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PARECER JURÍDICO

Ementa: FUNÇÃO DE CONFIANÇA – VENCIMENTO


– EQUIPARAÇÃO A CARGO EM COMISSÃO –
IMPOSSIBILIDADE – LEGISLAÇÃO PRÓPRIA –
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Requer-se a emissão de Parecer Jurídico sobre a


possibilidade de pagamento de Servidora que ocupa Função de Confiança de
Assessora Contábil nos termos do artigo 1º, §1º, da Lei Municipal nº.
1.669/2005.

É o breve relatório. Passamos a opinar.

1. A Lei Municipal nº. 1.669/2005, em seu artigo 1º, §1º,


assim dispõe, verbis:

“Art. 1º - O Anexo I da Lei nº 1.544/2003 para a


ser o constante da presente Lei.
§ 1º - O servidor titular de cargo efetivo nomeado
para exercer cargo em comissão no Instituto de
Previdência Municipal dos Servidores Públicos do
Município de Viçosa (IPREVI), pode optar:
I - pelo vencimento do cargo em comissão;

1
II - pela continuidade de percepção de vencimento
de seu cargo efetivo, acrescido de vinte por cento
de gratificação.”
2. O dispositivo alhures citado, trazido pela Lei nº.
1.669/2005, que alterou a Lei nº. 1.544/2003, dispõe sobre a remuneração de
servidor efetivo que exerce cargo em comissão, conforme se depreende de sua
leitura.

3. In casu, o questionamento se refere a remuneração de


Servidora efetiva, que ocupa Função de Confiança, criada por lei própria, que
dispõe, dentre outros, sobre a remuneração específica sobre o caso.

4. Destarte, tem-se que não deve ser aplicado o art. 1º, §1º,
da Lei nº. 1.669/2005, em estrita homenagem ao princípio da legalidade,
disposto no art. 37, caput, da Carta Constitucional1.

5. Sobre tal tema, mister trazer à colação os ensinamentos de


renomados juristas, verbis:

“Segundo o princípio da legalidade, a


Administração Pública só pode fazer o que a lei
permite. No âmbito das relações entre
particulares, o princípio aplicável é o da
autonomia da vontade, que lhes permite fazer
tudo o que a lei não proíbe. Essa é a idéia ex´ressa
de forma lapidar por Hely Lopes Meirelles (2003:
86) e corresponde ao que já vinha explícito no
1
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: [...]”

2
artigo 4º da Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão, de 1789: [...]”.
No direito positivo brasileiro, esse postulado, além
de referido no artigo 37, está contido no artigo 5º,
inciso II, da Constituição Federal que, repetindo
preceito de Constituições anteriores, estabelece
que ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei’.
Em decorrência disso, a Administração Pública
não pode, por simples ato administrativo,
conceder direitos de qualquer espécie, criar
obrigações ou impor vedações aos administrados;
para tanto, ela depende de lei. [...]”2

“O princípio da legalidade é certamente a diretriz


básica da conduta dos agentes da Administração.
Significa que toda e qualquer atividade
administrativa deve ser autorizada por lei. Não o
sendo, a atividade é ilícita. [...]
O princípio ‘implica subordinação completa do
administrador à lei. Todos os agentes públicos,
deste o que lhe ocupe a cúspide até o mais
modesto deles, devem ser instrumentos de fiel e
dócil realização das finalidades normativas’. Na
clássica e feliz comparação de HELY LOPES
MEIRELLES, enquanto os indivíduos no campo
privado podem fazer tudo o a lei não veda, o

2
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 59.

3
administrador público só pode atuar onde a lei
autoriza. [...]”3

6. Tem-se, portanto, que a Servidora ora em comento deverá


perceber seus vencimentos nos moldes definidos na legislação própria, na qual
se elenca o vencimento específico para a função de confiança, para a qual foi
nomeada.

Conforme consta do relatório,

Este é o parecer, s.m.j.

Viçosa – MG, 4 de setembro de 2009.

FABRÍCIO SOUZA DUARTE


ADVOGADO – OAB/MG 94.906

NATÁLIA REGINA PONTES


ADVOGADA – OAB/MG 109.712

3
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 17 ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007. p. 17.

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