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Já vimos que os direitos de crédito tendem para a sua extinção. Se tudo correr
bem, a obrigação extingue-se mediante o seu cumprimento. Quando as coisas
correm mal, a obrigação pode desaparecer mediante a figura da impossibilidade
ou do incumprimento definitivo que também já analisamos, mas há ainda outras
causas de extinção que merecem a nossa atenção.
➔ Revogação – cessação do contrato por acordo das partes que faz cessar as
respetivas obrigações.
➔ Denúncia – se uma das partes, tendo direito para tal, diz que não quer
continuar.
➔ Oposição à renovação.
O estudo destas figuras transitou para direito dos contratos. As causas de extinção
em que vamos focar a nossa atenção são aquelas que atingem cirurgicamente a
obrigação, ainda que existam num contrato, não é este que é atingido, mas a
obrigação diretamente.
Estas são:
➔ Dação em cumprimento
➔ Compensação
➔ Novação
➔ Remissão
➔ Confusão
➔ Há ainda que falar da prescrição, que embora seja uma figura de modificação,
acaba por ser tratada como se fosse de extinção.
Temos aqui uma compra e venda entre João e Paulo: João obriga-se a pagar o
preço e Paulo obriga-se a entregar os sapatos. Sendo artigos em segunda mão, a
obrigação não é genérica, o que significa que a propriedade se transmite no
momento da celebração do negócio. Significa isto que o João já é dono dos
sapatos.
a antever uma situação de mora. Para evitar a mora, João propõe a Paulo uma
troca da sua prestação: entregar camisolas em vez de dinheiro. E assim entramos
na figura da dação em cumprimento.
É de notar que o artigo 837º é demasiado restrito na sua letra, fazendo referência
a “coisa diversa”, quando na realidade quer falar de “coisa” num sentido amplo,
pois inclui a prestação de entrega de coisa ou de qualquer outro tipo.
Curiosidade: a palavra dação tem origem do verbo dar, isto porque o devedor
não vai cumprir, mas dar outra prestação.
É por esta razão que concluímos que o contrato de dação é um contrato real
quanto à sua constituição porque para ficar perfeito, para se completar, não basta
o acordo, é necessário o comportamento. O contrato de dação não está sujeito
a forma, aplicando-se por isso a regra geral de liberdade de forma do artigo 219º.
A não ser que a forma seja imposta para a prestação em causa, isto é, se objeto a
transmitir carecer de forma, caso queira substituir o dinheiro pela entrega de um
imóvel, por exemplo.
No exercício nº 29 a figura seria a dação, mas nem esta se verifica porque o Paulo
não aceitou que a prestação fosse diferente da originalmente prevista.
O artigo 838º diz-nos que o credor a quem foi feita a dação em cumprimento goza
de garantia pelos vícios da ou direito transmitido, nos termos prescritos para a
compra e venda. A menos que o credor opte pela prestação primitiva e reparação
dos danos sofridos.
Isto significa que quando a coisa em causa foi entregue não porque foi comprada,
mas porque houve uma dação em cumprimento, o credor continua a beneficiar
das mesmas garantias. Se este cenário fosse numa loja, por exemplo, o credor
das camisolas goza dos mesmos remédios que teria se as tivesse comprado:
reparar, substituir, redução do preço e resolução do contrato). Além destes quatro,
acrescenta-se um quinto: a possibilidade de optar pela prestação original e ser
indemnizado pelos danos.
Se não fosse num contexto de loja, os quatro remédios não se aplicam, mas a
possibilidade de optar pela prestação inicial existe sempre. Contudo, só existe se
tivesse defeito. Não pode voltar atrás só porque afinal mudou de ideias, não quer,
não gosta ou não quer. Não basta o simples arrependimento.
O artigo 839º estipula que a dação está sujeita aos vícios da nulidade e
anulabilidade. Mas vamos ver esta matéria mais à frente porque está relacionada
com as garantias.
Na segunda parte do exercício, surge uma situação que nos leva para outra figura:
não tendo Paulo aceite as camisolas, João entregou-lhe um cheque que
corresponde a uma dação pro solvendo.
A dação pro solvendo consiste na execução de uma prestação diversa da devida
para que o credor proceda à realização do valor dela e obtenha a satisfação do
seu crédito por virtude dessa realização. Por isso, na dação pro solvendo o crédito
subsiste até que o credor venha a realizar o valor dele.
Este instituto vem previsto no artigo 840º. O credor que recebe um cheque, vai
obter facilmente, pela realização do valor dessa outra prestação, a satisfação
do seu crédito que só se vai extinguir quando for satisfeito na medida respetiva.
Isto significa que quando a dívida é paga por cheque, a obrigação não se extingue
na entrega, mas só quando o credor o conseguir converter em dinheiro. Assim, se
o cheque não tiver provisão (cobertura), a obrigação mantém-se sempre.
1.3. Compensação
Se a pagadora dos 100 euros não podia exigir os 50, então também não podia
usá-los para diminuir o seu pagamento. A partir do momento em que estão
reunidos estes dois requisitos dizemos que os créditos são compensáveis ou
então que se deu a sua compensabilidade.
No que diz respeito ao primeiro pressuposto, cada uma das partes tem que
possuir na sua esfera jurídica pelo menos um crédito sobre a outra e só pode
operar a compensação para extinguir a sua própria dívida. Assim, o declarante só
pode usar para efetuar a compensação créditos seus sobre o seu credor, estando-
lhe vedada a utilização de créditos alheios, ainda que o titular do respetivo crédito
dê o seu consentimento, tal como estatui o artigo 851º nº2. O mesmo se diz em
relação à utilização por parte do declarante de créditos seus sobre outra pessoa,
ainda que ligada por qualquer relação ao credor.
Em suma, sempre que existem obrigações cruzadas, a compensação não opera
automaticamente, carecendo de declaração de uma das partes, mas para
poder dizer ao meu credor de 100 e devedor de 50 que só vou pagar 50
compensando-o, tenho de já poder exigir os tais 50. Se eu dever 100 hoje, mas
ele só me deve 50 a pagar daqui a dois meses, não há lugar a compensação.
Outro elemento relevante aqui é a prescrição que decorre do artigo 850º. Vamos
imaginar que uma das obrigações anteriormente referidas prescreveu.
O exemplo do exercício que estávamos a ver ilustra uma situação em que o credor
diz “posso bater-te porque aquilo que vou ter de te pagar em indemnização vai ser
compensado pelas tuas dívidas”.
Caso falte um destes requisitos, a compensação continua a ser possível, mas tem
de ser uma compensação por acordo/convencional. Por exemplo, a lei proíbe
expressamente a compensação quando a dívida tenha sido contraída perante o
Estado ou qualquer entidade pública, artigo 853º, nº1 alínea c). Contudo, nada
impede o Estado de, afastando alguns requisitos deste regime, combinar uma
compensação por acordo.
1.4. Novação
A segunda parte do mesmo artigo estipula que na novação subjetiva tanto se pode
substituir o credor como o devedor. A diferença é que ao substituir o credor ele
(o terceiro, novo credor) não tem de aceitar, mas se for o devedor ele (o
terceiro, novo devedor) tem de dar o seu consentimento.
Embora esta figura seja semelhante à transmissão, não deve ser confundida pois
a novação implica a extinção da obrigação original, dando lugar a uma nova.
Vamos estudar depois a transmissão.
1.5. Remissão
Na parte final da alínea c) do exercício nº 29, lemos que o Paulo se dirigiu a João,
dizendo-lhe que preferia esquecer a dívida e João, agradecido, concordou. Este é
um exemplo claro de extinção por perdão. A remissão consiste assim no acordo
entre o credor e o devedor pelo qual aquele prescinde de receber deste a
prestação devida.
Acontece que o legislador português não quis facilitar a nossa vida e chamou a
este instituto remissão. O que é claramente um problema terminológico uma vez
que já usamos o termo remissão de uns artigos para os outros e ainda porque
existe também a figura da remição.
1.7. Confusão
Exercício nº 30. Júlia pedira dinheiro emprestado a Patrício, seu pai.
Comprometera-se a restituir o dinheiro até ao Natal. Subitamente, morre Patrício.
Júlia é a sua única herdeira. O que sucede à sua dívida?
Havendo esta fusão das duas posições numa única pessoa, o regime a aplicar
está nos artigos 868º e seguintes. Não é possível uma pessoa ser credora e
devedora de si mesma. Tratando-se de uma impossibilidade, a obrigação
extingue-se. O resto do regime diz respeito a aspetos mais específicos que não
vamos aprofundar.
2. RELAÇÕES PLURAIS
Então temos:
Parciárias talvez seja o nome mais correto, porque conjuntas transmite a ideia
de que estas obrigações têm de ser cumpridas em conjunto. Contudo, a própria lei
utiliza a expressão “obrigação conjunta”, pelo que podemos usar qualquer um dos
termos.
Presumindo que a cada sujeito cabe uma parte idêntica na relação obrigacional,
se A, B e C se obrigarem a entregar a D a quantia de 900 euros, D apenas poderá
exigir de cada um deles que lhe entregue os 300 euros correspondentes à sua
parte na dívida, não podendo exigir a totalidade da prestação a nenhum. Vejamos
os seguintes exemplos de obrigações parciárias:
➔ A deve 200 euros a B e C, logo cada um dos credores só pode exigir 100
euros.
➔ A e B devem 1000 euros a C, então C só pode exigir 500 euros a cada um.
Quando falamos neste tipo de obrigações, a obrigação tem de ser única apesar
de ser partilhada, a unidade tem de se manter. Isto significa que se A contratar 3
violinistas e um violoncelista para tocarem no seu casamento, o fim é
complementar, mas as prestações de cada um são separadas. A deve pagar a
cada um dos músicos individualmente a sua parte, mas estes têm de cumprir a
obrigação como um todo.
As obrigações solidárias têm uma secção que lhes é dedicada a partir do artigo
512º. Ao contrário do que se passa nas obrigações parciárias, cada um dos
devedores está obrigado a cumprir a totalidade do crédito, não havendo já um
rácio do pagamento. Por sua vez, qualquer um dos credores tem a faculdade
de exigir a totalidade da obrigação. Se um pagar, os outros já não têm de o
fazer. A obrigação é integralmente cumprida mediante o pagamento de apenas um
dos credores. Isto significa que: