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2 ATIVO E REATIVO
1. O CORPO
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3. QUANTIDADE E QUALIDADE
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4. NIETZSCHE EA CIÊNCIA
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7. A TERMINOLOGIA DE NIETZSCHE
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4.) Por todas essas razões, Nietzsche pode dizer que a vontade de
potência não é apenas quem interpreta, mas quem avalia. Interpretar é
determinar a força que dá um sentido à coisa. Avaliar é determinar a
vontade de potência que dá um valor à coisa. Os valores não se deixam
pois abstrair do ponto de vista de onde tiram seu valor, assim também
como o sentido não se deixa abstrair do ponto de vista de onde tira sua
significação. É da vontade de potência, como elemento genealógico,
que derivam a significação do sentido e o valor dos valores. Era dele
que falávamos, sem nomeá-la, no início do capítulo precedente. A
significação de um sentido consiste na qualidade da força que se
exprime na coisa: esta força é ativa ou reativa? e de que nuança? O valor
de um valor consiste na qualidade da vontade de potência que se
exprime na coisa correspondente: a vontade de potência é afirmativa ou
negativa? e de que nuança? A arte da filosofia é ainda mais complicada
porquanto esses problemas de interpretação e de avaliação remetem um
ao outro, prolongam-se um no outro. O que Nietzsche chama de nobre,
alto, senhor é ora a força ativa, ora a vontade afirmativa. O que ele
chama de baixo, vil, escravo é ora a força reativa, ora a vontade
negativa. Compreenderemos mais tarde o porquê desses termos. Mas
um valor tem sempre uma genealogia da qual dependem a nobreza e a
baixeza daquilo que ela nos convida a acreditar, a sentir e a pensar. Só
o genealogista está apto a descobrir que baixeza pode encontrar sua
expressão num valor, que nobreza pode encontrá-la num outro, porque
ele sabe manejar o elemento diferencial, é o mestre da crítica dos
valores. Retiramos todo sentido à noção de valor enquanto não vemos
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subtração que separa a força ativa do que ela pode, que nega sua
diferença, para fazer dela uma força reativa. Não basta, desde então,
que a reação vença para que deixe de ser uma reação. Ao contrário. A
força ativa é separada do que ela pode por uma ficção, nem por isso
deixa de tornar-se realmente reativa, é exatamente por este meio que ela
se torna realmente reativa. Daí decorre, em Nietzsche, o emprego das
palavras "vil", "ignóbil", "escravo". Estas palavras designam o estado
das forças reativas que se colocam no alto, que atraem a força ativa para
uma armadilha, substituindo os senhores por escravos que não param
de ser escravos.
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Por isso não podemos medir as forças com uma unidade abstrata,
nem determinar sua quantidade e sua qualidade respectivas tomando
como critério o estado real das forças num sistema. Dizíamos que as
forças ativas são as forças superiores, as forças dominantes, as forças
mais fortes. Mas as forças inferiores podem vencer sem deixarem de ser
inferiores em quantidade, sem deixarem de ser reativas em qualidade,
sem deixarem de ser escravos à sua maneira. Uma das maiores
afirmações de A Vontade de Potência é: "Sempre se tem que defender
os fortes contra os fracos." Não se pode apoiar no estado de fato de um
sistema de forças, nem no resultado da luta entre elas, para concluir:
estas são ativas, aquelas são reativas. Contra Darwin e o evolucionismo
Nietzsche observa: "Admitindo que essa luta exista (e ela se apresenta
na verdade), ela termina infelizmente de modo contrário ao que
desejaria a escola de Darwin e que talvez se ousaria desejar com ela:
termina infelizmente em detrimento dos fortes, dos privilegiados, das
exceções felizes." É nesse sentido, em primeiro lugar, que a
interpretação é uma arte tão difícil; devemos julgar se as forças que
vencem são inferiores ou superiores, reativas ou ativas; se elas vencem
enquanto dominadas ou dominantes. Neste domínio não há fatos, só há
interpretações. Não se deve conceber a medida das forças como um
procedimento físico abstrato e sim como o ato fundamental de uma
física concreta; não como uma técnica indiferente, mas como a arte de
interpretar a diferença e a qualidade independentemente do estado de
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10. A HIERARQUIA
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2º) força que separa a força ativa do que ela pode, que nega a
força ativa (triunfo dos fracos ou dos escravos);
3°) força que afirma sua diferença, que faz de sua diferença
um objeto de gozo e de afirmação.
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4°) força ativa tornada reativa, poder de ser separado, de voltar contra
si.
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vontade que posso fazer minha indo até o fim de um estranho poder.
(Esse poder extremo põe em jogo muitas coisas, entre as quais a
seguinte: "Observar conceitos mais sadios, valores mais sadios
colocando-se de um ponto de vista de doente..." Reconhece-se uma
ambivalência cara a Nietzsche: todas as forças cujo caráter reativo ele
denuncia, exercem sobre ele, conforme confessa algumas páginas ou
algumas linhas adiante, um fascínio, e são sublimes pelo ponto de vista
que nos abrem e pela inquietante vontade de potência que testemunham.
Elas nos separam de nosso poder, mas dão-nos ao mesmo tempo um
outro poder, quão "perigoso", quão "interessante". Trazem-nos novas
afecções, ensinam-nos novas maneiras de sermos afetados. Há algo de
admirável no devir-reativo das forças, admirável e perigoso. Não
apenas o homem doente, mas também o homem religioso apresentam
esse duplo aspecto: por um lado, homem reativo; por outro lado, homem
de um novo poder.
1 GM, 1, 6: "É sobre o próprio terreno dessa forma de existência, essencialmente perigosa, a
existência sacerdotal, que o homem começou a tornar-se um animal interessante; é aqui que,
num sentido sublime, a alma humana adquiriu a profundidade e a maldade..." -Sobre a
ambivalência do sacerdote, GM, Ili, 15: "É preciso que ele próprio esteja doente, é preciso que
seja intimamente filiado aos doentes, aos deserdados, para poder ouvi-los, para poder entender-
se com eles; mas é Preciso que seja forte, mais senhor de si mesmo do que dos outros,
inébalável sobretudo em sua vontade de potência, a fim de possuir a confiança dos doentes e
de ser temido por eles..."
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vontade de nada; mas há forças ativas que caem porque não sabem
seguir os poderes de afirmação (veremos que é o problema do que
Nietzsche chama "a cultura" ou "o homem superior"). Enfim, a
avaliação apresenta ambivalências ainda mais profundas do que as da
interpretação. Julgar a própria afirmação do ponto de vista da própria
negação e a negação do ponto de vista da afirmação; julgar a vontade
afirmativa do ponto de vista da vontade niilista e a vontade niilista do
ponto de vista da vontade que afirma: esta é a arte do genealogista e o
genealogista é médico. "Observar conceitos mais sadios, valores mais
sadios, colocando-se do ponto de vista do doente e, inversamente,
consciente da plenitude e do sentimento de si que a vida superabundante
possui, mergulhar o olhar no trabalho secreto do instinto de
decadência... " Porém, qualquer que seja a ambivalência do sentido e
dos valores, não podemos concluir que uma força reativa torna-se ativa
indo até o fim do que ela pode. Pois "ir até o fim", "ir até as últimas
consequências", tem dois sentidos, conforme se afirme ou se negue,
conforme se afirme sua própria diferença ou se negue o que difere.
Quando uma força reativa desenvolve suas últimas consequências é em
relação com a negação, com a vontade de nada que lhe serve de motor.
O devir-ativo, ao contrário, supõe a afinidade da ação com a afirmação;
para tornar-se ativa, não basta que uma força vá até o fim do que ela
pode, é preciso que faça daquilo que ela pode, um objeto de afirmação.
O devir-ativo é afirmador e afirmativo, assim como o devir-reativo é
negador e niilista.
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Uma preguiça que desejasse seu eterno retorno, uma tolice, uma
baixeza, uma covardia, uma maldade que desejassem seu eterno
retorno, não seria mais a mesma preguiça, não seria mais a mesma
tolice... Vejamos melhor como o eterno retorno opera aqui a seleção. É
o pensamento do eterno retorno que seleciona. Faz do querer algo de
completo. O pensamento do eterno retorno elimina do querer tudo o que
cai fora do eterno retorno, faz do querer uma criação, efetua a equação
querer = criar.
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2°) É que a vontade de nada, tal como a estudamos até agora, sempre
nos apareceu em sua aliança com as forças reativas. Aí estava sua
essência: ela negava a força ativa, levava a força ativa a se negar, a se
voltar contra si mesma. Mas, ao mesmo tempo, fundara assim a
conservação, o triunfo e o contágio das forças reativas. A vontade de
nada era o devir-reativo universal, o devir-reativo das forças. Eis
portanto em que sentido o niilismo por si mesmo é sempre incompleto,
até mesmo o ideal ascético é o contrário do que se acredita, "é um
expediente da arte de conservar a vida"; o niilismo é o princípio de
conservação de uma vida fraca, diminuída, reativa; a depreciação da
vida, a negação da vida formam o princípio à sombra do qual a vida
reativa se conserva, sobrevive, triunfa e se torna contagiosa.
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então da "eterna alegria do devir, esta alegria que traz ainda nela a
alegria do aniquilamento"; "a afirmação do aniquilamento e da
destruição, o que há de decisivo numa filosofia dionisíaca... ".
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