLIDO E INEFICAZ – Completou seu ciclo de formação, obedeceu a


todos os seus requisitos de formação, contudo, não produz efeitos. (exemplo: Ato que
depende de homologação para poder produzir efeitos).

PERFEITO, INVÁLIDO E EFICAZ- Completou seu ciclo de formação, não obedeceu a


todos os seus requisitos de formação, mas ainda assim produz efeitos. Exemplo: Concurso
público invalidado por fraude, mas cujos servidores foram nomeados. O ato deverá ser
invalidado, gerando efeitos retroativos.

PERFEITO, INVÁLIDO E INEFICAZ - Completou seu ciclo de formação, não obedeceu


a todos os seus requisitos de formação, não produz efeitos. Exemplo: Uma licitação ilegal
por fraude que sequer teve contrato publicado. Exemplo: Um contrato administrativo
celebrado em decorrência de uma licitação, mas que ainda não foi publicado. A ausência
de publicação leva à ausência de efeitos, até que seja publicado.

6.11. EFEITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Os atos podem produzir efeitos principais e secundários.

O principal é aquele que se espera imediatamente quando se pratica o ato. O


secundário, por sua vez, é aquele que atinge pessoa estranha à relação jurídica
estabelecida quando praticado o ato principal.

Exemplo: A adm. Pública decreta a desapropriação do imóvel de Juvenal. Mas o


imóvel estava locado para Carlos. Carlos sofrerá os efeitos de um ato praticado pela
administração em desfavor de Juvenal. Também se chama de efeito reflexivo
(secundário).

A doutrina também reconhece o chamado efeito prodrômico ou preliminar atípico dos


atos administrativos, que é quando antes do ato concluir seu ciclo de formação, exige o
cumprimento de alguma formalidade ou pendência anterior. Este efeito ocorre nos atos
complexos e compostos. Ocorre por exemplo, quando em um ato composto exige a
manifestação de uma autoridade antes da manifestação da segunda. Quando se exige a

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manifestação esta é um efeito atípico, para que, no fim, se obtenha a prática efetiva do
ato administrativo e se garanta a perfeição do ato administrativo.

Exemplo de ato que tem efeito prodrômico: Nomeação de dirigente de Agência


Reguladora.

Nesse caso, o Senado Federal deve indicar o nome do dirigente e o Presidente da


República tem a obrigação de nomear (por força da Lei 9.986/2000 – artigo 5º e
Parágrafo único da Lei).

Se exige a manifestação do Senado para indicar os nomes (efeito preliminar atípico),


dentre os escolhidos pelo presidente da república. Quando o Senado indicar, o presidente
deverá nomear o dirigente. Exigiu a manifestação de 2 órgãos para que o ato enfim se
torne perfeito. E a manifestação antecedente à manifestação da autoridade que tornará o
ato perfeito é que se denomina de efeito prodrômico.

6.12. EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO:

É a retirada do ato do ordenamento e do mundo jurídico. Ocorre em virtude de:

*CUMPRIMENTO DOS EFEITOS - Por vencimento do prazo ou conclusão do objeto;

*DESAPARECIMENTO DO SUJEITO OU DO OBJETO – sobre quem ou o quê recai o


ato administrativo

*RENÚNCIA – Quando o titular se desinteressa do ato.

6.13. EXTINÇÃO DOS ATOS POR RETIRADA DO PODER PÚBLICO

ANULAÇÃO: é a retirada dos atos por razões de ilegalidade. Um novo ato deve ser
praticado pela administração para promover a retirada deste ato considerado ilegal, e a
este novo ato que se dá o nome de anulação.

O controle do ato administrativo ilegal pode ser exercido:

 Pela Administração, que deve revisar os seus atos por ilegalidade, como clara
aplicação do princípio da autotutela. Nesse sentido, foram editadas as Súmulas 346 e 473
do STF, que determinam o seguinte, bem como por determinação expressão do artigo 53
da Lei 9.784/99.

Súmula 346. A administração pública pode declarar a nulidade dos seus


próprios atos.

Súmula 473. A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

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L. 9.784/99 - Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Existe prazo para a administração exercer a chamada autotutela, para fins de anular
os atos ilegais? O mesmo diploma legal acima citado, em seu artigo 54 afirma que o prazo
de revisão de seus próprios atos é de 5 anos, quando atinge o interesse particular (o
chamado prazo quinquenal):

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-


se-á da percepção do primeiro pagamento.

§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade


administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Existe um prazo fixado em lei em observância ao chamado princípio da


segurança jurídica, para fins de garantir a estabilidade das relações e preservar a
segurança do particular frente aos atos da administração.

 Pelo Poder Judiciário: Este tipo de controle ocorre visando APENAS controlar
a legalidade do ato, mas não analisando o mérito do ato administrativo, muito embora
seja admitido o controle buscando a preservação e aplicação dos princípios
constitucionais, como forma de restringir o mérito administrativo. Analogicamente a
jurisprudência tem utilizado o prazo quinquenal da administração para que o Judiciário
possa exercer o controle de legalidade dos atos, por motivos também de segurança
jurídica. A anulação pelo poder judiciário se dá quando este for PROVOCADO para tanto, e
não de ofício. Deve ser levado a conhecimento do judiciário a existência de ato ilegal, para
que ele proceda com a devida anulação.

A regra geral da anulação diz que a mesma produz efeitos retroativos (ou, ex
tunc), retirando o ato desde a sua origem, desde que foi produzido.
Mas parcela da doutrina, em especial Celso Antônio Bandeira de Mello e em alguns
julgados do STF, se da anulação surtirem efeitos prejudiciais (restrição de direitos, por
exemplo), o efeito a ser dado será o ex nunc (não retroativo), significa dizer que a decisão
de anulação valerá do momento em que foi proferida para frente, não sendo apta a atingir
os efeitos que o ato produziu desde a origem.

A exemplo disso, temos o caso do servidor que pediu uma gratificação e esta foi
concedida porque ele preenchia os requisitos para a concessão. Transcorrido um tempo, a
administração decide rever seu ato e concluí que o servidor na realidade não tinha direito
à percepção da gratificação e o ato, acabou por tornar-se ilegal. O servidor não precisará

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devolver os valores, logo, verificam-se efeitos ex tunc (excepcionalmente) da anulação.

REVOGAÇÃO – É a retirada do ato administrativo do mundo jurídico por razões de


conveniência e oportunidade (ele é considerado inconveniente e inoportuno pelo
administrador). Como é critério discricionário, é mérito administrativo a revogação se dá
apenas pelo administrador e não pelo judiciário. Agora o poder Judiciário PODE revogar os
seus próprios atos, quando exerce os seus atos administrativos internos, mas não realiza a
função de revogação no exercício da função jurisdicional e outros poderes.

Diferente do que acontece com a anulação, não existe limite temporal para que a
administração exerça a revogação, muito embora, existam limites materiais (sobre o
conteúdo), que delimitam o agir da administração.

É o caso, por exemplo, do ato que já produziu efeitos, do ato que produz direito
adquirido, dos atos enunciativos.

CASSAÇÃO - É quando o ato administrativo é retirado do mundo jurídico quando o


beneficiário do ato descumpre as condições que lhe foram impostas para existir. Exemplo:
cassação do alvará de funcionamento por descumprir as condições de higiene.

CADUCIDADE - Quando o ato administrativo é retirado em razão de superveniência


de uma norma jurídica que impede que o ato continue existindo, o ato se torna
incompatível com norma nova.

A caducidade dos atos administrativos não se confunde ao conceito de caducidade


trabalhado na matéria que trata dos contratos de concessão de serviços públicos, onde a
rescisão do contrato por descumprimento de cláusulas se denomina também de
Caducidade.

CONTRAPOSIÇÃO – Quando dois atos administrativos são praticados, mas um se


contrapõe ao outro, o segundo ato elimina os efeitos do primeiro. Exemplo: O ato de
demissão de servidor consequentemente extingue o ato de nomeação deste mesmo
servidor.

6.14. CONVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS:

O ato jurídico que com efeitos retroativos sana vício de ato antecedente de tal modo
que ele passa a ser considerado como válido desde o seu nascimento. Significa portanto,
o aproveitamento do ato com a correção dos seus efeitos, permitida pela Lei 9,784/99,
conforme previsto em seu artigo 55.

Contudo, só o ato administrativo que tem vício sanável (ou seja, ato anulável) é que
pode ser convalidado, pois poderá ser aproveitado. Alguns autores dizem que a
convalidação é discricionária. Geralmente o ato sanável é aquele com vício de forma ou
competência (a não ser que seja de competência exclusiva e a forma seja taxativamente
definida em lei).

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A convalidação é diferente da conversão, porque enquanto uma é o aproveitamento


do ato sanando seus defeitos, a outra diz respeito com ao aproveitamento com a
transformação do ato. È o caso, por exemplo, de um ato solene e que não preenchia
todos os seus requisitos. Este ato é transformado em um ato mais simples, para
preencher os requisitos e existir sem defeito algum.

6.15. ESTABILIZAÇÃO DOS EFEITOS

Ocorre quando a retirada de um ato ilegal pode causar mais prejuízos do que a sua
manutenção, portanto, opta-se pela preservação do mesmo, por outras razões tais como
boa fé, segurança jurídica, etc. Difere da convalidação porque nesta, o ato só permanece
depois da correção (e se não for possível corrigi-lo, se procede com a anulação), enquanto
naquela, o ato permanece intacto como foi praticado.

7. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Denomina-se responsabilidade civil a obrigação imposta com a finalidade de ressarcir


os danos causados a alguém, sendo que a responsabilidade pode ser contratual ou
extracontratual.

O Estado como pessoa jurídica de direito público e aqueles que atuam em seu
nome, seja na modalidade de concessão, permissão ou autorização são pessoas capazes
de direitos e responsáveis pelos atos que praticam.

Assim sendo, caso gerem prejuízos ou danos a alguém na execução de suas


atividades, por conduta comissiva ou omissiva deverão arcar com a responsabilidade de
reparar a lesão causada. Daí nasce a chamada responsabilidade civil do Estado.

Neste sentido, a ordem jurídica é única: todo aquele que causar prejuízo a outrem,
tem o dever de indenizar, sendo que o Estado se submete a esta ordem jurídica.

Princípios que orientam a responsabilidade – Legalidade e princípio da Isonomia.

7.1. TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA:


O artigo 37, §6º da Constituição Federal determina:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

De tal regramento, verifica-se que nossa legislação adotou a chamada


responsabilidade objetiva, aplicada nos casos de conduta lícita (mas que gerem uma
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situação de desigualdade que importe em prejuízo), bem como diante de condutas


ilícitas (aqui é expressa aplicação do princípio da legalidade).

São requisitos para a configuração da responsabilidade objetiva:


- a existência de conduta do estado (lícita que causa desigualdade ou ilícita
que afronte a lei);
- existência de dano;
- nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Não se exige elemento
subjetivo, como a intenção. Basta a simples constatação do dano.

Atente-se à redação do artigo 37§6º da CF, que a responsabilidade objetiva incide


quando os danos são causados pelos AGENTES da administração pública. Os casos de
danos provocados por terceiros ou por fenômenos da natureza não estão abarcados pela
chamada teoria do risco administrativo, não podem ser imputados à responsabilidade da
administração.

Exemplo: depredação feita por multidões, enchentes ou vendavais que causam


danos aos particulares (só incidirá a responsabilidade objetiva da administração se
comprovada a culpa da mesma.

7.2. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA:

 TEORIA DO RISCO INTEGRAL: Aqui o Estado responde independente de qualquer


coisa, não se admitem excludentes. Ela é adotada nos casos de dano nuclear,
dano causado por material bélico ou dano ambiental.
 TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO: É a teoria em regra adotada no Brasil e
que admite a excludente de responsabilidade em favor do Estado (o Estado não
responde pelo dano). Ocorre quando há:

- culpa exclusiva da vítima;


- caso fortuito e força maior
- ausência de dano, conduta ou nexo de causalidade.

** Culpa concorrente não é espécie de excludente de responsabilidade do Estado, muito


embora acarrete na minoração do quantum a título de indenização.

Logo, a responsabilidade insculpida no artigo 37, §6º é a chamada responsabilidade


objetiva, decorrente de relação extracontratual.

7.3. QUEM PODE PRATICAR O ATO QUE ENSEJA A RESPONSABILIDADE?


 Pessoas jurídicas de direito público, tanto da administração pública direta como da
administração pública indireta;
 Pessoas jurídicas de direito privado, desde que na qualidade de prestadoras de

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serviço público (por expressa previsão legal);


 Sociedades de economia mista e empresas públicas quando prestadoras de
serviços públicos. Na qualidade de exploradoras de atividade econômica, não se
submetem à responsabilidade civil objetiva;
 Concessionárias e permissionárias de serviço público.

Para que a responsabilidade civil do Estado incida, o ato lesivo deve ter sido
praticado quando aquele que o pratica o faz na qualidade de agente, no exercício de suas
funções (agente para fins de responsabilidade é quem exerce função pública, de forma
temporária ou permanente, com ou sem remuneração).

Se o ato for praticado FORA da qualidade de agente, não incide a responsabilidade


do Estado.

7.4. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O Estado pode ser responsabilizado pela vítima através da ação de responsabilidade


ajuizada em face do Estado, demonstrada a conduta, o dano e o nexo de causalidade.

Contudo, nada obsta que o Estado ajuíze ação de regresso em desfavor do agente
que agiu em seu nome e causou dano a alguma vítima, para fins de ver ressarcido o valor
que arcou para o pagamento da indenização. Contudo, na ação de regresso o Estado
deverá demonstrar a existência de responsabilidade do agente que causou o dano.

Para a ação de regresso em face do agente, não há prazo, pois se trata de ação
imprescritível (art. 37, § 5º, CF/88). Trata-se de posição pacífica.

7.5. PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE RESPONSABILIDADE DO ESTADO

O prazo para a vítima ajuizar ação em desfavor do Estado, objetivando a indenização


por responsabilidade é de 5 anos, conforme previsto no Decreto 20.910/32.

Contudo, alguns doutrinadores sustentam que o prazo a ser utilizado é o de 3 anos


previsto no artigo 206 do Código Civil.

Contudo, o STJ tem entendido que deve ser adotado o artigo 206 do Código Civil, por
ser um prazo mais benéfico ao Estado.

8. SERVIDORES PÚBLICOS – LEI 8.112/90

8.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS:

A lei 8.112/90 institui o Regime Jurídico dos Servidores Civis Públicos da União,
inclusive para autarquias e fundações públicas federais.

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Logo, se aplica no campo dos servidores da União (do Executivo, Legislativo,


Judiciário, Tribunal de Contas da União, Ministério Público Federal, Autarquias Federais -
exemplo: INSS -, Fundações Públicas Federais, etc.).
CUIDADO – Não se aplica aos militares, porque estes são regidos por estatutos
PRÓPRIOS.

8.2. ALGUNS CONCEITOS:

 CARGO PÚBLICO: segundo Hely Lopes Meirelles, é o espaço preenchido por um


servidor público.
 EMPREGO PÚBLICO: é o espaço preenchido por quem possui vínculo contratual
com a Administração regido pela CLT.
 FUNÇÃO PÚBLICA: São as atribuições desempenhadas pelos agentes públicos
(conceito que se difere do conceito de servidores públicos) destinadas à execução de
algum serviço, seja temporário, seja eventual.
 CONCURSO PÚBLICO: é o processo seletivo, utilizado pela Administração para
selecionar aqueles que irão integrar o quadro de empregados ou servidores públicos,
oportunizando que todos aqueles que preencherem os requisitos exigidos para ocupar o
cargo, concorram a uma vaga no serviço público, conforme determina o artigo 37, inciso
II da CF/88.
 NOMEAÇÃO: é o ato de provimento da Administração que se destina a atribuir cargo
ou função a aquele que preencher os requisitos exigidos em lei.
 POSSE: é a investidura no cargo público.
 EXERCÍCIO: é o efetivo desempenho das funções para o qual o servidor é nomeado.

8.3. PROVIMENTO DOS CARGOS SEGUNDO A LEI 8.112/90:

Provimento é o nome que se dá ao ato administrativo que se destina a realizar o


preenchimento de determinado cargo que está vazio.

8.3.1. ESPÉCIES DE PROVIMENTO:


 ORIGINÁRIO – é o vínculo inicial que se tem entre a pessoa que irá ocupar uma
vaga no serviço público e a Administração. Existe uma única forma de Provimento
Originário, é a que decorre da NOMEAÇÃO.
Nesta espécie, não há ainda vínculo anterior entre a administração e aquele que será
nomeado.
 DERIVADO: Nesta espécie de provimento, já existe um vínculo anterior entre a
Administração e o servidor. São eles:

- PROMOÇÃO: forma de provimento derivado, que implica no aumento do nível de


complexidades de atribuições do cargo e, consequentemente, do vencimento. Idéia de

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ascensão. Simultaneamente, também é espécie de vacância, pois enquanto um servidor


ascende para outro cargo, o cargo anteriormente ocupado ficará vago.

- READAPTAÇÃO: forma de provimento derivado, onde o servidor que tenha sofrido


alguma limitação física ou mental é investido em cargo compatível com as suas limitações,
conforme o art. 24 da Lei 8.112/90. Caso o servidor seja julgado incapaz pela junta
médica, para a execução das atividades, deverá ser aposentado.

- REVERSÃO: forma de provimento derivado, onde o servidor aposentado reingressa ao


quadro de servidores em atividade, por ocasião da cessação das causas de invalidez ou
quando assim solicita, desde que haja o interesse da administração, conforme o artigo 25
da Lei 8.112/90.

Entretanto, alguns requisitos devem ser observados para que seja possível a reversão, os
quais sejam: o servidor não pode ter atingido a idade de 70 anos (em decorrência da
aposentadoria compulsória); quando cessar a invalidez (e neste caso, independe de o
servidor anteriormente ter atingido a estabilidade) e independe que haja cargo vago; ou
ainda, quando o servidor aposentou-se a pedido (voluntariamente), poderá ocorrer a
reversão desde que haja cargo vago, o servidor seja anteriormente estável e a
aposentadoria tenha sido efetivada nos últimos 5 anos, a contar do pedido de reversão.

- APROVEITAMENTO: Forma de provimento derivada do servidor que estava em


disponibilidade e deverá observar a remuneração e o cargo que eram anteriormente
ocupados e percebidos pelo servidor. Ps.: A disponibilidade é um instituto que permite ao
servidor estável que teve seu cargo extinto ou declarado desnecessário permanecer sem
trabalhar e percebendo a sua remuneração, aguardando ser aproveitado em outro cargo.
Está regulamentado no artigo 30 e 31 da Lei 8.112/90.

-REINTEGRAÇÃO: Forma de provimento derivada do servidor estável que teve sua


demissão invalidada por decisão judicial ou administrativa, devendo incidir a devida
indenização pelo tempo que o servidor permaneceu sem receber sua remuneração. Caso o
cargo que o servidor estável ocupava seja extinto ou declarado desnecessário pelo período
em que o servidor estava demitido, será posto imediatamente em disponibilidade, para
posterior aproveitamento. Está prevista no artigo 28 da Lei 8.112/90.

- RECONDUÇÃO: Forma de provimento derivada que implica no retorno do servidor ao


cargo de origem, no qual era estável, decorrente de reprovação em estágio probatório ou
reintegração. Está prevista no art. 29 da Lei 8.112/90.

IMPORTANTE>>> As formas de provimento derivado transferência e ascensão


não mais existem!!!

8.4. VACÂNCIA

É a denominação utilizada para se referir ao cargo público que ainda não foi
preenchido, que está vago.
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8.5. ESPÉCIES DE VACÂNCIA:

- EXONERAÇÃO: forma de vacância que não implica em aplicação de penalidade mas sim,
importa na dispensa do servidor em decorrência de pedido deste ou, de ofício por parte da
Administração, quando o servidor não satisfizer os requisitos do estágio probatório,
quando não entrar em exercício no prazo de 15 dias após ter tomado posse. Quando
ocupar cargo em comissão, a exoneração ocorrerá por pedido do servidor ou por
entendimento da administração neste sentido.

-DEMISSÃO: é forma de vacância que decorre de aplicação de penalidade ao servidor


(diferente da exoneração, tem caráter sancionatório). Pode decorrer de crime contra a
administração pública, prática de ato de improbidade administrativa, crime licitatório,
abandono de cargo superior a 30 dias (onde se instaura procedimento administrativo
disciplinar e a penalidade a ser aplicada é a demissão), etc.

- PROMOÇÃO: forma de vacância, que implica na saída do servidor de um cargo para


outro, onde ocorrerá aumento do nível de complexidades de atribuições do cargo e,
consequentemente, do vencimento. Idéia de ascensão. Simultaneamente, também é
espécie de provimento.

-READAPTAÇÃO: forma de provimento derivado e também de vacância, onde o servidor


que tenha sofrido alguma limitação física ou mental é investido em cargo compatível com
as suas limitações, conforme o art. 24 da Lei 8.112/90 e o seu cargo anterior, ocupado
quando possuía plenas condições estará vago.

-APOSENTADORIA: Pode ocorrer a pedido do servidor ou compulsoriamente pela


administração (quando este completar 70 anos de idade).

Ocorrerá a pedido do servidor quando este apresentar os requisitos previstos em lei.

Poderá decorrer, por fim, por invalidez, quando o servidor não possui mais aptidão física
ou mental para a execução de suas atividades, e não existe possibilidade de readaptá-lo
em outra função.

- POSSE EM OUTRO CARGO INACUMULÁVEL: A regra insculpida no artigo 37, inciso


XVI da CF/88 afirma que a regra geral é a impossibilidade de acumulação de cargos.
Contudo, a própria Carta Magna excepciona as hipóteses em que se permite a
acumulação. Logo, quando algum servidor público tomar posse em cargo no qual não
seja permitido cumular, deverá ficar vago o cargo por ele anteriormente ocupado. São
os cargos que permitem a acumulação: Dois cargos de professor; Um cargo de professor
com outro, técnico ou cientifico; Dois cargos privativos de profissionais de saúde, com
profissão regulamentada.

- FALECIMENTO: Espécie de fato administrativo, pois independe de manifestação de


vontade, contudo, possui reflexos na seara do direito público, é espécie de vacância.

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8.6. DOS DIREITOS E VANTAGENS:

VENCIMENTO E REMUNERAÇÃO:
Segundo o artigo 40:O Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo
público, com valor fixado em lei. Nenhum servidor receberá, a título de vencimento,
importância inferior ao salário-mínimo.
Por sua vez, a remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens
pecuniárias permanentes estabelecidas em lei (art. 41). O vencimento do cargo efetivo,
acrescido das vantagens de caráter permanente, é irredutível (§3º,art. 41).
VANTAGENS:
Segundo Hely Lopes Meirelles, são os acréscimos que serão pagos ao servidor
quando não for remunerado por subsídio. São elas:
INDENIZAÇÕES: ajuda de custo, diária e transporte.
GRATICAÇÕES: por direção, assessoramento, chefia e a chamada gratificação natalina
ADICIONAIS: insalubridade, periculosidade, noturno, penosidade, por atividade
extraordinária e por férias.
DIREITOS:
Além dos direitos à remuneração, vencimentos e vantagens, os servidores públicos
fazem jus a outros direitos, dentre os quais se compreendem:
- Licença para tratamento de saúde;
- Licença gestante;
- Licença Paternidade;
- Licença Adoção;
- Licença por acidente em serviço;
- Auxílio-funeral;
- Auxílio reclusão;
- Auxílio Natalidade;
- Salário Família;
- Pensionamento;
- Licença doença em família;
- Licença para acompanhar cônjuge;
- Serviço militar;
- Licença para atividade política;
- Licença para capacitação;
- Licença para tratar interesses particulares;
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- Desempenho de mandato classista;


- Licença para exercer atividade em outro órgão;
- Licença pra estudo ou missão no exterior.
Concessões: Por doação de sangue, falecimento de parente, por alistamento eleitoral e
por casamento.

8.7. DEVERES DOS SERVIDORES:

 Lealdade;
 Obediência;
 Conduta ética;
 Dever de eficência;
 Observância aos princípios da administração pública, princípios éticos e da moralidade
administrativa.

8.8. DAS PROIBIÇÕES

Previstas no artigo 117 da lei 8.112/90, são as seguintes:

I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe


imediato;

II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento ou


objeto da repartição;

III - recusar fé a documentos públicos;

IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou


execução de serviço;

V - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição;

VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o


desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado;

VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação


profissional ou sindical, ou a partido político;

VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge,
companheiro ou parente até o segundo grau civil;

IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da

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X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou


não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou
comanditário;

XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo


quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo
grau, e de cônjuge ou companheiro;

XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em


razão de suas atribuições;

XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;

XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;

XV - proceder de forma desidiosa;

XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades


particulares;

XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto
em situações de emergência e transitórias;

XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do


cargo ou função e com o horário de trabalho;

XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado.

Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do caput deste artigo não se
aplica nos seguintes casos:

I - participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades


em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação no capital social ou em
sociedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros; e

II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na forma do art. 91 desta


Lei, observada a legislação sobre conflito de interesses

Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação


remunerada de cargos públicos. (salvo nos casos que estudaremos quando da análise do
artigo 37 ao 41 da Constituição Federal).

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8.9.RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR E DAS PENALIDADES:

Segundo disposto na lei 8.112/90, em seu artigo 121 ao 126, o servidor responderá
civil, penal e administrativamente quando do exercício das suas funções causar ato
irregular, dano ou prejuízo.

A administração poderá acionar regressivamente o servidor pelos danos que este


causar no desempenho de suas funções;

Ainda acerca da responsabilidade, os sucessores do servidor responsabilizado


responderão pelos prejuízos causados até o limite da herança deixada.

Contudo, a responsabilidade administrativa do servidor poderá ser afastada quando


sentença criminal absolver o acusado por inexistência do fato ou por negativa de autoria
(vinculação das esferas de decisão).

Como penalidades poderão sofrer sanções de natureza civil, administrativa e criminal.


Neste estudo, nos interessam as penalidades administrativas, elencadas no artigo 127 da
lei 8.112, as quais sejam:

I - advertência;

II - suspensão;

III - demissão;

IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;

V - destituição de cargo em comissão;

VI - destituição de função comissionada.

8.10. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Está previsto no Estatuto do Servidor. Será seguido aqui o Estatuto do Servidor


Federal (L. 8.112/90).
A L. 8.112/90 traz dois tipos de processo: (a) ordinário; (b) sumário.
As regras da Lei 9.784/99 (Lei Geral de Processo Administrativo) será aplicada de
forma subsidiária (art. 69 da mesma Lei).

* Processo Administrativo Sumário

A L. 8.112/90 traz dois procedimentos sumários. São eles:

- Sindicância: ensina Fernanda Marinella sindicância nasceu como investigação


prévia. Mas, com o tempo, essa situação foi modificada, podendo ser o próprio processo
quando a infração apurada for leve (punida apenas com advertência ou suspensão de até
30 dias).

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Marinella ainda destaca duas espécies:

a) Sindicância Puramente Investigativa


Para o STJ equipara-se ao Inquérito Policial, por isso dispensa o contraditório e
ampla defesa.

b) Sindicância Investigativa e Punitiva


Meio sumário de apuração de infração administrativa e imposição de penalidades
leves aos servidores (advertência e suspensão até 30 dias). Imprescindível o contraditório
e a ampla defesa.

Assim, a sindicância pode ser instrumento:


(a) para o arquivamento, quando se verificar que a infração não existiu;
(b) para aplicação da sanção quando se tratar de infração leve. Nesse caso, a
sindicância deve promover o contraditório e a ampla defesa. Só vale para Sindicância
Investigativa e Punitiva.
(c) para a instauração do processo ordinário quando for verificada infração média ou
grave (punível com suspensão por mais de 30 dias ou com demissão). Nesse caso, a
sindicância serve apenas como investigação prévia, sendo inquisitivo (sem contraditório e
ampla defesa).
O processo de sindicância tem prazo de 30 dias prorrogável por mais 30 dias para a
sua conclusão. Por isso, é classificado como sumário.

**** Sumário de Acumulação Ilegal (art. 133, L. 8.112/90)

Trata-se de procedimento sumário porque deve ser concluído em 30 dias,


prorrogável por mais 15 dias.
O servidor, em regra, não pode acumular. Mas, excepcionalmente é possível a
acumulação quando a lei assim permitir. A acumulação ilegal é infração funcional grave,
punível com demissão. Identificada a acumulação, a Administração antes de instaurar
processo e de punir o servidor, deve chamá-lo para fazer uma escolha. O servidor terá 10
dias para fazer a opção pelo cargo que pretende continuar exercendo. Feita a escolha,
será exonerado do cargo que ele indicar. Esse ato não tem natureza de sanção.
O silêncio do servidor determinará a instauração do processo sumario de acumulação
ilegal. O servidor terá ainda a chance de escolher até o prazo para a defesa (que é de 5
dias). Se o servidor fizer a escolha até a defesa, considerada a boa-fé, será exonerado do
cargo por ele indicado. Mas, se não fizer a escolha, será demitido de todos os cargos.

Processo Administrativo Ordinário (ou Propriamente Dito) –


ENSINAMENTOS DE FERNANDA MARINELLA:

Não é necessária a Sindicância prévia a instalação do PAD. Quando já houver


elementos suficientes para instauração do PAD dispensável a Sindicância (STJ, MS 25.105)

O PAD é meio de apuração de infração disciplinar e obrigatório para a imposição das


penalidades médias e graves. Médias: suspensão superior a 30 dias; Graves: demissão,

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cassação de aposentadoria/disponibilidade; destituição de cargo em comissão. Mas


obviamente pode ser utilizado para pena leve.

8.11. PRAZO DE DURAÇÃO:


Tem prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 60 dias, com 20 dias para
julgamento.
Durante o processo administrativo, há a possibilidade de afastamento administrativo
do servidor. É o chamado afastamento preventivo, pelo prazo de 60 dias, prorrogável
por mais 60 dias, sendo recebida a remuneração durante esse período. Se o processo não
concluído nesse prazo, será extinto. A Administração poderá instaurar outro processo até
que se verifique a prescrição do direito de punir (prazo prescricional) da infração, que
deverá ser concluído no prazo correto.

8.12. FASES DO PAD SEGUNDO O RITO ORDINÁRIO:

1ª Fase - Instauração

O PAD é instaurado com a publicação da Portaria que constitui a comissão


processante.
A comissão é composta por três servidores estáveis. O presidente da comissão tem
que ter cargo efetivo igual ou superior ao do investigado ou nível de escolaridade igual ou
superior ao do investigado.
Se houver afastamento preventivo do investigado persistirá o pagamento da
remuneração, que será por 60 dias, prorrogado por 60 dias. Expirado esse prazo, voltará a
trabalhar independentemente do termino do PAD. Continua recebendo com base no
Princípio do Estado de Inocência e porque ainda não se está diante de penalidade (é mera
medida cautelar).

2ª Fase – Inquérito Administrativo

(a) Instrução;
(b) Defesa;
(c) Relatório.

(A) Instrução
Haverá a apuração das provas e especificação dos fatos imputados ao servidor. É
possível a prova emprestada no âmbito do processo administrativo (STJ, EDMS 10.128).

(B) Defesa:
Servidor será citado para apresentar defesa escrita no prazo de 10 dias. Se houver
dois ou mais servidores indiciados o prazo de defesa será comum de 20 dias.
A Lei admite a citação por Edital. Nesse caso o prazo de apresentação será de 15
dias contados da última publicação do edital.
O art. 156 da L. 8.112 estabelece o direito do indiciado de acompanhar o servidor
diretamente ou por meio de advogado. A Súmula Vinculante n. 5 definiu que não ofende a
CF a ausência de advogado no PAD.

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Mas a Defesa do servidor é obrigatória (art. 164, par. 1º e 2º). Mesmo revel o
servidor será defendido, para fins de preservação do princípio de ampla defesa e
contraditório.

Apesar de a instrução vir primeiro, antes da defesa, tem que haver a possibilidade do
servidor acompanhar as provas produzidas, obedecendo o contraditório e a ampla defesa
(STF no MS 21.721).

(C) Relatório:
É a peça final da Comissão Processante devendo ser conclusivo.

3ª Fase – Julgamento
A competência de quem julga está estabelecida no art. 141 da L. 8.212 e deverá
ocorrer no prazo de 20 dias (prazo é impróprio). A inobservância do prazo de 140 dias
para julgamento não gera nulidade (STF no MS 22.373).
O art. 168 da L. 8.112/90 prevê que o julgamento acatará o relatório da comissão,
salvo prova em contrário:

8.13. SANÇÕES

O art. 127 da L. 8.112/90 estabelece as sanções aplicáveis ao processo: (a)


advertência (para infrações leves), suspensão (para infrações médias) e demissão do
servidor (para infrações graves); (b) a destituição de cargo em comissão e de função de
confiança: implica perda do cargo quando praticada infração média e grave; e (c) a
cassação de aposentadoria ou de disponibilidade: quando praticada infração grave por
servidor aposentado ou em disponibilidade.
O servidor não pode pedir a exoneração e nem a aposentadoria voluntária enquanto
tramitar processo disciplinar. Mas, admite-se a aposentadoria durante o processo quando
se tratar de aposentadoria compulsória. Assim, submete-se a pena de cassação quando a
infração for descoberta após a ocorrência da aposentadoria ou quando se tratar de
aposentadoria compulsória.

8.14. REVISÃO DO PAD:

O PAD poderá ser revisto a qualquer tempo, a pedido do interessado ou de ofício


pela administração pública, quando da existência de fatos novos, ou circunstâncias
suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a inadequação da pena aplicada, por
expressa disposição do artigo 174 da Lei, sendo que qualquer pessoa da família poderá
requerer a revisão em caso de falecimento ou ausência do servidor.
A simples alegação de injustiça por si só não é hábil para postular a revisão do PAD.
Da revisão do PAD não poderá decorrer reformatio in pejus (prejuízo da situação do
servidor punido).

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9. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE


9.1. NOÇÕES GERAIS

A regra geral vigente em nosso ordenamento jurídico é que o Estado não intervirá na
propriedade. Excepcionalmente essa intervenção é possível. Mas em se tratando de uma
exceção à regra geral, a intervenção deverá sempre ser fundamentada.

A intervenção significa uma limitação ao direito de propriedade, garantido na CF/88.


O Direito de Propriedade é uma garantia fundamental insculpida no artigo 5º, inciso XXII,
e permite o direito de usar, gozar, usufruir, dispor e de reaver o bem com quem quer que
esteja. São as características deste direito:

a) Caráter absoluto: é a liberdade do uso da propriedade. O proprietário pode


utilizar o seu bem como quiser.

b) Caráter exclusivo: a propriedade pode ser utilizada de forma individual

c) Caráter perpétuo: a propriedade pertencerá ao proprietário enquanto ele quiser,


ocorrendo a transferência tão somente se o proprietário assim desejar. Somente será
transferida quando assim decidir.

Em todas as modalidades de intervenção, salvo na desapropriação, haverá restrição


da propriedade sem seu impedimento. Assim, o proprietário permanecerá sendo dono,
embora ocorra uma limitação a ela. Não há transferência do direito quanto às restrições,
salvo na desapropriação.

9.2. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA

Significa uma atuação geral e abstrata do poder público de restrição da propriedade,


na busca do bem social. A limitação é uma restrição ao caráter absoluto da propriedade,
pois atinge a liberdade do proprietário. O proprietário é indeterminado. Não interessa
quem é o dono do imóvel.

A limitação administrativa pode decorrer de regras ambientais, sanitárias,


urbanísticas, de proteção, etc. É uma restrição geral e gratuita imposta
indeterminadamente às propriedades particulares.

9.2.1. FUNDAMENTO

A Limitação Administrativa é decorrente do poder de polícia em criar limitações para


as liberdades dos particulares em prol do interesse da coletividade.

9.2.2. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA E INDENIZAÇÃO

A limitação administrativa por si só não geral o dever de indenizar, em razão de sua


característica de gratuidade, generalidade para proteger os interesses da coletividade.

9.3. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA


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A servidão administrativa, segundo Hely Lopes Meirelles é um ônus real de uso


imposto pela Administração à propriedade particular com a finalidade de garantir a
realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública, ou seja,
pode-se afirmar que é um direito real instituído sobre coisa alheia.

Diferente do que acontece com as limitações administrativas, pois a servidão é uma


restrição imposta à propriedade particular de forma específica e para determinado imóvel,
impondo normalmente um dever de suportar que se faça algo; enquanto a limitação
administrativa é imposta de forma genérica (não diz quem é o destinatário específico) e
normalmente impõe uma obrigação de não fazer.

9.3.2. INSTITUIÇÃO DA SERVIDÃO

A servidão administrativa pode ser constituída de três maneiras diferentes. A servidão


administrativa pode decorrer de lei, de ato administrativo (com acordo/consenso entre as
partes, também chamado de acordo administrativo) ou de sentença judicial. O registro
não é obrigatório para a servidão decorrente de lei, porque a lei já dá publicidade
suficiente sobre a servidão. Nas demais hipóteses, deve-se registrar a servidão.

Vale lembrar que Hely Lopes Meirelles defende que a servidão administrativa, como
todo ônus real só se efetiva com registro competente para reconhecimento erga omnes,
atendendo assim ao disposto no artigo 167, inciso I, item 6 da Lei de Registros Públicos
(Lei 6.015/73).

9.3.3. Objetivo da Servidão

A servidão administrativa tem como objetivo a realização e a conservação de obras e


serviços públicos (conforme Hely Lopes Meirelles).

9.3.4. Características Gerais

A servidão, de forma diversa como ocorre com a limitação administrativa, incide


sobre imóveis determinados (particulares), para que suportem uma serventia pública, mas
sem que a administração pública retire a propriedade do particular (diferente do que
ocorre com a desapropriação).

9.3.5. Dever de Indenizar

A servidão por si só não ensejará o dever de indenizar. Contudo, se o imóvel sobre o


qual recai o direito real de suportar que se faça sofrer algum dano ou prejuízo, a
administração necessariamente deverá indenizar pelos danos causados.

OBS: A jurisprudência reconhece que ocorre desapropriação indireta em caso de


instituição de servidão administrativa para passagem de torre/fio de alta tensão, devendo
ser indenizado o proprietário, embora a administração atue como se fosse servidão
(pretendo evitar dever de indenizar).

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9.4. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA

Está prevista no artigo 5º, inciso XXV da CF/88 e consiste numa forma de
intervenção do Estado na propriedade para que se autorize o uso da mesma os casos de
iminente perigo público.

Art. 5º (...)
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar
de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;
(...)

A requisição não depende de prévia anuência do Poder Judiciário para ser efetuada
pois consiste em um ato de império da Administração Pública (ato discricionário)
considerando que compete à autoridade competente analisar quando se configura o
perigo público e iminente. Porém, o ato é vinculado com relação à competência para
praticar o ato, quando a lei prevê quem é a autoridade competente.

A requisição pode recair sobre bens móveis, imóveis e serviços. Afirma Hely Lopes
Meirelles que quando a requisição recair sobre bens móveis e fungíveis a requisição será
similar à desapropriação, mas ainda será instituto da requisição porque, diferente do que
ocorre com a desapropriação que existe justa e prévia indenização na requisição
administrativa a indenização será posterior.

Pode ocorrer tanto em tempo de paz como em tempo de guerra, desde que presente
o requisito do iminente perigo para determinar a requisição do bem ou serviço.

9.4.1. PRAZO DE DURAÇÃO DA REQUISIÇÃO

A requisição perdura pelo prazo em que durar a situação de iminente perigo. Finda a
situação que instaurou a requisição administrativa, o Estado deverá devolver o bem.

9.4.2. INDENIZAÇÃO

A indenização será após finda a requisição administrativa e se ocorrerem danos em


virtude da requisição, caso contrário, não incide o dever de indenizar.

9.5. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA

Está prevista no artigo 5º, inciso XXV e consiste, segundo a redação do artigo, em
utilização transitória, remunerada ou gratuita de bens particulares pelo Poder Público para
executar obras, serviços ou atividades públicas ou de interesse público.

Segundo Hely Lopes Meirelles fundamenta-se na necessidade de um local para


depósito de equipamentos e materiais destinados à realização de obras e serviços públicos
na vizinhança da propriedade particular.

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Difere da servidão administrativa porque tem caráter temporário, enquanto a


servidão tem caráter perpétuo.

Difere-se da requisição administrativa porque esta exige o elemento perigo


iminente, por expressa disposição legal.

9.5.1. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA POR CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS


PÚBLICOS

Admite-se que a prerrogativa estatal de declarar a ocupação temporária seja


transferida para concessionárias e empreiteiros, desde que haja a devida autorização da
administração. (posição de Hely Lopes Meirelles).

9.5.2. CARACTERÍSTICAS

A ocupação serve apenas para o uso momentâneo e inofensivo da propriedade


particular, preservando a natureza do bem ocupado, não admitindo que se procedam com
demolições ou alterações prejudiciais na propriedade particular, conforme afirma Hely
Lopes Meirelles.

9.5.3. INDNIZAÇÃO

A ocupação temporária em regra não gera o direito de indenizar, salvo quando


houver dano à propriedade ocupada.

9.6. TOMBAMENTO

Está previsto no Dec. Lei 25/37. Consiste na intervenção na propriedade para fins de
conservação da identidade de um povo. A conservação pode ser do patrimônio histórico,
artístico, cultural ou paisagístico.

Segundo Fernanda Marinella, afeta o caráter absoluto da propriedade, eis que o


proprietário tem o dever de manter determinadas características do bem mas poderá, por
exemplo, continuar a residir no mesmo.

Agora, se da instituição do tombamento houver o impedimento do uso da


propriedade, teremos um caso de desapropriação e não de tombamento (desapropriação
indireta).

Mas se o poder público ao tombar impedir o uso da propriedade estar-se-á diante de


uma desapropriação e não de tombamento (caso de Desapropriação Indireta).

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9.6.3. OBJETO SOBRE O QUAL RECAI O TOMBAMENTO

O tombamento pode recair sobre bem público ou sobre bem privado.

Fernanda Marinella muito bem lembra o posicionamento do STJ e o posicionamento


majoritário da doutrina acerca da possibilidade do Município poder tombar bem da União
nos casos em que exista o interesse local, sem qualquer ordem, de forma diversa como
ocorre da desapropriação que obedece determinada ordem, a qual seja: União pode
desapropriar bem dos Estados e dos Municípios, Estados podem desapropriar bens dos
Municípios e estes, por sua vez, podem apenas desapropriar seus bens.

O tombamento pode recair sobre bens móveis e imóveis.

9.6.4. TOMBAMENTO DEFINITIVO E TOMBAMENTO PROVISÓRIO

O tombamento será provisório enquanto o procedimento administrativo para


tombamento estiver tramitando. Será definitivo quando o procedimento administrativo
estiver findo e resultar em um registro no Livro Tombo. O Decreto Lei 25/37 prevê como
funciona o procedimento.

9.6.5. INDENIZAÇÃO

O tombamento por si só não gera o dever de indenizar, em regra. Contanto, se o


proprietário comprovar prejuízo, poderá incidir o dever de indenizar.

Ademais, se durante o tombamento o Poder Público impor um dever de o


proprietário executar determinada atividade como pintura, consertos no imóvel, deverá
ocorrer indenização em razão da obrigação imposta.

9.7. DESAPROPRIAÇÃO

Segundo Hely Lopes Meirelles, é a transferência compulsória da propriedade


particular (ou pública de entidade de grau inferior para grau superior) para o Poder
Público ou seus delegados, para fins de utilidade ou necessidade pública, ou ainda para
fins de interesse social, desde que haja prévia e justa indenização em dinheiro (ARTIGO
5º, INCISO XXIV CF).

9.7.1. CARACTERÍSTICAS.

É considerada forma originária de aquisição da propriedade.

É um procedimento administrativo, realizado em duas fases. A primeira fase é


denominada de fase declaratória, que consiste na indicação da necessidade ou utilidade
pública, ou do interesse social. A segunda fase é denominada de fase executória,
compreendendo a justa indenização e a consequente transferência do bem expropriado
para o domínio da autoridade expropriante.

A desapropriação necessariamente terá a primeira fase para fins de indicar o bem a


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ser desapropriado e a destinação pública ou o interesse social em favor do qual se realiza


o procedimento de desapropriação, sob pena de recairmos em modalidade de
desapropriação indireta.

9.7.2. MODALIDADES SEGUNDO HELY LOPES MEIRELLES

* NECESSIDADE PÚBLICA – surge quando a administração defronta situações de


emergência, que, para serem resolvidas satisfatoriamente exigem a transferência urgente
de bens de terceiros para seu domínio e uso imediato.

* UTILIDADE PÚBLICA- quando a transferência de bens de terceiros para a


administração é conveniente embora não seja imprescindível.

* PARA FINS DE INTERESSE SOCIAL – ocorre quando as circunstâncias impõem a


distribuição ou condicionamento da propriedade para seu melhor aproveitamento,
utilização ou produtividade em benefício de coletividade ou categorias sociais merecedoras
de amparo específico do Poder Público. Logo, os bens não se destinarão à Administração
mas sim à coletividade ou a certos beneficiários.

9.7.3. FUNDAMENTO DA DESAPROPRIAÇÃO

Muito embora o direito brasileiro proteja o direito de propriedade, há a possibilidade


de efetuar-se a desapropriação nas modalidades já elencadas e para atender
determinadas necessidades ou interesses.

Portanto, é correto afirmar que além de cada modalidade dever obedecer suas regras
específicas, a desapropriação de uma forma geral fundamenta-se na supremacia do
interesse público em detrimento dos interesses particulares, para fins de satisfazer aos
interesses de uma coletividade, os interesses públicos.

9.7.4. DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA:

Pode ser feita via lei ou via decreto e consiste no ato administrativo que identifica o
bem, que define o seu destino e aponta o dispositivo legal (princípio da legalidade) que
autorize a prática do ato, determinando o bem que será compulsoriamente transferido
para o domínio da Administração e o porquê da transferência deste bem.

A declaração expropriatória tem o condão de autorizar as autoridades expropriantes


a penetrarem nos imóveis atingidos, podendo inclusive, requisitar força policial para tanto
caso sejam impedidas. Contudo, este direito NÃO significa IMISSÃO NA POSSE, que só
decorre de ORDEM JUDICIAL.

9.7.5. IMISSÃO NA POSSE

É uma imissão provisória, transfere a posse do bem para o expropriante no início da


lide. É concedida pelo juiz e o poder público tem que fazer depósito prévio e alegar
urgência.

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9.7.6. PECULIARIDADES

*É POSSÍVEL DESAPROPRIAR SUBSOLO E ESPAÇO AÉREO??? Quando o bem puder


resultar prejuízo patrimonial ao proprietário do solo. (DEC. LEI 3364/41).

Não é possível desapropriar: DIREITOS PERSONALÍSSIMOS (VIDA, IMAGEM,


ALIMENTOS).

9.7.7. EFEITOS DA DESAPROPRIAÇÃO

a) submete o bem à força do Estado

b) fixa as condições em que o bem se encontrava

c) o poder público passa a ter direito de entrar no bem (mas durante o processo de
desapropriação, só pode entrar se tiver autorização judicial para tanto, pois o direito
de penetrar no imóvel não se confunde com a posse).

d) começo do prazo de caducidade (necessidade ou utilidade – 5 anos e interesse


social – 2 anos). Conta-se do decreto que determina a desapropriação.

9.7.8. INDENIZAÇÃO DA DESAPROPRIAÇÃO:

Por expressa disposição legal a desapropriação deverá justa prévia e em dinheiros.


Excepcionalmente nos casos sujeitos à reforma agrária e nos casos em que os imóveis não
atendam ao plano diretor é que se admite o pagamento através de títulos da dívida
agrária e da dívida pública.

A indenização é justa quando recompõe inteiramente o patrimônio de quem sofre a


desapropriação, abrangendo:

a) valor do bem com as benfeitorias que nele se encontram,

b) lucros cessantes;

c) danos emergentes;

d) juros moratórios e compensatórios;

e) correção monetária;

f) honorários advocatícios.

Indenização prévia significa o depósito ou pagamento do preço antes de a


autoridade expropriante entrar na posse do imóvel.

Indenização em dinheiro significa que o expropriante deverá pagar o expropriado


em moeda corrente, salvo os casos em que se admitem o pagamento através de títulos da
dívida pública e títulos da dívida agrária.

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9.7.9. RETROCESSÃO

Direito do expropriado de exigir de volta seu bem caso o mesmo não se destine
para o fim ao qual foi desapropriado. A atual doutrina classifica como direito real,
mas forte parcela da doutrina o classifica como direito pessoal de exigir de volta
(posição de Hely Lopes Meirelles, mas o STF entende como direito de natureza real).

9.7.10 DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA

Se a Administração impedir o direito de propriedade, haverá desapropriação, ainda


que camuflada. Quando a Administração fingir outra modalidade, ao desapropriar um
bem, estará pretendendo fugir do dever de indenizar e de procedimento mais rigoroso.
Nesse caso, haverá Desapropriação Indireta.

9.7.11. TREDESTINAÇÃO

Tredestinação é quando ocorre a desapropriação para ser utilizada com uma


finalidade e acaba sendo usada para outro fim. A tredestinação pode ser licita ou ilícita.
Tredestinação é o chamado “desvio da destinação”.

Se houver o desvio do destino, mas a finalidade ainda estiver observada (exemplo,


preservando-se o fim interesse público), a tredestinação é legal e o desvio pode ser
mantido. Exemplo: desapropriou para fins de construção de uma escola pública mas
resolve construir hospital público. O interesse público permanece preservado.

Agora, em havendo a desapropriação e o fim para o qual a mesma foi feita não se
observar a tredestinação é ilícita, podendo a desapropriação ser anulada ou retrocedida.
Exemplo: desapropria para a construção de uma escola pública mas resolve alienar a
propriedade para entidade privada para esta edificar um hospital particular. O interesse
público não está atendido e pode ser promovida a retrocessão ou a anulação da
desapropriação.

10. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO

Significa acompanhar, fiscalizar revisar os atos praticados pela administração. Pode


ser interno, que é aquele realizado pela própria administração ou externo, realizado pelo
Poder Legislativo, Tribunais de Conta ou pelo Poder Judiciário, quando provocado.

10.1. ESPÉCIES DE CONTROLE:

Político: é o chamado controle trabalhado na teoria de Montesquieu, de repartição dos


poderes, acerca do sistema de pesos e contrapesos das instituições democráticas.
Determina que os poderes são harmônicos e independentes entre si, mas um controla a
atividade do outro.

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Legislativo ou Parlamentar: Surge nas hipóteses de controle realizado através dos


Tribunais de Contas, através da aprovação ou rejeição das contas; na hipótese de
aprovação de leis orçamentárias, nas instaurações de CPI’s, dentre outros.

Executivo: exercido, por exemplo, através dos atos de sanção e veto, nomeação dos
membros do STF, dentre outros.

Poder Judiciário: exercido através das ações judiciais, que podem se dar em face do poder
executivo (através de mandado de segurança, habeas data, etc,), ou através do controle
de constitucionalidade, exercido em face do poder legislativo.

Controle Administrativo: Realizado em decorrência da existência do princípio da


autotutela, ou a requerimento da parte, dentro da própria administração.

10.2. TIPOS DE CONTROLE:

Legalidade – controle verificando a obediência às leis na formalização dos atos praticados


(lei na esfera constitucional e infraconstitucional).

Controle de Políticas Públicas - Discorre acerca da possibilidade do Poder Judiciário rever a


escolha das políticas Públicas. Atualmente, admite-se que o poder judiciário exerça este
controle, desde que seja em face da análise dos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade (que nada mais é do que controle de legalidade da política pública), eis
que não compete ao poder judiciário interferir no mérito administrativo.

10.3. CLASSIFICAÇÃO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO

 CONFORME O ÓRGÃO QUE REALIZA O CONTROLE

PODER LEGISLATIVO - São os mecanismos de controle dos atos da administração


feitos pelo Poder Legislativo. São exemplos: O controle exercido pelo Tribunal de Contas,
que pode controlar tanto a administração pública direta como a indireta, sustação de atos
regulamentares ou normativos que extrapolem sua esfera de competência (exemplo ato
que exerça função legislativa ao invés de apenas regulamentar ou completar a legislação).

PODER JUDICIÁRIO - O judiciário pode controlar os atos da administração nos casos


de ilegalidade, quando houver afronta aos princípios constitucionais (expressos ou
implícitos), nos casos de abuso de poder ou de desvio de finalidade, nas hipóteses de
lacunas existentes e em casos de violação expressa ao texto legal.
Lembrando que o poder judiciário pode fazer controle de legalidade, mas não de
mérito administrativo e que o controle não será de ofício, mas sim mediante provocação
do Poder Judiciário (a situação deve ser levada ao seu conhecimento).
Existem discussões acerca da possibilidade do poder judiciário controlar as políticas
públicas.

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Prevalece o entendimento que deve ser seguido à risca o artigo 196 da Constituição
Federal acerca da responsabilidade solidária dos entes políticos envolvendo saúde, mas
não existe posicionamento dominante se o judiciário pode ou não decidir e controlar as
políticas públicas existe argumentos contrários e a favor do controle por parte do
judiciário.

PODER EXECUTIVO – É o controle realizado pela própria Administração, dos atos,


contratos, licitações e das manifestações de vontade da administração.
Significa o dever de a administração anular os atos ilegais e revogá-los por motivos
de conveniência e oportunidade. É a própria expressão do princípio da autotutela, a teor
do que rezam as súmulas 346 e 473, ambas do STF.
Pode ser feito de ofício ou mediante provocação, nas modalidades de pedido de
reconsideração, representação, direito de petição, recurso administrativo, reclamação
administrativa, revisão, dentre outros.

10.4. QUANTO À EXTENSÃO (vide artigo 31 da CF/88):

 Controle Interno: ocorre dentro da própria estrutura administrativa


 Controle Externo: São os realizados fora da estrutura administrativa, pelo Poder
Legislativo, pelo poder Judiciário, controladorias, etc.
 Controle externo popular: realizado através das contas municipais à disposição da
comunidade, consultas públicas, leis que são colocadas para consulta popular.
(exemplo: artigo 41, §1º da CF/88).

10.5. QUANTO À NATUREZA DO CONTROLE

LEGALIDADE: Realizado através da anulação do ato (porque o ato é ilegal). Pode ser
feito tanto pela administração pública como pelo poder judiciário (quando provocado para
tanto). Possui o limite temporal de 5 anos quando produz efeitos favoráveis (prazo
quinquenal).

MÉRITO: É o controle exercito para fins de controle dos critérios de conveniência e


oportunidade. Se expressa quando é feita a revogação do ato considerado inoportuno ou
inconveniente.
Não possui prazo como ocorre com o controle de legalidade, contudo, deve obedecer
aos limites materiais (aqueles estudados nos atos administrativos).
Quando o ato for vinculado, não poderá incidir a revogação do ato, porque se trata
de ato que segue as determinações legais, onde não existe margem de liberdade para o
administrador agir.

10.6. QUANTO AO MOMENTO DO CONTROLE

PRÉVIO – antes da prática do ato.


CONCOMITANTE – realizado durante a prática do ato.
SUPERVENIENTE – Realizado após a conclusão do ato.

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10.7. CONTROLE FINALÍSTICO:

Quando são criados os entes da administração pública indireta, há que se atentar a


inexistência de hierarquia entre estes e os órgãos da administração pública direta.
Contudo, conforme estudado acerca dos institutos aplicados aos entes criados através do
fenômeno da descentralização, há que se atentar a possibilidade de fiscalização da
administração pública direta sobre as atividades realizadas pela administração pública
direta. Assim sendo, admite-se o chamado controle de finalidade, se o ente
descentralizado está obedecendo e adstrito à consecução das atividades e fins para os
quais foi criado. Este é o denominado controle finalístico.

10.8 CONTROLE INTERNA CORPORIS

É o controle incumbido no âmbito interno na consecução das atividades do poder


Legislativo e Judiciário. O controle que ambos os poderes exercem, mas dentro dos atos
administrativos que praticam nas suas organizações internas. Exemplo: controle do
regimento interno.

11. BENS PÚBLICOS: REGIME JURÍDICO

Conforme define Hely Lopes Meirelles são todas as coisas corpóreas ou incorpóreas,
imóveis, móveis ou semoventes, créditos, direitos e ações que pertençam a qualquer
título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais.
No nosso sistema administrativo os bens públicos podem ser federais, estaduais ou
municipais, conforme a entidade política a que pertençam ou o serviço autárquico
fundacional ou paraestatal a que se vinculem.

11.1. DESTINAÇÃO:

Podem destinar-se à:

a) bens de uso comum do povo – são os bens que todos podem usar, como as ruas e
praças. Bens de uso geral.
b) bens de uso especial – são destinados às instalações e aos serviços públicos, como os
prédios das repartições ou escolas públicas. Os bens nos quais são prestados os
serviços públicos.
c) bens dominiais – são os que pertencem ao acervo do poder público, sem destinação
especial. Exemplo: terras devolutas ou prédios desativados

11.2. CARACTERÍSTICAS:

 INALIENABILIDADE: Não podem ser vendidos. Isso é válido apenas para os bens
de uso comum e de uso especial. Os dominicais podem. Os de uso comum e de uso
especial são inalienáveis, em princípio, mas poderão tornar-se alienáveis se forem
desafetados, ou seja, se for mudada destinação, de modo que passem a ser

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considerados dominicais.. Pode dar-se por lei, por ato administrativo ou por um
fato que torne a destinação inviável.
 IMPENHORABILIDADE: Não se sujeitam à penhora
 IMPRESCRITIBILIDADE: Não podem ser obtidos por um particular através de
usucapião (não se submetem à prescrição aquisitiva).
 NÃO-ONERABILIDADE: Não podem servir de garantia à um credor, nos casos de
hipoteca, penhor e anticrese.

12. LICITAÇÕES

Segundo Hely Lopes Meirelles, é o procedimento administrativo através do qual a


administração pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seus
interesses, através de uma competição, perfectibilizando assim a obediência ao princípio
da impessoalidade.

12.1. PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

Todos os princípios do direito administrativo também servem para a licitação, mas a


lei 8.666/93 elenca princípios específicos aplicáveis ao procedimento licitatório, insculpidos
em seu artigo 3º. São eles:

* Procedimento formal: O procedimento é o que impõe a vinculação da licitação


às prescrições legais que a regem em todos os seus atos e fases. Nesse sentido, se é a lei
que traz essas formalidades, o administrador não pode criar, nem suprimir e nem reuni-las
em outras fases.

O STJ tem inúmeras decisões para contensão das formalidades excessivas ou


formalismos. Nesse sentido, exige-se que a formalidade seja necessária e que proteja o
interesse público sem causar danos. Nesse sentido, só se reconhecerá a nulidade do
procedimento, quando a formalidade causar prejuízo. A formalidade será necessária
quando a sua inobservância causa prejuízo, conforme afirma Fernanda Marinella.

 Publicidade dos seus atos: Segundo Hely Lopes Meirelles, é princípio que
abrange desde os avisos de sua abertura até o conhecimento do edital e seus anexos, o
exame da documentação e das propostas pelos interessados e o fornecimento de
certidões de quaisquer peças, pareceres ou decisões a ela relacionadas.
 Igualdade entre os licitantes: Segundo Hely Lopes Meirelles é o impedimento
de discriminação entre os licitantes quer através de cláusulas no edital ou no convite que
favoreçam uns em detrimento de outros.
 Sigilo de Proposta: Segundo Fernanda Marinella, as propostas são sigilosas até o
momento de sua abertura em sessão pública, para fins de também preservar a igualdade.
Os envelopes são entregues lacrados.
 Exceção:
 A única modalidade em que não há sigilo é o Leilão, porque a proposta é realizada
por meio de lances verbais.

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 Pregão não é exceção, tem lances verbais, mas tem proposta sigilosa anterior.
 O desrespeito ao sigilo configura crime na licitação (fraude ao sigilo das propostas),
conforme estabelece a L. 8.666/93, no art. 89.
 Também significa improbidade administrativa à fraude a esse princípio, punível com
a L. 8.429/92. (quando a lei de improbidade administrativa elenca como ato de
improbidade administrativa os atos atentatórios contra os princípios da
administração pública).
 Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório: Segundo Fernanda
Marinella, o instrumento convocatório, em regra, é o edital. Mas, no convite, é a carta
convite.

Nesse sentido, o edital é a lei da licitação. Assim, tudo que for relevante deve estar
previsto no edital. Não se pode exigir nem mais e nem menos do que previsto no Edital. A
Administração está vinculada ao instrumento convocatório, não podendo acrescentar, nem
dispensar as exigências previstas no edital, sob pena de ilegalidade.

Caso ninguém preencha os requisitos, deve começar novamente (licitação


fracassada).

 Princípio do Julgamento Objetivo: Segundo Hely Lopes Meirelles, é o que se


baseia no critério indicado no edital e nos termos específicos da proposta. Tem como
objetivo afastar o discricionarismo na escolha das propostas, obrigado os julgadores a
aterem-se aos critérios pré-fixados pela Administração.
 Princípio da Competitividade: Segundo Fernanda Marinella, para alguns autores
é finalidade em si do processo licitatório; mas, para outros, é o princípio que favorece a
melhor proposta.
 Princípio da Probidade: é dever de todo o administrador público, e serve como
uma advertência às autoridades que julgam e promovem a licitação, nos mesmos termos
da lei de improbidade administrativa, conforme afirma Hely Lopes Meirelles.
 Adjudicação Compulsória: Segundo Hely Lopes Meirelles, é um princípio que
impede que a administração, findo o processo licitatório, atribua a outra pessoa o objeto
da licitação que não ao seu vencedor.

12.3. MODALIDADES DE LICITAÇÃO

Deve se observar o critério de seleção para definição da modalidade de licitação.

O art. 22 estabelece as modalidades utilizando dois critérios de seleção: (a) valor; (b)
características do objeto.

Quando o critério for o valor, poderá haver as seguintes modalidades: (a)


concorrência; (b) tomada de preços; (c) convite.

A modalidade concorrência, em regra, é escolhida em razão do valor. Mas,


excepcionalmente, poderá ser escolhida em razão das características do seu objeto.

Quando o critério for a qualidade do objeto, as modalidades poderão ser,


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independentemente do valor: (a) leilão; (b) concurso; (c) pregão.

No caso de leilão, em regra, a escolha em razão da qualidade do objeto. Mas,


excepcionalmente, o leilão terá limite de valor.

12.4. QUADRO SINÓTICO SEGUNDO FERNANDA MARINELLA

TIPO DE VALOR OBJETO INTERVALO OBSERVAÇÃO


LICITAÇÃO MÍNIMO
CONCORRÊNCIA Bens e Para Se for do tipo É o procedimento
serviços de aquisição e técnica ou técnica mais formal de todos.
engenharia: alienação de e preço: 45 dias
acima de imóveis; Do tipo preço> 30
1.500.000,00 Para dias corridos
Outros bens: concessão de
acima de uso e de
650.000,00 serviços
públicos;

Para licitação
internacional
TOMADA DE (CONSIDERA O VALOR) Se for do tipo Licitantes devem
PREÇOS Bens e serviços de técnica ou técnica estar cadastrados;
engenharia no valor de 150 e preço: 30 dias Podem concorrer
mil até 1 milhão e 500. Do tipo preço> 15 aqueles que até o 3º
Outros serviços: de 80 a 650 dias corridos dia antes da licitação
mil. preencham os
requisitos do edital
CONVITE (CONSIDERA O VALOR) É de 5 dias úteis. Podem participar:
Para obras e serviços de Para a doutrina, Licitantes cadastrados
engenharia: até R$ 150.000. sábados, domingos ou não, que foram
Para demais obras e e feriados não são convidados;
serviços: até R$ 80.000. dias úteis. Mas, o Licitantes cadastrados
dia de ponto que manifestem seu
facultativo pode ou interesse nas 24
não ser dia útil. horas que antecedem
Para a a licitação;
Administração, será Licitantes não
dia útil aquele em cadastrados mas que
que a repartição se cadastrem até o 3º
esteja dia anterior ao da
efetivamente entrega dos
funcionando. envelopes

LEILÃO CONSIDERA O OBJETO: 15 dias corridos!!! O leilão é realizado


A) Para alienação: pelo Leiloeiro ou
servidor designado
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a) de bem imóvel: quando pela administração


decorrente de decisão (art. 53).
judicial ou de dação em
pagamento (art. 19, L. OBS: Em regra, não
8.666). Nos demais casos há concurso para
será concorrência; leiloeiro, embora
pudesse acontecer.
b) de bem móvel: A Administração
- inservível: é aquele geralmente designa
que não tem mais utilidade um servidor para a
para a Administração. Não função de leiloeiro.
significa sucata. Procedimento
- apreendido: é Segue a praxe
aquele não regularizado, administrativa,
retirado do seu proprietário. resume-se a quem
Ex: leilão da receita federal. paga mais.
- “penhorado” (objeto (Não tem
de penhora): na verdade, procedimento
significa bens empenhados detalhado pela Lei de
(que são aqueles objetos de Licitações)
penhor). Ex: bens de jóias
da Caixa Federal.
A penhora é restrição
judicial para garantia do
juízo. Nesse caso, os bens
são alienados em hasta
pública (não em leilão),
conforme estabelecido no
CPC.

c) qualquer bem
móvel até o limite de R$
650.000,00 (seiscentos e
cinqüenta mil reais - art.17,
§ 6º, L. 8.666/93).

CONCURSO CONSIDERA O OBJETO 45 dias corridos Procedimento :As


Trata-se de escolha de (muito cobrado em regras são previstas
trabalho técnico, artístico ou prova). em regulamento
cientifico dando em próprio. Não estão
contrapartida um prêmio previstos na L.
(ex. ganhará bolsa de 8.666/93.
estudo, viagem, veículo) ou Comissão: Servidor
remuneração (dinheiro). público ou qualquer
Atenção: Concurso Público pessoa idônea que
não é modalidade de tenha conhecimento
Licitação. Concurso Público na área. É chamada
serve para provimento de de Comissão

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cargo. Especial por não


precisar
necessariamente de
servidor, bastando
reputação ilibada e
conhecimento da
matéria (art. 51, §
5º).

PREGÃO CONSIDERA O OBJETO 8 dias úteis!!! *Possui o


O pregão serve para a procedimento
aquisição de bens e serviços invertido com relação
comuns: que são aqueles às demais
que podem ser conceituados modalidades
no Edital com expressão licitatórias;
usual de mercado *Pode ser presencial
(facilmente comprado no ou eletrônico;
mercado). Não significa bem * É a modalidade de
e serviço simples. É aquele licitação para
que não exige qualificação aquisição de bens e
especial. No âmbito federal serviços comuns,
há uma lista do que seria qualquer que seja o
aquisição de bens e serviços valor estimado da
comuns. contratação, em que
a disputa pelo
fornecimento é feito
por meio de
propostas e lances
em sessão pública

12.4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PREGÃO: Regra-se pela Lei 10.520, e naquilo


que tal lei silenciar, aplica-se subsidiariamente a Lei 8.666/93. Há inversão na fase externa
do pregão, de forma diversa aos demais procedimentos licitatórios.

Fase Externa: Na fase externa que o pregão se distingue dos demais processos
licitatórios. A parte que diz respeito à publicação do edital e recebimento dos envelopes é
igual aos demais. A inversão se dá no momento da habilitação e da qualificação, em que
primeiro se procede com a classificação após, realiza-se o julgamento.

Classificação e Julgamento: Há inversão, pois a classificação é realizada antes da


habilitação.

Diferencia-se do procedimento comum apenas quanto ao momento de julgamento, que é


realizado em duas subetapas: (a) proposta escrita; (b) lances verbais.

Após a proposta escrita, realiza-se seleção prévia para apresentação dos lances verbais.
Escolhido o melhor valor, somente esta empresa vencedora passará a fase de habilitação.
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Habilitação: Analisam-se somente os documentos da empresa vencedora, sendo que


somente após a habilitação, abre-se prazo para recurso, que deverá ser apresentado na
hora, embora as suas razões possam ser apresentadas no prazo de 3 dias. Decidido o
recurso do pregão, passa-se a próxima etapa.

Adjudicação: A lei determinou a inversão de procedimento (pois em regra seria a fase de


homologação e depois a adjudicação). No pregão primeiro ocorre a adjudicação (resultado
do procedimento) e após a homologação. Confere-se o resultado oficial, dando-se ao
vencedor este status (este é o chamado ato de adjudicar).

Após a fase da Adjudicação, passa-se para a fase da homologação.

13. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Segundo Hely Lopes Meirelles, é o ajuste que a Administração Pública, agindo nesta
qualidade, firma com o particular ou outra entidade administrativa para a consecução de
objetivos de interesses públicos, nas condições estabelecidas pela própria administração.

13.1. DA EXECUÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Afirma Hely Lopes Meirelles que executar o contrato administrativo é cumprir suas
cláusulas segundo a comum intenção das partes no momento de sua celebração. A
execução não limita-se apenas a realização do objeto do contrato, como também à
perfeição técnica do trabalho, os prazos contratuais, as condições de pagamento

- DIREITOS DAS PARTES: além dos direitos previstos nas próprias cláusulas contratuais,
as partes podem exercer suas prerrogativas sem intervenção do Poder Judiciário, como é
o caso de alteração e rescisão unilateral dos contratos, declaração de equilíbrio financeiro,
reajustamento de preços ou tarifas, não aplicação (em regra) da exceção do contrato não
cumprido, controle do contrato e aplicação de penalidades pela administração
(decorrentes das chamadas cláusulas exorbitantes pertencentes aos contratos
administrativos).

-OBRIGAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO: segundo Hely Lopes Meirelles, reduzem-se,


geralmente, ao pagamento do preço ajustado, entrega do local ou obra em condições que
permitam a o contratado a execução do contrato (exemplo, com as desapropriações,
servidões administrativas, ocupações temporárias, interdições de trânsito e atos que só a
administração pública pode praticar).

Por sua vez, os particulares que contratam com a administração se sujeitam à


obrigações previstas no contrato ou, ainda, aquelas exigíveis ainda que não consignadas
no contrato, mas que decorrem dos princípios e normas que regem o direito público, como
por exemplo, sujeição à acréscimos e supressões do contrato, execução pessoal do objeto
do contrato, atendimento de encargos trabalhistas, manutenção de preposto, dentre
outros.

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13.2. DA INEXECUÇÃO DO CONTRATO E DA RESCISÃO

Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, inexecução do contrato é o


descumprimento de suas cláusulas, no todo ou em parte, decorrendo de ação ou omissão,
culposa ou sem culpa de qualquer das partes. Qualquer dessas situações pode ensejar a
responsabilidades para o inadimplente e até mesmo propiciar a rescisão do contrato.

- INEXECUÇÃO CULPOSA: resulta de ação ou omissão da parte, por negligência, imperícia


ou imprudência. Pode advir da não observância dos prazos contratuais (mora) como com
relação ao modo de realização do objeto do ajuste, acarretando na aplicação se sanções à
gravidade da falta cometida, tais como multa, rescisão do contrato com cobrança de
perdas e danos, suspensão provisória e declaração de inidoneidade para contratar com a
administração.

-INEXECUÇÃO SEM CULPA: decorre de atos ou fatos estranhos à conduta das partes, que
retarda ou impede a execução do contrato, e mesmo podendo ter como consequência a
rescisão ou a inadimplência, não haverá responsabilização das partes, pois estão
abarcadas pelas causas justificadoras de inexecução do contrato. São elas:

* TEORIA DA IMPREVISÃO: de acordo com Hely Lopes Meirelles, consiste no


reconhecimento de situações, eventos novos e imprevisíveis pelas partese a elas não
imputáveis.

Conforme afirma Fernanda Marinella, a teoria da imprevisão segue a seguinte


seqüência:

Condições para configurar a Teoria da Imprevisão - (a) Fato Superveniente


/ Novo: exs.: chuva, aumento do dólar, crise no mercado financeiro. (b) Imprevisível /
Imprevisto – situação que não podia prevista (Ex. Confisco do Plano Collor). Se as partes
fossem cuidadosa seria prevista. Situação que pudesse ser prevista não pode fundamentar
a modificação contratual. Ex: Crise financeira – Não era possível prever a crise financeira.
(c)Onerosidade imprevisível para uma das partes.

Se esses pressupostos se somaram, é possível ocorrer a denominada revisão


contratual pela Teoria da Imprevisão.

*FORÇA MAIOR OU CASO FORTUITO, pois criam para o contratato a impossibilidade


intransponível de normal execução do contrato

*FATO PRÍNCIPE: decorre da teoria da imprevisão, que onera substancialmente a


execução do contrato, conforme afirma Hely Lopes Meirelles.

*FATO DA ADMINISTRAÇÃO: Segundo Fernanda Marinella, consiste na atuação


específica do Poder Público, que atinge diretamente o contrato. Agora, tem-se um
impedimento do objeto do contrato. Ex. construção de um viaduto: é necessário
desapropriar determinada área, mas a administração nega, então terá que deslocar o
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viaduto para outra área, ou seja, atinge diretamente o objeto que é o viaduto. Negativa
de desapropriação em construção de obra é “fato da administração”.

13.3. RESCISÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO:

Ensina Hely Lopes Meirelles que a rescisão consiste no desfazimento do contrato


durante a sua execução por inadimplência de uma das partes, pela superveniência de
eventos que impeçam ou tornem inconveniente o prosseguimento do ajuste ou pela
ocorrência de fatos que acarretem seu rompimento de pleno direito.

13.4. MODALIDADES DE RESCISÃO:

- RESCISÃO ADMINISTRATIVA - por ato unilateral da Administração, nas hipóteses de


inadimplência do contrato ou por motivos de interesse público.

No caso de rescisão por motivos de interesse público, pode haver ou não culpa do
contratado, e pode, inclusive, gerar direito de o contratado contestar em juízo, buscando a
proteção dos seus direitos, discutir a rescisão administrativa.

No caso de inadimplência do contrato, a parte inadimplente contratada deverá indenizar a


administração.

-RESCISÃO AMIGÁVEL- Decorre de acordo pactuado entre as partes e não gera direito à
indenização.

-RESCISÃO JUDICIAL- é solicitada pela parte contratada que deseja rescindir o contrato
com a administração e o faz através de solicitação em juízo, portanto, depende de
decretação pelo poder judiciário. Poderá ter como consequência indenização, conforme
sentença proferida pela autoridade judiciária.

-RESCISÃO DE PLENO DIREITO: é a que ocorre independente de manifestação de


vontade das partes. Decorre da existência de fato extintivo do contrato, como por
exemplo, falecimento do contratado, falência da empresa contratada, perecimento do
objeto, dentre outros.

14. SERVIÇOS PÚBLICOS:

Segundo Fernanda Marinella, é a atividade exercida pelo poder público direta ou


indiretamente, para realizar o que entende estar de acordo com os seus fins e suas
atribuições. Logo, é a prática destinada à satisfação de uma necessidade coletiva fruível
(utilizado) singularmente, de obrigação do Estado, podendo sua prestação ser realizada de
forma direta ou indireta (via descentralização), por meio de regime público (total ou
parcialmente público – por meio de concessionária ou permissionária).

Os serviços públicos podem ser delegados a entidades públicas ou privadas, nas


formas de concessão, permissão ou autorização.

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14.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS SEGUNDO FERNANDA MARINELLA EM ANÁLISE


À LEI 8.987/90 – Art. 6º, §1º Lei 8987-95:

* Princípio da Continuidade: O princípio da continuidade tem aplicação direta para os


serviços públicos. O serviço público deve ser continuo.

Princípio da Generalidade: O serviço público deve ser prestado de forma coletiva (erga
omnes), a todos que estiverem na mesma situação. Ex: serviço de ensino, de saúde, etc.

Princípio da Segurança: O serviço público não pode colocar em risco a vida dos
administrados, devendo ser prestado de forma segura.

Princípio da Modicidade: O serviço público deve ser prestado com tarifas módicas (o
mais barato possível).

Princípio da Técnica ou da Atualidade: O serviço público deve ser prestado de acordo


às técnicas mais modernas.

Princípio da Cortesia: O serviço público deve ser prestado com urbanidade e cortesia.

Princípio da Eficiência: O art. 6º já falava em eficiência antes mesmo da EC 19,


considerando que a Emenda Constitucional é de 1995 e a Lei é de 1990.

Princípio da Regularidade - diz respeito a manutenção da qualidade do serviço público.

14.2. DISTRIBUIÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS – COMPETÊNCIA DOS


SERVIÇOS:

Segundo ensina a lição de Fernanda Marinella, a CF/88 estabelece competências para


a prestação dos serviços públicos. Mas, há serviços não enumerados na CF/88. Estes
devem seguir a regra de competência de acordo com a órbita de interesse. Se for
interesse geral, a competência será da União. Se for de interesse regional, será do Estado.
Se for de interesse local, a competência será do município. Ex: serviço funerário não está
previsto na CF/88, motivo pelo qual é de competência do município, tendo em vista seu
interesse local.

*SERVIÇOS EXCLUSIVOS: Quando só o estado pode prestá-los. Na atualidade,


acerca do serviço postal, discute-se sobre a exclusividade do mesmo.

*SERVIÇOS COM OBRIGATORIEDADE DE TRANSFERÊNCIA: Quando o Estado


tem o dever de transferir a execução destes serviços para fins de evitar o monopólio.
Exemplo: Serviço de rádio-fusão.

* SERVIÇOS QUE SÃO TANTO DE TITULARIDADE DO ESTADO COMO DO


PARTICULAR: São os casos em que a titularidade é do Estado e também do particular.
Em se tratando de descentralização, existe tão somente a transferência da execução do
serviço, mas não a titularidade. Contudo, isso não significa que não existe a transferência

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de titularidade.

Esta ocorre porque a Constituição Federal não veda, inclusive, evidenciando casos
em que se transfere tanto a execução do serviço como da titularidade, como é o caso da
existência de instituições de ensino particulares (sendo que educação é serviço que
incumbe ao estado por força da constituição). Tanto se justifica que atos de diretores de
instituições de ensino particulares podem ser questionados mediante impetração de
mandado de segurança.

Neste caso, este serviço prestado pela instituição particular se deve porque Estado e
Particular são titulares e podem executar o serviço, sem que haja vínculo entre eles. Mas
pode haver fiscalização.

* SERVIÇOS QUE O DEVER DE PROMOÇÃO É DO ESTADO MAS A


TRANSFERÊNCIA É FACULTATIVA: Nesse caso, a transferência é facultativa, embora o
Estado tenha o dever de prestar o serviço. Nesse caso, observam-se os institutos de
delegação contratual: concessão, permissão e autorização.

14.3. CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS:

*Próprios – serviços inerentes à soberania do Estado e que não podem ser repassados,
delegados ou transferidos ao particular. Exemplo: Polícia judiciária, defesa nacional.

* Impróprio ou de utilidade pública - É aquele que admite delegação. São os


chamados úteis ou convenientes - exemplo: transporte coletivo, energia elétrica.

* Uti universi ou gerais - são aqueles prestados à sociedade em geral, de modo


indivisível, que não se pode calcular. Exemplo: defesa do território.

*Uti singuli ou individualizáveis – são serviços que também são prestados a todos,
contudo, existe a possibilidade de identificação dos beneficiários, é divisível. Exemplo:
serviço de telefone, água, energia.

SUBDIVISÃO DO SERVIÇO UTI SINGULI:

O serviço UTI singuli subdivide-se em:

Compulsório (aquele que é cobrado por estar simplesmente à disposição do


indivíduo, sendo cobrado mediante TAXA. Ex. saneamento básico)

Facultativo, que é aquele que é cobrado SOMENTE quando efetivamente utilizado


pelo administrado. É o normalmente utilizado pelas concessionárias e permissionárias. É
cobrado mediante TARIFA. Ex.: Tarifa de pedágio, de transporte público.

Alguns doutrinadores ainda trazem os chamados serviços adequados, ou seja,


executados de acordo com os princípios aplicáveis aos serviços públicos;

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14.4. DELEGAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO E SUAS MODALIDADES CONFORME A


DOUTRINA DE FERNANDA MARINELLA E HELY LOPES MEIRELLES

Segundo Fernanda Marinella e Hely Lopes Meirelles, é a transferência de tão somente


da execução do serviço. A delegação de serviço pode ser legal (por lei) ou contratual (por
contrato ou por ato administrativo). Pode ser: concessão, autorização ou permissão de
serviço público.

Quando é por lei, é através da instituição da Adm. Pública Indireta. Quando é por
contrato, se dá mediante concessão, permissão de serviço público.

* CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO: Regula-se pela Lei 8.987/95. O poder público


delega a prestação dos mesmos a entidades públicas ou privadas, que os executam por
sua conta e risco, com remuneração paga em regra pelo usuário. Transfere-se tão
somente a execução do serviço (a titularidade permanece com a Administração).

*Só pode ser dada a pessoa jurídica ou consórcio de empresas, mediante concorrência
(logo, depende de licitação);

*A concessionária pode proceder com as desapropriações necessárias, mediante outorga


de poderes da entidade concedente;

* Os serviços devem ser adequados (conformidade com os princípios do serviço público);

*O poder concedente pode FISCALIZAR os serviços, bem como intervir na concessão, se


necessário;

* Sua formalização se dá mediante contrato administrativo;

* RESPONSABILIDADE CIVIL DA CONCESSIONÁRIA:

A empresa concessionária assume o serviço por sua conta e risco. Nesse sentido, se
a concessionária causar prejuízo a alguém, terá o dever de indenizar o particular. O
Estado é mero fiscalizador.

Assim, a responsabilidade é da concessionária em face de danos ao usuário. O


Estado poderá ser chamado a responder quando a empresa concessionária não tiver
condições de responder pelos danos. Logo, a responsabilidade do Estado é subsidiaria.

Aplica-se o art. 37, § 6º, da CF/88 às prestadoras de serviço público. Logo, adota-se,
em regra, a Teoria da Responsabilidade Objetiva às concessionárias de serviço público.

Hoje a matéria foi decida em sede de repercussão geral, estabelecendo


responsabilidade objetiva independentemente de ser usuário ou não de serviço público.

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EXTINÇÃO DA CONCESSÃO:

*Extinção por advento do termo contratual: Significa o prazo final do contrato.

Extinção Amigável ou Rescisão Consensual: Quando ambas as partes desejam.

*Extinção por Rescisão Judicial: Se o contratado não quer mais, deve buscar a
extinção pela via judicial.

* Extinção Por Rescisão Administrativa- É a extinção por ato unilateral da


administração, admitida nos seguintes casos (art. 36 e seguintes, L. 8.987):

(a) Encampação: é a extinção por razões de interesse público. Depende de


autorização legislativa. Nesse caso, a administração terá o dever de indenizar a empresa
concessionária.

(b) Caducidade: é a extinção por descumprimento de cláusula contratual


pelo contratado. Nesse caso, a Administração não tem o dever de indenizar. O
contratado terá o dever de indenizar.

CUIDADO: Não se assemelha a caducidade dos atos administrativos!!!

Extinção por Anulação:Se houver ilegalidade, o contrato será extinto por anulação.

Extinção de Pleno Direito: A lei não usa essa expressão. Acontece por circunstâncias
estranhas a vontade das partes. Ex: incapacidade civil (extinção por incapacidade).

*PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO: É muito semelhante à concessão, apenas com


algumas nuanças diferenciais. É que a permissão tem caráter mais precário que a
concessão. É uma delegação da administração para uma pessoa FÍSICA ou JURÍDICA.
Previsão Legal – art. 2º e 40 da Lei 8987/95. A concessão tem caráter mais estável.

*é realizada mediante contrato administrativo, mas admite qualquer modalidade de


licitação.

*Não depende de autorização legislativa específica;

* Embora o artigo 40 da Lei de concessões diga que a permissão se perfectibiliza


mediante contrato, alguns doutrinadores entendem que ela é ato unilateral, e por isso,
teria prazo indeterminado e poderia ser retomada a qualquer tempo SEM direito à
indenização.

Contudo, há doutrinadores que entendem que a permissão, mesmo sendo precária,


sendo celebrada mediante contrato, poderia ser retomada a qualquer tempo por razões de
interesse público desde que haja indenização.

Para fins de prova - A doutrina majoritária e a jurisprudência, entendem que a


característica da precariedade fica mitigada frente ao contrato (que outorga direito a

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indenização nesses casos). Nesse sentido, pode a Administração Pública retomar a


qualquer tempo o serviço, mas isso não a dispensa do dever de indenizar.

*AUTORIZAÇÃO DE SERVIÇO

Prevalece que a autorização significa ato unilateral (que é aquele que apenas da
administração), discricionário (conforme a conveniência e oportunidade do interesse
público) e precário (é aquele que pode ser retomado a qualquer tempo e não deve ser
indenizado).

A doutrina tem reconhecido a autorização apenas para serviços pequenos ou de


urgência. Ex: serviço de táxi; serviço de despachante. Não tem lei própria que a
regulamente, aplicando-se a Lei de Concessão naquilo que for semelhante (L. 8987/95).

Autorização de uso é quando um particular é autorizado a utilizar um bem público, de


forma especial, como na autorização de uma rua para realizar uma quermesse. É ato
administrativo, unilateral e discricionário.

A doutrina reconhece que quando a autorização é concedida com prazo determinado,


confere-se certo grau de estabilidade a ela, o que poderá geral direito de indenização caso
a administração resolva revogar a autorização antes de findo o prazo, porque ela perde
seu caráter de precariedade (Segundo Helly Lopes Meirelles). Mas a regra geral é que ela
é DISCRICIONÁRIA E NÃO GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO.

15. PROCESSO ADMINISTRATIVO SEGUNDO A LEI 9.78/1999

Segundo Fernanda Marinella, o processo significa o conjunto de atos (sucessão


formal de atos) que levam a um provimento final. Esse procedimento final nada mais é
que um ato administrativo. A forma de realizar esses atos (conjunto de formalidades para
a sua realização) é o que se chama de procedimento.

15.1. PRINCÍPIOS DO PROCESSOA DMINISTRATIVO

São aplicais os princípios da administração pública em geral, previstos


expressamente no artigo 37 da CF, os princípios implícitos e os próprios do processo,
elencados no artigo 2º da Lei 9.784/99 (Sem exclusão dos princípios há tratados quando
do estudo do Regime Jurídico-Administrativo):

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência.
(....)

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PRINCÍPIOS ELENCADOS POR CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO:

* Princípio da Audiência do Interessado: Trata-se de direito que implica em


contraditório e não se resume a uma só manifestação. Tem amparo constitucional no fato
cidadania ser um dos fundamentos da República (art. 1º, II e no § único do mesmo
artigo), onde se proclama que todo poder emana do povo.

* Acessibilidade aos Elementos do Expediente: A parte deve ser facultado o


exame de toda a documentação constante dos autos. Fundamentos constitucionais: art.
5º, XXXIII (publicidade da atuação da Administração), XXXIV, b, (direito a obtenção de
certidão), LXXII (Habeas Data) e art. 37 (Princípio da Publicidade).

*Princípio da Ampla Instrução Probatória: Não se resume a produzir provas,


mas acompanhar/fiscalizar as produção das provas produzidas pela administração.
Fundamento: art. 5º, LV, da CF.

*Princípio da Motivação: Envolve do fundamento normativo e fundamentação


fática da decisão.
Fundamento constitucional: art. 1º, II (valorização da cidadania) e parágrafo único
(soberania popular), art. 5º, incisos XXXIII (publicidade da atuação da administração),
XXXIV, b, (direito à obtenção de certidão), LXXII (Habeas Data), art. 37 (Princ. da
Publicidade) e art. 93, IX e X, por aplicação analógica dos seus termos.

*Princípio da Revisibilidade: Direito de o administrado recorrer da decisão que


lhe seja desfavorável, independentemente de depósito prévio ou pagamento de caução.
STJ Súmula 373: “é legítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de
recurso administrativo”.
STF SV 21: “é inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamentos prévios de
dinheiros ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”.
Fundamento Constitucional: art. 5º, XXXIV, ‘a’.

*Direito de ser representado e assistido: Podendo inclusive indicar perito, se for


o caso.
Vale lembrar a SV n. 5 do STF: a ausência de advogado em PAD não ofende a
constituição.

*Principio da Lealdade e da Boa-Fé: A administração deverá atuar de forma


sincera durante todo o transcurso do procedimento. Fundamento constitucional: art. 37
(princípio da moralidade).

*Princípio da Verdade Material: A administração busca a verdade substancial;


aquilo que realmente aconteceu. Trata-se de conseqüência do dever administrativo de
realizar o interesse público (Hector Jorge Escola).
Fundamento constitucional implícito no art. 2º, da CF (realizar o interesse público).
Fernanda Marinella afirma que a busca no processo administrativo é pela verdade
real dos fatos.

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*Princípio da Celeridade Processual: Decorre do princípio da eficiência e deverá


levar em consideração a complexidade do caso, além da atuação das partes.
Fundamento constitucional: Art. 5º, LXXVIII da CF.

Princípio da Oficialidade ou Impulso Oficial: Envolve o encargo da


administração de movimentar o processo administrativo.
Mas, nos procedimentos de interesse exclusivo dos administrados a Administração
não tem o dever de prossegui-lo por si própria.

Princípio da Gratuidade do Processo Administrativo: Também ocorrerá em


regra, sendo aplicada nos procedimentos restritivos ou ablativos de direito dos
administrados.
Mas se o objetivo for buscar uma providência ampliativa da esfera jurídica do
interessado, é possível cobrar taxas e emolumentos desde que com modicidade.

Princípio do Informalismo: A administração não poderá ater-se a rigorismos


formais ao considerar as manifestações do administrado. Ex. se alguém entra com recurso
nominando-o erroneamente, a administração deverá mostrar-se flexível para aceitar tal
impropriedade. Caso contrário, o humilde estaria desatendido.
No entanto, tal princípio não se aplica nos processos concorrenciais, pois afetaria a
garantia de igualdade entre os concorrentes.

15.2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA LEI

Aplica-se a administração direta e indireta federal. A lei 9.784/99 será aplicada


quando o ente federado não possuir lei específica de processo administrativo.
E conforme § 1º, do art. 1º da Lei, aplica-se também ao Legislativo e Judiciário em
sua função atípica de administrar:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no


âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
Administração.
§ 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes
Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho de função
administrativa.

15.3. CONTAGEM DOS PRAZOS

Contam-se da seguinte forma: Não inclui-se o dia do começo e computa-se o dia


final. Os prazos só iniciam e só terminam em dia útil.

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15.4. INTIMAÇÃO

A intimação em processo administrativo deverá ocorrer sempre que envolver


imposição de deveres, ônus, sanções, ou restrições ao exercício de direitos e atividades.

Em processo administrativo, na há diferença entre citação e intimação. Tudo é


chamado de intimação ou notificação, que em regra dever ser realizada pessoalmente e
pode ser realizada por todas as formas permitidas em direito: via postal, por telegrama,
na própria repartição, ou qualquer outra forma inequívoca de recebimento, por publicação.

15.5 REVELIA

Ensina Fernanda Marinella que a revelia não tem o efeito da confissão ficta, mas tem
como consequências:
(a) a não intimação dos demais atos do processo;
(b) a nomeação de defensor dativo, com reabertura do prazo para a realização da
defesa: geralmente será designado servidor para fazer o papel de defensor dativo.

15.6.FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

- Instauração do Processo: Ensina Fernanda Marinella que o processo administrativo


pode se iniciar pelos seguintes atos da Administração ou do administrado:

A) Auto de Infração

O processo administrativo se inicia com auto de infração quando há vício ou defeito.

B) Portaria

O processo administrativo disciplinar, entre outros, inicia-se com a Portaria.

C) De Ofício

D) Requerimento do Particular

É a instauração apresentada por interessado. Consubstancia-se ou através de uma


Representação (denúncia de ilegalidade ou abuso de poder) ou através de Reclamação
administrativa (manifestação de discordância do particular em razão de uma decisão ou
conduta administrativa que afeta direito ou interesse do requerente).

- Instrução:

É a fase destinada à produção de provas. Admitem-se todas as provas permitidas em


direito (provas lícitas). Realiza-se a instrução do processo antes da defesa da parte.
A instrução está regrada no artigo 38 da Lei 9.784/99:

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Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão,


juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir
alegações referentes à matéria objeto do processo.
(...)
§ 2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as
provas propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes,
desnecessárias ou protelatórias.

A instrução quando finda, destina-se a auxiliar a autoridade competente a definir a


infração (se existente), para a consequente aplicação da sanção.

- Alegações Finais:

A parte terá direito de defesa. No silêncio da lei especifica, a parte terá prazo de 10
dias para apresentação da sua defesa. Recebida a defesa, a autoridade deve elaborar o
relatório.

Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de manifestar-se no


prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for legalmente fixado.

- Relatório:

No processo administrativo, normalmente, a autoridade instaura o processo e nomeia


Comissão para promover a instrução, receber a defesa e elaborar o relatório.
O trabalho da Comissão, em regra, finda com a elaboração do relatório, antes do
julgamento. Por isso, o relatório tem grande importância, sendo considerado um pré-
julgamento.
Nesse sentido, o relatório não serve apenas para descrever o que ocorreu no
processo, devendo sugerir o resultado do processo. O relatório deve ser conclusivo.

- Decisão:

Consiste no encerramento do trabalho decorrente do processo administrativo. O


relatório em regra vincula a decisão da autoridade julgadora, exceto se o relatório for
contrário à prova produzida nos autos.

- Recurso:

Quando houver irresignação com relação à decisão da autoridade administrativa no


processo, há a possibilidade de recurso para fins de reforma da decisão.
Ensina Fernanda Marinella, em atenção à lei 9.784/99, proferida a decisão, a primeira
providência será o pedido de reconsideração. Esse recurso deve ser endereçado a própria
autoridade julgadora. Haverá uma única peça requerendo: (a) pedido de reconsideração;
(b) caso não seja reconsiderada a decisão, o pedido será convertido em recurso
hierárquico.
A autoridade terá 5 dias para reconsiderar a decisão (art. 56 L. 9784/99), devendo
remeter a peça a autoridade superior, caso não queira reconsiderar a decisão.

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A definição da autoridade superior dependerá da Lei de Organização da


Administração. Como essa definição é de difícil verificação, a lei prevê que, em caso de
interposição de recurso em face de autoridade incompetente, a autoridade incompetente
deverá indicar a autoridade competente e devolverá o prazo para interposição do Recurso
(na prática o recurso é encaminhado a autoridade competente).

A parte tem 10 dias para a interposição de recurso. A autoridade julgadora tem


prazo de 30 dias para proferir decisão do recurso.
O recurso administrativo tramitará no máximo por 3 instâncias administrativas,
conforme afirma o artigo 57 da Lei 9784, salvo se houver lei com previsão diversa desta:

Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias


administrativas, salvo disposição legal diversa.

- REFORMATIO IN PEJUS

Reformatio in pejus significa “a reforma para piorar”. É expressão das situações de


reforma de determinada decisão que acarretam em sanção ou penalidade mais gravosa à
aquela anteriormente imposta.
Em sede de recursos administrativos, admite-se a reformatio in pejus, por força do
artigo 64, parágrafo único da lei 9784/99:

Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar,
anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de
sua competência.

Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder


decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado
para que formule suas alegações antes da decisão.

-EFEITO SUSPENSIVO:

Ensina Fernanda Marinella que, em regra, o processo não aguarda a decisão do


recurso, não tem efeito suspensivo (art. 61). Decorre do atributo de auto-executoriedade
do ato administrativo. Mas, o recurso terá efeito suspensivo nos casos previstos em lei
(ex: recurso em face da habilitação na licitação) ou caso a autoridade defira ou de ofício
conceda quando houver receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação.

Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito
suspensivo.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação
decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior
poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.

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Direito Administrativo INSS

- REVISÃO

Decidido o recurso, poderá haver a revisão, que é o instrumento utilizado para fato
novo. A revisão pode ser interposta a qualquer tempo, desde que surja fato novo capaz
de demonstrar ou a inocência do punido ou a inadequação da sanção aplicada, por
disposição expressa e literal do artigo 65 caput da lei. Ex. sentença penal transitada em
julgada que absolve o servidor por negativa de autoria ou inexistência do fato
A Revisão não permite a reformatio in pejus (diferente do que acontece com o
recurso administrativo, que admite a reformatio in pejus). Assim, a revisão não pode
piorar a situação da parte, por disposição expressa do parágrafo único do artigo 65 da lei
9785/99.

- Anulação e Revogação de Processo Administrativo

Encerrado o processo, observada alguma ilegalidade, permite-se a anulação do


processo. Assim, o processo ilegal é passível de anulação. A anulação pode ser realizada
pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Como a anulação se refere a um novo
ato administrativo, exige-se novo processo administrativo que comprove a ilegalidade com
promoção de contraditório e ampla defesa pelo interessado em decorrência do chamado
princípio da autotutela administrativa.

16. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (Lei 8.429/92)

A improbidade administrativa se ocupa de definir e trabalhar aquela gama de condutas


eivadas de corrupção administrativa, desvirtuamento da função pública e se ocupa com o
estudo das condutas de má gestão dos recursos públicos.

É uma lei que traz a idéia de observância da gestão administrativa pregando a boa fé,
a lealdade, a moralidade e a obediência de princípios éticos do administrador. No caso de
inobservância de tais valores, se justifica a necessidade de punição do autor das condutas
atentatórias visando salvaguardar o interesse público.

As requer de improbidade são inicialmente identificadas no artigo 37, §4º da


Constituição Federal, que possui a seguinte redação:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
(...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos
direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,
sem prejuízo da ação penal cabível.
(...)

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Contudo, também está prevista em outros dispositivos constitucionais, tais como o


art. 14, §9º; art. 15, inciso V e art. 85, inciso V.

Mas a improbidade está essencialmente prevista e tratada especialmente na Lei


8.429/92.

A lei de Improbidade Administrativa é de aplicação à todos os entes da federação, e


prevê sanções de diversas naturezas, podendo ter reflexos na seara administrativa, civil,
eleitoral e processual civil.

16.1. NATUREZA JURÍDICA DO ILÍCITO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA

O STF já consolidou o entendimento que a natureza do ilícito de improbidade


administrativa é civil, muito embora tenha sanções que repercutem em outras esferas.
Portanto, a natureza da ação de improbidade administrativa é essencialmente civil.

16.2. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS ESFERAS

Muito embora seja um ilícito de natureza civil e a ação seja civil, nada obsta que o
mesmo ato de improbidade administrativa configure ilícito penal (crime) e ilícito
administrativo (infração funcional) e, portanto, admita-se o trâmite de ações visando punir
o ato praticado, mas em cada esfera. O trâmite em uma esfera não obsta a análise do ato
em outra.

16.3. COMUNICAÇÃO DAS INSTÂNCIAS CIVIL, ADMINISTRATIVA E PENAL:

Como é possível aplicar sanções de naturezas diversas, é possível a existência de


punição nas três esferas pelo mesmo ilícito, sem que se configure o bis in idem, até
mesmo porque cada um será um processo independente e com sanções de naturezas
diversas.
Mas excepcionalmente admite-se a comunicação entre as demais hipóteses em três
casos:

- quando houver absolvição na esfera penal por prova de inexistência do fato;


- negativa (inexistência) de autoria;
- quando se reconhece uma excludente de ilicitude penal (contudo, este último não
isenta o dever de indenizar civil ou administrativamente).

** A ABSOLVIÇÃO PENAL POR FALTA DE PROVAS OU AUSÊNCIA DE DOLO


OU CULPA NÃO IMPLICA ABSOLVIÇÃO NAS DEMAIS INSTÂNCIAS, FAZ EFEITO
TÃO SOMENTE NA ESFERA PENAL).

Nesse contexto, a absolvição penal por insuficiência de prova ou incompatibilidade do


elemento subjetivo (dolo e culpa) não implica absolvição nas demais instâncias (civil e
administrativa), não havendo comunicação.

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O reconhecimento no processo penal de uma excludente penal não implica


necessariamente absolvição nos demais processos (administrativo e civil), embora gere
coisa julgada (não se admitindo mais discussão sobre a existência da excludente ou não).

16.4. ELEMENTOS QUE COMPÕEM O ATO DE IMPROBIDADE

 SUJEITOS:
No ato: o servidor ou agente é sujeito ativo e o ente federado é sujeito passivo.
Na ação: o ente federado é o sujeito ativo e o servidor sujeito passivo.

SUJEITO ATIVO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE (QUEM AJUÍZA A AÇÃO)

PESSOA JURÍDICA LESADA


MINISTÉRIO PÚBLICO

SUJEITO PASSIVO DO ATO DE IMPROBIDADE (QUEM SOFRE O ATO)

Pessoas da administração pública direta e indireta; Territórios, empresas incorporadas ao


patrimônio público, pessoa jurídica de direito privado de que o Estado haja concorrido ou
concorra para sua criação ou custeio com mais de 50% do patrimônio da receita anual.

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não,
contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
serão punidos na forma desta lei.

 Pessoa jurídica de direito privado (empresa ou entidades) de que o Estado haja


concorrido ou concorra para a sua criação ou custeio do patrimônio ou receita anual
com menos de 50% (art. 1º, § único, L. 8.429/92,), Pessoa jurídica de direito
privado que receba subvenção ou incentivo ou benefício fiscal ou creditício
(ex: empresa que não paga certo tributo por ter se instalado no município; instalação
de empresa em terreno do município):

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de


improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas
para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos
de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se,
nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
contribuição dos cofres públicos.
SUJEITO ATIVO DO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (QUEM PODE
PRATICAR O ATO):

Agente Público: Agente público é todo aquele que exerce função pública, de forma
temporária ou permanente, com ou sem remuneração. Exemplos: Servidor público,

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particulares em colaboração com o poder público, agente político, permissionário e


concessionário, desde que beneficiado por incentivo fiscal, particular em colaboração com
o poder público

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no
artigo anterior.

Terceiro beneficiário da prática do ato: No caso, são os terceiros que induzam,


concorram ou se beneficiam com a prática do ato.
Os terceiros não respondem por todas as sanções da lei de improbidade,
respondendo apenas por sanções civis patrimoniais.

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Herdeiro: O herdeiro poderá ser chamado a responsabilidade da ação de


improbidade, desde que em relação à sanção patrimonial, até o limite da herança (art. 8).

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se


enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor
da herança.

Pessoa jurídica: A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo do ato de improbidade?
Sim, desde que induza ou concorra ou se beneficie com a prática do ato.

16.5. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

A lei 8.429/92 elenca três modalidades que importam em ato de improbidade


administrativa, que são:

 Atos que geram enriquecimento ilícito – Art. 9º (conduta mais grave). O elemento
subjetivo é apenas o doloso;
 Atos que causam prejuízo ao erário – Art. 10º (conduta intermediária). O elemento
subjetivo pode ser culpa ou dolo;
 Atos atentatórios contra os princípios da administração pública – Art. 11º (conduta
menos gravosa). O elemento subjetivo é apenas o doloso.

Há que se atentar ao fato de que se aplicam as sanções decorrentes da lei de


improbidade administrativa independente da efetiva ocorrência do dano ou então pela

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aprovação ou rejeição das contas pelo Tribunal de Contas, a teor do disposto no artigo 21
da própria Lei.

16.6. SANÇÕES DE IMPROBIDADE (art. 12, L. 8.429/92):

Estão dispostas no artigo 12 da referida lei, aplicáveis a cada uma das modalidades
de atos de improbidade praticados. São elas:

PERDIMENTO DOS BENS ACRESCIDOS ILICITAMENTE:


Essa punição se dá com base no disposto do que o agente enriqueceu ilicitamente,
acresceu ilicitamente ao seu patrimônio.

DEVER DE RESSARCIMENTO – ressarcir o prejuízo causado à administração,


mediante condenação que determine a indenização.

PERDA DA FUNÇÃO – Esta medida é aplicável somente a partir do trânsito em


julgado da ação de improbidade.

SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS – Também é medida aplicável somente


com o trânsito em julgado da ação de improbidade, devendo ser fixado via decisão
judicial.

MULTA CIVIL - É calculado com base em cada conduta praticada. Se a conduta foi
enriquecimento ilícito a multa é 3 vezes o valor acrescido. Se a conduta foi prejuízo ao
erário a multa será de duas vezes o valor do dano causado. Por fim se a conduta implicar
em atos atentatórios contra os princípios da administração a multa será de cem vezes o
valor da remuneração percebida pelo agente.

PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO - além de não poder


receber incentivos fiscais.

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na


legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três
vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou


valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa
civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou

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receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que


por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da


função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa
civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a
extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

16.7. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DA IMPROBIDADE

* Representação: diz respeito à comunicação, informação acerca do conhecimento da


prática do ato de improbidade para a autoridade pública. Qualquer pessoa é legitimada
para fazer esta informação. Contudo a instauração se dará pela Adm. Pública, que instaura
processo administrativo e o MP poderá promover a ação de improbidade.

 Comunição ao MP e ao TC: Assim que a autoridade receber a comunicação, deve


informar ao MP e ao TC, para que estes adotem as medidas cabíveis.

16.8. AÇÃO JUDICIAL DE IMPROBIDADE:

Conforme já analisamos, a natureza da ação é civil, e o ato de improbidade deve


ser julgado e processado em ação judicial.

São legitimados para a propositura da ação as pessoas jurídicas lesadas e o


ministério público.
Ressalte-se que o MP tem a obrigatoriedade em participar da ação, se não na
qualidade de parte, ao menos como fiscal da lei. Admite-se o litisconsórcio ativo do MP
com a pessoa jurídica lesada.
O mero ajuizamento da ação de improbidade não implica em afastamento
automático do réu da ação de improbidade, todavia, o afastamento pode ser requerido
judicialmente.
Na ação de improbidade é vedado o acordo, composição e transação, dada a
importância da ação que visa preservar o patrimônio público, e em virtude da
indisponibilidade do interesse público.
É possível a aplicação de medidas cautelares na ação de improbidade, desde que
decretadas por um juiz. São elas:

Cautelar de Afastamento do Servidor Público: No caso de afastamento, o servidor


terá direito a remuneração. O afastamento deverá ser imprescindível à instrução
processual e enquanto necessário à instrução do processo;
Indisponibilidade de Bens: pode ser para a finalidade de evitar que o réu se desfaça
dos bens e em uma possível condenação, frustre a indenização à pessoa jurídica lesada.

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Investigação: É possível a investigação através de bloqueio de contas bancárias.


Admite-se a investigação de contas bancárias, inclusive as existentes no exterior (através
de Tratados Internacionais).
Sequestro de Bens.

17.9. PRESCRIÇÃO

Se o ato de improbidade for praticado por agente que ocupa mandato eletivo, cargo
em comissão ou função de confiança, o prazo será de 5 anos, contados a partir do
término do mandato. – ARTIGO 23, INCISO I DA LEI DE IMPROBIDADE.

Nas demais hipóteses, o prazo de prescrição será o mesmo aplicável para as


infrações puníveis com demissão. Normalmente, o prazo é de 5 anos, contado do
conhecimento do fato. – ARTIGO 23, INCISO II DA LEI DE IMPROBIDADE.

Passado o prazo de prescrição, não ajuizada a ação de improbidade, restará a


hipóteses de ressarcimento. Isso porque, não há prescrição para a reparação civil (art. 37,
§ 5º, CF/88).

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
(...)_
§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas
as respectivas ações de ressarcimento.
(...)

17. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA- DISPOSIÇÕES GERAIS – DOS SERVIDORES


PÚBLICOS – ARTIGO 37 A 41 DA CF/88

Segundo ensina Hely Lopes Meirelles, em sentido amplo, são todos os agentes
públicos que se vinculam à administração pública direta, indireta, sob regime jurídico:
- estatutário;
-administrativo especial;
-celetista;

O nosso objetivo será o estudo dos estatutários, disciplinados nos artigo 37-41 da
CF, também denominados de servidores públicos em sentido estrito, que conforme
conceitua Hely Lopes Meirelles, são os titulares de cargo público efetivo e em comissão,
com regime jurídico estatutário geral ou peculiar, e integrantes da administração pública
direta, das autarquias e das fundações públicas com personalidade de direito público.

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17.1. ACESSIBILIDADE AOS CARGOS:

Está estabelecida no artigo 37, inciso I da CF/88 e afirma que os cargos, empregos
e funções públicas são acessíveis aos brasileiros de uma forma geral, salvo os casos em
que alguns cargos são privativos de brasileiros natos, como é o caso de cargo de oficial
das forças armadas ou de Presidente da República.
Logicamente que os critérios de seleção para os cargos públicos serão feitos
conforme a natureza e complexidade do cargo, mas sem estipular critérios pessoais de
seleção, respeitando assim os princípios da igualdade e da impessoalidade.

17.2.OBRIGATORIEDADE DE CONCURSO:

Ressalvados os cargos em comissão e empregos com essa natureza, concurso


público é o mecanismo/procedimento através do qual se utilizam critérios para selecionar
quem integrará o quadro de servidores da administração pública, conforme descrito no
artigo 37, inciso II da CF/88.
O concurso não tem uma forma específica descrita em lei, mas poderá ser concurso
de provas ou de provas e títulos para selecionar quem melhor apresentar resultados no
desempenho de tais provas.
O concurso público nada mais é do que uma das maiores expressões do princípio
da isonomia e da impessoalidade.

17.3.VALIDADE E PRORROGAÇÃO DO CONCURSO PÚBLICO:

O concurso público possui validade de até dois anos, contados da homologação,


prorrogáveis por igual período por uma única vez, conforme disposto no artigo 37, inciso
III da CF/88. A prorrogação só poderá ocorrer se expressamente estiver prevista no edital
e é critério discricionário da administração.
A jurisprudência admite a revogação do prazo de prorrogação, desde que o prazo
não tenha se iniciado ainda.

Exemplo: Administrador que prorrogue concurso por igual período. Pode revogar a
prorrogação desde que o prazo de prorrogação não tenha iniciado. Se o prazo tiver
iniciado, há direito adquirido à prorrogação.

Após o decurso do prazo de validade do concurso ou do prazo de prorrogação é


INADIMISSÍVEL prorrogar-se novamente.

Ex 2: o administrador não pode prorrogar o concurso após o decurso do tempo de


validade do mesmo, só se prorroga o que existe, mesmo que apenas um dia.

17.4. ASSOCIAÇÃO SINDICAL E GREVE

De acordo com o artigo 37, incisos VI e VII da Constituição Federal, ao servidor

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público civil é garantido o direito de livre associação sindical e o exercício do direito de


greve de acordo com os critérios previstos em lei.

A associação sindical limita-se tão somente ao servidor público CIVIL, o militar não
pode associar-se sindicalmente.

Por sua vez, o direito de greve muito embora já seja um direito do servidor público
civil, os limites do exercício do direito ainda carecem de complementação legislativa neste
sentido. Mas já se manifestou a jurisprudência no sentido de conferir status de ilegalidade
para a greve que acarrete em prejuízo à manutenção mínima dos serviços.

O militar também não pode exercer direito de greve, limita-se este direito ao
servidor público civil, não sendo aplicável esta disposição ao MILITAR, que é regido por
Estatuto próprio e também, pelo fato de que o exercício de greve por parte de militar é
considerado crime militar em espécie, de acordo com o Código Penal Militar.

17.5. RESERVA DE PERCENTUAL DE VAGAS:

Determina a Constituição Federal que sejam reservados percentuais de vagas para


portadores de deficiência, sendo que para estes poderão existir critérios específicos para
admissão nos cargos públicos e, também, os cargos a eles destinados, serão compatíveis
com o desempenho da atividade conforme a deficiência que apresentem.

17.6. AQUISIÇÃO DA ESTABILIDADE:

A estabilidade é um instituto que de garantia constitucional de permanência no


cargo, desde que cumprido o estagio probatório pelo período de 3 anos (3 anos de efetivo
serviço.

Dizer que um servidor é estável significa dizer que só perderá o cargo público em
apenas 3 hipóteses previstas em lei, no artigo 41, §1º, incisos I, II e III, os quais sejam:

-em virtude de sentença judicial transitada em julgado;

-mediante processo administrativo disciplinar em que seja assegurada a ampla defesa e o


contraditório;

-mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei


complementar, e assegurada a ampla defesa.

17.7. SISTEMA REMUNERATÓRIO:

Ensina Fernanda Marinella que desde a EC 19, há duas modalidades de


remuneração:

A) Remuneração ou Vencimentos:

É constituída de duas parcelas: (a) parcela fixa (salário base ou vencimento); (b)

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parcela variável: que é a aquela que depende da condição do servidor (grau de


escolaridade, se exerce trabalho perigoso, etc.).

B) Subsídio

Significa parcela única. É a soma da parcela fixa mais a variável. No latim, significa
ajuda de sobrevivência. As parcelas da “remuneração” são somadas constituindo uma
parcela única chamada “subsídio”. Não subsistem mais as vantagens específicas. É muito
criticada, porque se é parcela única não tem parcela. Criada pela EC 19/98.

 Fixação da Remuneração de Servidor Público:

De acordo com o princípio da legalidade, a remuneração é fixada por lei de iniciativa


do próprio poder envolvido (ex: se Poder Executivo arcará com as despesas do aumento,
será ele o competente para propor lei de aumento, etc).

Excepcionalmente, a remuneração não será fixada por lei, quando a CF/88 fixar
expressamente:

a) Será fixada pelo Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo a


remuneração do presidente e do vice, dos ministros de Estado, senador e de deputado
federal.

b) A Câmara Municipal fixará a remuneração dos vereadores.

*Teto Remuneratório

A) Teto Geral: Ninguém pode ganhar mais do que ministro do STF.

B) Subtetos: I) No âmbito federal, o subteto será o de Ministro do STF. Nesse


sentido, ninguém pode ganhar mais do que Ministro do STF.

II) No âmbito estadual: (a) poder executivo: subteto é a remuneração


do governador (ninguém pode ganhar mais do que governador); (b) poder legislativo:
subteto do deputado estadual (ninguém pode ganhar mais do que deputado estadual); (c)
poder judiciário: subteto do desembargador (ninguém pode ganhar mais do que
desembargador).

O subteto do desembargador também deve ser aplicado aos membros do Ministério


Público (Procurador e Promotor de Justiça), Procuradores de Estado e Defensores
Públicos.

III) No âmbito municipal, o subteto é a remuneração do prefeito


(ninguém pode ganhar mais do que o prefeito).

OBS:A orientação jurisprudência é que servidor recebendo valores acima do teto deve se
cortar até se adequar à esta orientação constitucional acerca da remuneração.

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17.8. ACUMULAÇÃO DE CARGOS:


Nossa Constituição Federal adotou a regra da não acumulação de cargos por
expressa disposição do artigo 37, inciso XVI, salvo as exceções previstas na própria norma
constitucional, as quais sejam:

* Servidor em duas atividades (cargos ou empregos) quando:


a) a soma da remuneração não ultrapassar o teto remuneratório;
b) o horário entre as atividades deve ser compatível;
c) hipóteses:
-duas atividades de professor;
-uma de professor e outra atividade técnica ou científica;
-duas atividades da área da saúde com profissão regulamentada por lei.

17.9. EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO:

Por disposição expressa do artigo 38 da Constituição Federal é permitido o exercício


de mandato eletivo, desde que cumpridas as seguintes regras:
No caso de mandato eletivo federal, estadual e distrital (art. 38), o servidor deverá
se afastar do primeiro para exercício do segundo cargo.
Se o mandato for federal, estadual ou distrital, o servidor deverá receber a nova
remuneração.
Se o mandato for de prefeito, também devera se afastar do primeiro para exercício
do segundo. Neste caso, poderá o servidor optar pela remuneração que lhe for mais
favorável.
Mas, no caso de vereador, poderá o servidor acumular (exercer os dois cargos e
receber por ambos), quando o horário for compatível. Mas, se o horário for incompatível,
o servidor devera se afastar do primeiro para exercício do segundo, podendo optar pela
remuneração que lhe convir.

17.10. APOSENTADORIA DO SERVIDOR

Está disciplinada no artigo 40 da Constituição Federal/88.


- REGIME PRÓPRIO: Adotam este regime os servidores detentores de cargo efetivo e
vitalício. São eles:

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ:

Para ocorrer a aposentadoria nesta modalidade exige-se a existência de invalidez


permanente, porque a temporária só terá o condão de gerar o afastamento.
Em regra, determina o pagamento de proventos proporcionais. Contudo, em se
tratando de moléstia adquirida em serviço, doença grave, doença profissional os
proventos serão integrais por clara disposição do inciso I do artigo 40 da CF/88.

APOSENTADORIA COMPULSÓRIA: Decorre da completude dos 70 anos de idade para


homens e para mulheres. Os proventos serão proporcionais, contudo, se aos 70 anos de
idade o servidor tiver preenchido também os requisitos de contribuição, o servidor
receberá proventos integrais.

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APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA: Para que ocorra, exige primeiramente que o servidor


tenha 10 anos de exercício no serviço público e pelo menos 5 anos de exercício no cargo
em que irá se aposentar. Pode ser:

- Com proventos integrais desde que:


Homem, com 60 anos de idade e 35 de contribuição;
Mulher com 55 anos de idade e 30 anos de contribuição;

- Com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, desde que:


Homem: 65 anos de idade;
Mulher: 60 anos de idade.

APOSENTADORIA ESPECIAL: regulamenta a aposentadoria do professor de ensino


infantil, fundamental e médio (restringe-se a quem exerce a atividade do magistério, mas
não se estende ao professor universitário). Neste caso, pode se aposentar o professor que
preencher os seguintes requisitos:

Homem, 55 anos de idade e 30 de contribuição;


Mulher, 50 anos de idade e 25 de contribuição.

Recebem proventos integrais.

APOSENTADORIA ESPECIAL 2: Portadores de deficiência e quem exerce atividade de


risco à saúde, desde que a atividade seja regulamentada por Lei Complementar poderão
ter requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO – Curso de Direito Administrativo, 26ª


Edição. Malheiros Editores. São Paulo – SP. 2009.

FERNANDA MARINELLA – Direito Administrativo, 7ª Edição. Editora Impetus.


2013.

HELLY LOPES MEIRELLES - Direito Administrativo Brasileiro, 39ª Edição.


Malheiros Editores. São Paulo – SP. 2013.

MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO – Direito Administrativo. 22ª Edição.


Editora Atlas. São Paulo – SP. 2009.

ODETE MEDAUAR – Direito Administrativo Moderno. 14ª Edição. Editora RT –


Revista dos Tribunais. São Paulo – SP. 2010.

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