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A ESSÊNCIA DOS ENSINAMENTOS DE RAMANA MAHARSHI -

MICHAEL JAMES

"Não dormir. Ser como um astro. Arder silencioso e firme na noite escura." - Paulo Borges

Os ensinamentos de Sri Ramana Maharshi são muito simples e, portanto, podem ser expressos em poucas palavras.

É a nossa mente que é muito complexa, daí, algumas vezes, serem necessárias muitas palavras para conseguirmos
desenraizar todas as nossas crenças e ideias complexas, para assim podermos chegar ao nosso centro, o "Eu sou"
(o nosso senso de ser ou de presença).

O "eu" é o centro de todas as nossas experiências, já que o que quer nós experienciemos, é somente experienciado
pelo "eu". O "eu" é também o centro dos ensinamentos de Sri Ramana Maharshi.

Tudo aquilo que experienciamos pode ser ilusório, e tudo aquilo em que acreditamos pode estar errado, portanto, é
bastante útil para nós a nossa hábil capacidade de duvidar, mas a única coisa que nós não podemos duvidar é que
"Eu sou", porque para podermos acreditar ou duvidar de alguma coisa, o "eu" tem de existir.

Embora, seja bastante claro e certo que "Eu sou", não é claro nem certo, saber "o que 'Eu sou'", porque neste exato
momento, nós experienciamos um corpo e uma mente como sendo o nosso próprio "eu", contudo, nós temos boas
razões para duvidarmos se este corpo ou se esta mente (efémeros e transitórios) são realmente o nosso "eu".

Neste momento, nós experienciamos este corpo como sendo "eu", mas durante o estado de sonho experienciamos
outro corpo (criado pela mente subtil) como sendo "eu".

Portanto, durante o estado de sonho experienciamos o "eu", mas não experienciamos o nosso corpo do estado de
vigília. Portanto, este corpo (do estado de vigília) e o "eu" não podem ser idênticos.

Se este corpo existente no estado de vigília fosse "eu" não poderíamos experienciar o "eu" quando não
experienciamos este mesmo corpo (tal como acontece no estado de sonho).

Tanto no estado de vigília como no estado de sonho, nós experienciamos a nossa mente pensante como sendo "eu",
mas durante o estado de sono profundo nós não experienciamos esta mesma mente.

Embora a mente desapareça durante o estado de sono profundo, nós experienciamos a sua ausência (da mente).
Portanto, nós existimos e estamos conscientes da nossa existência mesmo durante o estado de sono profundo, para
podermos experienciar a ausência da mente ou de qualquer outro fenómeno nesse mesmo estado (de sono
profundo).

Embora nós acreditemos geralmente que não estamos conscientes de nada durante o sono profundo, seria muito
mais correto dizer que nós estamos conscientes desse nada (presente no sono profundo).

A diferença existente em "não estarmos conscientes de nada" ou "estarmos conscientes de nada" pode ser ilustrado
pela seguinte analogia:

Se uma pessoa que seja completamente cega e uma pessoa que seja completamente saudável, relativamente à
visão, estiverem numa sala totalmente escura, é lógico e natural que a pessoa cega não conseguirá ver nada, mas
também não poderá conseguir reconhecer que naquela sala não existe luz nenhuma.

A pessoa com a visão completamente normal, também não conseguirá ver nada, no entanto, esta mesma pessoa
conseguirá reconhecer a total ausência de luz naquela sala.

O facto de conseguirmos reconhecer a ausência de qualquer experiência, além de "eu", durante o sono profundo,
indica claramente que nós existimos durante esse mesmo estado de sono profundo, para assim podermos ter
experienciado o vazio, isto é, a ausência de qualquer experiência.

O facto de nós experienciarmos o sono (profundo), também pode ser demonstrado de outras maneiras. Por exemplo,
se nós não experienciássemos o estado de sono profundo, nós estaríamos conscientes somente dos outros dois
estados (estado de vigília e de sonho) e não estaríamos conscientes de nenhuma lacuna existente entre cada um
desses estados (estado de vigília e de sonho).

Mas nós estamos conscientes de que existem lacunas, às quais nós chamamos de sono profundo, no qual não
experienciamos nem o estado de vigília, nem o estado de sonho.

Nós não supomos apenas a existência deste terceiro estado (sono profundo), nós realmente o experienciamos.

E é também por isso que após acordarmos de um sono tranquilo e profundo dizemos: "eu dormi profundamente."

Por que é importante compreender que experienciamos o estado de sono profundo, já que este estado é desprovido
de alteridade ou multiplicidade?

Porque a nossa experiência de sono profundo "ilustra" perfeitamente o facto de que nós experienciarmos o senso de
"eu" mesmo na ausência da própria mente (tal como acontece no estado de sono profundo). Portanto, a mente não
pode ser aquilo que eu realmente sou.

A única experiência que realmente existe em todos estes três estados é o "Eu sou" (senso de ser ou de presença).

"Sou eu que estou a experienciar o estado de vigília, fui eu que experienciei o estado de sonho e também fui eu que
experienciei a ausência de ambos, durante o estado de sono profundo."

Portanto, o "eu" é distinto de tudo que aquilo tenhamos experienciado em qualquer um destes três estados.

Uma vez que tenhamos compreendido isto, deve ser claro para nós que a nossa presente experiência deste senso
de "eu" apresenta-se agora confusa e muito pouco clara porque nós experienciamos neste estado de vigília, este
corpo e esta mente, que são efémeros e transitórios, como sendo "eu".

Apesar de sabermos com toda a certeza que "Eu sou", não sabemos com certeza o que "Eu sou", e assim é
fundamental para nós investigarmos este "eu" para determinarmos com exatidão o que este "eu" realmente é.

Para podermos experienciar o "eu", tal como ele realmente é, nós precisamos isolá-lo de tudo o resto. E a única
maneira de isolarmos o "eu" é focarmos toda a nossa atenção nele, e consequentemente retirarmos a nossa atenção
de tudo o resto (fenómenos exteriores e interiores, já que pensamentos e sentimentos também podem ser
considerados como sendo fenómenos).

Esta prática espiritual é denominada de ātma-vicāra (autoinvestigação ou autoinquirição).

Prática que Sri Ramana Maharshi nos ensinou, como sendo o método mais adequado para experienciarmos o "eu"
tal como ele realmente é. Daí, que Sri Ramana Maharshi também chamou a esta prática "Quem sou eu?"

Esta é a soma e a substância dos ensinamentos de Sri Ramana Maharshi, e é tudo aquilo que precisamos
compreender para começarmos a investigar o que realmente somos.

Contudo, as pessoas abordam este ensinamento a partir de diversos pontos de vista, e cada pessoa tem as suas
próprias crenças e ideias preconcebidas. É por isso que as pessoas perguntam-me uma enorme variedade de
questões, porque este mesmo ensinamento pode ser expresso de diferentes maneiras para servir as necessidades
de cada pessoa.

É por isso que tantas palavras tenham sido escritas e faladas por mim e por outras pessoas sobre os ensinamentos
de Ramana Maharshi. Mas o que quer que seja escrito ou dito sobre os seus ensinamentos (desde que representem
com precisão o que ele realmente ensinou) devemos focar sempre a extrema necessidade de investigar e
experienciar o que o "Eu" realmente é.

Michael James
A AUTOINQUIRIÇÃO
POR MICHAEL JAMES

Pergunta: Como é que começo a praticar a autoinquirição (atma-vichara)? Alguns dizem para observamos os nossos
pensamentos, outros dizem para procurarmos donde eles surgem, outros dizem para procurarmos quem faz isto
tudo. Diga-me, qual destes conselhos devo seguir.

Aquele que questiona, não é ele também a própria mente? Por que é que estando a graça do guru sempre presente
não consigo a realização através de atma-vichara? Esclareça-me sobre a melhor maneira para praticar a
autoinquirição.

Michael James: A autoinquirição consiste em olhar somente para o nosso primordial pensamento, "eu". Este é o
pensamento original, o eu-pensamento (ego). Aquele que pensa todos os restantes pensamentos. Todos os outros
pensamentos são (não-eu), anya (outros que não sejam eu), e jada (inconscientes). Portanto, não podemos conhecer
o nosso verdadeiro Ser (o nosso real Eu) ao olharmos para eles.

Nós estamos constantemente olhando para os nossos pensamentos durante todo o nosso estado de vigília e estado
de sonho, mas ainda não conhecemos o nosso verdadeiro Ser. De facto, a atenção dada aos pensamentos é o
obstáculo que obscurece o conhecimento de Si mesmo, porque só podemos dar atenção aos pensamentos apenas
quando experienciamos a nós mesmos como parte integrante desta mente pensante.

O único pensamento que devemos observar para realmente na busca pelo autoconhecimento é o pensamento
original, "eu". Porque, ao contrário de todos os outros pensamentos, que são inconscientes, este eu-pensamento é
consciente.

É consciente de si próprio e é consciente dos pensamentos que está pensando. Isto é, o eu-pensamento é o sujeito
conhecedor, enquanto todos os outros pensamentos são apenas os objetos conhecidos por ele.

Este eu-pensamento é consciente porque é chit-jada-granthi, o "nó" que liga a consciência àquilo que não é
consciente (o corpo (físico, emocional e mental) [é o nó entre Espírito e a Matéria]). O eu-pensamento é uma mistura
do nosso sempre consciente Ser, o "Eu sou" (nosso senso de Presença, de Existência), do nosso corpo inconsciente,
e dos outros pensamentos que naturalmente surgem quando nos imaginamos como sendo este corpo.

Nesta mistura, "eu sou este corpo", o único elemento verdadeiro é a nossa consciência fundamental e impessoal, "Eu
sou". O outro elemento, "este corpo", é meramente imaginação, criado unicamente pelo nosso pensamento.

Quando não pensamos absolutamente nada, como no estado de sono profundo, este corpo não existe, tal como, o
corpo de sonho não existe quando não estamos a sonhar.

Aquilo que existe em todos os três estados de consciência: vigília, sonho e sono profundo, é a nossa Consciência de
Ser, o senso de "Eu Sou". Somente esta é real. Tudo o resto é apenas uma falsa invenção da nossa mente.

Nós experimentamos o nosso atual corpo do estado de vigília somente neste mesmo estado, e não quando estamos
no estado de sonho ou no estado de sono profundo. Nós experimentamos o nosso corpo de sonho somente no
estado de sonho, e não no estado de vigília ou no estado de sono profundo.

Portanto, estes corpos são meras aparências transitórias. Estes corpos não são reais, eles são apenas pensamentos
que surgem associados à nossa mente pensante.

A raiz de todas as coisas que pensamos ou imaginamos é apenas o nosso eu-pensamento (ego), que é a própria
mente, uma efémera consciência (ou reflexo desta) que se experiencia a ela própria como "eu sou este corpo, eu sou
uma pessoa chamada.."

Portanto, esta falsa experiência de, "eu sou este corpo", é a nossa primeira fantasia, e é por causa dela que a
verdadeira natureza do nosso Ser ou puro "Eu sou" é obscurecida, impelindo-nos também a imaginar todos os outros
pensamentos subsequentes.
Já que a única realidade presente no eu-pensamento é a nossa consciência essencial de Ser, o "Eu sou", se
olharmos atentamente conseguiremos perceber a Realidade subjacente (o substrato) na falsa aparência (o eu-
pensamento). Tal como, quando finalmente conseguirmos perceber a corda (real), já não veremos a imagem da
serpente imaginária que durante o crepúsculo sobrepunha-se à corda, isto é, a falsa aparência que sobrepunha-se à
Realidade subjacente.

Nenhum outro pensamento contém este elemento essencial que é a autoconsciência, o "Eu Sou".

Ao olharmos para qualquer outro pensamento (que não o eu-pensamento) não seremos capazes de reconhecer a
nossa Realidade subjacente. Mesmo que os observemos por muito tempo e atentamente, não adiantará.

Observar esses pensamentos, é como observar as imagens projetadas numa tela de cinema. Observar o nosso eu-
pensamento (na sua pura forma, o "Eu sou"), é como observar a luz que projeta essas imagens, a realidade
subjacente da projeção do filme.

Se estivermos a observar diretamente a luz emanada pelo projetor, veremos tanto o filme em movimento veloz
através da luz, como veremos a brilhante e imutável luz (por dentro e por fora) nesse movimento de imagens.

No princípio, o filme parecerá obscurecer (velar) a luz imutável, mas se continuarmos a observar firmemente essa
luz, ela acabará mesmo por revelar todo o seu brilho.

Similarmente, quando começamos a observar diretamente o centro da nossa consciência presente, o "Eu sou", a sua
claridade parecerá totalmente obscurecida pelo fluxo interminável de pensamentos, mas se continuarmos a focar a
nossa atenção nesse centro de consciência, ele brilhará mais intensamente, e gradualmente dissolverá todas as
sombras produzidas pela interminável passagem de pensamentos.

Finalmente, somente esse centro de consciência brilhará em todo o seu infinito esplendor.

Você pergunta qual a instrução que devemos seguir: 1. devemos observar os nossos pensamentos. 2. observarmos
donde eles surgem. 3. observar quem faz isto tudo.

Eu acima expliquei que atma-vichara (autoinquirição ou autoinvestigação) consiste em observar somente o nosso
primordial eu-pensamento. Portanto, não devemos seguir a instrução daqueles que nos dizem para observarmos os
outros pensamentos.

No entanto, podemos observar donde eles surgem, e também podemos observar aquele, a partir do qual todo o
processo é originado (eu-pensamento). Estas duas últimas instruções apontam essencialmente para a mesma coisa.

Donde os pensamentos surgem? Eles surgem somente a partir de nós próprios, do "eu" que os pensa, e de mais
lado nenhum. Sendo assim observar a origem dos pensamentos, significa observar a nós próprios, o eu-pensamento
(ego). É na sua imaginação e é devido à sua imaginação que todos os pensamentos são formados.

Da mesma maneira, quem é que origina isto tudo? Tudo - cada pensamento, cada palavra é originário deste mesmo
eu-pensamento. Embora, os movimentos pareçam ser feitos pelo nosso corpo, e as palavras pareçam ser faladas
pela nossa voz, tanto o nosso corpo e voz, são somente instrumentos através dos quais a nossa mente age.

Todos os movimentos corporais e palavras originam-se a partir dos nossos pensamentos, e esses mesmos
pensamentos são pensados pelo eu-pensamento, o pensamento original, que é a nossa mente pensante.

Portanto observar quem faz isto tudo, significa observar a nós mesmos, o "eu" que sente, "eu estou a pensar, eu
estou a falar, e eu estou a fazer.

Já que este pensador, falador e fazedor "eu" aparece no estado de vigília e no estado de sonho, mas desaparece no
estado de sono profundo, não pode ser o nosso verdadeiro Eu (Ser). Ele é apenas um impostor que se assume como
se fosse um verdadeiro "eu".

Contudo, ele nem se poderia assumir como sendo um "eu", se não contivesse nele um elemento da nossa verdadeira
Consciência (o verdadeiro Eu ou Ser).
Portanto, se o observarmos atentamente, veremos o nosso verdadeiro Eu (Ser) subjacente, o verdadeiro substrato do
eu-pensamento. É este substrato que o habilita a aparecer como "eu" (pensamento).

Quando você observar atentamente este falso sentimento de "eu", o eu-pensamento, concentrando toda a atenção
nele, veremos para além do corpo, da mente e para além de todas as outras imaginações e associações que criamos
ao redor dele, e desta maneira reconheceremos a pura Consciência que está sempre subjacente, e é o substrato de
tudo.

Tal como, quando olhamos muito atentamente para a imaginária serpente, veremos para além da sua superficial
aparência, reconhecendo assim o seu substrato ou a sua realidade, ou seja, a corda.

O nosso verdadeiro Ser não pensa nem age, ele apenas é. Isto é, a sua verdadeira natureza é apenas ser, e jamais é
tocado por qualquer pensamento ou ação.

O "eu" que pensa e que age é somente uma superficial e transitória aparência. Ele é somente uma ilusão que existe
apenas na sua própria e enganosa imaginação. Mas aquele que na realidade subjaz a este falso eu-pensamento, é o
nosso Ser.

Quando examinamos esta aparência (o eu-pensamento) cuidadosamente, podemos ver tal como ele realmente é - o
livre de pensamentos e de ações, o não-dual Ser.

Você também perguntou se aquele que autoinquire não é ele próprio também a mente. Sim, aquele que faz o
esforço para ver a si mesmo, o irreal eu-pensamento, é apenas a nossa mente.

O nosso verdadeiro Ser se autoconhece perfeitamente, porque a sua natureza é pura e absoluta autoconsciência.
Portanto, não precisa fazer qualquer esforço para praticar atma-vichara (autoinquirição).

Aquele que precisa fazer todo o esforço para se autoconhecer tal como realmente é, é apenas a nossa mente, o falso
e impostor eu-pensamento.

Quando esta mente faz o esforço para saber "quem sou eu?", ao observar-se a ela mesma, ela acabará por
submergir e fundir-se no seu verdadeiro estado, o autoconsciente Ser. Assim, se experienciará como o verdadeiro
Ser, aquilo que sempre foi.

Esta mente surge e torna-se ativa somente enquanto se mantém interessada e atenta aos outros (subsequentes)
pensamentos - a tudo que não seja ela mesma -, mas quando ela se interessa somente por si mesma, ela submerge
e cessa de ser ativa, porque sem o suporte (imaginário) de nada mais que não seja ela própria, esta mente não pode
sobreviver ou parecer existir.

Quando a ilusão de pensar e fazer é superimposto ou sobreposto ao nosso Ser, o nosso Ser aparenta ser este eu-
pensamento, mente ou ego. Assim sendo, a nossa mente, ego ou eu-pensamento depende da sua própria constante
atividade para sustentar a sua aparente existência.

Pensar significa a atividade de atender a algo que aparece, ou seja, àquilo que não somos (a objetos e não ao
sujeito). Esta atividade cessará quando o foco da nossa atenção estiver dirigido a Si mesmo, e então a mente ou eu-
pensamento submergirá no nosso Estado Natural de Ser autoconsciente, e que na realidade sempre foi.

Finalmente, você pergunta: "mesmo que a graça do guru esteja sempre presente, por que não consigo alcançar a
realização praticando atma-vichara?" A graça está sempre e abundantemente disponível no nosso coração, onde ela
brilha claramente como a nossa verdadeira Consciência, "Eu sou", mas para beneficiarmos totalmente dela, devemos
entregarmo-nos totalmente a ela, fazendo com que a nossa atenção torne-se ahamukham (voltando a atenção para
Si mesmo, em vez da atenção estar focada no mundo, nos pensamentos e nos sentimentos), para assim,
submergirmos no seu interior.

Nós podemos manter a nossa atenção fixada em nós mesmos apenas na medida do amor genuíno que temos para
fazê-lo. Enquanto ainda tivermos o desejo de experimentar algo que seja diferente do nosso verdadeiro Ser, os
nossos desejos nos impulsionarão a pensar nessas coisas, e assim sucumbiremos repetidamente a pramāda ou
autonegligência, deslizando do nosso estado natural de autoatenção ou autoconsciência pura.

Seja qual for a qualidade do amor que tenhamos neste momento para afastar os objetos dos nossos desejos e
atendermos apenas ao nosso verdadeiro Eu, o "Eu sou", ele foi semeado no nosso coração somente pela graça do
guru, e uma vez acendida a chama desse amor, a graça continuará a protegê-lo, a nutri-lo e a ajudá-lo a florescer,
assim como um jardineiro protege e nutre uma bela planta que ele próprio semeou.

A graça certamente faz a sua parte, como sempre fez e sempre fará, por isso depende apenas de nós fazermos a
nossa parte, entregando-nos a ela, atendendo exclusivamente a ela e permitindo que ela nos mergulhe na perfeita
clareza da pura autoconsciência, que é a sua verdadeira forma. Quanto mais for preservado o esforço para atender
apenas a si mesmo, mais claramente a luz da graça brilhará no nosso coração como "Eu sou", e mais acesa será a
chama do nosso amor para sermos sempre autoconscientes.

O amor dado à atenção para com o nosso Ser é a verdadeira bhakti - svātma-bhakti ou amor dirigido a si mesmo - e
a sua intensidade é diretamente proporcional à intensidade do nosso vairāgya ou liberdade do desejo de nos
interessarmos a qualquer outra coisa além de nós mesmos. Desejamos atender a outras coisas apenas por causa da
nossa falta de verdadeira viveka, discriminação ou julgamento correto - a capacidade de distinguir entre o real e o
irreal, o eterno e o efémero - e discernir que a verdadeira felicidade existe apenas no nosso verdadeiro Eu e não em
nenhuma efémera aparência, tal como a nossa mente ou os objetos dos seus desejos.

A verdadeira viveka apenas pode surgir a partir da clareza interna da mente e do coração que foi acendida em nós
pela luz da graça, que brilha eternamente dentro de nós como "Eu sou". Portanto, quando focamos a atenção à
nossa essencial Consciência de Ser, "Eu sou", estamos abrindo o nosso coração para a influência da graça,
permitindo que ela brilhe claramente dentro de nós, e desse modo, acenda e nutra a clareza da verdadeira viveka no
nosso coração.

Quando começamos a praticar atma-vichara - autoinquirição, autoinvestigação ou autoatenção - estamos iniciando


um processo que aumentará com um poder cada vez maior, como uma bola de neve rolando por uma colina, porque
quanto mais nos focamos no "Eu sou" mais claramente vamos experienciá-lo, e quanto mais claramente o
experimentarmos, mais brilhantemente a claridade da verdadeira viveka arderá no nosso coração, permitindo-nos
libertar dos nossos desejos e verdadeiramente amarmos ser autoatentos, cada vez mais intensamente, até ao
momento em que finalmente a nossa mente seja engolida para sempre na claridade prístina e absoluta da
Autoconsciência.

Meditação Eu Sou

Meditação no Ser é a tradução para o sânscrito atma-vichara. Significa ―investigar‖ a nossa verdadeira natureza,
para encontrar a resposta para o ―Quem sou eu?‖, pergunta que culmina com o conhecimento íntimo de nosso
verdadeiro Eu, o nosso ser verdadeiro. Nós vemos referências a esta meditação em textos indianos muito antigos,
sendo popularizado pelo sábio indiano do século 20 Ramana Maharshi (1878 a 1950).

O movimento moderno de não-dualidade (ou neo-advaita), que é muito inspirado em seus ensinamentos – bem como
de Nisargadatta Maharaj (1897 ~ 1981) e Papaji – usa fortemente esta técnica e variações. Muitos professores
contemporâneos empregam esta técnica, os mais famosos sendo Mooji, Adyashanti e Eckhart Tolle.

A prática é muito simples, mas também muito subtil, podendo parecer muito abstrato.

Seu senso de ―eu‖ (ou ―ego‖) é o centro de seu universo. Está lá, de alguma forma ou de outra, por trás de todos os
seus pensamentos, emoções, memórias e perceções. No entanto, não está claro sobre o que este ―Eu‖ é – sobre
quem realmente somos, em essência – confundindo-se com o nosso corpo, a nossa mente, nossos papéis, nossos
rótulos.

Com a Meditação no Ser, a pergunta ―Quem sou eu?‖ É questionada dentro de si mesmo. Você deve rejeitar
quaisquer respostas verbais que podem vir, e usar essa questão simplesmente como uma ferramenta para corrigir a
sua atenção na sensação subjetiva de ―Eu‖ ou ―Eu Sou‖. Torne-se um com ele, vá fundo dentro dele. Então, irá
revelar o seu verdadeiro ―Eu‖, o seu verdadeiro Eu como consciência pura, além de toda a limitação. Não é um
exercício intelectual, mas uma questão de trazer a atenção para o elemento central da sua perceção e experiência: o
―Eu‖. Esta não é sua personalidade, mas um puro e subjetivo sentimento de existência – sem imagens ou conceitos
ligados a ele (você). Sempre que surgem pensamentos ou sentimentos, você se pergunta: ―Para quem isso surgiu?‖
Ou ―Quem é consciente de _____ (raiva, medo ou dor)?‖ A resposta será ―Para mim!‖. A partir daí você pergunta
―Quem sou eu?‖, Para trazer a atenção de volta para o sentimento subjetivo de si mesmo, da presença. É pura
existência, sem objeto e consciência sem escolha. É bem complexo mesmo. Mas é simples, entende? Quanto mais
simples, mais complexo.

Outra maneira de explicar esta prática é focar a atenção sobre o teu sentimento de ser, o não-verbal ―Eu Sou‖ que
brilha dentro de você. Mantê-lo puro, sem associação com qualquer coisa que você perceba.

Em todos os outros tipos de meditação, o ―Eu‖ (você) está se concentrando em algum objeto, interno ou externo,
físico ou mental. Neste caso, o ―Eu‖ está se concentrando em si mesmo. A atenção volta-se para a fonte. Não há
nenhuma posição especial para a prática, embora as sugestões gerais sobre postura e ambiente são úteis para
iniciantes.
AUTOINQUIRIÇÃO
(Atma-Vichara)
POR SRI SADHU OM
Ao ouvirem a expressão “Autoinquirição” (atma-vichara), as pessoas geralmente acham que seu significado
é investigar dentro do Eu, ou sobre o Eu.

Mas como fazer isso? Quem é que investiga dentro do Eu, ou quem é que investiga sobre o Eu? O que a
inquirição realmente significa? Essas questões surgem naturalmente, não é mesmo?

Logo que ouvimos os termos “Atma-vichara” ou “Brahma-vichara”, muitos de nós naturalmente consideram
que exista algum tipo de efulgência ou um poder sem forma dentro do nosso corpo e que nós vamos
descobrir o que ele é, onde ele está, e como ele é. Essa ideia não está correta, porque o Eu Real (atman) não
existe como um objeto a ser conhecido por nós que buscamos conhecê-lo! Como o Eu Real brilha como a
verdadeira natureza daquele que tenta conhecê-Lo, a Auto-inquirição não significa investigar dentro de um
objeto de segunda ou terceira pessoa. É a fim de nos fazer compreender isso desde o início que Bhagavan
Ramana chamou a Auto-inquirição de “Quem sou eu?”, assim conduzindo nossa atenção diretamente para a
primeira pessoa. Nesta pergunta “Quem sou eu?”, “Eu sou” denota o Eu Real e “quem” significa a
inquirição.

Quem é que vai investigar dentro Eu Real? Para quem é necessária essa inquirição? É para o Eu Real? Não.
Como o Eu Real é o sempre-atingido, o sempre puro, o sempre-liberto e sempre-abençoado Todo, Ele não
fará nenhuma inquirição, e nem precisa fazê-lo! Tudo bem, então é somente o ego que precisa fazer a
inquirição. Esse ego pode conhecer o Eu Real? Como foi dito nos capítulos anteriores, esse ego é uma falsa
aparência, não tendo existência própria. Ele é um insignificante e ínfimo sentimento de “eu”, que se aquieta
e perde sua forma no sono profundo. Então, pode o Eu Real se tornar um objeto a ser conhecido pelo ego?
Não, o ego não pode conhecer o Eu Real! Assim, quando se percebe que a Auto-inquirição é desnecessária
para o Eu Real, e que o Auto-conhecimento é impossível para o ego, surgem as perguntas: “Qual é, então, o
método prático de fazer a Auto-inquirição? Por que esse termo „Auto-inquirição‟ é encontrado nas
escrituras?” Não devemos examinar essas questões e descobrir? Então vamos fazê-lo.

Existe uma diferença entre o sentido no qual o termo “inquirição” é usado por Sri Bhagavan e o sentido no
qual as escrituras o usam. As escrituras advogam a negação dos cinco revestimentos, que são o corpo, o
prana (as forças vitais e a respiração), a mente, o intelecto e a escuridão da ignorância, como “não Eu, não
Eu” (neti, neti). Mas quem é que os negará, e como? Se for a mente (ou o intelecto), ela pode negar, na
melhor das hipóteses, somente o corpo físico insenciente e o prana, que são os objetos percebidos por ela.
Além desses, como pode a mente negar a si mesma, sua própria forma? E quando ela não pode nem mesmo
negar a si mesma, como pode negar os outros dois revestimentos, o intelecto (vijnanamaya kosa) e a
escuridão da ignorância (anandamaya kosa), que estão além de seu campo de perceção? Durante a prática da
inquirição, portanto, o que mais a mente pode fazer para permanecer como o Eu Real exceto repetir
mentalmente, “Eu não sou este corpo, Eu não sou este prana?”. A partir disso, fica claro que a “inquirição”
não é um processo de uma coisa investigando sobre uma outra coisa. Por essa razão é que a inquirição
“Quem sou eu?” ensinada por Sri Bhagavan deve ser entendida como significando Auto-atenção (isto é, a
atenção voltada somente à primeira pessoa, o sentimento “eu”).

A natureza da mente é sempre voltar-se para outras coisas que não ela própria, isto é, conhecer somente
segunda e terceira pessoas. Dessa forma, se a mente se volta para uma coisa, significa que ela está aderindo
(se apegando) a essa coisa. A atenção em si mesma é apego! Como a mente pensa sobre o corpo e o prana –
embora com a intenção de decidir “isto não sou eu, isto não sou eu” – tal atenção é somente um meio de se
tornar apegada a eles e não pode ser um meio de negá-los!

Isso é o que qualquer verdadeiro aspirante experimenta em sua prática. Então, qual é o segredo oculto nisso?
Como, quer nós saibamos ou não, o Eu Real - que agora é erroneamente considerado por nós como sendo
desconhecido - é verdadeiramente a nossa realidade, a própria natureza de nossa atenção (a atenção do
Supremo Eu) é em si mesma a Graça (anugraha). Isso significa que qualquer coisa para a qual voltamos
nossa atenção, testemunhamos1 , observamos ou olhamos, essa coisa é nutrida e florescerá, sendo abençoada
pela Graça. Embora agora você possa pensar que é uma alma individual, como o poder da atenção do
indivíduo não passa de um reflexo do “poder conhecedor” (chit-shakti) do Eu Real, aquilo sobre o qual ele
cai ou é fixado é nutrido pela Graça e floresce mais e mais!

Portanto, quanto mais o poder da atenção da mente for dirigido aos objetos de segunda e terceira pessoa,
tanto mais a força (kriya-bala) para voltar-se para aqueles objetos, quanto a ignorância – o conhecimento dos
cinco sentidos na forma de pensamentos sobre eles – crescerão, e não diminuirão! Nós já não dissemos que
todos os nossos pensamentos não são nada mais do que atenção voltada para os objetos de segunda e terceira
pessoas?

Consequentemente, quanto mais nos voltarmos para a mente, mais os pensamentos – que são as formas (os
objetos de segunda e terceira pessoa) do mundo –se multiplicarão e serão alimentados.

Isso é realmente um obstáculo. Quanto mais nossa atenção – o olhar da Graça (anugraha-drishti) – voltar-se
para a mente, mais sua natureza dispersiva e seu domínio crescerão. É por isso que é impossível para a
mente negar qualquer coisa pensando2 “Eu não sou isto, Eu não sou isto” (neti, neti). Por outro lado, se
nossa atenção (a atenção do Eu Real) é direcionada somente para nós mesmos, apenas o conhecimento da
nossa existência é nutrido, e como não é dada atenção à mente, ela é privada de sua força, do suporte de
nossa Graça.

“Quando deixados parados sem uso, o ferro e a maldade enferrujam” – de acordo com esse provérbio Tâmil,
como a atenção não está voltada para as sementes de vasanas, cuja natureza é surgir furtiva e maldosamente,
todas elas têm que permanecer quietas, e assim elas secam como sementes privadas de água, e se tornam
fracas demais para germinarem e crescerem sob a forma de plantas -pensamentos.

Então, quando o fogo do Autoconhecimento (jnana) queimar, essas tendências (vasanas)3, como lenha bem
seca, sucumbirá a ele. Essa é a única forma de efetivar a destruição total de todas as tendências
(vasanakshaya).

Se nos dizem “Abandone o leste”, o modo hábil de fazer isso é fazê-lo como se tivesse sido dito, “Vá para o
oeste!” Da mesma maneira, quando nos dizem “Descartem os cinco revestimentos, que não são o Eu Real”,
o modo hábil de descartar o não-Eu é focar nossa atenção em nós mesmos: “O que é este Eu?” ou “Quem
sou eu?”. Pensar “Eu não sou isto, nem isto” (neti, neti), é um método negativo. Sabendo que esse método
negativo é tão inábil quanto dizer “Tome o remédio sem pensar em um macaco”4, Sri Bhagavan nos
mostrou o modo inteligente de tomar o remédio sem pensar em um macaco, nos dando a chave, “Tome o
remédio pensando em um elefante”, isto é, Ele substituiu o antigo método negativo pelo método positivo
“Quem sou eu?”

“...Verdadeiramente, o ego é tudo! Por isso a inquirição „O que ele é?‟


(em outras palavras, „Quem sou eu, este ego?‟)
é a verdadeira desistência (renúncia) de tudo,
Saiba que é assim!”
- Ulladhu Narpadhu (Quarenta Versos sobre a Realidade), verso 28

Verdadeiramente, tudo (isto é, os cinco revestimentos e suas projeções – todos esses mundos) é o ego.
Então, prestar atenção ao sentimento “eu”, perguntando “O que ele é?” ou “Quem é este eu?”, é a única
forma de renunciar, descartar, eliminar, ou negar os cinco revestimentos. Assim Bhagavan Ramana declarou
categoricamente que somente a Autoatenção é a técnica correta de eliminar os cinco revestimentos!

Sendo assim, com que finalidade as escrituras usaram o termo “inquirição” para indicar o método “não isto,
não isto?” (neti-neti). Por acaso pelo método de “não isto, não isto”, nós não podemos formular
intelectualmente (isto é, através de paroksha) o teste dado no quarto parágrafo do capítulo 4 deste livro,
“Uma coisa certamente não é o „eu‟ se é possível para alguém experimentar „eu sou‟ mesmo na ausência
dessa coisa”? Enquanto existir o conhecimento equivocado “Eu sou o corpo” relativo aos cinco
revestimentos ou três corpos anteriormente citados, não será a atenção prestada à primeira pessoa
automaticamente uma atenção dirigida a um revestimento ou a um corpo – uma segunda pessoa? Mas se
usarmos esse teste, poderemos descobrir que todas essas atenções não são a atenção da primeira pessoa
propriamente dita. Portanto, em primeiro lugar é necessário ter uma convicção intelectual que estes
[revestimentos] não são o “eu”, a fim de poder praticar a Auto-atenção sem perder nossa direção. Somente a
discriminação5 através da qual nós adquirimos essa convicção é que tem sido chamada de “inquirição” pelas
escrituras.

Então, o que deve fazer um aspirante após discriminar assim? Como pode a atenção a estes cinco
revestimentos, mesmo com uma intenção de eliminá-los, ser uma atenção voltada para o Eu Real?

Portanto, enquanto se pratica a Auto-inquirição, ao invés de tomar qualquer um dos cinco revestimentos
como o objeto da nossa atenção, devemos fixar nossa atenção somente na consciência-“Eu”, que existe e
brilha como “si-mesmo”, como a única, e como uma testemunha que se mantém à parte destes
revestimentos.

Ao invés de ser direcionado para alguma segunda ou terceira pessoa, não está assim o nosso poder de
atenção, que até aqui era chamado de mente ou intelecto, agora dirigido somente à primeira pessoa? Embora
formalmente nos referimos a ele como “direcionado”, na verdade ele não é da natureza de um “fazer” (kriya-
rupam) na forma de direcionar ou ser direcionado; é da natureza de “ser” ou “existir” (satrupam).

Porque a segunda e a terceira pessoas (incluindo os pensamentos) são estranhos ou externos a nós, nossa
atenção prestada a eles era da natureza de um “fazer” (kriya). Mas essa mesma atenção, quando fixada sobre
o sentimento interior da primeira pessoa, “eu”, perde a natureza de “voltar-se para” e permanece na forma de
“ser”, e portanto ela é da natureza de “não-fazer” (akriya) ou “inação” (nishkriya). Enquanto nosso poder de
atenção estava residindo sobre segundas e terceiras pessoas, ele era chamado “a mente” ou “o intelecto”, e
seu “voltar-se para” era um “fazer” (kriya) ou uma “ação” (karma).

Somente aquilo que é feito pela mente é uma ação. Mas, por outro lado, logo que a atenção é fixada sobre a
primeira pessoa (ou Eu Real), ela perde seus nomes vulgares tais como mente, intelecto ou ego. Além do
mais, esta atenção não é mais uma ação, mas “inação” (akarma) ou o estado de “apenas ser” (summa irutal).

Portanto, a mente que se volta para o Eu Real não é mais a mente; ela é o aspeto consciência do Eu Real
(atma-chit-rupam)! Da mesma forma, enquanto se volta para a segundas e terceiras pessoas (o mundo), ela
não é o aspeto consciência do Eu Real; ela é a mente, a forma refletida da consciência (chit-abhasa-rupam)!
Por isso, como a Auto-atenção não é um fazer (kriya), ela não é uma ação (karma). Isto é, somente o Eu
Real realiza o Eu Real; o ego não o faz!

A mente plenamente madura (pakva-manas) é aquela que conquistou um desejo ardente pela Autoatenção,
que é a Autoinquirição. Como agora ela não está nem um pouco inclinada a voltar-se para alguma segunda
ou terceira pessoa, pode-se dizer que ela alcançou o ápice do desapego (vairagya). Pois todos os tipos de
desejos e apegos não pertencem somente à segunda e à terceira pessoas? Como esta mente, que
compreendeu muito bem que (como já visto em capítulos anteriores) somente a consciência que brilha como
o “Eu” é a fonte da felicidade real e completa, agora busca o Eu Real devido a sua ânsia natural pela
felicidade, esse desejo intenso de voltar-se para o Eu Real é realmente a mais alta forma de devoção
(bhakti).

É exatamente essa Autoatenção da mente, que está assim completamente amadurecida por tamanha devoção
e desapego (bhaktivairagya), que deve ser chamada a inquirição “Quem sou eu?” ensinada por Bhagavan Sri
Ramana! Bem, não irá uma mente assim tão madura, que vem para o caminho de Sri Ramana, concordando
voluntariamente em engajar-se na Autoatenção, realizar o Eu? Não, não, deu início ao seu fim! Concordando
em cometer suicídio, ela coloca seu pescoço (através da Auto-atenção) no cadafalso onde será sacrificada!
Como? Somente enquanto ela estava voltada para a segunda e para a terceira pessoas ela tinha o nome
“mente”. Mas tão logo a Autoatenção é iniciada, seu nome e forma (seu nome como a mente e sua forma
como os pensamentos) são perdidos. Então nós não podemos mais dizer que a Auto-atenção ou a Auto -
inquirição é feita pela mente. Nem é a mente que se volta para o Eu Real, nem é a natural e espontânea
Auto-atenção do aspeto consciência do Eu Real (atma-chitrupam) – que não é a mente – uma atividade!

“Seria então uma mentira nua


se qualquer homem dissesse que ele
Realizou o Eu, mergulhando interiormente
Através da prática da inquirição apropriada.
Não para conhecer [o Eu Real] mas para morrer
É o valor do ego imprestável!
Somente por Arunachala , o Eu Real, que o Eu Real é conhecido!”
– Sri Arunachala Venba, verso 39

O sentimento “eu sou” é a experiência comum a todas as pessoas. Nessa expressão, “sou” é a consciência ou
o conhecimento. Esse conhecimento não é de alguma coisa externa, é o conhecimento de si mesmo. Isto é
chit (a consciência).

Essa consciência é “nós”. “Nós somos verdadeiramente Consciência”, diz Sri Bhagavan no “Upadesa
Undhiyar” (A Essência da Instrução), verso 23. Este é o nosso “ser” (isto é, nossa verdadeira existência) ou
sat. Esse é chamado “Aquilo que é” (ulladhu). Assim, na expressão “eu sou”, “eu” é a existência (sat) e
“sou” é a consciência (chit). Quando o Eu Real, nossa natureza de existência-consciência (satchit-
swarupam), ao invés de brilhar sozinho como a pura consciência “Eu sou”, brilha misturado com um
atributo (upadhi) como “Eu sou um homem, Eu sou Rama,

Eu sou tal e tal, Eu sou isto ou aquilo”, então essa consciência misturada é o ego.

Essa consciência misturada somente pode surgir pelo agarrar-se a um nome e forma. Quando sentimos “Eu
sou um homem, Eu sou Rama, Eu estou sentado, Eu estou deitado”, não fica claro que nós erroneamente
tomamos o corpo como sendo “nós”, e que assumimos seu nome e posturas como “Eu sou isto e Eu sou
assim”? O sentimento “isto e assim” que surgiu agora misturado com a pura consciência “Eu sou” (sat-chit)
é o que é chamado “pensamento”. Esse é o primeiro pensamento.

O sentimento “eu sou um homem, eu sou tal e tal” é somente um pensamento.

Mas a consciência “Eu sou” não é um pensamento; ela é a verdadeira natureza de nosso “ser”. A consciência
misturada “Eu sou isto ou aquilo” é um pensamento que surge a partir de nosso “ser”. É somente depois do
surgimento desse pensamento – a consciência misturada (a primeira pessoa) – que todos os outros
pensamentos, que são o conhecimento de segunda e terceira pessoas, surgem.

“Somente se a primeira pessoa existe, a segunda e a terceira pessoa existirão...” -Ulladu Narpadu (Quarenta
Versos sobre a Realidade), verso 14

Essa consciência misturada, a primeira pessoa, é chamada nosso “surgimento” ou o surgimento do ego. Essa
é a primeira atividade mental (adi-vritti)! Por isso:

“Pensar é uma atividade mental (vritti): ser não é uma atividade mental! - Atma Vichara Patikam (Onze
Versos sobre a Auto-inquirição), verso 1, por Sadhu Om

A pura existência-consciência, “Eu sou”, não é um pensamento; essa consciência é a nossa natureza
(swarupam). “Eu sou um homem” não é nossa pura consciência; é somente nosso pensamento! Assim, antes
de mais nada é essencial para os aspirantes que praticam a inquirição “Quem sou eu?”, compreender a
diferença entre nosso “ser” e nosso “surgir” (isto é, entre a existência e o pensamento).

Bhagavan Sri Ramana aconselhou que a Auto-inquirição fosse feita ou na forma “Quem sou eu?” ou na
forma “De onde sou eu?”. Ouvindo essas duas sentenças interrogativas, muitos aspirantes têm mantido
várias opiniões a seu respeito e ficaram confusos sobre qual delas praticar, e como! Mesmo entre aqueles
que consideram que ambas são a mesma coisa, muitos têm apenas uma compreensão superficial e não
investigaram profundamente como elas são idênticas. Alguns que tentam seguir a primeira, “Quem sou eu?”,
começam simplesmente repetindo como um papagaio, vocalmente ou mentalmente, a expressão “Quem sou
eu? Quem sou eu?” como se ela fosse um mantra-japa. Isso está completamente errado! Repetir “Quem sou
eu?” dessa maneira é tão ruim como meditar sobre, ou repetir (fazer japa de) os Grandes Ditos (mahavakyas)
tais como “Eu sou Brahman” e assim por diante, desse modo prejudicando o verdadeiro objetivo para o qual
eles foram revelados!

O próprio Sri Bhagavan disse repetidamente, “„Quem sou eu?‟ não deve ser repetida mecanicamente”!
Alguns outros, achando que estão seguindo a segunda forma interrogativa, “De onde sou eu?”, tentam se
concentrar no lado direito do peito (onde eles imaginam que se localize algo como um coração espiritual),
esperando uma resposta tal como “Eu sou daqui”! Esse método não é melhor do que o antigo método de
meditar sobre qualquer um dos seis centros yóguicos (shad-chakras) no corpo! Pois, por acaso pensar sobre
qualquer lugar no corpo não é somente uma atenção voltada à segunda pessoa (uma atenção objetiva)? Antes
de começar a explicar a técnica da Auto-inquirição, não é da máxima importância que todos esses conceitos
erróneos sejam removidos? Portanto, vamos ver como eles podem ser removidos.

Em Sânscrito, os termos “atman” e “aham” ambos significam “Eu”. Por isso, “atma-vichara” (a Auto-
inquirição) significa uma atenção buscando “Quem é este eu?”. Ela pode ser melhor chamada de “atenção ao
eu”, “Auto-atenção” ou “permanência no Eu”. A consciência “Eu” assim apontada aqui é o sentimento da
primeira pessoa. Mas, como nós já dissemos, deve ser compreendido que a consciência misturada com
atributos como “Eu sou isto” ou “Eu sou aquilo” é o ego (ahamkara) ou a alma individual (jiva), ao passo
que a consciência pura, vazia de atributos e brilhando sozinha como “Eu-Eu” (ou “Eu sou o que Eu sou”) é o
Eu Real (atman), o Absoluto (Brahman) ou Deus (Iswara). Isso não implica em dizer que a consciência da
primeira pessoa, o “Eu”, pode ser tanto o ego como o Eu Real?

Como geralmente todas as pessoas tomam o sentimento de ego (“Eu sou o corpo”) como sendo o “Eu”, o
ego também recebe o nome “eu” (atman) e é chamado “eu individual” (jivatma) por algumas escrituras
ainda hoje. É só por essa razão que mesmo a atenção ao ego, perguntando “O que é ele?” ou “Quem é ele?”,
é também chamada nas escrituras de “Auto-inquirição” (atma-vichara). Contudo, não está claro que o Eu
Real, a existência-consciência, não precisa fazer qualquer inquirição nem pode estar sujeito a qualquer
inquirição?

Foi apenas com o propósito de corrigir esse defeito que Bhagavan Ramana chamou-a “Quem sou eu?”,
preferindo essa expressão ao invés do antigo termo “Auto-inquirição” (atma-vichara)! O ego, o sentimento
de “eu” geralmente tomado pelas pessoas como sendo a consciência da primeira pessoa, não é a real
consciência da primeira pessoa; apenas o Eu Real é a verdadeira consciência da primeira pessoa. O
sentimento de ego, que é meramente uma sombra dele [do Eu Real], é uma falsa consciência da primeira
pessoa. Quando se investiga dentro desse ego, o que ele é ou quem ele é, ele desaparece porque na verdade
ele é não-existente, e o inquiridor, não tendo nada mais a fazer, se estabelece no Eu Real como Eu Real.

Porque ela surge, brotando do Eu Real, a falsa consciência da primeira pessoa [o ego] mencionada acima
tem que surgir em um lugar e um tempo determinados.

Portanto, a pergunta “De onde sou eu?” significa somente “De onde (de que lugar) o ego surge?”. Um lugar
de surgimento só pode ser para o ego. Mas para o Eu Real, já que Ele não tem surgimento ou
desaparecimento, não pode haver lugar ou momento determinados.

“Quando examinados, apenas nós – a Coisa sempre-conhecida – somos; então onde está o tempo e onde está
o espaço? Se nós somos (pensamos erroneamente ser) o corpo, nós estaremos envolvidos no tempo e no
espaço; mas, nós somos o corpo? Como nós somos o Um, agora, depois e para sempre, esse Um no espaço,
aqui, lá e em todo o lugar6, apenas nós – o Eu Absoluto além do tempo e do espaço – somos!”. - Ulladu
Narpadu (Quarenta Versos sobre a Existência), verso 16 – assim diz Sri Bhagavan. Portanto, investigar “De
onde sou eu?” é o mesmo que investigar “De onde é o ego?”. A questão “De onde sou eu?” será aplicável
somente ao surgimento do ego, que é condicionado pelo tempo e pelo espaço. Sri Bhagavan espera que
compreendamos que o significado do termo “De onde?” ou “De que lugar?” é “Do que?”. Quando tomado
nesse sentido, ao invés de um lugar ou tempo surgindo como uma resposta, apenas a Autoexistência, “nós”,
a Coisa (vastu), é experimentada como a resposta.

Se, por outro lado, nós anteciparmos um lugar como uma resposta à pergunta “De onde?”, um lugar -
condicionado pelo tempo e pelo espaço - será experimentado dentro do corpo “dois dedos a partir do centro
para o lado direito do peito” (como dito no “Ulladu Narpadhu – Anubandham” (Suplemento aos Quarenta
Versos sobre a Existência, verso 18).
Contudo, essa não é a experiência última ou absoluta. Porque Sri Bhagavan afirmou categoricamente que o
Coração (hridayam) é verdadeiramente a Autoconsciência, que é sem tempo, sem espaço, sem nome e sem
forma.

“Aquele que pensa que o Eu Real (ou o Coração) está dentro do corpoinsenciente, enquanto que na verdade
o corpo está dentro do Eu Real,é como aquele que pensa que a tela, que é o suporte das imagens decinema,
está contida dentro das imagens!” - “Ekatma Panchakam” (Cinco versos sobre o Eu Real), verso 3

Encontrar um lugar no corpo como sendo o ponto de surgimento do ego em resposta à questão “De onde?”
não é o objetivo dos ensinamentos de Sri Bhagavan; nem é este o fruto a ser obtido pela prática da Auto-
inquirição. Sri Bhagavan declarou claramente o objetivo de Seus ensinamentos e o fruto a ser ganho pela
busca do local de surgimento do ego como segue:

“Quando buscado dentro „Qual é o lugar de onde ele surge como eu?‟,o „eu‟ (o ego) morrerá! Isso é a Auto-
Inquirição (jnana-vichara).” - Upadesa Undhiyar” (A Essência da Instrução), verso 19
Portanto, o resultado que é visado por essa busca do local de surgimento do ego é a aniquilação deste ego e
não uma experiência de um lugar no corpo. É somente em resposta às pessoas imaturas que – incapazes
mesmo de ter uma compreensão intelectual (paroksha jnana) sobre a natureza do Eu Real, que brilha sozinho
como o Um, a Coisa não-dual, não limitada por (na verdade, absolutamente não conectada com) tempo e
espaço, não limitada mesmo pela forma:

“O Absoluto (Brahman) está em todo lugar, o Absoluto está em todos os tempos, o Absoluto é todas as
coisas” – sempre levantam a questão, “Onde é a sede do Eu Real no corpo?”, que as escrituras e algumas
vezes até mesmo Sri Bhagavan tiveram que dizer: “...dois dedos para a direita (a partir do centro do peito) é
o coração”7. Por isso, esse lugar-coração (hridaya-stanam) não é a Realidade última ou absoluta. O leitor
pode aqui se referir ao “Maharshi‟s Gospel”, Livro II, capítulo IV, “O Coração é o Eu Real” (8a edição
1969, páginas 68 a 72; 9a edição, 1979, páginas 72 a 76).

Assim, voltar-se para si mesmo na forma “De onde sou eu?” é investigar o ego, o “eu-que surge”. Mas,
enquanto investigando “Quem sou eu?”, existem alguns aspirantes que tomam o sentimento “Eu” como
sendo seu “ser” (existência) e não seu “surgimento”! Se feita assim, isso é atenção ao Eu Real. É apenas
para compreender claramente a diferença entre essas duas formas de inquirição, que a diferença entre nosso
“surgir” e nosso “ser” foi explicada anteriormente neste capítulo. Assim como o significado correto do
termo “meditação sobre Brahman” (brahma-dhyanam) usado pelas escrituras até agora é explicado por Sri
Bhagavan nas duas últimas linhas do primeiro verso beneditório do “Ulladu Narpadu (Quarenta Versos)”
como sendo “residir no Coração como Ele é” (quer dizer, permanecer como o Eu Real é a maneira certa de
meditar sobre ele), assim também o significado correto do termo “Autoinquirição” (atma-vichara) é aqui
corretamente explicado como sendo “voltar-se ao Eu Real” (ou prestar atenção ao Eu Real).

Em ambos os tipos de inquirição (“Quem sou eu?” ou “De onde sou eu?”), como a atenção do aspirante está
focada unicamente sobre ele mesmo, nada menos do que o Eu Real (atman) – que é o verdadeiro significado
da palavra “eu” – será finalmente experienciado. Portanto, o resultado final de ambas as investigações, “De
onde sou eu?” e “Quem sou eu?”, é o mesmo! Como? Aquele que busca “De onde sou eu?” está seguindo o
ego, cuja forma é “Eu sou tal e tal”, e enquanto faz assim, o atributo “tal e tal”, não tendo existência real,
morre no caminho, e assim ele permanece estabelecido no Eu Real, o sobrevivente “Eu sou”. Por outro lado,
aquele que busca “Quem sou eu?” mergulha sem esforço em seu verdadeiro “ser” (o Eu Real) natural, que
brilha sempre como “Eu sou o que eu sou”. Portanto, quer seja feita na forma “De onde sou eu?”, ou “Quem
sou eu?”, o que é absolutamente essencial é que a Auto-atenção deve ser perseguida até o derradeiro fim.
Além do mais, não é necessário para os aspirantes sinceros nem nomear de antemão o sentimento “Eu”
como sendo o ego ou como o Eu Real. Por acaso existem duas pessoas no aspirante, o ego e o Eu Real? Se
diz isso porque, como todos nós temos a experiência “Eu sou somente um e não dois”, nós não devemos dar
espaço para um sentimento dual imaginário – um “Eu” buscando um outro “Eu” – ao discriminar o ego e o
Eu Real como sendo o “eu inferior” e o “eu superior”.

“...Existem dois eus, para um ser um objeto a ser conhecido pelo outro? Isso porque a verdadeira experiência
de todas é „Eu sou um‟ !”. - Ulladu Narpadhu (Quarenta Versos sobre a Existência), verso 33 – pergunta Sri
Bhagavan.

Assim, é suficiente agarrarmos o sentimento “Eu” ininterruptamente até o fim.

Essa atenção ao sentimento “Eu”, a experiência diária comum de todos, é o que se chama Auto-atenção.
Para aqueles que aceitam como seu conhecimento básico a consciência-“Eu sou o corpo” (jiva bhava), sendo
incapazes de duvidar de sua existência (a existência do ego), é apropriado praticar a Auto-atenção (isto é,
fazer a Auto-inquirição) na forma “De onde sou eu?”. Por outro lado, para aqueles que, ao invés de supor
que eles têm uma individualidade (jiva bhava) como “Eu sou tal e tal” ou “Eu sou isto”, voltam-se assim
para, “O que é este sentimento que brilha como eu sou?”, é conveniente fixar-se na Auto-atenção na forma
“Quem sou eu?”.

O que é importante assegurar-se é que, durante a prática (sadhana), nossa atenção esteja voltada
exclusivamente para o “Eu”, o sentimento singular da primeira pessoa.
Om Namo Bhagavate Sri Arunachalaramanaya!

1. A prática de testemunhar pensamentos e eventos, que é muito recomendada hoje em dia pelos oradores e escritores, nunca foi recomendada mesmo que
minimamente por Sri Bhagavan. Na verdade, quando Ele era perguntado sobre o que deveria ser feito quando os pensamentos surgem (isto é, quando a
atenção é desviada para a segunda ou terceira pessoas) durante a sadhana, Ele sempre respondia do mesmo modo como fez para Sri Sivaprakasam Pillai
no ―Who am I?‖, onde Ele diz, ―Se outros pensamentos surgem, você deve, sem tentar completá-los, perguntar ‗Para quem eles surgiram?‘. O que importa
que muitos pensamentos surjam? No exato momento em que cada pensamento surge, se você vigilantemente perguntar ‗Para quem isso surgiu?‘, a
resposta será ‗Para mim‘. Se então você perguntar ‗Quem sou eu?‘, a mente (nosso poder de atenção) retornará (do pensamento) para sua fonte (o Eu
Real)‖. Além do mais, quando mais tarde Ele diz no mesmo trabalho, ―Não voltar-se para o que-é-outro (isto é, para qualquer segunda ou terceira pessoa) é
não-apego (vairagya) ou ausência de desejos (nirasa)‖, nós devemos compreender claramente que voltar-se para (testemunhar, olhar, observar ou ver)
qualquer outra coisa além do Eu Real é em si mesmo apego, e quando entendermos assim nós perceberemos quão sem sentido e inábeis são as instruções
tais como ―Observe todos os pensamentos e eventos com desapego‖ ou ―Testemunhe seus pensamentos, mas não se apegue a eles‖, que são ensinadas
pelos assim chamados gurus dos dias de hoje.

2. É por isso que os aspirantes que, a fim de destruir pensamentos ruins como desejos ardentes, raiva e assim por diante, lutam contra eles, e desse modo,
pensam sobre eles, falham em seus esforços; enquanto que os aspirantes que praticam a Auto-inquirição, voltam toda a sua atenção para o Eu Real, com
uma atitude de indiferença em relação a esses pensamentos ruins, e assim os ultrapassam facilmente.

3. Predisposições, hábitos e tendências latentes.

4. Há uma história tradicional de um médico prescrevendo um remédio para um paciente com a condição de que o mesmo deveria ser tomado somente
enquanto ele não pensasse em um macaco; mas o paciente não conseguia tomar o remédio sob essa condição, porque toda vez que ele tentava fazê-lo, o
pensamento de um macaco certamente surgia.

5. A discriminação tratada no capítulo 4 deste livro também tem o mesmo objetivo em vista, no entanto ela não é processo real da inquirição. Somente o que
está exposto no último capítulo deste livro é o verdadeiro método da Auto-inquirição.

6. O tempo e o espaço aparentemente existem em nós (o Eu Real), mas nós não estamos neles nem somos limitados por eles. A experiência do Jnani é
somente ―Eu sou‖ e não ―Eu estou em todos os lugares e em todos os tempos‖.

7. É importante ressalvar que o lugar do coração ―dois dedos para a direita a partir do centro do peito‖ não está incluído no ―Ulladu Narpadhu‖ (os quarenta
versos principais), onde são dados os ensinamentos originais e diretos de Sri Bhagavan, mas somente no ―Ulladu Narpadu – Anubandham‖ (os quarenta
versos suplementares), já que essa é meramente uma das verdades diluídas que as escrituras condescendentemente respondem em concessão à fraqueza
dos aspirantes imaturos. Além do mais, esses dois versos, o 18 e o 19, não são composições originais de Sri Bhagavan, mas apenas traduções de um
trabalho Malayalam chamado ―Ashtanga Hridayam‖, que não é nem mesmo um texto espiritual, mas sim médico. Também deve ser observado aqui que
esses dois versos não recomendam de modo algum, nem mesmo mencionam, a prática da concentrar a atenção sobre este ponto no corpo, dois dedos para
a direita a partir do centro do peito. Na verdade, em nenhum lugar – nem em Seus trabalhos originais, nem em Suas traduções de trabalhos de outros, nem
mesmo em quaisquer das conversas com Ele gravadas por devotos – Sri Bhagavan alguma vez recomendou essa prática (porque a meditação sobre o lado
direito do peito ou sobre qualquer outra parte do corpo transitório, insenciente e exterior não é nada além de uma atenção à segunda pessoa, um objeto que
não o ―Eu‖). E, quando perguntado a respeito, Ele de fato costumava condená-la (veja ―Talks with Ramana Maharshi‖, número 273).
Em busca do Eu (Hunting the I) - Parte 1
Auto Investigação (Self Enquiry)
Bem sucedida
por
Ed Muzika
A Prática correta de auto-investigação é tão importante que eu sinto necessidade de articular
suas variadas e diferentes formas, porque as ‗bem-sucedidos‘ formas ou métodos são realmente
sutis. Uma pessoa pode praticar a auto-investigação sem êxito por um longo tempo, porque vocês
não tem a menor ideia do que estão buscando. Portanto, eu explicarei os vários métodos de formas um
pouco diferente, esperando que uma forma ou outra irá ser útil e se conectar aqueles verdadeiramente
interessados na prática.
Algumas pessoas são capazes de sentir o senso de ‗Eu Sou‘ quase imediatamente após uma
introspecção e outros não. Alguns são por natureza, naturalmente introspectivos, outros não. Para fazer
a auto-investigação (self enquiry), a pessoa deve ter o dom nato ou aprender pela prática. O mesmo
raciocínio é verdadeiro para a psicoterapia. Aqueles que são capazes de olhar para dentro de si e
‗ver‘ os objetos internos mentais podem ser beneficiados pela psicoterapia com ênfase na conversa,
enquanto aqueles que carecem desta habilidade, não. Entretanto, as pessoas podem adquirir esta
habilidade através de repetidos esforços para ―olhar para dentro de si‖ e ver estes imaginários espaços
criados na mente.
O problema é que, muitas pessoas não experimentam um sentimento ou sensação de ‗Eu
Sou‘ e portanto não tem nada com o que trabalhar. Elas olham ―para dentro de si‖ e encontram só
escuridão, ou elas encontram uma grande quantidade de fenômenos, tais como as aparição de
luzes internas, pensamentos, imagens, memórias, sensações no corpo, despertar de energias, etc.,
e não têm a menor ideia sobre o que seja o ‗Eu Sou‘ no qual devem focar e se concentrar. Estão
perdidas numa floresta de sensações e percepções e tem nenhum senso de Eu ou ‗Eu Sou‘.
Se este é o caso, Robert ofereceu o método de questionar, ―Quem Sou Eu?‖ ou ―Para quem
estes pensamentos e objetos surgem?‖ Este método PODE por fim nos conduzir para a ‗testemunha‘,
mas a fragilidade deste método é que ele fica totalmente no nível da mente e do pensar e nós temos
que ir além da mente.
A outra fragilidade do método ―Quem Sou Eu?‖ é que depois que você aprende a identificar e
testemunhar — qualquer pensamento, inclusive o pensamento-eu (I-Thought) — observar de onde
eles surgem e desaparecem, leva ao Vazio. Todos os pensamentos vem e vão para o Vazio. Tente
isto. Cada pessoa experiência o surgimento de pensamentos de forma diferente, mas qualquer que
seja sua forma, eles surgem espontaneamente do vazio, plano de frente e de fundo e desaparecem ali
também. No entanto, isto não se torna claro até que o mundo interior é ‗'aberto‘' o suficiente para ver o
espaço interno também como mais um fenômeno.
Enquanto observa o Vazio como fonte e destinação dos pensamentos, a pessoa pode tentar se
tornar o Vazio, pensando que isto é o seu ser (self), desde que é no Vazio onde surgem e
desaparecem os pensamentos, ou a pessoa pode continuar observando cuidadosamente o vazio,
ainda procurando pela fonte. Entretanto, o ponto principal ou motivo de procurar pela fonte é descobrir
o observador do pensamento, o sujeito, o buscador, o observador, e então se tornar o observador. O
sujeito, Eu, o observador não é o Vazio. O Vazio também é um objeto para o observador. Este é o
grande erro de buscar a fonte dos pensamentos, porque a pessoa pode achar que deve continuar a
investigar e olhar no vazio onde os pensamentos surgem e desaparecem, ou ela pode procurar por
aquilo que percebe os pensamentos, inclusive o pensamento-eu (I-Thought). Eu conheço bem esta
armadilha, porque eu caí nela por anos.
Desta forma, auto-investigação (self-inquiry) tem dois aspectos: Observe os fenômenos
disponíveis, tanto os fenômenos internos, tais como pensamentos e imagens, como os fenômenos
externos, tais como objetos do mundo, tanto na meditação como durante todo o dia; observe-os e
―brinque‖ com os fenômenos. Fique familiar e explore o mundo interno de forma ampla. Então pergunte
a si mesmo, ―este fenômeno sou eu, ou sou separado disso?‖ Você está efetivamente buscando por
aquele sentimento essencial que pode ser associado a afirmação, ―Isto sou eu‖.
O que estamos tentando fazer é encontrar o diferencial, aquilo que não muda, e é diferente de
todas as outras sensações, no sentido de que isto não é um fenômeno observado, mas é de fato o próprio
observador, testemunha, ou ―buscador‖. É a singularidade ao redor do qual está organizado todo objeto
e o mundo.
Existem muitos fenômenos que parecem ‗Eu Sou‘ e que surgem para o investigador por várias
vezes, tais como o pensamento-eu, ou ego, ou o grande Vazio que é experimentado quando você
está próximo do despertar. Muitas pessoas descobrem vários sujeitos, ou ―observadores.‖ A
pessoa observa os pensamentos como uma testemunha, e então a pessoa se torna consciente
que há uma pessoa observando os pensamentos. Isto é, existem duas espécies de testemunhas.
Principalmente quando experimentam pela primeira vez o sentimento ―Eu sou‖', as pessoas
estão realmente observando o nó que conecta o corpo com a mente. Elas não estão conscientes
ainda que estão separados deste fenômeno, e estão observando isto, e que este observador é o eu real.
Aquele que observa e olha, ou testemunha, é tão próximo de nós mesmos que muitas vezes não
percebemos isto, como na parábola advaita do décimo índio ressalta. Frequentemente o observador
não é ‗contado‘ ou levado em conta porque isto não é um objeto e é dado como garantido e logo não
encontrado.
Todos estes falsos ‗eus‘ tem de ser testemunhados, explorados e temos de brincar com eles, e
por fim descobertos como não sendo nosso verdadeiro ‗Eu‘. Mas, a sensação ‗Eu Sou‘ que Maharaj
fala é o nó do ego conectando o corpo com a consciência. Este nó não é você, mas você tem que
descobrir isso por si mesmo, como uma experiência direta e não como um ensinamento de outras
pessoas. Uma vez que este nó é rompido, tudo o mais é fácil de entender e claro, e este nó é rompido
através da contínua observação, e a pessoa descobre que este nó está sendo observado pelo
imperecível EU. Um dia você acorda, e neste dia você descobre que o nó não está lá! Que! Neste
ponto você se identifica com a totalidade da consciência, com a totalidade de EU SOU. Este é o
primeiro despertar, mas certamente não é o mais importante.
Em busca do Eu (Hunting the I) - Parte 2
A Auto Investigação (Self-inquiry) é contínua, trabalho de tempo integral, não restringido
apenas para praticas formais em determinados momentos. Meditação formal, praticada
frequentemente, é de grande valia, visto que desenvolve um poder introspectivo ou interno. Claro
que, meditação demais torna a mente lenta e estúpida, o que é um erro.
O período de Meditação formal deveria ocorrer pelo menos duas vezes por dia, com duas sessões
de 25-35 minutos, separadas por um descanso de 5 minutos. Este período pode ser gradualmente
aumentado para aqueles que tem tempo para três ou quatro sessões, de 25-35 minutos. Eu percebi que
períodos substancialmente mais longos que 35 minutos são geralmente uma perda de tempo, que é
melhor aproveitado em mais curtos porém intensas meditações sentadas.
Entretanto os efeitos benéficos de desenvolver poder introspectivo ou interno durante a
meditação serão dissipados se o resto do dia é gasto e voltado apenas para servir o mundo.Uma
vez que tenha isolado o que eles pensam ser o seu ‗Eu Sou‘, o estudante precisa parar várias vezes
durante o dia por alguns poucos minutos, e observar este ‗Eu Sou‘ para o entender, durante o
transcorrer do seu dia a dia. A auto consciência deveria se tonar contínua. O estudante descobrirá que o
‗Eu Sou‘ irá se modificar com o tempo, porque o eu real não está sendo observado; é só um objeto
posando como o verdadeiro eu.
Até que um dia o estudante descobre o diferencial, aquilo que nunca muda, que é o sujeito de
todos os variados objetos. Uma vez que isto é claramente percebido, todos os objetos perdem
importância, e o trabalho do buscador é permanecer e repousar neste observador, neste sujeito, nesta
testemunha, no qual todos os objetos do mundo surgem e tem origem. Este é um estado de profundo
descanso. Tentar permanecer neste centro não é realmente um esforço. O que acontece é que a
incansável mente com que nos identificamos precisa ser ativa, e por causa desta identificação com a
mente, ―nós‖ ficamos ativos. Entretanto, o Eu Real está sempre em descanso, e ao continuamente
trazermos o foco da mente para o observador ou testemunha, a mente perde interesse em sair deste
foco para ir em busca de outra coisa ou lugar, devido a profunda paz sentida neste estado de
descanso ou repouso.
Uma vez que a testemunha é descoberta, o estudante tem uma larga estrada a seguir para a
auto-realização. Os falsos eus são desgarrados ou dissipados. Então, o trabalho de tempo integral do
estudante é permanecer neste Eu, residir Nele, e infinita paz e felicidade surgirão, que conduzirão você
sem esforço para si mesmo, por todo o caminho.
Com isto é feito é explicado abaixo.
Antes de entrar em mais detalhes acerca do processo, precisamos estar cientes de que podemos
e devemos efetivar a mesma análise com respeito aos objetos no mundo externo. Escolha um objeto,
tal como uma pessoa, uma árvore, um animal de estimação sentado numa varanda. Observe isto e ao
mesmo tempo olhe para si, buscando perceber o senso de ‗Eu Sou‘ e veja se sente uma conexão
entre o ‗Eu Sou‘ e o objeto escolhido. Se o objeto detém uma carga emocional para nós, tal como um
ser amado, será frequentemente sentida uma conexão entre esta pessoa e o coração. Quando
alguém descobre aquela fonte do coração, podepropositalmente tentar mergulhar ou se fundir nela.
Isto irá causar um aumento imediato de felicidade e centramento que irá ajudar a meditação
formal e levar mais rapidamente para a liberdade. Então, a pessoa precisa observar se aquela
fonte do coração é a testemunha ou não.

Esperamos que a explicação acima tenha descrito o processo como um todo, pois agora o processo
será explicado de forma mais detalhada.
Primeiro, as melhores descrições de auto-investigação (self-inquiry) encontradas estão em dois
livros: 'The Path of Sri Ramana', Parte 1 de Sadhu Om e Michael James, nos capítulos sete e oito, e o
Nisargadatta Gita de Pradeep Apte (tradução sendo postada nesse
bloghttp://conscientedesimesmo.blogspot.com.br). O último é uma compilação de Apte de
cerca de 230 parágrafos que Nisargadatta transmitiu sobre o sentimento de ‗Eu Sou‘ epermanência no
ser. A descrição em ‗Path of Sri Ramana‘ é mais como Robert Adams ensinava.
O caminho para a auto descoberta ensinada por Robert, Ramana e Nisargadatta é permanecer
no Eu Sou, mas o que isto significa? O que é o Eu Sou? Como permanecer nisto? Como eu pratico auto-
investigação (Self Enquiry)?
Mais subsídios acerca do tema lembrança de si, ou permanência no ser pode ser encontrado no
livro de Michael James: ―Happiness and the Art of Being‖ especialmente nos últimos capítulos.
Um outro livro que as vezes recomendo para aqueles que não experienciam o senso de Eu Sou,
o senso de existência ou presença, é o de Michael Langford, ―The most rapid and DirectMeans to
Eternal Bliss‖.
Michael narra que ele praticou variadas formas de auto investigação (self-inquiry) por 27 anos com
resultados insignificantes. Ele não estava mais auto realizado do que quando começou.
Eu quero que sua experiência deixe uma coisa clara, a auto investigação é complexa porque
existem tantas experiências interiores, que descobrir o sujeito em repouso por trás de todas elas, pode
ser difícil. A auto investigação certamente não é a utilização de um mecanismo, como se perguntar
―Quem sou Eu?‖ vez após vez. Michael de forma assídua praticou A auto investigaçãopor 27 anos, leu
todos os livros, visitou todos os professores, contudo não tinha chegado a lugar algum. Eu posso dizer
o mesmo acerca de mim, por um período de 20 anos.
Nem é o despertar descobrir que não existe o ego, e nenhum objeto que o pensamento-eu faça
referência. Estas são ainda experiências iniciais do despertar.
Michael nunca foi capaz de se ater ao sentimento ‗Eu Sou‘. Ele ensinou um método e
concepção de que estar consciente da consciência é por si só, residir no Eu Sou. ; o método que ele
descobriu, ou deveria dizer ele redescobriu, parece ser uma meditação Soto Zen
chamadaShikantaza. Ele pode negar que seu método é Shikantaza porque ele acredita que
descobriu o método ‗consciência observando consciência‘ de auto investigação, mas seu método é
nada mais, nada menos que Shikantaza, sentar em silêncio, fazendo nada além de estar consciente. Isto
não é fácil, leva tempo. A mente tem que se assentar e ficar quieta. Frequentemente anos tem que
passar até que se consiga sentar em quietude desta forma, porque iniciantes sempre procuram
resultados imediatos. Se não conseguem, eles frequentemente desistem ou procuram um outro
professor ou técnica. Principiantes não gostam de ficarem quietos, eles querem ação.
Entretanto, como Robert frequentemente dizia, ―Persistência é tudo‖.
Um outro importante método de auto investigação é tentar compreender o sentimento real: ‗Eu
Sou‘ e permanecer com ele. Isto geralmente não é fácil, até porque depende de alguns fatores.
Pessoalmente, eu considero este o melhor caminho e posteriormente falarei mais sobre ele.
Se alguém pratica Shikantaza primeiro, e alcança muitos e muitos samadhis depois de um
razoável período, este alguém gradualmente alcança certa libertação. Entretanto, a prática deve
continuar, porque o Eu Sou não foi extinto ou aniquilado. O Eu Sou ainda permanece como uma parte
pessoa de você. O Samadhi se torna como um estado aberto, livre sem fronteiras, e a pessoa
imagina que é o samadhi real, os samadhis de sentimento de união com tudo, ou o ser que desperta e
sonha a que sempre retornamos. Eles são sem fronteiras no sentido de que não importa quantos
samadhis a pessoa experimenta, o mesmo senso de ser humano e limitado ao corpo sempre retorna
depois.
A maneira mais rápida de aniquilar ou extinguir você, o ‗Eu Sou‘, é permanecer na sensação
‗Eu Sou‘ como ensinado por Ramana e Nisargadatta. Quando isto é feito, o Eu se extingue para
sempre; com Shikantaza há uma identificação prematura com a totalidade da consciência e o Vazio,
ao invés de romper com este nó, que é a energia que conecta a mente e o corpo, e entre esta conexão
e níveis mais profundos de ser, tais como as experiências do corpo causal de verdadeira inexistência
ou sensação de não existir.
Se a libertação é alcançada pelo primeiro método (Shikantaza/Langford), para isto se tornar uma
libertação permanente, o Eu Sou deve ser descoberto de novo e seguido. Isto é extremamente difícil
se a pessoa tem permanecido no vazio por anos. É duro então, encontrar um senso de eu, porque a
pessoa tem se identificado usualmente com a sensação de vazio ou vastidão através de repetidas
meditações Shikantaza.
Muitas pessoas me escrevem dizendo que são incapazes de encontrar um senso pessoal de
Eu, mesmo depois de anos de concentração e meditação. Muitas têm permanecido na sensação de
vazio por anos e começam a ficar irritadas e porque não encontraram qualquer felicidade ou
libertação real. Elas ‗pularam‘ a fase de destruição do processo/complexo Eu Sou,o que significa que
isto ainda existe mas não é sentido, encoberto pelo foco no vazio. Elas se perderam no vazio e
não alcançaram nada.
Você não pode pular etapas. É melhor começar seguindo o Eu sou e completar a tarefa. Então
permanecer na vastidão e vazio da divina testemunha, o absoluto é sem esforço e permanente.
Uma vez vi um livro intitulado ―Caçando o Eu‖. Isto para mim é uma perfeita descriçãodo
processo de auto investigação, caçando por toda a parte no fenômeno interno em que consiste nosso
mundo interior, identificando o Eu e então e então se fixar neste senso de primeira pessoa, do eu.
Isto se torna complexo porque existe o ‗eu palavra‘ ou ‗eu pensamento‘, que é o
mecanismo central da rede de pensamentos e imagens que nós consideramos como o mundo real.
Este pensamento-eu não é o mesmo senso de existência pessoal, o senso de ‗Eu Sou‘ que é mais
como um sentimento tátil, associado ao corpo, e principalmente centrado ao redor do coração, ou
ao sentar para meditar, é sentido mais como um vazio existindo atrás ou acima do corpo.
Naturalmente apenas ser consciente disso já requer uma boa habilidade de internalizar e
introspectar fenômenos subjetivos. Isto significa que a pessoa ou tem uma habilidade inata, ou a que
a pessoa adquiriu este poder de discriminação através dos anos de prática.
Em busca do Eu (Hunting the I) - Parte 3
Eu, sendo um tipo com dificuldades de compreensão, precisei de anos de prática. Eu era
sempre introspectivo num certo sentido, facilmente perdido no mundo interior de pensamentos e
sentimentos, mas este mundo interior era nunca aberto e espaçoso. Eu aprendi a abrir aquela
interna, escura, subjetividade através da abertura do Terceiro Olho ao se tornar consciente de
uma luz entre as sobrancelhas e sempre expandindo esta luz para dentro do solo e então para
cima e para fora, revelando um imaginário espaço preenchido com luz, a assim chamada luz da
consciência. Mas o problema é que passei anos ali naquele espaço vazio e, pensando que era a
realidade, não reconhecendo que estava ainda separado e testemunhando o vazio. Eu estava
muito além do vazio, mas fui pego pela ignorância. Eu estava esperando descobrir o absoluto
senso de subjetividade ao continuar a contemplar o Vazio.

Após anos de auto investigação, a pessoa irá encontrar legiões de experiências que a
pessoa pode confundir com o Eu Sou. Prática e persistência, bem como limitar-se a ler apenas
poucos livros e escutar a orientação de um professor é o melhor e mais rápido caminho para fora
da selva interna.

A prática é necessária para a auto realização? Sim; Definitivamente, sim.

É aqui que o conceito de ‗caçar o eu‘ se torna um método efetivo.

A pessoa olha para dentro para encontrar o Eu Sou. Após dia, semana ou mês a pessoa
descobre algo novo que acredita possa ser o ―verdadeiro‖ Eu Sou: o sujeito.
As vezes é a auto luminosa luz da consciência que, as vezes espaços iluminados como o
vazio interno, as vezes é um sentimento inteiramente baseado no senso corporal. Alguns sentirão
o senso de Eu Sou como uma sensação na área do coração, sensação da auto percepção do
sentimento de ter um corpo. Outros acreditam que estão conscientes do corpo como uma interna
sensação visual que é de fato um objeto no espaço imaginário e portanto irreal. Outros irão
descobrir o senso interior do infinito (ou não infinito, limitado) espaço interior e pensam que eles
são aquilo. Eles não são aquilo.
O sujeito continua explorando com a ideia equivocada que em algum momento o Eu será
encontrado, sem perceber que é o Eu que está buscando. O sujeito não será encontrado, porque
o sujeito pode nunca se tornar um objeto. O que a pessoa descobre é que tudo que ela vê,
experimenta e sabe é na verdade um objeto experienciado ou conhecido pelo sujeito, que não
pode ser encontrado.
Esta busca pode continuar infrutífera por vários anos, porque o eu não é uma coisa, objeto,
estado, energia ou algo que possa ser descoberto ou experimentado. Você já pode entender isto.
O que fazer?
Neste ponto você deve se tornar consciente que existe algo que está consciente dos
processos de auto investigação. Este ―algo‖ é o Ser ou o supremo observador.

Então a “nova” pratica consiste em observar aquele que busca, e não alguma sensação
no corpo ou falso eu num espaço imaginário. Você já está consciente do observador, mas não
está consciente que ele é o seu „Eu real‟. Você caiu na concepção errônea de que o observador
pode encontrar o verdadeiro eu, quando de fato, aquele que busca é o verdadeiro eu. O
“procurar” é o problema, o observador já é completo e em profunda paz.
Portanto, se una ao buscador.
Assim, existem dois passos: localizar o observador, como o sujeito das sensações, e
brincar com isto observando todas as suas manifestações, então relaxar no buscador, relaxe
e permita que o observador, observe, e se torne apenas o observador.

Quando isto é compreendido você tem uma maneira clara de permanecer no ser: apenas
olhe em direção deste senso interno de observar, não em busca de uma conexão, ou de um
vazio, ou de uma sensação do coração ou qualquer outra sensação ou experiência. Estas são
práticas preliminares e passos antes de você descobrir o Observador. Então, depois da
descoberta, se funda ao observador, o sujeito e se torne ele.
Isto parece simples, mas de fato o mundo interior é tão preenchido com pensamentos,
objetos, estados, experiências, vazios, vastidão, energias, e sensações de ser, que claramente
localizar o observador não é assim tão fácil. Apenas leia a Autobiography of a Jnani,e você pode
ver o quão intrincadas e complexas as experiências internas são.
Você precisa entender que você descobrirá que tudo o que considerava ser você mesmo,
não é você, o observador, mas apenas objetos, processos, pensamentos e energias que você
anteriormente julgava ser seu eu real.
De certa forma, inicialmente o observador frequentemente se parece como apenas outra
sensação, outro objeto interno; mas não é uma sensação física como a consciência de uma
sensação do corpo ou a consciência de um pensamento.
A prática é olhar para dentro em direção à fonte, ao observador, e observar isto.
O processo de localizar os fenômenos, examiná-los e ‗brincar‘' com eles até que você
conheça-os completamente e então elimina-los como na qualidade de observador pode ser curto
ou mais longo. Este é o verdadeiro processo de auto investigação, não perguntar de forma
mecânica, ―Quem sou Eu?‖.
Não tenho a menor ideia do que você irá experimentar; ocorre de forma diferente para várias
pessoas.

Mas por fim você compreenderá (ver, experimentar, apreender, descobrir, saber) que não há
nenhum olhar para fora ou para dentro. Há apenas uma consciência. O esforço intencional de
olhar para dentro era para contrabalancear um hábito de vida inteira de olhar para fora e
desenvolver introspectiva discriminação para se livrar da ideia de que objetos internos, externos e
fenômenos sejam seu verdadeiro eu.
Eu quero enfatizar que a frase ―olhe para dentro‖ é uma mentira. Não existe fora ou dentro.
Esta distinção só dura enquanto você pensa que é um corpo. A frase ―olhe para dentro‖ quase
soa como um comando para olhar o vazio interior da imaginação, como dentro do corpo. É uma
má instrução. Isto reforça a ideia da realidade do interno e externo, dentro da pele e fora da pele.
O mundo, seu estado interior, sua busca, sua imaginação acerca do que seja a auto
realização irá tudo desaparecer e você compreenderá que tudo que você tem experimentado até
este momento é imaginação. Você estará livre de todos os conceitos e imaginação. Neste estado
você deve habitar por longo tempo, mas a permanência no ser, por si só, não torna este estado
contínuo por um longo tempo. É uma questão de persistência apenas, e isto só ocorrerá depois
que uma sustentável e firme paixão pela verdade se torna a questão mais importante da sua vida.
Então, em algum ponto, ―tudo‖ irá desaparecer e você será deixado numa existência com
uma mente silenciosa. É duro explicar isto, mas isto não desaparecerá como se você flutuasse
em espaço de consciência eterno, mas ao contrário o mundo deixará de existir como um aparente
objeto. O eu desaparecerá como sujeito também. Haverá apenas unicidade, com nenhum
observador separado do mundo ou do ser.
Mais tarde mesmo isto irá desaparecer quando se percebe que existe o testemunhar no
plano de fundo, mesmo deste inteiro processo. Existe esta ―coisa‖, que não pode ser chamado de
coisa ou de algo, que tem observado e conhece o inteiro processo, conhece o corpo, o eu
pessoal, o mundo, o estado desperto, o estado de sonho, e também o processo de entendimento.
Com respeito a este ―estado‖ não se pode falar nada. Porque não existem atributos, e
declarar atributos ou características ou com que isto parece irá desviá-lo da real prática. Isto não
é um estado; Isto é aquilo que observa todos os estados.
Agora, este é um jeito de explicar o processo de despertar. Michael Langford articulou seu
método, e tanto Robert e Ramana articularam seus métodos. Perceba que Robert, Ramana e
Nisargadatta raramente falavam sobre a ―experiência‖ final, falavam apenas sobre o método e a
filosofia advaita que inteiramente obscurece o objetivo, ao adicionar um impedimento conceitual.
Langford e todos os outros professores. Eles forneciam só fenomenologia e filosofia que
distraem, estórias artificiais para levar você ao método que elaboraram e leva-lo a praticá-los.
Eu não quero levar você também a se desviar, mas todos estes métodos são o que eu
chamei antes de ―massagear o ego,‖ e eles não tem nada a ver com a finalidade para a qual
foram elaborados, contudo como a prática é aparentemente um dever para todos, mesmo para
aqueles que pregam que nenhum método ou prática é possível ou necessária. É necessário
aumentar a discriminação.

Eu quero enfatizar que repetidamente trazer a atenção para o Eu sou, para o aparente
sujeito é um fazer apenas enquanto o Eu Sou é considerado um objeto de meditação, tal como
focar no ego que é o nó que conecta o corpo e a mente e que a maioria das pessoas pensa ser o
‗Eu Sou‘. Entretanto, o sujeito real, o Eu, não é um objeto. É VOCÊ, o observador, além de todos
os fenômenos e do mundo, e é um estado de não-fazer, apenas observar. É o repousante estado
de apenas ser. O aparente ‗fazer‘ a mente permanecer no Eu, realmente é um pedido pela graça,
para o Eu assumir o controle e terminar a busca do buscador. O Eu é o ponto zero um eterno
descanso com nenhum movimento. A aparente atividade envolvida em permanecer neste senso
de Eu, é realmente um descanso, não um fazer. É descobrir seu eu que descansa, seu eu não-
fazedor.

Permanecer no Eu sou, é realmente uma prática de não fazer nada, mas é bem sucedida
apenas se você está verdadeiramente consciente do seu Eu, a testemunha, o observador, e você
só pode ter certeza disto, depois de uma longa e intensiva prática de investigar a mente. Sem
essa discriminação aprendida, você pode estar se entregando ainda para outro objeto pesando
como o Eu, tal como o ego. Portanto, cuidado com aqueles que dizem que nenhuma prática é
necessária. Não é necessário ou mesmo possível para a pessoa que descobriu o verdadeiro eu, o
estado de descanso, mas fazer nada em termos de prática, antes de se tornar consciente do que
este ponto zero significa é inútil e estúpido.

Meu Próprio Método: Fazer Nada


Robert ensinou o ―Quem sou Eu?‖ processo de auto investigação só porque ALGUMAS
pessoas sentiam que precisavam de um método ou forma de ocupar suas mentes. Todos os
métodos ensinados por Robert, leva ao silêncio. Profundo silêncio, o ―mais profundo‖ não apenas
revela o absoluto, mas também é o absoluto.
Todos os ―métodos‖ acima foram aqueles que pratiquei por anos com nenhuma real
transformação. Eles resultavam em todos os tipos de experiências e novas compreensões, mas
não havia liberação ou morte do senso de Eu. Só pequenas mortes.
Isto me leva a uma observação. A maioria dos praticantes estão muito envolvidos em suas
experiências e na explicação delas, ao invés de persistir em se voltar para o seu interior. É como
se eles não podem suportar a monotonia da auto investigação, e transformam isto numa
discussão intelectual com o guru ou professor. Elas querem sua ―velha‖ realidade de falso contato
humano com o guru, enquanto o guru está só interessado em levá-los além de qualquer coisa
que eles alguma vez experimentaram ou imaginaram.
Isto é tempo desperdiçado, especialmente o tempo que tantas pessoas parecem
desperdiçar, para entender uma experiência que eles tiveram a dez ou vinte anos atrás. É como
se achassem que se pudessem trazer aquela experiência de volta, seria o fim da busca, o que
traria descanso para eles.

Qualquer experiência que não é frequente e repetida, não tem valor.


Quando encontrei Robert apenas me rendi a ele depois de cerca de dois anos. Eu sabia
profundamente que qualquer método que eu praticasse estava só na mente e não podia destruir o
senso pessoal de eu. Eu estava apenas massageando o ego — a combinação de ―gases‖
imaginários ou mentais que eu chamo de espaço imaginário ou de mundo. A entrega é uma forma
de se atingir o estado de descanso. ―Eu desisto; não a minha vontade Pai, mas a Tua.‖
Mas, mesmo esta confiança e entrega não tinha me conduzido a libertação ao tempo em
que Robert deixou Los Angeles. Quando Robert partiu para Sedona eu me sentia completamente
sozinho e abandonado.
Entretanto, o processo da mudança e distância de Robert era completamente desgastante,
tanto que eu comecei apenas a relaxar e ouvir música sagrada, especialmente a de Muktananda
e Yogananda para escapar da tensão e porque eu não sabia mais o que fazer. Este movimento
foi imposto a mim, eu não poderia fazer outra coisa.
Eu apenas me sentava num sofá por horas e horas, dias e dias, semanas e semanas,
ouvindo e me deixando levar pela música, desfrutando completamente o show que surgia da
consciência dentro de mim, das formas, dos pensamentos, das sensações internas e externas.
Meu corpo relaxou de quase toda a tensão. Eu sentia que eu estava me fundindo em mim
mesmo. Eu fazia quase nada além de comer e alguma caminhada. Eu comecei a sentir uma
inebriante felicidade. Eu estava me tornando um completo nada, mas não no sentido do vazio do
zen, mas num sentido pessoal de ser inundado pelo êxtase e felicidade do canto. Eu estava
relaxando na sensação de ser, impulsionado por dentro pela felicidade de fazer nada, além de
estar com todos os fenômenos internos e externos.

Então, um dia um despertar aconteceu na forma da experiência do chuveiro que eu


descrevo no site e que denominei de primeiro despertar.

Eu mal posso recomendar isso para outras pessoas. Eu amava música sagrada e canto. Eu
também amava permanecer no vazio e silêncio quando ouvia os cantos. No entanto, poucos
poderiam se beneficiar, se eles não estivessem também dispostos a tal. Eles iriam apenas ficar
impacientes.
Um método similar que pode funcionar melhor para você seria pegar todas as gravações de
Robert e colocá-las num MP3 player, um iPod, num auto falante externo, ou num MP3 ou iPod
rádio despertador, e apenas escutá-las. Apenas escute as gravações quando tiver tempo.
Mantenha música sagrada ao fundo.
Todas as palestras de Robert são para levá-los a um estado de silêncio. Suas palestras irão
repetidamente levá-lo a um estado de silêncio. A música poderá trazer felicidade. Juntos
permitirão um relaxamento completo, a transformação do senso de eu – individualidade- em um
completo senso de felicidade. Você pode dizer que este é um caminho fácil, mas só se você
estiver pronto para ele. Anos de intensa prática são geralmente um pré-requisito, porque
acostuma a usar a mente para descobrir ou criar qualquer coisa. Quando a mente é claramente
vista como algo que nunca pode fazer todo o trabalho necessário ao estado de despertar, há um
relaxamento profundo e mergulho em níveis mais profundos do eu, como Rajiv relata em
Autobiography of a Jnani.
A propósito, o alarme em alguns rádios pode ser programado para reproduzir uma palestra
específica de Robert ou outra aleatoriamente. Você pode querer ser desperto com suas
instruções sobre como praticar a auto investigação.
Se você leu as biografias ou autobiografias de mestres, cada uma descreverá um diferente
processo e podem recomendar processos que eram diferentes dos seus próprios, porque eles
perceberam a excentricidade de seus próprios processos, e como eu, viram que o caminho que
seguiram não serviam para todos.
Provavelmente um ―método‖ mais próximo ao ―método espontâneo‖, eu descrevo como cair
de volta no ser.
Muitas pessoas identificam o ―sentimento‖ de ‗Eu‘, ou ―Eu sou‖, com o sentimento da
totalidade do corpo. Realmente, isto não é, mas aparece desta forma inicialmente, para muitos.
O método é sentir esse senso de ‗eu‘ inicialmente manifestado como o senso do corpo, e
então imaginar ou sentir você próprio caindo dentro disto. Cair ao relaxar mais e mais dentro do
conforto daquelas aparentes sensações corporais. É completamente cheio de felicidade e
reconciliador.
Às vezes há um senso de uma presença escura atrás de si, que é identificado como o
estado de descanso. Se você sente isso fortemente, usando a imaginação relaxe e mergulhe
dentro desta escuridão vazia O relaxamento é o mesmo.
Quase todos estes métodos irão produzir experiências inúteis e compreensão que
desaparecerão, mas que podem parecer aterradoras e extremamente fortes no momento. Desta
forma, não pare. Prossiga.
Eu quero ser completamente claro: Nenhum destes métodos irá produzir
despertar/iluminação/auto realização ou qualquer outro nome que queira utilizar para chamar este
estado que você agora não conhece. Todos os métodos estão no nível da mente.

Longa prática de um método não produz o despertar, mas, você pode dizer, permite que isto
aconteça. Eu penso que Nisargadatta explicou isto da forma mais exata quando ele disse que
algum dia o „Eu Sou‟ o deixará seguir.

Contudo, resumindo, eu recomendaria primeiro que as pessoas fizessem o download do


Nisargadatta Gita, imprimissem o livro, e o colocassem em três pastas e ''praticassem'' ao ler
alguns parágrafos toda manhã. Reflita naquelas palavras e então medite no senso do Eu Sou
desperto, se está desperto efetivamente. Este é um dos melhores manuais de meditação, um
amplo caminho para a libertação.
A auto-indagação pode ser praticada durante o trabalho?
Uma pergunta que me fazem muitas vezes é se é possível praticar o atma-vicāra (auto-
investigação ou auto-inquérito) enquanto estiver envolvido em outro trabalho. Por exemplo,
um amigo me escreveu recentemente perguntando:

A auto-indagação pode ser praticada durante o trabalho? A situação exige que se mude para
um novo campo de trabalho, o marketing, e estou me perguntando perguntas como: Como
aprendo quando não estou pensando? Como abordar os clientes sem pensar?

Em resposta, escrevi:

Qualquer que seja o trabalho que possamos experimentar, estamos sempre conscientes de
que 'estou passando por isso', para que possamos, a qualquer momento, direcionar nossa
atenção para esse 'eu'.

Se houver algum problema que esteja nos preocupando em casa, ou se um amigo próximo
estiver gravemente doente no hospital, o pensamento de nosso amigo ou o que estiver nos
preocupando com frequência virá à nossa mente, mesmo quando estamos ocupados em outro
trabalho. Da mesma forma, se estivermos apaixonadamente ansiosos para experimentar o
que esse "eu" realmente é, a lembrança do "eu" frequentemente virá à nossa mente, mesmo
enquanto estamos ocupados em outros trabalhos.

Portanto, é tudo uma questão de quanto realmente amamos experimentar o que eu


realmente sou. Se esse amor for insuficiente, mesmo quando tivermos tempo para sentar e
meditar apenas no 'eu', outros pensamentos estarão constantemente surgindo e desviarão
nossa atenção do 'eu', enquanto que se esse amor for intenso, nossa atenção estará
constantemente retornando para 'eu' sempre que não estiver envolvido em nenhuma
atividade que exija nossa total atenção.

É por isso que Bhagavan costumava dizer que bhakti é jñāna-māta : o amor é a mãe do
conhecimento. Experimentamos o que atendemos e atendemos o que gostamos de
experimentar.

Todos os dias pensamos inúmeros pensamentos, mas apenas uma pequena porcentagem
desses pensamentos é realmente necessária no momento em que os pensamos. Portanto, se
nosso amor por experimentar o 'eu' for maior do que o amor por experimentar quaisquer
pensamentos desnecessários, prestaremos atenção ao 'eu' em vez de a esses pensamentos e,
portanto, gastamos muito tempo diariamente dedicando atenção a 'EU'.

Enquanto nos experimentamos como um corpo, precisamos dedicar parte do tempo a


pensamentos que não sejam o 'eu', mas não precisamos passar o tempo todo fazendo
isso. Portanto, durante todos os muitos momentos em que não é imediatamente necessário
prestar atenção a qualquer outro pensamento, somos livres para optar por atender a 'eu' ou
a prestar atenção a outros pensamentos. Por causa de nosso amor por experimentar outras
coisas, geralmente escolhemos pensar em outras coisas, mas se gostamos de experimentar o
que 'eu' realmente é mais do que gostamos de experimentar qualquer outra coisa, optaremos
por participar apenas de ' EU'.

Portanto, durante o curso de cada dia, a extensão em que prestamos atenção ao 'eu', em vez
de pensamentos desnecessários, depende apenas de quanto realmente amamos
experimentar o que 'eu' é (quem sou eu).

Postado por Michael James

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