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PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS

Helio N. Penteado Filho: RA 1558551

São Paulo

1º Semestre/2020
RESUMO

O presente trabalho da matéria Processos Psicológico básico traz um breve estudo


sobre as definições desses processos psicológicos básicos escolhidos, suas
características, normalidades, anormalidades e patologias. Inicia com um histórico
antropológico e parte do senso comum de cada subtema, contextualiza-os sob a
égide dos estudos das ciências psicológicas e traz uma das várias abordagens sobre
patologias, concluindo pela importância desses estudos nas ciências psicológicas .
São eles (i) sensaçao, (ii) atençao, (iii) percepção, (iv) consciência, (v) pensamento,
(vi) linguagem, (vii) memória, (viii) emoções (ix) motivação.

ABSTRACT

The present work on the subject Basic Psychological Processes brings a brief study
on the definitions of these chosen basic psychological processes, their characteristics,
normalities, abnormalities and pathologies. It starts with an anthropological history and
part of the common sense of each sub-theme, contextualizes them under the aegis of
psychological science studies and brings one of the several approaches on
pathologies, concluding by the importance of these studies in the psychological
sciences. (i) sensation, (ii) attention, (iii) perception, (iv) consciousness, (v) thought,
(vi) language, (vii) memory, (viii) emotions and (ix) motivation, their characteristics,
normalities, abnormalities and pathologies. It starts with a history of each sub-theme
and contextualizes it under the aegis of psychological science studies.
SUMÁRIO

1. SENSAÇÃO - 4

Definição 4
Patologias 5
2. ATENÇÃO 7

Definição 7
Características 8
3. PERCEPÇÃO 9

Definição: 9
4. CONSCIÊNCIA 10

Definição: 10
5. PENSAMENTO 12

Definição: 12
6. LINGUAGEM 14

Definição 14
Características 18
Aprendizagem 21

Patologias da Linguagem 22
7. MEMÓRIA 31

Definição: 31
Características 32
Fases: Codificação, Armazenamento e recuperação 33
8. EMOÇÕES 35

Teoria Histórico-Cultura 46

Inteligência Emocional 47
Patologias das Emoções 48
Psicossomática: PSICO + SOMA 50
9. MOTIVAÇÃO 50

Definição: 50
Patologias da motivação 52
10. RELATO PESSOAL 54

REFERÊNCIAS 55
4

1. SENSAÇÃO -

Definição

Podemos definir Sensação como sendo uma reação física do corpo ao mundo
físico, regida pelas leis da física, química, biologia, ou seja, o fenômeno que resulta
na ativação das áreas primárias do córtex cerebral. Assim, sensações são as vivência
simples, produzidas pela ação de um estímulo externo ou interno ao corpo humano
como por exemplo a luz, o calor, o frio, o som entre outras.

Em filosofia podemos considerar a sensação como o ponto de partida para a


construção da experiência e do saber do conhecer algo, ela não é, no entanto, um
dado imediato da consciência: a sensação só se apresenta ao nosso espírito sob uma
forma mais complexa - a forma de percepção, ou seja, o estímulo é primeiramente
acessado pelos sentidos, pela sensação de algo, depois, nossa mente capta essa
sensação, esse dado imediato da experiência e o transforma em conhecimento de
algo, na percepção de algo.

A sensação, assim, é basicamente uma resposta de um receptor sensorial a


estímulos externos, ou seja, é uma resposta fisiológica do organismo, por sua vez a
percepção é o julgamento dado pelo sujeito com base nas informações das
sensações. É a interpretação por parte do indivíduo do que foi captado pelos sentidos.
A sensação é um dos fatores responsáveis pela entrada do mundo externo para o
interior do homem. Isso ocorre através do Sistema Sensorial, formado por diferentes
áreas do cérebro, esse sistema é encarregado de extrair informações através de
diferentes estímulos.
5

A transmissão da informação sensorial ocorre quando um estímulo recebido


pelo cérebro é “traduzido” em impulsos neurais, ocorrendo a codificação sensorial.
Esta tradução é a transdução responsável por envolver as células específicas que
são especializadas e estão localizadas em cada um dos órgãos dos cinco sentidos,
ou seja, os receptores. Com a transdução o cérebro é capaz de receber informações
de dois tipos: qualitativas, que são responsáveis por detectar as informações mais
básicas de um estímulo externo; ou informações quantitativas, que detectam o
estímulo de forma mais ampla e intensa. Para responder os estímulos, sejam eles
quantitativos ou qualitativos, os receptores agem de modo diferente, já que a
captação de informações qualitativas é medida de acordo com a intensidade recebida.

A intensidade mínima para que os receptores identifiquem a característica mais


marcante, ou seja, a mais básica de um estímulo para que o ser humano possa
experienciar uma sensação é chamada de Limiar Absoluto. Há, também, outro tipo
de Limiar, o Limiar de Diferença, ou Limiar Relativo, que é o mínimo necessário de
mudança para que os receptores detectem uma diferença de intensidade provocada
entre estímulos vindos através do exterior do homem.

As células nervosas, quando expostas a um determinado estímulo de forma


constante, disparam com menos frequência e através disso ocorre uma sensibilidade
decrescente ao estímulo que não é alterado, ocorrendo uma adaptação sensorial.

Patologias
As sensações surgem pela interação de moléculas com os receptores da olfação
e gustação. Como os impulsos se propagam para o sistema límbico (bem como para
as áreas corticais superiores), certos odores e gostos podem desencadear intensas
respostas emocionais ou afluxo de memórias. O olfato e o paladar são sentidos
químicos. Os sistemas neurais que intermedeiam estas sensações, os sistemas
gustatório e olfatório, estão entre aqueles filogeneticamente mais antigos do encéfalo
e ao perceberem substâncias químicas na cavidade oral e nasal trabalham
conjuntamente A importância do paladar reside no fato de que ele permite a um
6

indivíduo selecionar substâncias específicas de acordo com os seus desejos e,


frequentemente, de acordo com as necessidades metabólicas dos tecidos corpóreos
A olfação, mais ainda que a gustação, tem a qualidade afetiva de ser agradável ou
desagradável. Por isso, a olfação é, provavelmente, mais importante do que a
gustação para a seleção de alimentos. Sabe-se que a gustação é sobretudo uma
função dos corpúsculos gustativos da boca, mas é experiência comum que o sentido
do olfato contribui fortemente para a percepção do gosto.

É imprescindível ressaltar a sua relação com a gustação, pois sem o olfato não
sentimos de forma adequada o sabor dos alimentos, perdendo assim o apetite e o
prazer com a alimentação Os botões gustativos diminuem com a idade e as papilas
gustativas, que atingem seu clímax de desenvolvimento na puberdade, começam a
atrofiar na mulher entre 40-45 anos e no homem aos 50 anos

Quanto à olfação, o declínio da sensibilidade olfativa com a idade pode ser resultante
de degeneração de células centrais e ser independente de modificações periféricas
do aparelho olfativo. Porém, a capacidade regenerativa do epitélio olfatório declina
com a idade. A qualidade e intensidade da percepção olfatória dependem do estado
anatômico e funcional do epitélio nasal e dos sistemas nervosos central e periférico.
Rinites e resfriados prolongados podem causar hiposmia e a perda moderada da
sensibilidade olfativa.

As alterações do olfato e do paladar podem estar relacionadas com


deformidades nasosseptais, polipose nasal e congestão nasal crônica decorrente de
rinites alérgicas e não-alérgicas. Um dano ao sistema olfatório, como resultado de um
traumatismo craniano, ou mesmo, um resfriado comum, o qual impede a condução
de moléculas transportadas pelo ar nas cavidades nasais, pode atenuar a percepção
do sabor, ainda que as sensações básicas do gosto doce, ácido, salgado e amargo
estejam preservadas. O olfato pode ajudar, também, no diagnóstico precoce de
algumas doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson. O resultado
indica que o comprometimento do olfato, e, consequentemente, do paladar, é um
indicativo importante para o diagnóstico precoce da doença, em uma fase na qual os
7

sintomas motores típicos como tremores, rigidez e lentidão na execução dos


movimentos ainda não se manifestaram.

Sendo assim, torna-se importante a realização de estudos das alterações do olfato


e paladar para detecção precoce, e assim um tratamento mais efetivo, no intuito de
retardar a progressão das doenças e possíveis complicações que possam levar a
perda olfatória e gustatória e, desta forma, atenuar a severidade dos sintomas.

2. ATENÇÃO

Definição

A interação do indivíduo com o ambiente se dá por meio da atenção que ele


deposita naquele instante vivido, e este mecanismo é um subsídio para a organização
dos processos mentais que o ser humano dispõe para sua sobrevivência. Por meio da
atenção ocorre um processo de seleção sobre qual estímulo será considerado para guiar
nosso comportamento.

A atenção é como um filtro que o cérebro possui para selecionar quais os


estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais devem descartar, e quais devem ser
transmitidos para níveis de processamentos mais elevados no sistema nervoso.
Sternberg (2008) cita em seu artigo o processo de habituação, que permite desviar sem
grandes dificuldades a atenção dos estímulos já conhecidos pelo cérebro e considerados,
de certa forma, estáveis. A fim de que a atenção possa ser direcionada a novos estímulos,
instáveis. Sem este processo de habituação o cérebro sofreria um grande input de
informações.
8

Características

Considera-se três funções principais da atenção consciente (Sternberg (2008):

1. Detecção de sinais, onde o cérebro capta todas as informações e identifica o


surgimento de um estímulo específico.

2. Atenção seletiva, ocorre quando o cérebro, de forma consciente, seleciona um


estímulo a qual manter a atenção em detrimento a outros.

3. Atenção dividida, ocorre quando é possível alocar os recursos de atenção em mais


de uma tarefa.

A atenção pode ocorrer de forma voluntária, ou seja, permite que a mente foque
em um determinado objeto ou ação, ao passo que se “desligue” dos demais estímulos ao
redor. e também pode ocorrer de forma involuntária, quando reagimos “instintivamente”
a um determinado signo previamente conhecido por nosso cérebro.

Possuímos ainda a Atenção Flutuante, desenvolvida por Freud, propõe a não


observância de um objeto fixo, e a atenção flutue por diversos estímulos. Para Freud este
tipo de atenção refere-se ao estado do psicanalista em uma sessão analítica. Atenção
Concentrada, que é caracterizada pela habilidade do cérebro em manter o foco em
apenas uma atividade, excluindo os demais estímulos ao redor. Atenção Alternada, ao
manter a atenção em dois estímulos. A Atenção Sustentada, que consiste na habilidade
de se manter focado durante uma atividade contínua e repetitiva, sem perder o foco para
objetos ou situações distratoras.
9

3. PERCEPÇÃO

Definição:
Percepção pode ser definida como a faculdade de apreender por meio dos
sentidos ou da mente. Pode ainda ser entendida como consciência de alguma coisa
ou de uma pessoa em relação a outra, sinônimo de impressão ou intuição.A origem
da palavra é latina, da palavra Latin perceptio, perceptionem1, percepção , intuição ,
sensação, imagem, o que acaba por nos confundir os conceitos de percepção e
sensação, aqui já definidos que repetimos. Em filosofia podemos considerar a
sensação como o ponto de partida para a construção da experiência e do saber do
conhecer algo, ela não é, no entanto, um dado imediato da consciência: a sensação
só se apresenta ao nosso espírito sob uma forma mais complexa - a forma de
percepção, ou seja, o estímulo é primeiramente acessado pelos sentidos, pela
sensação de algo, depois, nossa mente capta essa sensação, esse dado imediato da
experiência e o transforma em conhecimento de algo, na percepção de algo.

A percepção caminha junto com a sensação, já que apenas a sensação não é


capaz de prover uma descrição única do mundo, a percepção é a função do cérebro
que atribui significados a determinados estímulos sensoriais, ou seja, estímulos
externos, a partir de um histórico de experiências já vivenciadas, ou melhor dizendo,
a memória. Ela envolve estímulos elétricos ocorridos pelos estímulos nos órgãos dos
sentidos que envolve a memória e é através da percepção que o indivíduo vai
interpretar e organizar as impressões sensoriais recebidas, ou seja, percepção é
conhecer o mundo através dos sentidos. Por isso, a percepção é algo muito singular
em cada indivíduo, é a forma que cada um enxerga o mundo.

1
https://en.wiktionary.org/wiki/percep%C3%A7%C3%A3o
10

Podemos relacionar a percepção com as características físicas do estímulo,


através da audição (ondas sonoras), visão (ondas de luz), e tato (pressões sobre a
pele) e/ou podemos, também, relacionar com as características químicas do estímulo
através do olfato e paladar (moléculas líquidas).

O processo de percepção começa com a atenção que é como um processo de


observação seletiva. Este processo faz com que o indivíduo perceba alguns
elementos em maior ou menor intensidade que outros. Deste modo, são diversos os
fatores que podem influenciar a atenção. Para isso há duas categorias: a dos fatores
externos (próprios do meio ambiente) e a dos fatores internos (próprios do nosso
organismo).

4. CONSCIÊNCIA

Definição:
A consciência é material de discussão desde os primórdios da filosofia, e ainda
é algo que continua sendo um dos tópicos mais misteriosos da humanidade. Em
essência, “consciência se refere a experiências subjetivas de momento a momento”
(Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Conforme a criação de uma ciência
psicológica de pensamento autônomo, a Psicologia se distanciou gradualmente da
filosofia e do pensamento dualista de Descartes, concordando então que cérebro e
mente são inseparáveis. “ Nessa visão, a mente é uma corrente contínua, na qual os
pensamentos flutuam” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Sendo assim, a
consciência está diretamente relacionada ao processo de atenção, e
consequentemente a informação. Seguindo uma linha ordenada, a informação é
captada através dos 5 sentidos (paladar, tato, olfato, audição e visão), e enviada ao
nosso cérebro para ser transduzida em linguagem, mas somente uma certa medida
da mesma é percebida, ou passa por uma conscientização, o restante é processado
11

de forma subliminar. O fator determinante da conscientização de uma informação ou


não, é dirigido pela atenção seletiva. Segundo os autores “em 1958, o psicólogo
Donald Broadbent desenvolveu a teoria do filtro para explicar a natureza seletiva da
atenção...Nesse modelo, a atenção atua como um portão que abre para a informação
importante e fecha para a informação irrelevante” .

O inconsciente também tem papel fundamental no processamento da


consciência. “Sir Francis Galton (1879) foi o primeiro a propor a noção de que a
atividade mental abaixo do nível de consciência pode influenciar o comportamento”
(Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Freud, o “pai da psicanálise”,
posteriormente estudou mais afundo o objeto do inconsciente e suas interferências
na consciência. Um exemplo de tal interferência é o ato falho, situação onde um
pensamento é falado de forma espontânea em um ambiente inadequado para tal.
Ainda mais , Freud se interessou pela consciência onírica, ou seja, o estudo de que a
consciência não está limitada ao estado de alerta e como os sonhos podem ser de
grande valia no estudo de processos inconscientes que, nas visões psicanalíticas,
têm preponderância perante os processos que acontecem na consciência.

C.G. Jung aprofunda ainda mais na temática do inconsciente e suas


interferências na consciência, o dividindo em duas partes, sendo a mesma de forma
hierárquica de acordo com sua precedência. O que é considerado inconsciente para
Freud, representa uma pequena porção do que Jung chama de Inconsciente Pessoal.
E mais afundo ainda, há o Inconsciente Coletivo, que compõe as bases instintivas e
arquetípicas da humanidade. Ambas porções do inconsciente podem tomar a frente
no processo de consciência através da ação complexual. Nos dias de hoje, a
neurociência cognitiva considera o cérebro a partir de hemisférios, direito e esquerdo.
Tal divisão não ocorre para compartimentalização de estudo, e sim porque cada
hemisfério funciona de forma diferente. O “cérebro esquerdo” está relacionado a
consciência, e o “cérebro direito” com processos mais intuitivos. “ A percepção, a
memória, o pensamento, a linguagem e as atitudes, todos operam em dois níveis -
uma “estrada principal” consciente, deliberada, e uma “via subterrânea” inconsciente,
12

automática. Os pesquisadores atuais dão a isso o nome processamento dual” (Myers,


2004)

Ken Wilber amplifica o estudo da consciência debatendo que diferentes


escolas da psicologia levaram somente em conta um dos fatores da consciência. O
filósofo defende que a consciência é multifacetada e que para haver uma melhor
compreensão desse fenômeno que até então continua mais desconhecido do que o
contrário, é necessário levar em conta todas as perspectivas para a criação de uma
visão integral2.

5. PENSAMENTO

Definição:

O estudo do pensamento é dirigido pela psicologia cognitiva. Seu objeto


principal de estudo é a cognição. “A cognição pode ser amplamente definida como a
atividade mental que inclui o raciocínio e os entendimentos que resultam do
raciocínio” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018). Há duas ideias centrais no
estudo do raciocínio. Uma de que “o conhecimento sobre o mundo é armazenado no
cérebro em representações” e a segunda de que “o raciocínio é a manipulação mental
dessas representações” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018)

O raciocínio é um processo que envolve a transformação de informação captada


através dos 5 sentidos em uma representação mental. Essa representação mental é
uma linguagem que, ao decorrer de milhares de anos de evolução fora desenvolvida

2
WILBER, Ken. Psicología integral. Editora Cultrix, 2007.
13

e aprimorada pelo cérebro humano. “No raciocínio, usamos dois tipos básicos de
representações mentais: analógicas e simbólicas. Juntos, os dois tipos de
representações formam a base do pensamento, inteligência e capacidade humana de
resolver os complexos problemas da vida cotidiana” (Gazzaniga, Heatherton e
Halpern, 2018) A analogia é um mecanismo do qual nosso cérebro se utiliza de seu
pensamento lógico para compreendê-la, criando um sistema visual de comparação
similar a regra de três na matemática, onde um sistema representacional (imagem)
está para algo, assim como este algo está para esta imagem.

A partir desta comparação é possível dar forma psíquica à um objeto antes


desconhecido, assim como comparar algo e observar suas diferenças. Outra forma
de representação é a simbólica. Esse mecanismo está mais relacionado ao “cérebro
direito”, ou também conhecido como intuitivo. A representação simbólica é um
processo abstrato, onde símbolos, quaisquer sejam eles, detém um significado. Um
exemplo deste tipo de representação mental são os números. Os números expressam
quantidades, mas podem também representar qualidades, demonstrar relações,
imaginar coisas que não existem como a antipartícula ou números imaginários (i). A
partir desses dois processos básicos, o ser humano é capaz de aumentar a
complexidade da construção mental. Representações simbólicas se tornam, o que
em nossa linguagem diária é conhecido como conceito. Com agrupamentos de
conceitos é possível criar esquemas. Contextuando com um exemplo, o calendário é
um esquema, onde vários conceitos de tempo (dias, meses e anos) são agrupados
de uma forma específica determinada a partir de premissas naturais (natureza) e do
objetivo humano para qual aquele objeto fora criado, no caso, organização do tempo.
Para aumentar ainda mais a complexidade da construção de pensamento, é possível
criar mapas mentais, que se utilizam de representações analógicas e mentais
concomitantemente. Continuando com o exemplo do calendário, é possível criar um
mapa mental de representação dos compromissos da semana, relacionando a
imagem mental de um determinado compromisso em um determinado dia com a
vivência experiencial daquele compromisso.
14

Apesar de ambas representações estarem se referindo a mesma coisa, a coisa


por si só não é a mesma em ambas representações, pois uma tem ligação com o
mundo objetivo externo e a outra com o mundo subjetivo interno.

A partir destes dois processos básicos, aos olhos externos, simples, em


realidade que possibilitam o ser humano a organizar, comparar, interpretar, relacionar
e analisar informações. Tudo isso acontece em uma fração de segundos, de forma
quase imperceptível. E tudo isso culmina na habilidade de tomada de decisão. A
tomada de decisão, em essência é uma escolha. E o que possibilita o Ser Humano
diferenciar-se de qualquer outro organismo vivo no planeta de forma específica é a
tomada de decisão consciente. Exatamente por termos um órgão tão complexo como
o cérebro que nos possibilita criar representações mentais complexas, temos a
escolha de direcionar nossa capacidade para a resolução de problemas. E isso
possibilitou o avanço acelerado de nossa evolução.

6. LINGUAGEM

Definição

A linguagem fornece ao sujeito a possibilidade de expressar o pensamento. A


linguagem dá forma ao conteúdo do pensamento, não se concebendo um sujeito com
sem a forma linguística. Assim, pensamento e linguagem são mutuamente
indispensáveis, já que o pensamento se materializa na linguagem e esta, por sua vez,
tem a função de significação. Linguagem, palavra cuja origem é o portugues galaico
15

antigo “language”, expressão emprestada do Antigo Provençal ibérico, “lenguatge” e


do latim vulgar “linguāticum” do latim clássico “língua”3.

A linguagem é mesmo o meio que permite a dois seres se comunicarem. Os


códigos de linguagens podem ser gestuais, orais ou gráficos entre outros. e talvez a
mais sofisticada estrutura de códigos de linguagem é a escrita, reproduzida a partir
de códigos e regras sintática e gramaticais, por meio da qual é possível comunicar
raciocínios complexos e razões. Compreender o processo de aquisição da linguagem
sempre foi um tema interessante na humanidade na mesma medida que um desafio
científico. Nas crianças por exemplo, objetos eficazes de entendimento e pesquisa
sobre aquisição da forma de comunicação do estado de balbucios para o de sujeito-
falante.

A palavra “linguagem”, formada por signos (letras) que dispostas nesse sentido
e forma, de acordo com uma prévia concordância de sentido e significado, pode ser
definida, em nossa “língua”, como um substantivo, do gênero linguístico feminino, que
expressa e define a capacidade e a faculdade que têm as pessoas de se comunicar
umas com as outras, exprimindo pensamentos e sentimentos por palavras, que
podem ser escritas, quando necessário. E linguagem pode ser entendida também
como a maneira de falar, relativamente às expressões ou aos estilos como uma
linguagem clara ou obscura. Outra acepção pode ser, também, de voz, grito, canto
dos animais como a linguagem dos papagaios, dos golfinhos. Pode ainda ser o modo
de se exprimir por meio de símbolos, formas artísticas como a linguagem do cinema.
Em linguística, no estudo das formas de representação e comunicação é um sistema,
organizado, através do qual é possível se comunicar por meio de sons, gestos, signos
e símbolos convencionais em determinado local e sociedade que os tenha
convencionados, e língua pode ser entendida como “[...] uma estrutura constituída por
uma rede de elementos,em que cada elemento tem um valor funcional determinado”4.
Assim se desenvolve a teoria Saussure - o estruturalismo. É então um sistema de

3
https://pt.wiktionary.org/wiki/dici
4
Fiorin, Jose Luis. Introdução à linguística. 3a ed.- São paulo: ed Contexto, 2004, pg 14.
16

símbolos que permite a representação de uma informação, com o código de


linguagem de programação, ou o código e expressões da linguagem de teatro, do
cinema das cortes jurídicas. Podemos usa o termo linguagem, enfim, como a
capacidade natural da espécie humana para se comunicar por meio de uma língua, e
mesmo o modo particular de se comunicar usada por um grupo específico, jargões,
gírias e a linguagem de rua.

Para Flusser5 a comunicação humana é um processo artificial6 uma vez que


se baseia em artifícios, descobertas, ferramentas criadas e elaboradas pelo próprio
homem, assim como instrumentos específicos, A esses instrumentos ele chama de
símbolos, que são organizados em um código que em acordo com outros seres
humanos,compõem um sistema de linguagem e comunicação. entende o autor que a
teoria da comunicação não é uma ciência natural, e sim uma ciência humana, uma
ciência do espírito, deduzindo assim que o homem é um animal não natural e recorre
ao tema grego do zoon politikon, ou seja um animal político, um animal de polis um
animal social. Talvez não seja aqui o local, mas não podemos deixar de trazer a opção
de sair dos limites do signo e dos símbolos, além até mesmo do triângulo de Pierce,
e ir até análise discursiva para entender a real dimensão da linguagem, e, em
especial, do problema da referência, em uma acepção bem mais ampla como trazido
por Inês Lacerda em sua obra7 pg 15. Talvez em outro momento mais adequado.

Entendemos aqui que a práxis, ou atividade humana, é um processo de


objetivação e subjetivação que se dá a partir da linguagem e do seu desenvolvimento
e vemos linguagem não so como forma e conteúdo de consituiçao dessa sujbjetivaçao
mas também como mediação entre o ser e o entorno, o social, tribo, grupo ou
sociedade. O homem, como ser social, representa uma complexidade que se

5
Vilém Flusser foi um filósofo Checo-brasileiro. Autodidata, durante a Segunda Guerra, fugindo do
nazismo, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde atuou por cerca de 20 anos
como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor. Suas obras foram traduzidas para
diversos idiomas.
6
FLUSSER, Vilem. O mundo Codificado: por uma filosofia do design e da comunicação, org.Rafael
Cardoso. Trad. Raquel Abi-Samara - São paulo: Ubu ed., 2017.
7
17

expressa, por exemplo, na maneira como as demandas da dimensão corporal e


orgânica são solucionadas e ou enfrentadas: sexo, fome, sede, sono, estimulação.
Elas são respondidas ou solucionadas por meio de ritos sociais, regras e maneiras
de agir, não se configuram da mesma maneira como para outros seres vivos, para os
quais se dá pela dinâmica da genética e das condições ambientais e naturais (leis da
natureza). Ou seja, a atividade humana é eminentemente social e histórica acontece
pela linguagem, pela memória, pela imaginação e pelos processos psicológicos
básicos.

Todo estudo do desenvolvimento é datado, está inserido numa hermenêutica


de interpretações a partir do espaço e do tempo em que o interpretante pesquisador
na sua possibilidade-diversidade, tanto espacial e cultural como histórica, estuda o
objeto. Assim as singularidades do sujeito-falante que emerge desse processo de
aprendizado da linguagem acontece desde sempre, todavia só pode ser analisado
dentro das possibilidades de análise do observador. Ou Seja, A maneira pela qual as
pessoas falam do mundo está relacionada com a maneira pela qual o mundo é
compreendido e, em última análise, como essas pessoas atuam nele, e o conceito de
mudança revolucionária depende, em grande parte, da maneira pela qual o mundo é
estruturado pela linguagem. Mas será que esse pressuposto de conhecimento
adquirido implica necessariamente em desenvolvimento, na relação causal simples e
direta? essa é uma das questões acerca da linguagem. Falar em processo de
subjetivação , aqui, a partir desses questionamentos, significa colocar a anterioridade
lógica e teleológica da linguagem relativamente a um corpo pulsional que é capturado
, sequestrado, pela própria linguagem. Dessa forma e nesse sentido talvez
precisemos pensar e re aprender sobre a aquisição da linguagem enquanto campo
sistemico e especializado de pesquisa, que nasce em grupo de psicólogos norte
americanos nas teorias da linguagem propostas por Noam Chomsky entre 1957 e
1965, teoria esta que o leva a formular o que chamou de problema Lógico da
aquisição da linguagem a saber, que as propriedades das línguas naturais dos povos
sociais são tais que a sua aquisição não é possível de ser explicada por teorias de
aprendizagem baseadas na percepção e na generalização indutiva. [A Teoria de
Inferência Indutiva Universal de Solomonoff é uma teoria de predição baseada em
observações lógicas, assim como predizendo o próximo símbolo baseada numa dada
18

série de símbolos. A única suposição é de que o ambiente segue alguma distribuição


probabilística desconhecida mas computável]

Características

Esta atividade humana possui três aspectos fundamentais: ser orientada por
um objetivo, fazer uso dos instrumentos de mediação e produzir algo que podemos
caracterizar como elemento da cultura - seja por sua existência física, ou por sua
existência simbólica - e que consiste na objetivação do ser humano. Essas três
dimensões da atividade humana não seriam possíveis sem a articulação dialética com
a categoria consciência. Atividade e consciência são processos recursivos. Os signos
são produto da ação do próprio ser humano no processo de produção de sua vida
material, decorrendo, portanto, da história da humanidade, e são instrumentos que a
consciência se utiliza para operar: uma vez apropriados ou subjetivados, caracterizam
o psiquismo humano como sígnico e, em consequência, inexoravelmente social e
pessoal, individual no seu entendimento como único e plural nos relacionamentos
com os outros serem humanos.

Assim a linguagem é um dos grandes mediadores que possibilita o acesso aos


processos intersubjetivos e intrasubjetivos dos indivíduos, o acesso ao dito “mundo
interno”, também será o instrumento metodológico precioso para obtenção de dados
numa pesquisa: as mais variadas possibilidades de produçāo de discursos, que nos
permitirão acesso aos sentidos e significados que a situaçāo estudada contém.
Mesmo no ambiente inconsciente, é algum tipo de linguagem codificada nesse
ambiente que se traduz de alguma forma e se expressa por algum meio no
consciente.

É possível estudar a aquisição de subsistemas gramaticais da língua, tais


como o fonológico, o morfológico, o sintático, o lexical ou o semântico, a partir de uma
concepção formal da linguagem. É comum dividir o estágio inicial da aquisição de
19

linguagem em duas fases: pré-linguística e linguística, há autores que afirmam que


os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação linguística da criança.
Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os
fonemas da sua língua. Aquisiçao aqui pode ser formas de acepções, conhecimento
e introjeções através da acomodação e da assimilação que são os conceitos básicos
dos fundamentos gerais da concepção de Jean Piaget1 (piagetiana) do
desenvolvimento. O conhecimento é um processo e não um acumular de informação,
é uma reorganização progressiva e uma construção individual. Uma criança com as
suas capacidades precoces começa a conhecer o seu mundo (através dos esquemas
iniciais) pelos sentidos. A assimilação e a acomodação são os instrumentos do
conhecimento, ou seja, as estruturas da inteligência que permitem a organização
progressiva do conhecimento. Para Piaget, há adaptação enquanto processo quando
o organismo se transforma em função do meio e quando esta transformação tem por
efeito um acréscimo das trocas entre ambos, favoráveis ao organismo. Para explicar
este processo de trocas entre organismo e meio, que no fundo é a adaptação, Piaget
utiliza vários conceitos que estão diretamente associados com a biologia, como por
exemplo o de invariantes funcionais. Estas invariantes funcionais são os processos
responsáveis pelos mecanismos dessas trocas entre organismo e meio, ou melhor,
pelo funcionamento e gestão entre organismo. Portanto assimilação consiste em
integrar os objetos em estruturas prévias, isto é, a incorporação da informação no
próprio sujeito e …como exemplo nas crianças, podemos citar o ato de agarrar coisas,
onde existe um esquema inicial de preensão (agarrar), mas o indivíduo não agarra
todos os objetos da mesma forma, pois estaria sujeito a que alguns caíssem.

A linguagem então pode ser concebida no contexto da interação social, não


simplesmente como meio de transmissão de informação, mas sim como projeção das
próprias pessoas, veículo de trocas, de relações, como meio de representação e
comunicação. Neste sentido, a linguagem possui uma dinâmica, que implica a
participação do outro, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo infantil. A
linguagem é por um lado, um meio de interação, de relação e de construção do
conhecimento; e, por outro lado, algo que a criança precisa conhecer e dominar:
linguagem como meio e objetivo do conhecimento ao mesmo tempo
20

A aquisição da linguagem amplia noções de tempo, espaço, capacidade de


raciocínio, planejamento e avaliação de ações realizadas, assim o “ambiente
linguístico” em sua formas de aquisição na criança é considerado como aspecto de
muita importância na aquisição da linguagem. Para a visão cognitivista, por exemplo
na teoria de piagetiana8 de aquisição da linguagem ressalta que todo ser humano
passa a desenvolver suas habilidades a partir da interação com o meio e com o outro,
e o ambiente é o principal impulso para desenvolver o conhecimento da criança.
Segundo a Teoria de Piaget o pensamento aparece antes da linguagem, que apenas
é uma das suas formas de expressão, ou seja, para o autor, não se pode ensinar
apenas usando palavras, para classificar, categorizar, seriar, ou mesmo pensar com
responsabilidade. Já para Vygotsky9, pensamento e linguagem são processos
interdependentes, desde o início da vida. o crescimento cognitivo da criança se dá
por assimilação e acomodação. O indivíduo constrói esquemas de assimilação
mentais para abordar a realidade. Piaget entende que é através das acomodações
(que, por sua vez, levam à construção de novos esquemas de assimilação) que se dá
o desenvolvimento cognitivo, em sua teoria Jean Piaget buscou compreender a
gênese do conhecimento e postula que o desenvolvimento consiste no avanço de
formas inferiores do desenvolvimento, para forma mais complexas. O autor
desenvolveu o conceito de estrutura cognitiva que é central para sua teoria. Estruturas
cognitivas são padrões de ação física e mental subjacentes a atos específicos de
inteligência e correspondem a estágios do desenvolvimento infantil.Com o conceito
de equilibração, Piaget demonstrou que a Inteligência deve ser confrontada para
evoluir. Conseguir o equilíbrio, atingir uma posição estável após superar dificuldades
e sobressaltos e defende que esse processo também ocorre com a inteligência.

8
Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, 9 de agosto de 1896 - Genebra, 16 de setembro de 1980) foi
um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do
século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica[nota 1] e
fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica
do pensamento humano.
9
Semionovitch Vigotski (em russo Лев Семёнович Выготский, transliteração: Lev Semyonovich
Vygotskij, sendo o sobrenome também transliterado como Vigotski, Vygotski ou Vygotsky; Orsha, 17
de novembro de 1896 — Moscou, 11 de junho de 1934),[1] foi um psicólogo, proponente da psicologia
cultural-histórica
21

Aprendizagem

Afirmando assim que a aprendizagem acontece através do que ela aprecia ao


seu redor. Já A teoria da linguagem de Chomsky, tal como inicialmente postulada em
“Syntactic Structures” obra de 1959, foi chamada de Teoria Transformacional e sofreu
grandes alterações nos anos subsequentes, mas inicialmente é uma teoria da
gramática gerativa ou generativa, melhor explicando - trata do aspecto criativo da
faculdade da linguagem e aborda os processos de transformação pelos quais passa
o sintagma10. A gramática transformacional é um tipo particular de gramática
generativa, noção introduzida na linguística na década de 1950 pelo linguista, que
renovou completamente a investigação nesta área do conhecimento. É possível
conceber tipos diferentes de gramática ge(ne)rativa, e o próprio Chomsky definiu e
discutiu vários tipos diferentes em seus primeiros trabalhos. Mas, desde o início, ele
próprio defendeu um tipo particular, ao qual deu o nome de gramática
transformacional ou GT; a gramática transformacional foi chamada às vezes
gramática gerativa transformacional, ou “GGT”.

A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança, e, na


maioria das vezes, é efetuada explicitamente pelos pais através de instruções verbais
durante atividades diárias, assim como através de histórias que expressam valores
culturais. A socialização através da linguagem pode ocorrer também de forma
implícita, por meio de participação em interações verbais que têm marcações sutis de
papéis e status, dessa forma, através da linguagem a criança tem acesso, antes
mesmo de aprender a falar, a valores, crenças e regras, adquirindo os conhecimentos
de sua cultura. À medida que a criança se desenvolve, seu sistema sensorial -
incluindo a visão e audição - se torna mais refinado e ela alcança um nível lingüístico

10
Sintagma (do grego σύνταγμα, transl. syntagma: "composto" ou "constituição"), em linguística,
refere-se a um grupo de elementos linguísticos contíguos em um enunciado, ou seja, é uma unidade
sintática composta de um ou mais vocábulos que formam orações. Na língua portuguesa, existem
sintagmas nominais, verbais, adjetivais, adverbiais e preposicionais, de acordo com o núcleo do
sintagma. O sintagma tem o paradigma como oposto.
22

e cognitivo mais elevado, enquanto seu campo de socialização se estende,


principalmente quando ela entra para a escola e tem maior oportunidade de interagir.

Os estudos sobre a influência dos fatores sociais na aquisição da linguagem


tiveram grande impulso com as críticas às considerações de Chomsky de que havia
uma “pobreza dos estímulos” e, portanto, a criança não poderia adquirir a linguagem
a partir do meio social. Autores da perspectiva da Interação Social no estudo da
linguagem desafiam a posição chomskiana, e evidenciam a importância da interação
social para a aquisição da linguagem, especialmente as relações da criança com a
mãe. Essas relações representam um sistema dinâmico, segundo o qual ambos
contribuem com suas experiências e conhecimentos para o curso da interação. A
linguagem é entendida, nesta perspectiva, enquanto comunicação, e portanto é
anterior ao surgimento das palavras. Neste trabalho, pretende-se apresentar as
explicações desta perspectiva teórica sobre o processo de aquisição da linguagem
infantil. Serão discutidos os efeitos da fala materna e sua influência na aquisição da
linguagem por parte da criança, assim como os diferentes estilos de input lingüístico,
considerando também a importância das características da criança na interação.

Patologias da Linguagem

Grande parte das queixas relatadas na clínica pediátrica, neurológica,


neuropsicológica e fonoaudiológica infantil refere-se a alterações no processo de
aprendizagem e/ou atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem
referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção
verbal e/ou escrita[1]; A linguagem é um exemplo de função cortical superior, e seu
desenvolvimento se sustenta, por um lado, em uma estrutura anatomofuncional
geneticamente determinada e, por outro, em um estímulo verbal que depende do
ambiente. A linguagem Serve de veículo para a comunicação, ou seja, constitui um
instrumento social usado em interações visando à comunicação. Desta forma, deve
ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um
produto. Pode ser definida como um sistema convencional de símbolos arbitrários que
23

são combinados de modo sistemático e orientado para armazenar e trocar


informações. Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar,
a expressão facial e o gesto para comunicarse com os outros. Tem também
capacidade para discriminar precocemente os sons da fala. A aprendizagem do
código lingüístico se baseia no conhecimento adquirido em relação a objetos, ações,
locais, propriedades, etc. Resulta da interação complexa entre as capacidades
biológicas inatas e a estimulação ambiental e evolui de acordo com a progressão do
desenvolvimento neuropsicomotor11. No desenvolvimento da linguagem, duas fases
distintas podem ser reconhecidas: a pré-lingüística, em que são vocalizados apenas
fonemas (sem palavras) e que persiste até aos 11-12 meses; e, logo a seguir, a fase
lingüística, quando a criança começa a falar palavras isoladas com compreensão.
Posteriormente, a criança progride na escalada de complexidade da expressão. Este
processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial, com sobreposição
considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento[2].

O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de quatro


sistemas interdependentes: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da
linguagem num contexto social; o fonológico, envolvendo a percepção e a produção
de sons para formar palavras; o semântico, respeitando as palavras e seu significado;
e o gramatical, compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar
palavras em frases compreensíveis. Os sistemas fonológico e gramatical conferem à
linguagem a sua forma, assim a fala caracteriza-se habitualmente quanto à
articulação, ressonância, voz, fluência/ritmo e prosódia. As alterações da linguagem
situam-se entre os mais frequentes problemas do desenvolvimento, atingindo 3 a 15%
das crianças, e podem ser classificadas em atraso, dissociação e desvio. Podemos
rascunhar uma classificação das alterações da linguagem, a saber:

11
http://plenamente.com.br/artigo.php?FhIdArtigo=197: SOBRE TARNSTORNOS DA
LIBGUAGEM, aessado em 21 de outubro de 2020.
24

a. Atraso de linguagem: A progressão na linguagem processa-se na


seqüência correta, mas em ritmo mais lento, sendo o desempenho
semelhante ao de uma criança de idade inferior.

b. Dissociação na linguagem quando existe uma diferença significativa


entre a evolução da linguagem e das outras áreas do desenvolvimento.

c. Desvio de linguagem, quando o padrão de desenvolvimento é mais


alterado: verifica-se uma aquisição qualitativamente anômala da
linguagem. É um achado comum nas perturbações da comunicação do
espectro do autismo.

A etiologia (ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação


das causas e origens de um determinado fenômeno) das dificuldades de linguagem
e aprendizagem é diversa[3] e pode envolver fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos
e emocionais (estrutura familiar relacional), ocorrendo, na maioria das vezes, uma
inter-relação entre todos esses fatores. Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem
também podem ocorrer em concomitância com outras condições desfavoráveis
(retardo mental, distúrbio emocional, problemas sensório-motores) ou, ainda, ser
acentuadas por influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais,
instrução insuficiente ou inapropriada.

O Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem ocorre quando uma


criança ou adulto tem dificuldades em produzir, compreender e reproduzir a
linguagem, sem que haja uma causa evidente. O denominado Distúrbio Específico
de Linguagem (DEL) é uma dificuldade característica persistente para adquirir e
desenvolver a fala e a linguagem. Aparentemente a criança possui todas as condições
para falar, mas ela não consegue ou apresenta muita dificuldade neste processo e
são perturbações intermitentes na emissão das palavras, sem que existam alterações
dos órgãos da expressão. Neste grupo de transtornos da linguagem o distúrbio mais
importante é a tartamudez, também conhecida como gagueira.
25

O termo Atraso de Linguagem é utilizado quando a aquisição do processo de


linguagem se faz de forma típica, embora mais tarde do que a idade habitual para
cada etapa, todavia podem ocorrer também doenças típicas que provocam alterações
na região do cérebro denominada gânglios da base, cujos Os principais constituintes
são: corpo estriado (núcleo caudado e putâmen), globo pálido, núcleo subtalâmico e
substância negra. Pode ocorrer em doenças que provocam alterações na região do
cérebro chamada gânglios da base, mais comum na doença de Parkinson; Disartria
hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais, provocando uma voz
áspera e com interrupção na articulação das palavras

mais comum na doença de Parkinson;

A Disartria é uma alteração da fala, geralmente, provocada por um distúrbio


neurológico, como um AVC, paralisia cerebral, doença de Parkinson, miastenia gravis
ou esclerose lateral amiotrófica, por exemplo, pode estar acompanhada
acompanhada de outras alterações neurológicas, como a disfagia, que é dificuldade
em deglutir os alimentos, a dislalia, que é alteração na pronúncia das palavras, ou
mesmo uma afasia, que é a alteração na expressão ou na compreensão da
linguagem. No caso da Disartria hipercinética: ocorre uma distorção na articulação
das vogais, provocando uma voz áspera e com interrupção na articulação das
palavras.

A Dislexia não causa trocas de palavras ou letras como a dislalia, pois na


maioria das vezes a criança que apresenta esse distúrbio não pode decifrar as letras
nem as palavra. A dislalia é um distúrbio da fala que se caracteriza pela dificuldade
de articulação de palavras: a criança com dislalia pronuncia determinadas palavras
de maneira errada, trocando, distorcendo, transpondo ou acrescentando sílabas e
fonemas, nosso exemplo icônico é o personagem cebolinha do cartunista Maurício de
Souza. O dislálico geralmente as escreve de forma errada também. Uma pessoa com
disartria não consegue articular e pronunciar bem as palavras devido a uma alteração
no sistema responsável pela fala, envolvendo músculos da boca, língua, laringe ou
cordas vocais, o que pode proporcionar dificuldades na comunicação, engolir
alimentos e o isolamento social.
26

Linguagem e epilepsia

Os efeitos da epilepsia12, das crises convulsivas e das descargas


eletroencefalográficas sobre a linguagem têm sido discutidos em diversos estudos.
Pode-se dizer que três são os distúrbios mais relatados em pacientes epilépticos:as
disfasias do desenvolvimento associadas a epilepsia; as afasias críticas (agudas),
onde ocorre uma alteração transitória da função cognitiva; e a afasia epiléptica
adquirida (síndrome de Landau-Kleffner). A afasia epiléptica adquirida é caracterizada
pela deterioração da linguagem na infância associada a crises ou atividade
eletroencefalográfica epileptiforme anormal. Esse tipo de afasia muitas vezes é
confundido com síndrome autística ou deficiência auditiva. Além da deterioração da
linguagem e da agnosia auditiva, observam-se alterações de comportamento,
incluindo traços autistas. Por isso, devemos estar atentos a qualquer criança que
apresente regressão de linguagem, devendo esta ser avaliada cuidadosamente (para
que seja feito um diagnóstico diferencial) e encaminhada para o tratamento
adequado.

Linguagem e autismo

A regressão da linguagem é observada na síndrome de Landau-Kleffner e na


regressão autística, estudos focados na linguagem verbal de crianças com espectro
autista enfatizam traços anômalos da fala, como a escolha de palavras pouco usuais,
inversão pronominal, ecolalia, discurso incoerente, crianças não-responsivas a
questionamentos, prosódia aberrante e falta de comunicação. Muitos estudos
atribuem a ausência de fala em alguns indivíduos ao grau de severidade do autismo,

12
Apud YACUBIAN, Elza Marcia Targas. Crises epiléptica_ Crises epilépticas / Elza Márcia
Targas Yacubian, Silvia Kochen. – São Paulo : Leitura Médica Ltda., 2014.
https://epilepsia.org.br/wp-content/uploads/2017/06/Semiologia_das_Crises_Epilepticas.pdf,
acessado em 24 de outubro de 2020.Crises epilépticas / Elza Márcia Targas Yacubian, Silvia Kochen.
– São Paulo : Leitura Médica Ltda., 2014.
27

à tendência a retardo mental ou a uma inabilidade de decodificação auditiva da


linguagem. No autismo, a compreensão e a pragmática estão invariavelmente
afetadas, e os achados incluem prosódia aberrante, ecolalia imediata ou tardia e
perseverança (persistência inapropriada no mesmo tema). Outros sintomas estão
também presentes, distinguindo essas crianças daquelas com apenas atraso de
linguagem; esses sintomas incluem, particularmente, perturbações da comunicação
não-verbal, comportamentos estereotipados e perseverantes, interesses restritos
e/ou inusuais e alteração das capacidades sociais13. Concluímos, com isso, que a
regressão de linguagem na infância se caracteriza por um distúrbio grave, com
morbidades significativas a longo prazo.

São princípios básicos da intervenção na criança a avaliação do


desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis, a orientação à família e
escola e a terapia propriamente dita. Esta pode ser dividida em terapia da fala que
trata de desvios fonéticos e fonológicos, terapia de voz em caso de disfonias, terapia
de motricidade oral como os distúrbios de alimentação, respiração e mobilidade de
órgãos fonoarticulatórios, terapia de linguagem oral onde o enfoque pode estar
centrado na expressão ou recepção de linguagem e terapia de linguagem escrita que
trata das dislexias, disortografias e disgrafias.

Dificuldades de aprendizagem da linguagem escrita desde a tenra infância


referem-se a alterações no processo de desenvolvimento do aprendizado da leitura,
escrita e raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento
da linguagem oral. Ao estudarmos alterações no processo de aprendizagem da
linguagem oral, freqüentemente verifica-se a ocorrência de posteriores dificuldades
de aprendizagem da leitura e escrita. Da mesma forma, ao se investigar os fatores
que antecedem as dificuldades de leitura e escrita, surgem questionamentos a
respeito das dificuldades de aprendizado da linguagem. Ressalta-se que, entre as

13
MARANHAO, Samantha Santos de Albuquerque; PIRES, Izabel Augusta Hazin. Funções executivas e
habilidades sociais no espectro autista: um estudo multicasos. Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv., São Paulo
, v. 17, n. 1, p. 100-113, jun. 2017 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-03072017000100011&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 30 out. 2020. http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v17n1p100-113.
28

alterações de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades fonológicas,


e não as articulatórias, que podem ocasionar prejuízos no aprendizado posterior da
leitura e da escrita.

Dislexia

A leitura e a escrita envolvem habilidades cognitivas complexas, além de


capacidade de reflexão sobre a linguagem no que se refere aos aspectos fonológicos,
sintáticos, semânticos e pragmáticos. As crianças, ao iniciar a alfabetização, já
dominam a linguagem oral, sendo capazes de iniciar o aprendizado da escrita. Porém,
sabe-se que existem regras mais específicas e próprias da escrita, havendo, então,
maiores dificuldades no seu aprendizado.

No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização


apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem
diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais. Sabe-
se que se um aluno com dificuldades de aprendizagem for bem conduzido pelos
profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos
resultados escolares14. É importante ressaltar que existe uma combinação dos
fenômenos biológicos e ambientais no aprendizado da linguagem escrita, envolvendo
a integridade motora, a integridade sensório-perceptual e a integridade
socioemocional (possibilidades reais que o meio oferece em termos de quantidade,
qualidade e freqüência de estímulos). Além disso, o domínio da linguagem e a
capacidade de simbolização também são princípios importantes no desenvolvimento
do aprendizado da leitura e da escrita. As diferenças desse distúrbio podem ser
classificadas em Dislexia fonológica; Dislexia de superfície; Dislexia profundas;
Dislexia atencional ; Dislexia por negligência; Dislexia literal. A dislexia não causa
trocas de palavras ou letras como a dislalia, pois na maioria das vezes a criança que
apresenta esse distúrbio não pode decifrar as letras nem as palavras. A dislalia é um

14
SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L.. Distúrbios da aquisição da linguagem e
da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2, supl. p. 95-103, Apr. 2004 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300012&lng=en&nrm=iso>. access
on 30 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300012.
29

distúrbio da fala que se caracteriza pela dificuldade de articulação de palavras: a


criança com dislalia pronuncia determinadas palavras de maneira errada, trocando,
distorcendo, transpondo ou acrescentando sílabas e fonemas, e geralmente as
escreve de forma errada tambem.

Disartria

Disartria é uma alteração da fala, geralmente, provocada por um distúrbio


neurológico, como um AVC, paralisia cerebral, doença de Parkinson, miastenia gravis
ou esclerose lateral amiotrófica, por exemplo. Uma pessoa com disartria não
consegue articular e pronunciar bem as palavras devido a uma alteração no sistema
responsável pela fala, envolvendo músculos da boca, língua, laringe ou cordas vocais,
o que pode proporcionar dificuldades na comunicação e isolamento social. Para tratar
a disartria, é importante a realização de exercícios de fisioterapia e acompanhamento
com fonoaudiologista, como forma de exercitar a linguagem e melhorar os sons
emitidos, sendo também essencial que o médico identifique e trate o que provocou
esta alteração. Existem diferentes tipos de disartria, e suas características podem
variar de acordo com o local e o tamanho da lesão neurológica ou a doença que
provoca o problema. Os principais tipos15 incluem: Disartria flácida: é uma disartria
que, geralmente, produz uma voz rouca, com pouca força, anasalada e com a
emissão imprecisa das consoantes. Costuma acontecer em doenças que provocam
lesão no neurônio motor inferior, como miastenia gravis ou paralisia bulbar, por
exemplo; Disartria espástica: também costuma provocar uma voz anasalada, com
consoantes imprecisas, além de vogais distorcidas, gerando uma voz tensa e
"estrangulada". Pode estar acompanhada de espasticidade e reflexos anormais dos
músculos da face. Mais frequente em lesões do nervo motor superior, como acontece
em um traumatismo crânio-encefálico; Disartria atáxica: esta disartria pode provocar
uma voz áspera, com variações na entonação dos acentos, havendo uma fala
lentificada e um tremor nos lábios e língua. Pode lembrar a fala de alguém alcoolizado.

15
Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem:
https://www.scielo.br/pdf/jped/v80n2s0/v80n2Sa11.pdf
30

Costuma surgir nas situações em que há lesões relacionadas à região do cerebelo;


Disartria hipocinética: há uma voz rouca, soprosa e trêmula, com imprecisão na
articulação, havendo também alteração na velocidade da fala e tremor de lábio e
língua. Pode ocorrer em doenças que provocam alterações na região do cérebro
chamada gânglios da base, mais comum na doença de Parkinson;Disartria
hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais, provocando uma voz
áspera e com interrupção na articulação das palavras. Pode acontecer em casos de
lesão do sistema nervoso extrapiramidal, frequentes em casos de coréia ou distonia,
por exemplo. Disartria mista: apresenta alterações características de mais de um tipo
de disartria, e pode acontecer em diversas situações, como na esclerose múltipla,
esclerose lateral amiotrófica ou traumatismo crânio-encefálico, por exemplo. Para
identificar a causa da disartria, o neurologista irá avaliar os sintomas, o exame físico,
e solicitar exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética,
eletroencefalograma, punção lombar e estudo neuropsicológico, por exemplo, que
detectam as principais alterações relacionadas ou que provocam esta alteração na
fala.

Em resumo, observa-se que a perspectiva da interação social dos estudiosos


da linguagem enfatiza o papel desempenhado pelo input lingüístico no processo de
aquisição da linguagem infantil, o qual, por sua vez, precisa ser analisado à luz das
características individuais e dos aspectos sociais relacionados à criança e ao adulto,
tornando necessária uma análise interacional e bidirecional desta relação onde a
psicologia desempenha papel fundamental, nao so no acompanhamento mas
também no tratamento e cuidados ao paciente que apresenta esses transtornos. A
importância da psicologia reside no fato de se levar em conta tais características e
que existe variabilidade de uma criança para outra, de uma mãe para outra, na forma
e na medida em que ministram e fazem uso de aspectos particulares da linguagem.
Ademais, o nível de desenvolvimento da criança, em termos de idade ou de estágio
lingüístico, influencia a forma como ela fará uso do input recebido; um determinado
estilo de input materno poderá ter efeitos facilitadores da linguagem em um nível de
desenvolvimento da criança, e não apresentar esse mesmo efeito em um outro nível.
É importante mencionar ainda que existem variações no contexto sociocultural em
que os indivíduos vivem. A variação entre contextos é marcada pelos diferentes
31

modelos de uso da linguagem que o meio social oferece. Estes modelos são
apresentados segundo os modos de vida e os tipos de interações típicas do meio
social dos indivíduos, ou seja, correspondem a seus hábitos e necessidades
adaptativas. Por fim, todos esses aspectos são enfatizados pela teoria da interação
social, que busca romper o dualismo natureza versus ambiente que prevaleceu por
tanto tempo nas explicações sobre a aquisição da linguagem. Os pressupostos dessa
teoria contribuem para uma análise do conhecimento acerca do contexto sociocultural
em que o indivíduo está inserido, permitindo uma articulação deste com as
características individuais do adulto e da criança, orientado por um modelo
bidirecional, através do qual evidenciam-se a reciprocidade e a adaptação mútua
entre o adulto e a criança.

7. MEMÓRIA

Definição:

Durante um longo período, o estudo sobre a memória foi um dos campos


menos explorados da psicofilosofia. Apenas nas últimas décadas, despertou-
se o interesse pela pesquisa na área. Os conceitos iniciais eram vagos e
difusos. Richard Semon e Karl Hering consideravam a memória uma
“propriedade universal da matéria”. Já Berguson, denomina “memória mental”,
para ele, a memória era uma manifestação do livre arbítrio, capaz de evocar
voluntariamente lembranças de experiências passadas individuais. Mesmo
após diversas publicações sobre o assunto, pouco se sabia sobre a natureza
da memória, então na primeira metade do século XX, o psicólogo americano
Lashley concluiu que a natureza fisiológica da memória continuava um enigma
para os pesquisadores da época.

Na década de 1960, ocorreram importantes descobertas na área da


pesquisa a respeito do assunto, através de estudos aprofundados de cunho
biológicos e fisiológicos. Um desses avanços foi o reconhecimento da
existência de mais de um tipo de memória que ocorrem em distintas partes do
32

sistema cerebral. Esta ideia passou a ser defendida após os pesquisadores


estudarem o caso de Henry Molaison (1926-2008).

H.M. após ser atropelado por um ciclista, aos 8 anos, passou a sofrer de
epilepsia “disparo aleatório descontrolado de grupos de neurônios e podem se
espalhar pelo cérebro” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018, p. 265) grave. Aos
27 anos foi submetido a uma neurocirurgia para controlar as crises epiléticas, onde
foi feita uma remoção bilateral de parte do córtex temporal medial, amígdala e parte
do hipocampo. De fato, a cirurgia auxiliou nas crises, porém H.M. sofreu sequelas
advindas dessa remoção, sua memória de curto prazo havia sido afetada, porém ele
se recordava de toda sua história até dois anos antes da cirurgia, além de ter
preservado outras habilidades de linguagem, compreensão, motoras, raciocínio e
inteligência. Seu caso se tornou muito famoso e essa constatação empírica promoveu
pesquisas a respeito da memória bem como o desenvolvimento de novos estudos
sobre a memória de curta e de longa duração.

Características

A memória envolve a criação de circuitos neurais e consiste na


capacidade do sistema nervoso em manter e recuperar informações,
habilidades e conhecimentos que são adquiridos ao longo da vida de um
indivíduo, e que podem ser recuperadas posteriormente A forma como a
memória opera pode ser associada ao funcionamento de um computador, todo
o processo acontece em três fases: Codificação, Armazenamento,
Recuperação.

A fase de codificação consiste no registro inicial da informação, ou seja,


a aprendizagem - o cérebro transforma a informação recebida pelos sentidos
em um código neural que ele é capaz de utilizar. Em analogia a um computador,
a decodificação corresponde ao teclado. O armazenamento ocorre com a
33

retenção da informação codificada, isto é, uma mudança no sistema nervoso


consolida esta informação através de novas sinapses formadas que fortalecem
as conexões neurais e sustentam a memória. Então, por meio da consolidação
a informação codificada é armazenada, na analogia ao computador
corresponde ao disco rígido (CPU). A fase de recuperação consiste em
localizar nas informações armazenadas e trazer à mente uma memória já
codificada e armazenada. Este processo corresponde a tela de um
computador, ao recuperar uma memória/arquivo salvo anteriormente no disco
rígido. Portanto a abordagem dos três sistemas da memória corresponde a:

Fases: Codificação, Armazenamento e recuperação

Esta abordagem propõem a existência de três armazenamentos de memória, que


correspondem a três tipos diferentes de sistemas de memória com características
distintas - Memória Sensorial, Memória de Curto Prazo e Memória de Longo Prazo.

A Memória Sensorial é breve, temporária, está interligada aos sistemas sensoriais,


e para cada um há uma memória sensorial, como por exemplo a memória sensorial
visual é chamada de memória icônica; a memória sensorial auditiva é chamada
ecóica, memória olfativa. Este tipo de memória dura uma fração de segundos e
normalmente não é perceptível, se ela não for processada é facilmente esquecida,
este processamento ocorre por meio da atenção para que então passe para a
Memória de Curto Prazo. O processo específico pelo qual as informações são
passadas da memória sensorial para a memória de curto prazo, e possuem
divergência entre os pesquisadores, alguns citam a tradução da informação sensorial
recebida para representações gráficas ou imagens, outros palavras. Também é
denominada Memória de Trabalho. Ela possui certa limitação pois depende da
atenção e do esforço mental, por esta razão a informação pode permanecer neste
tipo de memória por alguns segundos, a menos que ela seja repetida. Feldman (2015)
chama esta repetição de ensaio elaborativo.
34

“Ensaio elaborativo ocorre quando a


informação é considerada e organizada de alguma
maneira. A organização pode incluir expandir a
informação para fazê-la caber em uma estrutura
lógica, ligá-la a outra lembrança, transformá-la em
uma imagem, ou transformá-la de alguma outra
forma.” (Feldman,2015).

Por meio desse processo a informação tem mais chances de ser enviada,
então, para a memória de longo prazo. A Memória de Longo Prazo é relativamente
permanente e sua capacidade é quase ilimitada. As informações recebidas são
armazenadas através de associações:

“Um conjunto altamente influente de teorias


sobre a organização da memória é baseado em redes
de associações. Em um modelo de rede proposto
pelos psicólogos Allan Collins e Elizabeth Loftus
(1975), as características distintivas de um item são
ligadas de modo a identificá- -lo. Cada unidade de
informação na rede é um nó. Cada nó é ligado a
muitos outros nós. A rede resultante é como os
neurônios ligados em seu cérebro, mas os nós são
simplesmente bits de informação. Eles não são
realidades físicas.” (Gazzaniga, 2015)

A memória de longo prazo é subdividida memória Explícita (Processos para


lembrar informações específicas) e Implícita (processo que a memória armazena para
realizar atividades de comportamento que não exigem esforço deliberado e
consciência de lembrar de algo).

A Memória Explícita consiste na memória declarativa e memória processual.


Memória declarativa: Trata-se da memória que corresponde aos fatos. Esta por sua
vez é subdividida em: Memória Semântica: armazena conhecimentos e fatos gerais
sobre o mundo, regras de lógica que são utilizadas para deduzir outros fatos.
Memória Episódica: Contém informações de eventos que aconteceram há muito
35

tempo. Memória processual: Consiste na memória para habilidades e hábitos, como


fazer determinadas coisas. Memória Implícita: Com as diversas repetições e
aprimoramento dessas repetições da mesma experiência este procedimento é
armazenado na Memória de Procedimento, que corresponde a memória motora.

“A memória é composta de múltiplos sistemas


independentes, mas que se interagem. Diferentes circuitos,
estruturas e mecanismos neurais estão envolvidos, bem
como diferentes funções cognitivas e comportamentais.”
(SÁ, MEDALHA, 2001)

8. EMOÇÕES

O tema das emoções consiste em um parâmetro de fundamental importância para


a reflexão sobre a construção do conhecimento em psicologia. Ele não apenas aponta
para uma diversidade de exigências necessárias para a concepção e abordagem de
seus objetos de estudo, mas também destaca os problemas epistemológicos que
fundamentam suas bases de compreensão. Dentro de uma reflexão crítica pode-se
destacar que o tema das emoções consiste em um grande denunciador das
contradições presentes na psicologia em sua tentativa de se firmar como disciplina
científica.

As primeiras ideias que podemos colocar sobre emoção, é que se trata de uma
sensação que pode causar até mesmo impactos físicos, provocados por estímulos de
diferentes naturezas. Eles podem ser sentimentos ou episódios específicos, então,
emoções podem ser um estado mental e fisiológico que está ligado a uma variedade
de sentimentos, pensamentos e maneiras de agir. E podemos entender mesmo que
uma emoção se manifesta de maneira subjetiva por meio dos afetos. mas além e
acima de tudo, sentimos emoções. A clássica divisão do paradigma do conhecimento
36

ocidental16, trouxe para a psicologia obstáculos problemáticos, principalmente


quando surgiram as primeiras tentativas de apresentá-la como ciência. Isso se deu,
dentre outros motivos, porque de um lado da divisão encontravam-se as ciências sob
a égide da física, numa linguagem objetiva, preferencialmente técnica e respaldada
pela matemática e objetos de estudo próprios à manipulação experimental e às
noções de previsão e controle.

O conhecimento científico era concebido, por excelência, como o mais confiável,


capaz de desnudar a natureza indo além de suas aparências para chegar às leis
universais que regiam seus fenômenos. Fazia-se, assim, necessária uma atenção
obsessiva sobre o saber de modo que fossem exorcizados quaisquer resquícios de
subjetividade : corpos de conhecimento como a química, a medicina e a astronomia
sofriam uma intensa vigilância a fim de expurgar definitivamente todas as influências
místicas da alquimia, dos fluidos e da astrologia. Do outro lado da divisão,
encontravam-se as filosofias, a religião, o direito, as artes, a música e o senso comum,
marcados por uma linguagem qualitativa e temas de especulação próprios da
subjetividade humana como a existência, a alma, o amor, as relações humanas,
dentre outros. Desse modo, estabelecia-se imensa contradição para a psicologia, pois
existiam, em muitos de seus setores, fortes movimentos para torná-la um
conhecimento confiável para os requisitos científicos, mas, ao mesmo tempo, seus
interesses e objetos de estudo encontravam-se do outro lado do abismo e poderiam
também implicar em consideráveis riscos para suas pretensões objetivistas.

Uma base interessante para começarmos a pensar sobre emoções pode ser a
antropologia das emoções, ou seja, discutir a relação entre indivíduo e sociedade sob
o prisma das emoções. Tomadas tanto pelo senso comum ocidental quanto por
algumas teorias clássicas como baseadas em uma ‘realidade’ psicobiológica, as
emoções foram durante muito tempo tratadas como experiências universais ou então
profundamente individuais, escapando assim ao crivo dos domínios social e cultural.

16
Antes e depois da Idade da Luzes, Iluminismo e Renee Descrates com o Metodo e a racionalidade
dos processos mentais para a dedução racional da verdade e das certezas, e como Morin coloca em
O Método. As Idéias. (vol IV). Porto Alegre: Sulina, 1988, apud.
37

Até por isso, este foi um tema pouco presente nas teorias clássicas nas ciências
sociais e só nas últimas décadas ganhou a atenção da antropologia principalmente.
Talvez uma pesquisa me Durkheim e as bases dos fatos sociais como os clássicos a
abordaram – Durkheim, Mauss, Simmel e Elias – mas traremos o tema um pouco
mais próximos de nosso objeto e método de estudos, pondo em foco a relação entre
emoção, sensorialidade e corpo, assim como as experiências emotivas nas
sociedades ocidentais modernas.

Ao pensarmos sobre emoções humanas, do nosso ponto de vista de


acadêmicos de psicologia, deparamo-nos a uma extensa tradição de estudos e
reflexões sobre a construção do conhecimento em psicologia e nela são diversas as
limitações encontradas nas suas distintas expressões diante da complexidade do real.
A psicologia parece padecer de tal dificuldade de uma forma singular, uma vez que,
possuindo um objeto tao complexo de estudo, seja ele a anima e o animus, a psique,
o ser humano, a mente, o psiquismo, seu comportamento, e todos nomeados e
renomeados conforme o sistema de idéias e padrões de ensino que só aumentam
essa dificuldade primeira em acessar o fenômeno.

Sobre a compreensão do processos emocionais dita científica e sobre


compreensão de modo geral, citamos novamente Edgard Morin: sistemas de idéias
"constituem-se de uma constelação de conceitos associados de maneira sólida, cujo
agenciamento é estabelecido por vínculos lógicos (ou com tal aparência) em virtude
de axiomas postulados e princípios de organização subjacentes."17. E partimos da
teoria dos Sistemas de Luhmann e da Educação de Morin para entender que tratamos
aqui de um sistema complexo cujo núcleo pode ser composto de axiomas, regras
fundamentais e idéias mestras, mas nunca um dogma na medida mesmo que é
impossível passar duas vezes pelo mesmo rio. Desse núcleo deduzimos um conjunto
de sub núcleos dentro desse sistema complexo, e como todo sistema sub núcleos
que são eles mesmos um conjunto de subsistemas interdependentes de teorias,

17
Morin, E. (1983). O Problema Epistemológico da Complexidade. Men-Martins: Europa-
América.pg.163-164.
38

metodologias, conceitos que permitem certas relações com o que podemos chamar
de real e de uma imunologia autopoiética de proteção que consistem nos
procedimentos e táticas de proteção e refutação contra os ataques ao sistema.

Uma ênfase que buscamos aqui, é trazer a necessidade urgente de


compreendê-la não como uma oposição à objetividade, mas como processo da
constituição psíquica do sujeito que se objetiviza, que se faz sujeito, e isso ganha um
estatuto ontológico (da constituição do ser) e implica em exigências epistemológicas
(teroia do conhecimento) profundas de abordagem. Nesse sentido, trazemos um
aideia de novas formas interessantes para a compreensão do sujeito humano e de
suas emoções, que pode apontar para rumos epistemológicos significativos: abrimos
aqui um espaço para um estudo aberto e abrangente para a subjetividade, e que ela
se qualifique como momento fundamental da construção do saber, sem deixar de ser
ao mesmo tempo, reconhecida como um dos temas centrais das questões humanas.
No entanto, tal processo, mesmo que nascente, implica em uma reflexão
epistemológica atenta sobre os pressupostos sobre os quais se baseiam as
construções em psicologia que abordaremos de modo simples e introdutório.

Na atualidade, tal teor de reflexão tem ocorrido de modo relevante, tanto no


sentido de denunciar as influências simplificadoras do paradigma dominante, como
no de denunciar um problema epistemológico freqüente na psicologia – a importação
de metáforas explicativas provenientes de outras ciências. A psicanálise pode servir
como um exemplo interessante nesse sentido. Malgrado toda a contribuição
freudiana, que remontava a uma cosmovisão de considerável complexidade, sua
concepção do aparelho psíquico consistiu em uma compreensão materialista, de
certa forma, ao atribuir ao mesmo propriedades físicas comuns à mecânica dos
fluidos. Dentro disso, não se pode acatar a argumentação de que Freud tenha se
utilizado simplesmente de uma metáfora explicativa para os fenômenos
inconscientes, uma vez que tal processo implicou em uma cosmovisão substancialista
da psique (conforme se verifica em noções como libido, relações de objeto,
narcisismo) que lhe atribui propriedades materiais, não lhe permitindo outras formas
de investigação que levassem a concepções mais condizentes com seu teor
39

subjetivo. A própria noção de angústia18, potencialmente diversificada e rica para o


estudo das emoções, é enquadrada dentro de uma concepção substancialista que a
concebe como o acúmulo de energia recalcada. Não é sem motivos que a noção de
causalidade psíquica é questionada por Sartre (1971) que aponta a incompatibilidade
entre tal noção e a noção compreensiva7, ambas presentes na psicanálise.

Entretanto, dentro de uma outra perspectiva distinta, podemos reconhecer um


papel diverso para as emoções ao concebermos os processos emocionais próprios
da subjetividade apresentam uma característica fundamental: permitem a
constituição do humano, sobretudo pelos vínculos que são capazes de estabelecer.
Ou seja, além das funções próprias da organização interna do sujeito, as emoções
permitem o acesso, dentro de um processo histórico, ao mundo social e cultural,
participando de forma efetiva na construção dos sentidos que os componentes desses
universos venham a obter. Sendo assim, não é apenas o cerco criado pela linguagem
que permite a subjetivação e o acesso ao simbólico e ao cultural, mas trata-se de um
envolvimento subjetivo muito mais complexo (em que as emoções adquirem papel
essencial) que passa a permear o percurso de cada sujeito. Logo, uma criança que
aprende a temer o lobisomem (ou qualquer outra criatura lendária) não o faz
simplesmente em função da transmissão da linguagem, mas também devido aos
sentidos que dita criatura assumiu em sua subjetividade. É numa perspectiva
semelhante que J. P. Sartre19 se refere às emoções como uma transformação do
mundo e, entendendo-se aqui por mundo, o apreendido pelo sujeito. Portanto, não
seria equivocado afirmar que o acesso ao universo da cultura e da subjetividade social
é uma questão de sentido, em que as emoções desempenham papel constitutivo.
Embora não elaboremos um pensamento nem um detalhamento mais profundo,
podemos entender que um papel semelhante das emoções ao colocarem-na como

18
A angústia é o afeto (Affekt) por excelência na clínica psicanalítica. De acordo com Freud, é a matriz
de todos os afetos e o sinal (Angstbereishaft) que apela para o recalque. Para Lacan, é o único afeto
que não engana: é o sinal da divisão do sujeito entre o gozo e o desejo. In: Freud. S. (1976).
Conferências Introdutórias de Psicanálise. Obras Completas (vol XVI). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1917), acessado em 28 de uturbo de 2020, no sitio
https://farofafilosofica.com/2016/11/17/sigmund-freud-bibliografia-em-pdf/ ,
19
Sartre, J. P. .Bosquejo de Una Teoría de las Emociones. Madrid: Alianza Editorial, 1971, pg 85-86.
40

ponto de encontro ou área de intersecção na sujeição biológica com as relações


macro e micro sociais, da cultura, da história, do sujeito, dentre outros.

As emoções também podem ser entendidas como um sistema de


comunicações complexo, que regulam a forma como interagimos com o meio. As
emoções básicas podem ser consideradas a Alegria, Amor, Surpresa, Ira, Tristeza e
Medo. Cada uma destas emoções têm uma função. São como um “software” que
servem não apenas para comunicar, mas para impulsionar à ação, e rápido e
pesquisadores norte-americanos identificaram 27 tipos de emoções que caracterizam
as reações humanas às mais variadas situações, desafiando a suposição da
psicologia que resume esses sentimentos em apenas seis tipos: felicidade, tristeza,
medo, surpresa, raiva e nojo.

Antes de definir e entender o que são e como se dão, pensaremos em como


adquirir esse conhecimento do conhecer as coisas, de sentir as coisas, de definir
racionalmente o sentimento emocional, uma dicotomia por si só. Assim uma teoria e
um saber, de um conhecimento sobre o próprio conhecer e como conhecer, além da
capacidade humana de conhecer e sentir, uma epistemologia que estude essas
origens, pressupostos e cenários de surgimento é fundamental para o estudo dos
sistemas de idéias e das ideias da emoção. Por um lado, as reduções e cortes de
objetos de estudo implicam em unidades de análise cada vez mais atomizadas,
isoladas de seu processo subjetivo sistêmico e relacionadas entre si por
procedimentos como a estatística, ciência moderna que nasceu para controlar e
determinar docilidades produtividades nos corpos bio politizados, mas que, em geral,
se mostra pouco coerente com os processos de significação e sentido da
subjetividade humana. Por outro lado, nossa psicologia, enquanto ciência e ciências,
se vê em meio a um considerável campo de produção, caracterizado tanto pela
pluralidade de teorias e metodologias como pelas poucas articulações e diálogos
entre si. É nesse sentido que o problema das emoções encontra seu espaço: da
mesma forma que o objeto de estudo da psicologia - a subjetividade humana -
encontra-se minuciosamente repartida entre inúmeros fragmentos, correspondentes
a distintos sistemas de idéias, as emoções, enquanto processos constituídos
subjetivamente ao longo de uma história com dimensões biológicas, individuais,
41

sociais e culturais, encontram-se retalhadas entre numerosas perspectivas de estudo


que, geralmente, colocam-se como única fonte explicativa sobre as mesmas e
demonstram efetiva hostilidade quanto a propostas distintas de pensamento.

Dentro do paradigma simplificador das ciências20 que excluem a intuição arte


e a doxa, a formação dessas citadas idéias chaves e conceitos mestres, assim como
as regras e formas de associação entre elas são movimento central e as chaves do
castelo da sabedoria. O paradigma se faz invisível e inatacável diretamente,
favorecendo uma visão da realidade que é tomada como certa e, ao mesmo tempo,
ocultando-se enquanto momento central e determinante, assim essa obscura e
poderosa de influência do paradigma na construção do conhecimento ganhou no
ocidente uma característica singular a partir do cogito cartesiano que mais se
assemelha a um cogito 'EGO' sunt, e a tendência da época em se estabelecer uma
rígida divisão entre o que seria ciência e o que não seria, erroneamente colocada
como simples doxa, sem se lembrar que a doxa na grécia era o lugar comum de
argumentação a partir de questionamentos filosóficos, e o que deveria ser colocado
como objeto de especulação em todos os outros campos de estudo, temos uma
dicotomia: de um lado da divisão estabeleceu-se o conhecimento científico tido como
um conhecimento superior que era capaz de permitir avanços até então inimagináveis
de controle do homem sobre a natureza, colocando-o como senhor absoluto do poder
da ciência e das soluções do mundo através do conhecimento objetivo, a estatística
e a linguagem técnica livre de noções místicas como a de fluidos vitais; as reações
químicas, libertas dos sortilégios da alquimia; e os movimentos dos astros,
divorciados das superstições astrológicas. Do outro lado da divisão encontrava-se o
reino da subjetividade, do sujeito, das relações humanas, dos movimentos sociais,
das instituições, da espiritualidade, dentre outros que, possuindo um tipo distinto de
rigor, permitiam também uma linguagem poética e outras formas de expressão. Nesse
eixo situavam-se disciplinas como a filosofia, o direito, a teologia, as artes e, um dos
principais inimigos da ciência, o senso-comum, a doxa.

20
NEUBERN, Maurício S.. As emoções como caminho para uma epistemologia complexa da psicologia. Psic.:
Teor. e Pesq., Brasília , v. 16, n. 2, p. 153-163, Aug. 2000 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722000000200008&lng=en&nrm=iso>. access
on 30 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0102-37722000000200008.
42

Eis aqui nosso dilema ao falarmos de emoções - quais as teorias científicas


que trazem as certezas indubitáveis sobre o amor, as paixões, o rancor o medo o ódio
e a compaixão? A amizade os desejos e gama infindável de tons de sentimentos?
Aqui a ciência, apanágio do moderno, e a psicologia nos apresentam um início de
caminho. O grupo escolheu como marco a Psicologia de Lev Semenovitch Vigotski
que ganha visibilidade no cenário científico contemporâneo e, em nossa pesquisa, no
Brasil. Isso pode ser comprovado pelo número crescente de publicações em
periódicos científicos, como também por meio do cadastramento de grupos de
pesquisa no Diretório de Pesquisas do CNPq, com a referência do autor21.

Não obstante Vigotski ter escrito Teoria das emoções entre os anos 1931 e
1933, época anterior ao ano de de seu falecimento, e ter deixado a obra incompleta,
o que sempre acaba por ampliar as possibilidades de interpretações, seus estudos
deixaram grandes contribuições à temática. A obra teve sua primeira publicação na
Rússia tardiamente, em 1984 e, em um diálogo hegeliano com o filósofo holandês
Baruch de Espinosa, do século XVII, em contraposição ao filósofo René Descartes,
nosso citado autor procura demonstrar que as psicologias de seu contexto, que se
diziam espinosistas em suas teorias das emoções, eram, fundamentalmente,
cartesianas e dualistas.

Nessa linha de contraposição, nega as teorias que reduzem a arte à sensação


ou à emoção comum, admite, ainda, a existência de emoções desencadeadas por
fatos que não dependem meramente do estímulo perceptual diferindo, neste ponto,
das emoções animais. E aqui nos interessa esse fato como um antecedente histórico
para sua dura crítica às psicologias que adotavam o binômio estímulo-reação como
paradigma de pesquisa da psicologia humana, em especial as linhas

21
http://dgp.cnpq.br/buscagrupo/ das mais de 320 linhas de pesquisa em psicologia, em mais de 100
apareceram na busca bibliografia de Vigotsky, uma média de 28,5% de todos os núcleos de pesquisa
em psicologia no Brasil e dentro de “emoçoes” mais de 68% dos núcleos o tem como bibliografia
principal.
43

comportamentais até Skinner22. Vigotski se referia à essas psicologias que tinham


suas teorias das emoções embasadas no dualismo cartesiano, marco da filosofia
do século XVI. Essas psicologias, entre elas a psicologia de Carl Lange23 (1834-
1900), supunham-se herdeiras do monismo24 de Baruch [Bento] Espinosa25 (1632-
1677), o que servirá como instigador para a tarefa que Vigotski empreendeu de
elucidar as verdadeiras bases filosóficas sobre as quais se erigiram as teorias das
emoções de seu tempo.

Essa concepção associacionista de imaginação não abre possibilidades de


criação para além do que já preexiste no psiquismo, ou seja, para além da
casualidade. Acrescenta-se a isso que, assim como ocorreu com a emoção na
psicologia - que, de acordo com Vigotski, foi um processo psicológico pouco estudado

22
Skinner considerava o livre arbítrio uma ilusão e ação humana dependente das conseqüências de
ações anteriores. Se as conseqüências fossem ruins, havia uma grande chance de a ação não ser
repetida; se as conseqüências fossem boas, a probabilidade de a ação ser repetida se torna mais forte.
Skinner chamou isso de princípio de reforço. Para fortalecer o comportamento, Skinner usou o
condicionamento operante e considerou a taxa de resposta como a medida mais eficaz de força de
resposta. Para estudar o condicionamento operante, ele inventou a câmara de condicionamento
operante, também conhecida como Skinner Box, e, para medir a taxa, inventou o registrador
cumulativo. Usando essas ferramentas, ele e C. B. Ferster produziram seu trabalho experimental mais
influente, que apareceu em seu livro Schedules of Reinforcement (1957). Skinner desenvolveu a
análise do comportamento, a filosofia dessa ciência que ele chamou de behaviorismo radical,[7] e
fundou uma escola de pesquisa experimental em psicologia - a análise experimental do
comportamento. Ele imaginou a aplicação de suas ideias no projeto de uma comunidade humana em
seu romance utópico, Walden II, e sua análise do comportamento aplicada culminou em seu trabalho,
Verbal Behavior. Skinner foi um autor prolífico que publicou 21 livros e 180 artigos. A academia
contemporânea considera Skinner um pioneiro do behaviorismo moderno, junto com John B. Watson
e Ivan Pavlov. Uma pesquisa americana de junho de 2002 listou Skinner como o psicólogo mais
influente do século XX.
23
Carl Georg Lange (4 de dezembro de 1834 - 1900) foi um médico e psicólogo dinamarquês. Ele e
William James independentemente desenvolveram a teoria de James-Lange das emoções, que
postula que todas as emoções são desenvolvidas a partir de reações fisiológicas a estímulos. Ao
contrário de James, Lange declarou expressamente que as alterações vasomotoras são as próprias
emoções. Lange também observou os efeitos psicotrópicos de lítio, embora o seu trabalho nesta área
foi esquecido e independentemente redescoberto mais tarde.
24
Monismo (do grego μόνος mónos, "sozinho, único") é aquilo que atribui unidade ou singularidade
(em grego: μόνος) a um conceito, por exemplo, à existência. Em geral, é o nome dado às teorias
filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a existência de um
único tipo de substância ontológica, como a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por
oposição ao dualismo ou ao pluralismo, à afirmação de realidades separadas.
25
O Monismo Naturalista de Spinoza: dizer que a mente é a idéia do corpo é o mesmo que dizer ser
a mente constituída de imagens, representações ou pensamentos que se referem ao corpo. Spinoza
não vê a mente como sendo distinta do corpo, mas a concebe numa estreita relação de paridade.
44

e classificado como epifenômeno, ou seja, um fenômeno psicológico secundário -


ocorreu também com a imaginação, sobretudo no que diz respeito à imaginação
criativa. O autor enuncia a importância da imaginação criativa para a história da
psicologia, como fará com as emoções em Teoria das emoções, enaltecendo a
importância desse fenômeno para a cisão das correntes filosófica. Em suma, a
conferência sobre imaginação é também uma redação sobre a emoção, na medida
em que ambas as funções são classificadas como superiores, culturalizadas, e
assumem papéis semelhantes na história da Psicologia: foram relegadas à condição
de epifenômenos, ao mesmo tempo em que a maneira como foram estudadas pela
Psicologia demarca a cisão das correntes psicológicas em psicologia causal e
psicologia descritiva. Um dos pontos que Vigotski procurou destacar nesse texto foi a
participação ativa da vida emocional na esfera cognitiva do pensamento e no
movimento criador, que é a imaginação.

Esse naturalismo do qual fala o autor abrange desde a concepção darwiniana


das emoções até o behaviorismo de sua época. De acordo com a teoria do
evolucionista Charles Darwin (1809-1882), há um vínculo entre as emoções humanas
e as reações animais instintivas, e os sentimentos humanos são de origem biológico-
animal, inclusive aqueles relacionados às paixões terrenas, ao corpo, ao egoísmo
(Vigotski, 1997). Essa teoria influenciou os psicólogos do contexto de Vigotski, dando
origem a teorias psicológicas que preencheram os manuais soviéticos de psicologia,
ressaltando o caráter instintivo das emoções.

Instinto - esse foi o destino da psicologia inglesa, a teoria do darwiniano


Herbert Spencer (1820-1903), bem como do psicólogo francês Théodule Ribot26
(1823-1891), e da psicologia alemã de orientação biológica, a qual, a despeito das

26
Théodule-Armand Ribot, psicólogo francês nascido em Guingamp, estudou no Liceo de San Brieuc
(Lycée de St Brieuc). O sistema de interpretação para o ator de Constantin Stanislavski utiliza algumas
de suas teorias. Em 1862 entra na École Normale Supérieure, ministra palestras na Sorbonne sobre
psicologia experimental e, em 1888 foi apontado como professor de Psicologia Experimental no
College of France. Sua tese de doutorado, republicada em 1882, Hérédité: étude
psychologique(Hereditariedade: Estudo Psicológico) (5th ed., 1889), é seu livro mais importante e mais
conhecido.
45

idiossincrasias de cada uma, sempre a base foi a naturalista-darwiniana das


emoções. Assim, a concepção de emoção comum a essas teorias apontava para o
fato de que as emoções humanas eram vestígios das reações animais instintivas,
enfraquecidas na sua expressão e em seu desenvolvimento. Trata-se, pois, de uma
espécie de involução do desenvolvimento emocional humano, de acordo com
Vigotsky27: "(...)a curva do desenvolvimento das emoções é descendente(...)", e a ideia era
a de que, com o progresso do desenvolvimento, as emoções recuaram a segundo
plano, chegando a ideia de que o homem do futuro é um homem desprovido de
emoções, uma maquina um mecânico, um automato. Vigotsky então destaca a
impossibilidade de estudar as particularidades das emoções exclusivamente
humanas, uma vez que o avanço do psiquismo implicava no recuo da parcela
emocional da vida psíquica. Os protagonistas dessa concepção de emoção como
decorrente de reações orgânicas, aos quais Vigotski dedica parte de seu estudo em
Teoria das Emoções, eram o fisiologista Carl Lange e o psicólogo William James.

O autor familiarizado com os manuais soviéticos de Psicología, no que se


refere à temática das emoções, que ainda estavam pautados na reflexologia de
Pavlov e nas ditas relações entre o reflexo condicionado e o comportamento
consciente do homem, ou, baseados no naturalismo herdeiro da perspectiva
evolucionista de Charles Darwin, trouxe outra interpretação, entendendo na linha de
Smirnov (1969), que as emoções e os sentimentos se desenvolvem e se modificam,
são constitutivos da personalidade e permeados por vivências e pela história. O
homem deveria ser educado para os sentimentos, no fito de desenvolver um
posicionamento ante a realidade e construir novas formas de agir nela, novos
sentimentos e uma nova moral: a moral do homem soviético, o sentimento da
coletividade e a valorização do trabalho.

27
Vigotsky, L. S. Teoría de las emociones: estudio histórico-psicológico. Madrid: Akal, 2014. p. 125.
46

Teoria Histórico-Cultura

De acordo com a Teoria Histórico-Cultural, o homem age na realidade e


também reage a ela. Para Smirnov (1969), a maneira de reagir do homem ante as
coisas, os acontecimentos e as pessoas é definida por emoções e sentimentos. Estes
consistem, assim, numa atitude subjetiva de sentir do homem que origina-se a partir
da realidade objetiva, das relações estabelecidas na realidade objetiva com outros
homens. As emoções e os sentimentos são, ao mesmo tempo, subjetivos para aquele
que sente e objetivos em sua gênese. O autor esclarece que nem tudo na realidade
objetiva provoca uma reação, mas apenas aquilo que corresponde a uma
necessidade ou motivo da atividade do sujeito, que age sobre ele. De acordo com o
significado dos objetos que motivam o sujeito, os quais dependem dos fenômenos e
das atividades que este desenvolve para cumprir as exigências sociais às quais deve
responder, tem-se a variação de intensidade das emoções e dos sentimentos
(Smirnov, 1969). Na obra Teoria das emoções, a preocupação de Vigotski com a
análise minuciosa das teorias neurobiológicas das emoções deve-se, em parte, a uma
preocupação científica que evitaria cair no tão atual de então determinismo ou
reducionismo social. O redator do prefácio ainda destaca que a concepção
vigotskiana inova em relação às psicologias de seu tempo ao enfatizar os processos,
a mutabilidade e o desenvolvimento das funções psicológicas. Assim o autor russo
reafirmou em seu estudo das emoções a concepção de homem e sociedade
subjacente a toda a sua obra: homem histórico-social e também biologicamente
constituído, mas sobre o qual triunfaram as leis sociais e culturais. Essa visão permite
que Vigotski conceba o desenvolvimento ontogenético28 e filogenético29 como um
processo revolucionário, que contém a possibilidade iminente de transformação social
por um homem que se modifica e aprende constantemente em relação ao seu mundo
objetivo, de acordo com os recursos que lhe são fornecidos, por meio da

28
Ontogenia ou ontogênese descreve a origem e o desenvolvimento de um
organismo, desde o ovo fertilizado, até a sua forma adulta. É estudada na Biologia do
Desenvolvimento. A ontogênese define a formação e desenvolvimento do indivíduo
desde a fecundação do óvulo até à morte do indivíduo
29
A sistemática filogenética ou cladística é um método de classificação dos seres vivos
fundamentado na ancestralidade evolutiva das espécies. É uma reconstrução da história
evolutiva, por meio de hipóteses que consideram a relação de parentesco entre grupos ou
táxons.
47

transformação da natureza, por meio do trabalho. O homem, em seu aspecto


emocional, precisa ser compreendido como síntese das relações sociais, e neste
sentido, as emoções são datadas historicamente e são construídas a partir das
condições materiais de produção.

Enfim, o tipo de tarefa que nos impomos nesse terreno dos saberes
psicológicos transcende à uma mera reflexão epistemológica e implica em um debate
e intervenção sobre os próprios cenários sociais e políticos em que os pensamentos
são gerados e tomam corpo da mesma forma que as decisões. Os quadros de um
país como o Brasil, em suas contradições, com freqüência envolvem os profissionais,
notadamente os que buscam se comprometer socialmente, em um misto de paixão e
desânimo. A tarefa é uma tarefa de cidadania, profissionalismo e engajamento, no
intuito de visar transformações. Contudo, vale uma última ressalva para encerrar o
trabalho: cidadania e profissionalismo por mais rigorosos que sejam, e justamente por
implicarem num engajamento e vínculo, não podem se constituir sem um mínimo de
amor e entrega, cuidado e dedicação ao outro.

Inteligência Emocional

O termo “inteligência emocional” foi utilizado pela primeira vez num artigo de
mesmo nome, no qual é apresentado como uma subclasse da Inteligência Social,
cujas habilidades estariam relacionadas ao “monitoramento dos sentimentos e
emoções em si mesmo e nos outros, na discriminação entre ambos e na utilização
desta informação para guiar o pensamento e as ações” (Salovey & Mayer, 1990, p.
189)30. A utilização de processos relacionados à Inteligência Emocional se inicia
quando uma informação carregada de afeto entra no sistema perceptual, envolvendo
os seguintes componentes: a) avaliação e expressão das emoções em si e nos outros;
b) regulação da emoção em si e nos outros; e c) utilização da emoção para adaptação.

30
BUENO, José Maurício Haas. Artigo Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade sobre a
Capacidade de Perceber Emoções,Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(2), pp. 279-291, acessado
o sítio em 20 de outobro de 202: https://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a08v16n2 .
48

Esses processos ocorrem tanto para o processamento de informações verbais,


quanto não-verbais (Salovey & Mayer, 1990). Em 1997, Mayer e Salovey apresentam
uma revisão ampliada, clarificada e melhor organizada do modelo de 1990, que
enfatizava a percepção e controle da emoção, mas omitia o pensamento sobre
sentimento. Nas palavras dos autores, a definição que corrige esses problemas é a
seguinte: A Inteligência Emocional envolve a capacidade de perceber

acuradamente, de avaliar e de expressar emoções; a capacidade de perceber e/ou


gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de
compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de controlar
emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. (Mayer & Salovey,
1997, p. 15) O processamento de informações emocionais é explicado através de um
sistema de quatro níveis, que se organizam de acordo com a complexidade dos
processos psicológicos que apresentam: a) percepção, avaliação e expressão da
emoção; b) a emoção como facilitadora do pensamento; c) compreensão e análise de
emoções; emprego do conhecimento emocional; e d) controle reflexivo de emoções
para promover o crescimento emocional e intelectual.

Patologias das Emoções

Falar em doenças das emoções já é um tema sensível, trazer para as ciências


e estudos científicos dificultam mais ainda o tema, todavia podemos entender que a
vida afetiva do ser humano tem uma dimensão psíquica que dá intensidade às nossas
vivências, dimensão essa que engloba o humor, as emoções e os sentimentos nos
espectros da tristeza, alegria, agressividade ou amor. Os afetos também interferem
em outras funções psíquicas, como a vontade, a atenção, o pensamento e a memória,
influenciando diretamente a maneira de pensar do indivíduo, a formação de suas
lembranças e as suas tomadas de decisão. Além disso, os afetos estão associados a
certas sensações corporais, como alterações da freqüência cardíaca, respiração,
suor, sensação de bem ou mal-estar.
49

O humor, as emoções e os sentimentos estão presentes ao longo da vida e,


mesmo quando desconfortáveis, fazem parte do funcionamento normal do ser
humano. Entretanto, alguns afetos se tornam intensos, recorrentes ou duradouros, a
ponto de interferirem na saúde física e psicológica, trazendo prejuízo ao trabalho, aos
estudos, causando problemas na vida amorosa, social ou financeira. É nesse
momento que devemos prestar atenção no que está acontecendo e procurar ajuda.

A tristeza se torna patológica quando está associada a outros sentimentos


negativos, como desesperança, angústia e pensamentos de morte. A própria alegria,
geralmente associada ao bem-estar de todos, quando se apresenta em forma de uma
euforia descontrolada pode causar problemas, levando à comportamentos como
mania de grandeza, superexposição social e gastos compulsivos. Uma simples
irritabilidade passa a ser um transtorno quando se torna uma reatividade exagerada
acompanhada de uma hostilidade ou agressividade física/verbal. Já a ansiedade é
um estado de humor desconfortável, que leva ao desenvolvimento de um medo
difuso, inquietação interna e apreensão em relação ao futuro.

A adoção de um estilo de vida saudável, com horários regulares de sono,


atividade física frequente, dieta balanceada, atividades de lazer e suporte social
podem ajudar a prevenir as alterações patológicas dos afetos. O acompanhamento
psicológico é fundamental para a redução da freqüência e intensidade do sofrimento
psíquico ao longo da vida, seja em momentos de maior estresse ou na simples
manutenção do bem-estar em períodos menos atribulados. Ainda assim, muitos
transtornos mentais necessitam de acompanhamento psiquiátrico e intervenção
medicamentosa, a depender da gravidade do quadro, do tempo que os sintomas
perduram ou de alguma interferência no funcionamento do indivíduo.

Observar alterações de emoções e comportamento, em nós mesmos e


naqueles que nos cercam, pedir ou indicar ajuda quando a vida afetiva estiver
comprometida são atitudes essenciais para melhorar a qualidade de vida de cada um,
o que refletirá em uma sociedade mais sadia para todos.
50

Psicossomática: PSICO + SOMA


Os Resultados psicossomáticos e doenças, nas primeiras décadas do século
XX começaram a ser reconhecidas pela medicina psicossomática, por volta doano de
1940 começaram a nascer as discussões na fundação da American Psychosomatic
Society, uma instituição para regulamentar a doença e a sua pesquisa.
Psicossomática é uma ciência interdisciplinar que dela surgem diversas
especialidades da psicologia e da medicina, com foco nos estudos dos efeitos dos
fatores psicológicos em relação ao processos orgânicos do corpo e sua relação com
o bem-estar das pessoas. As doenças psicossomáticas são doenças cujas causas
são geradas no psíquico, elas podem ser doenças física ou não. O motivo é
compreendido pela ciência atual, que é por um desequilíbrio entre a nossa mente e o
nosso corpo, se manifestando em forma de doença física. Doenças nos pés:
dificuldade no seu auto conhecimento.

9. MOTIVAÇÃO

Definição:

“A motivação é um processo que dá energia, direciona e


sustenta o comportamento em direção a um objetivo”
(Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018).

A palavra motivação tem suas raízes no latim: movere, que significa mover-se,
movimento. Existem motivações intrínsecas, que são associadas ao prazer de
participar ou fazer algo, e as motivações extrínsecas, sendo direcionadas ao mundo
externo, comumente relacionadas a algum tipo de recompensa.
51

Dentro da psicologia existem algumas teorias gerais sobre a motivação. Dentre


elas há “quatro qualidades essenciais dos estados motivacionais” em que há uma
concordância mútua. O estado de motivação é energizante, diretivo, persistivo e
diferente em força. O fato de esses estados serem energizantes significa que são
estimulantes, ou seja, induzem a ação, mas não a qualquer ação. Observamos então
a segunda qualidade da motivação que é a direção. O estado enérgico motiva uma
ação específica, de acordo com um objetivo ou uma necessidade. A terceira
qualidade tem uma relação com o tempo. Persistir em uma certa ação por tempo
indeterminado até que o objetivo ou necessidade seja atingido. A fome por exemplo,
é uma motivação humana que tem como objetivo suprir a necessidade de obtenção
de energia, e a motivação não cessa até que aquele objetivo seja alcançado. Esse é
um exemplo de uma motivação relacionada a uma necessidade básica.

Existem outros objetivos humanos que divergem na escala de complexidade,


por exemplo o desejo de ser reconhecido por sua profissão. Para que tal objetivo seja
atingido, é necessário persistir, muitas vezes por um longo período de tempo, logo a
motivação tem de ser longa e também é preciso fazer escolhas, abdicar de coisas
que não estejam em alinhamento com o objetivo final, para tal, a motivação também
precisa ser forte para sustentar o processo de deslocamento entre ponto A (estado
atual) e ponto B (objetivo a ser alcançado).

A motivação está diretamente relacionada com um impulso. Em realidade são


estes impulsos que geram a motivação, ou seja, um impulso biológico provindo de
informações do meio externo ou do inconsciente geram uma reação neuroquímica
inundando nosso corpo com o que comumente chamamos de emoção. Esta emoção
nos motiva a agir de determinada forma para a satisfação de nossas necessidades.
É claro que existem diferentes tipos de necessidades a serem satisfeitas. “Na década
de 1940, Abraham Maslow propôs uma influente “teoria de necessidades” da
motivação. Maslow acreditava que as pessoas são movidas por muitas necessidades,
as quais estão organizadas em uma hierarquia de necessidade” (Gazzaniga,
Heatherton e Halpern, 2018) Esta teoria fora representada visualmente por uma
pirâmide dividida em 5 partes horizontalmente, sendo que a base da pirâmide
52

representa as necessidades mais básicas e o topo representa o auge das


necessidades. De acordo com a descrição anterior, as necessidades que se
encontram na base são de ordem fisiológica (fome, sede, aquecimento, ar, sono),
seguidas de necessidades de ordem de segurança (segurança, proteção, ausência
de ameaças), seguidas de necessidades de ordem de pertencimento e amor
(aceitação, amizade), e só então chegando a necessidades de ordem de estima (boa
opinião sobre si mesmo, realizações, reputação) e por fim, atingindo o topo da
pirâmide estão as necessidades de ordem de realização pessoal (viver em seu pleno
potencial, realizar sonhos e aspirações pessoais).

As motivações, assim como outros processos psicológicos básicos, têm


relação com o mundo externo, com o qual nossa conexão advém dos 5 sentidos, e
relação com o mundo interno, perpassando pela subjetividade de cada indivíduo.
Exatamente por esta subjetividade, as motivações ocorrem de diferentes formas,
partindo de diferentes pontos de referência e contendo diferentes significados de
acordo com a relação de cada indivíduo com um objetivo específico.

As motivações, assim como outros processos psicológicos básicos, têm


relação com o mundo externo, com o qual nossa conexão advém dos 5 sentidos, e
relação com o mundo interno, perpassando pela subjetividade de cada indivíduo.
Exatamente por esta subjetividade, as motivações ocorrem de diferentes formas,
partindo de diferentes pontos de referência e contendo diferentes significados de
acordo com a relação de cada indivíduo com um objetivo específico.

Patologias da motivação
Como vimos Motivação (do Latim movere, mover) refere-se em psicologia, em
etologia e em outras ciências humanas à condição do organismo que influencia a
direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Por outras palavras, é o
impulso interno que leva à ação.
53

Agora, falar de patologias da motivação pode ser abordar um espectro largo


de consequências da ausência da motivação como, por exemplo, ao falarmos de
melancolia, não é raro que a caracterizemos com a súbita falta de vontade de fazer
coisas que exijam o mínimo de esforço físico e mental, por exemplo, numa tarde
qualquer, ficar sem fazer nada, às vezes pode ser algo bastante “produtivo”- o ócio
criativo. No entanto, considera-se uma patologia quando verifica-se que essa falta de
motivação se torna permanente e profunda.

A melancolia patológica tem a propriedade de alterar o pensamento do


indivíduo, dificultando a sua rotina e seu desempenho social. Dessa forma, caso a
sensação – semelhante à tristeza, por exemplo - vir a se repetir por vários dias,
levando o paciente a perder o interesse pela vida em sociedade e descumprir suas
tarefas mais elementares, a melancolia pode expressar algum nível de depressão,
bem como, necessitar de tratamento.

A depressão é outra enfermidade psiquiátrica caracterizada por tristeza


profunda e permanente, seu nome em psiquiatria é transtorno depressivo maior. A
principal causa e linha de tratamento se baseia na ideia de que, por diferentes
motivos, ocorre um desequilíbrio dos neurotransmissores, bem como altera outras
importantes funções do cérebro.
54

10. RELATO PESSOAL

Esse trabalho trouxe uma ampla visão de recursos que possuía e que na verdade
ainda não tinha tomado consciência plena. Recursos que eu tenho para me adaptar
ao mundo e ao que se apresenta para mim, e que se mostra como meu
comportamento pessoal e como nos apresentamos no mundo. Essa tomada de
consciência de minha subjetivação, de me fazer sujeito, permite modificar meu
ambiente e minha realidade para me adaptar ao meu entorno e ao meio ambiente em
que eu aconteço. Sei que meus comportamentos são mediados por processos
mentais internos, mas somente agora pude ter contato com esses processos mentais,
esses processos psicológicos básicos.

Ao longo do artigo, expostos individualmente, percebi que todos estão inter-


relacionados e acontecem em um sistema, todos independentes e completos, mas
intimamente relacionados entre si. Embora mantenham sua independência
terminológica, muitos deles não poderiam existir sem os outros, apensa os separamos
para estudo e para classificação metodológica desse trabalho científico.
55

REFERÊNCIAS

BUENO, José Maurício Haas. Artigo Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade


sobre a Capacidade de Perceber Emoções,Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003,
16(2), pp. 279-291, acessado o sítio em 20 de outobro de 202:
https://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a08v16n2 .
FIORIN, José Luiz. Introdução à linguística. 3a ed.- São paulo: ed Contexto, 2004.

FLUSSER, Vilém. O mundo Codificado: por uma filosofia do design e da


comunicação, org.Rafael Cardoso. Trad. Raquel Abi-Samara - São Paulo: Ubu ed.,
2017.

LINGUAGEM. In: Dicionário Wiki (wikipedia dictionary). Acessado em 28 out


2002:https://pt.wiktionary.org/wiki/Wikcion%C3%A1rio:P%C3%A1gina_principal

MARANHÃO, Samantha Santos de Albuquerque; PIRES, Izabel Augusta Hazin.


Funções executivas e habilidades sociais no espectro autista: um estudo multicasos.
Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv., São Paulo , v. 17, n. 1, p. 100-113, jun. 2017 .
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
03072017000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 out. 2020.
http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v17n1p100-113.

SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L.. Distúrbios da
aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2,
supl. p. 95-103, Apr. 2004 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-
75572004000300012&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0021-

75572004000300012.

RIBOT, Théodule-Armand, psicólogo francês nascido em Guingamp, estudou no


Liceo de San Brieuc (Lycée de St Brieuc). O sistema de interpretação para o ator de
Constantin Stanislavski utiliza algumas de suas teorias. Em 1862 entra na École
Normale Supérieure, ministra palestras na Sorbonne sobre psicologia experimental e,
em 1888 foi apontado como professor de Psicologia Experimental no College of
France. Sua tese de doutorado, republicada em 1882, Hérédité: étude
56

psychologique(Hereditariedade: Estudo Psicológico) (5th ed., 1889), é seu livro mais


importante e mais conhecido.

VIGOTSKY, L. S. Teoría de las emociones: estudio histórico-psicológico. Madrid:


Akal, 2014. p. 125.

WILBER, Ken. Psicología integral. Editora Cultrix, 2007.

[1]
Prates, Letícia Pimenta Costa Spyer e Martins, Vanessa de Oliveira. Artigo

científico:Distúrbios da fala e da linguagem na infância. In: Revista Médica de Minas Gerais


2011; 21(4 Supl 1): S54-S60

[2]
American Speech-Language-Hearing Association Ad Hoc Committee on Service Delivery

in the Schools. Definitions of communication disorders and variations. ASHA. 1993; 35(Suppl.
10):40-1.

[3]
SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L.. Distúrbios da

aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2,


supl. p. 95-103, Apr. 2004 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-
75572004000300012&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 30 Oct. 2020.
https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300012.
57

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