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IPCA 2020/2021

LUIZ DE CARVALHO 3.º ANO SOLICITADORIA


CONCEITO DE SUCESSÃO
q  Dá-se a SUCESSÃO quando uma pessoa fica investida
num direito ou numa obrigação (ou num conjunto de
direitos e/ou obrigações) que antes pertenciam e eram
tituladas por outra pessoa

q  Tais direitos e obrigações, hoje titulados num novo


sujeito, são, em regra, rigorosamente os mesmos que se
encontravam titulados no sujeito anterior e, por isso, são
tratados como tal.
SUCESSÃO EM VIDA / SUCESSÃO POR MORTE
§  A sucessão, em sentido amplo, pode operar-se em vida ou por morte

§  A sucessão inter vivos tem a sua génese num facto voluntário
(doação, venda, permuta, dação em pagamento, entre outros)

§  A sucessão mortis causa dá-se pelo facto da morte do sujeito,


denominado autor da sucessão, também designado por de cujus,
expressão proveniente de contração da frase latina “de cujus
sucessione agitur” (que significa “de cuja sucessão se trata”)

§  A “sucessão por morte” e a “transmissão em vida” – falência do critério


(artigos 412.º, 420.º, 1057.º, 1059.º, 1256.º, entre outros)
SUCESSÃO MORTIS CAUSA
A sucessão mortis causa concretiza-se num processo composto
por quatro fases ou elementos :

1.  A morte do titular das relações jurídicas (patrimoniais),


como pressuposto necessário da substituição operada

2.  A vocação (ou chamamento) do sucessor


3.  A devolução dos bens
4.  A manutenção da identidade das relações jurídico-
patrimoniais compreendidas na herança, não obstante a
mudança operada nos seus titulares
CONCEITO LEGAL DE SUCESSÃO
A sucessão no artigo 2024.º CCivil

q  A associação da sucessão com a transmissão

q  Não são só, nem são todas, as “relações


jurídicas patrimoniais”

q  A insuficiência da “devolução dos bens”


OBJETO E ÂMBITO DA SUCESSÃO
§  Nem todas as relações jurídicas detidas pelo de cujus são
transmitidas por morte ao seu sucessor
§  Regra geral, são transmissíveis por morte as relações jurídicas
patrimoniais e intransmissíveis as não patrimoniais (2024.º CC)
MAS
§  O critério de determinação dessa (in)transmissibilidade, todavia,
não se encontra exclusivamente na dicotomia relações jurídicas
pessoais / relações jurídicas patrimoniais – atente-se, v. g., no
artigo 2013.º n.º 1 a) CC
2024.º e 2025.º
OBJETO E ÂMBITO DA SUCESSÃO
Transmissibilidade por morte de alguns
direitos pessoais (não patrimoniais)

q  Direitos morais de autor

q  Proteção post mortem dos direitos de personalidade (71.º)

q  O direito de intentar certas ações de estado (1818.º, 1639.º)

q  Transmissão da posição de parte no processo (1640.º n.º 2,


1825.º)
OBJETO E ÂMBITO DA SUCESSÃO
Intransmissibilidade (ou inereditariedade) por morte de algumas
situações jurídicas patrimoniais

v  Direitos que se extinguem por natureza – o usufruto (1476.º


n.º 1 a), o uso e habitação (1485.º), o direito a alimentos
(2013.º n.º 1 a).
v  Direitos que se extinguem por determinação da lei – a
proposta de contrato (231.º n.º 2)
v  Direitos que se extinguem por convenção, mediante a
estipulação da intransmissibilidade – caso possível do artigo
412.º n.º 1, se houver convenção em contrário.
2025.º CC
OBJETO E ÂMBITO DA SUCESSÃO
A transmissibilidade da indemnização do dano da morte

Antonino, tripulando distraído o seu velocípede, atropela


mortalmente Benilde quando esta atravessava a rua na passadeira

QUESTÕES

*  O dano da morte do lesado é indemnizável?

*  A ser indemnizável, esse direito à indemnização transmite-se aos seus


sucessores?

SOLUÇÃO LEGAL

*  Artigo 496.º n.º 2 e n.º 3 CC


DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA
q  A designação sucessória é a indicação
virtual dos sucessíveis feita em vida do
autor da sucessão, através de factos
juridicamente relevantes
q  É sucessível, beneficiando, assim, de uma
expectativa sucessória, aquele a favor de
quem se produz um facto juridicamente
relevante, um facto designativo
DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA
q  Os factos designativos podem ser
v  Negociais – testamento, pacto sucessório
v  Não negociais – o vínculo conjugal, o
parentesco, a adoção

q  Consoante os factos designativos sejam


negociais ou não negociais, teremos a
sucessão voluntária ou a sucessão legal
2026.º
DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA
modalidades da designação sucessória

v  Em razão da fonte – sucessão legal


– sucessão contratual ou
voluntária

v  Em razão do objeto – herança


– legado
VOCAÇÃO SUCESSÓRIA
As modalidades da sucessão quanto à fonte da
vocação podem ser:
a lei e o negócio jurídico

v  Sucessão legal – legitimária


– legítima

v  Sucessão negocial – testamentária


– contratual
2026.º, 2027.º
DA SUCESSÃO LEGAL
q  Na sucessão legal, seja ela legítima ou
legitimária, a identificação dos sucessores
resulta do que está prescrito na lei,
independentemente da vontade do de cujus
q  A sucessão legítima diferencia-se da
legitimária pela possibilidade de poder ser
afastada pelo autor da sucessão
2027.º, 2131.º, 2133.º, 2156.º
DA SUCESSÃO VOLUNTÁRIA
Na sucessão convencional, voluntária ou
contratual, a identificação dos sucessores
resulta da vontade do de cujus que a exprime
de duas formas possíveis:
q  De forma unilateral, no testamento;
q  De forma bilateral, pelo pacto sucessório
(sucessão pactícia)
2028.º
DA SUCESSÃO PACTÍCIA

O pacto sucessório pode traduzir-se nas


seguintes situações contratuais:
*  Renúncia à sucessão de pessoa viva;
*  Disposição da sua própria sucessão;
*  Disposição da sucessão de terceiro ainda
não aberta
2028.º
A DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA
A vocação sucessória apenas se concretiza como
resultado de um facto jurídico complexo, a saber:
facto designativo + a morte do de cujus

* Existindo ainda apenas o facto designativo, temos


por ora um sucessível, mas não ainda um sucessor.

* Sendo o sucessível apenas titular de uma


expectativa jurídica sucessória, que não de um
direito à sucessão, em que medida é que existe, se
existe, alguma proteção jurídica dessa expectativa
sucessória?
MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO SUCESSÍVEL
em vida do autor da sucessão
Assim,

sucessível legitimário ≠ sucessível legítimo e


sucessível testamentário

expectativa jurídica esperança...


MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO SUCESSÍVEL
em vida do autor da sucessão
Sendo o sucessível apenas titular de uma mera expectativa,
certo é, todavia, que tal expectativa tem alguma proteção
jurídica ainda em vida do autor da sucessão
*  Na nulidade invocada pelos herdeiros legitimários por
simulação do autor da sucessão – 242.º n.º 2 CC;
*  Na partilha em vida – 2029.º CC.
*  No consentimento na venda a filhos ou netos – 877.º CC
*  Na própria colação – 2104.º CC
242.º n.º 2, 2029.º, 877.º, 2104.º
A DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA
DA SUCESSÃO LEGAL
Conjugando os artigos 2027.º, 2131.º e 2156.º conclui-se que
*  Para o autor da sucessão, a sucessão legitimária é
imperativa, enquanto a sucessão legítima é supletiva,
existindo apenas quando não houver factos designativos
contratuais.
*  A sucessão legitimária constitui um travão à liberdade de
testar, de livremente dispormos dos nossos bens para
depois da morte
2027.º, 2131.º e 2156.º
DA SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
*  A lei reserva uma fração da herança de que o autor da sucessão
não pode dispor por estar reservada aos herdeiros legitimários
*  São herdeiros legitimários o cônjuge, os descendentes e os
ascendentes (para além do adotante e do adotado, existindo
adoção), pela ordem e segundo as regras da sucessão legítima
*  Tal fração ou porção da herança denomina-se legítima ou quota
indisponível, por oposição à porção da herança de que o de
cujus pode dispor livremente, que se designa por quota
disponível

1986.º, 2027.º, 2156.º, 2157.º, 2131.º a 2144.º


DA SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
Legítima do adotante e do adotado

Em caso de adoção, o adotado adquire a


situação de filho do adotante, com as
legais consequências, passando um a ser
sucessível do outro
1986.º
CÁLCULO DA LEGÍTIMA
Qual o valor de referência para o cálculo da quota
indisponível ou legítima objetiva?
*  Ao valor dos bens deixados pelo autor da sucessão
à data da sua morte somar-se-á o valor dos bens
doados (mas não os referidos no artigo 2112.º) e as
despesas sujeitas a colação (2110.º)
*  Ao resultado assim obtido subtraem-se as dívidas
da herança
Ver anexo I e 2162.º, 2104.º, 2110.º e 2112.º CC e 44.º RJPI
CÁLCULO DA LEGÍTIMA
Legítima do cônjuge e dos descendentes
*  cônjuge e descendentes — 2/3 da herança
*  só cônjuge — 1/2 da herança
*  só descendentes —
ü  1/2 da herança (1 só filho)
ü  2/3 da herança (2 filhos ou mais)
ATENÇÃO – Os descendentes do 2.º grau e seguintes
têm direito à legítima que caberia ao seu ascendente
A quota disponível será a parte restante, em cada um desses casos
2158.º, 2159.º, 2160.º
CÁLCULO DA LEGÍTIMA

Legítima do cônjuge e dos ascendentes

cônjuge e ascendentes — 2/3 da herança


só cônjuge — 1/2 da herança
só ascendentes —
ü  1/2 da herança (seja um ou dois)
ü  1/3 da herança (2.º grau e seguintes)
A quota disponível será a parte restante, em cada um desses casos
2158.º e 2161.º
DA SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
Aplicam-se aos herdeiros legitimários, em regra, as
normas da sucessão legítima, a saber, e de entre outras:
*  A regra da hierarquia de classes (2133.º n.º 1, a) e b)

*  A regra da preferência de classes (2134.º)

*  A regra da preferência do grau de parentesco (2135.º)

*  A regra da sucessão por cabeça (2136.º)

E diz-se “em regra” porque há exceções previstas nas próprias regras da


sucessão legítima – 2139.º n.º 1, 2140.º, 2142.º n.º 1, 2145.º e 2146.º

2157.º, 2133.º a 2144.º


CONCEITO DE SUCESSÃO LEGÍTIMA

*  Abre-se a sucessão legítima se o falecido não


tiver disposto, válida e eficazmente, no todo ou
em parte, dos bens e direitos de que podia
dispor para depois da morte

*  Tal acontece na falta de sucessão contratual e


de sucessão testamentária
2131.º e 2132.º
CONCEITO DE SUCESSÃO LEGÍTIMA
São herdeiros legítimos o cônjuge, os parentes e o
Estado, segundo as seguintes classes de sucessíveis:

1.  Cônjuge e descendentes


2.  Cônjuge e ascendentes

3.  Irmãos e seus descendentes

4.  Outros colaterais até ao quarto grau

5.  Estado
2132.º e 2133.º
DA SUCESSÃO LEGÍTIMA
Aplicam-se aos herdeiros legítimos as seguintes regras:

*  A regra da hierarquia de classes (2133.º n.º 1)


*  A regra da preferência de classes (2134.º)
*  A regra da preferência do grau de parentesco (2135.º)
*  A regra da sucessão por cabeça (2136.º)
Há exceções ao estatuído nessas regras – 2139.º n.º 1, 2142.º
n.º 1, 2146.º
2133.º a 2144.

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