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Ficha Bibliográfica
BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José [org.]
Aprendizagens Históricas: gêneros e etnicidades. União da Vitória/Rio de
Janeiro: LAPHIS/Edições especiais Sobre Ontens, 2018.
ISBN: 978-85-65996-52-5
Disponível em: www.revistasobreontens.site
2
Apresentação
É com satisfação que nós do LAPHIS–Laboratório de Aprendizagem
Histórica da UNESPAR e do Leitorado Antiguo da UPE apresentamos esse
novo livro para vocês. Ele é resultado do nosso Simpósio Eletrônico de
Ensino de História realizado em Abril de 2018, que recebeu conferencistas
e cinco mesas diferentes ao longo de uma semana de intensos e ricos
debates.
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SUMÁRIO
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AS REPRESENTAÇÕES ÉTNICAS E CULTURAIS NO PCN – VOL. 10 -
PLURALIDADE CULTURAL E ORIENTAÇÃO SEXUAL, p.93
Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert
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AÇÕES AFIRMATIVAS E AS PROPOSTAS DE ENSINO DE HISTÓRIA, p.193
Siméia de Nazaré Lopes
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O NEGRO NA PUBLICIDADE: ECOS DE UMA HISTÓRIA
ORDINÁRIA
Ana Lourdes Queiroz da Silva
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Outra característica cultivada pela história tradicional, repousa nas
bases do que é central, importante e oficial. Na contramão desta
proposição, a nova história é marcada pelo relativismo cultural. O
periférico passa a povoar o interesse dos estudiosos da área.
8
Figura 1
http://www.revistaforum.com.br/2015/03/25/as-10-propagandas-
mais-machistas-e-racistas-do-ultimo-ano/
9
―(...) um fato se transforma em acontecimento – é retomado,
revisado, analisado, especificado, detalhado e correlacionado a outros
similares ou tornados similares. Enfim, ele se tornou o motivo pelo
qual um conjunto de textos foi em seguida produzido e veiculado.
[...] Dessa maneira, forma-se uma espécie de arquivo, no interior do
qual as relações intertextuais e interdiscursivas se desenham, as
diversas posições se materializam, as posições vão se repetindo ou se
renovando‖. (POSSENTI, 2006, p.95)
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Figura 2
http://www.hypeness.com.br/2016/02/naoecoincidencia-campanha-
questiona-a-ausencia-de-professores-negros-nas-universidades-
brasileiras/
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alimentou, durante séculos, o acorrentamento da imagem do negro
aos porões e senzalas.
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documentos homogêneos concernindo a um objeto particular e a uma
época determinada, e são as relações internas ou externas desse
corpus de documentos que constituem o resultado do trabalho do
historiador‖. (FOUCAULT, 2008, p.291)
Figura 3
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2015/07/anuncio-para-
debater-racismo-recruta-negra-para-papel-de-domestica-no-df.html
13
O anúncio apresentado compunha uma estratégia, com vistas à
reflexão e debate acerca do racismo, em uma campanha orquestrada
pelo Festival de Latinidades, em 2015.
14
que não é, identifica elementos, define unidades, descreve relações‖.
(FOUCAULT, 2015, p. 7).
15
datada do período da escravidão e fruto das lutas incandescentes das
ideias abolicionistas.
16
Figura 4 e 5
brasil.gov.br
―Por sua vez, cada tempo ‗novo‘ deu lugar a um discurso que
considera ‗morto‘ aquilo que o precedeu, recebendo um ‗passado‘ já
marcado pelas rupturas anteriores. Logo, o corte é o postulado da
interpretação (que se constrói a partir de um presente) e seu objeto
(as divisões organizam as representações a serem reinterpretadas)‖.
(CERTEAU, 1982, p. 15)
17
produção dessas mudanças. A História passa a ser uma razão que
articula as práticas e os discursos, então, como produtos dessas
práticas, ―autoriza a força que exerce o poder‖.
Referências
Ana Lourdes Queiroz da Silva tem Mestrado em Letras, pela
Universidade Federal do Maranhão. Professora Assistente II, da área
de Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão.
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HISTÓRIA E EDUCAÇÃO SEXUAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Arthur Jonatha Souza de Nascimento
19
cidadania. A escola exerce um importante papel na sexualidade
durante a infância e adolescência ―se relacionarmos o processo de
escolarização à disciplinarização dos corpos de crianças e jovens,
veremos que a educação do sexo encontrou seu lugar privilegiado na
escola desde muito cedo‖. [in: César, 2009].
20
de história, devido aos encadeamentos das legislações, assim como
as influências sociais e culturais.
21
inúmeras aprendizagens e práticas e que são reproduzidas pelos
alunos. Segundo César (2009) trabalhar as relações de gênero
consiste em somente expressar que meninos podem ser também
meigos e sensíveis sem que isso seja capaz de ―machucar‖ sua
masculinidade, e que meninas podem ser agressivas e objetivas,
além de gostarem de futebol, sem que esses atributos diminuam sua
feminilidade. A educação sexual deve buscar demonstrar e combater
estereótipo de gênero que permeiam a existência das mulheres e dos
homens.
Considerações finais
A escola deve discutir os vários temas e ações da sociedade atual,
relacionados a gênero, sexualidade e orientação sexual sempre
buscando a reflexão para que assim ocorra uma educação sexual
realmente emancipadora e tenhamos jovens com menos preconceitos
nas relações sociais e mais informações sobre o corpo e a
sexualidade. Deve-se compreender a sala como um espaço para que,
por meio de dinâmicas, possamos problematizar temáticas, elevar
questionamentos e expandir a visão de mundo e de conhecimento.
Finalizando, para Britzman (1999) professores necessitam produzir a
capacidade de desestabilizar o conhecimento em nome da liberdade.
A Sexualidade e a Educação Sexual se referem a práticas de
liberdade e todos os esforços a favor desse debate é preciso.
Referências
Graduando do Curso de História na Universidade da Amazônia -
UNAMA e professor do ensino fundamental na rede privada de ensino
em Belém-PA.
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BRITZMAN, Deborah. Curiosidade, sexualidade e currículo. In:
LOURO, G.L (Org). O corpo educado. Pedagogias da Sexualidade.
Belo Horizonte: Autentica 1999.
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RACISMO, HISTÓRIA DE ÁFRICA E APLICABILIDADE:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Cirila Regina Ferreira Serra
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apenas a escravidão, mas acerca da historicidade de povos do
continente africano para além do olhar europeu. Como resultado de
uma educação voltada para pensar a inclusão do negro a partir de um
protagonismo negro, resolveria, em parte, a problemática do racismo
e suas variáveis, mas para isso o ensino de história de África tem que
deixar de ser um problema e se tornar algo aplicável.Hebe Mattos, ao
refletir acerca da problemática do ensino de África na educação
básica faz a seguinte sugestão,
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grande avanço social e histórico para população de negros e negras e
para própria história social do Brasil, nos últimos anos, se conseguiu
muito pouco em termos de aplicabilidade, considerando que já
passaram catorze anos da promulgação. O pouco se deu em virtude
de muita discussão envolvendo estudos acadêmicos, secretárias,
corpo docente, gestores escolares e os demais agentes educacionais.
O texto salienta ainda ―que tais políticas têm como meta o direito dos
negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de
mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva,
seus pensamentos‖, e prossegue argumentando que:
―Tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim
como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de
ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados
por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de
conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações
produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de
conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-
raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de
asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e
de formação de professores são indispensáveis para uma educação
de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e
valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de
africanos‖. (BRASIL, 2004, p. 10-11).
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aula, o trabalho de Marina de Mello e Sousa: África e Brasil africano e
uma quantidade significativa de materiais que o MEC vem produzindo
como os materiais didáticos e paradidáticos para suprir essa
necessidade) que atende as definições da lei. A utilização de
repertórios pedagógicos, sequencias didáticas, estratégias didáticas
tem se constituídos em táticas de aplicabilidade, pois tais recursos
abrangem uma serie de possibilidades de aplicação desse conteúdo.
Cabe ao corpo docente fazer uso de tais recursos.
O que se propôs aqui foi apresentar uma reflexão ainda que sucinta
sobre a questão racial brasileira e a importância de se ter uma lei que
ressignifique a história social e cultural da população de negros (as),
assim como discutir formas de implementação e aplicabilidade para o
ensino de História da África.
27
Referências
Cirila Regina Ferreira Serra, mestrando no Programa de Pós-
Graduação de História da UEMA.
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RELEVÂNCIA DA LEI Nº 10.639/03 NO CURRÍCULO ESCOLAR
DA EJA
David Richard Martins Motta
29
rendendo mais que a do outro no século XVIII‖ (ALENCASTRO, 2000,
p.353).
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O Brasil é o país com a maior população negra no mundo fora da
África, no entanto as desigualdades étnicas ainda persistem. Houve
grandes avanços nos últimos anos, no combate à discriminação e nas
políticas afirmativas, uma delas é a Lei 10.639/03 que tornou
obrigatório em todas as escolas do país, o ensino de história da África
e de história e cultura afro-brasileira e, mais tarde, a Lei 11.645/08,
expandiu o alcance dessa obrigatoriedade implementando o ensino de
história e cultura indígena. Essas novas leis reconhecem a memória
e as contribuições afro-brasileiras. No Brasil, se cruzam dois
movimentos ideológicos de dominação sobre os brasileiros, o da
ideologia da dominação racial, que ao propagar ―idéias de
inferioridade do negro justificava a escravização dos africanos e o
mito da democracia racial, que ao negar a estrutura racista brasileira,
naturalizou as desigualdades sociais‖ (ROCHA, 2009, p. 54).
31
Outro ponto que pesa a favor da aplicabilidade da Lei 10.639/03 na
disciplina de história e nas turmas de EJA tem relação as que as
atuais concepções da história social prezam por uma abordagem
histórica que não se paute somente nos feitos dos ―heróis‖. Os
―novos‖ sujeitos históricos esquecidos e relegados a subalternidade
agora tem peso relevante no ensino de história (BERUTTI; MARQUES,
2009). Se tratando da história do Brasil, percebemos que os sujeitos
negros escravizados por mais de 300 anos se encaixam nesse grupo
social abandonado pelas antigas abordagens historiográficas na
disciplina escolar de história. Essa perspectiva historiográfica que
possibilita a ―incorporação de novos sujeitos, provenientes de setores
populares‖ (BITTENCOURT, 2009) gera a necessidade de novas
propostas curriculares que estejam de acordo a Lei 10.639/03 e as
concepções da EJA.
Considerações finais
Buscou-se abordar nesse trabalho o entendimento a respeito da
importância de um projeto emancipador para os alunos negros e
trabalhadores da EJA. Para isso abordamos aqui o peso da Lei
10.639/03 na disseminação da memória das contribuições africana e
afro-brasileiras na construção nacional. Nosso entendimento nesse
estudo é de que o currículo escolar pode contribuir positivamente
para uma abordagem valorativa das contribuições afro-brasileira e
africanas na disciplina de história na modalidade de ensino da EJA. A
escolha pelas turmas de EJA se deu pelo fato dessa modalidade de
ensino estar associada diretamente a classe negra trabalhadora e que
sofre pesadas consequências por viver em um país com latentes
cicatrizes históricas da escravidão, que permeiam a vida de todos os
trabalhadores negros do Brasil.
Referências Bibliográficas
David Richard Martins Motta. Licenciado em História pela UFRRJ –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Estudante de Pós-
graduação pelo IFRJ - Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio de Janeiro. E-mail:mottacell@yahoo.com.br
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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009.
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INDÍGENA: ENTRE LUTAS,
RESSIGNIFICAÇÕES E CONQUISTAS DE DIREITOS
Denilce Raimunda de Castro Mourão
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Introdução
O final da década de 70 foi marcado por discussões acaloradas
quanto a luta dos direitos indígenas no que tange o contexto
educacional, em especifico, pela conquista de um currículo
diversificado que contribuísse no resgate e valorização de aspectos da
cultura indígena, considerando nesse contexto, a histórica
sobreposição de valores e costumes europeus em relação aos
indígenas desde a colonização. As lutas dos movimentos indigenistas
giravam em torno da defesa de uma educação específica e
diferenciada que atendesse o conjunto de singularidades culturais,
linguísticas e de costumes, ou seja, todos aqueles saberes empíricos
relevantes para os povos tradicionais. O processo de reivindicação
dos direitos indígenas foi assinalado pelo surgimento de associações
nacionais e outras não governamentais no amazonas como a
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN),
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
(COIAB) e Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas
(MEIAM), que objetivavam e defendiam uma educação escolar
indígena específica e diferenciada que abrangesse da educação básica
até o ensino superior, fortalecendo as reivindicações dos movimentos
indígenas. O surgimento dessas associações se justificava na medida
em que contribuíam na socialização e no debate quanto a relevância
de se preservar e introduzir elementos dos costumes, tradições e
saberes tradicionais dentro do currículo e no bojo das discussões de
políticas públicas, visando a garantia do direito de reconhecimento a
pluralidade étnico- cultural de cada povo.
34
estava em discussão era envolver os sujeitos através da religiosidade
e trabalho.
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Por mais que já exista na constituição o direito a uma educação
diferenciada e específica para índios, ainda continua a resistência em
seguir o sistema tradicional, com professores não indígenas
ministrando aulas, sem entender a língua, deixando de garantir
direitos educacionais relevantes a sua cultura, impondo costumes
apenas dos ―brancos‖, os livros didáticos repletos de ideologias que
não condizem as suas realidades.
Nesse período as lutas dos povos indígenas eram por uma educação
escolar que atendesse a diversidade cultural dos vários povos
indígenas existentes. Foi um período onde surgiram importantes
organizações de apoio aos movimentos e o princípio de inúmeras
conquistas, que atendesse todos os seus direitos e alcançassem as
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conquistas constitucionais de 1988. Nesse sentido esclarece
Rodrigues:
37
―Nessa mesma linha, torna- se necessário a construção de literaturas
voltadas para os saberes como um fortalecimento cultural e social em
favor dos povos tradicionais e também para o resgate desses
costumes necessários para essa população‖ [MOURÃO; MELO,
2017:14).
Considerações finais
No final da década de 70, começam as discussões, as lutas, em prol
de uma educação específica e diferenciada para os índios.Nesse
mesmo período surgem associações que vão fortalecer os
movimentos indígenas em prol das reivindicações feitas por eles.
Foram muitas conquistas, principalmente na década posterior, apesar
da constituição estar recheada de direitos, ainda é preciso que se
lutem constantemente para que sejam concretizados no que tange a
educação escolar indígena. E um grande desafio para esses povos,
pois em uma sociedade capitalista, onde o sistema das classes
educacionais dominantes persistem em se manter, a efetividades
desses direitos constitucionais ficam cada vez mais difícil.
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principalmente nessa última modalidade de ensino, onde são mais
expostos as condições de desigualdade.
Referências
Denilce Raimunda de Castro Mourão – É acadêmica indígena do curso
de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste
do Pará (UFOPA). E mail: denilcedecastro@hotmail.com
39
HISTEDBR-UFOPA Educação e Realidade Amazônica: história,
formação docente, tecnologia, política educacional e diversidade
cultural. Santarém, 2017.
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O ENSINO DA HISTÓRIA INDÍGENA NAS UNIVERSIDADES
BRASILEIRAS: LEI, TABU E AUTODETERMINAÇÃO
Eduardo Gomes da Silva Filho
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As prerrogativas da Lei
De acordo com o parágrafo 1 do artigo 26-A da lei 11.645/08:
Sobre esse tema, corroboro com a visão dos professores Mauro Cezar
Coelho e Wilma de Nazaré Baía Coelho que afirmam: ―A introdução
das temáticas previstas nas leis nº 10.639/03 e 11.645/08 constitui
uma inversão do percurso usualmente trilhado pelas políticas
educacionais. Ambas as leis não decorreram da constatação, por
parte do Estado, de uma fragilidade no sistema ou nas condições de
oferta. Os dois instrumentos legais resultam de demandas de
movimentos sociais. Nos dois casos, a luta contra as formas de
discriminação e preconceito foi o elemento determinante‖. (COELHO;
BAÍA, 2013, p. 02).
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A lucidez do comentário acima denota a visão apurada dos
professores, que além de evidenciarem os avanços provocados pelas
Leis, também as utilizam no ―chão de fábrica‖.
43
tentativa de um projeto europeu de ciência universal, que tentou
deixar de lado o protagonismo e autodeterminação indígena por
séculos.
44
Segundo Albuquerque (2008) a autodeterminação é ―um direito
enquanto conjunto de regras, normas, padrões e leis reconhecidas
socialmente que garantem a determinados povos, segmentos ou
grupos sociais o poder de decidir seu próprio modo de ser, viver e
organizar-se política, econômica, social e culturalmente, sem serem
subjugados ou dominados por outros grupos, segmentos, classes
sociais oupovos estranhos à sua formação específica‖.
Considerações Finais
Neste texto eu não me propus a discutir o tema a partir de uma
perspectiva estanque, procurei enveredar pelas nuances de suas
especificidades, sem me deixar levar por possíveis determinismos que
tanto combato. Busquei algumas tentativas de suscitar inquietações
nos leitores, ao ponto que o eco das minhas próprias inquietações
possa reverberar aos ouvidos daqueles que se sintam tocados pela
causa.
45
Referências
Eduardo Gomes da Silva Filho é professor da Universidade Federal de
Roraima, Mestre em História Social pela Universidade Federal do
Amazonas.
46
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração das nações unidas
sobre os direitos dos povos indígenas. Nova Iorque, 2007. Disponível
em:http://www.un.org/esa/socdev/unpfii/documents/DRIPS_pt.pdf.
Acesso em: 17/02/18, às 16:00h.
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AS MINORIAS SOCIAIS E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
HISTÓRICO NO ENSINO MÉDIO
Fábio Alexandre da Silva
Introdução
O presente texto tem por finalidade analisar a autoridade (ou a falta
de) e o papel das minorias sociais na produção de conhecimento
histórico escolar. O objetivo maior deste projeto é debater sobre as
diferentes formas de produção do conhecimento histórico e os
sujeitos que o produzem, assim como sobre sua legitimidade neste
processo. Para tanto, buscou-se estudar os caminhos a serem
traçados que possam conduzir os alunos do ensino médio a refletirem
sobre o conhecimento histórico e sua produção, escolar e acadêmica,
seu papel enquanto agentes históricos e o papel histórico das
minorias sociais nesse processo, práticas indispensáveis para a
formação e solidificação da consciência histórica.
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O caderno de história dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs
do Ensino Médio destaca que o objetivo do ensino de história é
conduzir o educando, de modo que ele compreenda os elementos
cognitivos, afetivos e socioculturais que permeiam a sua realidade
histórica e a de outras sociedades no tempo, uma vez que:
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Outro fator de bastante relevância e que também consta no caderno
de história dos PCNs é a compreensão da importância da preservação
da memória histórica e cultural, na medida em que esta ação
contribui exponencialmente para a construção e manutenção das
identidades sociais e coletivas, fator de fundamental importância para
evidenciar o papel histórico e social de grupos minoritários – os
negros, por exemplo – e chamar o aluno para o debate sobre o lugar
que ocupam esses sujeitos no presente à luz do passado.
50
ir além e buscar refletir também sobre o papel da mulher, do
indígena e do homossexual na história. Como e por quem é escrita a
história?
Considerações finais
A reflexão levantada por este texto teve como ponto de partida a
produção do conhecimento histórico escolar e o papel de grupos
minoritários no movimento e construção da história além de,
sobretudo, pensar criticamente no papel que a escola ocupa em se
tratando de combater e desconstruir estereótipos gerados pela
história (tradicional) sobre a memória e a história desses sujeitos.
A importância de se desenvolver esse tipo de abordagem com os
alunos do ensino médio é fundamental, na medida em que o tema em
questão é mister para conduzi-los a refletirem sobre o lugar e o papel
histórico-social do sujeito tido como comum, ao mesmo tempo em
que os traz para dentro da reflexão e construção da história e da
consciência histórica. É a partir dessa postura assumida por docentes
e discentes que se pode pensar na produção de um conhecimento
capaz de transformar um aluno, historicamente passivo e receptor,
51
em um agente social ativo e questionador, capaz de refletir sobre as
mazelas da sociedade e de se enxergar como um agente histórico.
Referências
Fábio Alexandre da Silva é professor de história e ensino religioso
pelo Centro Educacional Marista Champagnat e mestrando em
educação pela Unioeste/Cascavel.
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PROTAGONISMO INDÍGENA E A NOVA HISTÓRIA: REFLEXÕES
PARA A PESQUISA E O ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA E DO
INDIGENISMO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Fernando Roque Fernandes
Beatriz da Silva Mello
Introdução
Diante das discussões sobre Ensino de História para as relações
étnico-raciais, amparadas pela Lei nº 11.645, de 10 de março de
2008, a qual torna obrigatória a inclusão da temática ―História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena‖ no currículo oficial da rede de
ensino, consideramos oportuno apresentar elementos para se pensar
o Ensino de História Indígena e do Indigenismo no Brasil. O objetivo
deste texto é desenvolver uma breve reflexão em duas direções. A
primeira delas encaminha elementos que nos permitam evidenciar
como o protagonismo indígena da segunda metade do século XX
concorreu para a conformação da concepção de cidadania da
sociedade brasileira atual, assim como para uma modificação nos
modelos historiográficos que apresentavam os povos indígenas como
incapazes de empreender suas próprias ações. A segunda propõe
uma reflexão sobre os limites das influências historiográficas francesa
e inglesa no desenvolvimento de trabalhos relacionados à ―História
Indígena e do Indigenismo no Brasil‖ em detrimento do próprio
protagonismo indígena na conformação de uma nova proposta de
narrativa que privilegia o papel desempenhado por sujeitos e
coletivos indígenas na história brasileira. Os dois encaminhamentos
apresentam propostas particulares, ainda que não esgotem a
discussão, para se pensar o modo como ensinamos ―História Indígena
e do Indigenismo‖ nas salas de aula da Educação Básica ao Ensino
Superior.
53
Diante das pressões cada vez mais contundentes empreendidas pelo
Estado, especialmente nos anos 1970, determinados grupos sociais
passaram a empreender particulares articulações políticas.
Movimentos Negros, Movimentos de Trabalhadores, Movimentos de
Mulheres, dentre outros despontaram de modo a reivindicar
mudanças através da criação de políticas sociais que atendessem
seus interesses (Gohn, 2011). Entidades civis se dividiram em relação
ao posicionamento de seus integrantes perante o Estado de exceção.
Indivíduos ligados à organizações como a Ordem dos Advogados do
Brasil, por exemplo, se dividiram entre apoiar ou criticar de modo
incisivo as atitudes tomadas pelo governo civil-militar (Rollemberg,
2008). Mesmo no seio das forças armadas, alguns militares foram
perseguidos por conta de suas tendências simpatizantes ao
comunismo do contexto da Guerra Fria (Napolitano, 2014). No âmbito
acadêmico, professores universitários, mas não somente, foram
perseguidos por conta de suas filosofias democráticas e
posicionamentos contrários ao regime (Motta, 2014). Interventores
militares foram nomeados para controlar os estados da federação. O
discurso do ‗milagre brasileiro‘ se fazia sentir apenas nos bolsos dos
grandes empresários ligados ao capital internacional de base liberal
desenvolvimentista (Bielschowsky, 2010).
54
reconhecimento da diferença e da diversidade de povos se constituiu
como a base manifesta do conjunto de estratégias políticas
empreendidas pelos indígenas. Assembleias e eventos reunindo
comunidades de diferentes grupos étnicos, ocorridas até então
apenas em âmbito local, passaram a ampliar suas articulações,
empreendendo assembleias em âmbito regional, nacional e mesmo
internacional (Bicalho, 2010). No calor das batalhas pela
autodeterminação, muitas comunidades indígenas passaram a
reivindicar perante o Estado o direito à cidadania plena,
reconhecimento territorial, saúde e educação específicas e
diferenciadas. Os meandros dessas articulações, iniciadas nos anos
1970, especialmente, se fazem sentir até os dias de hoje.
55
centrais na evidenciação das ―invenções do cotidiano‖ (Certeau,
2014).
56
francesas ou inglesas, relacionadas ao movimento historiográfico
denominado de Nova História Cultural. No caso do Brasil, os
movimentos indígenas evidenciados nos anos 1970, dimensionaram
de modo inegável a crítica historiográfica desenvolvida por
historiadores e antropólogos em direção ao modelo tradicional de se
pensar o papel desempenhado pelos povos indígenas na conformação
do Estado Plurinacional Brasileiro.
―Na segunda metade do século XX, o Brasil foi palco de uma série de
ações coletivas de determinados grupos da sociedade civil que
passaram a reivindicar políticas sociais como parte dos direitos de
cidadania. Em meio ao contexto de repressão, determinados grupos
étnicos indígenas passaram a se articular em âmbito local, regional,
nacional e mesmo internacional no intuito de reivindicar a cidadania
plena nos meandros do importante processo históricos de
cidadanização (institucionalização) do pensamento social indígena
brasileiro.
Para os povos indígenas, a luta pela cidadania plena foi um passo
importante no reconhecimento da diferença e da diversidade de
povos existentes no Brasil. Além disso, os movimentos indígenas que
emergiram no cenário político brasileiro demandaram o
reconhecimento do direito às territorialidades histórico-culturais,
saúde, educação específica e diferenciada e a autodeterminação. Tais
57
fenômenos foram desencadeados a partir de uma articulação política
que mantém muitas de suas bases até os dias de hoje. Na segunda
metade do século XX, o ápice das conquistas dos movimentos
indígenas iniciados nos anos 1970 foi o reconhecimento da diferença
de povos no texto constitucional de 1988, conformando as bases do
Estado Plurinacional Brasileiro‖ (Fernandes, 2017).
Considerações Pontuais
O protagonismo indígena desencadeado no contexto do Regime Civil-
Militar, apesar de ser parte do protagonismo indígena iniciado já nos
primeiros contatos com povos europeus, constituiu um movimento
particular que acarretou, inclusive, numa transformação do
pensamento político e social brasileiro, especialmente no que
concerne à concepção de democracia que emerge a partir dos anos
1980. Os povos indígenas, a partir de suas agências, foram
protagonistas de uma série de manifestações de caráter social que
concorreram para uma problematização do lugar que ocupavam na
sociedade brasileira. Suas ações foram igualmente importantes para
uma modificação no modo de se pensar o lugar dos povos indígenas
na sociedade brasileira a partir das pesquisas acadêmicas. Suas
ações também concorreram para uma modificação na concepção de
História Indígena e do Indigenismo no Brasil.Desse modo, foram,
para além dos paradigmas criados pelas historiografias francesa e
inglesa, os elementos fundamentais da nova concepção de história
que propõe uma evidenciação do protagonismo indígena na História
do Brasil e, respectivamente, do modo com ensinamos História
Indígena nas salas de aula da Educação Básica ao Ensino
Superior.Para uma modificação evidente do modo como ensinamos
história indígena hoje, precisamos avançar nas pesquisa não apenas
relacionadas ao passado colonial ou imperial, mas, sobretudo, na
58
história contemporânea brasileira. Desse modo, será possível
desenvolver uma análise sobre as agências indígenas na história
brasileira a partir dos próprios termos indígenas não se limitando às
representações longínquas de um passado (neo)colonial.
Referências
Fernando Roque Fernandes é doutorando em História Social da
Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Pesquisador do
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores e
Relações Étnico-Raciais (GERA) e bolsista Demanda Social da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Atualmente desenvolve pesquisas relacionadas aos
Movimentos Indígenas no Brasil e Povos Indígenas e Ensino Superior
na Amazônia Brasileira.
BURKE, Peter. A Nova História: seu passado e seu futuro. In: BURKE,
Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. Tradução de
59
Magda Lopes. São Paulo: Unesp, 2011. p. 7-38. Está disponível em:
http://etnohistoria.fflch.usp.br/sites/etnohistoria.fflch.usp.br/files/Bur
ke_Nova_Historia.pdf; Acesso em: 08 mar. 2018.
60
Paulo:+Contexto,+2014&ots=jHt8LJ1CBI&sig=pYo1Gcw0fnqrm3GD6
xqcLxVwPEs&redir_esc=y#v=onepage&q=NAPOLITANO%2C%20Marc
os.%20Hist%C3%B3ria%20do%20Regime%20Militar%20Brasileiro.
%20S%C3%A3o%20Paulo%3A%20Contexto%2C%202014&f=false;
Acesso em: 08 mar. 2018.
61
PRECISAMOS FALAR SOBRE RACISMO: O PAPEL DA EDUCAÇÃO
NO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO
Hemerson dos Santos Junior
62
nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e
privados. Durante essa experiência pude presenciar variadas cenas
de racismo e discriminação contra o diferente. Crianças do ensino
fundamental I reproduzindo comportamentos racistas e
discriminatórios. Bebendo da perspectiva de consciência histórica
proposta por Rüsen, essas crianças estão demonstrando uma
consciência histórica de caráter tradicional, reproduzindo valores
morais dos quais foram ensinadas.
63
estranhamento em um primeiro momento. Após a exibição dessas
imagens passaremos ao levantamento de questões e elaboração de
atividades para que os alunos possam expressar o seu pensamento
individual sobre a temática. Em seguida, nós, como profissionais da
educação, deveremos analisar cuidadosamente as respostas
elaboradas pelos estudantes a fim de localizar as obscuridades,
anacronismos e estereótipos expressos pelos educandos, a fim de
explicar o que for possível, mas, o mais importante dessa atividade é
a afirmação de que não tem problema em ser diferente. Na segunda
aula a educação histórica virá cumprir com o seu propósito; trabalhar
em cima dos pontos obscuros. O professor deverá organizar sua aula
de acordo com a demanda da turma, mas, é necessário que algumas
aulas busquem tratar do processo da escravidão, procurando
sensibilizar os estudantes a fim que percebam o quão desumano,
terrível e tenebroso foi esse período no Brasil. Esse é um ponto que
pode ser trabalhado em parceria com museus e instituições, visitas a
casas de memória e até mesmo a exibição de documentários e vídeos
podem facilitar esse procedimento.
Sugiro o uso da música para tratar o tema. Por mais triste que possa
parecer o conceito de ―cidadania lúdica‖ utilizado por Elisa
Nascimento em seu texto (NASCIMENTO, 2001, p.123), no qual
analisa o processo histórico em que foram submetidos os negros no
Brasil, reconhecendo que infelizmente o lugar em que as pessoas de
pele negra são atribuídas na sociedade no período pós-abolição se
limitou ao espaço das artes, culinária, carnaval e esportes. Acredito
que esse pode ser um caminho a ser explorado, buscando escutar o
que essas pessoas tem a dizer sobre a sua história. Juntamente com
a discriminação e invisibilização do negro, a discriminação passou a
marginalizá-los e julgá-los criminosos. Para desmistificar essa falsa
visão, sugiro a utilização de canções do grupo Racionais Mc‘s, como
as canções: ―O Homem na Estrada‖(2001), ―Periferia é Periferia‖
(1997), ―Juri Racional‖(1991), ―Fim de Semana no Parque‖ (1993), e
inúmeras outras que utilizam uma narrativa autoexplicativa acerca da
64
marginalidade, assumindo uma postura crítica, explicando como a
sociedade caminhou para a exclusão e segregação do povo negro.
Como aponta Roberto Camargos, manter esse diálogo com o rap é
algo legítimo.
Referências
Hemerson dos Santos Junior, acadêmico do 4º ano do curso de
licenciatura em história pela UNESPAR campus União da Vitória – PR.
Bolsista pelo projeto de iniciação cientifica financiado pela Fundação
Araucária intitulado; linguagens e tecnologias para o ensino de
história.
65
de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena", Brasília, DF, mar 2008, Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2008/lei-11645-10-marco-
2008-572787-publicacaooriginal-96087-pl.html>. Acesso em: 08
mar.2018.
66
DA MARGINALIZAÇÃO À PATRIMONIALIZAÇÃO: A “ARTE DA
VADIAÇÃO” RESSIGNIFICADA NA RODA LIVRE DE CAXIAS
Igor Fernandes de Alencar
Na circularidade do tempo
A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira muito
conhecida em todo o Brasil e também de reconhecido valor
internacional. No entanto que, no dia 26 de novembro de 2014, A
Roda de Capoeira foi inscrita na Lista Representativa do Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O processo de
identificação, inventário, e medidas iniciais de salvaguarda desta
expressão cultural, realizados em âmbito nacional, anteciparam este
reconhecimento externo.
67
―A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira foram
reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro por meio da
inscrição no livro de Registro das Formas de expressão e no livro de
Registro dos saberes, volume primeiro, respectivamente, do instituto
do patrimônio histórico e artístico nacional, em 21 de outubro de
2008, conforme decisão proferida na 57ª Reunião do Conselho
Consultivo do patrimônio Cultural, realizada no dia 15 de julho de
2008.‖(BRASIL, 2014, p. 17).
68
que submeteu a prática da capoeira às regras do pugilismo. O
segundo está relacionado ao processo de folclorização da cultura
negra na Bahia, associado ao crescimento da indústria turística em
salvador, que, nos anos 1960 e 1970, introduz no repertório de
atrações para a sua clientela, além das belezas naturais dos
monumentos e do barroco das igrejas, as manifestações da cultura
negra, principalmente o candomblé, a capoeira e o samba‖ (BRASIL,
2014, p. 113).
69
Mesmo que rapidamente, quando se lança um olhar pelos jornais da
década de 1970 em diante, percebe-se um quadro negativo posto por
alguns analistas e estudiosos da cultura popular da época. Traçavam
um destino sombrio para a capoeira, em muito influenciados pelos
danos socioeconômicos e culturais provocados pelo turismo –
folclorização e esportização (Brasil, 2014, p. 113).
70
―Mesmo após estes avanços o atual Departamento de Patrimônio
Histórico e Cultura da Secretaria Municipal de Cultura desconhece
estas iniciativas, não se coaduna as discussões nacionais, e volta a
tratar as manifestações da cultura popular, particularmente a
capoeira, como folclore. A Secretaria Municipal de Educação encontra
dificuldades em implementar a Lei 10.639 e reconhecer que o
segmento cultural, representado pela Liga Municipal de Capoeira, seja
o mais organizado, o mais próximo das práticas pedagógicas que
indica que os espaços educativos devem possuir atividades culturais e
que a capoeira possui uma tradição de educação não-formal‖
(MARQUES, 2001, p.89)
Referências
Igor Fernandes de Alencar é mestrando do PPGH/UFG.
71
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. Brasiliense, São
Paulo, 2000. 38ª Ed.
72
O ENSINO DE HISTÓRIA POR MEIO DA PUBLICIDADE:
UMA ANÁLISE SOB A CATEGORIA GÊNERO
Janaína Jaskiu
73
imprensa na História do Brasil, defende que o estudo dessa mídia
permite aos historiadores observar e analisar a vida em sociedade.
―De fato, jornais e revistas não são, no mais das vezes, obras
solitárias, mas empreendimentos que reúnem um conjunto de
indivíduos, o que os torna projetos coletivos, por agregarem pessoas
em torno de ideias, crenças e valores que se pretende difundir a
partir da palavra escrita.‖ (LUCA, 2010, p.140)
74
historicidade. Seus discursos são repletos de valores que refletem
determinada época e determinado grupo social. Assim como qualquer
outra fonte histórica, os discursos publicitários são carregados de
intencionalidades e precisam ser problematizados e contextualizados.
Segundo Zamboni (2013) as peças fazem referências aos desejos de
seus clientes, às características do mercado e às práticas dos
consumidores.
75
cultural, sob pena de não ser decodificado se estiver a margem desse
padrão.
- Prescrevem modos de interpretar o mundo através de instâncias
pedagógicas presentes desde a mais tenra idade.
Assim, as representações sociais acabam por influenciar modos de
vida de um coletivo, delas resultam práticas que expressam tudo
aquilo que foi apreendido no convívio social.
―No cuidado com a sua pele, faça como as estrelas do cinema: use a
espuma cosmética do Sabonete Lux. Pura... suave, a espuma de Lux
ajuda manter jovem e suave sua cútis. Ao acariciar o seu rosto você
76
saberá porque Lux é o preferido por 9 entre 10 estrelas do cinema.‖
(O Cruzeiro, 09 jan. 1965, contra capa)
77
publicidades, tais como esta anunciando que ―Homens de bom tom
usam camisas Ban-Tan‖. A marca desconhecida era ancorada na
elegância que o destinatário acreditava ou desejava possuir, levando
à construção de uma realidade com o uso da peça de roupa.
78
A problematização dessas fontes para e no ensino de História auxilia
os estudantes a relacionarem presente e passado, refletindo sobre
rupturas e continuidades. Isso leva à percepção de que os discursos
presentes num texto jornalístico, numa peça publicitária, são
testemunhos históricos resultantes ―da visão de mundo, da
interpretação da realidade de quem os produziu.‖ (ABUD; SILVA;
ALVES, 2010, p.30) Entender como ocorre a construção dos papeis
sociais femininos e masculinos, as rupturas e continuidades, bem
como as relações de poder correspondentes, possibilita compreender
que, como são produzidos, podem ser questionados.
79
mas levá-los ―a compreensão do processo de produção do
conhecimento histórico pelo entendimento de que os vestígios do
passado se encontram em diferentes lugares, fazem parte da
memória social e precisam ser preservados [...]‖ (BITTENCOURT,
2009, p.333)
80
habilidades culinárias, requisito fundamental para o cumprimento de
seu papel social. A publicidade apresenta o produto e o qualifica na
forma de um relato no qual a mensagem fica mascarada pela
narrativa. O primeiro plano tem um grande bolo, destaque colorido,
cercado pela dona de tal feito e suas amigas encantadas pelo seu
sucesso na cozinha. A persuasão se dá de forma indireta pela criação
de um clima de confiança no produto. A retórica utilizada é a
essência, ela exalta o objeto. Diante disso, os valores promovidos
pela peça publicitária são felicidade, sucesso, necessidade de
agradar/servir. Qual a inferência que se pode obter sobre a
representação de mulher leitora da revista nesse período? A que
masculinidade corresponde esse tipo de comportamento feminino?
Referências
Janaína Jaskiu, professora QPM/PR, atua nos anos finais do EF e EM
da rede pública estadual; mestranda em Ensino de História – UEPG.
81
______. Imagens publicitárias como fonte para o estudo e o ensino
da História na ditadura militar (1969 – 1973). In: Área de
Conhecimento História. São Paulo, v.1, n.3, p. 48-52, 2001.
______. Jornais e revistas no aprendizado da História. In: AMARO,
Hudson Siqueira; RODRIGUES, Isabel Cristina. (org). História:
Metodologia do Ensino. 1. ed. Maringá, PR: Editora da UEM, v.1, p.
27-38, 2005.
COSTA, Maria Paula. Das bancas à sala de aula: o uso de uma revista
feminina nas aulas de História. In: SOUZA, Silvia Cristina Martins de.
et al. Conjunção de Saberes: Ensino e Pesquisa de História.
Campinas: Pontes Editores, 2011.
LUCA, Tania Regina de. ―História dos, nos e por meio dos
periódicos‖. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. 2
ed. 2 reimp. São Paulo: Contexto, 2010.
82
ZAMBONI, Julia Simões. Para que serve a mulher do anúncio? Um
estudo sobre representações de gênero nas imagens publicitárias.
153f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social). UNB, 2013.
83
O PATRIMÔNIO CULTURAL NEGRO NO ENSINO DE HISTÓRIA
Janaina Cardoso de Mello
Hiago Feitosa da Silva
84
No panorama das recentes produções historiográficas no Brasil sobre
o patrimônio cultura afro-brasileiro destacam-se os trabalhos: a
monografia ―O ‗lápis cor-de-pele‘: a construção de identidades raciais
nas práticas escolares‖ (2014) de Camila Oliveira Alves Boucinha, na
qual trata de como as crianças constroem o conceito de identidade
racial partindo dos Estudos Culturais em Educação, relacionando as
identidades culturais vivenciadas na escola e aquelas produzidas pela
sociedade globalizada; o artigo ―O patrimônio cultural afro-brasileiro:
São José, um estudo de caso‖de autoria dos pesquisadores Joana
Célia dos Passos, Tânia Tomázia do Nascimento e João Carlos
Nogueira, publicado na revista Estudos Históricos (2016) que analisa
como e oque tem sido considerado pelo poder público bem
patrimonial da população afro-brasileira em um município
catarinense; o livro ―As relações étnico-raciais na sala de aula:
propostas pedagógicas‖ (2016) organizado pelos professores Zoraia
Aguiar Bittencourt e Fábio Feltrin de Souza, terceiro volume da
―Coleção Educação para as Relações Étnico-Raciais‖ busca
desenvolver uma prática investigativa sobre os diferentes problemas
da realidade para intervir de maneira mais qualificada na superação
de históricos processos de exclusão material e simbólica, sendo uma
obra escrita por professores para professores; o livro ―A história da
educação dos negros no Brasil‖ (2016) organizado pelos professores
Marcus Vinícius Fonseca e Surya Aaronovich Pombo de Barros e o
Repertório Bibliográfico sobre a Condição do Negro no Brasil(2017)
produzido sob os auspícios da Câmara dos Deputados em Brasília que
traz dados sobre a construção da consciência negra no país.
85
O silencio do negro em Sergipe ocorre até mesmo no Departamento
de História da UFS, onde a emblemática figura da historiadora negra
e sergipana Beatriz Nascimento não é reconhecida nem por
professores e nem por alunos da graduação e pós-graduação.
Pesquisadora, poeta e atuante no Movimento Negro Unificado (MNU)
e no Feminismo Negro, Beatriz foi assassinada em 1995 (aos 52
anos), por amparar uma amiga que era agredida. Ocultada em sua
terra natal, em dezembro de 2016, a Biblioteca do Arquivo Nacional,
no Rio de Janeiro, recebeu o nome de Maria Beatriz Nascimento, por
meio de uma votação online na qual Beatriz recebeu 84% dos 914
votos.
86
(APJSE), o Museu da Gente Sergipana, o Centro Cultural Cidade de
Aracaju, a Galeria de Arte Álvaro Santos (GAAS), além da Biblioteca
Pública Estadual Epifânio Dória e da Casa do IPHAN/8ª
Superintendência. Mas embora pesquisas sejam realizadas nas
hemerotecas e acervos textuais e tridimensionais, observou-se um
registro muito insuficiente da cultura negra como protagonista nos
relatos sergipanos. Há uma invisibilidade do negro enquanto
―demanda social, econômica, cultural e política‖, enquanto ser
humano, pois sua presença está muito mais configurada pelo folclore,
arte, destituído de um ―lugar de fala‖ próprio, uma vez que é sempre
interpretado por intelectuais em sua maioria brancos.
Verificou-se, portanto, que são os espaços das ruas, das vielas, das
praças, dos mercados, de bairros periféricos e das proximidades do
centro de Aracaju que contêm o patrimônio cultural negro não
oficializado: dos vendedores de ervas, das trançadeiras de cabelo
afro, dos grafites, do hip hop, da capoeira, do teatro negro, da
vendedora de acarajé, dentre outros. Espaços invisíveis para a
maioria da população que por eles transitam, espaços do cotidiano da
população negra que nele constrói sua identidade negra móvel,
plástica, resistente. Além dos lugares, o foco também se direcionou
para as pessoas que constituem um ―patrimônio vivo‖ não-oficial de
luta, persistência e manutenção das tradições.
87
Figura 1: Quilombo Urbano da Maloca, Aracaju (SE)
Fonte: Acervo Hiago Feitosa, 2017
88
Tabela 1:Roteiro do Patrimônio Cultural Negro em Aracaju (SE)
Espaço Patrimônio Informações
Cultural
Doados em 1946 por
um policial
Museu Galdino Bicho Atabaques Run, Rmpi (provavelmente
no IHGSE e Lê oriundo das quebras
dos terreiros); em
péssimo estado de
conservação.
Placa com nome de
Bairro Cirurgia Travessa Antonina uma importante
moradora negra; em
estado de
degradação
Comunidade negra
Comunidade da Quilombo Urbano com palco para
Maloca festas, expressões e
cultura negra
Barraca de Acaraje Nara Machado Localizada atrás do
palco da Comunidade
Maloca
Localizada atrás do
Casa salão de Tranças afro palco da Comunidade
Gilmária Nunes Maloca. Trançadeira
há 11 anos.
Anderson Alves
Mercado Público Banca das Ervas Batista é o líder
local, cuidador da
saúde física e
espiritual e uma
espécie de griot.
Música negra como
Bocasecas e 14K Rap forma de
conscientização
política, cultural e
identitária
Terminais rodoviários Grafites negros Artistas: Lee 27 e
DalvamDext.
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo, 2017-2018
A pesquisa realizada até o momento tornou visível como espaços e
personalidades de referência negra sujeitos de pesquisa que antes,
quando tratados pela academia, ocupavam os estudos de
Antropologia ou Sociologia, mantendo-se obscuros em sua
historicidade.
89
Figura 2: Dona Nara do Acarajé, Aracaju (SE)
Fonte: Acervo Hiago Feitosa, 2017
90
A partir dos relatos e imagens será possível trabalhar o patrimônio
cultural negro sergipano como um território em construção, no qual
as crianças negras das escolas podem se encontrar e se identificar,
posto que começam a ser matéria escolar, pesquisa acadêmica e
visibilidade de fala e rosto daqueles que há muito foram mantidos no
esquecimento.
91
Referências
Janaina Cardoso de Mello é professora Adjunta do Departamento de
História da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Mestrado em
Ensino de História (ProfHistória-UFS).
92
TORRES, LuisRocca (Dir.)Sistematización del Patrimonio Cultural
Inmaterial de Afrodescendientes en América Latina. S/l:
UNESCO/CRESPIAL, 2011.
93
AS REPRESENTAÇÕES ÉTNICAS E CULTURAIS NO PCN – VOL.
10 - PLURALIDADE CULTURAL E ORIENTAÇÃO SEXUAL
Jander Fernandes Martins
Vitória Duarte Wingert
94
objetivado como a tradução do crédito conferido à representação que
cada grupo dá de si mesmo, logo a sua capacidade de fazer
reconhecer sua existência a partir de uma demonstração de unidade
[...]‖. (IDEM)
95
(CHARTIER, 1991), destaca-se do texto acima, o fato de apontar a
necessidade imperiosa de ―esclarecer‖ (conhecimento) e ―valorizar‖
as peculiaridades étnicas e culturais de cada grupo social que
compõem a nação brasileira, no caso, ter-se conhecimento e valorizar
todas as peculiaridades que ―índio, afrodescendente, imigrante,
sertanejo, caiçara, caipira, judeu, mulçumano, asiático, ciganos,
latinos, entre tantas outros grupos sociais e suas respectivas etnias e
cultural.
Pois, bem, como dito inicialmente neste texto, aqui se busca apenas
um exercício à reflexão, portanto, tal questionamento deixa-se em
aberto como convite à que se busque uma resposta mais profunda e
criteriosa, nos permitindo apenas a esboçar ―uma‖ das possibilidades
de responder a mesma.
96
―A Pluralidade Cultural existente é fruto de um longo processo
histórico de interação entre aspectos políticos e econômicos, no plano
nacional e internacional. Esse processo apresenta-se como uma
construção cultural brasileira altamente complexa, historicamente
definida e redefinida continuamente em termos nacionais,
apresentando características regionais e locais‖. (BRASIL, 1997, p.
28)
―As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas
histórias, na construção de suas formas de subsistência, na
organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e
com outros grupos, na produção de conhecimentos, etc. [...]‖.
(BRASIL, 1997, p.19)
97
Aqui, se percebe que, mais do que a ―complexidade‖ de se discutir a
―pluralidade cultural‖, mais ainda seria discutir-se, conceitualmente,
uma definição fixa, única de ―cultural‖. Logo, na elaboração deste
documento, optam por uma noção mais ampla deste conceito para
que, assim, tente-se de alguma sorte englobar a maior gama possível
de campos conceituais, de perspectivas e de elementos materiais e
simbólicos que de algum modo ―representem‖ uma determinada etnia
e/ou grupo social.
Tanto assim nos parece ser que, mais adiante no próprio texto,
destaca-se a seguinte constatação: ―A diferença entre culturas é fruto
da singularidade desses processos em cada grupo social‖ (BRASIL,
1997, p. 20). Logo, se cada grupo étnico, social de forma singular
produz e é produzido pelos mesmos processos os quais lhe legitimam
suas características de tal modo que, lhes permitem e possibilitam
diferenciar-se dos demais grupos, se todos estes encontram-se
inseridos geográfica e socialmente em um mesmo território esta
diversidade étnica só pode por conseguinte, produzir a nível mais
amplo, uma pluralidade cultural.
98
conotação, pensa-se ser mais interessante, atualmente rever alguns
elementos para definir tais relações, tomando como premissa, quem
sabe, a ideia de ―Hibridismo‖, seja de acordo com Cuché (1999),
Canclini (2000) ou Bhabha (1998)
Algumas Considerações
Buscou-se dissertar sobre a ―noção de representação‖ na perspectiva
proposta por Roger Chartier (1991), seguido de uma breve
explanação dos elementos mais basilares que compõem o Vol. 10 dos
PCN que trata dos Temas Transversais Pluralidade Cultural e
Orientação Sexual, para que num segundo momento, realizasse uma
aproximação da teoria basilar com o objeto investigado, tomando
como suporte teórico dois autores (uma antropóloga e um sociólogo)
que tratam desta temática, com o objetivo de responder a seguinte
indagação: que representação étnica e cultural é apresentada no
PCN‘s Vol. 10 – Pluralidade Cultural?
99
também figura de forma conotativa e até denotativa com o slogan de
―brasilidade amistosa e calorosa‖ que, particularmente, concordamos.
Visto que, por se tratar de um Documento Oficial norteador dos
processos didáticos e pedagógicos escolares em âmbito nacional,
entende-se que não deveria apresentar contradições, paradoxos,
sentidos e definições vagas. Ao contrário, entende-se que estes
Parâmetros e Diretrizes, deveriam apresentar alternativas e
tentativas concretas que valorizassem e permitissem a abertura à
discussão, reflexão e materialização de situações nas quais as
relações ―interétnicas‖ no ambiente escolar, sejam viabilizadas,
visualizadas e incentivadas na ―forma de relações mais horizontais‖.
(TELLES, 2004)
Referências
Jander Fernandes Martins – Especialista em TIC-EDU -FURG,
Pedagogo -UFSM, Mestre em Processos e Manifestações Culturais –
FEEVALE (defesa será realizada em 22/02/2018)
100
Vitória Duarte Wingert – Mestranda do PPG Processos e
Manifestações Culturais (FEEVALE), Historiadora formada na
FEEVALE, Especialista em Literatura Infanto-Juvenil (FISIG),
Especializanda em Mídias na Educação (IFSUL) e em Ensino de
Filosofia para Ensino Médio (UFSM).
101
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9ª Ed. Rio
de Janeiro: DP&A, 2004.
102
HISTÓRIA DAS MULHERES E ENSINO DE HISTÓRIA:
APRESENTANDO REFLEXÕES, CONEXÕES E POSSIBILIDADES
Jeane Carla Oliveira de Melo
Introdução
No ENEM realizado em2016, uma das perguntas da prova de Ciências
Humanas e suas Tecnologias trazia uma peça publicitária datada de
1968 em que uma mulher aparece com trajes de astronauta
segurando um produto de limpeza e na sequência, os seguintes
dizeres: ―as mulheres do futuro farão da Lua um lugar mais limpo
para se viver‖. A questão gerou uma imensa repercussão nas redes
sociais por discutir de modo aberto como a sociedade (através da
cultura da mídia) contribui para a manutenção de estereótipos
sexistas. No ano anterior, em 2015, houve uma questão que buscava
refletir sobre os significados da máxima ―não se nasce mulher, torna-
se‖, da filósofa feminista Simone de Beauvoir, com a resposta
indicando que o ―ser mulher‖ é uma construção cultural, material e
histórica e não uma ―essência‖ que exista para cumprir determinado
destino biológico. Na mesma prova, aprofundando o debate, o tema
de redação foi ―A persistência da violência contra a mulher na
sociedade brasileira‖, tema este bastante comemorado pelos
movimentos sociais de mulheres que se sentiram igualmente
contemplados com a sensibilidade pela escolha da temática; sem
dúvidas, é um enorme ganho político ter milhões de jovens
debruçados na produção de uma reflexão acerca dos produtos mais
nefastos do sistema patriarcal: a violência contra o sexo feminino.
103
recentemente é que estudos sobre as mulheres começaram a ser
produzidos especificamente no âmbito da pesquisa histórica. Convém
destacar que, como afirmou Walter Benjamin somos sujeitos
históricos ―repletos de agora‖, ou seja, a análise do passado se dá,
portanto, em função do tempo presente. Assim, podemos
seguramente apontar que o interesse por questões femininas na
história se concretizam em virtude destas se apresentarem bastante
urgentes da contemporaneidade, marcadas pela emergência de
movimento sociais de mulheres, tais como o Movimento Feminista
dos séculos XX e XXI‖ (MELO, 2017, pp. 3-4)
104
por serem considerados de pouco valor‖. Dito de outro modo, as
assimetrias nas relações de poder entre homens e mulheres também
são expressas na quantidade de fontes disponíveis para analisar os
indivíduos. Fontes históricas, como produtos culturais de uma
determinada época e espaço, também são particulares e
sexualizadas, agregando em si mesmas fortes componentes de
gênero‖ (MELO, 2017, p.4).
105
Longe de querer propor aqui um modelo fechado de passos e
procedimentos didáticos, as sugestões a seguir foram elencadas com
base no potencial educativo que as atividades ensejam, com a
ressalva que algumas delas já vivenciadas no espaço escolar do
Ensino Médio, produzindo uma exitosa construção compartilhada de
conhecimentos:
106
g) Criação de um blog colaborativo para produção e
compartilhamento de textos acerca da História das Mulheres ou para
composição de uma biblioteca feminista virtual, disponível para ampla
consulta.
Conclusão
Dentro e fora da academia, por vezes os maiores obstáculos partem
de premissas equivocadas de muitas correntes teóricas sobre o que
significa o feminismo – esse termo que acabou se tornando mais uma
vez ―maldito‖, nos tempos atuais. O atual backlash (retrocesso) da
agenda política e social tem contribuído enormemente para a
reificação da dominação entre os sexos, sendo muito útil para a
manutenção do patriarcado nos lugares em que ele deveria ser
enormemente debatido e combatido. Enxergamos que nessa seara
um dos caminhos possíveis é o esforço coletivo de mulheres por
identificar e lutar contra o machismo nos espaços de poder e
produção de conhecimentos.É ainda um imenso desafio integrar a
História das Mulheres ao ensino de História. A sala de aula, nesse
sentido, se configura como um lugar privilegiado para a construção
de saberes feministas politicamente situados. Deste modo,
percebemos o campo de estudos da História das Mulheres uma
ferramenta poderosa para gritarmos que somos sujeitos da história e
não uma curiosidade/artefato da História Cultural sem poder político
para alterar o processo histórico.
Referências
Jeane Carla Oliveira de Melo é professora de História do IFMA
Campus Alcântara e mestre em Cultura e Sociedade pelo
PGCULT/UFMA.
107
Jardins de Histórias: discussões e experiências em aprendizagem
histórica. 1ed.Rio de Janeiro: LAPHIS/Sobre Ontens, 2017, v. 1.
108
A RELAÇÃO TERREIRO-ESCOLA: DIÁLOGOS PARA UM ENSINO
DE HISTÓRIA QUE REPENSE O CURRÍCULO ESCOLAR COM
BASE NA LEI 10.639/2003 NO CENTRO DE ENSINO JOÃO
MARQUES MIRANDA EM CURURUPU-MA
Jêibel Márcio Pires Carvalho
Introdução
Cururupu é um dos 217 municípios do estado do Maranhão, localizado
no litoral ocidental maranhense a 475 km da capital São
Luís,habitado primitivamente pelos índios tupinambás, cujo cacique
da tribo era conhecido como Cabelo de Velha, nome hoje dado a uma
baía próxima a sede do município. Seu povoamento tornou-se
possível por volta de 1816 a partir das entradas chefiadas por Bento
Maciel Parente que subjugou os índios tupinambás ali aldeados e
matando o cacique Cabelo de Velha. Quanto à origem do nome,
centra-se na idéia que com a junção do som da arma (pu) que matou
o cacique Cabelo de Velha, que os índios chamavam de Cururu.
CURURU+PU deu origem ao nome. Atualmente o município possui
uma população estimada em 30.802 mil habitantes segundo o IBGE
(2016) sendo a maioria negros descendentes de escravos que
trabalhavam nas fazendas da região, na produção de aguardente. Os
primeiros negros que povoaram a cidade de Cururupu vieram do
Daomé, atual Benin.
As primeiras discussões
O Movimento Negro em Cururupu tem início em 1991, com o Grupo
de Consciência Negra de Cururupu (GCNC) um dos objetivos era
discutir temas atinentes a população negra, bem como reconstituir as
histórias de vida de lideranças comunitárias e dar maior visibilidade
as comunidades. Em 1994 é fundado o Bloco Afro Omnirá,que no
carnaval desfila pelas ruas de Cururupu evidenciando elementos da
cultura africana e afro-brasileira. Com a aproximação do tricentenário
da morte de Zumbi em 1995, o tema foi: Mãe Isabel, quilombola de
Zumbi, tendo sido Isabel Mineira a primeira pessoa a abrir um
terreiro de Mina em Cururupu. Nesta época coordenei os trabalhos de
pesquisa de campo sobre a homenageada.
109
que alguns docentes e discentes participavam de eventos realizados
nestes terreiros, nas variadas funções alguns como assistentes e
outros como iniciados, no entanto esses sujeitos ao retornarem para
o espaço escolar eram silenciados e invisibilizados; com o intuito de
encontrar mecanismos para responder estas questões, bem como o
resgatar as memórias e identidades ali vivenciadas e experiências da
comunidade escolar e de terreiros, apresentei o projeto de pesquisa:
―Transmissão e Manutenção das línguas litúrgicas nas redes
educativas de Cururupu‖: uma prática para implementação da Lei
10.639/2003 nas escolas do município ao Programa de Pós-
graduação em História, Mestrado Profissional da Universidade
Estadual do Maranhão-UEMA, que se encontra em desenvolvimento.
110
Esta diversidade presente nas escolas, em termos gerais tem sido
objeto de muitas discussões, oriundas de vários campos do
conhecimento, levando professores e alunos a pensarem de fato
como trabalhar e conviverem com essas diferenças que permeiam o
cotidiano escolar, em contextos práticos muitos são os apontamentos
apresentados, mas que pouco tem favorecido, talvez pela falta de
motivação desses sujeitos, percebe-se, nos espaços escolares uma
constante fuga em evidenciar o enfretamento de combate ao
preconceito como forma de trazer à tona acontecimentos tão
evidentes, mas que a escola finge não acontecer, talvez pelo
despreparo e mesmo pela falta de motivação em buscar um campo
de discussão e meios para encontrar estratégias para amenizar este
problema tão presente em nossas instituições de ensino,―que ao
longo dos anos vem desestimulando o aluno negro e prejudicando
seu aprendizado‖ (MUNANGA, 2005, p.16).
111
contexto dessas instituições, o que se observa, ao se referir, a estes
conteúdos curriculares é que na prática escolar, são vistas como
comemorativas em vez de um caráter questionador, o que dificulta
uma discussão mais acentuada sobre o assunto, se junta à discussão
uma prática bastante recorrente, a intolerância, que muitos alunos
passam no espaço escolar, neste percurso esta prática tem sido mais
acentuada em relação às religiões de matriz africana. Como
problematizar intolerância na Escola? Esta pergunta muito se tem
feito nas discussões acerca do assunto e acentuadamente nos grupos
de movimento negro, sobretudo nas casas de culto de religião de
matriz africana, nas escolas este acontecimento decorre da falta de
experiência dos sujeitos na interpretação desses eventos e configura
rituais pedagógicos excludentes no que se refere aos conteúdos de
África.
112
2015) em outros espaços são coordenadas pelos mais diferentes
grupos da sociedade, que assumem uma conduta consciente e
articulada para com os cultos afros e, sobretudo contra os dogmas
religiosos por esses sujeitos praticados, levando muitos terreiros a
fecharem suas portas.
113
alunos e professores e vê-los como participantes da realidade
histórica, a qual deve ser analisada e trabalhada, com o objetivo de
convertê-la em conhecimento histórico, em autoconhecimento, uma
vez que, desta maneira, os sujeitos podem inserir-se a partir de um
pertencimento, numa ordem de vivências múltiplas e contrapostas na
unidade e diversidade do real‖. (SCHMIDT, 2005, p. 299).
114
Metodologia
Soma-se ainda o esforço por problematizar os pontos de vista de
atores sociais que protagonizam as relações entre escola e
comunidade em uma conjuntura histórico-social específica, o que
permite situar o foco da presente pesquisa sobre as interfaces,
cruzamentos de espaços eco-representações identitárias. Nesse
contexto a despeito da extensão do universo empírico e das
dificuldades operacionais para tratamento das informações, a
pesquisa será realizada com base na combinação e diferentes
estratégias metodológicas. Uma abordagem a ser utilizada para
aquisição de respostas no desdobramento da pesquisa será a
observação etnográfica como forma de encontrar subsídios para
elaboração do texto final, a incursão neste método é fazer o
encadeamento das técnicas as quais a etnografia faz uso, neste
sentido os métodos farão parte no cotidiano do estudo objetivando
alcançar uma pesquisa que ofereça uma quantidade significativa de
elementos, para maior compreensão na execução do texto, o estudo
buscará incursionar na observação participante como forma de
agregar as manifestações de atitudes e posturas tanto na prática
escolar quanto aos terreiros e seus regentes:
115
de matriz africanas e, sobretudo dos terreiros que circundam a escola
objetivando redimensionar a formatação do currículo em atividade no
Centro de Ensino João Marques Miranda.
Considerações finais
O distanciamento que atualmente configura o bairro de São Benedito,
em se tratando de terreiros que se localizam no entorno do Centro de
Ensino João Marques Miranda tem sido o objeto de discussão a que se
propõe este projeto de pesquisa, entre olhares e interpretações das
religiões de matriz africana no contexto escolar, bem como os
conceitos sobre terreiros que alunos e professores possuem acerca
das religiões de matriz africanas ali desenvolvidas.
Referências
Jêibel Márcio Pires Carvalho Mestrando do Programa de Pós-
graduação em História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
Professor da Rede Estadual e Municipal de Cururupu-MA.
116
OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares.
Representações e imprecisões na literatura didática. Estudos Afro-
asiáticos, v. 25, n. 3, p. 421 461. P. 421. 2003.
117
VISIBILIDADE DA HISTÓRIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
NO CONTEXTO EDUCACIONAL NAS ESCOLAS EM SÃO LUIS
Josué Viana da Silva
Douglas Oliveira Machado
118
Educação (CNE), conforme os termos no parecer CNE/CP 3/2004 a
qual aponta para a ―promoção da educação de cidadãos atuantes e
conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil,
buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção de
nação democrática‖ a instituição de Diretrizes Curriculares Nacionais
para a educação das Relações Étnicos-raciais; Tais documentos
constituem as bases materiais nas quais repousam a necessidade de
implementação e os questionamentos da forma como são e se, de
fato, essas regulamentações são aplicadas na formação de nas
práticas educativas nas escolas.
119
Freyre sobre o africano cheio de exotismo, de sensualidade, de
natureza violenta e a ser violentada (FREYRE, 1987). Desde a
colonização, ao período imperial e ao período republicano, que nada
se fez para diminuir a diferença entre os grupos sociais que formam a
população brasileira, pouco se viu antes da década de noventa, para
criar uma visão uniforme de sociedade igualitária entre todos os seus
membros.
120
como uma riqueza própria do sujeito, que tem sua identidade
constituída a partir da realidade na qual está inserido.
121
―[...] importante instrumento de controle social, que envolve disputas
ideológicas e estratégias de manutenção ou silenciamento do discurso
de elites simbólicas, responsáveis diretas pela forma como esta visão,
lateral ao discurso, a identidade, será construída, articulando
memória e história‖.
122
brasileira‖, (SÃO LUÍS 2017, p.1) e: para incluir no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
brasileira", em atendimento ao disposto na obrigatoriedade da
legislação em vigor.
123
Quantos as experiências da SEMED diante das políticas afirmativas
que vem desenvolvendo no contexto escolar, entende-se que cada
relato destas ações aqui mencionadas e outras práticas descritas no
relatório, permitem ter uma visão da realidade da implementação da
Lei 10639/2003 em sua amplitude.
Considerações finais
Com os estudos e acompanhamento das ações da Secretária
Municipal de Educação de São Luís é real a preocupação da SEMED
com a educação étnico-racial, pois em um estado com a segunda
maior população de origem afro-brasileira e São Luís sendo uma
cidade que historicamente se construiu na base do trabalho
escravagista a herança que podemos perceber não seria de outra
origem que não a africana.
124
abordadas nas escolas da educação básica independente do motivo e
da presença de pessoas de raiz afro-brasileira na comunidade
escolar. Como na cidade de São Luís a população é de maioria
afrodescendente, é importante que as escolas trabalhem com a
temática pois não é uma realidade distante e sim algo do cotidiano
escolar, as crianças e funcionários vivem a realidade da negação da
presença da herança africana na sociedade brasileira, maranhense e
ludovicense.
Referências
Josué Viana da Silva. Acadêmico o Curso e Licenciatura em
Pedagogia/UFMA, e-mail: profjosueviana@hotmail.com
125
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. Presidência da República
Brasília – DF, 1996
SILVA, Ana L.Q. da; SILVA, Josué Viana da. Identidade Quilombola:
Olhares sobre as práticas na comunidade quilombola bom sucesso.
IN: BUENO, André et al. Por um outro amanhã. 2º Simpósio
Eletrônico Internacional de ensino de história. União da Vitoria/Rio de
Janeiro 2016, UNESPAR 2016. p. 42-45 disponível em
<www.academia.edu/.../Por_um_outro_amanhã_apontamentos_sobr
e_aprendizagem_hist...>
126
É DE PEQUENINO QUE SE APRENDE! OLHARES SOBRE O
ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E AFRO-BRASILEIRA NO
FUNDAMENTAL I DA CIDADE DE PONTA GROSSA-PR
Julia M. Kalva
Simone Aparecida Dupla
127
também constitui-se como uma forma de medir, ainda que de forma
inicial, o alcance de nossas práticas dentro do ensino de história, bem
como entender a visão do Outro a respeito do que lhes foi
apresentado.
128
afro ou não. Este fato pode ser notado em atitudes de sala de aula,
como, por exemplo, quando faço produção imagética com os alunos.
Durante suas produções é frequente ouvir a frase: ―Professora, me
empresta o lápis cor de pele?‖e quando respondo ― Qual cor de pele?
Marrom, negra, amarela? E que tom? Claro, escuro, médio?‖, noto
certo estranhamento por parte de alguns alunos, pois para eles há
apenas um lápis cor de pele: o salmão. Isso implica em um
pensamento construído que os leva a negar a existência da
diversidade de tons de pele, e mesmo em uma homogeneização
errônea da humanidade.
129
Como lembra Nilma Lino Gomes, a escola é um dos espaços ―que
interferem na construção da identidade negra. O olhar lançado sobre
o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades e
diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e
até mesmo negá-las‖ (GOMES, 2003, p. 171-2). Para desconstruir tal
paradigma da cor de pele buscou-se estratégias para se abordar a
cultura africana e afro-brasileira, assim, optou-se por contos que
poderiam ser abordados de forma lúdica e educativa para trazer a
diversidade e a pluralidade cultural para o âmbito escolar.
130
Vale lembrar que trabalhar com a literatura é trabalhar com o
imaginário, com a capacidade de criar imagens e sentidos a partir do
ouvido e do lido. Sandra Pesavento destacou a importância do
imaginário, para a historiadora, ele era o elemento organizador do
mundo, que lhe dava coerência, legitimidade e identidade. Um
―sistema de identificação, classificação e valorização do real pautando
condutas e inspirando ações‖ (PESAVENTO, 2006, p.12), mais que
isso, o imaginário é o ―sistema produtor de ideias e imagens, que
suporta, na sua feitura, as duas formas de apreensão do mundo: a
racional e a conceitual que formam o conhecimento científico, e a das
sensibilidades e emoções, que correspondem ao conhecimento
sensível‖ (PESAVENTO, 2006, p.12). Daí também sua relação com o
conceito de representação, visto que imaginário se constitui como um
sistema de representações sobre o mundo que tem o real como
referente (PESAVENTO, 2006, p.12).
Além disso, o tão comentado lápis de cor ―cor de pele‖ também passa
a ser questionado, posto que agora os personagens não se
enquadram no ―salmão‖ e os alunos quando na construção de seus
livros e pinturas já não podem mais recorrer a ele, e precisam
analisar a cor ideal a se usar, e descobrem no meio de seu trabalho
que não há cor ideal, mas sim um leque de cores que podem
representar o ser humano. Nesse momento, acredito que a
desconstrução e (re)construção de paradigmas e padrões são mais
notáveis, uma vez que os alunos sentem o abstrato vir ao concreto
quando da construção de seus próprios trabalhos.
131
primeiros anos colabora para uma formação mais justa e igualitária,
formando cidadãos mais críticos no futuro. E como lembra Almeida &
Dupla ―saber como lidar com essa pluralidade é papel do professor,
que assume a função de mediador de conflitos, daquele que traz
questões a serem pensadas, de desmistificador de pré-conceitos
herdados de nossa cultura colonialista‖ (ALMEIDA; DUPLA, 2017,
p.124).
Considerações finais
O trabalho que se apresenta ao professor do fundamental I, nem de
longe pode ser qualificado como fácil, sua função polivalente exige
constante formação para as áreas da qual não são especialistas,
entre elas: História, Geografia, Arte, Ciências e a mais nova área a
ser agregado no próximo ano, o Ensino Religioso, sobre o qual os
auspícios não são favoráveis, mas cujas criticas não cabem nesse
texto.
Referências
Julia Kalva é mestre em Linguagem, identidade e subjetividade, pela
UEPG. Professora convidada do curso de Letras a distância da mesma
instituição e produtora e corretora de materiais didáticos da editora
SAE.
132
BELLINGHAUSEN, INGRID B. Histórias encantadas africanas. Belo
Horizonte: RHJ editora, 2011.
133
MANIFESTAÇÕES DE PRÁTICAS RACISTAS: O QUE MUDOU NO
LIVRO DIDÁTICO?
Ledyane Lopes Barbosa
Vanessa Marcela Rodrigues
Introdução
Neste trabalho nos propomos a discutir aspectos conceituais acerca
do racismo ainda presente nos livros didáticos partindo das assertivas
de alguns teóricos da área, e dos dispositivos legais que respaldam o
estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena. A ênfase a
esses povos dá-se em razão das recentes conquistas legais em
decorrência de anos de lutas e esquecimento desses povos.
134
continente africano, sem sombra de dúvida, foi o fato de a África ter
sido alvo da escravidão racial e dos tráficos negreiros transoceânicos.
135
cristalização do outro em funções e papéis estigmatizados pela
sociedade, a auto rejeição e a baixa autoestima, que dificultam a
organização política do grupo estigmatizado‖. (SILVA, 2005, pg. 24).
136
das crianças brancas, pelo simples fato de terem a pele branca e
fazerem parte, portanto, do grupo que constitui a maioria em
ilustrações e referências culturais e históricas nesse tipo de material –
o que sinaliza a referência de poder, beleza e inteligência. Por outro
lado, as referências atualizadas e mais positivas para as crianças
negras, encontradas em filmes, músicas, revistas, jornais e
documentários, e que deveriam ser usadas nas aulas para
suplementar o conteúdo dos livros didáticos e paradidáticos não
foram vistas em uso durante o processo de observação, tampouco os
(as) entrevistados(as) sinalizaram sua utilização. Por meio do
material oferecido aos alunos, ao longo das aulas, notamos que o
trabalho desenvolvido ainda está alicerçado em explicações
construídas por teóricos/pesquisadores do final do século XIX e início
do XX, portanto, fortemente influenciados por ideologias
evolucionistas, racistas e liberal-escravistas‖. (CAVALHEIRO, 2005,
pg. 83).
137
Por outro lado, a Lei nº 11.645 de fevereiro de 2008, torna
obrigatório em todo o currículo escolar do ensino fundamental e
médio, público e privado, o estudo da história e da cultura indígena.
138
a estrutura e o funcionamento das escolas indígenas, reconhecendo-
lhes a condição de escolas com normas e ordenamento jurídico
próprios e fixando as diretrizes curriculares do ensino intercultural e
bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos
indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica‖.
Contudo, Silva (2005, pg. 26) também aponta algumas medidas, que
podem ser adotadas pelos docentes quando estiverem em sala de
aula fazendo uso dos livros didáticos que apresentarem algum cunho
racista em seus conteúdos. Como a problematização desses
conteúdos com os próprios alunos. Outra sugestão é mostrar e
solicitar que indiquem obras de artistas, escritores, poetas, jogadores
e pessoas da comunidade negros e negras, como meio de visibilizar o
positivo, contrapondo-se ao estereótipo.
139
A autora menciona a importância de capacitar os docentes
objetivando melhor prepará-los para trabalhar com essa questão
dentro do ambiente escolar, desconstruindo os estereótipos criados e
mantidos ao longo do tempo.Assim:
140
Além destas, outra proposta metodológica que o docente pode aplicar
em sala, é a construção dos seus próprios materiais didáticos, que
podem ser uma revista, um blog, materiais pedagógicos de acordo
com cada turma e habilidades a serem desenvolvidas.
Quer dizer, houve avanços, mas ainda temos muitos a trilhar. Faz-se
necessário uma maior circulação, propagação e posterior mediação
141
didática das pesquisas realizadas na academia. Para que o
conhecimento já produzido, pode ser socializado de forma coletiva.
Considerações finais
Analisando os pontos de vista dos autores citados, compactuamos
com a seguinte postura: que os materiais pedagógicos como livros
didáticos são muito importantes dentro do processo educacional, no
entanto outros materiais pedagógicos (como vídeos, documentários,
publicações científicas) devem ser buscados como forma de ampliar a
gama de conhecimentos a ser adquirida pelos educandos, bem como
pelo fato de estar sempre procurando atualizações no que se refere a
esses materiais.
Referências
Ledyane Lopes Barbosa é Graduanda do curso de pedagogia da
Universidade federal do Oeste do Pará – UFOPA. 8º semestre.
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas ―História, Sociedade e
Educação no Brasil‖ (Histedbr-Ufopa).
142
_______, Ministério da Educação. Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de
2003. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
_______, Ministério da Educação. Resolução nº 8, de 20 de
novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=do
wnload&alias=11963-rceb008-12-pdf&category_slug=novembro-
2012-pdf&Itemid=30192>.
143
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,
2005. 204p.: il.
144
O USO DOS “MEMES” NO ENSINO DE HISTÓRIA: A HISTÓRIA
DAS MULHERES NAS OLIMPÍADAS E AS NARRATIVAS
CONTEMPORÂNEAS
Luciana Mendes dos Santos
145
de determinados grupos e posicionamentos políticos. O meme em
questão foi elaborado por representantes de uma cultura política
conservadora, replicando a narrativa de que para ganhar a medalha
de ouro, a atleta Rafaela Silva não precisou do feminismo e nem de
cotas, conquistou tudo por mérito próprio.
Fig. 1
Fonte: Blog Sombras Elétricas. Disponível em:
http://sombraseletricas.blogspot.com.br/2016/08/,
acesso 10 jan. 2018.
146
conquistar a medalha de ouro em uma das mais importantes
competições mundiais.
147
relacionando com o tempo, ―experimentando o tempo para ele ter
algum significado, adquirindo a competência de dar sentido ao tempo
e desenvolvendo essa competência‖ (1993, p. 85). Tendo em vista a
necessidade de entender o tempo como experiência, a última
atividade solicitada aos estudantes foi a construção de uma análise
crítica sobre o meme produzido com a imagem da Rafaela Silva,
utilizando seu conhecimento histórico como base de defesa de seu
posicionamento diante das afirmações expressas no documento.
―Eu não concordo com o feminismo, porque acho que somos todos
iguais e por isso a Rafaela não precisou do feminismo para chegar
aonde chegou. Mas se não fosse a briga da FEFI para que as
mulheres fossem premiadas, demoraria bem mais para que isso
acontecesse‖.
―A luta das mulheres foi muito importante para que fossemos aceitas
com igualdade nos jogos olímpicos. Ainda existem muitos desafios,
como a diferença dos salários e dos patrocínios, mas quanto mais
mulheres praticarem esportes, mais mudanças vão acontecer‖.
148
visibilidade e igualdade no mundo dos esportes, minimizando sua
potência. Entretanto, como educadores de história, sabemos que
esses processos históricos complexos não devem ser ignorados,
tendo em vista que a discussão sobre gênero é essencial para o
desenvolvimento de uma sociedade que tem como base o respeito e
a igualdade.
Referências
Luciana Mendes é mestra em História pela Universidade Estadual de
Santa Catarina (UDESC) e professora de história da rede estadual de
Santa Catarina.
149
RETÂNGULOS, BALÕES E NEGRITUDE EM HQ ONLINE:
ESCRAVIDÃO ENTRE ÁFRICA E SERGIPE NO SÉCULO XIX
Luciano dos Santos Ferreira
150
―[...] a proposta da inserção de HQs na sala de aula de História é
vista como instrumento pedagógico capaz de mediar o processo de
aprendizagem do aluno. As HQs possuem uma linguagem fascinante
ao agregar o texto escrito e a imagem, ao tempo em que possibilita
ao aluno a produção de conhecimento desenvolvendo sua criatividade
e o poder de síntese‖ [2017, p.2].
151
pesquisa no regime escravista do período imperial, em ―A Força da
Escravidão‖ (2012) temos uma visão bem fundamentada das
consequências da proibição do tráfico escravo de 1831.
152
HQs na sala de aula
O historiador Amaro Xavier Braga Júnior no artigo Histórias em
quadrinhos, informação e memória: uma análise de ―passos perdidos,
história desenhada: a presença judaica em Pernambuco‖ (2013)
afirma o grande potencial das HQs na esfera do entretenimento, da
educação e do exercício da cidadania, sob a égide de: ―[...] uma
cultura de massa integrada, que não distingue público leitor de
consumidor ao agregar tanto elementos populares, quanto
sofisticados. E que, sobretudo, se dispõe a atender a qualquer
consumidor‖ [2013, p.818].
153
Figura 1: Parcial da página inicial da HQ Zumbi dos Palmares
Fonte: HQ disponível em:
http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/hq%20zumbi.
pdf, Acesso em: 24/08/2017.
Construção da HQ
A junção de história e ficção sempre esteve presente e diluída em
muito da historiografia, mas também sempre foi uma temática
espinhosa e difícil, demonizada por alguns e tida como solução para
outros. De fato, é difícil e delicado unir a verossimilhança da história
à ficção e sua narrativa, principalmente porque muitos ainda nutrem
a perspectiva de que a história é a narração ou problematização da
verdade. Se se desconstruir o conceito de ―verdade‖ da narrativa
histórica e percorrer aportes mais abertos à rigidez tradicional,
perceberemos que, se bem estruturada pode surtir excepcionais
efeitos para a compreensão das mentalidades e dos contextos que se
inserem, até porque, ficção pode ser apenas um termo empregado,
que poderia ser expresso como o conceito de representação coletiva
ou memória coletiva, uma bricolagem de fatos e vivências em locais e
épocas diferentes, mas que são fatos, apenas foram catalisados numa
154
figura específica simbolizando as tantas outras que sofreram tais
consequências.
155
Figura 2: Rascunho da protagonista Njinga da HQ
Fonte: Obra do desenhista Mauro Pena, 2018.
156
Figura 3: Rascunho da protagonista Njinga da HQ
Fonte: Obra do desenhista Mauro Pena, 2018.
157
espiritual para o africano, já que a crença se ligava a geografia
nativa, e o nativo perdia a identidade. A personagem será uma das
integrantes na viagem rumo ao desconhecido no negreiro Progresso,
embarcação conhecida pela historiografia, descrita por Pascoe
Grenfell Hill (2008) com detalhes, relatando o sofrimento dos
embarcados numa viagem à Cidade do Cabo, sob custódia da
marinha inglesa, que teria como destino o Brasil. Um relato pesado,
cruel e duro das condições as quais eram submetidos homens,
mulheres, sobretudo crianças. O Progresso era um negreiro de
aproximadamente 11 metros de comprimento e outros seis de largura
que foi capturado em 1843, na foz do Quilimane, com 447 escravos,
destes 189 homens, 45 mulheres e 213 crianças (Hill, 2008, p. 62).
Na estória da HQ de Njinga, a chegada ao Brasil será tão tumultuada
quanto a própria viagem, e nossa personagem assim como os demais
escravos serão desembarcados clandestinamente em barris, numa
praia deserta e à noite, com base no relato de Sharyse Piroupo do
Amaral (2012, p. 320), como era comum desde 1831, quando o
tráfico negreiro fora proibido, porém configurando-se numa lei ―para
inglês ver‖. A princípio sua chegada será em Salvador, um destino
comum para os escravizados da época, e levada para o Engenho da
Freguesia no Recôncavo Baiano; engenho bem equipado tendo a
senzala e o local da purga do açúcar destruídos pelos holandeses
à época da invasão a Salvador. Hoje, a casa grande mesmo tombada
pelo IPHAN e intitulada Museu do Recôncavo encontra-se fechada e
abandonada, no distrito de Cabôto, município de Candeias, há
aproximadamente 50km da capital baiana. Por uma série de questões
abordadas ao longo da HQ, nossa protagonista será vendida para
uma região próspera que floresceu com o plantio e produção de
açúcar na Província de Sergipe Del Rey: a Cotinguiba.
Figura 4.
Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Engenho_da_Freguesia
158
O Engenho Triunpho, propriedade de Luiz Barbosa Madureira Mainart
será o destino de nossa personagem, lá ela terá contato com o
quilombismo e figuras conhecidas do referido movimento, como João
Mulungu, e tantos outros da resistência quilombola (Amaral, p. 175).
Por fim, após ser meeira, conseguirá a alforria parcial (justamente
para mostrar aos estudantes como se davam as negociações de
liberdade, comuns principalmente após a Lei do Ventre Livre) nesse
espaço de ações limitadas, nossa personagem conseguirá comprar a
própria liberdade, vivendo na recém-inaugurada Santo Antônio do
Aracaju, a nova capital da Província desde 1855, onde será
evidenciada a vida de uma liberta no pós abolição.
Referências
Luciano dos Santos Ferreira é professor da SEC (Secretaria do Estado
da Educação da Bahia), Técnico em Assuntos Educacionais do
Instituto Federal de Sergipe e mestrando do PROFHISTORIA pela
Universidade Federal de Sergipe – UFS
159
HILL, Pascoe Grenfell. Cinquenta dias a Bordo de um Navio
Negreiro. tradução Marisa Murray. 2 ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2008.
160
SOUZA NETO, Edvaldo Alves de. ―Ô levanta nego, cativeiro se
acabou‖: experiências de libertos em Sergipe durante o pós-abolição
(1888-1900). São Cristóvão/SE: Universidade Federal de Sergipe,
2016, pp. 111-162.
161
PROJETO "CAIXA ARAXÁ": APORTE DIDÁTICO PARA O ENSINO
DE HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA
Lui Fonseca Do Nascimento
Caroline Dos Santos Andrade
Introdução
A pesquisa é direcionada ao aspecto da hecatombe indígena e o
resgate da discussão relacionada aos métodos de sobrevivência
cultural empreendido pelos aborígenes e a representação de certos
símbolos que os caracterizam, além de práticas para promover o
ensino de tais conteúdos em sala de aula. Pretende-se abordar
aspectos culturais que assinalam a crença e o cotidiano do ameríndio,
a fim de propor análises entre a transformação dos costumes que se
tornaram moldáveis durante o período da conquista do brasil, além
de explicitar formas de abordagem da temática em sala de aula.
Referencial Teórico
As formas errôneas de como os portugueses foram inicialmente
interpretados negligenciou o instinto dos aborígines, levando-os a
exporem a essência de sua cultura sem hesitar, Ribeiro (1995, p.43)
relata que ao enxergarem o erro cometido e perceberem sua
impotência, os índios se questionavam: "Maíra, seu deus, estaria
morto? Como explicar que seu povo predileto sofresse tamanhas
provações? Tão espantosa e terríveis eram elas, que para muitos
162
índios melhor fora morrer do que viver". Era incrível a habilidade de
tal povo em simplesmente morrer, deitavam em suas redes, abatidos
por sentimentos ruins, e pereciam.
163
as peculiaridades quanto o imaginário geral fornecido pelos índios
brasileiros.
164
Del Priore e Venâncio (2001) afirmam que nesse período houve uma
assimilação das memórias indígenas fundamentada na possível
existência de uma cultura fantasiosa e ancestral, que ampliou o
caráter e importância da nacionalidade. Os autores que simpatizaram
com tais ideias, acreditavam que os índios haviam preservado a
nobreza, bondade e coragem de seu passado histórico, valores que
não existia na contemporaneidade, o que forneceu os ingredientes
finais para caracterizar o brasileiro como diferente ao português e
não inferior.
Procedimentos metodológicos
O artigo consiste em pesquisa descritiva e bibliográfica, com análise e
aplicação de um projeto de viés educacional, movida pela dificuldade
e desinteresse dos alunos com a leitura, além de promover um
enfoque ligado a cultura indígena, se propôs a inserção de métodos
lúdicos com o objetivo de incentivar a prática da leitura, de maneira
interdisciplinar. A aplicação ocorreu de modo similar, seguindo as
regras instituídas, nos estabelecimentos de ensino público EMEF
―Narciso Araújo‖, no 7º e 8º ano no município de Itapemirim e,
EEEFM ―Liceu Muniz Freire‖ na cidade de Cachoeiro de Itapemirim nas
turmas dos 7°s anos. O projeto se fundamenta na proposta do Pibid
Interdisciplinar do Centro Universitário São Camilo/ES e nas diretrizes
que condizem com a obrigatoriedade da lei 11.645/08, onde as
escolas adotaram a discussão de temas referentes às culturas
indígenas e africanas em seu currículo, porém, a abordagem
referente ao relato condiz primariamente com o enfoque da cultura e
história dos índios brasileiros.
165
conteúdo presente no interior desta. Villard (1999) relata que o
material vinculado ao projeto deve ser agradável aos olhos e à
mente, e durante a abordagem e entrega do material de leitura para
o aluno, deve-se ter o cuidado de atribuir um teor diferenciado e
especial, para que este possa se sentir especial, a fim de alimentar
sua imaginação e elencar o interesse em participar da atividade. Após
a explicação e introdução do assunto referente à importância da
participação e interação com o projeto, foi estabelecido que houvesse
um sorteio semanal, para que determinado número de alunos
tivessem contato com a caixa. Sendo selecionados os alunos, coube o
esclarecimento do passo-a-passo e manuseio do material, que
deveria ser utilizado no ambiente residencial.
166
educacional do aluno, o que tem sido o diferencial das atividades
desenvolvidas por bolsistas do Pibid Interdisciplinar/São Camilo, da
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), uma vez que o projeto ultrapassa o espaço escolar e
estende à parceria escola-família, participação fundamental no
processo ensino-aprendizado. De acordo com o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), a criança que possui uma
família mais participativa em seu desempenho escolar, apresenta um
nível de aproveitamento superior em relação àquela onde os pais
estão ausentes do processo educacional (BRASIL, 2004), dessa
forma, os pais participam das atividades e se socializam com as
propostas do PIBID Interdisciplinar, que tem por objetivo a
valorização e a busca na construção de valores essenciais para o
desenvolvimento do sujeito, com inclinação à diversidade cultural
brasileira, contribuindo para o aprimoramento de suas capacidades
intelectuais ou morais.
167
deve-se entender a relação que ele mantém com o contexto relatado,
assim como perceber criticamente os objetivos traçados pelos fatos
desse contexto instituído pelo autor, em relação àquilo que o leitor,
vive em seu próprio contexto, induzindo-o à percepção, ao
conhecimento e a uma possível análise da realidade. Por exemplo,
nos textos continham traços culturais presentes no cotidiano do
discente que eram herdados dos índios, expondo que sua cultura não
é única e que recebeu influência de outras.
168
apenas ao ato de ler, ele reage e questiona, problematiza e aprecia
com criticidade, Freire (1992) afirma que o a leitura de mundo
antecede a leitura de objeto, e a compreensão do texto a ser obtida
pela leitura crítica deve provocar a percepção das relações entre o
texto e o contexto. Assim, a leitura e o momento "desafio pós-leitura"
contribuem para amadurecer desta consciência crítica nos discentes,
pois são impelidos a debater algumas temáticas com os pais ou
responsáveis, a fim de compartilhar o que aprendeu e relacionar com
o meio social no qual se insere.
Considerações Finais
O estudo sobre a transformação sociocultural dos nativos da América
contribui para uma melhor compreensão do processo formativo do
povo brasileiro, sendo fundamental durante a construção do aluno,
enquanto agente social, para que possa cumprir com seu papel de
cidadão pertencente a uma sociedade regida por leis, sendo preciso o
desenvolvimento de um olhar de alteridade para com as diversidades.
Desse modo, o projeto em questão, torna-se um complemento
essencial no campo educacional, visto que imbui um valor sólido
acerca da presença familiar na formação do estudante, onde o
aspecto inovador está presente na tática dos desafios "pós-leitura" e
na interação dos discentes com demais agentes que influenciam seu
desenvolvimento.
169
certeza e coerência as ideias propostas pelos textos, assim como a
participação de seus familiares nas tarefas diárias, contribuindo com
discussão acerca do texto, e na pesquisa de termos que os alunos
desconheciam. Ficou clara a importância da atuação dos familiares na
formação dos alunos, visto que a motivação e envolvimento mútuo
com a atividade proporcionaram relatos únicos e construtivos,
fortalecendo o elo familiar e desenvolvendo uma prática que não se
restringe apenas à instituição formal de ensino.
Referências
Lui Fonseca do Nascimento é Licenciado em História pelo Centro
Universitário São Camilo-ES e atualmente é estudante de pós-
graduação lato sensu pela Faculdade de Venda Nova do Imigrante.
Caroline dos Santos Andrade é Licenciada em História pelo Centro
Universitário São Camilo-ES.
170
SCHADEN, Egon. Aculturação Indígena. São Paulo: Pioneira, 1969.
171
PRECISAMOS FALAR DOS NEGROS: ENSINANDO CIDADANIA
NA AULA DE HISTÓRIA DOS ANOS INICIAIS
Olga Suely Teixeira
172
pensamento crítico em relação às questões de preconceito de raça e
gênero.
Fundamentando a Experiência
Cidadania não era uma palavra do universo escolar no Brasil até –
pelo menos – a segunda metade do século XIX (para aprofundamento
ver STAMATTO, 1997), quando a necessidade de ser alfabetizado
para votar - ato que garantia a cidadania segundo o entendimento da
época – fez com que a escola passasse a ser vista como o local onde
se aprende a ser cidadão.
Descrição da Metodologia
Como o livro didático fosse muito vago, o desenvolvimento da
experiência abrangeu vários momentos.
173
trabalho masculino e feminino. Enfim, discutimos questões relativas à
resistência escrava e à alforria.
174
faixa etária com a qual está atuando e, via de regra, também sobre
como acolher as experiências discentes no seu planejamento.Infere-
se que o resultado será a formação do cidadão nos moldes
preconizados pelos objetivos do ensino de História dos dias
contemporâneos: reflexivo, crítico e atuante na sociedade na qual se
encontra inserido.
Referências
Olga Suely Teixeira é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Ensino de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Professora de História na rede particular de ensino da cidade de
Natal/RN.
175
DESAFIOS DO ENSINO DE HISTÓRIA PARA ALUNOS SURDOS
EM CLASSES INCLUSIVAS
Paulo José Assumpção dos Santos
176
As pesquisas acadêmico-científicas, que poderiam oferecer suporte
aos professores que atuam com alunos surdos em classes inclusivas,
ainda são incipientes. Em levantamento realizado para nossa
dissertação, identificamos a existência de apenas quatorze textos,
entre artigos, comunicações, monografias e dissertações, que versam
especificamente sobre esta temática. Ademais, os dados parecem
indicar que a questão surda está distante das preocupações que
mobilizam as produções acadêmicas na área de História, posto que,
até o momento, dispomos de somente uma monografia,duas
dissertações (tendo estas últimas sido defendidas recentemente) e
nenhuma tese. Também chama a atenção o fato de que, dentre os
dez autores aos quais tivemos acesso a seus currículos, só três deles
prosseguem estudando o tema aqui abordado. E não se trata de
esgotamento do assunto, uma vez que os próprios textos apontam
para diversas questões que necessitam ser aprofundadas ou
exploradas em futuras pesquisas (PEREIRA; POKER, 2012; AZEVEDO;
MATTOS, 2017).
177
sujeitos, práticas pedagógicas tradicionais, ensinando
fundamentalmente por meio de narrativas orais e com o suporte de
textos escritos, via de regra, contidos nos livros didáticos, o que
Yokoyama denomina ―comportamento teórico-metodológico oral
auditivo‖ (2005). Se nas últimas décadas a disciplina História,
enquanto pesquisa, incorporou novos métodos e objetos, incluindo
cada vez mais o estudo de grupos sociais marginalizados, esta
mesma abertura pouco se verifica em relação à História ensinada em
nossas escolas. Neste sentido, Verri e Alegro afirmam que a
historiografia quer incluir, mas o ensino de História não sabe incluir
(2006). Ainda estamos presos a um modelo de ensino apoiado na
oralidade, com conteúdos nem sempre significativos e abordagens
que são pouco eficientes ou reverberam na nova geração de alunos
(SANCHES, 2007).
178
aos discentes surdos, por ainda estarem estes em condições de
exclusão social, mesmo com as políticas públicas e avanços em
termos de acessibilidade verificados nos últimos anos. Assim, tornar
mais acessível e significativo o ensino de História pode concorrer na
elaboração de uma consciência histórica dos surdos, implicando no
pleno exercício de sua cidadania.
179
e compartilhando aquelas já feitas. O desafio está posto. Vamos
encarar?
Referências
Paulo José Assumpção dos Santos é professor de História da rede
municipal de ensino de Duque de Caxias, mestrando do Programa de
Pós-Graduação em Ensino de História da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (PPGEH/UFRJ) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
Sobre Surdez (GEPeSS/UFRJ).
LUIZ, Gabriel. Enem 2017 tem queda no total de alunos com nota mil
na redação. O Globo, Rio de Janeiro, 18 jan. 2018. Disponível em
<https://g1.globo.com/educacao/enem/2017/noticia/enem-2017-
tem-queda-no-total-de-alunos-com-nota-mil-na-redacao.ghtml>.
Acesso em: 4 mar. 2018.
180
aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição
Especial Ebook LAPHIS/Sobre Ontens, 2017, p. 97-99.
181
HISTÓRIA POR MEIO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS –
CUMBE A HQ SOBRE A ESCRAVIDÃO
Policleiton Rodrigues Cardoso
Ellen Cristina Araújo Silva
Introdução
O uso de HQs e Mangás no âmbito historiográfico foram obtendo
notoriedade após a década de 1970, em virtude da virada cultural
que possibilitou novas abordagens as fontes que até então eram
marginalizadas pelos historiadores. Dessa forma, o trabalho se insere
nessa proposta, de versar sobre uma historiografia tradicional e
compará-la a historiografia contemporânea, a fim de apresentar as
lacunas deixadas pela historiografia que apresenta os
escravos/africanos enquanto sujeitos passivos.
182
Figura 1 – O Menino Amarelo (Yellow Kid), de Outcault.
http://jornal.usp.br/cultura/historias-em-quadrinhos-vivem-bom-
momento-no-brasil-diz-docente/
183
demonstra aspectos da cultura grega no interior do mangá Cavaleiros
do Zodíaco, fazendo uso de fontes sequenciais e outros
embasamentos com a intenção de demonstrar a relevância da arte
serial para a construção do conhecimento histórico; Um trabalho
notável sobre a utilização das Histórias em Quadrinhos como fonte
histórica se deve ao historiador Carlos André Krakhecke (2009), que
observa os processos de conflitos durante a Guerra Fria, e como
esses influenciaram na criação de heróis, vilões, tramas que
representavam muito bem a conjuntura do período. As HQs também
auxiliam na elucidação de noções que são pertinentes para se
compreender aspectos históricos.
184
Contudo é necessário frisar que a utilização dessa ferramenta no
âmbito escolar é apenas um recurso e não o único mecanismo a ser
utilizado pelo professor.
Possibilidade temática
O conteúdo sobre a África é obrigatório na educação básica, posto
que a legislação exige a prática do estudo da história e cultura afro-
brasileira, assim como a indígena, contudo essa última não se insere
na proposta do artigo. A lei nº 11.645, de 10 de março de 2008,
sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, garante em seu
art. 26-A que ―nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da
história e cultura afro-brasileira e indígena‖.
185
A nova historiografia demonstra a escravidão na ―América‖ desde o
século XVI ao XIX caracterizando os escravos enquanto edificadores
de sua própria história, ou melhor, trata-os enquanto sujeitos ativos,
e não passivos de posicionamento dos europeus.
186
história da arte: Marcelo D‘Salete que, assim como REIS e SILVA
(1989) alude a escravidão numa posição intermediária, em um
espaço de manobras, de indefinições, de negociações, e de conflitos.
187
Diante da convicção que o Brasil é oriundo de origens diversas, e
parte dessa vasta origem deve-se a cultura dos índios nativos e aos
africanos, o autor, ao elencar o ponto de vista do escravo durante a
construção da história preocupa-se com a ressignificação de símbolos
e palavras da cultura destes atores, além de manter diversas
referências a expressões e tradições africanas trazidas pelos
escravos.
188
de negros e africanos escravizados. Diante disso, o professor pode
elencar o conteúdo exposto no livro que, em geral não relata pela
ótica dos escravos e assim, relacionar as duas visões, como um
cruzamento de fontes e, dessa forma o conteúdo terá mais riqueza,
bem como percepção e absorção por parte dos alunos.
Imagem 03
189
Imagem 04
Fonte: HQ ―Cumbe”
Considerações finais
As Histórias em Quadrinhos são percebidas enquanto um notório
diálogo que pode/deve ser levado ao âmbito educacional enquanto
190
um complemento pedagógico. As HQs são expressivas, tanto no
sentido de ideias quanto de formação epistemológica dos discentes,
posto que é uma linguagem que está presente nas escolas, mas que
perpassa um meio social mais amplo. As HQs são construídas de
acordo com as interpretações de seus autores, posto isso buscamos
uma HQ produzida pelo historiador Marcelo D‘Salete que buscou por
meio de seus conhecimentos históricos e habilidades de designer criar
quadrinhos que visassem a resistência à escravidão no Brasil pela
perspectiva dos povos negros, utilizando seu HQ produzido em 2014
chamado Cumbe, no qual percebemos importantes elementos da
historiografia contemporânea que visa a desconstrução da imagem do
escravo enquanto passivo da ―superioridade europeia‖.
Referências
Ellen Cristina Araújo Silva é graduando do curso de História da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, no Campus de
Estudos do Trópico Úmido.
191
KI-ZERBO, Joseph. Introdução Geral. In: KI-ZERBO, Joseph (Org.).
História Geral da África: Metodologia e Pré-História da África. Vol. I.
Brasília: Unesco, 2010.
192
AÇÕES AFIRMATIVAS E AS PROPOSTAS DE ENSINO DE
HISTÓRIA
Siméia de Nazaré Lopes
193
cultural o qual não apresenta um posicionamento explícito de
superação do racismo e desigualdade racial na educação nas suas
propostas‖ (GOMES, 2005, 113).
194
diferenças étnico-raciais são tratadas nos currículos escolares, já que
o preconceito racial ―geralmente envolvendo a cor da pele‖ acabam
por dificultar o desempenho dos alunos que sofrem com esse tipo de
destrato, impossibilitando a construção de uma identidade coletiva e
positiva sobre a sua realidade social. O que reforça o argumento de
Nilma Lino Gomes (2005) sobre as desigualdades sociais no espaço
escolar, como também suscita a necessidade dos currículos escolares
discutirem, de fato, essas questões em sala de aula. Com a
obrigatoriedade da lei 11.654/08, os currículos da educação básica e
das IES passaram a compor em suas linhas de debate e conteúdos
essas determinações, entretanto como essas questões estão sendo
aferidas em sociedade é o que se busca nessa pesquisa.
195
poucos são os registros que apresentam essas transformações
(JULIA, 2001). Os exercícios escolares não fazem parte dos arquivos
guardados nas escolas, em algumas situações, as provas aplicadas
pelos professores são os registros que compõem parte desse material
preservado. Nesse sentido, as questões presentes nas provas
aplicadas pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior
(SINAES), possibilitam a percepção de como o governo entende o
ensino das relações étnico-raciais presentes nas suas diretrizes e
normatizações.
O que era proposto nos Temas Transversais dos PCN´s, mas pouco
lido e trabalhado em sala de aula e na escola. Com isso, o que se
pretende é que os alunos em formação possam dialogar e discutir
sobre esses temas durante a sua graduação, para que na prática
docente se apropriem da importância de se discutir sobre a
desigualdade racial e social e sobre as práticas de discriminação
presentes na cultura escolar. Com a implementação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, em 2000, novas propostas metodológicas vêm
196
sendo consolidadas em relação ao ensino-aprendizagem de História,
tanto nas abordagens sobre as concepções de História, como na
articulação desse ensino aos Temas Transversais inclusos nos PCN´s
(Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Orientação
Sexual, Trabalho e Consumo). Essas propostas, no mais, questionam
as concepções de história e de currículo, a formação do professor e o
seu perfil no cotidiano escolar e a realidade do ensino nos seus
diversos níveis. Por outro lado, a produção historiográfica tem
proposto ao professor a inclusão de novos recursos e métodos com o
intuito de favorecer o ensino de História numa perspectiva crítica e
historicizada.
197
superior. Entende-se que a análise das questões das provas
possibilitem observar como o MEC entende a relação entre as
diretrizes propostas para o ensino (os eixos e temas transversais dos
PCN´s, as ações afirmativas) e a aferição dessas competências pelos
alunos e futuros professores da educação básica.
198
questões mais características da parte de formação geral que do seu
componente específico. Em um poema de Langston Hughes, de 1926,
pedia entre as assertivas da questão apenas a interpretação do texto.
199
esse estudo, o objetivo apresentado foi compreender essas questões
dentro do processo de ensino-aprendizagem que se apresentam nas
instituições de ensino da educação básica e do ensino superior,
atentando como o programa SINAES percebe essa articulação por
meio de seu processo avaliativo.
Referências
Siméia de Nazaré Lopes é Professora Adjunta da UFPA- Campus de
Ananindeua, e atua nas áreas de Teoria e Metodologia do Ensino de
História, História da Amazônia, participa do programa de Mestrado
Profissional em Ensino de História, da Especialização em Ensino de
História e da Especialização em História Agrária da Amazônia
Contemporânea.
200
1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília,
DF, 1996.
201
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: UMA ANÁLISE
NA PERSPECTIVA DO DIREITO DOS POVOS A UMA EDUCAÇÃO
ESCOLAR INDÍGENA
Suerley Mendes Parintins
Wilverson Rodrigo S. de Melo
202
―A Constituição de 1988 marca uma mudança importante na
concepção do Estado sobre as sociedades indígenas. O fundamento
epistemológico deixa de ser o integracionista e passa a ser o da
valorização, ou pelo menos da aceitação, da diversidade cultural. No
entanto, embora entendamos que a implementação de escolas
consiste em inegável conquista por parte dos povos indígenas,
ressaltamos ser preciso um exame crítico sobre essa implantação,
particularmente com relação à teoria pedagógica que as orienta‖
[LOMBARDI; RODRIGUES, 2016:26].
203
Reflexão na perspectiva das leis que asseguram os graus da
educação indígena
Sabe-se que no território da Amazônia se encontram várias etnias de
povos indígenas, que vivem com suas tradições vivas desde a
vivência de seus antepassados, que por um acaso deixaram essas
lembranças para povos atuais, mas, essas tradições chegaram a
passar por grandes processos ameaçadores, porém, hoje eles
conseguiram seus direitos amparados pelas leis que regem no Brasil.
Segundo Grupioni [2002:131]:
204
do novo texto constitucional, os índios não só deixaram de ser
considerados uma espécie em via de extinção, como passaram a ter
assegurado o direito à diferença cultural, isto é, o direito de serem
índios e de permanecerem como tal‖ [GRUPIONI, 2002:131].
Destarte isso, a Lei 11.645/08 foi uma das grandes conquistas para o
reconhecimento social do negro e do indígena. ―Ela torna obrigatório
o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena em todas as
escolas brasileiras, públicas e privadas, do Ensino Fundamental e
Médio‖ [CRUZ; JESUS, 2013:4]. Nesse sentido, o indígena se torna
um grande vitorioso com essa lei, tornou-se realmente uma
conquista, por que eles tiveram a oportunidade de alto se identificar,
isso prevaleceu tanto para os indígenas quanto para os negros que ao
longo dos anos venham sofrendo pela crueldade da escravidão.
205
Por tanto no decreto da Lei n° 9.394/96, estabelecesse no Artigo 26-
A, que nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino mé-
dio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena.
Considerações finais
Diante da perspectiva discutida, no que tange a constituição federal
de 1988 e a Lei 11.645/08, que veio assegurara os direitos dos povos
indígenas a permanecerem com suas culturas, tradições e sua língua
materna, isso pode-se dizer e considerar uma conquista de grade
206
importância para os povos que vivem na região da Amazônia. ―Os
povos indígenas se apresentam hoje como um dos segmentos da
sociedade brasileira que lutam com maior intensidade pelo acesso à
escola pública adequada e de qualidade‖ [BRASIL, 2007:36].
Referências
Suerley Mendes Parintins – É acadêmico indígena do curso de
Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do
Pará (UFOPA). E-mail: suerleymendes04@gmail.com
207
ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL E O ENSINO DE HISTÓRIA:
UMA BREVE REFLEXÃO
Valdenira Silva de Melo
Introdução
O presente texto propõe uma reflexão sobre a escravidão negra no
Brasil e o Ensino de História. Essa temática precisa ir além dos livros
didáticos, dos discursos europeizastes construídos ao longo da
formação acadêmica de professores e de alunos. Desmistificar a
passividade do negro diante ao sistema opressor vigente, precisa ser
tarefa relevante do professor, nas aulas de História.
208
aqui entendida como instrumento ideológico de dominação, como
forma de manter inalterada a estrutura econômica, política, social e,
ao mesmo tempo, garantir a transição para o trabalho livre de forma
menos traumática. Procurava-se, desse modo,manter as relações de
produção que, mesmo não sendo escravistas não deixaram de ser
coercitivas‖. (FUNES; GONÇALVES, 1990, p.30).
209
A força da resistência negra e a ressignificação política das
datas comemorativas
A força da resistência negra motivou a luta pela ressignificação
política das datas comemorativas pois, há muito tempo estas, foram
destacadas no ensino de História, sempre enfatizando a passividade
negra frente a dominação branca. Os negros e suas organizações vão
se protagonizando no cenário nacional. ―[...] Em Porto Alegre, nasceu
o Grupo Palmares (1971), o primeiro no país a defender a
substituição das comemorações do 13 de Maio para o 20 de
Novembro [...].‖ (DOMINGUES, 2007, p.112).
210
temática e a participação dos alunos na discussão histórica. Conforme
Pinsky; Pinsky (2012, p.22):
211
onde figuravam eventos comemorativos, shows, encenações públicas,
etc. Outra ligada às associações e órgãos de luta contra a
discriminação e o racismo, onde os eventos tinham o sentido de
protesto e conscientização, sendo a Marcha contra a Farsa da
Abolição seu maior destaque‖.
212
Escravidão em Foco: Passado e Presente no caso do Paraíso
doTuiuti
Na madrugada de 12de fevereiro de 2018, a escola de samba Paraíso
do Tuiuti, fez uma reflexão sobre os 130 anos da escravidão no
Brasil, tendo como palco, a Sapucaí, no Rio de Janeiro.
―Ao som do refrão ―Meu Deus! Meu Deus! se eu chorar não leve a
mal, pela luz do candeeiro, liberte o cativeiro social‖, a escola
surpreendeu já na comissão de frente, chamada ―O Grito da
Liberdade‖. Os passistas representaram escravos negros
amordaçados, com grilhões nos pulsos e corpos ensanguentados de
tanto apanhar do senhor do engenho, também negro‖.
213
Essas narrativas sobre a escravidão protagonizaram o samba enredo
do Tuiuti. Esse acontecimento histórico, oportuniza a participação dos
alunos nos diálogos de sala de aula, promovendo um olhar crítico
sobre as relações de trabalho no Brasil. No entanto, é fundamental
que o professor, consolide essa informação em conhecimento
histórico, conforme afirmam Pinsky; Pinsky (2012, p.22):
Considerações finais
A escravidão negra no Brasil, tem sido tema de diversas análises
históricas enos permite refletir, que mesmo pela força da Lei Áurea,
muitos negros, ainda na condição de livres, ficaram reféns da elite
branca. Sem assistência promovida pelo Estado, os negros libertos,
não contaram com medidas de inserção social. Ficaram à mercê da
própria sorte, sem documentos, sem escolarização e sem condições
de competir com a sociedade branca.
214
Essas ações e mobilizações voltadas a temática negra ao longo da
história, continuam em evidência. O medo do passado escravagista,
ameaça o trabalhador livre do Brasil Contemporâneo. No entanto, a
força da coragem gritou mais alto. E para homenagear os cento e
trinta anos de abolição da escravidão no Brasil, a Escola de samba,
Paraíso do Tuiuti, desafiou os dominantes, quando trouxe para a
avenida carnavalesca, para o Brasil e para o Mundo, uma análise
crítica da história do Brasil, destacando, o tema da escravidão.
Referências
Valdenira Silva de Melo é Especialista em História das Revoluções e
dos Movimentos Sociais –(UEM)- Universidade Estadual de Maringá e
docente da Rede Pública Municipal e Estadual em Santarém-Pará.
215
FUNES, Eurípedes Antônio; GONÇALVES, Adelaide. Abolição:
Manifestação e Herança. In: CLIO: Revista de Pesquisa Histórica.
1990. Periódicos.ufpe.br.
216
DEZ ANOS DA LEI 11.645: ENTRE MUDANÇAS E
PERMANÊNCIAS
Vânia Cristina da Silva
Cláudia Cristina do Lago Borges
217
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileiras‖ (BRASIL, 2008).
218
O importante é que, a passos lentos, mas esses tipos de
generalizações vêm mudando e dando espaço a novos olhares sobre
essas populações, inclusive porque, nos últimos anos, vem crescendo
significativamente o número de indígenas em espaços antes jamais
ocupados por eles, tomemos como maior exemplo as universidades,
já que hoje é crescente a presença de pessoas pertencentes a essas
comunidades nos meios acadêmicos, não se limitando apenas à
conclusão de uma graduação, mas indo além, se tornando mestres,
doutores e pesquisadores respeitados. Gersem Baniwa, por exemplo,
mestre e doutor pela Universidade de Brasília, é autor do livro O índio
brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no
Brasil de hoje, no qual ressalta que:
219
significa dizer que no âmbito dos currículos dos cursos de
licenciaturas e formação de professores, deve ocorrer a inclusão de
cadeiras obrigatórias ministradas por especialistas que tratem
especificamente da temática indígena, principalmente nos cursos das
áreas das Ciências Humanas e Sociais‖.
Referências
Vânia Cristina da Silva é Doutoranda pelo Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Federal de Goiás.
220
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2008/lei/l1164
5.ht> Acesso em: 01 mar. 2018.
221
PROBLEMÁTICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA
Wesley de Oliveira Silva
Contudo, embora muitos saibam que esse não é o melhor termo para
se referir aos povos nativos da América, o seu uso ainda se faz muito
222
presente até os dias de hoje, englobando todos estes povos nesse
conceito, sem respeitar ou considerar múltiplas diferenças culturais
[cf. SILVA, 2009, p. 121-123]. Hoje em dia, por exemplo, várias são
as notícias informadas em jornais, revistas, telejornais, ou obras que
abordam esses povos (seja em séries, novelas, filmes) que estão,
ainda e infelizmente, insistindo em utilizar essa palavra equivocada, o
que ocasiona bastante a perpetuação desse erro.
223
pela primeira vez. Contudo, quando os Europeus chegaram ao
continente americano já existiam pessoas morando neste local. A
América já havia sendo habitada há milênios. Portanto, seria melhor
o uso da palavra ―descoberta‖, já que diferente de descobrimento,
esta expressão refere-se a um achado, mas não pela primeira vez. E
decerto houve uma descoberta da América para a Europa, África e
Ásia, que desconheciam este continente [cf. SILVA, 2009, p. 93-96].
224
estereotípicos para as características sociais e culturais indígenas [cf.
COSTA, 2006, p. 56-59].
225
discussão sobre as mentiras como formas de reação as pressões da
colonização [cf. BRUIT, 1993, p. 21-22].
Referências
Wesley de Oliveira Silva é acadêmico em História, Licenciatura Plena,
Pela Universidade de Pernambuco – Campus Mata Norte (UPE-CMN).
Esse trabalho foi desenvolvido com auxílio financeiro da Bolsa de
Monitoria da UPE, através da monitoria da disciplina de História da
América Indígena da mesma universidade, tendo como tema do
projeto ―Revendo o Ensino de América Indígena‖ e como orientadora
Kalina Vanderlei Silva. E-mail: wesley_oliveira18@outlook.com.
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SILVA, Kalina Vanderlei Paiva da. Usando biografias para ensinar
história indígena. In: BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; CREMA,
Everton. (Org.). Para um novo amanhã: visões sobre aprendizagem
histórica. 1ed.Rio de Janeiro/União da Vitória: LAPHIS/Sobre Ontens,
2016, v. p. 148-167.
227
ORGANIZAÇÃO
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