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Revista Pós-graduação: Desafios Contemporâneos

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O LÚDICO COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO

Juciara Rodrigues Trinca1


Patrícia Beatriz de Macedo Vianna2

RESUMO

O objetivo deste estudo foi o de verificar, junto à literatura, a importância do lúdico na


sala de aula, como o brincar pode auxiliar no processo de inclusão e também
identificar jogos e brincadeiras que servissem de instrumento para o processo de
inclusão e alfabetização. Para isso foi realizada pesquisa bibliográfica, para que,
através da análise de artigos, livros e outros materiais que abordassem o tema
Ludicidade e Educação, fosse possível elaborar algumas conclusões acerca do
assunto. Os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da
infância, pois o brincar pode favorecer a imaginação, o desenvolvimento da
linguagem, do pensamento, da criatividade e da concentração. Ao brincar as
crianças não fazem distinções e não destacam diferenças, pelo contrário, criam
laços afetivos com seus pares de brincadeira, auxiliando assim, no processo
inclusivo. Os resultados da pesquisa apontam para a grande importância do
processo lúdico em sala de aula, como promotor de aprendizagens cognitivas,
afetivas e sociais, sendo fundamental o professor organizar os tempos e espaços,
ocupando o papel de mediador entre a criança e o brincar.

Palavras-chave: Lúdico – Inclusão escolar – Brincar

ABSTRACT

The goal of this study was to check, on literature, the importance of playful in the
classroom, how the play can assist on process of inclusion and to identify plays and
games that can serve as a tool for inclusion and literacy. For this literature search
was performed, to make, through the analysis of articles, books and other materials
that addressed the Playfulness and Education theme, it was possible to draw some
conclusions about the subject. Toys and games are fundamental activities of
childhood, as the play can encourage imagination, the development of language,
thought, creativity and concentration. In play children do not distinguish and do not
highlight differences, however, create emotional bonds with their peers in play, thus
helping the inclusive process. The search results point to the importance of the play
process in the classroom as a promoter of learning cognitive, affective and social,
being essential the teacher to organize time and space, occupying the role of
mediator between the child and play.

1
Licenciada em Pedagogia, com Habilitação para o Magistério das Séries Iniciais do Ensino
Fundamental, UFRGS, 2006. Professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Contato:
519316.4565. E-mail: rtrinca@terra.com.br .
2
Pedagoga. Mestre em Educação. Doutoranda em Educação (UFRGS).
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail: ppg@cesuca.edu.br

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Keywords: Playful – School Inclusion - Play

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo traz como tema a ludicidade e inclusão, o lúdico como


estratégia de inclusão. Todas as sociedades reconhecem o brincar como parte da
infância, mas já foi constatado que em todas as fases da vida humana as atividades
lúdicas são muito importantes, pois é através delas que o ser humano explora sua
criatividade, melhora sua conduta e eleva sua autoestima. O jogo tem como função
primordial no ser humano aliviar a tensão interior e permitir a educação do
comportamento. De acordo com Soares,

(...) o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela


brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de
esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter
sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz, dando, portanto, real
valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante (SOARES, p. 3).

O brincar se manifesta na vida humana desde o nascimento até a vida


adulta. Jogar ou brincar são fundamentais na interação do homem com seu meio e
com as demais pessoas que participam do mesmo. Desde o nascimento, com as
primeiras interações com a mãe, a criança já manifesta a necessidade do brincar.
De acordo com Vygotsky (2003) no o início do desenvolvimento infantil, o
adulto aparece como o mediador entre a criança e o mundo a sua volta, ajudando-o
a estabelecer relações e experiências afetivas, motoras e cognitivas. Essas relações
se dão principalmente através do brincar, ato pelo qual a criança experiência
situações lúdicas ainda não vividas por ela, desenvolvendo-se.
O brincar favorece a imaginação, desenvolvimento da linguagem, do
pensamento, da criatividade e da concentração. É através das atividades lúdicas,
dos jogos e brincadeiras que se dá o contato físico e significativo com outros
colegas, desta forma é impossível pensar a aprendizagem social e afetiva sem esse
convívio, essa interação com o outro, que torna a aprendizagem espontânea e
propicia momentos de significativas experiências de vida.
Assim, torna-se importante pensar, como o Lúdico pode auxiliar na inclusão
e aprendizagem dos alunos com Necessidades Educativas Especiais? Objetiva-se
com este questionamento verificar a importância do lúdico na sala de aula, observar

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como o brincar auxilia no processo de inclusão e identificar jogos e brincadeiras que


auxiliem no processo de inclusão e alfabetização.
O presente estudo foi realizado por meio do método indutivo, através de
pesquisa bibliográfica. Desta forma, foram lidos e analisados artigos, livros e outros
materiais que abordam a temática ludicidade e inclusão, para assim verificar o que já
existe na literatura e o que está sendo produzido. A análise foi realizada de forma
qualitativa, com base nas seguintes categorias definidas a priori:
a. o lúdico em sala de aula
b. o brincar no processo de inclusão
c. jogos e brincadeiras para potencializar a alfabetização e a inclusão

2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O “brincar” ocupa um importante espaço na infância e no desenvolvimento


infantil. É brincando que a criança conhece a si mesma, seus desejos, limitações e
aprende a comunicar-se com o mundo.
Desta forma, como pensar a escola e principalmente a escola inclusiva sem
o “brincar”? Como inserir a criança nesse mundo escolar, diferente?
O brincar possui a magia de tornar a escola um local onde o conhecimento
pode ser adquirido de uma forma agradável e criativa e na qual as relações afetivas
e sociais ajudam na construção da identidade, personalidade e a nos formarmos
como cidadãos. Assim, cabe à escola facilitar a aprendizagem e a inclusão,
utilizando atividades lúdicas que criem um ambiente alegre, afetivo e familiar no qual
as relações humanas e a individualidade de cada um sejam respeitadas.
Conforme Moreira e Guidetti:

(...) o lúdico tem o poder de incentivar tanto o progresso da personalidade


integral quanto de cada uma das funções psicológicas, intelectuais e morais
do educando. No mundo escolar tudo é novo e desafiador. Nesse ambiente
totalmente desconhecido, o lúdico exerce o papel de mediador e facilitador
da aprendizagem (...). (2005, pag. 221)

É também através do brincar que as crianças criam laços sociais com seus
companheiros de jogo, ressignificando o mundo a sua volta, criando regras, normas
e aprendendo a viver e conviver socialmente, aprendendo a vivenciar limites. Essa
relação expressa no brincar permite que a criança mostre seu mundo, seu modo de

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vida e ao mesmo tempo vivencie e conheça o mundo do outro, podendo ressignifcar


suas experiências. Conforme Fortuna:

A brincadeira é uma atividade paradoxal: a um só tempo conservadora e


transformadora, assim como reforça relações, concepções de mundo,
modos de conhecer e viver, também os cria e recria. Vem daí seu potencial
revolucionário, mesmo quando se tenta confiná-la, ordená-la, dominá-la.
Rebelde, ela resiste à didatização, mostrando-se tanto mais encantadora e
encantada quanto mais livre e espontânea. (2008, pag. 465)

O ato de brincar conduz a imaginação, a fantasia, criatividade, criticidade e a


uma porção de vantagens que ajudam a modelar nossas vidas como saber que as
crianças não aprendem apenas quando os adultos têm a intenção de ensinar. De
acordo com Fortuna, “como brincar associa pensamento e ação, é comunicação e
expressão, transforma e se transforma continuamente, é um meio de aprender a
viver e de proclamar a vida” (2008, p. 465).
A utilização de estratégias educativas criativas na abordagem dos conteúdos
estimula a fantasia, ou seja, a arte que possibilita o êxtase, a superação de limites,
momentos de prazer e felicidade.
As ações do educador junto à criança devem buscar através de alternativas
metodológicas lúdicas sua ampla participação e envolvimento no processo educativo
gerando questionamentos, inquietações, descobertas, explorando
suas potencialidades e seu desenvolvimento pessoal e social na prática de
atividades de seu cotidiano que representam a busca de uma aprendizagem
significativa e de qualidade.
Mais do que uma conquista cognitiva, o brincar, envolve emoções e
afetividade entre as pessoas, conforme Winiccott:

É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, a criança ou adulto


pode ser criativo e usar sua personalidade integral: e é somente sendo
criativo que o indivíduo descobre o eu. (WINICCOTT, 1975)

A criança desde muito pequena é impulsionada pela vontade, nunca para,


está o tempo todo brincando, agindo, transformando. O ato de brincar fortalece a
vontade, e são as brincadeiras saudáveis que nos capacitam, quando adultos para
uma atuação positiva no mundo, como explica Fortuna,

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No mundo do faz-de-conta um outro senso de realidade é experimentado,


impulsionando a confiança na possibilidade de transformação da realidade
marcada por novo imaginário, novos princípios e novos valores gerados na
solidariedade, ousadia e autonomia que as atividades lúdicas podem
contemplar. (FORTUNA, 2008, pág. 461)

É brincando que a criança descobre o mundo, vivencia o meio e a


brincadeira é encarada muitas vezes como a linguagem da criança. A escola hoje
em dia se concentra na aprendizagem precoce de conteúdos curriculares, seja na
compreensão da matemática, no treino para a escrita, nas sequências lógicas, do
pensamento, esquecendo-se que as crianças são indivíduos racionais, que tem
sentimentos e que agem, bem como, que o lúdico pode auxiliar de forma significativa
na aprendizagem desses mesmos conteúdos, os quais, normalmente são
trabalhados de forma tradicional, em sala de aula, com os alunos enfileirados
copiando o que a professora ou professor escreve no quadro.
Embora brincar seja um comportamento espontâneo da criança, o adulto
deve criar momentos que estimulem à brincadeira e esse papel também é da escola,
haja vista todas as pesquisas que mostram o potencial do lúdico no que tange a
aprendizagem e desenvolvimento da criança. Conforme Oliveira (2006), para Piaget
o jogo está intimamente ligado ao desenvolvimento da criança, é através do jogo que
a criança se apropria da realidade a sua volta.
Além disso, observamos que o papel ativo da criança nas brincadeiras
proporciona um leque de encontro com a alegria, a solidariedade, a união, a criação,
a satisfação e também a frustração. O brincar não só proporciona momentos que
agradam a criança, pois existem conflitos entre elas e decepções por não
conseguirem realizar o que desejavam, porém esses momentos são logo
substituídos por outras ações lúdicas que tentam superar a anterior, pois o prazer da
brincadeira acaba sendo maior.
Conforme Fortuna (2000), as crianças ao brincar interagem com a realidade,
com elas mesmas e, ao mesmo tempo levantam hipóteses de renovar e modificar as
regras das brincadeiras. Isso pode acontecer em grupo ou sozinha, pois o brincar
não quer dizer necessariamente com o outro.
Nas diversas formas de brincar que a criança encontra para expressar os
seus saberes, sejam eles adquiridos na interação com o adulto ou entre as próprias
crianças, é que a cultura infantil se constitui.

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As diferentes formas de viver na sociedade possibilitam vários


conhecimentos culturais, pois estes são múltiplos e passam a ser inseridos no
cotidiano de cada um de forma a adaptar-se em cada meio social. A criança não fica
imune ao que a rodeia, e a partir do brincar, que se inserem características
individuais, ou seja, seu jeito particular de atuar nas brincadeiras, com suas
preferências, escolhas, decisões e as diversas possibilidades de brincar que
encontra na interação com o outro, “na brincadeira somos exatamente quem somos
e, ao mesmo tempo, todas as possibilidades de ser estão nela contidas. Ao brincar
exercemos o direito à diferença e a sermos aceitos mesmo diferentes ou aceitos por
isso mesmo” (FORTUNA, 2008, pág. 465)
Ao brincar a criança coloca em prática as vivências de seu cotidiano como
também tem contato com outras informações através da relação com o outro, dando
um sentido próprio que seja interessante para ela, produzindo desta forma uma
cultura infantil. O brincar sendo constituído espontaneamente ou com regras deve
constituir as características de liberdade, prazer e diversão, onde a criança possa
adentrar nas brincadeiras de forma participativa usufruindo de novas vivências e
experiências.
O lúdico traz consigo um grande leque de opções, que deve ser explorado
pelo educador como caráter de jogo, fantasia, com o prazer de brincar, fator de
interação, socializando os alunos, resgatando brincadeiras e garantindo à criança o
direito à brincadeira e à infância.
A brincadeira pode ser entendida como uma linguagem infantil onde a
criança transforma e cria com os materiais que tem a sua disposição, atribuindo-lhe
um novo significado. Interage com experiências já vividas e consequentemente
adquirem outras. O brincar proporciona desafios que são confrontados, ampliando a
sua imaginação. Conforme SOARES,

O jogo é um estímulo tanto para o desenvolvimento do intelecto da criança


quanto para a sua relação interpessoal, fundamental para o processo de
aprendizagem infantil. Assim sendo, quando jogam ou criam seus próprios
jogos, as crianças terão uma compreensão maior de como o mundo
funciona e de como poderão lidar com ele à sua maneira. (SOARES, pág. 3)

Assim a importância do brincar no processo de inclusão se dá a partir do


momento que a criança ‘brincando’ consegue manifestar seus saberes e

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sentimentos através de diferentes linguagens, sendo compreendida e aceita pelos


seus diferentes companheiros de brincar, que também terão uma linguagem própria
em busca de aceitação. Desta forma,

[…] o jogo possui grande relevância em função de viabilizar condições para


o aprendizado e entre estas se destaca um aspecto fundamental que é a
socialização, onde através das quais os indivíduos constroem seu leque de
conhecimentos medializadas pelas relações que estabelecem com o meio.
(SOARES, pág. 3)

Ao evidenciar atividades interativas e interessantes para as crianças, deixa-


se de lado atividades pouco criativas e massantes que permeiam o ambiente
escolar, deixando este espaço mais atrativo e agradável para que a criança sinta-se
acolhida e queira fazer parte do mesmo. Assim o brincar assume o papel
estimulador, promovendo o desenvolvimento de hipóteses, habilidades e interação
social, sendo também uma possibilidade de superação das dificuldades de
aprendizagem.

3 O LÚDICO NA SALA DE AULA

Segundo Vygotsky (2003), os fatores biológicos (funções psicológicas


elementares) são predominantes sobre os sociais (funções psicológicas superiores,
as quais diferenciam o homem de outros animais) no início do desenvolvimento
humano. Assim a integração social torna-se fator fundamental para o
desenvolvimento do pensamento. Considerando esta teoria, o jogo será o elemento
socializador essencial para o desenvolvimento humano, onde a criança será
introduzida no mundo adulto pelo jogo e sua imaginação, construindo e expandindo
novas habilidades conceituais e novas experiências. Segundo SOUZA, “É através do
lúdico que a criança consegue relacionar-se com seu próprio corpo, com o outro e
com o mundo, onde o imaginário se transforma em real, provocando-lhe uma
sensação de poder e domínio sobre o mundo” (1996, p. 341).
Daí a importância do jogo na sala de aula, por promover a aprendizagem,
seja ela formal ou informal, já que o jogo, o brincar e a brincadeira acontecem tanto
dentro da sala de aula como em outros espaços como a rua, o parque, a casa, etc.
Sendo a atividade lúdica tão importante nos diferentes espaços frequentados
pela criança, como a rua, o parque, a casa, etc. “faz-se necessário redimensioná-la

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no processo educativo, para possibilitar à criança um espaço de aprendizagens


significativo, atraente e o mais próximo possível de sua realidade” (Souza, 1996, p
339).
O lúdico na escola não pressupõe apenas objetivos cognitivos, mas uma
série de capacidades e aptidões que conforme Haetinger são: “respeitar limites (...);
socializar (...); criar e explorar a criatividade (...); interagir (...); aprender a pesquisar”
(HAETINGER, 2009, p. 9). O lúdico deve valorizar todo o potencial da criança,
ajudando-a a desenvolver-se afetivamente e cognitivamente, valorizando assim, o
movimento, as relações, a solidariedade, a auto-gestão, emancipando-a como ser
humano, pensante, dono de uma identidade única em constante relação com o
outro, criando e transformando o mundo ao seu redor.
O uso do lúdico em sala de aula deve ter por objetivo estimular o
crescimento, o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social e não apenas promover a
competição entre os alunos levando-os a derrotas e vitórias, ou conforme Antunes,
“todo jogo pode ser usado para muitas crianças, mas sobre a inteligência será
sempre pessoal e impossível de ser generalizada.” (ANTUNES, 1998)
Quando nos propomos a desenvolver atividades lúdicas, como o brincar,
jogos, músicas, entre outros, precisamos ter objetivos claros de onde queremos
chegar e que conteúdos e habilidades pretendemos desenvolver. Assim o
planejamento é essencial, prevendo material, duração dos jogos e atividades,
espaços necessários e estágios de desenvolvimento dos nossos alunos. O professor
deve atuar como investigador, observando as reações, relações e descobertas de
seus alunos durante a atividade lúdica. Conforme SOARES:

…é preciso que o educador, além da prática tenha também uma base


teórica para que possa se sustentar na aplicação do lúdico, pois na prática
pedagógica é sempre importante utilizar um recurso didático com uma
explicação científica comprovando sua eficácia empírica. (pág. 16)

A intervenção do educador também é de suma importância, onde o mesmo


será o mediador, responsável em proporcionar desafios e estimular a reflexão,
ajudando o aluno a expressar as suas ideias e estruturar novos conhecimentos,
possibilitando ao aluno “descobrir, vivenciar, modificar e recriar regras”
(HAETINGER, 2009, p. 8).

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Sendo a ludicidade uma necessidade do ser humano, o professor não deve


apenas entender a utilização do lúdico em sala de aula como mera diversão, mas
como um facilitador da aprendizagem, do desenvolvimento pessoal, social e cultural,
contribuindo assim, para a construção de conhecimentos, para a socialização,
comunicação e expressão plena dos alunos.

[…] o jogo, compreendido sob a ótica do brinquedo e da criatividade, deverá


encontrar maior espaço para ser entendido como importante instrumento no
processo educacional, na medida em que os professores compreenderem
melhor toda a sua capacidade potencial de contribuir para com o
desenvolvimento da criança. (SOARES, p. 16)

O professor deve ter consciência de que os jogos auxiliam na educação


integral do indivíduo, pois proporcionam além da investigação e problematização das
práticas culturais do seu cotidiano, uma reflexão sócio-histórica de sua cultura. O
jogo pode trazer informações fundamentais a respeito da criança, suas formas de
pensar e agir. Observando esses aspectos o professor terá subsídios para mediar as
relações dessa criança com seus colegas, para ajudá-lo em seu desenvolvimento
físico-motor, linguístico, cognitivo e moral.

4 JOGOS E BRINCADEIRAS POTENCIALIZADORES DA INCLUSÃO

Para que a atividade lúdica seja trabalhada em todo o seu potencial em sala
de aula, não basta apenas brincar com os alunos ou deixar brincar, mas é preciso
planejar todos os espaços e tempos, é preciso traçar metas, objetivos, é preciso
observar e mediar as atividades. Conforme Haetinger (2009), os principais objetivos
de jogos e brincadeiras em sala de aula são:

1. trabalhar aspectos emocionais;


2. rever limites;
3. desenvolver autonomia;
4. aprimorar a coordenação motora;
5. aumentar a concentração, a atenção e o raciocínio;
6. desenvolver a criatividade.

O professor precisa também estar atento ao desenvolvimento de seus


alunos, para que as atividades propostas estejam de acordo com cada nível de
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desenvolvimento e possibilite novas aprendizagens e apreensão da realidade. Caso


contrário a brincadeira, jogo ou atividade lúdica perde seu valor e objetivo e, mal
compreendida pela criança, deixa de ser interessante, perdendo seu valor
pedagógico.
Oliveira (2006) descreve a classificação dos jogos, de acordo com a
perspectiva piagetiana, da seguinte maneira:
• jogos de exercícios: aqueles que acompanham quase todo o desenvolvimento
da criança, representam as primeiras experiências motoras.
• jogos simbólicos ou faz-de-conta: no brinquedo a criança se propõe a realizar
coisas, resolver problemas que ainda não são possíveis na vida real.
• jogos de construção: situam-se num período de transição entre os jogos
simbólicos e os de regra, meio caminho entre o jogo e a organização do
pensamento.
• jogos de regras: possível após um certo desenvolvimento da inteligência,
característico do individuo socializado.
Cabe assim, ao professor, observar o nível de desenvolvimento dos seus
alunos para propor atividades que contemplem as necessidades e aptidões de cada
criança. Através dos tipos de jogos classificados por Piaget (1978) já se pode iniciar
um planejamento com objetivos específicos para cada aluno. Observar e mediar as
relações lúdicas entre as crianças é a forma mais simples e eficiente de identificar
que tipo de jogo será eficiente para a situação de aprendizado.
Além da classificação dos jogos pelos níveis de desenvolvimento, conforme
a teoria de Piaget, Haetinger (2009) sugere também outra classificação para os
jogos “que abrangem a relação existente entre eles e as características de
expressão que proporcionam” (pág. 27). Os jogos seriam classificados nos seguintes
grupos:

1. jogos artísticos;
2. jogos expressivos;
3. jogos sensitivos;
4. jogos recreativos e brincadeiras;
5. jogos desportivos. (HAETINGER, 2009, p.27-28)

Priorizando a organização das atividades lúdicas e recreativas por objetivos


a serem trabalhados, Haetinger (2009) acredita no desenvolvimento de todas as
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habilidades e competências dos nossos alunos dentro da escola. Conhecendo a


estrutura e as diferenças que existem entre os jogos o professor terá mais facilidade
de planejar a sua ação pedagógica pautada no brincar.

4.1 JOGOS ARTÍSTICOS

São os jogos que envolvem práticas artísticas, podendo ser plásticas,


teatrais ou musicais. Nestas atividades o professor deve utilizar materiais variados
como gravuras, desenhos, tinta, escultura, dobraduras, massa de modelar,
máscaras, fantoches, improvisações teatrais, mímicas, caracterizações, músicas,
instrumentos musicais, etc.

4.2 JOGOS EXPRESSIVOS

São as atividades que valorização a expressão corporal e sensorial. Estes


jogos exigem o conhecimento do corpo e da estrutura corporal, assim como também
ajudam nesta construção. As atividades devem envolver a dança, diversos ritmos e
jogos de movimento.

4.3 JOGOS SENSITIVOS

Os jogos sensitivos são importantes para o desenvolvimento da


concentração e atenção. Baseiam-se em atividades de relaxamento, biodança,
massagem. Permitem a aproximação do outro e o controle de impulsos.

4.4 JOGOS RECREATIVOS E BRINCADEIRAS

São os jogos que fazem parte do nosso cotidiano desde o nascimento.


Aqueles que realizamos mediados por objetos reais ou não, que podem ser
realizados em grupo ou individualmente e que pressupõe descobertas do ambiente a
ser explorado. Podem variar desde as brincadeiras de roda até jogos mai
estruturados, como damas ou xadrez.

4.5 JOGOS DESPORTIVOS

Os jogos desportivos são aqueles que caracterizamos por haver uma


competição, mas que desenvolvem habilidades motoras, físicas e sociais.

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Proporcionam vivências amplas e são muito valorizados em nosso universo cultural,


como o futebol e o vôlei.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da


infância. O brinquedo pode favorecer a imaginação, o desenvolvimento da
linguagem, do pensamento, da criatividade e da concentração. Fica assim
evidenciado o potencial lúdico para a inclusão e alfabetização.
Podemos sim, incluir, socializar e ensinar nossos alunos de uma maneira
mais atrativa e eficiente, porém não existem formulas prontas de como ser lúdico.
Existe a vontade e a pesquisa, para que cada vez mais saibamos sobre este rico
instrumento auxiliar para a aprendizagem.
Não apenas os alunos estão em aprendizagem constante, mas os
professores também. E o professor é a peça chave para a concretização de tudo
isso. Só depende dele e do seu esforço o aprendizado feito com carinho e
dedicação, as ações lúdicas como recurso pedagógico de aprendizagem e inclusão,
pois brincando as diferenças passam a ser um recurso e não uma situaçãoproblema.
Há uma variedade imensa de atividades, jogos e brincadeiras que podem
ser desenvolvidas com crianças com necessidades educativas especiais, basta o
professor estar atento para as necessidades e níveis de desenvolvimento de seus
alunos e ainda possuir uma sensibilidade para buscar uma maior integração do
grupo, fazendo com que a hostilidade dê lugar à afetividade e a competitividade dê
lugar ao companheirismo.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. Jogos para a Estimulação das Múltiplas Inteligências.


Petrópolis: Vozes, 1998.

FORTUNA, Tânia Ramos. Papel do brincar: aspectos relevantes a considerar no


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