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Assepsia e Antissepsia
Alany Custódio
- Assepsia: conjunto de meios usados para impedir a penetração de microorganismos em local que
não os contenha.
- Antissepsia: destruição dos germes que causam doença através do emprego de substâncias
antissépticas ou do conjunto de meios usados para destruir germes patogênicos e prevenir
infecções. Portanto, o antisséptico impede a contaminação.
Áreas Hospitalares:
- É necessário realizar diariamente a limpeza concorrente para a remoção da sujidade
grosseira.
- A limpeza terminal é realizada após alta, óbito ou transferência do doente na unidade.
- Áreas críticas: existe risco aumentado de transmissão de infecções. Ex: centro cirúrgico,
centro obstétrico, berçário, UTI, lavanderia, laboratório e isolamento.
- Áreas semicríticas: áreas com pacientes não portadores de doenças infectocontagiosas ou
de baixa transmissibilidade. Ex: enfermarias e quartos.
- Áreas não críticas: áreas hospitalares não ocupadas por pacientes ou destinadas a exames
clínicos. Ex: setor administrativo, consultórios, salas de ultrassonografia e radiologia
Agentes antissépticos:
- Álcool: apresenta rápida ação e excelente atividade bactericida e fungicida, destacando-se
nesse quesito dentre os agentes utilizados. Soluções entre 60 e 80% apresentam maior
efetividade.
- Clorexidina: a atividade antimicrobiana ocorre mais lentamente que os alcoóis.
Considerado de nível intermediário. Apresenta melhor efeito residual.
- PVPI: eficaz contra bactérias, fungos e vírus, apresentando também atividade contra
esporos. Provê um reservatório de iodo.
Paramentação cirúrgica:
Aventais cirúrgicos
Máscara cirúrgica
Gorro
Propés
Luvas cirúrgicas
Campos cirúrgicos
Fios Cirúrgicos
Alany Custódio
- Função: hemostasia e sutura (união das bordas de uma ferida com fios específicos de modo a
promover melhor e mais rápida cicatrização.
Fio ideal:
- O fio de sutura deve ser tão forte quanto o tecido que está sendo suturado.
- A perda de resistência do fio deve ser compensada pelo ganho de resistência da cicatriz.
- As alterações biológicas provocadas no processo de cicatrização pelo fio de sutura devem
ser conhecidas.
Características:
Quanto a origem:
- Biológicos ou naturais: seda, linho, algodão ou intestino animal.
- Sintéticos: náilon, prolipropileno, poligalactina, etc.
- Metálicos: aço inoxidável.
Principais fios:
Catgut:
- Monofilamentar
- Podem ser simples ou cromado
- Provoca a mais intensa reação tecidual
- Absorção irregular
- Tem menor força tênsil
- Nós se afrouxam pela alta capilaridade
- Indicações: anastomose gastrointestinal, sutura de peritônio, bolsa escrotal,
períneo, via urinária (bexiga) e tecido celular subcutâneo.
- Contra-indicado: suturas em vias biliares, procedimentos cardiovasculares e
neurológicos.
Poligalactina 910:
- Multifilamentar
- Mais flexível e maleável que o ácido poliglicólito
- Cores brancas e violeta
- Indicações: feridas de pele e mucosas, gastrointestinal, urinário, ginecológico,
intradérmico, aponeurose e ligaduras vasculares.
- Contra-indicado: suturas em vias biliares.
Poliglecaprona (monocril/caprofyl):
- Monofilamentar
- Absorvível
- Indicações: anastomose intestinal, ligadura vascular e suturas intradérmicas.
Nailon:
- Não absorvível
- Pouca reação tecidual
- Desvantagem: baixo coeficiente de fricção
- Indicações: peles, sutura de tendão e aponeurose.
Prolene (polipropileno):
- Não absorvível
- Pouca reação tecidual
- Muita memória
- Indicações: prótese cardíaca, anastomose vascular e aponeurose
Algodão:
- Multifilamentar
- Não absorvível
- Barato, maleável e nós firmes
- Desvantagem: reação tecidual e facilidade de infecções
- Indicação: ligadura vascular
Fio de aço:
- Não absorvível
- Indicações: fechamento de parede abdominal e principalmente em operações
ortopédicas.
Outros:
-Polidioxona: absovível; usado em cirurgias ortopédicas (ligação de tenão)
- Poligliconato (maxon): absorvível.
- Ácido poliglicólico: absorvível; semelhante ao vicril, porém mais caro.
Agulhas:
- Agulha de corpo cilíndrico e ponta afilada: para suturas delicadas de tubo digestivo e
vascular
- Agulha de corpo cilíndrico e ponta romba: fígado e baço
- Agulha de corpo triangular e ponta triangular: aponeurose e pele
- Agulha de corpo triangular e ponta espatular
- Agulha mista de corpo cilíndrico e corpo triangular
Infecção em cirurgia, profilaxia e abcessos superficiais
Alany Custódio
Infecção em cirurgia:
- ATB no início dos anos 40:
Procedimentos mais prolongados
Cirurgia em pacientes idosos
Implantes de materiais
Transplante de órgãos
Abcessos:
- É um acúmulo de pus que se forma no interior dos tecidos do corpo.
- Sinais e sintomas: vermelhidão, dor, sensação de calor e inchaço
- Possui um centro necrótico
- Pus: drenagem de abcesso
- Várias regiões do corpo
Celulite:
- Inchaço localizado
- Resposta inflamatória aguda
- Sinais e sintomas: área de vermelhidão que aumenta de tamanho ao longo de alguns dias.
- Vasos congestos
- Infiltração de leucócitos
- Ainda tem viabilidade
- Pode virar um abcesso
Conceitos importantes:
- Ferida limpa: decorrente de operações eletivas, com fechamento por primeira intenção,
não-traumáticas, sem desvio de técnica operatória asséptica, sem contato com cavidades
corporais habitual ou frequentemente colonizadas por microorganismos.
- Ferida potencialmente contaminada: não traumática, decorrente de penetração de
cavidade corporal habitual
- Ferida contaminada: traumática tratada com menos de 4 horas após o trauma, com extensa
contaminação advinda de cavidade corporal habitual ou frequentemente colonizada com
microorganismos ou da manipulação de inflamação aguda não-supurativa; ocorre grande
desvio da técnica operatória asséptica; incluem-se nesta categoria as feridas crônicas
abertas para enxertia.
- Ferida infectada: decorrente da manipulação de afecções supurativas, como abcessos;
advinda de perfuração pré-operatória de cavidade corporal habitual ou frequentemente
colonizada com microorganismos; decorrente de ferida traumática penetrante ocorrida há
mais de 4 horas.
Antibioticoterapia profilática:
- Diminui a morbidade pós-operatória, encurta o tempo de hospitalização e reduz os altos
custos atribuídos às infecções cirúrgicas.
- Princípios: escolha dos antibióticos de acordo com o tipo esperado de contaminação;
utilização somente quando existe o risco de infecção; administração em doses e horários
apropriados e descontinuação de uso antes que o risco de efeitos colaterais ultrapasse os
benefícios.
Cicatrização de feridas
Alany Custódio
Ferida:
- Qualquer lesão de integridade da pele
- Pode atingir qualquer estrutura e o processo de reparo independe da forma da lesão
- Classificação:
Quanto ao tempo: agudas e crônicas
Quanto a etiologia: traumática -> mecânica, químico e físico
Quanto ao mecanismo de cicatrização: primeira intenção ou ferimento primário;
segunda intenção ou fechamento secundário; terceira intenção ou fechamento primário
tardio.
Fases da cicatrização:
- Eventos principais: síntese de matriz extracelular; reepitelização; contração.
Fase inflamatória (0-5 dias):
- Limitar a lesão
- Vasoconstrição
- Agregação plaquetária: se agregam e se degranulam
- Depósito de fibrina e coagulação:
O fibrinogênio das plaquetas se transformam em fibrina – matriz para o influxo
de neutrófilos, monócitos, fibroblastos e células endoteliais.
Implicação clínica: trombocitopenia e função plaquetária anormal interferem
nesta etapa
Coagulação: permite o acúmulo de substâncias quimitóxicas e mitogênicas,
previne perda de líquido e eletrólitos, limita contaminação.
- Migração de leucócitos:
Células inflamatórias na ferida que servem para destruição de bactérias,
eliminação de resíduos de células mortas e matriz lesada
Edema e calor na ferida decorrente da permeabilidade capilar aumentada e
consequente dor
Mudança de vasoconstrição para vasodilatação
Neutrófilos são os primeiros a chegar
Monócitos se transformam em macrófagos
- Ativação celular:
É preciso ativação dos leucócitos
Neutrófilos não são essenciais a cicatrização se não há contaminação
bacteriana
Macrófagos e neutrófilos fazem fagocitose de bactérias e materiais estranhos
OBS: O macrófago medeia fases tardias como fibroplasia, produção de colágeno, síntese de matriz e
angiogênese. Ele secreta fatores de crescimento que ativam células endoteliais, fibroblastos e
células epiteliais formando o tecido de granulação.
OBS: Linfócitos surgem após 5 dias, causam lise de células infectadas e podem remodelar o
colágeno.
Infecção:
- Ferida contaminada com mais de 10 5 UFC não haveria cicatrização
- Condições gerais do paciente
- Boa técnica condições de assepsia e antissepsia rigorosas
- Boa qualidade da sutura, pois também são fontes de infecção
Técnicas:
- Evitar cirurgias prolongadas
- Utilizar técnica atraumática
- Considerar condições hospitalares, instrumental adequado, conforto do cirurgião e do
paciente.
Localização da ferida:
- Linhas de força
- Espessura da pele
- Grau de vascularização
- Mobilidade da região
Condições gerais:
- Idade
- Hipovitaminose
- Desnutrição protéica
- Deficiência de zinco
- Obesidade e diabéticos
- Hipoxia
- Quimio/radioterapia
- Corticóide
- Dor e estresse
- Onde usar anestesia local: pequenas cirurgias; biópsias; drenagens; acesso venoso central e
periférico arterial; dissecações venosas e arteriais; suturas de lesão por ferimento traumático;
picadas de insetos; analgesia pós operatória.
Classificação:
- Amidas: lidocaína, ropvacaína, bupvacaína, EMLA e prilocaina. Estáveis em soluções e lenta
biotransformação hepática. Duração mais prolongada.
- Ésteres: procaína e tetracaína. Tem um início de ação mais lenta do que as amidas e uma
frequência maior de reações alérgicas. Metabolizado pelo tecido vizinho.
Farmacodinâmica:
- Atuam nos canais de sódio, evitando a transmissão do potencial de ação ao longo da fibra.
- O comprometimento das funções da fibra nervosa depende geralmente da dose,
concentração e do tipo de anestésico local.
- A função sensitiva é inibida com doses menores que a função motora.
- O efeito depende da dose.
Farmacocinética:
Absorção
- Dose: quanto maior a dose ou múltiplas aplicações, maior a absorção.
- Tecidos vascularizados aumentam a absorção.
- A lipossolubilidade (antagônico) pode aumentar a passagem por barreiras ou pode
ser absorvida pelo tecido local.
- O uso de vasoconstritor pode diminuir essa absorção.
Uso de vasoconstritor:
- Reduz a absorção e melhora o sangramento.
- Usamos a epinefrina.
- Não são utilizados quando administrados nas extremidades, devido à circulação
limitada nessas áreas.
- Evitar em dígitos, pênis, lobo de orelha, ponta de nariz, punho e tornozelos.
- Evitar em coronariopatas e cardiopatas graves (grau de recomendação I, nível de
evidência C).
- Ex: adulto de 70kg -> até 28ml (4mg/kg) de lidocaína 1%; até 49ml (7mg/kg) de
lidocaína 1% com epinefrina.
Uso em gestantes:
- Lidocaína é o anestésico mais apropriado para as gestantes.
- Prilocaína e articaína não devem ser usados por poderem levar a metahemoglobinemia,
tanto na mãe quanto no feto.
- Evitar a bupvacaína pela cardiotoxicidade.
- Pode ser usada epinefrina em doses usuais.
Metabolismos e excreção:
- Os AL amida são primariamente metabolizados no fígado pelas enzimas do citocromo p450.
O que pode resultar em toxicidade em cirrótico.
- Os AL éster são metabolizados por esterases teciduais e plasmáticas. Processo rápido e
os produtos resultantes são excretados pelos rins.
OBS:
Escolha do anestésico:
Lidocaína:
- Ampola a 2%: 20mg/ml.
- Usar 5mg/kg sem vasoconstritor.
- Usar 7mg/kg com vasoconstritor.
- Início de ação <2min.
- Duração 0,5-1h (sem vaso) e 2-6h (com vaso) em procedimentos curtos e de média
duração.
- Podemos diluir com água destilada e transformar em solução de 1%, 0,5%, etc.
Bupvacaína:
- Ampola a 0,25%: 2,5mg/ml.
- Usar 2mg/kg sem vaso.
- Usar 3mg/kg com vaso (epinefrina).
- Duração 2-4h (sem vaso) e 3-7h (com vaso). Início de duração demorado.
- Em procedimentos longos e para analgesia pós-operatória.
Ropvacaína:
- Menos cardiotóxica que bupvacaína.
- Dose: 3mg/kg – já tem efeito vasoconstritor.
- Utilizada para procedimentos longos e analgesia pós-operatória.
- Início de ação: 5 minutos.
- Duração: 2-6h.
Técnica:
- Material:
Seringa 3ml, 5ml ou 10ml.
Agulhas: 13X45mm (insulina ou hipodérmica; ferimentos pequenos) ou 25X7mm
(aspiração)
- Aspirar antes de injetar.
- Antissepsia e estirar a pele antes de injetar.
- Movimentação do êmbolo.
- Inserir a agulha na pele em um ângulo de 15 ou 30 graus.
- Em locais lacerados para reparo, inserir a agulha na borda do ferimento.
- Trauma: como a atuação de uma energia externa (física, mecânica ou química) sobre o corpo da
pessoa, com intensidade suficiente para provocar desvio da normalidade, com ou sem expressão
morfológica.
Energias traumáticas;
- Física: cinemática, barotrauma, elétrica e radiante
- Química: substâncias cáusticas, substâncias tóxicas e venenos
- Físico-químicas: asfixias, enforcamentos, soterramentos e afogamentos.
Reação ao trauma:
- Local: resulta da transferência de energia; reação inflamatória
- Geral ou sistêmica: resposta endócrina metabólica ao trauma; liberação de adrenalina,
cortisol, etc.
- Classificações:
Limpa: produzidas em ambiente cirúrgico, esterilizado e sem o risco de contato com
microorganismos. Cirurgias simples, superficiais, sem a abertura de órgãos ou cavidades.
Limpa-contaminada: possui a probabilidade de serem contaminadas. Cirurgias que
envolvem cavidades, traumas por acidentes ou feridas abertas em um tempo inferior a 6
horas até o atendimento.
Contaminada: reação inflamatória. Teve contato com matérias contaminadas como
terra, fezes, etc. Feridas que ficaram expostas a mais de 6 horas após o ato que resultou a
ferida.
Infectada: sinais nítidos de infecção como dor, vermelhidão, edema, temperatura
alterada, destruição de tecidos, presença de pus. Exemplo: feridas que não se cicatrizam,
feridas crônicas e úlceras.
- Classificação em campos:
Superficial: epiderme, derme e hipoderme.
Profundo: aponeuroses e musculatura; áreas fora de cavidades.
Órgão intracavitário: órgãos em cavidades e espaços dentro do corpo.
Na prática:
- Minuciosa anamnese e exame físico;
- Exames subsidiários;
- Testes específicos dependem da situação clínica do paciente;
- Observar a função respiratória, cardiovascular, renal, endócrina, nutricional,
hematológico, neurológico, ginecológico e emocional.
Exames pré-operatórios:
- Não há evidências de que o uso rotineiro de exames pré-operatórios está relacionado à
redução ou predição de complicações pré-operatórias.
- Realizar eletrocardiograma em: homens com mais de 40 anos; mulheres com mais de 50
anos; cardiopatas; coronariopatas ou com sintomas de angina; diabéticos; hipertensos;
portadores de outras doenças que cursam cardiopatias; drogas cardiotóxicas (pacientes que
fizeram quimioterapia). Existe validade de 1 ano se não houver intercorrências.
RX de tórax PA e perfil:
- Pacientes com mais de 60 anos;
- Operações torácicas ou de abdome superior;
- Cardiopatas, pneumopatas e portadores de neoplasias;
- Tabagistas de mais de 20 cigarros/dias.
Hemograma:
- Intervenções de grande porte, suspeita clínica de anemia ou policitemia, insuficiência renal,
neoplasias, esplenomegalia, uso de anticoagulantes, presença de infecção, radio ou
quimioterapia recentes.
Provas de coagulação:
- Para pacientes com histórico de sangramento.
- Não servem para predizer sangramentos aumentados no peri-operatório.
- KTTP, TP e plaquetas
- Pacientes que usam anticoagulantes.
- O tempo de sangramento e tempo de coagulação está em desuso.
Glicemia de jejum:
- Pacientes acima de 40 anos
- História pessoal ou familiar de diabetes (1º grau)
- Uso de corticóides ou tiazídicos
- Pancreatopatias
- Nutrição parenteral
- Cirurgias de grande porte
Sumário de urina:
- Pacientes com indicação de cateterismo vesical durante a operação
- Grupos de risco de bacteriúria assintomática: idosos, diabéticos, história de infecção
urinária de repetição, litíase urinária, bexiga neurogênica, malformação de vias urinárias,
gravidez e AIDS.
Avaliação nutricional:
- Sinais de atenção ao estado nutricional: perda de 5% do peso corporal em 30 dias ou 10% em
6 meses; albumina sérica <3,5g/dl (MV 21 dias); transferrina sérica <250mg (MV 8 dias);
leucócitos <1500/mm³.
- Melhorar o aporte protéico e calórico por no mínimo 15 dias se possível.
HOMENS MULHERES
40-59 anos: ECG, glicemia e creatinina 40-59 anos: HB/HT, glicemia e creatinina
> 60 anos: HB/HT, glicemia, creatinina, ECG e > 60 anos: HB/HT, glicemia, creatinina, ECG e
RX de tórax. RX de tórax
Anemia:
- Anormalidade laboratorial mais comum no pré-operatório.
- Não há indicação de atingir níveis prévios ou considerados “normais” antes ou depois da
cirurgia
- Não transfundir quando Hb >9,0g/dl.
- No pré-operatório é aceitável transfundir se Hb <8,0g/dl.
- Cada unidade de concentrado de hemácias aumenta, em média, 1g/dl os níveis de
hemoglobina e 3% do hematócrito do paciente.
- Pacientes em tratamento com hemodiálise devem receber transfusão durante o
procedimento para evitar sobrecarga volêmica. O concentrado de hemácias selecionado
para este fim deve ser novo (no máximo 5 dias após a doação).
- Reserva sanguínea: duodenopancreatectomia, histerectomia, mastectomia radical e
prostatectomia -> 1; gastrectomia total -> 2; esofagogastrectomia -> 3.
Controle glicêmico:
- Há fortes evidências de hipergliceia e desfechos cirúrgicos desfavoráveis, como infecção,
maior tempo de internação hospitalar, incapacidades após alta e mortalidade.
- A glicemia deve ser mantida entre 100-200mg/dl de para procedimentos cirúrgicos.
- Suspensão dos hipoglicemiantes orais:
Biguanidas (metformina): 24 a 48 horas antes.
Sulfonilureais: 1º geração (clopropramida) 48 a 72 horas antes; 2º e 3º geração
(glicozida, glibenclamida – no dia da operação, glipizida e glimepirida).
Tiazolidinedionas (rosiglitazona e pioglitazona): no dia da internação.
Acarbose: 24 horas antes.
Glinidas (repaglitazona e nateglinida): no dia da cirurgia.
- Manejo da insulina SBC: insulinas NPH, detemir e glargina -> dose noturna pode ser
mantida e na manha da cirurgia; insulina rápida ou ultrarrápida -> suspender as doses
prandiais fixas e manter esquema escalonado enquanto estiver em jejum.
Doença coronariana: qualquer paciente pode ser candidato a ser operado pós IAM, mesmo
sendo o principal preditor clínico de risco progressivo de isquemia. As recomendações
gerais são para que se espere 4 a 6 semanas após a ocorrência do IAM.
Medicações mantidas:
- Beta-bloqueadores;
- Anti-hipertensivos;
- Cardiotônicos;
- Broncodilatadores;
- Anticovulsivantes;
- Insulina;
- Antialérgicos;
- Potássio;
- Medicação psiquiátrica.
Punção, biópsia, cuidados com peças para estudo histopatológico e
retirada de corpo estranho
Alany Custódio
Biópsia:
- É um procedimento técnico cirúrgico para a retirada de células ou fragmentos para o
exame de natureza das lesões existentes
- Indicações: suspeita de doenças, diagnóstico específico, diagnóstico diferencial, grau de
lesões, verificar a rejeição de órgãos transplantados e programação cirúrgica.
- Cuidados e diretrizes para se fazer uma biópsia:
Biópsia excisional: quando retira toda a lesão. A proporção segue a regra de 1:5 (pode
ser 1:3, depende do tecido) dessa forma o fechamento ocorre de uma forma sem tensão.
Biópsia incisional: quando retira um fragmento pequeno da lesão.
- Cuidados e principais fixadores ou meios de transporte: formol a 10% (é o mais usado, pois
conserva as moléculas); glutaraldeído a 3%; nitrogênio líquido; solução de Michel
(imunofluorescência); solução salina a 0,9%.
- Na biópsia excisional é importante que se retire a lesão com margens, a fim de que não se
comprometam as margens.
- Quanto antes a peça for examinada, melhores as chances de um diagnóstico, devido ao
estado de conservação.
Punção:
- A biópsia pode ser realizada por meio de punção.
- Na tireóide: é realizada a punção por agulha fina dos cistos da tireóide. Esse procedimento
pode evitar realização de cirurgias, a depender do resultado.
- Na mama: punção de mama por agulha fina. Pode ser feito, além da punção, a extração de
um nódulo, que servirá tanto para tratamento quanto paradiagnóstico.
- Fígado, rim e pâncreas
- Core biopsy: é uma biópsia feita por uma “pistola”, muito usada em mama, em que ocorre um
disparo da agulha para remoção de um fragmento.
- No trauma:
Trauma abdominal fechado: é realizado um lavado um lavado peritoneal para saber
principalmente se há sangue na cavidade peritoneal.
Em casos de trauma, se o paciente tiver estabilidade hemodinâmica, é importante
realizar uma TC
Caso tenha sangue: indicado fazer uma laparotomia exploradora
Corpo estranho:
- No pé: é colocado um clip metálico com a ponta indicando o local de entrada, para guiar na
hora de observar a radiografia.
- A imunoglobulina antitetânica é usada quando o ferimento não seja limpo e superficial, com
o esquema vacinal incerto ou com menos de 3 doses.
- Retirada de corpo estranho não visível: é necessário que se faça uma incisão que permita a
visualização do corpo estranho.
- Trato gastrointestinal:
Fitobezoar: substâncias que não são digeridas podem impactar no intestino. Cabelo
(tricobezoar), bagaço delaranja, substâncias fibrosas, etc.
Corpos estranhos ingeridos por crianças
Paracentese:
- Realizada em pacientes com ascite.
- Esse procedimento é realizado para diagnóstico e alívio.
- Pontos de punção:
Infraumbilical
Hipocôndrios
- Dreno PIG tail (rabo de porco): pode ser utilizado para pneumotórax hipertensivo e para
toracocentese de alívio.
- Posição: sentado. A agulha/dreno será introduzido na região infraescapular
Úlceras de decúbito
Alany Custódio
Fisiopatologia:
- Exposição prolongada ligeiramente acima da pressão de enchimento capilar (32mmHg)
causando uma oclusão de microcirculação e isquemia.
- 2 horas em um tecido com esta pressão necessita de 36 horas sem pressão para retorno à
normalidade.
- Anóxia tecidual -> morte celular -> necrose tecidual irreversível -> ulceração.
- Pontos de pressão: região occipital, região escapular, cotovelos, sacral e tornozelos.
Epidemiologia:
- É a ferida cutânea mais comum em pacientes imobilizados, debilitados, inconscientes e
distúrbios de sensibilidade
- As regiões mais acometidas são a região sacral e calcâneo.
Fatores de risco:
- Imobilidade e inatividade: idade avançada ou distúrbios neurológicos.
- Alteração do nível de consciência
- Idade avançada
- Trauma
- Doença vascular associada com diminuição do aporte sanguíneo
- Percepção sensorioneural diminuída
- Distúrbios de cicatrização: usuários de corticóides ou esclerose sistêmica
- Doenças crônicas: diabetes e HAS
- Fatores nutricionais
- Incontinência fecal e urinária: meios úmidos são mais fáceis de ocorrer laceração
- Cuidados de enfermagem e familiares inadequados
Tratamento:
- Alívio da pressão: mudança de decúbito a cada 2 horas;
- Manutenção de umidade: a ferida tem que se manter úmida para cicatrizar (uso de
curativos);
- Hidratação no meio ambiente da ferida e desbridamento do tecido necrótico;
- A perda fundamental da prevenção e tratamento é a mudança de decúbito a cada 2 horas. Se
cadeirante, a cada 1 hora;
- Devem manter a pressão abaixo de 30mmHg;
- Colchões e superfície de suporte;
- Alívio de espasticidade e tratamento de contraturas;
- Suporte nutricional;
- Higienização da ferida (cuidados com fezes e urina);
- Tratamento de infecção;
- Tipo I e II geralmente cicatrizam espontaneamente;
- Tipo III e IV cicatrizam com abordagem cirúrgica;
- Tipo de colchões: colchão caixa de ovo, de água, pneumáticos e cama com sistema
pneumático.
Curativos:
- Acelerar a cicatrização e aliviar a dor;
- Redução ou prevenção de infecção;
- Desbridamento autolítico indolor;
- Estimular o tecido de granulação;
- Não há dados sobre diferença na eficácia do desbridamento químico X cirúrgico.
Tratamento cirúrgico:
- Seleção do paciente viável X não viável;
- Ressecção do tecido necrótico;
- Enfermaria X centro cirúrgico;
- Cuidados com dor;
- Reconstrução:
Para higiene
Reduzir perda de fluido e proteínas da ferida
Prevenir ou resolver osteomielite
Tratar infecção
Prevenir malignização da úlcera (úlcera de Marjolin)
OBS: Deve-se ficar atento para úlcera crônica que não cicatriza -> biopsiar se necessário.
Profilaxia:
- A taxa de recidiva pode ser de 90%;
- Intervenção preventiva;
- Alívio da pressão;
- Controle da temperatura do ambiente: evitar lâmpadas de aquecimento;
- Cuidado na mobilização;
- Fisioterapia motora passiva;
- Controle em casa;
- Equipe multidisciplinar;
- Regra dos 30 graus.
Terapia tópica no cuidado de feridas
Alany Custódio
- É preciso que se evite a fricção de feridas para que não se remova o tecido neoformado e que se
mantenha o ambiente úmido.
Fases da cicatrização:
- Inflamação: dura de 4-5 dias, ocorre principalmente para a destruição do agente agressor.
A vascularização está aumentada, favorecendo a passagem de agentes do sangue para o
tecido.
- Reconstrução:é o processo de formação do tecido de granulação. Visa a eliminação do
tecido desvitalizado e de bactérias. Os macrófagos são importantes nessa fase, por
produzirem fatores de crescimento que estimulam a produção de colágeno.
- Epitelização: as células migram sobre a superfície dos tecidos viáveis.
- Maturação: é o processo final da cicatrização. Ocorre a organização das fibras colágenas
pelo processo de remodelamento.
- Estudos demonstram que o estado nutricional é seguramente um dos fatores independentes que
mais influenciam nos resultados pós-operatórios em operações eletivas.
Efeito da desnutrição:
- Aumento de infecções;
- Diminui a cicatrização;
- Diminui força tênsil de suturas;
- Hipoproteinemia – edema;
- Diminui motilidade intestinal;
- Fraqueza muscular;
- Aumenta mortalidade e morbidade;
- Hospitalização prolongada;
- Convalescência prolongada;
- Custos elevados.
O estado nutricional prévio influencia nos resultados do paciente cirúrgico?
- Vários estudos consistentes demonstram que pacientes desnutridos apresentam mais
risco de complicações pós-operatórias e de mortalidade.
- Recente análise multivariadas mostrou que a TN é fator independente para diminuição de
morbidade pós-operatória.
- Por isso é importante uma terapia nutricional 7-14 dias antes da cirurgia.
Repercussão da desnutrição:
- Mais evidentes com perda de mais de 10% do peso de forma involuntária.
- Perda de massa muscular: redução de função respiratória e cardíaca; massa visceral
digestiva com diminuição da absorção e aumento da permeabilidade.
Avaliação nutricional:
Avaliação antropométrica:
- Altura:
Uso de estadiômetro;
Obtenção de altura a partir do joelho: usado para pacientes acamados;
Comprimento dos braços estendidos.
- Peso:
De preferência pela manhã, em jejum e de bexiga vazia.
- Outras medidas antropométricas:
Prega cutânea tricipital (12,5mm para homens e 16,5mm para mulheres): avalia a
gordura do paciente.
Circunferência do braço (25,3cm para homens e 23,2cm para mulheres).
Inquéritos alimentares
Avaliação laboratorial:
- Massa protéica somática: índice creatinina-altura
- Coeficiente para homens é 23mg/kg de peso e para mulher é 18mg/kg de peso
ICA = Creatinina urinária (24 horas)/coeficiente de creatinina X 100
Adequado do ICA Grau de depleção
80 a 90% Leve
60 a 80% Moderada
<60% Severa
- A creatinina recebe influência da dieta, estado pós-operatório, nefropatas e coleta
inadequada.
- Albumina: meia vida de 18-20 dias. Mesmo a hipoalbuminemia sendo subclínica é um
fator preditivo importante de risco nutricional.
Albumina sérica Classificação
>3,5g % Normal
3,0-3,5g % Depleção leve
2,4-2,9g % Depleção moderada
<2,4g % Depleção grave
Índice prognóstico
Avaliação subjetiva global.
Teste de competência imunológica:
- Testes cutâneos: uso de candidina, tuberculina e estreptoquinase.
Podem ser alterados por quimioterapia, radioterapia, uso de simetidina ou corticóide.
- Contagem total de linfócitos periféricos.
Risco nutricional grave:
- Perda de peso > 10% em 6 meses;
- IMC <18,5kg/m²;
- Avaliação subjetiva global;
- Albumina sérica <3mg/dL (sem evidência de disfunção hepática ou renal).
OBS: Em operações de grande porte para ressecção de câncer, mesmo não havendo desnutrição
grave, a TN pré-operatória com suplementos contendo imunonutrientes por 5 a 7 dias está indicada
e também deve ser continuada no pós-operatório.
Vias de administração:
Oral:
- A instituição de uma dieta com imunomoduladores, por apenas 5 dias na fase pré-
operatória é capaz de atenuar a resposta inflamatória e modular a imunológica.
Reduzindo a taxa de complicações em 50%.
- Para pacientes que conseguem ingerir via oral, mas não tem apetite é associado a
administração via enteral (sonda nasoenteral).
Enteral:
- Via cateter nasoenterais ou por estomias (gastrostomia e jejunostomia).
- De preferência em infusão intermitente.
- Complicações: pneumonia aspirativa, sinusite, necrose de septo nasal, vômitos e
diarreia.
- Gastrostomia – endoscópica.
Parenteral:
- Uso de dieta via acesso venoso central e periférico.
- Fórmulas prontas: lipídeos, carboidratos, água e eletrólitos.
- É utilizado quando o paciente não consegue se alimentar por via oral, enteral ou
realizar gastrostomia. Ex: presença de fístulas ou isquemia mesentérica.
- De preferência na subclávia.
- Em acesso exclusivo.
- É comum a hiperglicemia.
Tipos de fórmulas disponíveis:
- Imunonutrientes, tais como arginina, ácidos graxos, ômega-3 e nucleotídeos, com ou sem
glutamina.
- Estudos randomizados têm demonstrado que essa fórmula diminui complicações
infecciosas e reduz internação em pacientes com neoplasias digestivas que se apresentam
ou não desnutridos.
Início da terapia nutricional:
- De 7 a 10 dias nos pacientes graves.
- Os mais estáveis e que podem aguardar uma cirurgia: 3 semanas.
Período de jejum recomendado no pré-operatório em operações eletivas:
- Recomenda-se em operações eletivas tempo de jejum de 6 horas para sólidos e de 2 horas
para líquidos claros contendo carboidratos.
- Recomenda-se o uso de maltodextrina a 12,5% em volume de 200-400ml, 6 e 2 horas antes
da operação.
- Exceto: obesidade mórbida, gastroparesia, mau esvaziamento gástrico, suboclusão ou
obstrução intestinal e doença do refluxo gastroesofágico moderada e grave.
- Jejum pré-operatório prolongado é desnecessário na maioria dos pacientes.
- Estudos prospectivos e randomizados mostraram que reduzir o tempo de jejum para
líquidos com carboidratos, no pré-operatório, não resulta em aumento do risco de
morbidade associada à anestesia.
- Interrupção da ingestão nutricional é desnecessária no pós-operatório na maioria dos
pacientes.
- Vários estudos demonstraram que a realimentação precoce não só é segura (mesmo na
presença de anastomoses digestivas), como diminui tempo da internação e morbidade pós-
operatória.
- Quando comparadas, a terapia de nutrição enteral tem-se mostrado superior a TN
parenteral no pós-operatório.
- A reintrodução da dieta no pós-operatório deve ser realizada precocemente (12-24h), na
maioria dos procedimentos cirúrgicos.
Videocirurgia
Alany Custódio
Histórico:
- 1901: George Killing -> primeira laparoscopia.
- 1984: Semm -> primeira apendicectomia por vídeo.
- 1987: Philippe Mouret -> primeira colecistectomia laparoscópica.
- 1989: Fracois Dubois -> publicou primeira casuística.
- 1990: Thomas Szeco, São Paulo -> primeira colecistectomia laparoscópica.
Vantagens:
Menos dor no pós-operatório e retorno mais precoce às atividades normais
Ausência de íleo paralítico prolongado
Deambulação precoce
Alimentação mais rápida
Menor índice de infecção
Redução de hérnias
Melhor estética
Sistema óptico:
- Microcâmera de fibra óptica + luz (xênon)
- São sistemas de lentes em bastão que proporcionam uma melhora acentuada da resolução
e contraste das imagens
- Angulação: varia de 0-75º
Insuflação cavitária:
- Criação do pneumoperitônio
- CO2 é o gás padrão
- Utiliza-se um insuflador eletrônico
- Evitar insuflação rápida para que não irrite o nervo frênico
Colocação de portais:
- Os portais ou trocartes: são cânulas através das quais são introduzidas os laparoscópios e
instrumentos cirúrgicos. Podem ser permanentes ou descartáveis.
Técnica e instrumentais:
-Todos os instrumentos usados em cirurgias convencionais também estão presentes e
adaptados
- O acesso inicial à cavidade normalmente é por meio da cicatriz umbilical, utilizando a
agulha de Veress. Essa agulha tem como característica a presença de um mecanismo retrátil
em sua extremidade.
- Técnica:
Passagem de trocartes
Passagem do instrumental
Primeiro passagem ótica e depois pinças
Colocar o monitor em posição oposta ao cirurgião
Agulha de Veress:
- A cavidade abdominal é puncionada às cegas com a agulha de Veress
- Após a conexão, é colocada uma seringa com SF e realizado 3 manobras
Aspiração: não pode conter sangue
Injeção: injetar o SF sem resistência
Gotejamento: entrada passiva de SF através da agulha.
Complicações:
- Perfuração visceral ou de vasos com agulha de Veress ou trocartes.
- Introdução inadequada de CO2 em vísceras ocas, vasos e paredes adominais.
- Efeitos adversos do pneumoperitônio.
- Lesões vicerais, por instrumento cirúrgico, sangramento pós-operatório, fístula entéricas
e biliares e abcesso residual.