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Diabetes melito (DM)


Por Erika F. Brutsaert , MD, New York Medical College

Last full review/revision February 2017 by Erika F. Brutsaert, MD

O diabetes melito caracteriza-se pela alteração da secreção de insulina e graus variáveis de resistência
periférica à insulina, causando hiperglicemia. Os sintomas iniciais são relacionados à hiperglicemia e
incluem polidipsia, polifagia, poliúria e visão ofuscada. Complicações tardias incluem doença vascular,
neuropatia periférica, neuropatia e predisposição a infecções. O diagnóstico se faz pela medida da
glicose plasmática. O tratamento consiste em dieta, atividade física e fármacos que reduzam os níveis de
glicose, incluindo insulina e agentes anti-hiperglicemiantes orais. Complicações podem ser adiadas ou
prevenidas com controle glicêmico adequado; doença cardíaca continua a ser a principal causa de
mortalidade no DM.

Há 2 tipos principais de diabetes melito, tipo 1 e tipo 2, que podem ser diferenciados por uma combinação das
características ( Características gerais do diabetes melito tipos 1 e 2). Os termos que descrevem a idade de início
(juvenil ou adulto) ou o tipo de tratamento (dependente de insulina ou não dependente de insulina) não são precisos,
em razão da sobreposição das faixas etárias e entre os tipos da doença.

Visão geral do diabetes

VIDEO

Regulação prejudicada da glicose (comprometimento da toleraância à glicose ou da glicemia de jejum — Critérios


diagnósticos do diabetes melito e comprometimento da regulação da glicose*) é um estado intermediário,
possivelmente de transição, entre o metabolismo normal da glicose e o diabetes melito que se torna mais comum com
o envelhecimento. É um fator de risco significativo para o diabetes melito e pode estar presente por vários anos antes
do início do distúrbio. Está associado a maior risco de doenças cardiovasculares, mas as complicações microvasculares
diabéticas típicas não são muito comuns (ocorre albuminúria e/ou retinopatia em 6 a 10% dos casos).

Complicações
Anos de hiperglicemia mal controlada provocam complicações vasculares primárias múltiplas que afetam pequenos
vasos (microvasculares) e/ou grandes vasos (macrovasculares). (Para maiores detalhes, Complicações do diabetes
melito.)
A doença microvascular é subjacente às 3 manifestações mais comuns e devastadoras do diabetes melito:
Retinopatia

Nefropatia Cookies
Neuropatia
A doença microvascular também pode alterar a cicatrização da pele; assim, mesmo pequenas rupturas na integridade
da pele podem evoluir para úlceras profundas e se infectar facilmente, sobretudo nos membros inferiores. O controle
intensivo da glicemia pode prevenir ou postergar várias dessas complicações, mas não consegue revertê-las se já
tiverem se estabelecido.
Doença macrovascular envolve a aterosclerose dos grandes vasos, que pode levar a
Angina pectoris e infarto agudo do miocárdio

Episódios isquêmicos transitórios e acidentes vasculares cerebrais

Doença arterial periférica

A disfunção imunitária é outra complicação significativa, que se desenvolve a partir de efeito direto de hiperglicemia
sobre a imunidade celular. Pacientes com diabetes melito são particularmente suscetíveis às infecções bacterianas e
fúngicas.

Etiologia

Diabetes tipo 1
Ausência da produção de insulina por destruição autoimune das células beta das ilhotas pancreáticas.

No diabetes melito tipo 1 (anteriormente chamado de início juvenil ou dependente de insulina), não ocorre produção
de insulina em decorrência da destruição autoimune das células beta das ilhotas pancreáticas, possivelmente
deflagrada por exposição ambiental de pessoas geneticamente suscetíveis. A destruição evolui de forma subclínica ao
longo de meses ou anos, até que a massa de células beta diminua a ponto de as concentrações de insulina não serem
mais adequadas para controlar a glicemia. O diabetes melito tipo 1 em geral se desenvolve em crianças ou
adolescentes e até recentemente era a forma mais comum de diagnóstico antes dos 30 anos de idade; entretanto,
também pode ocorrer em adultos (diabetes autoimune latente da idade adulta, que muitas vezes se parece com o
diabetes melito tipo 2). Alguns casos de diabetes tipo 1, particularmente em populações não brancas, não parecem ser
de natureza autoimune e são considerados idiopáticos. O diabetes tipo 1 constitui < 10% de todos os casos de DM.
A patogênese da destruição autoimune das células beta ocorre por interações ainda não completamente
compreendidas entre genes de suscetibilidade, os autoantígenos e os fatores ambientais.
Os genes de suscetibilidade são os que pertencem ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC) — em
especial HLA-DR3, DQB1*0201 e HLA-DR4, DQB1*0302, identificados em > 90% dos pacientes com diabetes melito tipo
1 — e os que não pertencem ao MHC, que parecem regular a produção e o processamento da insulina e conferem
risco de diabetes melito associado aos genes do MHC. Os genes de suscetibilidade são mais comuns em algumas
populações que em outras, o que explica prevalências mais elevadas de diabetes melito tipo 1 em alguns grupos
étnicos (escandinavos, sardos).
Os autoantígenos são a descarboxilase do ácido glutâmico, a insulina, a proinsulina, a proteína associada ao
insulinoma, o transportador de zinco ZnT8 e outras proteínas das células beta. Acredita-se que essas proteínas sejam
expostas ou liberadas durante a renovação normal das células beta ou na lesão das células beta (p. ex., por infecção),
ativando primariamente uma resposta imunitária mediada por células T resultando na destruição das células beta
(insulite). As células alfa secretoras de glucagon não são atingidas. Os anticorpos aos autoantígenos, que podem ser
detectados no plasma, parecem ser a resposta (e não a causa) à destruição das células beta.
Vários vírus (incluindo coxsackie, rubéola, citomegalovírus, Epstein-Barr e retrovírus) foram ligados ao início de
diabetes melito tipo 1. Os vírus podem infectar e destruir diretamente as células beta ou causar destruição indireta
das células beta pela exposição a autoantígenos, ativando linfócitos autorreativos, mimetizando sequências
moleculares de autoantígenos que estimulam a resposta imunitária (mimetismo molecular) ou por outros
mecanismos.
A dieta também pode contribuir. A exposição de bebês a derivados lácteos (especialmente ao leite de vaca e à
proteína do leite, a beta-caseína), água muito rica em nitratos e baixo consumo de vitamina D foi relacionada com
maior risco de diabetes melito tipo 1. A exposição precoce (< 4 meses) ou posterior (> 7 meses) a glúten e cereais
aumenta a produção de autoanticorpos das células das ilhotas. Os mecanismos dessas associações não estão claros.

Diabetes tipo 2
Resistência à insulina

No diabetes melito tipo 2 (antigamente chamado de diabetes do adulto ou não dependente de insulina), a secreção de
insulina é inadequada porque os pacientes apresentam resistência à insulina. Resistência hepática à insulina leva à
incapacidade de suprimir a produção de glucose hepática, e a resistência periférica à insulina prejudica a captação da
glicose periférica. Essa combinação dá origem à hiperglicemia pós-prandial e em jejum. Frequentemente, os níveis de
insulina são muito altos especialmente no início da doença. Mais tarde durante o curso Cookies
da doença, a produção de
insulina cai, exacerbando ainda mais a hiperglicemia.
A doença geralmente se desenvolve em adultos e se torna mais comum com a idade; até um terço dos adultos com
mais de 65 anos têm tolerância prejudicada à glicose. Em adultos mais velhos, os níveis de glicose no plasma
aumentam ainda mais depois de comer do que em adultos mais jovens, especialmente após refeições com cargas
elevadas de carboidratos. Os níveis de glicose também demoram mais tempo para voltar ao normal, em parte por
causa do maior acúmulo de gordura visceral/abdominal e massa muscular diminuída.
O diabetes melito tipo 2 está se tornando cada vez mais comum nas crianças à medida que a obesidade infantil se
tornou epidêmica. Cerca de 90% dos adultos com diabetes melito têm o tipo 2. Claramente há determinantes
genéticos, evidenciados pela alta prevalência da doença dentro de certos grupos étnicos (em especial índios
americanos, hispânicos e asiáticos) e em parentes do indivíduos com a doença. Embora polimorfismos genéticos
gerais tenham sido detectados, não foram identificados genes responsáveis pelas formas mais comuns do diabetes
melito tipo 2.
A patogênese é complexa e não foi completamente compreendida. Ocorre hiperglicemia quando a secreção de
insulina é insuficiente para compensar a resistência à insulina. Embora a resistência à insulina seja característica nos
pacientes com diabetes melito tipo 2 e naqueles com risco da doença, também existem evidências de disfunção das
células beta e comprometimento da secreção de insulina, como alteração da primeira fase da secreção de insulina em
resposta à infusão de glicose IV, perda da pulsatilidade normal da secreção de insulina e aumento da secreção de
proinsulina, indicando alteração do processamento da insulina e acúmulo de polipeptídio amiloide nas ilhotas
pancreáticas (proteína normalmente secretada junto com a insulina). A própria hiperglicemia pode alterar a secreção
de insulina, pois as altas concentrações de glicose podem dessensibilizar as células beta e/ou causar disfunção das
células beta (toxicidade à glicose). Essas alterações costumam levar anos para se desenvolver na presença de
resistência à insulina.
A obesidade e o ganho de peso são determinantes significativos da resistência à insulina no diabetes melito tipo 2.
Possuem alguns determinantes genéticos, mas também refletem a dieta, os exercícios e o estilo de vida. A
incapacidade de suprimir a lipolise no tecido adiposo aumenta as concentrações plasmáticas de ácidos graxos livres,
que podem alterar o transporte de insulina estimulado por glicose e atividade da glicogênio sintase muscular. O tecido
adiposo também parece funcionar como órgão endócrino, liberando vários fatores (adipocitocinas) que influenciam o
metabolismo da glicose de modo favorável (adiponectina) ou adverso (FNT-alfa, IL-6, leptina e resistina). O retardo de
crescimento intrauterino e o baixo peso ao nascimento também foram associados à resistência à insulina mais tarde
na vida e podem refletir influências ambientais pré-natais adversas sobre o metabolismo de glicose.

Miscelânea dos tipos de diabetes


[As diferentes causas de diabetes melito responsáveis por uma pequena parcela dos casos são os defeitos genéticos
que comprometem a função das células beta, a ação de insulina e o DNA mitocondrial (p. ex., diabetes juvenil de início
tardio), as doenças pancreáticas (p. ex., fibrose cística, pancreatite, hemocromatose, pancreatectomia), as
endocrinopatias (p. ex., síndrome de Cushing, acromegalia), as toxinas (p. ex., o rodenticida piriminil) e o diabetes
medicamentoso, principalmente causado por glicocorticoides, betabloqueadores, inibidores da proteass e doses
terapêuticas de niacina. A gestação causa alguma resistência à insulina em todas as mulheres, mas apenas algumas
evoluem para o diabetes gestacional.

Cookies
Características gerais do diabetes melito tipos 1 e 2
Característica Tipo 1 Tipo 2
Mais comumente
Idade de início Mais comumente > 30 anos
< 30 anos
Obesidade associada Incomum Muito comum
Propensão à cetoacidose requerendo
Sim Não
tratamento com insulina para controle
Extremamente Variáveis; podem ser baixas, normais ou
Concentrações plasmáticas de insulina
baixas ou elevadas, dependendo do grau de resistência à
endógena
indetectáveis insulina e do distúrbio de secreção de insulina
Concordância entre gêmeos ≤ 50% > 90%
Associado a tipos específicos de antígenos
Sim Não
HLA-D
Sim, mas podem
Anticorpos pancreáticos no diagnóstico Não
estar ausentes
Insulite, perda
seletiva da Ilhotas pequenas, com aspecto normal;
Patologia das ilhotas
maioria das deposição de amiloide (amilina) é comum
células beta
Tendência ao desenvolvimento de
complicações do diabetes (retinopatia,
Sim Sim
nefropatia, neuropatia, doença vascular
aterosclerótica)
Hiperglicemia responde a fármacos orais anti-
Não Sim, inicialmente em vários pacientes
hiperglicemiantes

Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas mais comum do diabetes melito são os da hiperglicemia. A hiperglicemia leve do DM precoce é
muitas vezes assintomática; portanto, o diagnóstico pode ser adiado por muitos anos. A hiperglicemia mais
significativa causa glicosúria e, assim, diurese osmótica, levando a aumento da frequência urinária, poliúria e
polidipsia que pode evoluir para hipotensão ortostática e desidratação. A desidratação grave causa fraqueza, fadiga e
alteração do estado mental. Os sintomas podem surgir e desaparecer com a flutuação dos níveis de glicose. Polifagia
pode acompanhar os sintomas de hiperglicemia, mas não costuma ser a principal preocupação do paciente. A
hiperglicemia também pode causar perda ponderal, náuseas e vômitos e embaçamento da visão, além de predispor a
infecções por bactérias ou fungos.
Os pacientes com diabetes melito tipo 1 tipicamente apresentam hiperglicemia sintomática e, algumas vezes,
cetoacidose diabética (CAD). Alguns pacientes apresentam uma fase longa, porém transitória, de glicemias quase
normais após o início agudo da doença (fase da lua de mel), pela recuperação parcial da secreção de insulina.
Pacientes com diabetes melito tipo 2 podem apresentar hiperglicemia sintomática, mas em geral são
assintomáticos e sua condição só é detectada durante exames de rotina. Em alguns pacientes, os sintomas iniciais são
os de complicações diabéticas, sugerindo que a doença estava presente há muito tempo. Alguns pacientes têm
inicialmente um estado hiperglicêmico hiperrosolmar, em especial durante um período de estresse ou quando o
metabolismo da glicose está ainda mais alterado por fármacos, como os corticoides.

Diagnóstico
Níveis de glicose plasmática (FPG) em jejum

Hb glicosilada (HbA1c)

Algumas vezes, teste oral de tolerância à glicose

O diabetes melito é indicado pelos sinais e sintomas típicos e confirmado pela dosagem da glicemia (1). É melhor a
medição após jejum de 8 a 12 h (glicose plasmática em jejum [FPG]) ou 2 h após a ingestão Cookies
de solução concentrada de
glicose (teste de tolerância à glicose oral [TOTG] Critérios diagnósticos do diabetes melito e comprometimento da
regulação da glicose*). O teste de tolerância à glicose oral é mais sensível para o diagnóstico de diabetes melito e
alteração de tolerância, mas menos conveniente e reprodutível que a glicemia de jejum. Assim, raramente é utilizado
de rotina, exceto para o diagnóstico do diabetes gestacional e para fins de pesquisa.
Na prática, o diabetes melito ou o comprometimento da regulação da glicemia de jejum costumam ser diagnosticados
por meio de dosagens aleatórias da glicemia ou da hemoglobina glicosilada (HbA1c). Um valor aleatória de glicose >
200 mg/dL (> 11,1 mmol/L) pode ser diagnóstico, mas esses valores podem ser modificados por alimentação recente e
devem ser confirmados pela repetição do exame; a realização do exame duas vezes pode não ser necessária se
houver sinais e sintomas do diabetes.
As dosagens da HbA1c refletem os níveis da glicose nos últimos 3 meses. Atualmente, as medidas de HbA1c são
incluídas nos critérios diagnósticos para diabetes melito:
HbA1c≥ 6,5% = diabetes melito

HbA1c entre 5,7 e 6,4% = pré-diabetes ou com risco de diabetes melito

Entretanto, os valores de HbA1c podem estar falsamente elevados ou baixos ( Diabetes melito (DM) : Monitoramento),
e os exames devem ser realizados em um laboratório clínico certificado e padronizado para análise de referência. As
medições de HbA1c nos pontos de atendimento não devem ser utilizadas para fins diagnósticos, embora possam ser
usadas para monitorar o controle do DM.
As medidas de glicose na urina, anteriormente de uso comum, não são mais empregadas para diagnóstico ou
monitoramento em razão de não serem sensíveis nem específicas.

Dicas e conselhos CALCULADORA CLÍNICA:

Testes de HbA1c feitos em pontos de Avaliação do risco

atendimento não são suficientemente cardiovascular (em 10 anos,

precisos para que possam ser utilizados ACC/AHA 2013)

para o diagnóstico inicial do diabetes.


CALCULADORA CLÍNICA:

Risco de 5 anos de doença


cardiovascular no diabetes
tipo I

CALCULADORA CLÍNICA:

Autoavaliação do risco de
diabetes

Critérios diagnósticos do diabetes melito e comprometimento da


regulação da glicose*
Exame Normal Alteração da regulação da glicose Diabetes
FPG (mg/dL [mmol/L]) < 100 (< 5,6) 100 – 125 (5,6 – 6,9) ≥126 (≥7,0)
TOTG (mg/dL [mmol/L]) < 140 (< 7,7) 140 – 199 (7,7 – 11,0) ≥ 200 (≥ 11,1)
HbA1c (%) < 5,7 5,7–6,4 ≥ 6,5
*Ver também American Diabetes Association: Standards of Medical Care in Diabetes. Diabetes Care 39:
Supplement 1: S1–S119, 2016.
FPG = glicose plasmática em jejum; HbA1c= hemoglobina glicosilada; TOTG = teste oral do nível de tolerância à
glicose de 2 h.

Cookies
CALCULADORA CLÍNICA:

Avaliação glicêmica

Triagem de doenças
Deve-se fazer o rastreamento do diabetes melito nos pacientes com risco da doença. Pacientes com diabetes melito
são rastreados quanto à presença de complicações.
Indivíduos com alto risco de diabetes melito tipo 1 (p. ex., irmãos e filhos de indivíduos com diabetes melito tipo 1)
podem ser examinados quanto à presença de anticorpos de células das ilhotas ou antidescarboxilase do ácido
glutâmico, que precedem o início da doença clínica. Entretanto, não há estratégias de prevenção comprovadas para
indivíduos de alto risco e, assim, a triagem costuma ser reservada a ambientes de pesquisa.
Os fatores de risco para o diabetes tipo 2 são
Idade ≥ 45 anos

Sobrepeso ou obesidade

Estilo de vida sedentário

História familiar de diabetes melito

História de comprometimento da regulação da glicose

Diabetes melito gestacional ou parto de bebê > 4,1 kg

História de hipertensão

Dislipidemia (HDL < 35 mg/dL ou triglicerídeos > 250 mg/dL)

História de doença cardiovascular

Síndrome do ovário policístico

Raça/etnia negra, hispânica, asiática-americana ou índigena norte-americana

CALCULADORA CLÍNICA:

Índice de massa corporal


(índice de Quetelet)

Pessoas ≥ 45 anos e todos os adultos com outros fatores de risco descritos acima devem fazer rastreamento do
diabetes melito por taxa de filtração glomerular, HbA1c, ou TOTG de 75 g em 2 h pelo menos uma vez a cada 3 anos,
desde que as dosagens da glicemia estejam normais e, pelo menos uma vez por ano, se os resultados revelarem
alterações das concentrações da glicose de jejum ( Critérios diagnósticos do diabetes melito e comprometimento da
regulação da glicose*).

Triagem de complicações
Todos os pacientes com diabetes melito tipo 1 devem iniciar o rastreamento das complicações do diabetes 5 anos
depois do diagnóstico. Para pacientes com diabetes melito tipo 2, a triagem inicia-se na ocasião do diagnóstico. A
triagem típica de complicações é feita
Exame dos pés

Exame fundoscópico

Dosagem de albumina urinária

Medição de creatinina sérica e perfil lipídico

Fazer o exame exame dos pés pelo menos uma vez por ano para avaliar o comprometimento da sensibilidade a
pressão, vibração, dor ou temperatura, que caracterizam a neuropatia periférica. Testa-se a sensibilidade à pressão
com estesiômetro de monofilamento ( Triagem do pé diabético.). Deve-se examinar todo o pé, em especial a pele sob
os metatarsos, em relação a rachaduras e sinais de isquemia, como ulcerações, gangrena, infecções de unha por
Cookies
fungos, diminuição de pulsos e perda de pelos.
Um oftalmologista deve fazer o exame de fundo de olho; o intervalo de rastreamento é tipicamente anual para os
pacientes com algum tipo de retinopatia e a cada 2 anos para aqueles sem retinopatia no exame anterior. Se houver
progressão da retinopatia, pode ser necessária uma avaliação mais frequente.
Fazer exame de urina matinal ou de 24 h para detectar albuminúria, e dosar a creatinina sérica anualmente para
avaliar a função renal.
Vários médicos consideram ECG básico importante dado o risco de doenças cardíacas. O perfil lipídico deve ser
verificado pelo menos uma vez por ano e com maior frequência se houver anormalidades. Aferir a pressão arterial em
todos os exames físicos.

Referência sobre diagnóstico


1. American Diabetes Association: Standards of Medical Care in Diabetes. Diabetes Care 39: Supplement 1: S1–S119,
2016.

Tratamento
Dieta e atividade física

Para diabetes melito tipo 1, insulina

Para o DM tipo 2 fazer hipoglicemiantes orais, agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon
(GLP-1) injetáveis, insulina ou uma combinação destes

Para prevenir as complicações, usar bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (inibidores da


ECA ou bloqueadores dos receptores da angiotensina II), estatinas e ácido acetilsalicílico

O tratamento do diabetes melito é feito com modificações do estilo de vida e fármacos. Os pacientes com diabetes
tipo 1 precisam tomar insulina. Alguns pacientes com diabetes tipo 2 podem conseguir evitar ou interromper o
tratamento medicamentoso se chegarem a manter os níveis de glicemia estáveis apenas com dieta e exercícios. Para
uma discussão detalhada, ver Tratamento medicamentoso do diabetes.

Objetivos e métodos
O tratamento envolve o controle da hiperglicemia para aliviar sintomas e prevenir complicações, enquanto minimiza
episódios de hipoglicemia.
Os objetivos do controle glicêmico são
Glicemia pré-prandial entre 80 e 130 mg/dL (4,4 a 7,2 mmol/L)

Aumento máximo pós-prandial (1 a 2 h após o início da refeição) glicemia < 180 mg/dL (10 mmol/L)

Concentrações de HbA1c< 7%

Os níveis da glicemia costumam ser verificados por monitoramento em casa da glicemia capilar (p. ex., por uma picada
no dedo) e pela estabilização dos níveis séricos de HbA1c< 7%. Esses objetivos podem ser ajustados para pacientes
cujo controle estrito da glicose não é aconselhável, como idosos, pacientes com baixa expectativa de vida, pacientes
que apresentam crises repetidas de hipoglicemia, em especial hipoglicemia despercebida; e pacientes que não
conseguem comunicar sintomas de hipoglicemia (p. ex., crianças pequenas, pacientes com demência). Por outro lado,
em alguns casos os profissionais de saúde podem recomendar metas mais rigorosas de HbA1c (< 6,5%) se for possível
alcançar esses objetivos sem hipoglicemia. Os potenciais candidatos a um controle glicêmico mais rigoroso são os
pacientes que não estão sendo tratados com fármacos que induzem hipoglicemia, aqueles com diabetes melito há
pouco tempo, aqueles com expectativa de vida longa e aqueles sem doença cardiovascular.
Os principais elementos para todos os pacientes são educação do paciente, orientação de exercícios e alimentação e
monitoramento do controle glicêmico.
Todos os pacientes com diabetes melito tipo 1 precisam fazer tratamento com insulina.
Os pacientes com diabetes melito tipo 2 e glicemia discretamente elevada devem iniciar o tratamento com dieta e
exercícios, seguidos de hipoglicemiante oral se as alterações de estilo de vida não forem suficientes, fármacos orais
adicionais orais e/ou agonistas do receptor de GLP-1 conforme necessário (tratamento combinado) e insulina quando
o tratamento combinado for ineficaz em alcançar os objetivos recomendados. A metformina é geralmente o primeiro
fármaco oral utilizado, embora nenhuma evidência suporte a utilização de um fármaco ou classe de fármacos em
particular; a decisão muitas vezes envolve a consideração dos efeitos adversos, conveniência e preferência do
paciente.
Os pacientes com diabetes melito tipo 2 e aumento importante da glicemia no momento do diagnóstico são
orientados, tipicamente, a fazer modificações de estilo de vida e, simultaneamente, a tomar um ou mais
hipoglicemiantes. Cookies
Iniciar o tratamento com insulina para gestantes com diabetes melito tipo 2 e para os pacientes com descompensação
metabólica aguda, como estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) ou cetoacidose diabética (CAD). Os pacientes com
hiperglicemia importante (glicose plasmática > 400 mg/dL ou 22,2 mmol/L) podem responder melhor ao tratamento
após a normalização dos níveis de glicose por um breve período de tratamento com insulina.
Pacientes com alteração da tolerância à glicose devem receber orientação relacionada ao risco de desenvolvimento de
diabetes melito e sobre a importância das alterações de estilo de vida na prevenção da doença. Eles devem ser
rigorosamente monitorados quanto ao desenvolvimento de sintomas de diabetes melito ou elevação de glicemia
plasmática. Os intervalos ideais de seguimento ainda não foram determinados, mas é provável que verificações anuais
ou bianuais sejam apropriadas.

Orientação do paciente
Orientar o paciente quanto às causas de diabetes melito, dieta, atividade física, fármacos, automonitoramento com
testes de ponta de dedo e sinais e sintomas de hipoglicemia, hiperglicemia e complicações do diabetes é essencial
para otimizar o tratamento. A maioria dos pacientes com diabetes melito tipo 1 também pode aprender a titular suas
doses de insulina. As orientações devem ser reforçadas a cada consulta médica e hospitalização. Os programas de
educação formal para os diabéticos, em geral feitos por enfermeiros e nutricionistas, costumam ser muito eficazes.

Dieta
Ajustar a dieta às circunstâncias individuais pode ajudar os pacientes a controlar as flutuações dos seus níveis de
glicose e, para os pacientes com diabetes melito tipo 2, a perder peso.
Em geral, todos os diabéticos devem ser orientados quanto a dieta pobre em gorduras saturadas e colesterol e que
contenha quantidades moderadas de carboidratos, de preferência provenientes de fontes de grãos integrais com alto
conteúdo de fibras. Embora as proteínas e gorduras contribuam para a ingestão calórica (e, assim, para ganho ou
perda ponderal), apenas os carboidratos apresentam efeito direto sobre as concentrações de glicose no sangue. Uma
dieta pobre em carboidratos e rica em gorduras melhora o controle glicêmico para alguns pacientes e pode ser usada
por um curto período de tempo, mas sua segurança a longo prazo é incerta.
Pacientes com diabetes melito tipo 1 devem utilizar a contagem de carboidratos ou o sistema de trocas de
carboidratos para tornar equivalente a dose de insulina à ingestão de carboidratos e facilitar a reposição fisiológica de
insulina. Faz-se a “contagem” de carboidratos na refeição para o cálculo da dose de insulina pré-refeição. Por exemplo,
se for usada a proporção carboidrato:insulina (RCI) de 15 gramas:1 unidade, um paciente precisaraá de 1 UI de
insulina de ação rápida para cada 15 g de carboidrato em uma refeição. Essas proporções podem variar
significativamente entre os pacientes, dependendo do grau de sensibilidade à insulina e devem ser adaptadas ao
paciente. Essa estratégia requer uma instrução detalhada para o paciente, sendo mais bem-sucedida quando
orientada por nutricionistas experientes em trabalhar com pacientes diabéticos. Alguns especialistas aconselharam o
uso do índice glicêmico (medição do impacto da ingestão de um alimento contendo carboidrato no nível de glicose no
sangue) para determinar os carboidratos de metabolismo rápido e lento, embora existam poucas evidências
embasando essa estratégia.
Pacientes com diabetes melito tipo 2 devem restringir as calorias, comer regularmente, aumentar a ingestão de fibras
e limitar a ingestão de carboidratos refinados e gorduras saturadas. A consulta com nutricionista deve complementar
a orientação médica; o paciente e o indivíduo que prepara as refeições do paciente devem estar presentes.

Exercício
Os exercícios devem aumentar gradativamente até o nível que o paciente possa tolerar. Tanto os exercícios aeróbicos
como os exercícios de resistência comprovaram melhorar o controle glicêmico no diabetes tipo 2, e vários estudos
demonstraram que a combinação de exercícios de resistência e aeróbicos é melhor do que cada um isoladamente.
Pacientes que apresentam sintomas de hipoglicemia durante a atividade física devem ser orientados a medir a
glicemia e ingerir carboidratos ou reduzir a dose de insulina de forma a ter a glicose discretamente acima do normal
pouco antes do exercício. Hipoglicemia durante atividade física vigorosa pode tornar necessária a ingestão de
carboidratos durante o período de trabalho, tipicamente de 5 a 15 g de sacarose ou outro açúcar simples.
Os pacientes com doença cardiovascular suspeita ou comprovada podem se beneficiar do teste de esforço antes de
iniciar um programa de exercícios. As metas da atividade talvez precisem ser modificadas para os pacientes com
complicações do diabetes como a neuropatia e a retinopatia.

Perda ponderal
Fármacos para a perda ponderal, como orlistate, lorcaserina, fentermina/topiramato e naltrexona/bupropiona podem
ser úteis para alguns pacientes como parte de um programa abrangente de perda ponderal, embora a lorcaserina só
possa ser usada por pouco tempo. O orlistate, um inibidor da lipase intestinal, diminui a absorção de gorduras da
dieta, reduz os lipídios plasmáticos e ajuda a promover a perda ponderal. Lorcaserina é um agonista do receptor de
serotonina que provoca saciedade e, assim, reduz a ingestão de alimentos. Fentermina/topiramato é um fármaco de
combinação que reduz o apetite por meio de múltiplos mecanismos no cérebro. Muitos desses fármacos também
mostraram reduzir significativamente a HbA1c.
Cookies
O tratamento cirúrgico da obesidade, como a colocação de uma banda gástrica, a gastrectomia vertical ou a derivação
gástrica também promovem redução do peso e melhorad o controle glicêmico (independentemente da perda
ponderal) nos pacientes com diabetes melito que não conseguem perder peso por outros meios.

Cuidados com os pés


Cuidados regulares com podólogo profissional, incluindo aparar as unhas e calosidades, são importantes para
pacientes com perdas sensoriais ou alterações circulatórias. Tais pacientes devem ser orientados a inspecionar os pés
diariamente, para verificar rachaduras, fissuras, calos, esporões e úlceras. Os pés devem ser lavados todos os dias
com sabão neutro em água morna e secados gentilmente e por completo. Um lubrificante (p. ex., lanolina) deve ser
aplicado à pele seca e descamativa. Talcos sem medicação para os pés devem ser aplicados para pés úmidos. As
unhas dos pés devem ser cortadas, de preferência por um podólogo, ao longo mas não muito próximo da pele. Não
devem ser utilizados na pele adesivos ou esparadrapos, adstringentes químicos, curativos para calos, vidros com água
e coxins elétricos. Os pacientes devem trocar as meias diariamente e não utilizar roupas apertadas (p. ex., ligas, meias
com barras elásticas apertadas).
Os sapatos devem ser bem ajustados e com a frente larga, sem calcanhares abertos ou dedos de fora, e devem ser
trocados com frequência. Sapatos especiais devem ser prescritos para reduzir traumas se houver deformidades nos
pés (p. ex., amputação anterior de dedos, dedo em martelo, joanetes). Deve-se evitar andar descalço.
Pacientes com úlceras neuropáticas nos pés devem evitar suporte de peso até que as úlceras cicatrizem. Se não
puderem, devem utilizar proteção ortótica adequada. Como a maioria dos pacientes com essas úlceras apresenta
pouca ou nenhuma doença vascular oclusiva, o desbridamento com uso de antibióticos costuma resultar em boa
cicatrização e pode evitar uma grande cirurgia. Após a cicatrização da úlcera, prescrevem-se apoios apropriados ou
sapatos especiais. Em casos refratários, em especial se houver osteomielite, pode ser necessária a remoção cirúrgica
da cabeça do metatarso (a fonte da pressão) ou a amputação transmetatársica ou do dedo envolvido. Uma articulação
neuropática pode ser tratada com aparelhos ortopédicos (p. ex., talas curtas nas pernas, sapatos moldados, suportes
de arco de esponja e borracha, muletas e próteses).

Vacinação
Todos os diabéticos devem ser vacinados contra o Streptococcus pneumoniae (uma vez) e o vírus da influenza
(anualmente).

Monitoramento
Pode-se monitorar o controle do diabetes melito dosando os níveis séricos de
Glicose

HbA1c

Frutosamina

O automonitoramento de glicemia do sangue total utilizando sangue da ponta do dedo, fitas de teste e glicosímetro é
muito importante. Deve-se empregá-los para auxiliar os pacientes a ajustar a alimentação, dosagem de insulina e para
ajudar o médico a recomendar ajustes nos horários e nas doses dos fármacos.
Há vários equipamentos disponíveis para o monitoramento. Quase todos precisam tiras com reagentes e um método
de furar a pele para obter uma amostra de sangue. A maioria vem com soluções de controle, que devem ser usadas
periodicamente para verificar a calibração correta do medidor. A escolha entre os aparelhos em geral baseia-se nas
preferências do paciente quanto a características como tempo e resultados (normalmente de 5 a 30 segundos),
tamanho do painel do monitor (telas grandes são benéficas para pacientes com dificuldades de visão) e necessidade
de calibrar. Também estão disponíveis glicosímetros que permitem a realização de exames em locais menos dolorosos
que as pontas dos dedos (palmas das mãos, antebraço, porção superior do braço, abdome e coxa).
Equipamentos para monitoramento contínuo de glicose utilizando um cateter subcutâneo podem fornecer
resultados em tempo real, incluindo um alarme para hipoglicemia, hiperglicemia ou para alterações rápidas das
concentrações de glicose. Esses dispositivos são caros e a maioria não elimina a necessidade de exames de glicemia
capilar, mas podem ser úteis para alguns pacientes (p. ex., aqueles com quadros não identificados de hipoglicemia ou
hipoglicemia noturna).
Pacientes com baixo controle glicêmico e que recebem fármacos novos ou uma nova dosagem de fármaco já existente
devem ser solicitados a realizar o monitoramento de 1 vez (em geral em jejum pela manhã) a ≥ 5 vezes/dia,
dependendo das necessidades e habilidades do paciente e da complexidade do esquema de tratamento. A maioria
dos pacientes com diabetes melito tipo 1 se beneficia da realização de testes pelo menos 4 vezes/dia.
Os níveis de 1CHbA refletem o controle glicêmico nos últimos 3 meses, avaliando assim o controle entre as consultas
médicas. A HbA1C deve ser medida a cada 3 meses em pacientes com diabetes melito tipo 1 e pelo menos duas vezes
por ano em pacientes com diabetes melito tipo 2, quando a glicose plasmática parece estável e com mais frequência
quando o controle é incerto. Os kits de testes domiciliares são úteis para pacientes capazes de seguir rigorosamente
as instruções dos testes. Cookies
Às vezes, o controle sugerido pelos valores de HBA1c parece diferir das leituras diárias da glicose, em razão de valores
falsamente elevados ou normais de glicose. Pode haver falso aumento da renovação eritorcitária (como na anemia por
deficiência de ferro, folato ou vitamina B12), com altas doses de ácido acetilsalicílico e altas concentrações séricas de
etanol. Valores falsamente normais ocorrem com aumento do turnover de eritrócitos, como nas anemias hemolíticas e
hemoglobinopatias (p. ex., HbS, HbC) ou durante o tratamento de anemias por deficiências. Nos pacientes com doença
renal crônica de estágio 4 e 5, a correlação entre a HbA1c e os níveis glicêmicos é ruim e HbA1c pode estar falsamente
diminuída nessas populações.
A frutosamina, que é principalmente albumina glicosilada, mas também inclui outras proteínas glicosiladas, reflete o
controle de glicose nas últimas 1 a 2 semanas. O monitoramento da frutosamina pode ser utilizado durante o
tratamento intensivo do diabetes melito e para pacientes com variantes de hemoglobina ou alto turnover de
eritrócitos (que causam resultados falsos de HbA1C), mas é usada principalmente em ambientes de pesquisa.
O monitoramento da glicose na urina fornece uma indicação grosseira de hiperglicemia e só pode ser recomendado
quando o monitoramento de glicose no sangue for impossível. Por outro lado, o automonitoramento de cetonas na
urina é recomendado para pacientes com diabetes melito tipo 1 que apresentam sinais, sintomas ou desencadeantes
de cetoacidose, como náuseas, vômitos, dor abdominal, febre, sintomas de gripe ou resfriado ou hiperglicemia
mantida não habitual (> 250 a 300 mg/dL [13,9 a 16,7 mmol/L]) no automonitoramento da glicose.

Transplante de pâncreas
O transplante de pâncreas e transplante de células das ilhotas pancreáticas são meios alternativos de oferta de
insulina; as duas técnicas transplantam com eficácia células beta produtoras de insulina para pacientes com
deficiência de insulina (tipo 1). As indicações, as fontes dos tecido, os procedimentos e as restrições das duas técnicas
são discutidos em outras partes do texto.

Populações e ambientes especiais


O termo diabetes lábil refere-se a pacientes que têm variações drásticas reincidentes nas concentrações de glicose,
em geral sem razão aparente. Contudo, este conceito não possui fundamentação biológica e não deve ser usado. A
labilidade da glicemia têm maior probabilidade de ocorrer nos pacientes com diabetes melito tipo 1 por conta da total
ausência de produção de insulina endógena e, em alguns pacientes, do comprometimento da resposta
contrarregulatória à hipoglicemia. Outras causas incluem infecções ocultas, gastroparesia (que provoca absorção
errática de carboidratos alimentares) e endocrinopatias (p. ex., doença de Addison).
Pacientes com dificuldade crônica para manter concentrações aceitáveis de glicose devem ser avaliados em relação a
fatores situacionais que afetam o controle de glicose. Tais fatores incluem orientação ou compreensão inadequada do
paciente, causando erros na administração de insulina, bem como escolhas alimentares inapropriadas e sofrimento
psicológico, que se expressa em padrões erráticos de uso de medicamentos e ingestão alimentar.
A abordagem inicial desses pacientes é uma revisão completa das técnicas de autotratamento do diabetes, incluindo
preparação e injeção de insulina e realização de testes de glicemia. O aumento da frequência de autoteste pode
revelar padrões anteriormente não conhecidos e proporciona feedback útil para o paciente. Uma história alimentar
completa, incluindo horários de refeições, deve ser feita para identificar o que contribui para o mau controle. As
causas subjacentes devem ser excluídas por exame físico e exames laboratoriais adequados. Para alguns pacientes
tratados com insulina, é útil a mudança para esquemas mais intensivos que permitam ajustes frequentes de doses
(com base em testes de glicose). Em alguns casos, a frequência de episódios de hipo e hiperglicemia diminui ao longo
do tempo, mesmo sem tratamento específico, sugerindo que circunstâncias da vida possam contribuir para as causas.

Crianças
O diabetes infantil é discutido em mais detalhes em outras partes do texto.
Crianças com diabetes melito tipo 1 necessitam de reposição fisiológica de insulina assim como os adultos, sendo
utilizados esquemas similares de tratamento, incluindo bombas de insulina. Entretanto, o risco de hipoglicemia,
devido aos padrões imprevisíveis de refeições e atividades e à incapacidade de relatar sintomas de hipoglicemia, pode
tornar necessárias mudanças nos objetivos de tratamento. A maioria das crianças pequenas pode aprender a
participar ativamente de seus tratamento, inclusvie dosando a glicemia e aplicando as injeções de insulina. Os
funcionários da escola e outros cuidadores devem ser informados sobre a doença e instruídos sobre a detecção e o
tratamento de episódios de hipoglicemia. Em geral, a triagem quanto a complicações microvasculares pode ser
postergada até a puberdade.
Crianças com diabetes melito tipo 2 requerem a mesma atenção em relação à dieta e ao controle de peso, bem
como ao reconhecimento e tratamento de dislipidemia e hipertensão, que os adultos. A maioria das crianças com DM
tipo 2 tem obesidade, de modo que as modificações de estilo de vida são a base do tratamento. Crianças com
hiperglicemia leve geralmente iniciam o tratamento com metformina, a menos que apresentem cetose, insuficiência
renal ou outra contraindicação à utilização de metformina. A dose é de 500 a 1.000 mg, 2 vezes/dia. Se a resposta não
for adequada, pode-se acrescentar insulina. Alguns pediatras também consideram o uso de tiazolidinedionas,
sulfonilureias, agonistas do receptor de GLP1 e inibidores da dipeptidil peptidase 4 como parte do tratamento
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combinado.
Adolescentes
O diabetes nos adolescentes é discutido em mais detalhes em outras partes do texto. O controle de glicemia
tipicamente piora à medida que as crianças com diabetes melito entram na adolescência. Diversos fatores contribuem,
como o ganho de peso na pudberdade e induzido pela insulina; as alterações hormonais que diminuem a
sensibilidade à insulina; os fatores psicossociais que levam à não adesão à insulina (p. ex., alterações do humor e
transtornos da ansiedade); conflitos familiares, rebeldia e pressão dos colegas; distúrbios alimentares que levam à
omissão da insulina como método de controlar o peso; e a experimentação de cigarro, álcool e drogas ilícitas. Por
essas razões, alguns adolescentes apresentam episódios reincidentes de hiperglicemia e cetoacidose diabética que
tornam necessárias consultas em pronto-socorro e hospitalização.
O tratamento envolve supervisão médica intensiva associada a intervenções psicossociais (p. ex., orientação ou grupos
de apoio), terapia individual ou familiar e psicofármacos, quando indicado. A orientação do paciente é importante, de
forma que os adolescentes possam ter as liberdades do início da idade adulta. Em vez de julgar as escolhas e os
comportamentos individuais, os profissinais de saúde devem reforçar continuamente a necessidade do controle
glicêmico rigoroso, em especial o monitoramento frequente da glicemia e uso de baixas doses de insulinas de ação
ultrarrápida, se necessário.

Hospitalização
O diabetes melito pode ser a principal causa de hospitalização ou pode acompanhar outras doenças que tenham
indicação de internação hospilatar para o seu tratamento. Todos os diabéticos com cetoacidose diabética, EHH e
hipoglicemia prolongada ou grave devem ser hospitalizados. Os pacientes com hipoglicemia induzida por
sulfonilureias, hiperglicemia descompensada e agravamento agudo das complicações diabéticas podem se beneficiar
de curtos períodos de hospitalização. Crianças e adolescentes com diabetes de início recente também podem se
beneficiar de hospitalização. O controle pode piorar na alta, quando os esquemas de insulinas implementados com o
paciente internado forem inadequados para o controle em condições fora do hospital.
Quando outras doenças indicam a hospitalização, alguns pacientes podem continuar com os esquemas terapêuticos
do diabetes feitos em casa. Contudo, o controle de glicemia às vezes pode ser difícil, sendo frequentemente
negligenciado em caso de outras doenças concomitantes mais agudas. A restrição de atividade física e as doenças
agudas agravam a hiperglicemia em alguns pacientes, ao passo que as restrições alimentares e os sintomas que
acompanham as doenças (p. ex., náuseas, vômitos, anorexia, diarreia) precipitam a hipoglicemia em outros — em
especial quando as fármacos anti-hiperglicemiantes não são alteradas. Além disso, pode ser difícil controlar a glicose
de modo adequado em pacientes hospitalizados por caus das rotinas hospitalares habituais (p. ex., horário das
refeições, medicações e procedimentos) não terem horários flexíveis de acordo com o esquema de tratamento do
diabetes.
No ambiente hospitalar, os hipoglicemiantes orais geralmente precisam ser suspensos. A metformina pode causar
acidose láctica nos pacientes com insuficiência renal e deve ser suspensa se houver necessidade de usar contraste
radiológico sendo, portanto, suspensa para todos os pacientes hospitalizados, exceto os mais estáveis. As
sulfonilureias podem causar hipoglicemia e devem ser suspensas. A maioria dos pacientes pode ser apropriadamente
tratada com insulina basal com ou sem complementação com insulina de ação rápida. Os inibidores da dipeptidil
peptidase 4 são relativamente seguros, mesmo para os pacientes com doença renal, e também podem ser usados
para a redução da glicemia pós-prandial. Uma escala de aplicação de insulina não deve ser a única intervenção para
correção da hiperglicemia; é reativa e não proativa e não há dados que sugiram resultados equivalentes ou melhores
que outras abordagens. Insulinas de ação mais prolongada devem ser ajustadas para evitar hipoglicemias, em vez de
se utilizarem as insulinas de ação rápida para correção.
A hiperglicemia nos pacientes internados piora o prognóstico em curto prazo de várias doenças agudas, sobretudo
nos casos de acidente vascular encefálico e infarto agudo do miocárdio, e em geral prolonga a internação hospitalar.
Doenças graves causam resistência à insulina e hiperglicemia, mesmo nos pacientes sem diagnóstico de diabetes
melito. A infusão de insulina para manter a glicemia entre 140 e 180 mg/dL (7,8 e 8,3 mmol/L) evita resultados
adversos, como insuficiências de órgãos, pode melhorar a recuperação de acidentes vasculares cerebrais e promove
melhora da sobrevida em pacientes que necessitam de cuidados críticos prolongados (> 5 dias). Anteriormente, os
níveis de glicose alvo eram mais baixos; entretanto, parece que os alvos menos rigorosos como descrito acima podem
ser suficientes para prevenir efeitos adversos, particularmente em pacientes sem doença cardíaca. Pacientes
gravemente enfermos, em especial os que recebem glicocorticoides ou agentes pressóricos, podem necessitar de
doses muito altas de insulina (> 5 a 10 U/h) em razão da resistência à insulina. A infusão de insulina deve ser
considerada para todos os pacientes que recebem nutrição parenteral total e para aqueles com diabetes melito tipo 1
que não conseguem ingerir nada por via oral.

Cirurgia
O estresse fisiológico da cirurgia pode elevar a glicemia em pacientes com diabetes melito e induzir cetoacidose
naqueles com diabetes melito tipo 1. Para procedimentos mais curtos, pode-se usar insulina subcutânea. Nos
pacientes com diabetes tipo 1, metade a dois terços da dose matinal habitual de insulina de ação intermediária ou 70
a 80% da dose de insulina de ação prolongada (glargina ou detemir) devem ser administrados
Cookiesna manhã anterior à da
cirurgia, com infusão IV de soro glicosado a 5% em uma velocidade de 100 a 150 mL/h. Durante e após a cirurgia, a
glicemia plasmática (e cetonas, se a hiperglicemia sugerir a necessidade) deve ser verificada a cada 2 h. A infusão de
soro glicosado é mantida e a insulina regular SC é administrada a cada 4 a 6 h, conforme necessário, de modo a
manter a glicemia entre 100 e 200 mg/dL (5,55 a 11,01 mmol/L), até o paciente poder voltar a se alimentar por via oral
e retomar o seu esquema habitual de insulina. Doses adicionais de insulina de ação intermediária ou prolongada
devem ser administradas se houver atraso substancial (> 24 h) na volta ao esquema habitual. Essa abordagem
também pode ser utilizada para pacientes com diabetes melito tipo 2 tratados com insulina, mas pode-se omitir as
medidas frequentes de cetonas.
Alguns médicos preferem suspender a insulina SC ou inalatória no dia da cirurgia e administrar insulina por infusão
venosa. Para os pacientes submetidos a uma cirurgia de grande porte ou demorada, a infusão de insulina é preferível,
especialmente porque a necessidade de insulina pode aumentar com o estresse da cirurgia. Pode-se administrar a
infusão IV de insulina ao mesmo tempo que o soro glicosado intravenoso para manter a glicemia. Uma estratégia é
combinar glicose, insulina e potássio no mesmo frasco (esquema GIP), por exemplo, combinando soro glicosado a 10%
com 10 mmol de potássio e 15 unidades de insulina em uma frasco de 500 mL. Ajustar as doses de insulina em
incrementos de 5 unidades. Essa estratégia não é usada em muitas instituições por causa da necessidade frequente
de misturar e a troca de frascos necessárias para se ajustar à glicemia do paciente. Uma estratégia mais comum nos
EUA é a infusão separada de insulina e glicose. A insulina pode ser infundida na velocidade de 1 a 2 U/h com 75 a 150
mL/h de soro glicosado a 5%. Talvez seja necessário diminuir a velocidade da insulina para os pacientes diabéticos tipo
1 mais sensíveis à insulina e aumentá-la para os pacientes diabéticos tipo 2 mais resistentes à insulina. Também pode-
se usar soro glicosado a 10%. É importante, especialmente no diabetes tipo 1 não suspender a infusão de insulina, a
fim de evitar o quadro de cetoacidose diabética, porque a adsorção da insulina ao frasco IV pode causar efeitos
erráticos, o que pode ser minimizado pré-lavando os circuito venoso com solução de insulina. A infusão de insulina é
mantida durante a recuperação, com o ajuste de insulina com base nas concentrações de glicose plasmática obtidas
na sala de recuperação e em intervalos de 1 a 2 h daí em diante.
A maioria dos pacientes com diabetes melito tipo 2 tratados com anti-hiperglicemiantes orais mantém concentrações
aceitáveis de glicose quando permanecem em jejum e podem não necessitar de insulina no período perioperatório. A
maioria dos fármacos orais, como as sulfonilureias e a metformina, deve ser suspensa no dia da cirurgia e a glicemia
deve ser dosada a cada 6 h no pré e no pós-operatório e enquanto o paciente estiver recebendo hidratação venosa.
Os fármacos orais podem ser reintroduzidos quando os pacientes estiverem aptos a se alimentar, mas deve-se
suspender a metformina até que se confirme a função renal normal 48 h após a cirurgia.

Prevenção

Diabetes tipo 1
Nenhum tratamento previne, de forma definitiva, o início ou a evolução do diabetes melito tipo 1. A azatioprina, os
corticoides e a ciclosporina induzem remissão do diabetes melito tipo 1 de início precoce em alguns pacientes,
presumivelmente por meio da supressão da destruição autoimune das células beta das ilhotas pancreáticas.
Entretanto, a toxicidade e a necessidade de tratamento por toda a vida limitam sua utilização. Em alguns pacientes, o
tratamento com anticorpos monoclonais anti-CD3 reduz as necessidades de insulina pelo menos no primeiro ano de
doença de início recente, por meio da supressão de resposta imunitária de células T.

Diabetes tipo 2
O diabetes melito tipo 2 pode ser prevenido com mudanças no estilo de vida. Perda ponderal de até 7% do peso
corporal basal, associada a atividade física moderada a intensa (p. ex., caminhada de 30 min/dia), pode reduzir em >
50% a incidência de diabetes melito em indivíduos de alto risco. Metformina e acarbose também parecem reduzir o
risco de diabetes melito em pacientes com intolerância à glicose. As tiazolidinedionas também podem ter ação
protetora. No entanto, mais estudos são necessários antes que as tiazolidinedionas possam ser recomendadas para a
preventção de rotina.

Complicações
O risco de complicações do diabetes pode ser reduzido por meio do controle estrito da glicemia, definida como
HbA1c< 7% e pelo controle da hipertensão arterial sistêmica e dos níveis de lipídios. Medidas específicas para a
prevenção da evolução das complicações depois de detectadas estão descritas em Complicações e Tratamento.

Pontos-chave

O diabetes tipo 1 é causado pela ausência de insulina por inflamação autoimune das células beta das
ilhotas pancreáticas. Cookies
O diabetes tipo 2 é causado por resistência hepática à insulina (causando incapacidade de suprimir a
gliconeogênese hepática), resistência periférica à insulina (que prejudica a absorção periférica da
glicose) em combinação a um defeito de secreção das células beta das ilhotas pancreáticas.

As complicações microvasculares incluem nefropatia, neuropatia e retinopatia.

As complicações macrovasculares envolvem aterosclerose resultando em doença coronariana,


TIA/acidente vascular cerebral e insuficiência arterial periférica.

Diagnosticar de acordo com nível elevado de glicose plasmática em jejum e/ou HbA1c elevada e/ou
valor de 2 h no TOTG.

Fazer triagem regular para complicações.

Tratar com dieta, atividade física e insulina e/ou fármacos anti-hiperglicêmicos orais.

Em geral, administrar inibidores da ECA, estatinas e ácido acetilsalicílico, para prevenção de


complicações.

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