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Artigo - A Esquizofrenia Sob A Otica Humanista e Existencial PDF
Artigo - A Esquizofrenia Sob A Otica Humanista e Existencial PDF
INTRODUÇÃO
Definida atualmente por Pinho (2008) como uma doença mental grave, a esquizofrenia
é caracterizada por uma perturbação da personalidade, perda da capacidade para interferir na
realidade, alucinações, delírios, pensamento anormal e alteração do funcionamento social e
laboral.
No mínimo dois dos seguintes quesitos, cada qual presente por uma porção
significativa de tempo durante o período de um mês (ou menos, se tratados com
sucesso): (1) delírios; (2) alucinações; (3) discurso desorganizado (p.ex., freqüente
descarrilamento ou incoerência); (4) comportamento amplamente desorganizado ou
catatônico; (5) sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou abulia.
Numerosos sinais e sintomas foram sendo descritos para definir a sua caracterização
clínica e separá-la de outros transtornos.
A esse respeito Pinho (2008) destaca que os sintomas negativos são freqüentes na
esquizofrenia, porém são difíceis de avaliar, uma vez que ocorre na normalidade, são
inespecíficos, e podem ser devido a uma diversidade de outros fatores. Importante ressaltar
que os sintomas depressivos também acompanham as várias fases da doença.
Tendo como base o DSM-IV (2002), os subtipos de esquizofrenia são definidos pela
sintomatologia predominante à época da avaliação feita ao paciente diagnosticado
esquizofrênico. Sendo assim, a apresentação do diagnóstico pode incluir sintomas
característicos de mais de um subtipo. Atualmente são considerados os seguintes subtipos de
esquizofrenia: tipo paranóide, tipo desorganizado, tipo catatônico, tipo indiferenciado e tipo
residual.
Vale citar que conforme Afonso (2002) o diagnóstico da esquizofrenia, só pode ser
realizado pelas manifestações clínicas da doença, uma vez que não é possível efetuá-lo por
meio de exames laboratoriais ou imagiológicos.
A fenomenologia, no entanto, não aspira apenas fazer uma descrição dos objetos
intencionais que constituem a experiência originária da consciência; propõe-se também
estabelecer a essência dos fenômenos. Nas múltiplas e variadas manifestações de um
fenômeno, sempre podemos detectar um núcleo comum e um significado que percorrem e
unificam essa variedade fenomenológica; é o que denominamos a essência do fenômeno
(Romero, 1997).
Ainda citando o mesmo autor, temos que considerar o caráter intencional do fenômeno
psíquico. O mental não é algo que acontece apenas dentro da cabeça, sem maior relação com
o mundo fora. Pelo contrário, o mental está inteiramente direcionado para o mundo; é o
mundo refletido, de certa maneira, numa determinada pessoa. Uma vivência não é uma
experiência puramente objetiva; toda vivência é uma forma de relação que o sujeito estabelece
com os diversos objetos que constituem seu mundo. Buscar a compreensão do significado que
esse mundo particular tem para cada sujeito, por meio da descrição minuciosa de suas
vivências, é, portanto, o principal objetivo do método fenomenológico.
O homem como ser no mundo é uma das dimensões existenciais apontadas por
Heidegger. Com relação a este aspecto Heidegger explica que homem e mundo invocam-se
mutuamente, um não existe sem o outro. Isso significa que o mundo é uma realidade
puramente humana. O indivíduo está inserido completamente nessa realidade. Sair dessa
realidade é perder as características próprias do ser humano. Tudo o que nos acontece
subjetivamente se relaciona com algo que está ai, no mundo (Barbosa, 1998).
Na reflexão de Heidegger (1997 como citado em Tenório, 2009) o ser no mundo pode
ser desmembrado em três partes: o “ser”, o “mundo” e o “em”. O mundo em que o ser é, o
quem é no mundo, e o modo de ser-em-si-mesmo. A mundaneidade (materialidade) só se
deixa caracterizar mediante a compreensão do ser para quem existe um mundo, o ser que é-
no-mundo, por sua vez, só se revela a partir de sua “morada” (o mundo), e a relação de ser-em
pressupõe a compreensão dos termos que se relacionam no modo do “em”. O homem não “é”
primeiramente para depois criar relações com um mundo, ele é homem na exata medida de
seu ser-em, isto é, na exata medida em que possui um mundo ou abre o sentido de um mundo.
Não há sentimento, comportamento ou qualquer outro modo de ser de uma pessoa que
exista isoladamente como um fenômeno “em si”. Neste sentido, a perspectiva ontológica
compreende um sintoma ou síndrome não como uma coisa individual, mas como um estilo de
ser no mundo, uma postura total, e que como tal pode ser encontrado em vários domínios da
atividade humana.
Assim, encontrar a compreensão do significado que esse mundo particular tem para
cada sujeito através de suas vivências, é o principal objetivo do método fenomenológico E
compreender é estabelecer as relações de sentido que uma vivência possa explicar.
De acordo com Penha (1982 como citado em Tenório, 2009) uma psicologia de base
existencial-fenomenológico é relacional e intersubjetivo, ou seja, confirma a prioridade na
relação com o outro na constituição do sujeito. Isso significa que no início do
desenvolvimento, durante boa parte da infância, o indivíduo esteve subordinado aos domínios
dos cuidadores. Contudo, para que ocorra um desenvolvimento saudável e uma constituição da
individualidade, é necessário que ocorra um desenvolvimento saudável é necessário que
ocorra uma progressiva superação dessa primazia do outro, implicando num longo processo de
autoconsciência e questionamento de si mesmo e do mundo em que se encontra inserido.
Para Erthal (1989), não se trata de adaptar uma teoria a um indivíduo que apresenta
conflitos delimitados, mas, busca-se compreender a desordem de conduta de um indivíduo a
partir dele mesmo, através de seus sentimentos, sensações emoções, enfim, de tudo que por
ela é vivenciado. A pessoa no processo diagnóstico deve ser apreendida como sendo um
Revista Comunicar Psicologia, 2012, Lúcia Maria de Matos Viana
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fenômeno único e como tal respeitada em sua totalidade, não deve ser avaliada segundo
normas e padrões de comportamentos pré-estabelecidos, pois a vivência dessa pessoa é sua
própria explicação, sendo ela a melhor interprete de si mesma.
Nesta perspectiva, o psicólogo não pode apreender o mundo vivencial da pessoa a ser
diagnosticada, enquanto não suspender ou colocar entre parênteses todos seus pressupostos,
sua própria visão de mundo e conceitos, tanto quanto for humanamente exeqüível no
momento (Hycner, 1995 como citado em Tenório, 2009).
Sabe-se que muitos pacientes com a esquizofrenia sofrem não apenas de dificuldades
emocionais e do pensamento, mas também de falta de habilidades sociais e de uma boa
integração social. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a reintegração
do sujeito à família e à sociedade.
Na mesma linha de pensamento, Afonso (2002) afirma que a esquizofrenia requer uma
abordagem terapêutica abrangente, sendo necessária uma intervenção não só ao nível
farmacológico, que permite um controle dos sintomas da doença, mas também ao nível social,
psicoterapêutico, psicoeducativo, familiar e ocupacional.
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A esse respeito, destacou Rogers (1959 como citado em Freire, 2000), as condições de
valor impostas ao indivíduo em suas primeiras relações interpessoais significativas levam à
formação de um auto-conceito incongruente com a sua experiência organísmica, impedindo o
processo de auto-atualização do indivíduo. Para reverter este quadro, é necessário oferecer-lhe
uma relação interpessoal permeada de consideração positiva incondicional. A experiência de
ser aceito incondicionalmente é o verdadeiro agente da mudança terapêutica, pois possibilita
ao indivíduo experienciar uma auto-consideração incondicional. Esta aceitação de si mesmo
leva a uma maior integração entre o eu e a experiência organísmica e a uma conseqüente
mudança do auto-conceito, promovendo a auto-atualização, que é objetivo último de toda
psicoterapia.
Desta forma a Psicologia Humanista, como lembra Boainain Jr. (s.d.) busca
principalmente, assumir o compromisso de ajudar o homem a se transformar, a ser mais
humano, a tornar-se plenamente humano. Para esta abordagem, o objetivo de qualquer
tratamento pode ser expresso numa frase quase redundante: Levar a pessoa a ser ela mesma.
Proporcionar ao cliente a obtenção de um existir autêntico, autoconsciente, verdadeiro,
congruente e natural, sem divisões internas.
Sob o ponto de vista de Erthal (1989) uma visão de homem como um ser em busca
constante de si mesmo, que vive em contínuo processo de vir-a-ser e que apresenta uma
tendência natural para se desenvolver. Uma visão positiva de homem e das suas
potencialidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para nós humanistas, cura não é solucionar problemas, mas entrar em contato com a
tendência atualizante que cada um tem dentro de si, através de uma relação genuína,
congruente, ou seja, uma atitude amorosa para com a relação, acreditando em nós mesmos, no
outro e no mundo.
REFERÊNCIAS
Isaacs, (1998) A. Saúde mental e enfermagem psiquiátrica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Kooga.
Rogers, C. R. (1997). Tornar-se Pessoa, 4.ª edição, trad. M. J. Carmo Ferreira, Morais
Editores, Lisboa.